Talefe. Melhor: «o» talefe. No caso, o da Serra da Opa. Um monumento, uma atracção visual, permanentemente a chamar a nossa atenção quando andávamos na escola do Casteleiro, como se fosse uma espécie de chamamento acima do real…

Senhoras e senhores, apresento-lhes o talefe. Apresento-lhes uma das maiores atracções distantes da minha meninice.
Há muitos talefes. Mas o do Casteleiro é que é.
Os mais velhitos (rapaziada para os 35 e mais) lembram-se de certeza da banda esporádica chamada «Rio Grande»: Vitorino, Rui Veloso, e outros.
Cantaram um talefe. Mas o da Adiça, no Alentejo.
A canção abre assim: «Subi à serra da Adiça / E só parei no talefe / A lua alegre e roliça / Aumentava o tefe-tefe».
Veja a letra, oiça a música – Aqui.
É pena, mas nunca houve ninguém que me cantasse nada sobre o talefe da minha infância.

Talefe: eis mais um mito da minha meninice.
O talefe do Casteleiro é no cimo da Serra d’ Opa.
É tão misterioso que nunca lá fui.
Mas tenho-o na memória como se de um ícone religioso se tratasse: o talefe! E olhávamos cá de baixo, do fundo da tal cova em que (já escrevi várias vezes) o Casteleiro fica: o início real, geográfico, «terrestre» da hoje afamada Cova da Beira.

E afinal o que é «o» talefe.
Coisa simples: um mero marco geodésico. Como há centenas no País. Um ponto alto, o ponto mais alto de uma zona.
Aí, os serviços cadastrais oficiais instalaram estas marcas.
O mais famoso deles será o da Melriça, em Vila de Rei, e que é o ponto central de Portugal Continental. O centro do País é ali.
Hoje sei que o talefe do Casteleiro não tem nada de vaca sagrada nem de coisa antiga, e ainda menos coisa muuuito antiga. Sei que faz apenas parte de uma rede geodésica que serve (melhor: servia) para, através de determinados cálculos, obter um levantamento topográfico bastante rigoroso para a época.
Portanto, algo bem real, da área da Matemática e da Engenharia: nada de coisa meio religiosa, meio misteriosa, quase mítica.

Mas vão lá vocês dizer isso a um miúdo de oito anos nos anos 50. Quem se atreve a acabar com o encanto, a quebrar o feitiço?
«A Minha Aldeia», crónica de José Carlos Mendes