Capeia Arraiana é um new media on-line do Sabugal e do distrito da Guarda. Move-nos a paixão pela Raia, pelas terras do forcão, pelas serras da Estrela, da Malcata e das Mesas, pelo rio Côa e pelo povo valoroso que luta pelo futuro de uma região que alguns querem condenar ao fracasso. Defendemos as nossas tradições e trabalhamos para que a informação, a opinião e o debate de ideias estejam presentes no quotidiano dos que, como nós, amam as terras beirãs.
Em 16 de Outubro de 2009 escrevi neste blogue estas palavras… «Por tanto, a tarefa do Senhor Eng.º Robalo vai ser dura, ingrata e frustrante, isto se tiver como objectivo salvar o Sabugal do desaparecimento nos próximos 4 anos. Assim não dou os parabéns ao Senhor Eng.º Robalo não porque não tenha consideração pela sua pessoa, que tenho, mas porque detestaria que me dessem os parabéns por assinar a certidão de óbito da minha terra, que é o que lhe vai acontecer.»
Hoje, 28 de Janeiro de 2012, vi na televisão a noticia de que o tribunal do Sabugal vai fechar.
A cada passo vejo uma permanente atitude de destruição patrimonial cometida por quem tem o dever e a obrigação de preservar.
Observo o que se passa na Câmara Municipal e apenas vislumbro compadrios, caciquismo, incompetência e ignorância.
Tenho falado com muitos empresários com passado de sucesso do concelho e percebo que, todos os com que falei estão com grandes dificuldades e a maioria em vias de fechar nos próximos meses.
Olho à volta e nos comércios, onde se sente o frio que gela os ossos, não vejo clientes, apenas os donos com cara de infelizes incapazes de ganhar para as despesas.
Todos os dias vejo mais gente a partir em busca de vida para França ou outras paragens.
Ando pelas ruas e vejo um vazio confrangedor enquanto oiço o sino da igreja tocar a finados.
Quando escrevi aquelas palavras ainda tinha uma secreta esperança de que o que escrevia não acontecesse, eram um grito de alerta tentando despertar consciências.
Infelizmente, o meu grito de alerta revelou-se uma certeza inevitável.
Os responsáveis políticos e os seus parceiros podiam ter invertido este processo, mas não o fizeram!
Antes pelo contrário.
E agora é tarde!!!
Chamaram para junto de si, mais incompetentes e incapazes, personagens que estão mais interessados em sugar o sangue deste nosso povo que em ressuscitar o moribundo.
Destruíram e continuam a destruir o nosso melhor património procurando com isso acumular mais riqueza à custa da destruição do que melhor temos.
Desbaratam verbas em atitudes absurdas, dizendo que têm preocupações culturais mas desprezam e destroem as mais valias culturais que no concelho poderiam criar riqueza.
Como César «ELES» tocam arpa enquanto o Sabugal sucumbe no braseiro que «ELES» próprios criaram e alimentam.
Por tudo isto, sei que os sinos, que quase todos os dias se fazem ouvir num toque de finados, se calarão porque não haverá mais ninguém para os tocar.
E, assim se finará a história deste povo, que foi capaz de prosperar nesta terra agreste e fria, onde um dia, alguns, tornaram a vida impossível e obrigaram todos a deixar as suas propriedades, amigos e familiares e ir para outra terra para poderem viver.
Assim está o Sabugal… À BEIRA DO FIM. «O Bardo», opinião de Kim Tomé kimtome@gmail.com
«Tratando-se de um espectáculo onde a cor e a arte, numa palavra a beleza está sempre presente, achamos que a escrita não seria suficiente para traduzir toda a sua dimensão. Costuma dizer-se que uma boa imagem vale por mil palavras. E para a melhor tradição raiana só o seu melhor fotógrafo. A prova está à vista, não precisamos de elogiar. Mais do que um texto ilustrado com belas fotos, o resultado é um livro de fotos ilustrado com texto.»
«A Capeia dos Foios realiza-se na terceira terça-feira do mês de Agosto integrada nas festas em honra do Santíssimo Sacramento. O encerro inicia-se no planalto do Lameiro, para onde os touros vêm de madrugada, e dirige-se para a aldeia pelo caminho da serra, seguindo depois pela estrada que vem da Aldeia do Bispo em direcção à praça. Como sempre, o professor Zé Manel, presidente da Junta quase uma vida, num breve discurso gritado no megafone, dirige-se à assistência: agradece aos forasteiros a visita, pede aos fojeiros que recebam bem e recomenda valentia e prudência aos que enfrentam os toiros.»
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Textos de António Cabanas e Fotos de Joaquim Tomé (Tutatux) retirados do livro «Forcão – Capeia Arraiana» jcl
«A afición das gentes de Riba Côa não fica atrás da de outras regiões onde ocorrem manifestações tauromáquicas. Pelo contrário, a sua adesão aos touros supera em muito a adesão das regiões onde se fazem touradas à portuguesa, que como se sabe têm sofrido nas últimas décadas um decréscimo de assistência. Qualquer capeia arraiana encherá todos os lugares disponíveis da praça, por maior que seja, a pontos de ser dizer na Raia que onde há cornos há gente.»
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Textos de António Cabanas e Fotos de Joaquim Tomé (Tutatux) retirados do livro «Forcão – Capeia Arraiana» jcl
«À hora da capeia todos os lugares estão preenchidos. Cada pessoa posiciona-se onde encontre sítio disponível. A afluência ultrapassa em muito a lotação das bancadas, apinhadas de gente nas posições mais caricatas. Há quem veja o espectáculo debaixo dos reboques, deitado por terra, outros permanecem durante toda a lide encalampeirados em postes de electricidade, telhados e outras estruturas. Janelas e varandas mal podem com tanta gente. Com a tourada prestes a iniciar, há ainda tempo para ajudar senhoras e crianças a subir para os tabuados e beber uns copos com os amigos, correndo-se o risco de não conseguir o melhor sítio para assistir ao primeiro touro, situação que se pode corrigir logo que alguém se levante para ir ao bar. Já que não há lugares marcados, os que vão ao bar deixam os lugares para os que deles precisam.»
«O festival Ó Forcão Rapazes realiza-se por volta do dia 20 de Agosto, no segundo ou no terceiro sábado, conforme o maior ou menor avanço do calendário. Com a Praça de Touros a regurgitar de gente, completamente esgotada por uma assistência vibrante e colorida, a rapaziada da Raia demonstra a sua raça na espera dos bravos e corpulentos touros. A lide, com duração de 15 minutos para cada equipa, é controlada pela organização. Antes do início da capeia tem lugar o espectacular desfile das equipas, marcado pelo rufar dos tambores e pelos aplausos ruidosos dos apoiantes de cada uma das equipas. No final do desfile, os grupos alinham-se em conjunto no centro da Praça, lado a lado, e escutam as palavras de circunstância e de estímulo proferidas pela entidade oficial convidada, normalmente o presidente da Câmara, representante máximo do concelho. Terminado o discurso, as equipas voltam a desfilar, desta vezpara a trincheira, onde aguardarão a sua vezde medir forças com o touro que lhes calhou em sorteio.»
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Textos de António Cabanas e Fotos de Joaquim Tomé (Tutatux) retirados do livro «Forcão – Capeia Arraiana» jcl
«O forcão é empunhado por uma trintena de jovens, distribuídos pelos mais de 300 quilos de toda a estrutura. O rabiche, leme do artefacto, é operado à altura da cabeça dos rabejadores, enquanto a base se mantém pela cintura ou até mais abaixo, dependendo da forma como investem os touros. Estes, ao marrarem, por vezes levantam a cabeça (derrote), e com ela o próprio forcão, obrigando os rapazes da respectiva galha a dependurarem-se nele, fazendo peso para o baixar. Há, porém, outros que marram de cima para baixo, humilhando, podendo ainda ser bons trepadores, o que causa, por vezes, alguns embaraços aos jovens. Neste caso é preciso usar de toda a força para levantar o forcão.»
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Textos de António Cabanas e Fotos de Joaquim Tomé (Tutatux) retirados do livro «Forcão – Capeia Arraiana» jcl
«Falar da capeia arraiana é falar do artefacto que a torna tão peculiar. Não é difícil, ao analisarem-se outras tauromaquias, encontrar razões para as suas diferentes formas e meios utilizados: o cavalo, os ferros, a corda, os enganos, etc. Explicam-se pela origem da própria tauromaquia, pela caça, pelos treinos de guerra, ou simplesmente pela necessidade de domínio do homem sobre as espécies bravias, com vista ao aproveitamento dos recursos que propiciam. Com o forcão tudo é diferente, não são fáceis as explicações nem descortináveis as origens. Se não oferece dúvidas a ninguém a ancestralidade das garraiadas em Riba Côa, já quanto ao uso do forcão ninguém tem certezas sobre a época do seu aparecimento. Há quem o associe a guerras passadas.»
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«Diz Adérito Tavares que, etimologicamente, a origem do nome forcão se liga à palavra latina furca, de onde também deriva forquilha, fourchete do francês, que significa garfo. Aliás, o forcão, assemelha-se muito a uma gigantesca forquilha. Adolfo Coelho corrobora que palavras como forcado ou forcada e forquilha derivam de furca, termo latino que se referia a uma rudimentar e tosca ferramenta de madeira, com dois ou mais dentes, usada na recolha de feno e palha, também chamada forca. Joaquim Lino da Silva descreve forcada ou forcado como um grosseiro tridente feito de um ramo de carvalho ou vidoeiro a que se dá a melhor forma em verde.5 Embora este autor a mencionasse no Barroso, a ferramenta sempre existiu noutras regiões, designadamente na Beira.»
«Actualmente quase todas as freguesias da margem direita do Rio Côa, incluindo algumas anexas, possuem capeias. Aldeia da Ponte, Aldeia do Bispo, Aldeia Velha, Alfaiates, Fóios, Forcalhos, Lageosa da Raia, Ozendo e Soito participam no festival Ó Forcão, uma espécie de 1.ª divisão da capeia, como já alguém disse. A Rebolosa, que até tem praça, sente-se discriminada por não lhe ser permitido participar, uma vez que tem capeias com regularidade. A Nave, voltou à regularidade que, pelos vistos, tinha no início do século XX. Ruivós, Vale de Espinho, Vale das Éguas, Badamalos, Seixo do Côa (margem esquerda) e até o Sabugal organizam garraiadas, capeias noturnas ou capeias diurnas de forma intermitente.»
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Textos de António Cabanas e Fotos de Joaquim Tomé (Tutatux) retirados do livro «Forcão – Capeia Arraiana» jcl
«Entre a poeira ao longe despontam as varas dos cavaleiros e, logo no meio do turbilhão, o sobe e desce dos vultos em corrida encrespada, enquanto um rio de poeira acompanha a turba ao longo do caminho. Depressa a cavalgada se aproxima em crescendo ruidoso e passa em grande velocidade sob a muita algazarra de participantes e assistentes. À frente vão os cavaleiros mais experientes, abrindo caminho como batedores, e logo a seguir os cabrestos com enormes chocalhos servindo de chamariz aos seis lustrosos touros pretos, que, misturados no turbilhão, mal se apercebem do que se passa em redor. Só contei quatro – diz um sujeito atrás de nós. Iam mais dois amarelos junto aos cavalos – contrapõe prontamente outro dos presentes. Atrás, vêem-se agora dezenas de cavaleiros e algumas amazonas e, de seguida, a enorme procissão de peões, carros e motos vai engrossando até desembocar na praça. No meio da confusão, os cães ladram de excitação.»
«Sem organizadores não haveria festas ou outros eventos sociais. É às comissões também designadas por mordomias, que competem os preparativos, e as tarefas inerentes aos festejos. A escolha dos futuros mordomos é da responsabilidade dos mordomos cessantes. A nomeação dos seus substitutos é a derradeira acção da comissão. Em princípio, cada elemento escolhe o seu sucessor sem precisar de o consultar; mas o normal é que o consulte previamente para indagar da sua vontade em aceitar. A escolha sigilosa significa quase sempre intenção de castigar alguém que criticou ostensivamente a comissão anterior. A nomeação é, por regra, feita publicamente na igreja ou numa pausa do baile. Normalmente nunca se repetem as pessoas, uma vez que se trata de uma festa que exige muito trabalho, responsabilidade e dinheiro.»
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Textos de António Cabanas e Fotos de Joaquim Tomé (Tutatux) retirados do livro «Forcão – Capeia Arraiana» jcl
«Onde existem touros há geralmente cavalos, como acontece em Riba-Côa. Frequentemente aponta-se como origem das capeias arraianas a tradicional existência de gado na Genestosa espanhola; mas a verdade é que a presença de gado bovino e equino em Riba-Côa é ancestral, como prova o foral leonês de Alfaiates, que sobre o assunto tem variadíssimos preceitos legais. Aí se diz, por exemplo, que um guardador de gado recebia por cada quatro éguas guardadas um morabitino; os proprietários de mais de 25 vacas teriam de as registar, e para as vistorias do concelho teriam que disponibilizar um cavaleiro.»
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Textos de António Cabanas e Fotos de Joaquim Tomé (Tutatux) retirados do livro «Forcão – Capeia Arraiana» jcl
«Nos últimos anos tornaram-se habituais os encontros equestres na região, realizados sobre a forma de passeios. Em Aldeia do Bispo, no tradicional passeio que ocorre antes da capeia, vêem-se agora dezenas de cavaleiros, que dão mote ao próprio cartaz. Mas onde os raianos demonstram a sua grande afeição pelos cavalos é no encerro dos touros, onde chegam a juntar-se mais de uma centena. Dá gosto vê-los, bem arreados, pêlo lustroso, crinas e caudas aparadas e penteadas, aqui e ali tranças e laços, alguns efectuando acrobacias e passos artísticos à voz do cavaleiro. Nas aldeias raianas da capeia, os cavalos são às centenas, muito por causa dos encerros. Alguns são apenas montados no dia da capeia.»
«A força, poder e coragem que emanam do touro valeram-lhe o respeito e admiração do homem, que em alguns casos o considera como representativo de um ser superior. O poder reprodutivo, a virilidade, a luta incessante, investindo até à morte contra o inimigo, originaram mitos sagrados que perpassam em alguns livros da Bíblia: símbolo de fertilidade, invencibilidade, chefia e poder de destruição1. Acreditava-se que era nos chifres que o touro concentrava a força da vida, razão para neles se amarrarem os arados que deviam semear as terras.»
«A força, poder e coragem que emanam do touro valeram-lhe o respeito e admiração do homem, que em alguns casos o considera como representativo de um ser superior. O poder reprodutivo, a virilidade, a luta incessante, investindo até à morte contra o inimigo, originaram mitos sagrados que perpassam em alguns livros da Bíblia: símbolo de fertilidade, invencibilidade, chefia e poder de destruição1. Acreditava-se que era nos chifres que o touro concentrava a força da vida, razão para neles se amarrarem os arados que deviam semear as terras.»
«Quando está no seu meio natural, rodeado pelos da sua espécie, o touro não demonstra o comportamento agressivo que apresenta na praça. É para recriar o ambiente de manada, em que o touro se sente mais tranquilo, que se usam cabrestos8 para o conduzir nos encerros e para o retirar da arena, depois da lide. Quando está isolado, é estimulado a investir, não só contra pessoas e animais, como contra qualquer objecto, ainda que movido pelo vento.»
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Textos de António Cabanas e Fotos de Joaquim Tomé (Tutatux) retirados do livro «Forcão – Capeia Arraiana» jcl
«A preparação do forcão é tarefa da máxima responsabilidade, pois da sua robustez depende a segurança de quantos lhe pegam. Em todas as aldeias da capeia há indivíduos especializados na sua execução, e a eles recorrem os mordomos na altura de o fazer. O Zé Penetra da Lageosa e João Fernandes de Aldeia do Bispo já executaram mais de meia centena para as suas terras e terras vizinhas, sem cobrarem pelo trabalho. Por se tratar de lenha de carvalho, pesada por natureza, corta-se no Inverno ou na Primavera, geralmente na Páscoa, para que esteja seca e leve quando for usada. Para a sua construção são necessários um pau principal de pinho, 3 galhas, 20 estadulhos, 4 varas transversais e 4 tornos para o rabicho. Em alguns casos, as galhas são cortadas no rebollar espanhol, com o consentimento do respectivo alcaide.»
O Sol a pino escaldava-me o passo, sentei-me na sombra da oliveira no penedo, meti a mão ao bolso e tirei aquela pedra que me acompanha há mais de 20 anos. Olhei-a com a mesma saudade com que a olhava em outros tempos. Levantei os olhos e tentei descortinar para lá da planície e da neblina quente que diluía o horizonte a silhueta das serras, das serras onde nasce aquele rio que me corre nas veias onde um dia apanhei aquela pedra.
Saudade!
Saudade da agua límpida que corre da Serra das Mesas e refresca os campos, saudade do vento frio, saudade do dourado das montanhas ao por do sol, saudade dos castelos e das histórias que as pedras contam.
Acariciei a pedra como se ao fazê-lo acariciasse aquele mundo de que me obrigaram a partir de forma violenta.
Relembrei o dia em que cheguei de forma definitiva (pensava eu) à terra e ao rio que me viu nascer, cheio de vontade de contribuir lavrando, com o arado do conhecimento, as lacunas dos campos da minha terra e das minhas gentes à beira da morte.
Voltei a olhar aquela pequena pedra, tentando espiar ao acaricia-la as amarguras causadas.
Relembrei o dia em que o funcionário do instituto de emprego, estupefacto e incrédulo sem perceber o alcance socio-cultural do projecto que lhe apresentava, me indagava porque razão vinha para o Sabugal fazer aquilo. Coitado, a sua ignorância impedia-o de ver o alcance do projecto. Desiludido com tanta falta de conhecimento e insensibilidade foi nesse dia que resolvi levá-lo em frente apesar da falta de apoios.
Chamei-lhe «O BARDO» referencia múltipla, ao Bardo onde se guardam os animais e aos Bardos que na antiguidade viajavam de terra em terra cantando odes às moças e levando noticias.
Acariciei de novo a pedra, olhei-a e no seu negro profundo revi momentos dO BARDO, como aquele em que o «Zé da Sra. da Graça» pegou pela primeira vez no rato e tentou escrever procurando com hesitação as letras do teclado, aprendeu e, hoje consegue viajar pelos caminhos do conhecimento sem ajuda. Relembrei um outro dia em que uma criança entrou pela porta solicitando que a ajudasse numa pesquisa para um trabalho da escola. Relembrei os olhos esbugalhados de um senhor que ao ver as fotografias do seu neto enfrentando o touro numa capeia exclamava com alegria e orgulho, «É o meu neto! É o meu neto!».
Relembrei muitas realizações e iniciativas culturais criadas, exposições, espectáculos e a Feira Franca do sabugal.
Com um aperto na alma, relembrei o dia em que na companhia de uma amiga fazia mais uma fotografia para promover Sortelha, procurava um local especial onde se pudesse ver a aldeia de um ângulo especialmente bonito nos cabeços perto, quando me ela me disse: «Sabes que vão aqui colocar eólicas?» respondi: – «impossível! isso iria destruir esta envolvente.» Mas era verdade. Ali naqueles cabeços, estavam a preparar a instalação de 17 eólicas. De imediato coloquei inúmeras questões.
Como teria sido possível que os organismos de defesa do património o tivessem permitido?
Como foram feitos os estudos de impacto ambiental?
Quem era o mentor de tal barbaridade?
As respostas a estas e muitas outras questões foram obtidas com dificuldade, pois à volta deste tema existe uma cortina de interesses dos que cometem este crime patrimonial e de medo, que cala os que sabem mais por temerem represálias.
Perante a situação de completo desrespeito patrimonial criei um blog e iniciei a recolha de assinaturas na Internet na tentativa de sensibilizar o mundo para a destruição de Sortelha.
Fui agredido fisicamente, ofendido, difamado, intimidado e ameaçado pelos responsáveis pela destruição de Sortelha.
Como resultado fui violentamente impedido de continuar a trabalhar, O BARDO teve que fechar. Com os inevitáveis prejuízos pessoais e económicos, mas também com prejuízo para o Sabugal, que assim perdeu um local único no mundo onde o acesso a computadores e à Internet se realizava de forma completamente livre e gratuita ao mesmo tempo que se divulgava culturalmente a região.
Acariciei de novo a pedra, olhei-a e guardei-a no bolso de novo. Levantei os olhos para o horizonte olhei as serras e disse para mim mesmo, «Um dia, serão anuladas estas criaturas que destroem a nossa terra, e voltaremos aquelas serras e ao rio onde nascemos!». «O Bardo», opinião de Kim Tomé kimtome@gmail.com
O bom político tem interesse em que a sua mensagem chegue ao maior número possível de cidadãos. O mau político não está interessado na mensagem, apenas pretende impor a sua vontade, tentando esmagar a vontade dos cidadãos. Assim temos os bons políticos e os maus políticos e o amor e o ódio pelos media.
O bom político governa em prol dos cidadãos, protegendo e valorizando o património cultural do seu povo.
O bom político convencido de que as soluções que pretende implementar, são as mais válidas tenta comunicá-las usando para isso todos os meios ao seu alcance, buscando obter apoios e colocando a debate a solução que apresenta. Assim, pode auscultar as opiniões que a sua abertura ao diálogo promove. Resulta daí que o Bom político encontra soluções de consenso que serão mais justas e adequadas.
O bom político colabora com os meios de comunicação pois sabe que estes são seus parceiros privilegiados para informar, ele sabe que ao informar os média das soluções que pretende implementar estes farão chegar a sua mensagem ao destino, contribuindo assim para convencer os cidadãos das suas melhores ideias.
O mau político governa em prol de si próprio e dos seus compinchas, pouco lhe interessando o património cultural do seu povo.
O mau político sabe que as medidas que pretende implementar são contra os interesses dos cidadãos, por isso tenta esconde-las ou adulterar a verdade usando para isso todos os meios ao seu alcance, tentando calar as vozes dissonantes. Resulta daí que o Mau político aplica soluções inadequadas e provocadoras de discórdia e injustiças que apenas são caladas muitas vezes à custa de perseguições e intimidações.
O mau politico boicota os meios de comunicação independentes e utiliza os meios de comunicação por si controlados para ocultar a verdade aos cidadãos, divulgando noticias que tem em vista enganar os cidadãos ocultando a verdade, promovendo e protegendo os seus lacaios mesmo que não haja mérito pois são eles que lhes dão suporte.
Partindo deste raciocínio, será que pelo modo como um político se relaciona com os média, podemos perceber quais são os bons e os maus políticos? «O Bardo», opinião de Kim Tomé kimtome@gmail.com
Naquele dia fazia um frio de gelar. Era inverno, a temperatura ao sol não subia alem de 0 graus. Os da cidade aproveitavam o fim de semana prolongado para conhecer uma das mais bonitas aldeias de Portugal, a medieval Sortelha.
Em busca de emoções novas chegavam pouco preparados para o frio intenso com as roupas típicas da cidade.
Debaixo de uma arcada, uma tábua com artesanato e licores, para onde os visitantes enviavam um olhar curioso.
Ao canto duas senhoras enregeladas tentam sorrir por debaixo dos agasalhos enquanto se encolhem no canto tentando abrigar-se.
Com frio, os visitantes correm apressados em busca de abrigo.
E ali num canto frio, as duas senhoras continuavam tentando vender algo que lhes garantisse o sustento para a família.
Foi assim durante mais de oito anos.
Em oito anos nunca as instituições foram capazes de apoiar estas pessoas, apesar de vários pedidos e da evidente falta de condições.
Agora finalmente as senhoras enregeladas têm um espaço digno. Graças à boa vontade da nova equipa da Junta de Freguesia de Sortelha, que ergueu uma «varinha de condão» e transformou o espaço há muitos anos devoluto, num espaço digno para mostrar e comerciar o artesanato local.
E foi como que, por magia que as pessoas se juntaram e deram uma ajuda a tornar o local mais agradável.
Agora, as Senhoras recebem os visitantes com um sorriso aberto já não escondido por detrás dos agasalhos, e os visitantes podem calma e acolhedoramente, conhecer o artesanato e as histórias sobre Sortelha, que estas senhoras contam com as faces rosadas e um sorriso aberto.
Esta «Varinha de Condão» que sem custos adicionais, apenas com Boa Vontade, Humanismo e colaboração se ergueu, bastou para acrescentar um enorme valor a Sortelha.
Em nome dos visitantes e das Senhoras que durante Oito Anos sofreram desnecessariamente as agruras dos Invernos, um grande Bem Haja a quem assim manobra a «Varinha de Condão».
p.s. Este post é óbvia, descarada e provocadoramente uma resposta ao meu amigo João Aristides pela positiva 🙂
É assim João… é assim… que se manobra a tal «Varinha de Condão». Simples, não achas? 😉 «O Bardo», opinião de Kim Tomé kimtome@gmail.com
«Em astronomia, solstício é o momento em que o Sol, durante seu movimento aparente na esfera celeste, atinge a maior declinação em latitude, medida a partir da linha do equador. Os solstícios ocorrem duas vezes por ano: em Dezembro e em Junho. O dia e hora exactos variam de um ano para outro. Quando ocorre no verão significa que a duração do dia é a mais longa do ano. Analogamente, quando ocorre no inverno, significa que a duração da noite é a mais longa do ano.» (in wikipedia.org)
Em todas as ancestrais culturas humanas houve desde as suas mais remotas origens o culto do Sol.
O Sol que nos aquece e dá a vida.
Na região do Concelho do Sabugal muitas terão sido também as tribos que na Pré-história assinalaram os Solstícios com festejos e celebrações.
Com o intuito de relembrar esse nosso passado histórico, onde as tribos viviam ao ritmo da Natureza, juntaram-se vontades e algumas entidades para realizar a celebração da «Noite Mais Longa» do ano em Sortelha.
Pretende-se assim homenagear esses nossos antepassados remotos relembrando nesta festa que também eles estão na origem da nossa cultura.
Na noite de 21 para 22 de Dezembro no interior das muralhas de Sortelha ocorrerá a celebração do Solstício de Inverno colocando Sortelha na rota dos «Adoradores do Sol» a par de «Stonehenge» em Inglaterra e muitos outros locais que nessa noite se unirão nesta celebração.
O programa será composto por uma primeira parte de fados e musica tradicional, seguido-se a actuação de vários DJs que irão animar a madrugada com musica electrónica.
Durante a noite haverá fogareiros, churrascos, pão quente e bebidas.
Ao nascer do Sol do dia 22 será realizada uma cerimónia na torre mais alta do Castelo de Sortelha, onde uma Queimada e um Esconjuro darão as boas vindas ao novo Sol. «O Bardo», opinião de Kim Tomé kimtome@gmail.com
Cresci entre muros, muros de cimento mas também muros mentais.
Talvez por defeito congénito sempre tive um impulso para olhar o outro lado dos muros, por isso foi com grande esperança que vi cair um grande muro.
Foi um dia de grande alegria que partilhei com a minha família e amigos, bebemos e festejamos de jubilo.
O pior foi a ressaca.
O pior foi perceber que os muros estão por todo o lado.
Os acontecimentos que se seguiram, fizeram-me tomar a consciência que os mais cruéis e trágicos muros não são os de cimento ou pedra.
Os piores dos muros estão na cabeça das pessoas e, quem dera que fossem tão fáceis de derrubar como os de pedra ou de cimento.
Há 20 anos constatei que uma pessoa só não derruba um grande muro, mas pode fazer um buraquinho, e se você ai sentado no computador a olhar este texto fizer outro, já somos muitos e conseguiremos derrubar alguns destes muros.
Juntos talvez consigamos fazer desta terra um local onde se possa viver feliz por oposição a uma terra de morte que é no que o Sabugal se tornou nos últimos anos.
Vamos lá derrubar muros!
P.S. Dedico este meu post aos administradores deste blogue e aos Tarrentos, que nos últimos tempos têm sentido a pressão das tentativas de alguns em manter muros, enquanto outros fazem buraquinhos. Vocês são a voz livre do Sabugal, têm o vosso papel a desempenhar para derrubar muros nesta terra. A vossa picareta… é esta, usem-na com mestria, aqui deste lado têm muita gente que dá valor ao vosso trabalho voluntário em prol do Sabugal e que à sua maneira vai abrindo uma brecha aqui, outra ali convosco. Olhando bem, somos tantos com vontade de contribuir para esta terra crescer, estamos é dispersos.
🙂 «O Bardo», opinião de Kim Tomé kimtome@gmail.com
O conceito GNU (GNU is Not Unix) nasceu em 1984 da cabeça de Richard Stalman e tem-se revelado o motor dos principais avanços tecnológicos.
GNU são as iniciais de «GNU is Not Unix», numa época em que os criadores de software impunham restrições à copia, partilha, e alteração do software e em que um sistema UNIX custava o equivalente a milhares de euros Richard Stalman criou uma licença GPL (General Public Licence) aplicando o conceito GNU.
Ao contrário de outras licenças, a licença GPL permitia a cópia, partilha e alteração do software realizado e disponibilizado de acordo com essa licença.
É assim que nasce muito do software que hoje todos utilizamos, como por exemplo o sistema operativo GNU/Linux, o servidor Web Apache, o Joomla, o Mozilla (Firefox), o software que faz este blogue funcionar é software open source assim como milhões de programas que nos permitem fazer tudo o que à computação diz respeito.
A grande revolução desta ideia foi criar condições para que o software se passasse a desenvolver de forma livre e aberta, dando origem ao software open source ou de «código fonte aberta», o que permitiu que as pessoas, empresas ou instituições pudessem utilizar este software livremente sem terem de pagar milhares de Euros para utilizar os computadores e realizar o trabalho que necessitam. Este grande avanço, para a humanidade é suportado por milhares de programadores que em todo o mundo colaboram no desenvolvimento e tradução de todo o tipo de software que é distribuído gratuitamente.
A filosofia que está por detrás deste grande movimento, defende que o acesso à informação e conhecimento deve ser livre e disponibilizado gratuitamente contribuindo assim para a evolução da humanidade.
Ao completar 25 anos sobre o nascimento desta ideia, e sabendo que a maior parte dos serviços da Internet e da Web funcionam com Software Open source, cabe-me deixar aqui ao Senhor Richard Stallman e à imensa comunidade Open Source espalhada por todo o mundo o meu grande bem-haja, pois todos somos mais ricos apenas por causa de uma ideia deste grande Senhor.
p.s. No Cyber Café O BARDO no Castelo do Sabugal é utilizado, disponibilizado e divulgado software open source de forma livre e aberta, o que faz do espaço um ponto de referencia nacional e europeu no que à utilização e divulgação do software open source diz respeito, promovendo a inclusão digital apenas com recurso a software realizado sob licença GPL. Se necessitar de informação, ajuda ou quiser apenas tomar contacto com o GNU/Linux, é bem vindo a «O BARDO» eventualmente o único espaço aberto permanentemente ao público, em Portugal, onde isso é possível de forma livre, aberta e gratuita.
De vez em quando há alguém que se dirige a mim perguntando o que tenho a dizer sobre as eleições. Como sabem do meu espírito crítico, alguns vêm com aquele arzinho sorridente e irónico de «toma que já te calas». E descobrem que não me calo, pois o que me move não é os partidos ou as cores mas a minha terra, o Sabugal.
Bem, venho então aqui publicamente dizer o que penso.
E começo por uma frase que foi colocada num comentário por um «Zé»: «Cabe-me fazer as malas e partir, já que a minha terra não me dá o que preciso…»
Esta é a frase que define bem o sentimento dos habitantes do concelho do Sabugal.
Quem nos governou e os que os têm acompanhado fizeram desta terra uma terra sem futuro e sem esperança onde é impossível ser feliz.
ISTO É UM FACTO!
Facto reconhecido por organizações independentes e que alguns, sabe-se la porquê, tentaram a todo o custo ocultar.
A desertificação não é uma tragédia, é uma consequência de medidas desajustadas e erradas tomadas ao longo de décadas.
Ao andar pelas ruas do Sabugal sinto-me numa cidade fantasma, o mesmo se passa nas freguesias.
E não vejo perspectivas de mudar, antes pelo contrário, oiço os poucos que restam a dizer o mesmo que o «Zé» escreve no seu comentário.
Para os que querem saber o que penso das eleições, penso que não devo dar os parabéns ao Eng.º Robalo porque o papel que ele vai ter que fazer jamais o quereria para mim, jamais vai conseguir inverter este sentimento instalado nas pessoas. Como tal, dar os parabéns a alguém por tão inglória tarefa não me parece bem.
Até porque, o seu trabalho está dependente de pessoas que não garantem o apoio necessário à tomada de decisões acertadas.
Algumas vezes tenho referido a história do «Rei vai nu», para metaforicamente fazer referencia às pessoas que rodeiam os que detém o poder e que lhes toldam e distorcem a capacidade de apreciação e decisão. Esse é um problema que não vai ser resolvido, dai que dar os parabéns a alguém que à partida tem fortes probabilidades de ser manipulado por esses poderes ocultos, seria uma atitude de profundo mau gosto e falta de consideração pelo Senhor Eng.º Robalo.
Por outro lado tenho a dizer que como até aqui tenho feito, continuarei a colaborar com criticas, sugestões, ideias e realizações com as quais esteja de acordo e que tenham em vista o desenvolvimento da minha terra com a certeza de que, quando vir que o rei vai nu eu não vou dizer que enverga as mais lindas vestes.
Mas sinceramente não acredito que seja possível dar a volta à situação!
As pessoas que, desvalorizaram o turismo como indutor de progresso, ou a Rota das Judiarias do Sabugal como conteúdo para um turismo cultural, ou que têm como comportamento difamar os outros, estão lá! e não acredito que essas pessoas tenham a honestidade de mudar de posição pelo que me foi dado ver até agora.
Por tanto, a tarefa do Senhor Eng.º Robalo vai ser dura, ingrata e frustrante, isto se tiver como objectivo salvar o Sabugal do desaparecimento nos próximos 4 anos.
Assim não dou os parabéns ao Senhor Eng.º Robalo não porque não tenha consideração pela sua pessoa, que tenho, mas porque detestaria que me dessem os parabéns por assinar a certidão de óbito da minha terra, que é o que lhe vai acontecer. «O Bardo», opinião de Kim Tomé kimtome@gmail.com
Ao ler o livro «Portugal e os judeus» cedido por uma amiga, lembrei-me do Sabugal e do facto cada vez mais evidente, de estarmos a desperdiçar uma parte importantíssima da nossa História. Os judeus já por cá andavam antes da fundação da nacionalidade, formavam comunidades importantíssimas e a do Sabugal era uma delas.
«…a questão judaica em Portugal tem permanecido numa acentuada penumbra, sem que se consiga explicar cabalmente como é possível fazer-se a História de Portugal, obliterando os judeus e o judaísmo da nossa memória colectiva.»
(Jorge Martins, Portugal e os Judeus, vol. 1, p. 19)
Ao percorrer as ruas da «Vila» – nome ainda hoje dado pelos locais à zona histórica do Sabugal – são inúmeros os sinais da presença dos judeus.
Se tivermos em consideração que os judeus foram perseguidos, os seus objectos destruídos e a sua cultura condenada durante mais de 300 anos, poderíamos pensar que nada iria restar como testemunho dessa importante comunidade.
Contudo não é assim.
São muitos os sinais que ainda hoje se podem sentir naquela que poderá ter sido uma das mais importantes comunidades judaicas desta região da Ibéria. O valor da Judiaria do Sabugal tem sido menosprezado por quem devia ter mais atenção relativamente a este assunto, atendendo aos sinais observáveis no exterior das edificações ainda hoje (cruzes e outros), mas também a muitos sinais existentes no interior destas (como exemplo o imponente aron ha codesh da «Casa do Castelo»), poderemos admitir que não são apenas restos de uma cultura que foi reprimida e destruída ao longo de séculos, o que hoje nos é dado observar são vestígios que apesar de toda a destruição nos chegaram, representando a ponta de um enorme Iceberg que foi a importante Judiaria do Sabugal.
Para alguns isto poderá parecer um absurdo, contudo os documentos que se vão descobrindo vêm-nos obrigar a reconhecer que a «Vila do Sabugal» foi em determinado momento uma das mais importantes judiarias da Ibéria.
Para nós Sabugalenses, esta certeza reveste-se da maior importância, pois este facto permite um enriquecimento em termos históricos e culturais capaz de gerar conteúdos que atrairão à Judiaria do Sabugal milhões de turistas, turistas que aqui poderão aprender a enorme importância que a comunidade judaica teve na história desta cidade e na da Ibéria.
Recusar esta realidade é desvalorizar o diamante em bruto que temos nas mãos.
É tempo de olhar para a Judiaria do Sabugal como um factor histórico e Cultural capaz de gerar um enorme valor acrescentado em termos de turismo cultural, ou corremos o risco de deitar fora um diamante valiosíssimo apenas porque a ignorância ou o preconceito impedem de reconhecer o seu valor. «O Bardo», opinião de Kim Tomé kimtome@gmail.com
O que é uma ideia? Será que as ideias são arte? A arte das ideias pode ser razão, ou a razão pode ser uma ideia com arte?
Em termos simplistas, talvez se possa admitir que uma ideia é uma associação de conhecimentos anteriormente adquiridos que num determinado momento expressa uma solução encontrando uma razão.
Ao caminhar por um ribeiro olhando as pedras, o observador encontra uma pedra que se parece com algo que lhe é familiar, ou que tem uma forma peculiar.
Até aquele momento a pedra era uma pedra como as outras, apenas mais uma pedra no meio de tantas outras do ribeiro.
Naquele instante, ao ser estabelecida uma associação, a pedra deixou de ser apenas mais uma pedra, ganhou uma ideia, um sentido, uma razão.
Aquela pedra deixa naquele «momentum» de ser apenas uma pedra.
A pedra continuaria a ser uma indiferente pedra, se não fosse a associação criada por um conjunto de ideias, que se conjugaram naquele «momentum» em que a pedra saiu da sua insignificante existência de pedra de ribeiro, e ganhou vida como pedra-com-ideia.
Se a pedra for exposta a um público, agora já na sua condição de pedra-com-ideia, ela apenas terá valor, como ideia atribuída à pedra.
Então, estará a arte na pedra exposta ou na ideia que a destaca de uma vulgar pedra de ribeiro?
Parece óbvio que a arte estará na ideia, a ideia que a tirou do destino de pedra de ribeiro.
Sendo as ideias a razão da arte, aquela pedra é mais que uma pedra e que uma ideia é a razão, razão que nos eleva como seres à condição de humanos capazes de criar «momentums».
Poderá então uma ideia exposta publicamente ser partilhada, mas jamais poderá ser dissociada daquele «momentum», daquele instante em que alguém foi capaz de lhe dar sentido ao criar as associações necessárias à sua existência.
Nada conseguirá anular esse «momentum» em que foi estabelecida uma ligação entre a ideia, a razão e a arte de estabelecer ligações entre caminhos nunca dantes desbravados.
Os «momentum» são como picos na planície estéril composta de seres que apenas ambicionam apoderar-se dos «momentum».
Wolfgang Amadeus Mozart, era o produtor de «mumentums», Antonio Salieri era um desses seres que tudo fazia para tentar apoderar-se dos «momentum».
Morreu sem o conseguir.
A ideia do «momentum» é indestrutível. «O Bardo», opinião de Kim Tomé kimtome@gmail.com
No seguimento da minha sugestão de candidatar a Capeia Arraiana a Património Cultural da Humanidade na UNESCO tornada publica no dia 1 de Fevereiro de 2009, muitas tem sido as contribuições e ideias entretanto recolhidas.
Quando em Janeiro lancei a ideia publicamente aqui no Capeia Arraiana, já por diversas vezes a tinha abordado em privado com algumas pessoas com responsabilidades nestes eventos que a consideraram como inútil e desprezível.
Contudo, foi a minha crónica que em Janeiro sensibilizou efectivamente algumas pessoas para esta possibilidade, tendo desde então realizado o que se tem revelado um trabalho exaustivo de recolha de dados.
Com a recente crónica de Ramiro Matos, aumentou significativamente o número de pessoas que nos tem contactado com o objectivo de contribuir.
E assim, vai crescendo o número de apoiantes desta ideia que contribuem com dados, imagens, histórias que nos tem ajudado a constituir o processo de candidatura.
Nos últimos anos, muitas têm sido as fotografias que tenho realizado com o intuito de documentar esta tradição, disponibilizando algumas sob licença CC, nos meus sites de partilha e que agora se juntam às contribuições que nos vão chegando.
Com o trabalho já vai avançado e a certeza de que a Capeia Arraiana pode ser reconhecida pela UNESCO como património da Humanidade, estão reunidas todas as condições para tornar pública a esta iniciativa de carácter privado.
Este grupo de pessoas que se disponibilizaram para encetar esta tarefa é constituído por alguns Sabugalenses nomeadamente, eu Joaquim Tomé como autor da ideia, D. Natália Bispo a primeira pessoa a acreditar neste projecto e a sugerir um sem número de coisas (difícil é segui-la com o seu dinamismo), José Carlos Lages e Paulo Leitão Batista na qualidade de dinamizadores do órgão de informação (Capeia Arraiana) que primeiro acolheu a ideia e a decidiu divulgar e Ramiro Matos que com a sua experiência a lidar com estas coisas tem desde a primeira hora estado atento aos pormenores legais.
Este grupo de trabalho está agora na fase de compilar toda a informação disponível, como acreditamos que com a contribuição e empenho de todos podemos realizar uma melhor candidatura, vimos convidar os leitores deste blogue que porventura tenham algum documento, fotografia, filme ou alguma história relacionada com a Capeia Arraiana a enviar esse material para o email: capeiaarraianaunesco@gmail.com
Com a rápida evolução das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) estas serão talvez as eleições em que os políticos estão mais expostos à critica dos cidadãos. Este facto cria uma nova relação entre governantes e governados.
O cidadão já não acredita em tudo os que os políticos dizem, o acesso à informação permite uma imediata verificação dos factos.
Se antes as criticas, queixas, e controlo estavam restritos a alguns, hoje com o significativo crescimento da utilização de blogues, fórums, emails e outros meios, as noticias e ideias correm mundo à velocidade da luz.
Uma coisa que acontece já não é apenas sabida e sufragada nos limites do concelho, é divulgada e sabida em todo o mundo.
Quando uma medida é tomada ou omitida os cidadãos criticam, sugerem, colocam questões e esperam dos governantes respostas para os seus anseios, duvidas ou sugestões.
Há hoje mais participação que nunca, os cidadãos estão mais interventivos e conscientes e as TIC vieram trazer para o quotidiano questões que antes nem sequer eram sabidas.
Será que os políticos e governantes estão preparados para esta «revolução»?
A mim parece-me que não.
Grande parte dos políticos não estão familiarizados com as novas tecnologias da comunicação, nos seus actos e decisões demonstram profunda ignorância no que a estas matérias diz respeito.
Desse facto resultam graves prejuízos para o erário público.
Também não estão preparados para responder com a ligeireza e eficiência pretendidas pelos cidadãos, que perante a falta de respostas efectivas às suas necessidades reclamam como sempre o fizeram. Antes faziam-no no café da aldeia e pouca seria a influência dessa sua reclamação pois não saia desse micro-cosmo, hoje uma critica é exposta mundialmente e todo o mundo fica a saber, este facto cria uma pressão sobre os políticos que estes não são capazes de gerir eficientemente, ou por déficit de capacidade ou apenas porque estavam acostumados a governar sem contestação não sendo capazes de admiti-la.
Se uns tentam informar-se e adaptar-se a esta nova realidade da comunicação na governação, outros mostram a sua inaptidão ao tratar os cidadãos como seres menores.
O cidadão que apresenta uma sugestão ou reclamação espera dos políticos e governantes alguma resposta, se obtem desconsideração em vez de atenção aquele que é o seu problema, tende a também desconsiderar o politico e ou governante que demonstra incapacidade para resolver o seu problema ou que agrava essa relação com atitudes próprias de um processo ditatorial.
Nestas eleições que se avizinham vamos com certeza assistir a muitos políticos e governantes a serem penalizados pela sua incompetência em lidar com as TIC.
Vivemos um tempo em que a democracia está mais próxima do cidadão, em que a consciência politica cresce, a intervenção dos cidadãos é mais directa, aos políticos compete dar resposta efectiva aos cidadãos, aqueles que não o fizerem serão cilindrados por esta nova democracia mais directa e mais interventiva. «O Bardo», opinião de Kim Tomé kimtome@gmail.com
O encontro nacional dos utilizadores de programação livre (ou gratuita) vai decorrer no Sabugal. O bar «O Bardo» é um dos partners do evento.
Em períodos de crise as empresas como as famílias tem necessidade de reduzir custos. Um dos aspectos onde é possível poupar verbas é, na utilização de computadores. Esta ferramenta tornou-se um imperativo para empresas e famílias que actualmente são impelidas a gastar centenas senão milhares de euros em licenças.
Todos os computadores são máquinas que necessitam ter programas para que possam realizar as tarefas necessárias, sejam as de controlo de negócios, comunicação ou entretenimento e para utilizar esses programas tem que se possuir licenças de utilização.
Devido ao agressivo marketing da Microsoft a maioria das pessoas usa o Windows, que tem imensos problemas de segurança como por exemplo Vírus. Para alem das questões de segurança, há ainda os custos com o software que no Windows pode, numa instalação normal, ascender a algumas centenas de euros, o que numa empresa atinge facilmente os milhares de euros.
Como alternativa, muitas pessoas e empresas recorrem ao software pirateado, correndo com isso o risco de terem que pagar pesadas multas e verem todos os equipamentos apreendidos, para alem de estarem sujeitos a cumprir pena de prisão.
Então, será que existem alternativas viáveis que permitam reduzir os custos e manter o mesmo nível de utilização?
Sim existe.
O Software Open Source permite isso mesmo.
O Software Open Source permite obter todas as funcionalidades com melhor prestação e de forma completamente gratuita.
No mundo do Software Open Source existem opções para fazer tudo o que se pode fazer com software proprietário mas de forma GRATUITA e legal.
Tomar a opção pelo Software Open Source é, para as famílias e para as empresas, uma forma de usufruir de todas as vantagens dos computadores e das tecnologias da comunicação gratuitamente, sem que com isso se esteja a cometer uma ilegalidade e ou a violar os direitos de alguém.
Mas se pretender conhecer, testar e instalar este software. como é possível obter ajuda e orientação?
Foi com a intenção de divulgar e permitir o acesso livre a este excelente software que há cerca de um ano nasceu no Sabugal um projecto apenas com Software Open Source onde pode testar e aconselhar-se sobre estas tecnologias.
O BARDO tem computadores de utilização livre, ligação à Internet livre, fica situado à porta do castelo do Sabugal e é um local onde pode testar e obter, de forma gratuita e informal, aconselhamento e orientação para a implementação deste excelente software. «O Bardo», opinião de Kim Tomé kimtome@gmail.com
obs: Algumas imprecisões, entretanto corrigidas, na abertura da crónica são da responsabilidade da administração do Capeia Arraiana. Agradecemos as chamadas de atenção. jcl
Ao visitar a Casa do Castelo pela primeira vez, numa conversa com a proprietária D. Natália tomei conhecimento da existência de um «Ehal» na casa. Para os judeus o «Ehal» é o sitio onde se guardam os objectos de maior significado religioso e para onde todos se voltam nos momentos de oração e devoção ao seu Deus, que neste caso é um «Armário» onde se guardam as palavras sagradas a Torah que para o Judeus é o objecto mais sagrado.
Esclarecimento prévio:
– Não possuo quanto a este assunto qualquer interesse ideológico, financeiro e ou pessoal;
– Não sou simpatizante das politicas seguidas pelos actuais políticos representantes do estado Judaico, muito antes pelo contrário, sou um acérrimo critico;
– Não possuo também qualquer preconceito contra a religião Judaica, assim como não possuo em relação a qualquer outra religião;
– Não estou sujeito ao rigor cientifico que outras pessoas estão.
Posto isto, tudo o que aqui se segue é apenas o raciocínio livre de uma pessoa que pensa e analisa a questão de uma forma desprendida dando relevo apenas à lógica das coisas. Estou disponível para aceitar outras perspectivas sem dramas pois não havendo comprometimentos nem enfeudamentos e estando a questão no plano restritamente intelectual, é para mim aceitável que haja outras ideias sobre o assunto, sendo o contraditório entendido como um estimulo e uma contribuição, para a descoberta de algo que com certeza será uma aproximação da verdade histórica.
Postas as coisas neste patamar vamos lá à questão que me move a escrever estas linhas.
Ao visitar a Casa do Castelo pela primeira vez, numa conversa com a proprietária D. Natália tomei conhecimento da existência de um «Ehal» na casa.
Para quem não sabe o que é o «Ehal», podemos comparar ao que na religião católica hoje se chama o altar, digamos que é o sitio onde se guardam os objectos de maior significado religioso e para onde todos se voltam nos momentos de oração e devoção ao seu Deus, que neste caso é um «Armário» onde se guardam as palavras sagradas a Torah que para o Judeus é o objecto mais sagrado.
Não sendo um especialista na matéria achei interessantíssima a questão, que de facto não me parecia estranha, pois sabia que Judeus e Cristãos para além de partilharem as raízes religiosas (o Antigo testamento é comum às duas religiões), viveram em comum nesta região sem dramas, até às perseguições realizadas pelos Católicos a esta religião irmã.
A atestar esta realidade estão a Judiaria da Guarda a de Belmonte e muitas outras que há na região do Sabugal.
Assim, a situação não me pareceu desenquadrada muito antes pelo contrário tudo encaixava numa lógica que não exigia esforço.
Essa lógica está resumidamente descrita nos meus anteriores artigos «Testemunhos do culto judaico». Ora chegou-me agora ao conhecimento que no Jornal de Notícias, de 21 de Julho de 2008, foi publicado um artigo onde se dá a conhecer que foi classificada pelo IGESPAR a Sinagoga do Porto.
Ao observar a fotografia que ilustra o artigo, não pude deixar de encontrar similitude entre o Ehal do Porto e o Ehal da Casa do Castelo no Sabugal, o que se pode facilmente constatar observando as imagens.
De facto não me surpreendeu a parecença muito antes pelo contrário, apenas veio reforçar e adicionar mais certeza à minha convicção de que a Casa do Castelo possui um dos mais antigos vestígios da presença da cultura Judaica na região.
Pelo que, agora com mais convicção e certeza, me atrevo a afirmar que a Casa do Castelo possui o mais antigo vestígio da comunidade Judaica na região mas que tem uma outra particularidade, a Casa do Castelo está situada onde foi a Sinagoga do Sabugal.
Este facto que tenho agora com muito mais convicção, de que a Casa do Castelo foi a Sinagoga do Sabugal, apenas vem trazer ao Sabugal uma enorme mais valia em termos de enriquecimento histórico e turístico.
De facto, com esta descoberta, o Sabugal salta para a dianteira em termos de rota histórico-turística no que ao assunto diz respeito, colocando o Sabugal num lugar de destaque relativamente a outros destinos actualmente com mais notoriedade.
Resta-nos a nós Sabugalenses com sangue Arraiano, saber tirar o devido partido desta significativa descoberta e fazer com que este nosso património seja preservado e divulgado, apoiando o trabalho meritório da família da D. Natália, que souberam preservar o melhor que puderam, este importante vestígio dessa comunidade que aqui prosperou ao ponto de construir um edifício de tão grandes dimensões para adorar o seu Deus. «O Bardo», opinião de Kim Tomé kimtome@gmail.com
A propósito da revista «Sabucale» e do artigo sobre «Armários de pedra na arquitectura tradicional do Alto Côa. Testemunhos de culto Judaico?» venho tecer algumas considerações. (continuação.)
Olhando na região as construções que mais trabalho têm são as destinadas ao culto religioso, mas se olharmos pelo mundo fora acontece o mesmo.
O homem sempre despendeu muitos dos seus recursos para adorar o seu Deus.
Outro aspecto curioso é a dimensão desmesurada, da casa onde actualmente se situa a «Casa do Castelo», relativamente a outras próximas que se destacam pela sua reduzida dimensão.
A «Casa do Castelo» possui uma dimensão muito superior a outras que há época pertenciam à maior parte da população e onde viviam as tais famílias com mais que seis pessoas, os animais e onde ainda se guardavam viveres para o rigoroso inverno.
Já temos aqui duas coincidências curiosas.
Um «armário» que deu mais trabalho a construir que uma parede completa e uma casa enorme se comparada com as outras, mas será que há mais algo para juntar a isto? Se atentarmos, existiu uma parede interior colocada a sensivelmente 1,70 metros da parede exterior.
Então será no mínimo legitimo perceber, o que fazia aquela parede ali,
Perguntei a algumas pessoas com memórias mais antigas que há muito trabalham na arte de talhar a pedra, se sabiam de alguma razão para aquela parede ali estar.
Perguntei também se fossem eles a fazer aquela casa se fariam aquela parede.
A ambas as perguntas recebi como resposta um definitivo, não.
Então, já temos mais acasos, temos uma parede que parece não ter explicação, uma casa enorme e um «armário», mas mais curioso é que esse dito «armário» está nessa parede que não era necessário fazer.
Observando algumas fotografias tiradas aquando da demolição pela actual proprietária, podemos reparar que o classificado como «armário» estava colocado à altura do peito de um homem médio. (ver comparação na foto.)
Então será legitimo, no mínimo, colocar a questão sobre o que faria o construtor da casa despender tão elevado numero de recursos para construir um “armário” numa parede desnecessária a uma altura de difícil acesso para um homem médio? Mais uma vez vêm-me à memória as colossais edificações feitas para adorar os Deuses.
Então será que há mais algo que possa identificar o “«armário» com algo religioso?
Vejamos, os Católicos encerram a Hóstia num «armário», os Judeus encerram a Tora num «armário».
Os católicos tinham naquele largo uma igreja…
Os Judeus teriam….? Issooo!!!! Uma Sinagoga.
Então poderemos continuar a chamar aquele exagerado e trabalhoso «armário» um Armário.
Mas um “armário” especial, um Armário onde se guardava a Tora, onde se rezava a um Deus, um «Armário» que é muito mais que um «armário», é o testemunho de uma comunidade que existiu no Sabugal como em Belmonte ou na Guarda, e que teve poder, engenho e arte para prosperar nesta terra difícil e agreste.
E esse testemunho pode ser a Sinagoga do Sabugal. «O Bardo», opinião de Kim Tomé kimtome@gmail.com
A propósito da revista «Sabucale» e do artigo sobre «Armários de pedra na arquitectura tradicional do Alto Côa. Testemunhos de culto Judaico?» venho tecer algumas considerações.
Não sou historiador, pelo que não estou sujeito ao cinzentismo do rigor cientifico que o autor coloca no seu texto, permitindo-me a liberdade de admitir alguns aspectos sem esse peso que o autor aplicou no artigo.
Por essa razão, sou levado pelo conhecimento adquirido, pelo que ouvi os mais velhos dizer e opinar sobre o assunto e pelo raciocínio.
Quando em pequeno, tive oportunidade de assistir à que deve ter sido a ultima construção em pedra feita em Pouca Farinha, realizada pelo meu tio Joaquim, que não era arquitecto nem tinha estudos avançados, mas que era homem sabedor. Construiu essa casa, utilizando apenas o saber que recebeu dos nossos antepassados, recorrendo ao seu engenho, arte e ajuda de muitos amigos, que com muito esforço talharam e colocaram no seu devido sitio as lajes de granito.
Tive oportunidade de ver aplicadas na prática as técnicas de outrora, e lembro-me que o esforço era tremendo, sendo que algumas das pedras eram erguidas com recurso a ferramentas rudimentares, como rampas e alavancas construídas de madeira.
Colocar a pedra sobre a porta foi trabalho para alguns homens e levou mais de 2 dias, isto sem contar com a preparação e transporte para o local feito em carro de bois. Ao ler o referido artigo e tendo em conta o que me foi dado observar, várias foram as questões que se me levantaram.
Falo no caso da «Casa do Castelo» que é o que melhor conheço, deixando os outros um pouco à parte, sendo que o que vou dizer, são questões que também se podem colocar aos outros exemplos falados no referido artigo.
Sabendo o esforço necessário para construir uma casa de pedra, com recurso a técnicas ancestrais, por o ter presenciado, parece-me que seria demasiado tanto esforço e trabalho para construir um «Armário».
No caso da «Casa do Castelo», falamos de uma peça arquitectónica que pesa algumas toneladas composta por 9 pedras de granito, cuidadosamente talhadas, com cerca de 1,81 metro de altura por perto de 1,25 metro de largura.
Sabendo, porque presenciei, o trabalho que dá talhar no granito tais peças e o esforço que implica a sua colocação, a questão que se me coloca é a seguinte:
Será que quem construiu essas peças, as realizou com o intuito de lá colocar as «gamelas» onde se comia, e mais alguma pequena panela ou outro utensílio domestico que na época da construção eram escassos?
Lembro-me ainda bem. quando menino, em casa dos meus avós, familiares e amigos poucos eram os utensílios e mobiliário.
Na maioria existia, uma cântareira de madeira onde um ou dois cântaros continham a agua para beber com uma malga na boca para impedir a entrada de poeiras, uma ou duas panelas de ferro para cozinhar os caldos, um caldeiro para a vianda do porco, uma ou duas gamelas de onde todos comiam sentados em bancos baixos de 3 pés e algumas cucharras (colheres) e garfos de ferro.
Na época os lavatórios eram peças de mobiliário pouco comuns, e algumas casas tinham uma cadeira que se destinava a visitas importantes como o Sr. Padre ou o Sr. Doutor.
As mesas eram novidade na época e um luxo que apenas alguns tinham.
As camas eram enxergas de camisas de milho e quartos era coisa que não era comum, que a existirem não eram mais que o espaço de uma cama, até porque nas casas mais modestas chegavam a viver mais de meia dúzia de pessoas, sem cama sendo muitas vezes a «cama» um pouco de feno ajeitado, junto dos animais na loja.
Eram assim as casas modestas do povo de que eu me lembro.
O que me leva a crer que na época da construção da «Casa do Castelo» e das outras referidas, mesmo que porventura mais abastadas, seriam idênticas às mais modestas casas que conheci.
Assim, questiono-me porque razão quem construiu estas casas despendeu tanto tempo e recursos para construir um «armário» onde não cabia um cântaro?
Para construir o classificado como «armário» da Casa do Castelo utilizando as mesmas técnicas que o meu Tio utilizou, seria necessário o trabalho de muitos homens durante mais de um mês, desde a recolha da pedra até à sua colocação.
Então, será que o dono da casa iria optar por essa solução apenas para construir um «armário»?
Se fosse essa a finalidade não teria optado pela utilização da madeira, como acontecia na cântareira da minha Avó?
Então qual seria a utilidade de despender tantos recursos e matéria numa peça arquitectónica? (Continua no próximo domingo, 29 de Março.) «O Bardo», opinião de Kim Tomé kimtome@gmail.com
Por brincadeira costumava-se dizer que eu tinha nascido no toro de uma couve. Sei que assim não foi mas até podia ter sido. Ainda hoje existe a casa onde nasci e é com alguma nostalgia que para ela olho cada vez que por lá passo. Contudo, terão sido muitas as vezes que à sombra de uma couve fui pousado enquanto minha mãe tratava das terras.
Fui para Lisboa porque os meus pais tiveram que daqui sair em busca de melhor sustento, já lá vão 49 anos.
Quando «vínhamos à terra» o meu coração palpitava de ansiedade todo o caminho que durava muitas horas.
E à chegada esperava-nos a tal sopa de baginas ou o caldo borraçudo (espero que se escreva assim) que a minha tia tinha para nós feito com tanto carinho e saudade.
E aí, chegava o sabor da liberdade de ser menino que na cidade me era limitada entre prédios.
Saltei muros, andei aos ninhos, chinchei fruta, viajei pelo mundo nos estadulhos dos carros de bois, bebi água pura e fresca das fontes, toureei cabras e ovelhas, mergulhei no Côa tentando apanhar os peixes, inventei histórias de Mouros e Cristãos à sombra dos castelos com lutas de soldados feitos com batatas e alguns paus. Vivi naqueles parcos dias que por ano cá passávamos, a liberdade de ser menino numa terra de encantar onde todos eram tios e tias.
Cresci na cidade com os olhos postos nestas terras onde em menino senti o cheiro de liberdade e os sonhos se criavam fácil.
Ligado às tecnologias cedo me entusiasmei por o que mais tarde se viria a chamar Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), assisti ao nascimento de muitas tecnologias sem as quais hoje não seria possível viver, utilizando-as desde os seus primórdios.
Sendo um entusiasta das tecnologias da comunicação desde os anos 70 do século passado, acompanhei e aprendi muito ao longo dos anos tendo hoje um conhecimento que, sem falsa modéstia, considero razoável nestas matérias.
Sabendo das dificuldades por que a minha terra está a passar em termos de desertificação, e das dificuldades reconhecidas em termos de acesso às TIC, farto da cidade, admiti que poderia de algum modo contribuir modestamente para contrariar a tendência.
Foi inspirado pela filosofia da Free Software Fondation (FSF), pelo espirito do software open source, e pelos objectivos traçados na Cimeira de Lisboa quanto à utilização das TIC para a Europa, que decidi voltar à MINHA TERRA e contribuir com os meus recursos e saber para contrariar a tendência de morte anunciada desta maravilhosa cultura e região. Estava consciente que o meu trabalho seria sempre uma modesta contribuição, que as dificuldades iam ser muitas, e que seria mais fácil obter lucros nas cidades, mas farto da cidade estava eu.
Acreditava que NA MINHA TERRA poderia ser mais útil e ajudar a contrariar a tendência que acreditava eu ser resultado das politicas centralistas do poder de Lisboa.
Estava consciente da modéstia da minha contribuição, mas também acredito que é da modesta contribuição de cada um que se conseguem resultados.
Para cumprir os objectivos procurei apoios no IEFP e outras entidades, onde me desmotivaram em vez de ajudar.
Determinado, decidi mesmo sem apoios, levar em frente a minha ideia e fazer uso apenas dos meus recursos avançar com o projecto. Acreditava eu que aqui havia pessoas que sabiam lutar por esta terra, como o tinham feito durante milhares de anos os nossos antepassados.
Enganei-me!
Aqueles que como eu saltaram muros, chincharam fruta, mergulharam nas aguas (então) límpidas do Côa e que hoje ocupam lugares de decisão, foram os que se mostraram mais incapazes de reconhecer o valor da proposta, causaram dificuldades e chegaram mesmo a boicotar iniciativas.
E aí, finalmente percebi as lágrimas nos olhos dos meus amigos que tenho visto partir por aqui não conseguirem viver.
E aí, finalmente percebi a tristeza de muitos que vem as suas famílias destroçadas pela necessidade de alguns partirem pelo mundo em busca de sobrevivência.
E aí percebi porque razão A MINHA TERRA E A MINHA CULTURA está a morrer, porque são os da terra que perderam a vontade e coragem, que durante milénios caracterizou esta gente ARRAIANA, de lutar para a manter.
Percebi que a causa está cá dentro não no poder centralista de Lisboa, que é cá dentro que se tomam as medidas certas ou erradas e, que é cá dentro, que as soluções tem que ser encontradas e postas em prática, unindo e não promovendo a discórdia e o autismo institucional.
Não são os tão proclamados 200 euros por nascimento que vão contribuir para contrariar a desertificação, não é mais um pavilhão polidesportivo que vai manter aqui os jovens, não é impedindo as empresas de se instalar que vai haver mais trabalho para os potenciais progenitores que vamos ter mais nascimentos.
Nasci numa terra onde o pó dos caminhos se metia nas narinas a caminho do rio nas quentes tardes de Verão, onde em cada Chão havia pessoas, onde os animais pastavam nos lameiros e onde não havia polidesportivos nem calçadas nas ruas.
Hoje regressado vejo caminhos calcetados, estradas alcatroadas, polidesportivos (a mais), piscinas, mas há algo que não vejo, as pessoas, as galinhas, os burros, as vacas.
Vejo desânimo nos olhos das pessoas, enquanto outros se vangloriam em almoços autistas, das suas medidas que apenas tem promovido a morte desta minha gente, que é obrigada a partir para outras terras para continuar a ter algo com que matar a fome.
E há algo que continuo a ver como há 50 anos, as pessoas a partir com as lágrimas nos olhos.
Em 50 anos não fomos capazes de ter na nossa terra, alguém verdadeiramente empenhado em reconstruir a possibilidade dos transcudanos poderem viver e ser felizes nesta NOSSA TERRA.
Não será tempo de nós os que, por opção própria ou por acaso do destino, queremos aqui ser felizes, dizermos o que nos vai na alma sem medo das represálias que os que detem o poder nos possam causar?
Eu tenho menos receio das represálias desses que destruiram a MINHA TERRA, do que das políticas absurdas que todos os dias destroem vidas e negócios das minhas gentes. Por isso levanto conscientemente a minha voz contra o que entendo serem medidas suicidas.
Por isso trabalho 18 horas e mais por dia como muitos outros, para poder contribuir modesta e EFECTIVAMENTE para o progresso da terra que me viu nascer.
Não percebo como as pessoas que detiveram o poder desde há 50 anos se podem sentir orgulhosos das suas decisões, e ver as famílias dos seus amigos partir com lágrimas da sua terra devido às suas decisões. Assim como não percebo que hoje se continue a governar olhando para o umbigo em vez de olhar para as pessoas.
Não será tempo de mudar atitudes?
Não será tempo de as pessoas perderem o medo e lutarem pelo seu direito de ser felizes na terra que os viu nascer e que amam? «O Bardo», opinião de Kim Tomé kimtome@gmail.com
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