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Damos continuidade à apresentação do léxico com as palavras e expressões populares usadas na raia ribacudana.

CASEIRÃO – indivíduo natural da Moita.
CASETA – casa tosca, com uma simples cobertura, imprópria para habitação. Assim se chamava aos postos de sentinela junto à fronteira. No caminho de Aldeia da Ponte para Albergaria de Aragan havia junto à fronteira, do lado espanhol,uma dessas construções, a que os contrabandistas chamavam precisamente «a caseta».
CASIBEQUE – casaco curto; casa pequena (Júlio António Borges).
CASINHOLO – casa pequena e pobre.
CASINHOTO – o m. q. casinholo.
CASQUETA – boina – termo da gíria de Quadrazais (Franklim Costa Braga).
CASQUEIRO – pão. Chapéu velho de uso diário (Vítor Pereira Neves).
CASTANHA PILADA – castanha seca no caniço.
CASTANHA PISADA – o m. q. castanha pilada (Clarinda Azevedo Maia).
CASTANHEIRO – caule da batateira (Malcata).
CASTANHEIRO A ABRIR – castanheiro cujos ouriços «sorriem», deixando ver as castanhas.
CASTANHEIRO A CAIR – castanheiro em que as castanhas já caem dos ouriços.
CASTÃO – ponta metálica do fuso (Clarinda Azevedo Maia – Fóios).
CASTELHANA – faúlha; fanisca (Manuel Leal Freire). Clarinda Azevedo Maia registou, nas Batocas, o masculino, castelhano, com o mesmo sentido. Também se diz chispa.
CASTELOS – parte recortada da canga, por onde passa o tamoeiro. Nas Batocas dizem castalhos (Clarinda Azevedo Maia).
CASTIÇO – forte, bem constituído.
CASTIGAR – aceitar imediatamente, no decurso de um negócio, o preço pedido pelo vendedor para se evitar que o mesmo suba. «Nem regateou, castigou-me logo pelo que lhe pedi» (Abel Saraiva).
CASTRÃO – ponta metálica do fuso, à qual se prende a ponta do fio de linho. O m. q. castão.
CASULEIRO – peça do tear, na forma de uma caixa rectangular com vários compartimentos iguais, onde se introduzem os novelos de linho.
CASULO – interior da maçaroca de milho a que estão agarrados os grãos. O m. q. canudo.
CATA – pesquisa; busca. Fui à cata dele.
CATANCHO – interjeição, que indica admiração, o m. q. arre diacho!.
CATANO – interjeição que indica admiração, espanto, contrariedade, ira. Ah catano. Também se usa catancho.
CATAR – procurar. Matar piolhos e lêndeas com as unhas.
CATARRAL – tosse muito forte; bronquite aguda com expectoração abundante.
CATARRO – barulho; conversa fiada. Tens é catarro.
CATATUM – cabeça no ar; distraído (Júlio António Borges).
CATELA – bebedeira (Júlio António Borges).
CATERVA – grande quantidade; multidão; bando. Mais a Sul (Monsanto) diz-se catrefa (Maria Leonor Buescu).
CATITA – bem arranjado; bem vestido.
CATORZADA – grande quantidade; multidão; o m. q. caterva.
CATRAÇO – grande pedaço (Júlio António Borges).
CATRAIO – garoto; rapazola.
CATRAMEÇO – fatia grossa de pão (Júlio António Borges).
CATRAMOIÇO – pessoa pesada (Júlio António Borges).
CATRAPÃO – burro tropeçudo, de mau andar.
CATRAPISCAR – piscar o olho a alguém.
CATRAPÓ – pessoa mal feita; animal velho, que já troca as patas (Júlio António Borges).
CATRAPUZ – trote de cavalo; expressão que assinala uma queda (onomatopeia).
CATRAVADA – grande quantidade; o m. q. caterva.
CATRE – cama de ferro.
CATRINO – interjeição que indica admiração, espanto, ira. Diabo. O m. q. catano ou catancho.
CATROIO – cavalo – termo da gíria de Quadrazais (Nuno de Montemor).
CATROLO – fatroco; grande naco de pão (Júlio Silva Marques).
CATRUZADA – quantidade elevada e indiscriminada (Júlio Silva Marques). O m. q. catorzada.
CATUNTO – bêbedo (Rapoula do Côa).
CATURNOS – meias de calçar os pés (Franklim Costa Braga, Clarinda Azevedo Maia).
CAVADA – sorte; porção de terra para cultivo de cereais, proveniente do arroteamento de moitas (Duardo Neves).
CAVALEIRO – pau móvel da burra de augar (termo muito usado mais a Sul, nas terras do Campo – Maria Leonor Buescu). Indivíduo natural de Vale de Espinho.
CAVALINHO DE NOSSO SENHOR – libelinha.
CAVALITAS – costas. Andar às cavalitas. Também se diz burricas. Júlio Silva Marques regista com o mesmo sentido: andar ao carrapacho (escarrapachado no pescoço). Duardo Neves regista por sua vez: andar à carantonha.
CAVALO – tronco onde se enxerta, juntando-lhe o garfo.
CAVALO DE PARADA – cavalo de cobrição (Clarinda Azevedo Maia).
CAVALO DE SETE MOEDAS – mulher espampanante, que se exibe muito (Vítor Pereira Neves).
CAVALO INTEIRO – cavalo que não está capado; de cobrição (Clarinda Azevedo Maia – Lageosa). O m. q. cavalo de parada.
CAVALO-MARINHO – chicote
CAVANIR – fugir; pôr-se ao fresco (de cavar). Júlio Silva Marques refere cabanir.
(Continua…)
Paulo Leitão Batista, «O falar de Riba Côa»

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Damos continuidade à apresentação do léxico com as palavras e expressões populares usadas na raia ribacudana.

CARREIRA – corrida. Fila de cereal disposta na eira, pronta para malhar; o m. q. covela. Camioneta de transporte de passageiros. O rapaz não dá carreira direita: não tem boa orientação ou não tem bom comportamento. Sinos às carreiras: em repiques festivos.
CARREIRO – vereda; caminho estreito.
CARREIRO DE SANTIGO – Estrada de Santiago (Clarinda Azevedo Maia – Batocas).
CARRETA – peça cilíndrica do tear, onde se seguram os liços (Luísa Lasso de la Veja y Pedroso Charters).
CARRETO – serviço prestado com o carro de vacas. Comboio de carros de vacas, que efectuam determinado transporte (Duardo Neves). Carro de vacas carregado (Francisco Vaz). Fazia-se o carreto para transportar produtos de e para as estações do comboio, assim ganhando os lavradores algum rendimento suplementar. Também se chamava carreto ao costume do povo se reunir e ir carregar e transportar pedra da serra, em carros, oferecendo-a aos novos casais para construírem suas casas (Fóios).
CARRICEIRAS – espécie de feno áspero e às vezes cortante que cresce em alguns lameiros (Duardo Neves).
CARRIL – caminho estreito; quelha; carreiro; atalho (Júlio Silva Marques).
CARRILHEIRA – maxilares do porco depois de «limpos», ou seja, arrebanhados da carne. A carrilheira era guardada na tarimba ou no caniço. Usava-se para curas: se havia inchaço em homem ou em animal escarchava-se a carrilheira e barrava-se a parte dorida com a medula dos ossos.
CARRO – veículo de tracção animal – carro de vacas, carro da burra. Cinquenta fachas, ou molhos, de palha ou de feno. Júlio António Borges refere, em relação a Castelo Rodrigo: cada carro transportava doze pousas de trigo, e cada pousa correspondia a cinco molhos. Ou seja, mais a norte do Sabugal, um carro eram 60 molhos.
CARROCO – puxo de cabelo na cabeça usado pelas mulheres (Clarinda Azevedo Maia – Lageosa).
CARROLA – monte de qualquer coisa. Carrola de pão: coluna de pães sobrepostos.
CARTAPEL – pequeno funil de cartão que serve para apertar a estriga (de linho) à roca. Clarinda Azevedo Maia registou cartapele e acrescenta que o funil pode ser de pele.
CARTAPELZINHO – franzino, molezinho (José Pinto Peixoto).
CARTÃO – moita de carvalhos novos e viçosos (Duardo Neves).
CARTAXO – chasco (pássaro); indivíduo fala-barato (José Pinto Peixoto).
CARTÓFAS – batatas (José Pinto Peixoto).
CARUMBA – caruma; agulhas de pinheiro.
CARUSSÉ – petróleo (Clarinda Azevedo Maia – Fóios).
CARVALHIÇO – carvalho pequeno.
CARVALHO – pau alto revestido de rosmaninhos e enfeitado com bandeiras coloridas, tradicionalmente queimado na noite de S. João. O pau era obtido do corte de um grande pinho, que era transportado, levantado e «vestido» no largo do arraial. No topo do carvalho colocava-se uma boneca com bombas ou um cântaro com o gato. Tirando este último pormenor (das bombas e do gato) o carvalho continua a preparar-se todos os anos na festa sanjoanina do Sabugal.
CARVOEIRA – forno improvisado, onde se faz carvão (Leopoldo Lourenço). Forma-se uma pilha de paus com uma caixa de ar, que se cobrem com uma camada de giestas e outra de terra, deixando-se dois orifícios (respiradores). Apichado o fogo, dura oito dias a combustão lenta, retirando-se depois o carvão, que permanecerá no local outros oito dias até ser ensacado.
CARVOEIRO – indivíduo natural de Malcata (Clarinda Azevedo Maia).
CASACA – casaco curto; blusão. Nas terras do Campo (Monsanto) designa blusa de mulher solta à frente (Maria Leonor Buescu).
CASA DAS BARBAS – barbearia (José Manuel Lousa Gomes ). Nas aldeias, estas casas apenas abriam aos sábados à tarde e aos domingos de manhã, dias em que os homens se escanhoavam e aparavam os cabelos. Os barbeiros de antigamente, para além do ofício próprio dessa profissão, exerciam também a medicina nas aldeias, tratando ferimentos e curando doenças.
CASA DE VIVER – casa de habitação.
CASCABOEZES – amendoins (Adérito Tavares) – do Castelhano: cacahuete.
CASCABULHO – grande quantidade de cascas (por exemplo de batata) que se dão de vianda aos porcos (Vítor Pereira Neves).
CASCALHEIRA – terreno pedregoso, com abundância de cascalho.
CASCALHO – seixos do rio misturados com terra, usados na construção de casas ou na pavimentação de caminhos.
CASCANOTE – carolo na cabeça; moquenco (Rebolosa).
CASCAR – bater, sovar. Cascou-lhe de rijo.
CASCARÃO – casca de ovo. Júlio António Borges acrescenta: casca de ferida cicatrizada.
CASCARROLHOS – amendoins (Duardo Neves).
CASCARRUDO – cascudo; diz-se das folhas de plantas grossas e rugosas como as da figueira (Clarinda Azevedo Maia – Aldeia da Ponte).
CASCO – casca de laranja (Clarinda Azevedo Maia – Fóios).
CASCOREL – coscorel; bolo caseiro, parecido com a filhós, mas com a massa mais fina. Vítor Pereira Neves define como: «doce frito típico do casamento». Manuel dos Santos Caria escreve cascorés e Luísa Lasso de la Veja y Pedroso Charters usa o termo coscorão.
CASCOSA – batata – termo da gíria de Quadrazais (Nuno de Montemor).
CASCOSA DO AR – castanha – termo da gíria de Quadrazais (Nuno de Montemor).
(Continua…)
Paulo Leitão Batista, «O falar de Riba Côa»

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Damos continuidade à apresentação do léxico com as palavras e expressões populares usadas na raia ribacudana.

CARDINA – bebedeira.
CARDO – planta cuja flor é usada para coalhar o leite.
CARECA – indivíduo natural da Torre.
CAREIO – cuidado; jeito; maneiras; propósitos; tino. Joaquim Manuel Correia traduz por «forças, melhoras».
CAREIRO – variedade de sapos grandes, com pele muito rugosa (Clarinda Azevedo Maia).
CARESTIA – preços muito elevados; vida cara. Também se diz careza.
CARGA – o que é transportado, por homem ou animal. Bebedeira.
CARGAR – carregar; pôr carga.
CARGUEIRO – aquele que no contrabando transportava as cargas, recebendo por isso uma quantia em dinheiro. Os cargueiros seguiam em coluna, guiados por um guia, o cortador. Em geral, cada carga pesava 25 quilos.
CARNAGÃO – volume exagerado do amojo das vacas paridas, relativamente ao pouco leite que dão (Duardo Neves).
CARNE ESFOLADIA – carne de animal esfolado (cabrito, borrego, vitela).
CARNEIRO DA SEMENTE – carneiro de cobrição.
CARNE GORDA – toucinho.
CARNIÇA – carne (Júlio António Borges).
CARNICEIRO – assassino (Clarinda Azevedo Maia – Fóios).
CARNIGÃO – parte esponjosa e dura de uma ferida (Júlio António Borges).
CAROÇA – cereja. Vamos à caroça? (Rapoula do Côa). Nas terras do Campo designa a azeitona carnuda (Maria Leonor Buescu).
CAROCHA – primeira fatia que se corta do pão (Júlio António Borges).
CAROLA – coisas colocadas em fila (Júlio António Borges).
CAROLO – farinha grosseira de milho, com que se fazem papas. Júlio Silva Marques escreve arolo.
CARPINS – meias dos pés (Clarinda Azevedo Maia, José Pinto Peixoto).
CARQUEJA – planta silvestre, cuja flor se usa para fazer chá, óptimo para o fígado. Também se usa para condimentar cozinhados.
CARRADA – carga completa de um carro.
CARRANCA – cara feia; careta. Clarinda Azevedo Maia, reportando-se a Vale de Espinho, traduz assim: coleira guarnecida de pontas de ferro que serve para defesa dos cães.
CARRANCHA – pernas abertas.
CARRANCHOLA – grande carrada (Adérito Tavares).
CARRANJA – transporte do cereal para a eira, onde será malhado. O m. q. acarranja.
CARRANJAR – transportar; fazer a carranja.
CARRÃO – pessoa vagarosa.
CARRAPACHO – forma de transportar as crianças: escarrapachadas no pescoço dos adultos (Júlio Silva Marques).
CARRAPATO – carraça de pele lisa; nu. Júlio António Borges acrescenta: feijão frade; chícharo. Indivíduo natural da Bendada (Clarinda Azevedo Maia).
CARRAPIÇO – carvalho novo. Desembaraçado a subir (José Pinto Peixoto, Leopoldo Lourenço).
CARRAPITO – coruto de uma árvore; o m. q. carrapiço.
CARRASCA – azeitona de fraca qualidade.
CARRASCO – árvore idêntica ao carvalho, que prolifera nas campinas da raia. Clarinda Azevedo Maia recolheu nos Forcalhos o mesmo vocábulo traduzido por: «tipo de abrunheiro que dá frutos muito amargos».
CARRASQUEIRO – o m. q. carrasco.
CARRASQUINHA – espécie de azeitona; o m. q. carrasca (Clarinda Azevedo Maia – Vale de Espinho).
CARRASPANA – bebedeira.
CARRASPAR – beber em demasia, embebedar-se. «Talvez pela força do hábito, a pinga não carraspava» (Francisco Carreira Tomé). Diz-se quando a língua fica áspera por efeito de certos alimentos.
CARRASPENTO – áspero; amargo. Esta maçã é carraspenta.
CARREGAR OS MACHINHOS – embebedar-se. «Não se livrava da fama de também carregar os machinhos» (Abel Saraiva).
CARREGO – fardo ou carga que se põe às costas, no contrabando. O seu peso rondava os 25 quilos. Carga de três ou mais sacas, colocadas sobre o dorso do burro (Luís Gonzaga Monteiro da Fonseca).
(Continua…)
Paulo Leitão Batista, «O falar de Riba Côa»

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Damos continuidade à apresentação do léxico com as palavras e expressões populares usadas na raia ribacudana.

CÃO DE VILA – indivíduo que habita na vila do Sabugal (dito em sentido pejorativo).
CÃO TINHOSO – Diabo. Cão afectado com a tinha (doença cutânea).
CAPACHO – estrado; peça circular de ráfia entrelaçada, usada como suporte do bagaço da azeitona, onde é espalhado e aguardará por ir à prensa. Clarinda Azevedo Maia traduz de modo diferente, em sinónimo de caçapo: ponta de chifre que o ceifeiro traz pendurada à cinta e onde mete a pedra de afiar a gadanha (Forcalhos).
CAPADA – rebanho de ovelhas; piara de gado.
CAPADO – bode ou chibo castrado – a que foram extraídos os testículos, com o fim de o engordar para matar. «Abate uma vitela e dois capados muito gordos» (Joaquim Manuel Correia ).
CAPADOR – homem que capa os animais; castrador. Montado mum possante macho, o capador assomava ao cimo da aldeia e soprava um apito para indicar a sua presença.
CAPADURA – pequeno corte em melão ou melancia, para verificar o seu estado.
CAPÃO – molho de vides cortadas na poda (Júlio António Borges).
CAPAR – castrar animais, cortar-lhes os órgãos de reprodução.
CAPAR A RIBEIRA – fazer saltar um seixo no cimo da água (Rapoula do Côa). também se diz capar a água (Célio Rolinho Pires). Joaquim Manuel Correia refere captar: «brincavam com as pedras finas de xisto, captando a água do pego».
CAPEIA – tourada arraiana onde se utiliza o forcão para desafiar o toiro – do Castelhano: capea.
CAPELA DO OLHO – pálpebra (Clarinda Azevedo Maia).
CAPELO – capuz de pano que protege a cabeça e o pescoço do apicultor das picadas das abelhas. Nevoeiro, ou névoa, que se forma no cimo dos montes. Clarinda Azevedo Maia apresenta um significado diferente: máscara de rede de arame usada para proteger a cara quando se tira o mel (Vale de Espinho).
CAPINDÓ – casaco curto e mal feito (Júlio António Borges).
CAPINHA – toureiro amador que, vindo de Espanha, percorria as aldeias da raia portuguesa a fim de estagiar nas capeias, exercitando-se com o sonho de um dia tourear numa praça. Ao capinha também se lhe chama maleta.
CAPUCHA – capa tradicional, com garruço que proteje a cabeça e o pescoço, muito usada pelas mulheres. À capucha: à socapa, às escondidas. «Mostrou-me então, à capucha, um saquitel que trazia» (Abel Saraiva).
CAPUCHO – costume da noite de Natal, em que os rapazes mais velhos, de cabeça encapuzada, afugentavam os mais novos (a canalha) para a cama. A designação provém do facto de ser costume colocar uma saca na cabeça. Capucho também designa um jogo tradicional – o jogo do capucho – em que um dos jogadores tapava a cabeça e tentava apanhar os companheiros que corriam à sua volta. Aquele que fosse panhado passava a ser o capucho e o jogo continuava.
CAQUEIRO – vaso de barro para flores; o m. q. caco.
CARABINEIRO – guarda alfandegário espanhol. Também designado por crabineiro. Os carabineiros eram geralmente mais severos no desempenho do serviço do que os nossos guardas-ficais, seus congéneres em Portugal, sobretudo com o chamado contrabando da barriga – aquele que se compunha por géneros alimentícios para consumo doméstico.
CARACHO – caramba (interjeição). Também se diz carache ou carago.
CARA DE CU À PAISANA – basbaque; ingénuo; anjinho. «À paisana» significa aqui ao léu, despido.
CARAMBOLA – monte de qualquer coisa, sejam, por exemplo, pedras, paus ou abóboras.
CARAMBOLO – jogo tradicional. Trata-se de um jogo de pontaria, em que se colocam de pé e em fila nozes, amêndoas, cascudos ou simplesmente bolotas. Os jogadores que se enfrentam iniciam com as mesma unidades e ficam com as que conseguem derrubar (Júlio Silva Marques).
CARAMELO – gelo; superfície de água gelada. Está tudo encaramelado. Também se diz caramelina: «está uma caramelina» (Joaquim Manuel Correia).
CARAMOÇO – carambola; montão de pedras; cabeço pedregoso. Júlio António Borges escreve caramosso.
CARANGONHA – cegonha (José Prata).
CARANTONHA – cara feia; careta. À carantonha: às cavalitas (Duardo Neves).
CARAPELA – bola de farrapos; péla. Jogo tradicional, também designado por jogo da pelota, em que os rapazes arremessam uma bola de trapos contra uma parede.
CARAPETEIRO – planta brava com espinhos.
CARAPETO – coluna de gelo na forma de estalagmite, formada da solidificação de águas que escorrem de lugares altos; o m. q. escarapeto. Espinho, pico: espetou-se-me um carapeto no dedo.
CARAPULO – componente do mangual: tira de cabedal que envolve a ponta da mangueira.
CARAVA – companhia; grupo de companheiros. Fazer carava.
CARAVELA – cata-vento para espantar pássaros. Também se diz cravela.
CARBUNCO – carbúnculo; doença que faz desenvolver insectos parasitas sob a pele. Também se diz cabrunco: «Que vos nasçam no corpo tantos cabruncos como de pelos tendes na cabeça, santarrões do diabo!» (Abel Saraiva).
CARCABIO – feijão – termo da gíria de Quadrazais (Nuno de Montemor).
CARCÁVIO – dente – termo da gíria de Quadrazais (Nuno de Montemor).
CARCHA – pedaço em que se dividem as batatas para cozer; talhada de melancia ou de melão. Clarinda Azevedo Maia traduz literalmente por batata, acrescentando ainda que o plural designa batatas cozidas com bacalhau (Lageosa).
CARCHAIS – ossos da cabeça do porco (Clarinda Azevedo Maia – Fóios).
CARCHANETA – risonho (José Prata).
CARCHANOLAS – castanholas; instrumento musical de duas peças de madeira, que se agitam com os dedos em concha. Nos Fóios eram assim designadas as matracas (Clarinda Azevedo Maia).
CARCHANOTE – salto. «Seguiam com os braços no ar dando carchanotes de feição» (José Pinto Peixoto sobre as danças populares).
CARCHANTADA – cabeçada (Adérito Tavares).
CARCHENTADA – dentada forte (Francisco Vaz).
CARCHO – pedaço de qualquer coisa: carcho de pão. Pequeno período de tempo: «se viesses à carcho comias connosco» (Júlio Silva Marques). Do Castelhano: cacho.
CARCHOILA – banco de madeira, onde as mulheres ajoelham quando lavam a roupa na ribeira (Adérito Tavares). Aumentativo de carcha (Júlio Silva Marques).
CARCÓDIA – casca de pinheiro. Também designa a faúlha (fanisca) que salta da casca de pinheiro quando arde (Clarinda Azevedo Maia – Aldeia do Bispo). Também se diz carcóvia.
CARCOLÉ – codorniz (Célio Rolinho Pires).
CARDAR – não fazer coisa de jeito (Francisco Vaz); andar na boa vida. Dobrar o corpo para com a cabeça coçar ou lamber o traseiro – referente a animais (Duardo Neves).
CARDENA – cabra de cor acinzentada (Clarinda Azevedo Maia – Vale de Espinho).
CARDENHO – casa pequena e pobre. Lugar onde pernoitam os cabritos ao serem desmamados. Também se diz cardanho. Termo usado na gíria de Quadrazais, traduzido por casa (Franklim Costa Braga).
(Continua…)
Paulo Leitão Batista, «O falar de Riba Côa»

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CANCHO – polpa dos frutos (Joaquim Manuel Correia ). Penedo; penhasco (Maria Leonor Buescu).
CANDEIA – utensílio de metal, com depósito para azeite ou petróleo, que se suspende para iluminar. Candeeiro com longo pé de madeira ou de metal, que acompanha as procissões.
CANDIL – candeia pequena.
CANDONGA – negócio ilícito; contrabando.
CANDONGUEIRO – indivíduo que anda na candonga; contrabandista.
CANEAR – morrer (Leopoldo Lourenço).
CANECO – caneca alta e estreita; chapéu alto (Júlio António Borges).
CANEJO – indivíduo com as pernas tortas, cujos joelhos roçam ao andar (Rebolosa).
CANELA – peça da lançadeira do tear, em forma de cubo, onde se enrola o fio.
CANELEIJA – recipiente ligado à moega do moinho, onde cai o grão a moer, que depois pingará para o buraco da mó (Franklim Costa Braga). José Prata chama-lhe caneleja. Clarinda Azevedo Maia acrescenta caleija.
CANELEIRA – instrumento de madeira usado para encher com fio de linho a canela do tear.
CANELEIRO – parte do tear onde se fixa a canela para enrolar fio.
CANELO – ferradura própria para o gado bovino.
CANGA – trave de madeira trabalhada e adaptada a ser colocada sobre o cachaço de dois animais de tracção, para que puxem ao carro ou lavrem a terra. A canga, normalmente feita em madeira de nogueira, contém os castelos, o vergueiro, as cravelhas e os barbantes.
CANDAÇO – engaço; pé do cacho de uvas, sem os bagos (Júlio António Borges).
CANGALHAS – dispositivo de madeira que se suspende no lombo dos burros para transporte. Há diferentes tipos de cangalhas: para a água (transporte de cântaros), para o estrume, para a lenha. Também significa óculos. De cangalhas: de pernas para o ar. Virou tudo de cangalhas. Nas terras do Campo (Penamacor, Idanha), chamam angarela ao dispositivo com que transportam os cântaros da água nos burros.
CANGRA – igreja – termo da gíria de Quadrazais (Nuno de Montemor).
CANHA – mão esquerda.
CANHADA – calçada (José Prata). Rua íngreme (Clarinda Azevedo Maia) do Castelhano: cañada.
CANHÃO – mulher mal reputada; prostituta.
CANHO – esquerdino; canhoto.
CANIÇO – grade de madeira onde se secam (pilam) as castanhas, que se suspende na cozinha, de modo a apanhar o calor e o fumo da lareira. Armação de vime que se coloca no carro de bois (Júlio António Borges).
CANIL – pão próprio para os cães, feito de farelo (Júlio António Borges, Clarinda Azevedo Maia).
CANIVETE – habitante de Vilar Maior (Júlio Silva Marques).
CANJADA – cajado (José Prata).
CANJERÃO – jarro grande de barro vidrado (José Pinto Peixoto). Júlio António Borges refere canjirão, como sendo jarro para vinho, ou pessoa alta e desajeitada, vocábulo que reporta a Escarigo.
CANOA – pente de ornamentação, à espanhola (Francisco Vaz).
CANOCO – alimento para os animais (Duardo Neves).
CANÕES – canas de milho, já secas.
CANOSTRAS – costas; avesso. Virou-o de canostras. Também se diz calhostras.
CANTADOR – galo.
CANTANTE – galo ou galinha – termo da gíria de Quadrazais (Nuno de Montemor).
CANTAR A MOLIANA – diz-se do choro das crianças. E serve de ameaça: vê lá se te ponho a cantar a moliana! (Júlio Silva Marques).
CANTAR DO CARRO – som estridente produzido pelo antigo carro de vacas, com eixo de pau de freixo. «O chiar dos carros era o orgulho dos lavradores que, quando chegavam a alguma localidade, faziam questão que o seu carro “cantasse” bem alto» (Norberto Gonçalves).
CANTAREIRA – estante onde se coloca a loiça e os cântaros da água; o m. q. vasal.
CANTARIA – pedra de granito bem talhada. Casa de cantaria: erguida com pedra aparelhada – casa de rico.
CÂNTARO – medida de capacidade; meio almude. A medida exacta do cântaro varia de terra para terra. Na maior parte das terras mede 12 litros. Porém, segundo Franklim Costa Braga (de Quadrazais) e Clarinda Azevedo Maia (que estudou o léxico de diversas terras da raia sabugalense) o cântaro mede 14 litros,. Lugar onde se metem os novelos quando se está a urdir a teia no tear (Clarinda Azevedo Maia – Batocas).
CANTEIRO – artista que trabalha as pedras de cantaria e alvenaria.
CANTIGAS – lérias; tretas; mentiras. Deixa-te de cantigas.
CANTIGAS DAS FILHOSES – cantares próprios do final da malha (Manuel dos Santos Caria).
CANTILENA – cantiga simples e pouco elaborada.
CANTORIA – reunião de vozes cantando, muito usado pelos rapazes da ronda, de noite. José Pinto Peixoto diferencia entre: cantorias ao profano (risos, gargalhadas sem jeito) e cantorias ao divino (cânticos religiosos próprios da Quaresma).
CANUCHO – o m. q. canudo.
CANUDO – interior da maçaroca de milho a que estão agarrados os grãos. Parte do foguete onde está contida a pólvora.
CANUTO – o m. q. canudo (Clarinda Azevedo Maia – Batocas).
CANZOADA – matilha de cães; gente reles e velhaca. Nas terras do Campo (Monsanto) dizem cãzoada (Maria Leonor Buescu).
(Continua…)
Paulo Leitão Batista, «O falar de Riba Côa»

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Damos continuidade à apresentação do léxico com as palavras e expressões populares usadas na raia ribacudana.

CAMALHÃO – terra virada pela enxada ou pelo arado. Montes de terra feitos à enxada entre as videiras (José Pinto Peixoto). Também se diz cambalhão (Clarinda Azevedo Maia). Semear batatas em camalhão: semear em regos alternados (Clarinda Azevedo Maia).
CAMBA – cada uma das duas peças curvas que formam a roda dos antigos carros de vacas, onde se aplica o rasto em ferro. Peça do arado, com curvatura, onde encaixa o dente e a rabiça (Júlio António Borges).
CAMBADA – corja, súcia.
CAMBADO – indivíduo que tem as pernas tortas.
CAMBAL – lugar escondido e com pouca circulação (Duardo Neves).
CAMBALACHE – negócio, troca – termo da gíria de Quadrazais (Franklim Costa Braga).
CAMBALACHO – conluio; tramóia; engano. Júlio Silva Marques refere cambaletche.
CAMBALHÃO – o m. q. camalhão (Clarinda Azevedo Maia).
CAMBALHEIRA – cadeia composta por anéis de ferro (Júlio António Borges).
CAMBÃO – temão; cabo de madeira que liga a canga ao arado, à charrua ou à grade, para os animais fazerem tracção. Cabo que liga o animal à nora ou à atafona. Júlio António Borges acrescenta: pau com gancho na ponta para tirar a fruta das árvores. Vara móvel da picota (Clarinda Azevedo Maia – Vale de Espinho) – ver burra.
CAMBIÇO – o m. q. cambão (Adérito Tavares). Indivíduo muito alto (Júlio Silva Marques).
CAMBO – pau grosso e comprido que forma a parte móvel da picota, ou burra de augar. Tomando a parte pelo todo, nalguns lugares chamam cambo ao próprio engenho de tirar água dos poços, como o fazem notar Francisco Vaz (de Alfaiates) e Clarinda Azevedo Maia (reportando-se às Batocas). Ver burra.
CAMBOA – ramagens colocadas no fundo do rio, sobre as quais se coloca uma rede – o tuão (Joaquim Manuel Correia).
CAMBOAR – atrelar duas juntas de vacas ao carro, para subir uma encosta (Júlio António Borges).
CAMBOS – balança de braços. Trata-se de uma barra horizontal móvel, que tem suspenso em cada extremo um prato ou um gancho, num se colocando o produto a pesar e do outro os pesos até que o fiel indique equilíbrio. Júlio Silva Marques chama-lhe câmbios.
CAMBRA – Câmara Municipal. «A adega dele é maior que a Cambra de Pinhel» (Abel Saraiva).
CAMBULHADA – cambada. Magote desordenado (Duardo Neves e José Prata).
CAMBULHÃO – uma quantidade de produtos que se juntam e se suspendem; cacho; réstia; corgalho; molhada – cambulhão de chouriças. Grupo sem ordem nem tino e que se desloca (Duardo Neves). De cambulhão: deitar tudo de uma só vez (Vítor Pereira Neves). «As recordações são como as cerejas, pegamos numas quantas e vem logo um cambulhão delas» (Abel Saraiva).
CAMBULHO – coisa mal feita (Clarinda Azevedo Maia – Fóios). Vaca muito desajeitada (Clarinda Azevedo Maia – Lageosa).
CAMIEIRAS – montes de giestas arrancadas (Meimão).
CAMISA – invólucro da maçaroca de milho; folhelho. Conjunto de todas as peças de vestuário, excepto o fato, que a noiva oferece ao noivo na véspera do casamento (Clarinda Azevedo Maia – Fóios). Em Aldeia do Bispo designa-se por muda (Clarinda Azevedo Maia).
CAMISA DE ONZE VARAS – dificuldades; apuros. Metido em camisa de onze varas.
CAMISO – camisa de criança (Clarinda Azevedo Maia – Forcalhos).
CAMISOLAS DE RACHA – camisolas abertas à frente e ornamentadas com laços de pano preto, usadas nos domingos e dias festivos.
CAMOECA – bebedeira. (Clarinda Azevedo Maia – Vale de Espinho).
CAMÕES – pessoa cega de um olho.
CAMPANA – campaínha; sino pequeno (do Castelhano: campaña).
CAMPINO – guardador de bois e vacas (Clarinda Azevedo Maia – Lageosa).
CAMPO – espaço onde uma pessoa se possa mover ou sentar (Duardo Neves).
CANA – pé de milho. Foi às canas: foi cortar milho para os animais. Clarinda Azevedo Maia refere que o pé de milho passa a chamar-se cana depois de lhe ser retirada a maçaroca.
CANABEQUE – qualidade de batata (grande e comprida).
CANABILHO – cesto velho, já sem asas (Clarinda Azevedo Maia).
CANADA – antiga medida, equivalente a dois litros. José Pinto Peixoto acrescenta: «caminho antigo murado, passagem», sendo a canadinha uma passagem estreita.
CANAFRECHA – planta em forma de cana que cresce espontaneamente nas tapadas. Francisco Vaz e Duardo Neves referem canafreche, Clarinda Azevedo Maia refere canaflecha. Era muito usada pelas crianças para fazerem trabalhos manuais, por ficar mole depois de seca.
CANALHA – garotada; criançada.
CANALHADA – bando de garotos.
CANALHO – garoto pequeno (Clarinda Azevedo Maia – Forcalhos).
CANÃO – pé de milho a que já foi retirada a maçaroca.
CANASTRA – cesta larga e baixa. Clarinda Azevedo Maia acrescenta: berço de verga (Batocas).
CANASTRÃO – cesto grande de verga com fundo rectangular e duas asas. Júlio António Borges acrescenta: mulher mal feita.
CANASTRILHO – cesto velho, já sem asas (Clarinda Azevedo Maia).
CANASTRO – corpo. Deu-lhe cabo do canastro. Cesto pequeno (Clarinda Azevedo Maia).
CANAVEIRA – torga ou urze, planta da serra (Carlos Alberto Marques).
CANAVILHO – vasilha já muito velha; qualquer coisa em mau estado (Júlio Silva Marques). Cesto velho (Duardo Neves).
CANCELA – grade de madeira com que se fecha uma portaleira. Com várias cancelas se forma o bardo das ovelhas, que também se designa simplesmente por cancelas.
CANCELA BARDADA – bardo; aprisco (Clarinda Azevedo Maia – Batocas).
CANCELAL – bardo; redil; aprisco; vedação para recolher o gado.
CANCELO – cancela pequena.
CANCHA– passada larga, para ultrapassar um obstáculo ou medir um terreno. O m. q. chanca. Mais a Sul (Monsanto) também se diz canchada (Maria Leonor Buescu).
CANCHAL – terreno onde há penedos e penhascos. Terra alta; baldio (Adérito Tavares). Terreno cheio de giestas (Duardo Neves). Lugar muito pedregoso (Clarinda Azevedo Maia – Forcalhos).
CANCHEIRA – terreno pedregoso e improdutivo, podendo ter pequenos espaços e arbustos (Duardo Neves).
(Continua…)
Paulo Leitão Batista, «O falar de Riba Côa»

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Damos continuidade à apresentação do léxico com as palavras e expressões populares usadas na raia ribacudana.

CAINCHEIRA – lugar muito pedregoso; barrocal (Clarinda Azevedo Maia – Vale de Espinho).
CAISCOL – cachecol.
CAISNADA – quase nada. Um caisnada de sal.
CAIXÃO DAS ALMAS – caixão pertença da irmandade das almas, utilizado à vez pelas famílias pobres (Franklim Costa Braga).
CAJADA – bengala; pau dos pastores. Do Castelhano: cayada.
CAJADO – nome que o povo dá a uma constelação celeste (Clarinda Azevedo Maia). O m. q. cajada.
CAL – estrutura, habitualmente de pedra, para conduzir a água de rega (Duardo Neves). Alguns autores escrevem cale. O m. q. caleiro.
CALABAÇOTE – doce ou compota de abóbora; aboborada (abóbora cozida com leite e açúcar). Do Castelhano: calabazote (Clarinda Azevedo Maia).
CALABRE – corda grossa de segurar a carga do carro das vacas; o m. q. leias. Dispositivo para elevação de pedras, associado a uma roldana (José Pinto Peixoto).
CALAÇAL – preguiçoso, mandrião. O m. q. calaceiro.
CALACEIRO – mandrião, preguiçoso; vadio; que vive à custa dos outros. O que se insinua para que lhe dêem o que pretende; caloteiro; pedinchão importuno (Joaquim Manuel Correia ).
CALADEIRA – peça do carro de vacas que anula o ruído provocado pela fricção do eixo com a cheda (Júlio Silva Marques). O m. q. coqueta.
CALAMPEIRAS – lugares cimeiros que envolvem o corro onde se realizam as capeias, nos quais a assistência toma lugar. Franklim Costa Braga escreve calampreias.
CALAPACHO – nú.
CALÇA-CAÍDA – indivíduo natural da Ruvina.
CALCANHEIRA – calcanhar do pé (Clarinda Azevedo Maia).
CALCANTAS – botas – termo da gíria de Quadrazais (Franklim Costa Braga).
CALCANTES – pés; sapatos. Termo também integrante da gíria de Quadrazais com o mesmo significado (Nuno de Montemor).
CALÇAR – colocar um calço para segurar ou suster algo. Calçar o carro.
CALÇAS RACHADAS – calças para crianças, com abertura por trás para que façam as necessidades bastando baixar-se.
CALCES – calças (Clarinda Azevedo Maia – Vale de Espinho).
CALÇO – algo que serve para equilibrar ou segurar. Pedra de equilibrar as panelas ao lume; pedra de colocar junto à roda do carro; cunha de segurar uma porta.
CALCOS – sapatos – termo da gíria de Quadrazais (Nuno de Montemor).
CALDA – mistura de água com veneno próprio para desparasitar as plantas.
CALDEAR – deitar a calda com o uso do pulverizador. Misturar; temperar; crestar: mãos caldeadas pelo calor.
CALDEIRA – alquitarra; alambique portátil. Recipiente de latão, com asa, maior que o caldeiro. Cova feita ao redor do tronco de uma árvore, para suster a água das regas.
CALDEIREIRO – homem que andava de terra em terra a concertar panelas, caldeiros, pratos e outros utensílios de metal (Leopoldo Lourenço).
CALDEIRO – grande recipiente em folha de metal, onde se aquecia a vianda para os porcos e a beberagem das vacas, suspendendo-o nas cadeias, sobre o lume.
CALDIVANA – caldo muito aguado e muito mal temperado.
CALDO – sopa.
CALDO BORRAÇUDO – sopa de vagens secas, que se come no Inverno.
CALDO ESCOADO – ementa raiana que consiste num caldo de batatas cortadas em meia lua, que depois se escoam para um recipiente com fatias de pão, dando assim origem a dois pratos: as batatas, que se comem com carne frita, e a miga. Também se drsigna caldo de dois tombos.
CALDUDO – sopa de castanhas secas. Vítor Pereira Neves refere caldulo.
CALECHO – cálice; copa. «Calecho de licor de ovos ou de anis del mono…» (Manuel Leal Freire).
CALEIRO – canal de irrigação; cano de escoar a água dos telhados.
CALEJA – recipiente ligado à moega do moinho, para onde cai o grão a moer, que depois pingará para o olhal da mó. Mais a Sul (Monsanto) designa ainda a calha de madeira que encaminha a água nas regas (Maria Leonor Buescu).
CALEJO – lugar ou caminho estreito; viela (Júlio Silva Marques) – do Castelhano: calleja. Clarinda Azevedo Maia refere caleja.
CALENDÓRIO – história sem interesse (Júlio António Borges).
CALÊTE – terra ou pessoa de má qualidade (Júlio António Borges).
CALHABOÇO – calabouço; prisão.
CALHABRESA – cabra. «Sua calabresa!» (Carlos Guerra Vicente).
CALHADREIRA – mulher bisbilhoteira, alcoviteira (Duardo Neves).
CALHAMAÇO – mulher de má índole, com mau comportamento.
CALHANDRA – Mulher de mau porte. Cotovia, pequena ave cinzenta que canta de madrugada. «Já canta a calhandra, já rompe a manhã» (Nuno de Montemor). Pedra de grandes dimensões com que se jogava o fítis (Clarinda Azevedo Maia – Vale de Espinho).
CALHAROTE – pessoa que fala demasiado (Júlio António Borges).
CALHE – rua estreita. Do Castelhano: calle.
CALHOADA – pedrada; o m. q. barrocada.
CALHOSTRAS – costas; avesso. Virou-o de calhostras. Também se diz canostras.
CALIADOR – homem que barra as paredes com cal; caiador (Clarinda Azevedo Maia).
CALIAR – caiar (Duardo Neves, Clarinda Azevedo Maia).
CALÍPIO – eucalipto. Segundo Clarinda Azevedo Maia usam-se outros sinónimos: calita, calito, calitro.
CALMA – calor; tempo abafado. Está uma calma!.
CALMEIRÃO – corpulento; preguiçoso.
CALOIRA – preguiça (Júlio António Borges).
CALORAÇA – calor muito intenso.
CALUDA – interjeição usada para impor silêncio.
CALUVA – carne da cabeça e do pescoço do porco (Manuel dos Santos Caria). Mais a Sul (Monsanto) usa-se a expressão calubra com o mesmo sentido (Maria Leonor Buescu).
CALVÁRIO – cruz. Fazer calvários: fazer cruzes (Clarinda Azevedo Maia).
(Continua…)
Paulo Leitão Batista, «O falar de Riba Côa»

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Damos continuidade à apresentação do léxico com as palavras e expressões populares usadas na raia ribacudana.

CABAÇA – fruto da cabaceira, que era utilizado, depois de seco, como recipiente para o vinho.
CABAÇO – recipiente de lata afunilado que, preso a um cabo de madeira, era utilizado para tirar água dos poços ou presas.
CABANAL – alpendre; telheiro; coberto, onde se guarda feno, palha, lenha, alfaias agricolas e até animais. Em muitas terras dizem cavanal.
CABEÇADA – a cabeça e a papeira do porco; cabresto (Júlio António Borges).
CABEÇA DE ALHO – indivíduo pouco atinado; esquecido. Natural de Vilar Maior.
CABEÇA DE GATO – indivíduo natural de Vale das Éguas.
CABEÇA DE VENTO – indivíduo muito esquecido e distraído.
CABEÇAL – o m. q. timão ou cambão (Clarinda Azevedo Maia – Lageosa da Raia). Travesseiro (Clarinda Azevedo Maia – Fóios).
CABEÇALHA – extremidade dianteira do carro de vacas, à qual se atrelam os animais, através da canga ou do jugo.
CABEÇALHO – pequena armação de madeira, em forma de jugo, onde os animais metiam a cabeça quando eram colocados no tronco (Júlio António Borges).
CABEÇÃO – camisa ou blusa de mulher (Clarinda Azevedo Maia – Aldeia Velha).
CABECHE – lascas de determinada madeira, muito usada para tingir tecidos (Clarinda Azevedo Maia – Lageosa).
CABEÇO – elevação do terreno; pequeno monte com forte inclinação.
CABEÇUDO – teimoso; estúpido; que tem a cabeça grande. Girino – cria de rã em metamorfose: peixe cabeçudo.
CABIJAL – o m. q. timão ou cambão (Clarinda Azevedo Maia – Batocas).
CABOCO – abertura por onde entra a água do moinho (Franklim Costa Braga). O m. q. cubo.
CABO DE ORDENS – ajudante do regedor da aldeia. Os cabos de ordens eram escolhidos pelo regedor entre os rapazes com o serviço militar cumprido, não podendo recusar-se a servir. Tinham por missão auxiliar o regedor na manutenção da ordem, na execução de detenções, na guarda e condução dos detidos à vila para serem presentes á Justiça. «Dois cabos de ordens, com trabucos de caça, vestidos, salvo a calça trazida do casão, à serrana, na cabeça bonés redondos de pele de raposa, fazem guarda ao ergástulo em que foi lançado Evaristo» (Aquilino Ribeiro, in «Tombo no Inferno».
CABO DOS TRABALHOS – tarefa difícil. Pessoa que trabalha demasiado.
CABRA – rapariga vadia (Francisco Vaz). Mancha vermelha nas pernas das senhoras, causada pelo calor da lareira. O m. q. cabrada.
CABRADA – ferida nas pernas provocada pelo calor da lareira (Clarinda Azevedo Maia – Aldeia da Ponte). O m. q. cabra.
CABREADO – enervado, furioso.
CABREIRA – lagartixa que é vermelha na parte inferior (Clarinda Azevedo Maia – Batocas).
CABREIRO – indivíduo natural de Pousafoles.
CABRESTO – arreio de couro, com que se seguram as cavalgaduras pela cabeça. Vaca de manada. Clarinda Azevedo Maia refere: liga usada pelas paengas (mulheres de El Payo – Espanha) para segurar as meias.
CACA – excremento; porcaria; imundice (linguagem infantil).
CACADAS – brincadeira do Entrudo, em que os rapazes atiravam para dento das casas cacos de barro, bogalhas, caldeiros velhos, enervando os moradores. O m. q. bogalhas (Franklim Costa Braga), bogalhadas (Júlio Silva Marques) e paneladas.
CAÇANHO – que tem jeito e propensão para a caça. Gatos caçanhos.
CAÇAPO – chifre de vaca com pega de cabedal, dentro do qual o gadanheiro guarda a pedra de aguçar a gadanha. Na cheda dos antigos carros de vacas, com eixo de pau, dependurava-se um caçapo com azeite para untar (com recurso a uma pena) o eixo, evitando que a fricção da madeira provocasse incêndio. Coelho bravo pequeno; láparo; lapouço. Jogo tradicional (Célio Rolinho Pires).
CACETEIRO – indivíduo natural de Santo Estêvão (Clarinda Azevedo Maia, que registou o termo malta dos caceteiros).
CACHA – talhada de melão ou de melancia. Também se diz carcha.
CACHAÇADA – pancada no cachaço.
CACHAÇO – parte posterior do pescoço. Aperto-te o cachaço.
CACHAL – socalco; batorel (Júlio António Borges).
CACHAPORRA – moca; pancada com moca.
CACHAPUZ – voz imitativa de queda violenta (onomatopeia).
CACHARRO – copo – cacharro de vinho. Tacho de barro de pequenas dimensões (Duardo Neves). Alguidar (Maria José Bernardo Ricárdio Costa ). Jarro pequeno (José Prata). Peça de louça partida ou rachada (Júlio António Borges). Vaso de louça; vasilha; louça velha (Clarinda Azevedo Maia). Do Castelhano: cacharro.
CACHEIRA – grande moca de madeira. Ir para a cacheira: forma suave de mandar alguém para sítios desagradáveis (Júlio Silva Marques). Mais a Sul (Monsanto) designa o ramo de alfazema seca com que se perfumam as roupas nas arcas (Maria Leonor Buescu).
CACHEIRADA – mocada; pancada com cacheira – os rapazes davam cacheiradas no toco de Natal, medindo forças. Bofetada com a costa da mão (Carlos Guerra Vicente).
CACHENÉ – grande lenço de abafo; cachecol (Franklim Costa Braga).
CACHIMÓNIA – cabeça. «Que me havia de dar na cachimónia?» (Joaquim Manuel Correia).
CACHO – bocado; pequena porção.
CACHOILO – alguidar de barro (Clarinda Azevedo Maia – Forcalhos).
CACHONDA – cadela com o cio.
CACHOPA – rapariga; moça.
CACHOPO – rapaz novo, que ainda não atingiu a puberdade.
CACHUCHO – trasfogueiro ou cães da chaminé (Clarinda Azevedo Maia – Forcalhos) – travessão de ferro a que se apoiam os paus da lareira.
CACO – carinho; mimo – menino do caco. Cabeça; juízo. Vaso de barro para flores.
CAÇO – malga ou tigela de barro, com asa. Clarinda Azevedo Maia traduz: espécie de tacho ou frigideira com cabo comprido.
CAÇOADA – troça; gozo. Estavam na caçoada.
CAÇOAR – fazer troça; gozar com alguém.
CAÇOILA – pequeno caço, malga ou tigela de barro, geralmente com pequena asa. Clarinda Azevedo Maia diferencia caçoila de caçoilo, dizendo ser este último menos largo. Maria Leonor Buescu (linguagem de Monsanto) refere caçola.
CADABULHO – porção de terra ao cimo e ao fundo da torna, onde o arado não chega e é necessário cavar ou lavrar perpendicularmente – fazer o cadabulho. Joaquim Manuel Correia refere cadavulho.
CADEIAS – corrente de ferro, que une peças em forma de 8, com um gancho na extremidade, que se suspende no interior da chaminé para suportar caldeiros e panelas sobre o lume. Também se diz gramalheira e lares.
CADELO – cão pequeno. Dito desprezível: És um cadelo!
CADILHO – atilho; cordel. «O dono da casa cortou o cadilho de uma grossa chouriça» (Joaquim Manuel Correia).
CAGAÇO – medo; susto.
CAGAITA – impostura; fita (Júlio António Borges).
CAGANEIRA – diarreia.
CAGANITA – excremento de cabra ou ovelha.
CAGANITO – homem muito baixo.
CAGÃO – medroso.
CAGAROLA – medroso.
CAGOTE – pescoço; cachaço – carregar no cagote (Rapoula do Côa). Do Castelhano: cogote (nuca). Medo, receio – tens é cagote.
CAGUINCHAS – cagarola; medroso.
CAGULO – cogulo; montículo acima da medida. De cagulo: bem cheio. Faço-te um cagulo na testa: dou-te uma pancada (que provocará um galo).
CAIADA – bengala – termo da gíria de Quadrazais (Franklim Costa Braga).
CAIADO – pinto – termo da gíria de Quadrazais (Nuno de Montemor).
CAIBRAL – prego grande, próprio para espetar em caibros.
CAIBRO – cada um dos paus grossos que ligam a parede lateral à trave cumieira de uma casa e sobre os quais assentam as ripas (tábuas mais finas).
(Continua…)
Paulo Leitão Batista, «O falar de Riba Côa»

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Damos continuidade à apresentação do léxico com as palavras e expressões populares usadas na raia ribacudana.

BRAÇA – medida que vai de uma mão à outra mantendo os braços estendidos.
BRAÇADA – molho que se abrange com os braços (também se diz braçado). Medida que vai de uma mão à outra com os braços estendidos lateralmente.
BRACEJO – planta silvestre, utilizada para a cama dos animais e para fazer vassouras, estrados, capachos. Também se diz varacejo ou varaceja. Os dicionários registam baracejo.
BRACELETE – pulseira que se usa no braço. Com o advento do relógio de pulso passou a chamar-se bracelete aos tirantes pelos quais o mesmo se aperta.
BRAGAS – calças largas e curtas, usadas em dias de festa.
BRAGUILHA – parte das calças onde estão os botões de apertar. Também se diz perchenóla.
BRANCA – clara do ovo. A gema designava-se por amarela.
BRANDO – mole; doente.
BRANQUEAR (o linho) – lavá-lo em barrela, ou seja: fervido em água, sabão e cinza.
BRANQUINHO – pão de trigo – termo da gíria de Quadrazais (Nuno de Montemor).
BRANQUINHOSO – pão de trigo – termo da gíria de Quadrazais (Franklim Costa Braga).
BRAVO – rebentos da videira que ainda não foi enxertada. Também se diz bravio.
BRECA – fúria; ira. Deu-lhe a breca num repente.
BREJOEIRO – estadulho; fueiro; pau comprido (Júlio António Borges).
BREQUEFESTA – festa de arromba; grande pândega; comezaina. Júlio António Borges refere brequefestes, que traduz por: banzé; zaragata.
BRIAITO – vestido muito berrante, geralmente de cor vermelha (Júlio António Borges).
BRICHE – espécie de saragoça grossa. «Vestia inteiramente de briche pardo» (Nuno de Montemor).
BRICOLA – pequeno concerto nos sapatos (Júlio António Borges).
BRIDO – vidro (José Manuel Lousa Gomes).
BRINCA – brincadeira; divertimento. A canalha anda na brinca.
BRIOL – vinho; bebedeira. O termo, embora de uso generalizado, fazia também parte da gíria de Quadrazais, com o mesmo significado (Nuno de Montemor).
BRITAR – abrir os ouriços com os pés ou com um martelo de madeira apropriado para recolha das castanhas..
BROCA – vaca – termo da gíria de Quadrazais (Franklim Costa Braga).
BROCHA – pequeno prego de cabeça larga, com que se ferrava o calçado. O m. q. carda.
BROCHO – bruto; estúpido (José Pinto Peixoto).
BROCO – bronco (José Pinto Peixoto). Boi – termo da gíria de Quadrazais (Nuno de Montemor).
BRÓDIO – festa; divertimento; paródia (Nuno de Montemor).
BROEIRO – que se desfaz com facilidade; que se esboroa ou esmigalha. Pedra broeira.
BROSSA – pedra miúda de saibro (Leopoldo Lourenço).
BRUSCO – escuro; nublado; desagradável. Tempo brusco.
BRUXA – espécie de fogareiro de barro crivado de buracos (Joaquim Manuel Correia).
BUA – água (linguagem infantil).
BUCEL – garoto gordo e barrigodito (Duardo Neves).
BUCHA – refeição ligeira; mastiga. Comer dos gadanheiros a meio da manhã (Manuel Santos Caria). «Passei o dia com uma bucha de pão e queijo que levei no bornal» (Abel Saraiva).
BUCHEIRA – peça do enchido feita com pedaços de bucho (estômago), coração, bofes (pulmões) e carnes ensanguentadas. Júlio Silva Marques e Francisco Carreira Tomé referem buchana e Clarinda Azevedo Maia bechana. Também mais a Sul (Monsanto) se usa a expressão buchana (Maria Leonor Buescu).
BUCHO – estômago. Peça do enchido, feita com o estômago do porco, que é cheio com carne, ossos, rabo, orelha e outras partes. Tradicionalmente o bucho é comido no Domingo Gordo. Parte do braço, entre o ombro e o cotovelo (Clarinda Azevedo Maia – Batocas).
BUEIRO – rego feito à roda dos caminhos para escoar as águas. Cano (acrescenta José Pinto Peixoto).
BUENO – exclamação de afirmação (do Castelhano).
BUFANDA – cachecol (Júlio António Borges e Clarinda Azevedo Maia).
BUFARINHEIRO – vendedor ambulante de bugigangas.
BUFO – mocho real (Vítor Pereira Neves).
BULHA – briga; desordem; confusão.
BULIDOR – pau de ranhar o forno. O m. q. arranhadoiro.
BULIR – mexer; andar; trabalhar. Toca a bulir!.
BURGESSO – indivíduo estúpido; parvo. Júlio Silva Marques define assim: insulto equivalente a animal, besta.
BUREL – pano grosseiro de lã, muito usado para fazer capotes.
BURNIZEIRO – chuva miudinha e de curta duração (Duardo Neves).
BURRA – picota; engenho para tirar água dos poços. Tem outros nomes, variando conforme as terras: burra de augar – ógar ou ugar – (Sabugal ), ogadoiro (Pêga), picanço, esteio (Vila Fernando), cambo (nos dois últimos casos toma-se a parte pelo todo). São seus componentes: o esteio, gacha ou galhada (pau bifurcado com a base enterrada no solo); o cambo, travessal ou cavaleiro (pau móvel); o eixo do esteio (ferro que atravessa a bifurcação para segurar o cambo); o contra-peso (pedra que é presa a uma das extremidades do cambo); a vara, cambão ou vareiro (pau que se suspende da extremidade do cambo e onde se dependura o balde). Júlio António Borges traduz burra por: primeira fiada do cereal estendido na eira.
BURRA DE AUGAR – picota; engenho para tirar água dos poços (Sabugal). Também se diz somente burra ou então burra de ugar (ou ógar).
BURRANCO – burro novo e corpulento.
BURRECO – burro pequeno e fraco. Indivíduo pouco esperto.
BURREIRO – muar filho de cavalo e de burra. O macho quer-se burreiro e a mula éguadiça (filha de égua).
BURRICA – diminutivo de burra. Andar às burricas: andar escanchado nas costas de alguém.
BURRINHO – abóbora pequena; o m. q. aboboro.
BURRO – ferida no lábio, ou herpes, resultante do cieiro.
BURZIGADA – cozinhado dos dias de matança feito com sangue cozido e pão, regado com gordura do redanho derretida (adubo). Manuel Santos Caria escreve borgigada. Já Abel Saraiva escreve burgigada.
BURZINEIRO – chuvisco (José Prata).
BUSCAR – trazer. Vai buscar a faca.
BUTILHO – pequeno pau que se coloca entre os maxilares dos borregos e dos cabritos, para não mamarem (Júlio António Borges). O m. q. barbilho.
BÚZERA – barriga; pança, estômago. «Queríamos encher a búzera até o biabo dizer basta» (Abel Saraiva).
BÚZIO – vidro que está baço, fusco. Situação pouco clara.
(Continua…)
Paulo Leitão Batista, «O falar de Riba Côa»

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BODO – banquete comunitário, promovido por alguma instituição, mordomia ou confraria, em cerimonial festivo, em honra da Senhora ou de algum santo (Francisco Vaz). Tradicionalmente o bodo está associado às festas do Espírito Santo, que se realizam numa boa parte do território português e em que era uso dar um festim de comida com vista a alimentar os pobres.
BOFES – pulmões do porco, fessura. Também se diz boches. «Mostra coração e há-de ter bofes» (Nuno de Montemor).
BOGALHADA – brincadeira de carnaval que consistia em lançar para dentro das casas latas cheias de bogalhas. O m. q. cacada ou panelada.
BOGALHO – nódulo que se forma nas folhas dos carvalhos. As bogalhas eram usadas pelas crianças para brincar: imitavam ovelhas, adornavam paus, serviam de berlinde. Entre as crianças era uso dizer: O ninho tem bogalhos, querendo afirmar que tinha ovos. Também se chamava bogalhos aos testículos ( o m. q. tomates).
BOGULHO – aquele que se atrasa a comer.
BOJO – coragem – ter o bojo de…
BÔLA – pequeno pão feito da arrebanhadura da masseira, que se deixava mal cozido e era comido quente (Júlio Silva Marques). Pão de ló escuro, com canela (Vítor Pereira Neves). Pequeno descanso oferecido ao ceifador, para que coma algo e retempere forças (José Prata).
BOLACHA – bofetada; estalada.
BOLACHADA – bofetada forte.
BOLERCA – castanha que se não chegou a criar (Clarinda Azevedo Maia). Também se diz chocha.
BOLETA – bolota ou lande; fruto do carvalho e da carrasqueira, usada para a ceva dos porcos. Clarinda Azevedo Maia recolheu a expressão beleta em Aldeia da Ponte.
BOLETA ANZINA – bolota doce (Clarinda Azevedo Maia).
BOLO – pão espalmado e comprido que é uso comer pelos Santos; o m. q. bica.
BOMBAZINA – tecido riscado, que imita o veludo.
BOMBILHA – lâmpada (Maria José Ricárdio Costa).
BOM-SERÁS – bom homem, que não se ofende e que tudo aceita resignado (Nuno de Montemor).
BONAIRO – farrapo; bocado de tecido (Júlio António Borges).
BONDA – o suficiente; basta; chega. Também se diz abonda.
BONDAR – bastar; chegar; ser suficiente.
BONECA – rapariga muito bonita e airosa, que dá nas vistas.
BONECO DE PÃO – pequeno pão de formas variadas, geralmente feito a partir da arrebanhadura da masseira, a que tinham direito as crianças após a fornada (Luís Monteiro da Fonseca).
BONECRO – homem afeminado; boneco (Francisco Vaz).
BONICA – excremento de animal; bosta. «Rodeira de bonica das vacas leiteiras» (Carlos Guerra Vicente).
BONITA – fatia de pão (Júlio António Borges).
BOQUE – buraco aberto no solo, para plantar árvores (Júlio António Borges).
BOQUERNA – boca – termo da gíria de Quadrazais (Nuno de Montemor).
BORBORINHO – remoinho de vento usual no Verão. Vítor Pereira Neves escreve basborinho e Júlio António Borges diz barborinho. Desordem, acrescenta José Pinto Peixoto, que escreve burburinho, forma, aliás, dada por preferível pelos dicionaristas. O povo também diz redemoinho (Célio Rolinho Pires). Na crença popular o borborinho indica a passagem do Demónio.
BORDA – côdea de pão; a primeira fatia que se corta.
BORDALO – peixe pequeno dos rios e ribeiros. O m. q. escalo.
BORDOADA – pancada com recurso a um pau ou vara (de bordão).
BORGA – pândega; festança; patuscada.
BORNAL – farnel; saco da merenda. Saco com ração que se enfia no pescoço dos burros (Júlio Silva Marques). Pessoa que come demais; lambão (Clarinda Azevedo Maia – Batocas).
BORNECA – castanha que não chegou a criar (Clarinda Azevedo Maia – Forcalhos). O m. q. chocha. Em Trás-os-Montes diz-se boneca.
BORNIL – chumaço de palha, envolvido em pano ou em cabedal, que se coloca no pescoço dos burros para se jungirem à carroça ou ao arado; coalheira. O m. q. belfa.
BORNO – morno; tépido.
BORRA – depósito que os líquidos deixam no fundo da vasilha; o m. q. sarro.
BORRA-BOTAS – pessoa reles; desgraçado.
BORRACHA – pequeno odre de couro para vinho, muito usado por jornaleiros e gadanheiros. O m. q. bota.
BORRACHICA – biberão (Júlio António Borges).
BORRACHÃO – bêbedo incorrigível. Indivíduo natural de Pousafoles (Clarinda Azevedo Maia).
BORRACHO – bêbado.
BORRALHEIRA – lugar da lareira onde se coloca o borralho; fogueira grande, que expele muito calor.
BORRALHO – braseiro envolto com cinza.
BORRASCA – chuva súbita.
BORREGA – bolha que se forma nas mãos, em geral devido à ferramenta, ou nos pés, devido ao calçado. Em Trás-os-Montes (Mogadouro) usam a expressão burra com o mesmo sentido.
BORREGANA – nome próprio, ligado a vendedores de borregos (Francisco Vaz).
BORREGO – molho de feno preparado com o ancinho – dois borregos atados fazem uma facha. Cordeiro com mais de dois anos. Homem calmo, pacífico. Aquilo que os bêbedos vomitam (Clarinda Azevedo Maia – Vale de Espinho).
BORREGUINHO – castanha ainda mal criada (Clarinda Azevedo Maia – Fóios).
BORREIRA – soltura; diarreia.
BORRISCAR – borrar. Borriscou-se de medo.
BORRISMAR – chover miúdo. O m. q. chuvisnar.
BOSTA – mulher indolente (Júlio António Borges). Excremento de vaca.
BÔ’STÁ – interjeição: ora essa! essa agora! (José Pinto Peixoto).
BOTAR – atirar; deitar; lançar.
BOTAR A BARRIGA – abortar (relativo a animais).
BOTAS FERRADAS – botas com protectores de ferro no rasto.
BOTELHA – abóbora (Sabugal). Garrafa; cabaça usada para transportar o vinho. «Com um ancinho ao ombro e uma botelha no braço» (Abel Saraiva).
BOTELHO – abóbora pequena. Variedade de pimentos, de grande dimensão (Clarinda Azevedo Maia).
BOTIFARRA – bota grosseira e grande.
BOTIM – bota de cano alto, usada pelos homens. Antigamente era bota de borracha, comprada em Espanha (Clarinda Azevedo Maia – Batocas).
BOTÕES – brincos (Clarinda Azevedo Maia).
BOUÇA – terreno inculto, aproveitado para nele se roçar mato e periodicamente semear. Também se diz bocha.
(Continua…)
Paulo Leitão Batista, «O falar de Riba Côa»

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Damos continuidade à apresentação do léxico com as palavras e expressões populares usadas na raia ribacudana.

BIA – diminutivo de Maria (Quadrazais).
BIBE – espécie de bata, aberta atrás, usada pelas crianças para proteger a roupa.
BICA – pão comprido e espalmado que se come pelos Santos feito com farinha triga e azeite, também designado por santoro e por bolo. É costume servir de presente dos padrinhos aos afilhados. Pequena refeição comida a meio da manhã, por ocasião das malhas, constituída por pão, conduto e vinho. Fonte com água a escorrer por um tubo, ou uma telha, podendo apular-se.
BICALVO – pessoa esquisita no comer; que come pouco (Júlio António Borges); o m. q. biqueiro.
BICAS – refeição que a noiva dá às amigas antes do casamento – despedida de solteira. Era uso oferecer as bicas no segundo domingo de proclames (ou pregões), sendo compostas por papas de milho ou de carolo (Joaquim Manuel Correia). «Na noite da véspera a noiva leva ao noivo a camisa de noivado e no dia das bicas as amigas da noiva traziam para sua casa açafates de verga cheios de tremoços, que distribuíam pelos presentes» (Francisco Vaz).
BICHA – sanguessuga; lombriga; cobra. As sanguessugas eram usadas para sugar o sangue pisado, nos hematomas. Bichas andadeiras: sanguessugas que andavam de casa em casa, alugadas a quem as necessitasse.
BICHA DA ÁGUA – cobra da água (Clarinda Azevedo Maia).
BICHANAR – chamar os gatos; falar baixinho, ciciar.
BICHANO – gato.
BICHO-ARANCU – pirilampo (Clarinda Azevedo Maia – Malcata). É mais comum dizer simplesmente arancu.
BICHO-CRELBO – animal rastejante, de cor negra com riscos vermelhos (Clarinda Azevedo Maia – Fóios). A este animal tTambém se lhe chama padre.
BICHO DA SEDA – pirilampo (Clarinda Azevedo Maia).
BICHO QU’ALUMIA – pirilampo (Clarinda Azevedo Maia – Sabugal).
BICHORNO – calor abafado (Clarinda Azevedo Maia – Forcalhos). Do Castelhano: bochorno.
BICO – dívida (Leopoldo Lourenço).
BIGORNA – pião grande ( Rapoula do Côa).
BIGORRILHA – pelintra; desprezível. «Não me assusta seu bigorrilhas!» (Joaquim Manuel Correia).
BILÁU – pénis (linguagem infantil). Também se diz biló.
BILHÓ – castanha assada e descascada (Júlio António Borges).
BILHOSTRES – cobres; moedas de pouco valor (Joaquim Manuel Correia).
BIQUEIRO – pessoa que tem fastio, que come pouco: «Estais muito biqueiros» (Abel Saraiva). Pessoa melindrosa (Francisco Vaz).
BISCA – pulga – termo da gíria de Quadrazais (Franklim Costa Braga). Jogo de cartas. «Jogavam à bisca lambida numa pobre mesa de pinho» (Abel Saraiva).
BISCO – vesgo (Clarinda Azevedo Maia). Do Castelhano: bizco. Nas terras do campo (Monsanto) dizem bisgo ou embisgo (Maria Leonor Buescu).
BISCOCHO – biscoito (Clarinda Azevedo Maia – Aldeia da Ponte). Do Castelhano: bizcocho.
BISCUTAR – bisbilhotar; coscuvilhar.
BISCUTEIRO – aquele que biscuta.
BISGAR – piscar o olho (Carlos Guerra Vicente).
BITARDA – mulher de vida duvidosa (Júlio Silva Marques).
BIZARRIA – boa apresentação; galantearia; boniteza.
BLADA – castanha pilada ou seca (Fóios).
BLANCIGA – melancia (Júlio António Borges).
BLANDINA – azáfama; alvoroço.
BLENA – ama, patroa – termo da gíria de Quadrazais (Franklim Costa Braga).
BOAMENTE – de boa vontade; às boas (de boamente).
BOA-VAI-ELA – folgança; vadiagem. Andar na boa-vai-ela: divertir-se.
BOA VIDA – vida sem trabalho; vadiagem; diversão. «Alegres e leves, como se andassem à boa vida» (Nuno de Montemor).
BOBADA – parvoíce; bobice (Júlio António Borges).
BOBOCA – palerma (Júlio António Borges).
BOCA-ABERTA – pessoa que se admira de tudo; pacóvio; simplório.
BOCA DE ALPERGATA – boca grande – expressão jocosa (Clarinda Azevedo Maia – Forcalhos).
BOÇADO – lambuzado; vomitado; com os beiços sujos.
BOCANA – indivíduo que fala muito e é incapaz de guardar um segredo (Júlio Silva Marques e Duardo Neves). Pasmado; boca-aberta (Júlio António Borges). Parvo (Leopoldo Lourenço).
BOCHE – pulmão. Pessoa que fala muito, com ar de zangado; fole (Júlio António Borges); o m.q. bofe.
BOCHES – vísceras de porco (José Pinto Peixoto). Também se diz bofes.
BOCHINHO – diz-se de pessoa que se zanga facilmente.
BOCHO – cão. O nosso bocho. Interjeição para chamar o cão. Também se diz pocho.
BODA – jantar do dia do casamento. A boda comum era composta por pão-trigo, enchidos, queijo, azeitonas e vinho, tudo à farta. A chamada boda de panela, dos mais abastados, era composta por refeição à base de carne com arroz e batatas.
BODEGA – porcaria; sujidade. Diz-se de uma casa imunda.
BODEGO – indivíduo que vive na bodega, isto é, na porcaria, em local imundo (Júlio Silva Marques).
(Continua…)
Paulo Leitão Batista, «O falar de Riba Côa»

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Damos continuidade à apresentação do léxico com as palavras e expressões populares usadas na raia ribacudana.

BEBEROSO – formoso; bonito (Clarinda Azevedo Maia – Aldeia do Bispo).
BEDUM – sabor e cheiro do sebo na carne de borrego ou carneiro. Diz-se que para a carne de borrego não cheire a bedum é necessário retirar-lhe as gorduras (ou sebo) que está no interior dos músculos das pernas.
BEI – diminuitivo de Isabel (Alfaiates).
BEIÇA – lábio, beiço. Expressão labial. Beiça caída – amuado.
BEIJINHO – a parte melhor de alguma coisa; o preferido da família (Júlio António Borges).
BEIRADA – fila de telhas da parte mais baixa de um telhado; beiral.
BEJOEGA – bolha de água na pele; o m. q. borrega.
BELA GALHANA – boa vida, sem nada que fazer. «É gente sem eira nem beira, que anda por aí à bela galhana» (Joaquim Manuel Correia).
BELA-LUZ – planta silvestre, que cresce nas tapadas.
BELANCIA – melancia.
BELDAR – dar à língua; falar muito. Rezingar (José Prata). Ladrar (José Pinto Peixoto). Falar sem tom nem som (Clarinda Azevedo Maia). «Beldava continuadamente» (Abel Saraiva).
BELDROEGA – planta espontânea, carnosa e suculenta, usada para sopa e saladas.
BELFA – colar de estopa cheio com palha que se coloca no pescoço das cavalgaduras para lavrar, puxar ao carro ou tocar a nora. O m. q. bornil.
BELFO – pessoa, ou animal, que tem o lábio inferior sobreposto ao superior. Burro belfo: forte defeito, que desvaloriza muito o animal.
BELGA – pequeno terreno de cultivo; courela. Clarinda Azevedo Maia refere a expressão bega, que recolheu nos Fóios. Quanto à palvra belga, a mesma autora dá-lhe um significado diferente: «cada um dos regos paralelos com que se divide o terreno, antes de semear e lançar o adubo» – talhar uma belga: abrir um rego.
BELIDA – mancha branca que aparece nos olhos ou nas unhas (Júlio António Borges).
BEM D’ALMA – conjunto de acompanhamentos, ofertórios, responsos, missas, trintários, ofícios e outras orações fúnebres celebradas em honra dos defuntos de uma irmandade. O bem de alma tem um preço, que é pago ao pároco.
BEM-HAJA – obrigado; agradecido.
BENARDINA – piada (Clarinda Azevedo Maia – Lageosa)
BENÇA – pagamento anual a barbeiros e a alfaiates pelos serviços prestados, ou a prestar, geralmente composto por alqueires de centeio. O m. q. bênção.
BENTO – aquele que adivinha o futuro e consegue curar doenças. Duardo Neves traduz literalmente por: «pessoa que tem de nascença uma cruz no céu da boca».
BENZENICAR – fazer de conta; fingir (Júlio António Borges).
BÉQUEIRO – taberneiro – termo da gíria de Quadrazais (Franklim Costa Braga).
BERÇA – couve galega. Caldo das berças. Também se diz verça.
BERDUGO – cobra (fem. berdugueira). Também se diz verdugo.
BERNA – bicho que se cria no couro do gado bovino; o m. q. medraça (Clarinda Azevedo Maia – Fóios).
BERRÃO – porco (Manuel Leal Freire). Também se diz barrão (Júlio António Borges)
BERRELAS – pessoa que berra muito.
BERRELHO – que berra muito. Leitão, bácoro.
BERTOLDO – palerma; idiota; parvo.
BERZUNDA – bebedeira (Júlio António Borges).
BESBELHO – babado; ufano; pasmado.
BESTUNTO – pessoa estúpida, com pouco expediente (Júlio António Borges).
BEXIGA – peça do enchido composta pela bexiga do porco cheia com carne dos ossos e couros.
BEZERRO – vitelo; novilho. Pedaço de parede caída numa habitação já antiga (Clarinda Azevedo Maia – Forcalhos).
(Continua…)
Paulo Leitão Batista, «O falar de Riba Côa»

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Damos continuidade à apresentação do léxico com as palavras e expressões populares usadas na raia ribacudana.

BARRA – cama de ferro. Ferro comprido com que se jogava ao «jogo da barra».
BARRABÁS – diabo (Clarinda Azevedo Maia – Batocas).
BARRANCEIRA – subida acentuada; ribanceira; barreira; ladeira.
BARRANHA – alguidar de barro usado na cozinha. Na barranha eram servidas as refeições conjuntas, em que cada um tirava grafadas. Também se diz barranho.
BARRANHÃO – alguidar de barro de grandes dimensões, próprio para preparar a massa para o enchido. José Manuel Lousa Gomes refere o termo barnhão, usado no Soito.
BARRÃO – porco não castrado; macho de criação (Júlio António Borges).
BARRASCO – porco para reprodução. Vítor Pereira Neves escreve barraco.
BARREIRA – subida acentuada; ribanceira; ladeira.
BARRELA – operação de lavagem da roupa, usando cinza e água quente. Brincadeira de rapazes, em que um é seguro para lhe desapertarem as calças e lhe enfiarem ervas. Descrição da barrela de lavar a roupa, por António Maria das Neves: «A ropa branca e mais delicada era colocada em cestos forrados com um lençol, colocando cinzas em cima e em seguida era regada com uma boa quantidade de água fervendo. Depois de pernoitar em ouso, era levada ao lavadouro.»
BARRELEIRA – pia de lavar a louça (Clarinda Azevedo Maia – Aldeia da Ponte).
BARRICA – vasilha em aduelas de madeira, para o vinho, com capacidade entre 30 e 200 litros (Manuel Santos Caria).
BARRICO – vasilha em aduelas de madeira, para o vinho, com capacidade até 30 litros (Manuel Santos Caria).
BARRIÇO – cabeço (Clarinda Azevedo Maia – Batocas).
BARRIGA A DAR HORAS – ter fome; estar ansioso por comer.
BARRIGADA – grande quantidade de comida; fartote; pançada.
BARRIL – bilha de barro para a água.
BARRISCADO – borrifado com água suja (Júlio António Borges).
BARRISCAR – borrifar (Júlio António Borges).
BARROCA – sulco profundo, aberto pelo escorrer da água das chuvas. Vale estreito e profundo.
BARROCAL – local onde há muitos penedos ou barrocos. Curiosa a definição de Célio Rolinho Pires: «estrutura óssea constituída pelo fraguedo maciço de granito que emerge nos altos das encostas».
BARROCO – penedo granítico de grandes dimensões.
BARROCADA – pedrada.
BARROLEIRO – pedra de granito picada, rectangular ou arredondada, com ligeira inclinação e saída para a cozinha, para lavagens e arrumações da louça (Vítor Pereira Neves).
BARRONDA – porca com o cio.
BARROTE – trave de madeira que, a modos de viga, sustenta o soalho.
BARRUGA – bolha formada na pele, geralmente nas mãos, devido à ferramenta (Clarinda Azevedo Maia – Aldeia do Bispo). O m. q. borrega.
BARRUMA – verruga, ou cravo, que aparece nas mãos (Vítor Pereira Neves).
BARRUNTAR – conjecturar; desconfiar; pressentir. Clarinda Azevedo Maia também refere esta expressão, que recolheu em Aldeia do Bispo, onde a terá ouvido no contexto de adivinhar ou pressentir o tempo. «Barruntando que da lura saíria coelho» (Abel Saraiva).
BARULHO – bulha; briga; desordem; confusão.
BARZABENAS – diabo; satanás, mafarrico. «Por artes de barzabenas» (Joaquim Manuel Correia).
BARZABUM – belzebu; diabo (Júlio António Borges).
BASBAQUE – pessoa reles; parvo; pateta.
BASBORINHO – burburinho; redemoinho provocado pelo vento (Vítor Pereira Neves).
BASCULHO – mulher suja e desajeitada. Mal amanhado, trambolho. Também se diz vasculho.
BASTARDO – cobra de grandes dimensões (Clarinda Azevedo Maia – Batocas).
BASTOADA – bordoada (pancada) com bastão ou arrocho (Duardo Neves).
BASUGA – gordo; cheio; barrigudo; anafado. Júlio António Borges refere bajuga.
BATAFORMA – socalco, batorel.
BATATADA – luta; briga; confronto físico. Andam à batatada.
BATATEIRO – indivíduo natural de Aldeia Velha.
BATE-CU – queda em que se bate com as nádegas no chão.
BATER A BOTA – morrer.
BATIFEIRO – esquisito a comer (Rapoula do Côa).
BÁTIGA – aguaceiro; chuva forte; bátega (Clarinda Azevedo Maia – Aldeia do Bispo).
BATOREL – socalco feito nas encostas para cultivar a terra. Clarinda Azevedo Maia, no seu trabalho de campo, recolheu o termo e dois significados diferentes: pequeno poço de água (Batocas); pessoa Gorda (Lageosa da Raia).
BATUCÃO – pancada.
BATUCAR – bater; varejar (Clarinda Azevedo Maia).
BAZÓFIA – soberba; prosápia; gabanço.
BAZULAQUE – intestinos e miúdos de animais; palerma (Júlio António Borges).
– diminutivo de Isabel (também se diz Béu).
BEBE-ÁGUAS – pessoa de pouca valia. Manuel Leal Freire escreve bebáguas.
BÊBERA – grande figo temporão (que amadura cedo).
BEBERAGEM – vianda para os animais, composta por hortaliças e farinha ou farelo, escaldadas em água (Manuel Santos Caria escreve buberage). Bebida desagradável (Júlio António Borges). Nas terras do Campo (Monsanto) dizem beberragem (Maria Leonor Buescu).
BECA – cabra; interjeição usada para chamar as cabras. «Beca, beca, quem quer rama trepa!» (Célio Rolinho Pires). Taberna – termo da gíria de Quadrazais (Nuno de Montemor).
BECHANA – o m. q. bucheira – peça do enchido (Clarinda Azevedo Maia – Batocas).
BECHINCHE – zaragata (Duardo Neves).
BÉCULAS – designação depreciativa de cara (Júlio Silva Marques e José Pinto Peixoto). O m. q. ventas.
(Continua…)
Paulo Leitão Batista, «O falar de Riba Côa»

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Damos continuidade à apresentação do léxico com as palavras e expressões populares usadas na raia ribacudana.

BANDURRIAIS – terreno escabroso, cheio de pedras. «Seguindo pela vereda, que ali vai por entre bandurriais» (Joaquim Manuel Correia).
BANGUEJO – ao deus dará; ao acaso. «Andar ao banguejo» (Júlio Silva Marques).
BANHA – gordura; cada uma das cavidades abdominais do porco.
BANHADURA – além da medida (Júlio António Borges); o m. q. sobretedura. Era costume o vendedor deitar um pouco mais do que a medida que o cliente pretendia – Medi-lhe bem o azeite e até lhe botei banhadura.
BANHEIRA – alguidar de barro (Clarinda Azevedo Maia – Forcalhos).
BANHOS – pregões; proclames do casamento. Algumas semanas antes da data marcada para um casamento o pároco anunciava na igreja a intenção dos noivos se casarem, correndo a partir daí um período em que qualquer pessoa podia manifestar oposição ao enlace, dizendo as suas razões, nomeadamente se o caso contrariava a as leis canónicas.
BANQUETA – base de madeira em forma de L, com tampos laterais, usada pelas lavadeiras para se ajoelharem na ribeira (Bismula, Alfaiates). Banco (Sabugal). Tapoila (Bendada). Tacoila (Cerdeira). Carchoila (Aldeia do Bispo). Alquitão (Soito). Cunco (Aldeia Velha). Lavadeira (Sortelha). Temos nas diferentes designações deste objecto um dos melhores exemplos da variedade do léxico popular de Riba Côa.
BÂNZIOS – paus que compõem a urdideira (peça do tear do linho).
BARAÇA – cordel de enrolar ao pião, para o fazer girar.
BARAÇO – corda fina; cordel; guita.
BARANHA – confusão; mistura (Júlio Silva Marques e Clarinda Azevedo Maia). Meada de linho ou de algodão emaranhada (José Pinto Peixoto). O m. q. baralha?
BARBA – queixo. Em Aldeia da Ponte designa apenas a extremidade do queixo (Clarinda Azevedo Maia).
BARBANTE – correia de couro ou corda que segura a canga ao pescoço das vacas. Mais a Sul (Monsanto) usa-se a expressão brocho com o mesmo significado (Maria Leonor Buescu).
BARBASCO – planta tóxica que se esmaga para envenenar peixes (Carlos Alberto Marques). Nas terras do campo (Monsanto), designa frio intenso e seco (Maria Leonor Buescu).
BARBAS DO MILHO – fios da parte posterior da espiga de milho (também se diz linho). Das barbas do milho faz-se um chá especialmente indicado para as infecções urinárias.
BARBEIRO – aquele que na aldeia, para além de fazer barbas e cortar cabelo, exercia medicina, tratando as pessoas doentes. «É conhecido o tipo do barbeiro por ser homem mais polido, bem vestido, munido sempre de uma varinha de marmeleiro, de cãozinho ao lado, ledor dos jornais de todos os partidos» (Joaquim Manuel Correia). Vento frio e cortante; ventania. Está um barbeiro!
BARBEITO – lavra dada à terra para depois a deixar em descanso até à sementeira. Ganhar barbeito: ganhar força (a terra). Terreno de barbeito: por decruar, a descansar.
BARBELADA – carne da parte de baixo do focinho do porco, da barbela (Clarinda Azevedo Maia – Batocas).
BARBILHO – espécie de freio de verga, que impede os cabritos, ou os borregos, de mamarem para que se vedarem (conseguir que deixem de mamar). Júlio António Borges designa por butilho. Também se chama barbilho à rede que impede as vacas de comer enquanto trabalham – Júlio Silva Marques chama a este instrumento açaime, diferenciando-o do barbilho (apenas para vedar os cabritos). Mais a Sul (Monsanto) chama-se barbilho ao caule de cereal com que se ata a paveia nas ceifas (Maria Leonor Buescu).
BARBIQUECHE – freio improvisado com uma volta de corda (Adérito Tavares).
BÁRBORA – corruptela do nome Bárbara (também se diz Bárbola)
BARDA – abundância; grande quantidade. Em barda.
BARDALHÃO – socalco (Júlio António Borges); o m. q. batorel.
BARDAMERDAS – indivíduo fraco; reles; cobardolas.
BARDÃO – peça de coiro que se suspende do jugo ou da canga e onde se introduz o timão do arado ou a cabeçalha do carro (Clarinda Azevedo Maia); o m. q. tamoeiro. Parede para segurar a terra (Júlio António Borges).
BARDAR – cercar; colocar silvas sobre as paredes para que o vivo não as salte (Júlio Silva Marques). Tapar as cancelas do bardo com giestas, do lado de onde sopra o vento, para abrigar o gado (Clarinda Azevedo Maia). Também se diz embardar.
BARDINA – mulher vadia, de mau comportamento social (Clarinda Azevedo Maia – Aldeia da Ponte).
BARDINO – indivíduo de má índole; velhaco. Libertino; vadio.
BARDO – cancelas onde se recolhe o gado ovino e caprino; redil; aprisco. Júlio António Borges traduz ainda por: fila de videiras ligadas a estacas e arames. «O pastor muda todos os dias o bardo» (Joaquim Manuel Correia).
BARFUINAÇO – encontrão que pode provocar queda grande a aparatosa (Duardo Neves).
BARGADO – adjectivo aplicado às vacas malhadas de preto e branco (Clarinda Azevedo Maia – Batocas).
BARIL – bom, agradável, bonito – termo da gíria de Quadrazais (Nuno de Montemor).
BARILHA – rebento novo de oliveira, que deve ser cortado na poda (Clarinda Azevedo Maia – Vale de Espinho).
BAROLO – madeira de carvalho apodrecida na própria árvore, que arde bem e se desfaz facilmente com as mãos (Duardo Neves).
BARQUINAÇO – trambolhão; queda (Júlio António Borges).
BARQUINO – miúdo bastante gordo (Clarinda Azevedo Maia – Lageosa).
(Continua…)
Paulo Leitão Batista, «O falar de Riba Côa»

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Damos continuidade à apresentação do léxico com as palavras e expressões populares usadas na raia ribacudana.

«Carregos» de António CabanasBAJONJO – rapaz simples ou apatetado (Duardo Neves). Alguns dicionários registam bajoujo com os mesmo significado.
BALALAU – tonto; doido (Clarinda Azevedo Maia – Batocas).
BALASTRACA – mulher gorda e desajeitada (Júlio António Borges).
BALBÚRDIA – confusão, sarilho onde ninguém se entende; vozearia.
BALCÃO – escadaria de pedra, exterior à casa, com um pequeno patamar (típico na habitação raiana).
BALDADO – exausto; sem poder fazer nada; que não pode mexer-se (Clarinda Azevedo Maia).
BALDE – picanço; picoto; cegonha (Leopoldo Lourenço).
BALDEAR – passar de um lado para o outro. Júlio António Borges acrescenta: carregar um carro com palha.
BALDEVINO – valdevinos; vagabundo; vadio; pelintra (Rapoula do Côa).
BALDO – balde. «Com uma sachola e um baldo na mão» (Abel Saraiva).
BALDOEIRO – buraco da parede onde se firma o andaime; buraco onde se acolhem as pombas.
BALDOSA – pedra quadrada (Clarinda Azevedo Maia – Batocas).
BALEIO – planta herbácea que se utiliza para fazer vassouras pequenas (Clarinda Azevedo Maia, Júlio António Borges).
BALHAR – bailar. Que bem balhas!
BALHÉ – diminutivo de Manuel (Quadrazais). Se for criança é Balél.
BALHO – baile. «Terreiro do balho» (Franklim Costa Braga).
BALQUEIRADA – grande quantidade (Júlio António Borges).
BALSA – engaço; restos de uvas que ficam no lagar após se tirar o vinho. a balsa é utilizada para o fabrico da aguardente.
BALSEIRO – espécie de dorna, mas mais baixa (Vitor Pereira Neves).
BALUARTE – criança forte e desenvolvida fisicamente (Duardo Neves).
BAMBARÃO – simplório; pacóvio; lorpa (Leopoldo Lourenço).
BAMBAROCA – palerma (Júlio António Borges).
BANCA – banco tosco, em forma de meia lua e com três pés.
BANCO DE ESFREGAR – o m. q. banco de lavar, mas quando utilizado para esfregar o soalho das casas.
BANCO DE LAVAR – base de madeira, em forma de L, com tampos laterais, usada pelas lavadeiras para se ajoelharem na ribeira, junto ao lavadouro. Também se diz banca de lavar.
BANCO DE MATAR – robusta base de madeira, com quatro pés, onde o porco é deitado para ser morto.
BANCILHO – haste de pão com que se aperta a gavela quando se ceifa (Manuel Santos Caria). Também se diz vincilho.
BANDA – lado, margem. Ó da minha banda, que o da outra já cá anda, dizia-se nas malhas para chamar o pessoal, após a hora da refeição.
BANDADA – grande bando de aves ou cardume de peixes (Clarinda Azevedo Maia – Lageosa da Raia).
BANDALHO – pessoa mal vestida e de aspecto desprezível; esfarrapado.
BANDARILHA – pau com aguilhão para tocar o gado. Do Castelhano: banderilla. Também se diz bandeirilha (Clarinda Azevedo Maia – Aldeia do Bispo).
BANDEAR – baloiçar; abanar; mover-se de uma banda para a outra (alguns autores escrevem bandiar). Nas festas um mordomo bandeava movimentando com uma só mão uma bandeira durante longos minutos, evitando sempre que a mesma se enrolasse.
BANDEIRA – flor da cana de milho. Antes da colheita o milho é desbandeirado, só depois a cana é cortada e as maçarocas descamisadas.
BANDEIRA DAS ALMAS – painel de uma irmandade, que acompanha os irmãos defuntos no funeral.
BANDEIRILHA – o m. q. bandarilha.
BANDOLEIRA – saco de couro usado pelos pastores e camponeses para transportar a merenda; o m. q. sarrão (Clarinda Azevedo Maia – Vale de Espinho).
BANDOLEIRO – mentiroso; pessoa que passa a vida a dizer mal dos outros (Clarinda Azevedo Maia).
BANDULHO – barriga; pança; vísceras de animal.
(Continua…)
Paulo Leitão Batista, «O falar de Riba Côa»

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BABADOIRO – babete (Duardo Neves).
BABANCA – palerma; lorpa; ingénuo; simples (Leopoldo Lourenço).
BABEIRO – babete (Aldeia Velha).
BABONA – jogo infantil em que se esconde um anel nas mãos, cabendo aos jogadores adivinhar quem o tem, entoando uma cantilena (Júlio António Borges).
BABOSO – parvo; apaixonado (Júlio António Borges).
BACELO – vara de vide para plantar; videira nova. Segundo Manuel Santos Caria, de Pêga, também se diz bravio e americano.
BACHICAR – borrifar com água; respingar; salpicar. Adérito Tavares, de Aldeia do Bispo, e José Prata, de Aldeia da Ponte, escrevem pachicar.
BACHUCAR – vascolejar; aspergir; respingar (Pinharanda Gomes); o m. q. bachicar.
BAÇÓ – moela de galinha. Também se diz morçó. Em Monsanto dizem meçó e moiçó, segundo Maria Leonor Buescu.
BACÓCO – garoto gordo e baixo (Júlio António Borges).
BACORADA – coisa suja; porcaria; javardice; asneira.
BACORICE – porcaria; javardice; o m. q. bacorada.
BÁCORO – porco pequeno; leitão. Pessoa suja. Também se diz bácro e báquero.
BADABOI – relaxado; mandrião (Joaquim Manuel Correia).
BADAGONEIRO – maltrapilho; sem gosto no vestir; vadio (Joaquim Manuel Correia). Desmazelado (Francisco Vaz). Fem.: esbodegada, trapalhona (José Pinto Peixoto).
BADALÃO – pessoa que fala demais (Clarinda Azevedo Maia – Lageosa da Raia).
BADALAR – falar de mais e sem razão; tagarelar.
BADALHOCO – porcalhão; sujo.
BADALO – pessoa que fala demais; tagarela. Dar ao badalo: tagarelar.
BADAMERDAS – pessoa reles, sem préstimo. Não passas de um badamerdas.
BADANA – ovelha velha ou carne da mesma. Duardo Neves, de Alfaiates, traduz por: velha, sem valor. Por sua vez Francisco Vaz, também de Alfaiates, e José Pinto Peixoto, da Miuzela, traduzem por: pessoa sem carácter. Também se usa o masculino com significado de ovelha: «Os pastores levavam os badanos para as arribas do Águeda» (Carlos Guerra Vicente).
BADANAL – desordem, confusão (José Pinto Peixoto).
BADANECO – indivíduo reles; fraco; sem préstimo. Também se diz badameco. Nas Terras do Campo (Monsanto) chamam feijão-badaneco ao feijão frade (Maria Leonor Buescu).
BADIL – pá de tirar a cinza ou de mexer o lume (Clarinda Azevedo Maia – Batocas).
BADORRO – carneiro ou ovelha fica para trás do rebanho (Clarinda Azevedo Maia – Batocas). O m. q. madorro ou chalano.
BAETA – pano de lã grosseira (Júlio António Borges).
BAGAÇO – restos das uvas que ficam no lagar após ser escoado o vinho; o m. q. engaço, bagulho ou balsa. Aguardente destilada a partir dos restos das uvas.
BAGALHOÇA – dinheiro (Júlio António Borges).
BAGANHA – cápsula que contém a linhaça (semente do linho). Júlio António Borges acrescenta: «carne sem sabor, por ser nova».
BAGAROSA – cadeia – termo da gíria de Quadrazais (Nuno de Montemor).
BAGÉ – diminutivo de Maria José (Quadrazais).
BAGEM – vagem do feijão.
BAGIJA – diminutivo de Maria Luísa (Quadrazais).
BAGINA – vagem do feijoeiro. Também se diz: baige, vaige, beigina, veigina. Com as vagens do feijão faz-se o saboroso caldo de baginas.
BAGULHO – o que resta dos cachos pisados e espremidos no lagar (Júlio António Borges e Clarinda Azevedo Maia); o m. q. balsa, bagaço ou engaço.
BAIA – interjeição, muito usada na raia, que exprime afirmação, concordância (do Castelhano). Baia! Baia!: exclamação de despedida que pode ter conteúdo irónico, idêntico ao ora, ora (Clarinda Azevedo Maia).
BAIANO – casaco mal feito (Júlio António Borges).
BAILE D’AGARRADO – dança em que o par baila agarrado (Clarinda Azevedo Maia – Fóios).
BAILO – baile (Nave de Haver);
BAIXAR AS CALÇAS – fazer as necessidades fisiológicas no campo.
(Continua…)
Paulo Leitão Batista, «O falar de Riba Côa»

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Damos continuidade à apresentação do léxico com as palavras e expressões populares usadas na raia ribacudana.

AUGA – água.
AUGADO – insatisfeito; desiludido; que tem auguamento. Também se diz ógado. Júlio Silva Marques fala em aguado e em ougado, como aquele que ficou com vontade de uma coisa.
AUGAR – desejar ardentemente. Tirar água para rega (Francisco Vaz). Também se diz ogar.
AUGARRADA – aguaceiro; chuva súbita (Clarinda Azevedo Maia – Lageosa da Raia).
AUGUADEIRA – água da chuva que cai dos beirais das casas (Clarinda Azevedo Maia – Lageosa da Raia).
AUGUAMENTO – doença originada por um desejo alimentar insatisfeito. Vitor Pereira Neves, Joaquim Manuel Correia e Maria Leonor Buescu escrevem aguamento. Para se evitar o auguamento dos animais devem-se convidar, dando-lhes uma pequena porção de alimento, sempre que o dono verificar que ficaram com vontade de comer. Também a mulher que está gestante não deve deixar de provar uma iguaria, sempre que a vê comer a outra pessoa.
AUGUEIRA – canal por onde corre a água da rega. O m. q. regadeira (Clarinda Azevedo Maia – Forcalhos).
AVARANGAR – abanar com o peso. «As pernas avaramgavam como ramos de giestas» (Abel Saraiva). Clarinda Azevedo Maia também recolheu a expressão, mas com a alteração fonética: abrangar.
AVARICIOSO – avarento. Clarinda Azevedo Maia, que reporta o termo a Aldeia da Ponte, respeita a alteração fonética usual da consuante v: abaricioso.
AVECA – aiveca; cada uma das duas peças do arado que viram a terra, formando do rego. Júlio Silva Marques refere abecas e Júlio António Borges aibecas.
AVEJÃO – pessoa, ou cão pequeno, que toma ares de mais avantajado; pessoa encorpada (Júlio António Borges).
AVÉ-MARIAS – toque do sino em saudação da Virgem Maria, convidando a rezar: de manhã, ao meio-dia e ao sol posto (ao último toque, o do anoitecer, chama-se Trindades).
AVENTAL – resguardo de pano que as mulheres se coloca sobre a saia para a protegerem. Os ferreiros usam também um avental em couro para protecção das faúlhas expelidas pela frágua.
AVENTAR – deitar fora. Deitar abaixo: aventou com ele no chão. Júlio Silva Marques e José Pinto Peixoto referem avantar.
AVESSEIRA – encosta onde bate pouco o sol (lado Norte). A avesseira é menos própria o bom desenvolvimento das culturas agrícolas.
AVESTRUZ – mulher alta e desajeitada – termo depreciativo (Júlio António Borges).
AVEZADO – habituado. Bem avezado – bem educado. Clarinda Azevedo Maia recolheu a expressão com alteração fonética: abezado.
AVEZAR – tomar vezo; habituar; acostumar.
AVIADO – pronto; preparado. Clarinda Azevedo Maia recolheu em Aldeia do Bispo a expressão com alteração fonética: abiado, que traduziu por «informado» – mal abiado: enganado, mal informado.
AVIAR – despachar; seguir depressa. Ir aviar-se: fazer as necessidades fisiológicas.
AVINAGRADO – ébrio; bêbado; quezilento. «O vinho tornava-o avinagrado por dentro, fazendo a vida negra à mulher» (Manuel Leal Freire).
AVINHADO – que bebeu vinho em excesso; bêbedo.
AVINHADURA – primeira moedura que se faz, em cada ano, no lagar de azeite (Júlio António Borges).
AVINHAR – beber vinho em excesso; embebedar.
AVOANTA – perdiz; ave de caça; galinha; mosca – termo da gíria de Quadrazais (Franklim Costa Braga).
AZADO – jeitoso; adequado; propício; cómodo. Costuma dizer-se azadinho: Que sacho tão azadinho. «Preparou-se sítio azado para se apear» (Joaquim Manuel Correia).
AZÁFAMA – trabalho muito movimentado, com muita pressa.
AZAGAL – zagal; rapaz do gado. Moço de recados (Júlio António Borges).
AZAGUEIOS – berros e assobios que de noite os rapazes fazem às noivas, a avisá-las de que vão falar com elas a casa. «Ih! Ghi! Ghi! / Ah! Gha! Gha! / Oh! Gho! Gho!. Vozes estrídulas e arrastadas, em falsete, assobios agudos e cortantes, exclamações anasaladas de apupo e ameaça, lamentos cavos de anseios bárbaros». (Nuno de Montemor referindo-se aos azagueiros proferidos pelos moços de Quadrazais).
AZAMEL – mandrião; atado; preguiçoso; lento.
AZANGADO – vergado com o peso que transporta; muito carregado (Joaquim Manuel Correia). Vai azangadinho de todo.
AZEDA – planta que cresce espontânea nos lameiros, de sabor ácido, com a qual se faz sopa e salada.
AZEITEIRA – almotolia do azeite (Clarinda Azevedo Maia).
AZEITEIRO – chifre adaptado a frasco, de pregaria em volta da boca e tampa de cortiça, com uma mistura de óleos para untar, e que era acessório da gadanha (Manuel Leal Freire); o m. q. caçapo. Vendedor ambulante que nada pelas aldeias.
AZÉMOLA – mandrião; parvo; estúpido. Besta de carga.
AZERVE – carreiro feito no mato para caçar perdizes a laço (Meimão).
AZEVÉM – planta daninha que cresce entre o centeio (Nuno de Montemor).
AZIADO – aziago; azar; mau agouro. «Nascido no dia de Entrudo, um dia aziado» (Carlos Guerra Vicente).
AZIAR – instrumento em forma de tenaz, usado para aperta os beiços das bestas, de forma a mantê-las quietas enquanto são ferradas.
AZO – jeito; facilidade. Ter azo para…
AZOADO – atordoado; entontecido.
AZOAR – atordoar; entontecer.
AZORRADOR – rodo com que se puxa a cinza do forno (Clarinda Azevedo Maia – Aldeia do Bispo).
AZORRAGUE – chicote (José Pinto Peixoto).
AZORRAR – juntar o cereal depois de malhado e separado da palha; varrer o forno antes de meter o pão; alizar o cereal nas medidas com o rasoiro; varrer o chão com as saias (Clarinda Azevedo Maia).
AZUCRINAR – aborrecer; chatear; fazer perder a paciência; entontecer (Bismula).
AZURZILHADO – batido pelo vento (Júlio António Borges).
AZURZILHAR – fustigar; bater (Júlio António Borges).
(Continua…)
Paulo Leitão Batista, «O falar de Riba Côa»

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Damos continuidade à apresentação do léxico com as palavras e expressões populares usadas na raia ribacudana.

ÀS TRÊS PANCADAS – atabalhoadamente; acção sem regra.
ASTRO – sol.
ATABAFAR – sufocar; respirar com dificuldade. «Atabafa esse riso, ouviste?» (Joaquim Manuel Correia).
ATABALHOADO – desorganizado; desajeitado. Júlio António Borges acrescenta: amalucado; tolo.
ATABALHOAR – fazer à pressa, com descuido.
ATABICAR – atafulhar; encher por completo; entalar.
ATACA – cordão de sola (atacador), próprio para apertar as botas (Júlio António Borges).
ATACADOR – cordão de apertar o calçado.
ATACAR – apertar o calçado.
ATADILHO – atilho; baraço; cordel (José Pinto Peixoto). Fita das ceroulas; liga das meias (Clarinda Azevedo Maia – Fóios).
ATADO – indivíduo pouco activo; acanhado.
ATADOR – homem que nas ceifas tem a tarefa de atar os molhos.
ATADURA – ligadura para feridas (Francisco Vaz).
ATAFAIS – arreios, correias com que se aparelham as bestas.
ATAFAL – indivíduo desajeitado; mal vestido; maltrapilho (Rebolosa). Retranca da albarda do burro. Pano de cobrir os machos; roupa mal feita (Júlio António Borges).
ATAFONA – moinho manual ou de tracção animal. A mó de baixo é fixa, com um olhal no centro, por onde passa o veio que a liga à mó andadeira (de cima), esta tem na face superior um furo onde se encaixa o pau que serve de manípulo.
ATAGALHO – nagalho; cordel; guita (Francisco Vaz).
ATAGANHAR – apertar o pescoço, estrangular.
ATALAIA – local alto e descampado (Rebolosa).
ATAMAR – acalmar; apaziguar. «Prantou-lhe um arganel de aço no focinho para lhe atamar o cio» (Carlos Guerra Vicente).
ATANAZAR – inquietar; atormentar (José Pinto Peixoto). Joaquim Manuel Correia refere atenezar.
ATANEGRIDO – muito cansado (Júlio António Borges).
ATARANTADO – atrapalhado; desorientado.
ATARNAGUIDO – indivíduo muito ocupado, atarefado (José Pinto Peixoto). Júlio António Borges escreve atanarguido.
ATAROLADO – mal cozido; escaldado.
ATAROLAR – cozer ligeiramente. Atarolam-se as batatas antes de irem ao forno, acompanhando a carne ou o peixe na assadeira.
ATARRACADO – baixo e forte.
ATARRACAR – bater os cravos para os aconchegar à ferradura (Júlio António Borges).
ATARRAZAR – fazer depressa, com ânsia.
ATAZANAR – aborrecer; chatear.
ATEIMAR – teimar, insistir.
ATENTAR – fazer cair em tentação; chatear, enervar. Não me atentes!
ATERNEGUIDO – deprimido (Júlio Silva Marques). Cheio de trabalho (Leopoldo Lourenço).
ATERNIGAÇÃO – desgosto; inquietação (Júlio António Borges).
ATERRAR – cobrir com terra. Aterrar o milho: cobrir os caules.
ATER-SE – fiar-se; confiar. Ficar atido a…
ATIDO – convencido; fiado; a pensar em…
ATILHAR – tapar, cobrir os cortiços (Clarinda Azevedo Maia – Vale de Espinho).
ATILHO – baraço; cordel. Atacador das botas. Francisco Vaz dá-lhe o significado de: molho, feixe.
ATINADO – indivíduo com juízo; prudente; bem comportado.
ATINAR – acertar; adivinhar.
ATIRADEIRA – fisga (Vitor Pereira Neves).
ATIRADIÇO – atrevido; corajoso; lançado na vida. O rapaz é atiradiço.
ATISCAR – ver – termo da gíria de Quadrazais (Franklim Costa Braga).
ATOLAMADO – doido; tolo (Júlio António Borges).
ATÓLICO – em grandes dificuldades; abismado, estupefacto (de atónito?). «Vimo-nos atólicos para secar o trigo» (Carlos Guerra Vicente).
ATONDAR – estontear; endoidecer (Júlio António Borges).
ATONGADO – mal vestido; desajeitado; mal apresentado (Júlio António Borges).
A TOQUE DE CAIXA – depressa; com rapidez.
ATOUCAR – atar o lenço da cabeça com as pontas para cima, na forma de touca (Clarinda Azevedo Maia – Batocas).
ATOUCINHADO – gordo; anafado (de toucinho).
ATULHADO – muito cheio; repleto.
ATRAVANCAR – bloquear; impedir passagem; estorvar; atravessar. Júlio António Borges refere atrabancar, a que dá o sentido de: pôr tudo a monte.
ATRO – outro (referente a pessoa) – termo da gíria de Quadrazais (Franklim Costa Braga).
ATUNGADO – desastrado (Júlio António Borges).
ATURQUESAR – afligir; aborrecer (Júlio António Borges).
(Continua…)
Paulo Leitão Batista, «O falar de Riba Côa»

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Damos continuidade à apresentação do léxico com as palavras e expressões populares usadas na raia ribacudana.

ARTAFÍCIOS – ferramentas de um ofício (Carlos Guerra Vicente).
ARTEIRO – aquele que usa arteirice; velhaco; manhoso; astuto. Júlio António Borges acrescenta: aprumado; pronto. Por sua vez Maria Leonor Buescu, referindo-se à linguagem de Monsanto (Penamacor), traduz por: alegre, vivo.
ARTELHO – junta ou união dos ossos (Leopoldo Lourenço); tornozelo.
ARTIFE – pão – termo da gíria de Quadrazais (Nuno de Montemor). Artife branqueoso ou artife gírio – pão trigo; artife facho – pão centeio.
ARTLÃO-BOGAS – figa; dedos em forma de esconjuro (Pinharanda Gomes).
A SALTO – passar a fronteira fora dos locais não autorizados, furtando-se ao seu controlo. Assim, com a ajuda de passadores, ou engajadores, se fez a maior parte da emigração para França.
A SECO – sem comer. Trabalhar a seco: trabalhar sem o direito a alimentação fornecida pelo patrão. Comer de seco: comer sem prato, colher e garfo, recorrendo apenas a pão e a conduto.
ASILAR – prejudicar (Leopoldo Lourenço).
ASSADOR – caldeiro de latão, ou de barro, com o fundo furado, próprio para assar castanhas ao lume. Nalgumas localidades (como na Rapoula do Côa) chamam-lhe moderno.
ASSADURA – lombo de porco (próprio para assar). Mais a Sul (Monsanto) designa o pedaço de carne que se dá de presente por ocasião da matança (Maria Leonor Buescu).
ASSANHAR – enfurecer; atiçar os cães.
ASSARAMAGAR – fazer depressa e mal (Clarinda Azevedo Maia – Forcalhos).
ASSARAMPANTADO – assustado; espantado; atrapalhado.
ASSARAMPANTAR – atrapalhar; espantar.
ASSEDAR – fase da cultura do linho em que se faz a triagem da estopa, usando-se o sedeiro ou rastelo.
ASSEDEIRO – utensílio para limpar o sedeiro do linho (Luísa Lasso Pedroso Charters).
ASSENTADOR – instrumento feito com uma tira de couro, usado pelos barbeiros para dar fio à navalha de barbear.
ASSENTO – juízo; senso (Leopoldo Lourenço).
ASSÊ QUE SIM, ASSÊ QUE NÃO – parece que sim, parece que não. Creio que… (Joaquim Manuel Correia).
ASSERRUNCHADO – apertado (Júlio António Borges).
ASSOALHADO – recozido por demasiada exposição ao sol. A melancia está assoalhada.
ASSOBRADADO – com sobrado (piso de cima de casa térrea, junto ao telhado, feito de madeira e que serve para arrumos). Casa assobradada – que tem sobrado.
ASSOLDADADO – aquele que trabalha a soldo, sob contrato. Também se diz soldadado. Geralmente as soldadas eram válidas por um ano. O contrato era verbal, mas valia como se fosse acto formal, sendo cumprido à risca por ambas as partes. A feira de S. Pedro, no Sabugal, era a ocasião em que os proprietários contratavam pastores e ganhões, que se agrupavam ao redor da fonte de D. Dinis, munidos de vara ou de agilhada.
ASSOLDADAR – contratar a soldo (à soldada).
ASSOLDADAR-SE – submeter-se a um patrão, sob contrato, por um determinado período. Assoldadavam-se os pastores, ganhões e outros trabalhadores rurais, normalmente pelo período de um ano.
ASSOMAR – espreitar; aparecer. Cair (Clarinda Azevedo Maia – Aldeia da Ponte).
ASSOVAR – incitar o cão a morder (Leopoldo Lourenço); o m. q. açugar ou atiçar.
ASSOVELAR – furar com sovela. Espicaçar; provocar; estimular.
ASSUCHIAR – alargar as poças quando se planta uma árvore, tornando o terreno mais leve para as novas raízes (Júlio António Borges).
ASSUQUIR – comer – termo da gíria de Qadrazais (Nuno de Montemor).
ASSURPALHADO – diz-se do céu coberto de nuvens (Clarinda Azevedo Maia – Batocas). Também se usa a expresão leite assurpalhado, com o significado de leite coalhado – em estado de ser usado para fazer queijo.
(Continua…)
Paulo Leitão Batista, «O falar de Riba Côa»

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Damos continuidade à apresentação do léxico com as palavras e expressões populares usadas na raia ribacudana.

ARRÃ – rã (Duardo Neves).
ARRABANAR – cortar pequenas quantias de pão, queijo ou chouriça (Júlio António Borges).
ARRAIAL – festa ao ar livre; baile. Nas Terras do Campo (Monsanto) usa-se também para designar um agrupamento de construções pertencentes ao mesmo dono e anexos à habitação (Maria Leonor Buescu).
ARRAIOLA – raiola, jogo em que se atira uma moeda para um risco (ou raia) traçada no chão ou numa tábua. Este termo tem muitas vaiantes, consoante as terras, se não vejamos: José Pinto Peixoto, da Miuzela do Côa, chama-lhe raioila; Júlio Silva Marques, de Vilar Maior, escreve arraioila (e explica que o vocábulo vem do Castelhano – rayuela); Maria José Ricárdio Costa, de Aldeia do Bispo, refere raoula. Franklim Costa Braga, de Quadrazais, chama-lhe raibile. Leopoldo Lourenço, do Freixo, chama jogo do cão ao jogo da raiola.
ARRALÁRIO – relativo; sem sentido absoluto. «É tudo arralário» (José Pinto Peixoto).
ARRAMAR – espalhar as nuvens; deixar de chover. Júlio António Borges acrescenta: entornar; verter. «Já arramou, e já aí vem o sol» (Joaquim Manuel Correia).
ARRANAR – estender-se; pôr-se à larga.
ARRANHADELA – ferida superficial que resultou de arranhar. Arranhadela de um gato ou de uma silva.
ARRANHADOURO – pau de remexer o forno; o m. q. ranhadouro.
ARRANHÃO – o m. q. arranhadela. Também se diz ranhão.
ARRANJO – remedeio; governo da casa.
ARRÁTEL – antiga medida de peso, correspondente a 459 gramas.
ARRE – interjeição, pela qual se incitam as bestas a andar.
ARREAR – bater; zupar – arreou-lhe com força. Ir-se abaixo; ceder – arreou a carga. Colocar os arreios às cavalgaduras. «O Mateus, arreado a preceito, lá foi para a Guarda» (Abel Saraiva).
ARREAR AS CALÇAS – fazer as necessidades; defecar.
ARREATA – corda que segura os animais; prisão; rédea.
ARREATAR – atar; prender.
ARREBANHAR – raspar a barranha para aproveitar tudo. Meter ao bolso; roubar. Limpar o lameiro com o ancinho após o recolher do feno.
ARREBULHAR – embrulhar; envolver; engelhar. «Tudo se me arrebulha no estômago» (Joaquim Manuel Correia).
ARREBULHAR-SE – deitar-se (Clarinda Azevedo Maia – Aldeia da Ponte).
ARRECADAR – guardar, pôr a salvo; receber.
ARRECADAS – grandes argolas de pôr nas orelhas, muito usadas pelas mulheres ciganas. Também se diz arcádias e arrecádias.
ARRECENDER – recender, exalar cheiro activo (José Pinto Peixoto) – cheira tão bem que arrecende.
ARREDELHAR – diz-se do movimento em círculo feito pela faísca ao cair (Clarinda Azevedo Maia – Vale de Espinho).
ARREDULHAR – deitar a baixo; fazer encolher alguém à pancada.
ARREFENA – zanga, desentendimento, discussão. «Não havemos de ter mais arrefenas, seja feita a tua vontade» (Joaquim Manuel Correia).
ARREFENTAR – arrefecer; refrescar. Não me aquenta nem me arrefenta.
ARREFERTAR – lançar na cara o que se ofereceu (José Pinto Peixoto). Leopoldo Lourenço regista arfertar, traduzindo por: pedir o que se ofereceu. Mais a Sul (Monsanto) diz-se refertar (Maria Leonor Buescu).
ARREGANHADO – cheio de frio, enregelado. «Queres morrer arreganhado?» (Joaquim Manuel Correia).
ARREGANHAR – sentir frio; arrefecer; gelar. Mostrar os dentes.
ARREGOLAR – rebolar (Clarinda Azevedo Maia – Aldeia da Ponte).
ARREGUNHADELA – arranhão; o m. q. arranhadela.
ARREGUNHAR – ferir com as unhas; arranhar. O gato arregunha.
ARREGUNHO – arranhadela; arranhão.
ARREIO – apresto das bestas de carga.
ARRELAMPADO – aturdido; desorientado; surpreso. «Arrelampado como se tivesse visto bruxa numa encruzilhada» (Abel Saraiva).
ARRELIADO – zangado; amigo de arrelias e de brigas.
ARRELICADO – pessoa que está inutilizada, sem poder mover-se (Clarinda Azevedo Maia – Vale de Espinho).
ARREMANGAR – arregaçar as mangas. Júlio António Borges acrescenta: tropeçar.
ARREMATAR – compor um rego (Francisco Vaz); dar o nó; concluir.
ARREMEDAR – imitar com escárnio; maquear.
ARREMICAS – talvez (Júlio António Borges). Também se diz arrenicas.
ARRENDA – a primeira sacha (Júlio António Borges).
ARRENEGADO – zangado; descontente com alguém. «Fiquei mais arrenegado que se tivesse recebido bofetada» (Abel Saraiva).
ARRENEGAR – zangar; ralhar com alguém (Joaquim Manuel Correia). Arrenegado: zangado.
ARRENHAR – redemoinhar; andar em volta; o m. q. remunhar (Clarinda Azevedo Maia – Vale de Espinho).
ARREPESO – arrependido; cheio de pena (José Pinto Peixoto).
ARREQUALHO – girino; peixe cabeçudo (Júlio António Borges).
ARRESINADO – zangado; encolerizado. «Quem o ousasse desafiar, tinha de se haver com o seu génio arresinado» (Carlos Guerra Vicente).
ARRETO – cada um dos cordões de videiras da vinha, geralmente presas a um arame (Pínzio).
ARRIBAR – melhorar de saúde; arrebitar; erguer.
ARRIÇAR – lavrar o centeio com arado apropriado, quando tem apenas meio palmo (Júlio Silva Marques). O m. q. aricar.
ARRIFEIRO – brigão; grosseiro; mal educado.
ARRIFENA – zanga; briga. «Uma pessoa não pode andar com arrifenas com a sua mulher» (Joaquim Manuel Correia).
ARRIGAR – arrancar o linho da terra (Júlio António Borges).
ARRIMADEIRO – tronco de madeira que se coloca em primeiro lugar na lareira e sobre o qual se apoiam os troncos mais pequenos (Clarinda Azevedo Maia – Vale de Espinho).
ARRIMADOIRO – o m. q. arrimadeiro (Clarinda Azevedo Maia).
ARRIMAR – bater; castigar – arrima-lhe forte. Encostar; segurar; apoiar – arrimar o lume. Arrumar; colocar num lugar – arrima-o no canto.
ARRIMO – encosto; apoio; amparo.
ARROBA – medida de peso, equivalente a quinze quilos. Clarinda Azevedo Maia registou a arroba espanhola, equivalente a 11,5 quilos.
ARROCHADA – paulada; pancada com arrocho.
ARROCHAR – apertar a carga com a corda, recorrendo ao arrocho. Júlio António Borges acrescenta: espantar; oprimir.
ARROCHE – moca; cacete (Adérito Tavares) – de arrocho.
ARROCHINADO – apertado (Vítor Pereira Neves). Joaquim Manuel Correia escreve arrechinado.
ARROCHINAR – apertar. Júlio António Borges acrescenta: vestir muita roupa.
ARROCHO – pedaço de pau a que se recorre para apertar a carga aos burros, entalando-o na corda e volteando. Pau que serve de bengala ou de arma: deu-lhe com um arrocho. Pessoa teimosa e mal comportada: é torto como um arrocho.
ARRODEAR – andar à volta. Colocar o gado junto, a uma sombra. Também se diz arrodiar.
ARROLAR – embalar uma criança (José Pinto Peixoto). Para arrolar os meninos era uso entoar canções.
ARROMBOSO – rico; grande; extraordinário (Clarinda Azevedo Maia – Lageosa da Raia). Boda arrombosa: casamento rico, de arromba.
ARROZ GORDO – arroz de coelho ou de pombo que é uso comer no dia de Entrudo, precedendo o bucho (Manuel Leal Freire).
ARRUADO – disposto em fileira, em ordem (Francisco Vaz). Seguido (José Prata).
ARRUPAR – subir; ajudar a montar; erguer; arribar. José Pinto Peixoto refere arripar.
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Paulo Leitão Batista, «O falar de Riba Côa»

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APAGA-LUME – pirilampo (Francisco Vaz).
APAJEAR – adular; lisonjear; dar mimos.
APALPADEIRA – mulher ao serviço da Guarda Fiscal, que fazia despir as mulheres contrabandistas para as revistar. «Levava-a ao posto da Lageosa, para que a apalpadeira a visse» (Nuno de Montemor).
APANHA – colheita. Apanha da castanha.
APANHAR – fazer a colheita ou a apanha.
APARADOR – homem que, na apanha da azeitona, a deita dos cestos para os sacos (Clarinda Azevedo Maia – Vale de Espinho).
APARELHAR – colocar os arreios às cavalgaduras; arrear.
APARELHO – albarda. Clarinda Azevedo Maia traduz assim: manta ou saco com que se cobre a albarda (Aldeia da Ponte). Nas Terras do Campo (Monsanto) além de arreio designa amojo dos animais (Maria Leonor Buescu).
APARRINADO – adoentado; amofinado; entristecido (José Pinto Peixoto).
APARTAR – separar; escolher; afastar. «Aparte-se um bocadinho, para olhar de mais longe esta beleza» (Nuno de Montemor).
APARTO – escolha e separação dos touros para a tourada.
APATANHAR – pisar; destruir com o andamento. «O gado bravo fugia das herdades espanholas para terra portuguesa, apatanhando as colheitas» (José Prata). Duardo Neves refere apatunhar, que traduz como: «atropelar com as patas – relativo a animais de grande porte».
APEAÇA – correia para jungir as vacas à canga. Para jungir ao jugo é usada a soga.
APEAR – pear; colocar peias: atar as patas dianteiras do cavalo.
APEADO – preso com peias.
APEGUILHAR – comer pão com peguilho (ou conduto).
APEIAS – peias; corrente de ferro com que se atam as patas das cavalgaduras.
APEIRADOR – o m. q. aparador (Clarinda Azevedo Maia – Fóios).
APELAZAR – apalpar; tactear. (Joaquim Manuel Correia).
APERALTADO – bem vestido.
APERNAR – prender pelas pernas; atar as patas das ovelhas para a tosquia. Bom enraizamento dos cereais (Duardo Neves).
APERREAR – fazer troça; insultar.
APESSOADO – de boa aparência; circunspecto.
APESTAR – exalar mau cheiro: cheira mal que apesta. Também se diz empestar.
APESUNHAR – espezinhar; andar sobre terras cultivadas (José Pinto Peixoto).
APIAR – prender; atar os braços e as pernar de uma criança (Clarinda Azevedo Maia – Aldeia do Bispo): o m. q. apear.
APICHAR – acender o lume; atiçar ou açular o cão. Levantar falsos testemunhos a alguém (Clarinda Azevedo Maia – Forcalhos).
APILHAR – a comida conter sal em demasia. Agarrar; alcançar: aqui te agarro, além te apilho. Mais a Sul (Monsanto), significa atirar pedras a alguém (Maria Leonor Buescu).
APISTADEIRA – fisga (José Prata).
APISTAR – acertar, ter boa pontaria (José Prata).
APLICAR – trabalhar muito depressa; comer à pressa (Clarinda Azevedo Maia – Aldeia do Bispo).
APONTAR – afiar; aguçar; fazer ponta. Apontar a relha – aguçar a relha do arado (Clarinda Azevedo Maia).
APORTEIRAR – gritar (Franklim Costa Braga).
APREGOAR – anunciar; fazer ler os pregões, ou banhos, anunciadores de casamento.
APREGUEJAR – praguejar, rogar pragas; blasfemar (José Pinto Peixoto).
APRISCO – cancelas onde se recolhe o gado; bardo (também se diz prisco). Júlio António Borges, de Figueira de Castelo Rodrigo, traduz de forma diferente: local separado, no redil, onde as ovelhas são ordenhadas.
APROCHEGAR – aproximar; chegar para perto.
APUCARAR – amealhar; guardar (Júlio António Borges).
APULAR – apanhar ou conter algo que vem pelo ar. Apular o cântaro: costume da Páscoa em que rapazes e raparigas seguem cantando a atirar um cântaro de uns para os outros. José Prata chama-lhe jogo do cântaro.
APUNHAR – tomar a massa nas mãos para dar forma aos pães (Clarinda Azevedo Maia – Fóios).
AQUENTAR – aquecer; estimular – não me aquenta nem me arrefenta.
AR – mal que provoca, nas crianças, um aspecto adoentado e amofinado, definhando continuamente, sem haver razão evidente. Se não for atalhado o doente pode ficar tísico. «Se, num prato com água, o azeite se espalhava era porque a criança tinha um ar, que devia de ser, logo, atalhado. Para atalhar um ar fazia-se um defumadoiro» (José Pinto Peixoto).
A RABO DE – atrás de… «Vem a rabo de mim» (José Manuel Lousa Gomes).
ARADA – terra lavrada.
ARADO – utensílio da lavoura para lavrar a terra. O tradicional é conhecido por arado de pau, é do tipo radial e é constituído pelas seguintes peças, segundo Manuel Santos Caria: sega, teiró, rabeca, avecas, mexilho, relha, tamão, pescunhos ou cunhas e chavelha (acessório). Já segundo Clarinda Azevedo Maia as peças são: rabela, tamão, tairó, traitora, mexilho, torno, prego, dente.
ARADO DE CEGA – arado equipado com uma cega, ou lâmina de ferro, a qual encaixa no toiró, variando a sua posição com o sentido da torna, de forma a cortar e virar a leiva para o lado da arada (Jarmelo).
ARADO ESPANHOL – arado com camba curta, que se prende ao timão por intermédio de duas argolas de ferro e cunhas de madeira (pescunhos).
ARANCOTAR – pavonear; ostentar (José Prata).
ARANCU – pirilampo. Joaquim Manuel Correia refere o termo arancu sem asas. Em Alfaiates Francisco Vaz chama-lhe apaga-lume. Clarinda Azevedo Maia refere: arancu, bicho da seda, bicho qu’alumia, bicho-arancu, sarançum saranrum, luzinha, vaga-lumo, pastorzinho. Nas terras do Campo (Monsanto) dizem arancum (Maria Leonor Buescu).
ARANHEIRA – teia de aranha.
ARANHÃO – pessoa atada, sem acção, sem destreza. «Sempre me saistes uns aranhões!…» (Abel Saraiva).
ARANZEL – pessoa ou coisa frágil (Júlio António Borges).
ARAVIAS – habilidades sem valor (José Pinto Peixoto).
ARCA – grande caixa rectangular de madeira, com o interior dividido em compartimentos, onde se guardavam os cereais. Também havia a arca salgadeira, para conservação da carne do porco, e as arcas para guardar a roupa.
ARCÁDIAS – argolas que as mulheres usam nas orelhas. Também se diz arrecádias e arrecadas.
ARCAZ – arca grande (Júlio António Borges).
ARCO-CELESTE – arco-íris (Clarinda Azevedo Maia). Em muitas terras diz-se arco-celestre.
ARCO DA VELHA – arco-íris (Franklim Costa Braga). A expressão histórias do arco da velha, designa narrações fantasiosas.
ARCO DA VIRGEM – arco-íris (Clarinda Azevedo Maia). Em muitas terras diz-se: arco da birge.
ARCO DE NOSSA SENHORA – arco-íris (Clarinda Azevedo Maia – Cerdeira do Côa).
ARCO-ÍRIS – meteoro luminoso, que apresenta as sete cores do espectro solar. Esta expressão era apenas usada pelas crianças, pois os mais velhos usavam outras variantes, como atrás se disse: arco-celeste, arco da velha, arco de Nossa Senhora, arco da Virgem.
ARÇOLHO – armadilha de caça, formada por tábuas moveis que cobrem um buraco feito no solo (Carlos Alberto Marques). A perdiz, ao pisar a tabuinha cai na cova, que a tábua volta a fechar.
ARCOSO – anel – termo da gíria de Quadrazais (Nuno Montemor).
ARDOSA – aguardente – termo da gíria de Quadrazais (Nuno de Montemor)
AREIA – palerma; tonto. «És um areia» (Clarinda Azevedo Maia).
ARELO – tira de pano que segura o arméu de estopa à roca – as estrigas de linho eram seguras pelo cartapel (Manuel Santos Caria).
ARENGAR – fazer arenga; falar demoradamente e de forma enfadonha. O que estás para aí a arengar? Vitor Pereira Neves traduz por: resmungar; José Prata por: discursar, beldar, rezingar; Júlio António Borges por: falar sem interesse para quem ouve.
ARESTA – miolo da planta do linho, que se retira ao longo das várias fases da sua preparação até que fica a estriga de linho puro.
ARESTO – solução perante uma dificuldade. Não dar aresto: não encontrar caminho ou solução (Júlio Silva Marques).
ARGADILHO – rodízio usado para dobar o linho; dobadoura (José Pinto Peixoto).
ARGANEL – arame que se coloca no focinho dos porcos para que não revolvam palha da cama.
ÁRGIO – dinheiro (em moeda ) – termo da gíria de Quadrazais (Franklim Costa Braga).
ARGOLADA – pancada com a aldraba na porta; asneira.
ÁRIA – aspecto; fisionomia.
ARIADO – palerma; tonto (Clarinda Azevedo Maia).
ARICAR – passar o arado para remover as ervas daninhas. Segundo Francisco Vaz, também significa dizer asneiras.
ARIOSCA – tramóia; armadilha (Júlio António Borges).
ARMAÇÃO – esqueleto.
ARMAR-SE UMA TROVOADA – o tempo dar mostras de trovoada eminente – estando muito calor, o céu ficou escuro, cor de chumbo.
ARMAS DA GADANHA – cabo de madeira que se adapta à folha da gadanha. Em Vale de Espinho dizem armes, segundo Clarinda Azevedo Maia.
ARMÉU – porção de linho que vai de uma vez à roca para fiar. Manuel Santos Caria escreve ármeo e armo. Júlio Silva Marques e Clarinda Azevedo Maia escrevem ármio.
ARNAZ – robustez; força. «Vejo que estás com bom arnaz, homem» (Carlos Guerra Vicente).
AROLAS – pessoa sem préstimo, reles.
ARPALHÃO – pessoa sem jeito (Júlio António Borges).
ARQUEJO – alqueire – termo da gíria de Quadrazais (Nuno de Montemor). Franklim Costa Braga refere arquerio.
(Continua…)
Paulo Leitão Batista, «O falar de Riba Côa»

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Damos continuidade à apresentação do léxico com as palavras e expressões populares usadas na raia ribacudana.

AMADURAR – amadurecer.
AMAGAR – abaixar; acocorar; esconder; o m. q. achicar.
AMAINAR – acalmar; serenar.
AMALINADO – doente; pessoa ou animal com malina (doença).
AMANCORNAR – atar uma vaca dos cornos à pata dianteira, para que não fuja do lameiro. Abel Saraiva refere acabramar com o mesmo significado, mas para as cabras.
AMANHAR – preparar; tratar; compor. Amanhar a terra: tratá-la e prepará-la para produzir. Mais a Sul (Monsanto) significa também abrandar; afrouxar (Maria Leonor Buescu).
À MÃO-TENTE – muito perto; à mão de semear.
AMAREJAR – traçar margens ou regos na terra lavrada e semeada, para esgotamento das águas (Manuel Santos Caria).
AMARELA – gema do ovo (geralmente diz-se marela) – já a clara do ovo designa-se por branca.
AMARELO – sol – termo da gíria de Quadrazais (Franklim Costa Braga).
AMARFOLHAR – o crescer da seara, ficando tenra e forte. Criar marfolho: assim se diz quando os pastos estão a crescer. Pão amarfolhado: seara de centeio muito viçoso, sendo necessário ceifá-lo para depois voltar a rebentar.
AMARGOSO – amargo; ácido.
AMARMALHAR – apressar; acabar à pressa qualquer trabalho (Júlio António Borges).
AMARUJAR – amargar. Diz-se sobretudo da fruta quando ainda tem acidez.
AMASSADEIRA – mulher que amassa o pão.
AMATRIZ – amanhã – termo da gíria de Quadrazais (Franklim Costa Braga).
AMEIXOA – ameixa.
AMENDOEIRA – mulher que nas festas vendia amêndoas de açúcar e rebuçados de caramelo em cartuxos, que transportava e expunha em tabuleiros de madeira.
AMERCEAR – compadecer. Que Deus se amerceie da sua alma.
AMEZIDADE – amizade (Clarinda Azevedo Maia). Os dicionários registam amizidade.
AMIGAR-SE – amancebar-se; juntar-se com amante ou amásia.
AMIGO – amante.
AMIGOIÇO – amigo falso, que não merece confiança (Júlio António Borges).
AMOÇAR – esticar e reordenar os molhos de linho após a maçagem (José Pinto Peixoto). Clarinda Azevedo Maia escreve amossar, que traduz por: operação a que se submete o linho antes de espadelar para o limpar das arestas (também refere refregar, a que dá o mesmo significado).
AMOCHAR – aguentar com o peso; carregar; suportar. Baixar; amagar. Também se diz amouchar.
A MODO QUE – de maneira que. Também se diz ómode que.
AMOJO – úbere dos animais. Duardo Neves refere amoijo.
AMOJAR – tomar amojo; crescimento das tetas e do úbere dos animais com o evoluir da gravidez. Duardo Neves refere amoijar. Aquilino Ribeiro, na sua linguagem regionalista escreve muitas vezes o termo amojar, com o mesmo significado de amochar – carregar, suportar.
AMOLANCAR – amolgar; fazer mossa.
AMOLACHIM – afiador ou amolador de facas (Leopoldo Lourenço). Pessoa que andava de terra para terra a afiar facas, que à entrada de cada aldeia soprava um apito característico. Clarinda Azevedo Maia refere também molanchim, termo que recolheu nos Forcalhos.
AMOLADOR – o m. q. amolachim.
AMOLAR – tramar; molestar; dificultar. Afiar no rebolo: acto praticado pelo amolador de facas e tesouras que visitava as aldeias.
AMONADO – triste; cabisbaixo; amuado. Acocorado (Clarinda Azevedo Maia – Aldeia da Ponte).
AMONAR – ficar mono, amuado, triste, pensativo, preocupado. Baixar, agachar. Amona-te antes que te vejam.
AMONTAR – montar.
AMONTONAR – pôr tudo num monte; amontoar (Clarinda Azevedo Maia).
AMOROSO – agradável; ameno – tempo amoroso. Júlio António Borges traduz por: sossegado.
AMORTALHADA – mulher que, após promessa, vai na procissão de branco, com saiote e com grandes velas acesas (Franklim Costa Braga). «Muitas pessoas amortalhadas atrás dos andores e algumas debaixo deles» (Joaquim Manuel Correia).
AMOVER – abortar (animais) – Júlio António Borges.
AMUCHAR – amuar; agastar (Joaquim Manuel Correia). O m. q. amonar.
ANACO – carrego de fazenda – termo da gíria de Quadrazais (Franklim Costa Braga).
ANAFADO – cheio; gordo.
ANAGALHAR – casar; atar com nagalho (Júlio António Borges).
ANÁGUA – saia branca muito usada; saiote. Francisco Vaz refere anauga com o mesmo sentido, expressão igualmente recolhida por Clarinda Azevedo Maia, que, contudo, lhe confere um significado diferente: combinação (peça da roupa interior feminina).
ANAGUEL – cadeira sem pernas, onde o bebé era colocado para deixar a mãe livre (Júlio António Borges).
ANAIFADO – bem penteado; bem vestido; limpo (Júlio António Borges). Também se diz anifado.
ANAZADO – pequeno; que parece anão. Júlio António Borges acrescenta: apressado.
ANCHO – contente; vaidoso; orgulhoso. Cheio; amplo.
ANCINHO – travessa de madeira com pentes de igual material (em geral seis), fixa a um cabo comprido, utilizado para juntar e emborregar palha ou feno.
ANDAÇO – epidemia; endemia (José Pinto Peixoto).
ANDADOR – membro de uma irmandade que tem por missão pedir esmola para as almas.
ANDANTE – membro de uma irmandade que tinha por atribuição avisar a comunidade da morte dos irmãos e do horário das cerimónias fúnebres, tendo ainda por missão transportar a lanterna no funeral (António Cerca). Manuel Leal Freire acrescenta que cabia ao andante distribuir círios e velas no funeral dos irmãos. Caminho – termo da gíria de Quadrazais (Nuno de Montemor).
ANDAR AO PÉ COXINHO – saltitar num só pé. Clarinda Azevedo Maia recolheu duas variantes deste termo: andar ao pinicoxo (Aldeia da Ponte) e andar à perna coixa (Batocas).
ANDAR A RABO – andar à trás de alguém, segui-lo. «Andavam de rabo dele» (Joaquim Manuel Correia).
ANDAR DE AJUSTO – trabalhar contratado. Também se diz simplesmente andar justo.
ANDAR DE BURRAS – andar de gatas (Clarinda Azevedo Maia).
ANDAR DE CANGÃO – pessoa que anda a mando de outra (como se andasse de canga ao pescoço).
ANDAR DE CARAS – mostrar desagrado ou ressentimento.
ANDAR DE NALGA – andar de gatas (as crianças), mas assentando uma nádega no solo (Clarinda Azevedo Maia – Batocas).
ANDAR DE TROMBAS – o m. q. andar de caras.
ANDARILHO – instrumento da cultura do linho, ao qual as meadas são enroladas, a partir das maçarocas (o m. q. sarilho). Estrutura de madeira, em T, com pequena roda em cada extremidade, nele assentando um aro rectangular, que servia para as crianças aprenderem a andar. Indivíduo que anda muito depressa.
ANDOR – interjeição pela qual se manda alguém embora. O mesmo que dizer: «vai-te embora», «desaparece», «ala».
ANEIXO – dependente; anexo (Clarinda Azevedo Maia – Batocas).
ANGINAS – inflamação da garganta; amigdalite.
ANGORETA – pequena barrica para o vinho. Abel Saraiva recolheu engoreta: «todo ele se esvaía em cabaças, garrafões e engotetas».
ANHO – borrego; cordeiro. Estranho (José Prata). Só (José Pinto Peixoto). Desolado; vaidoso (Júlio António Borges).
ANICHAR – acocorar; esconder.
ANJO DA MORTE – nome dado à borboleta que aparecesse a sobrevoar pessoa agonizante (Francisco Vaz).
ANJINHO – criança que morre antes dos cinco anos de idade. Se baptizada a criança iria imediatamente para o Céu, se não estivesse baptizada a criança ia a enterrar num canto do cemitério que estava por benzer. Maria Leonor Buescu diz que em Monsanto se chama anjinho à criança que morre antes dos sete anos.
ANOQUE – chupeta feita com um trapo, onde se punha açúcar (Júlio António Borges).
A NOVE – depressa; a grande velocidade. Andar a nove: expressão que derivou da velocidade máxima dos primeiros carros eléctricos (Dic. Expressões Populares Portuguesas, de G. A. Simões). «Iam a nove, dá-lhe que dá-lhe, quando aconteceu rebentar uma grande estreloiçada no motor» (Aquilino Ribeiro, in «O Homem que Matou o Diabo»).
ÂNSIA – água – termo da gíria de Quadrazais (Nuno de Montemor).
ANTEVÉSPERAS – tempo que precede a véspera; dias mais próximos.
ANTONTE – anteontem; o dia anterior a ontem.
ANTRE-LUZ – fase da lua, entre o quarto minguante a lua nova (Clarinda Azevedo Maia – Aldeia Velha).
ANUAL – prestação que se paga em cada ano à irmandade, destinada à celebração de missas pelos irmãos defuntos (António Cerca).
(Continua…)
Paulo Leitão Batista, «O falar de Riba Côa»

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Damos continuidade à apresentação do léxico com as palavras e expressões populares usadas na raia ribacudana.

ALOFADA – travesseira; almofada (Clarinda Azevedo Maia – Fóios).
ALOISA – pequena borboleta.
ALOMBAR – carregar às costas, sobre o lombo. Alombou com o carrego.
ALPARGATA – calçado leve, de goma e lona, comprado em Espanha e muito usado pelas mulheres. Também se diz alpergata. Franklim Costa Braga, de Quadrazais, escreve alpragata. Maria José Ricárdio Costa, de Aldeia do Bispo, recolheu alpercata. Nalgumas terras chamam-lhe simplesmente sapata.
ALPENDRADA – parte do curral coberta pelo alpendre, onde se guardam utensílios da lavoura, lenha e palha. Também se chama cabanal.
ALPENDRE – telheiro.
ALPERCATAR – ter cuidado; acautelar.
ALPISTE – arroz – termo jocoso e depreciativo (Clarinda Azevedo Maia – Aldeia da Ponte).
ALPONDRAS – pedras que permitem atravessar a passo uma ribeira; o m. q. poldras.
ALQUEIRE – caixa rectangular de madeira, com um dos lados inclinado, utilizada para medir cereais. Medida de 16 litros (na generalidade do concelho do Sabugal). À semelhança do almude, a medida do alqueire varia de terra para terra – por exemplo, em Pêga equivale a 14 litros. Clarinda Azevedo Maia registou alquêre.
ALQUEIVAR – lavrar a terra para a deixar de pousio. O m. q. abarbeitar.
ALQUERNOQUE – sobreiro (Clarinda Azevedo Maia – Aldeia do Bispo). Também se diz alcornoque.
ALQUEVE – terra alta lavrada, preparada para receber semente. Os dicionários registam alqueive.
ALQUITARRA – alambique portátil; caldeira para fazer aguardente. É composto pela caldeira (onde se coloca o engaço), o capitel (que recebe o vapor vindo da caldeira), o tubo (onde o vapor se liquefaz) e refrigerante (vasilha onde cai a aguardente). Leopoldo Lourenço regista alguitarra.
ALQUITÃO – banco de madeira onde as mulheres se ajoelhavam para lavar a roupa (Soito).
ALQUITREQUE – indivíduo muito mexido; um leva e traz (Rebolosa). Pessoa reles e de pouca importância (Duardo Neves). O m. q. alquitaque (Rapoula do Côa).
ALROTAR – arrotar.
ALROTE – arroto.
ALTANAR – casar – termo da gíria de Quadrazais (Nuno de Montemor).
ALTAR – peito com seios volumosos (Júlio António Borges) – expressão jocosa.
ALTO – carro ligeiro; automóvel (Clarinda Azevedo Maia – Batocas).
ALUADO – lunático; parvo, doidivanas. A um afluente do Côa, que desagua no Sabugal, vindo da Urgueira, chamam ribeiro dos Aluados.
ALUGAR – acomodar uma besta, para nela facilmente montar (Francisco Vaz).
ALUMIAR – iluminar; dar luz. No norte (zona de Lamego) chamam alumios aos relâmpagos que vêm com as trovoadas.
ALUMIEIRA – tocha de palha (de alumiar – dar luz). Com a alumieira se alumiava nas noites escuras e se chamuscavam os porcos na matança.
ALVANAR – aqueduto de pedra por onde escorre a água, nos campos. «Saiu dali e foi refrescar o rosto ao alvanar» (Carlos Guerra Vicente). Mais a sul, em Monsanto, diz-se alvanel (Maria Leonor Buescu).
ALVANDIEIRA – pessoa que anda sempre a passear, que não para quieta (Júlio António Borges).
ALVEDRIO – livre arbítrio; vontade que não encontra constrangimento (Júlio Silva Marques).
ALVEITAR – veterinário amador; curandeiro de animais. José Prata também refere alvitar. Em geral era o ferreiro que nas aldeias exercia também a função de alveitar, por contraposição ao barbeiro, que curava as pessoas.
ALVÉOLA – ave pequena, de cauda comprida, que acompanha os lavradores nas aradas à cata de insectos na terra revolvida, a que também se chamam lavadeira. Também se diz arvéola.Maia para sul, nas chamadas Terras do Campo chamam-lhe lavradeira e lambrandeira (Maria Leonor Buescu).
ALVER – desafogado; espaçoso. «Casa alver» (Júlio Silva Marques).
ALVORÁRIO – doidivanas; maluco (José Prata).
ALVORADA – descarga de foguetes lançada pela manhã nos dias festivos. Segundo José Prata, raramente se excedem as cinco dúzias de foguetes. Também se chama alvorada ao rufo do tambor em dia de festa: «O povo acompanha o batalhão nos vivas e aclamações e o tambor toca uma alvorada» (Joaquim Manual Correia).
(Continua…)
Paulo Leitão Batista, «O falar de Riba Côa»

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Damos continuidade à apresentação do léxico com as palavras e expressões populares usadas na raia ribacudana.

ALÇAPÃO – abertura no soalho com tampa levadiça que dá acesso à corte (estábulo) dos animais.
ALCAPARRA – azeitona curtida depois de se lhe retirar o caroço (Júlio António Borges).
ALÇAPREMA – barra de ferro para levantar pesos; alavanca.
ALÇAR – erguer; levantar. Alçar a pata: diz-se do cão quando urina. Júlio António Borges acrescenta: «na agricultura designa o trabalho do arado, ou da charrua, preparando a terra para nova sementeira; a primeira volta no cultivo dos cereais».
ALCATRUZ – cada um dos recipientes de latão que compõem a nora de tirar água, também chamados copos.
ALDEAGA – vadio; estroina; pessoa de carácter alegre e folgazão, que não pára quieta (Júlio Silva Marques). Trapalhão (José Prata). O m. q. adrega (Manuel Leal Freire). Também se diz aldeagante.
ALDONAIRO – peça de vestuário mal feita (Júlio António Borges).
ALDRA – mentira.
ALDRABA – argola de ferro para puxar e bater à porta. Júlio António Borges, de Figueira de Castelo Rodrigues, refere aldrave.
ALDRABÃO – mentiroso; intrujão.
ALDRABAR – mentir; enganar.
ALDRÁCIA – recompensa; reconhecimento. Não ter as aldrácias: não se obter um gesto de reconhecimento após prestar um favor a alguém (Júlio Silva Marques). Esperteza; habilidade; manha (Duardo Neves).
ALDRÚVIA – aldrabão; vigarista (José Pinto Peixoto). Os dicionários registam aldrúbio.
ALECRIL – alecrim (Clarinda Azevedo Maia, que também regista alicril).
ALEGUME – feijão – termo da gíria de Quadrazais (Franklim Costa Braga).
ALEIJÃO – entalão; fractura; lesão.
ALETRIA – doce feito com leite, massa delgada e açúcar.
ALEVANTO – acto de erguer da cama; hora de levantar. Andou de alevanto: teve diarreia durante a noite.
ALFAIATE – insecto, que anda sobre a água.
ALFOBRE – viveiro de plantas hortícolas, para transplantar.
ALFORGE – saco duplo que se põe sobre as cavalgaduras para transporte. Normalmente é feito com farrapos.
ALFORJADA – roupa velha que é costume vestir no dia de Entrudo (Clarinda Azevedo Maia – Aldeia do Bispo).
ALGARAVIADA – conjunto de vozes confusas e desacertadas (Carlos Guerra Vicente).
ALGEIRÁS – pessoa má (Júlio António Borges, que também regista aljaraz).
ALGUEIRO – argueiro; cisco que entrou para o olho. Vês os algueiros nos olhos de outros e não vês as trancas nos teus.
ALIFANTES – olhos – termo da gíria de Quadrazais (Franklim Costa Braga).
ALIMAL – animal; besta; homem estúpido (Francisco Vaz).
ÀLIMO – olmo (Clarinda Azevedo Maia).
ALÍMPIO – azeite – termo da gíria de Quadrazais (Nuno de Montemor).
ALIMPIOSA – azeitona – termo da gíria de Quadrazais (Nuno de Montemor).
ALINHAR – temperar ou adubar as comidas (Carlos Alberto Marques).
ALIPANTES – olhos – termo da gíria de Quadrazais (Nuno de Montemor).
ALJAROZ – casa velha e abandonada (Clarinda Azevedo Maia – Fóios).
ALJUBAR – dar para muito; surdir; render (José Prata).
ALJUBE – casa sem luz, sem condições; pardieiro (Júlio Silva Marques).
ALMA DE CEVADA – alcunha que se dava aos judeus (Júlio Silva Marques).
ALMA PENADA – alma que se extraviou e que vagueia pelo mundo. Uma alma penada é um risco para a sociedade, pela sede de vingança e pelo comportamento agressivo que pode ter, daí serem muito temidas pelas pessoas.
ALMAREADO – tonto; maluco (Fóios).
ALMÁRIO – armário (Franklim Costa Braga).
ALMAS DO PEDITÓRIO – objecto de madeira para onde se recolhem as esmolas nas missas (António Cerca).
ALMEIRÃO – planta espontânea (chicória brava), de que se fazem vassouras para limpar o pão nas malhas. O m. q. coanha.
ALMEIRO – leite – termo da gíria de Quadrazais (Nuno de Montemor). Segundo Franklim Costa Braga, também se dizia almerio.
ALMENDRA – amêndoa (Júlio António Borges).
ALMINHA – cruz ou nicho escavado em rocha, que assinala lugar de devoção, geralmente ao redor dos caminhos. Junto à alminha o viandante deve rezar uma oração pelas almas do purgatório. No plural também significa objecto, geralmente de madeira, para onde se recolhem as esmolas nas missas (Maria José Ricárdio Costa), que também se designa por almas do peditório (António Cerca).
ALMOFIA – prato de grandes dimensões, quase alguidar (Vitor Pereira Neves). Quase terrina (acrescenta José Pinto Peixoto).
ALMOTACEL – inspector camarário de pesos e medidas.
ALMOTRIA – almotolia (Francisco Vaz). Recipiente em folha de zinco, de forma cónica usado para guardar o azeite na cozinha, pronto a temperar as comidas. Duardo Neves refere almetria. Clarinda Azevedo Maia acrescenta ainda almotoria. Na linguagem de Monsanto diz-se almetoria (segundo Maria Leonor Buescu)
ALMUDE – medida de 28 litros (no concelho do Sabugal e demais Riba Côa). A medida do almude varia conforme a região do País, equivalendo, na maior parte delas, a 24 litros (12 canadas).
(Continua…)
Paulo Leitão Batista, «O falar de Riba Côa»

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Damos continuidade à apresentação do léxico com as palavras e expressões populares usadas na raia ribacudana.

AGUILHADA – vara com ferrão na extremidade, própria para picar as vacas. Medida de comprimento, correspondente a 19 palmos (significado colhido por Clarinda Azevedo Maia na Lageosa da Raia).
AICHE – pequeno ferimento (linguagem infantil); o m. q. farraiche. Muitos autores escrevem aixe e axe.
AIDRO – adro, terreiro à volta da igreja. O povo ajuntou-se no aidro.
AJAVARDADO – sujo; grosseiro (de javardo: javali).
AJAVARDAR – sujar; fazer mal; estragar. Ajarvadou o trabalho.
AJOUJADO – muito carregado; cansado.
AJOUJAR – carregar muito, fazer cansar. Júlio António Borges dá o significado de: juntar.
AJUSTAR – contratar; combinar a prestação de um trabalho e a sua contrapartida.
AJUSTE – contrato de trabalho. Andar de justo: trabalhar sob contrato.
ALA – interjeição que indica pressa. Ala, que sa faz tarde!. Joaquim Manuel Correia traduz por levantar chama: «o lume tomou ala».
ALABARDA – pau enfeitado, usado nas touradas pela mordomia quando pede a praça. Bandeiras usadas nas festas do Espírito Santo, em algumas terras; o m. q. labarda. «Era constituída por duas bandeiras, ambas em forma de galhardete, e cujos panos de uma forma quadrada, eram constituídos por retalhos quadrados de cores, em que predominava o vermelho, o amarelo e o verde e por um ceptro, de pau alto, encimado por uma cruz, em torno da qual se colocavam cravos e manjericos, a modos de enfeite» (Pinharanda Gomes).
ALABARDEAR – manejar a alabarda, agitando as bandeiras a pulso, até ao cansaço (Pinharanda Gomes). Também se diz labardear.
ALACRÁRIO – lacrau; escorpião (Vitor Pereira Neves, de Sortelha). Júlio Silva Marques, de Vilar Maior, escreve alecral. José Prata, de Aldeia da Ponte, refere lacrário. Júlio António Borges, de Figueira de Castelo Rodrigo, refere alacrairo e alacrau.
ALACRÊNCIA – miriápode; centopeia (Vitor Pereira Neves).
ALAFRAU – patife (Júlio António Borges).
ALAGADEIRA – mulher desgovernada, incapaz de gerir a casa; gastadora (Júlio António Borges).
ALAGOA – lagoa (Duardo Neves).
ALAGOSTA – mulher que esbanja; o m. q. alagadeira.
ALAGOSTAR – esbanjar (José Pinto Peixoto).
ALAMAR – enfeite no vestuário (Júlio António Borges).
ALAMBA – resina (Joaquim Manuel Correia).
ALAMBAZADO – cheio; farto; que comeu em excesso; que encheu o odre.
ALAMBAZAR – comer em excesso.
ALAMBRAR – atiçar a chama – lambra (José Pinto Peixoto).
ALAMPIÃO – lampião, candeeiro grande (Francisco Vaz).
ALÂMPIO – azeite – termo da gíria de Quadrazais (Franklim Costa Braga).
ALAMPIOSA – azeitona – termo da gíria de Quadrazais (Franklim Costa Braga).
ALANCAR – carregar excessivamente; vergar com o peso. Também diz alangar, segundo José Prata. Por sua vez Júlio António Borges traduz por: «ir-se embora».
ALANGOSTA – pessoa que come demais; lambão (Clarinda Azevedo Maia).
ALANTERNA – lanterna; candeia que acompanha os funerais (Franklim Costa Braga).
ALANZOAR – dizer coisas à toa; falar muito. «E tu a alanzoar que estou bêbeda» (Abel Saraiva).
ALAPARDADO – agachado; escondido. Júlio António Borges traduz por: «sentado à vontade».
ALAPARDAR – agachar; esconder.
ALARDE – ostentação; aparato.
ALAVÃO – parte do rebanho de ovelhas que está a produzir leite, que se separa para melhor trato (Vítor Pereira Neves).
ALBARCA – calçado espanhol, feito de borracha – em geral pelo aproveitamento de pneu velho, segundo Adérito Tavares. Calçado tosco de madeira e couro (Clarinda Azevedo Maia).
ALBARDA – aparelho para colocar sobre o lombo das bestas de carga, feito com cabedal e estopa e cheio com palha. Albardeiro era o mestre no fabrico e venda de albardas.
ALBARDADO – com albarda. Bacalhau frito passado por farinha e ovo.
ALBARRÃ – espaço amplo e desocupado (Rapoula do Côa): cabanal albarrã. José Prata traduz por: «descampado».
ALBERNÓ – peça de vestuário que fica desajeitada ao corpo (Júlio Silva Marques). Júlio António Borges, de Figueira de Castelo Rodrigo, refere albornó, expressão igualmente referenciada por Maria Leonor Buescu acerca da linguagem de Monsanto, dando-lhe o mesmo significado. A generalidade dos dicicionários da língua portuguesa registam albornoz.
ALBOREDO – alvoroço; barulho; gritaria (Clarinda Azevedo Maia – termo recolhido em Aldeia da Ponte).
ALBRICOQUE – alperce; pêssego (José Pinto Peixoto).
ALBROQUE – celebração do fecho de um negócio, com pagamento de vinho a todos os intervenientes. Também se diz alboroque, alberoque e alborque. João Valente publicou neste blogue um interesante texto intitulado «Alborque ou Albroque» (dividido em duas partes) acerca da origem e do uso deste termo na raia sabugalense, que pode consultar aqui e aqui.
ALBRÓTIA – abrótea; planta espontânea muito procurada pelos animais quando pastam no campo. José Manuel Lousa Gomes, do Soito, refere que esta planta era apanhada para servir de alimentação aos porcos.
ALÇA – suspensório usado pelos garotos, feito a partir da tira da bainha dos tecidos. Júlio António Borges dá outro significado: «quadro de madeira, metido na colmeia, onde as abelhas constróem os favos».
ALCABOSIAR – berrar; ralhar (Júlio António Borges).
ALCACER – horta constituída especialmente por pimentos, cebolas, tomates, couves: «tenho de ir à Regada bachicar o alcacer» (Porfírio Ramos). Mais a sul, em Monsanto, designa o terreno em que cresce trigo, cevada ou centeio (Maria Leonor Buescu).
ALCADUTO – aqueduto (José Prata).
ALCAGUETE – alcoviteiro (Clarinda Azevedo Maia – termo recolhido em Vale de Espinho). Do Castelhano: alcahuete.
ALCAIDE – designação que em algumas terras se dava ao regedor. No tempo da reconquista cristã designava a pessoa nomeada pelo rei para administrar militarmente uma vila ou cidade, residindo no respectivo castelo. Em Espanha o alcalde é a pessoa que está à frente da administração de uma povoação.
ALCAMAZES – pulos; saltos. Andar aos alcamazes: brincar pulando e saltando, sem regra (Júlio Silva Marques).
ALCANÇAR – conceber; engravidar. Normalmente usado quando referente a animais.
ALCANDÓRIO – coisa grande e desajeitada; pessoa alta e mal apresentada (Júlio António Borges).
(Continua…)
Paulo Leitão Batista, «O falar de Riba Côa»

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Damos continuidade à apresentação do léxico com as palavras e expressões populares usadas na raia ribacudana.

ADVERTIDO – alegre, folgazão, divertido.
ADVERTIR – alegrar; divertir.
A EITO – seguidamente, de enfiada: Levar a eito.
AÉREO – distraído; sem tino.
AFARVADO – acalorado (Júlio António Borges).
AFEITAR – barbear (do Castelhano): afeitou-se antes de ir para a festa.
AFERREAR – fazer zangar; o m. q. aferrenhar.
AFERRENHAR – fazer zangar. Atiçar os cães: quando passa gosta de aferrenhar os cadelos.
AFIADEIRA – pedra de xisto para afiar facas; agucina (Vítor Pereira Neves – Sortelha).
AFIANÇAR – dar a certeza, garantir, assegurar.
AFICAR – espetar no chão perpendicularmente (termo recolhido por Clarinda Azevedo Maia nos Forcalhos); o m. q. afincar.
AFIFAR – bater; sovar: afifou-lhe sem dó nem piedade.
AFINADO – esperto; sagaz. Irritado; zangado.
AFINAR – irritar, zangar.
AFIRMAR – observar; verificar; fixar os olhos em algo.
AFOGADILHO – à pressa, sem calma: anda sempre num afogadilho.
AFOGA-MARRANOS – cachecol (Francisco Vaz – Alfaiates).
AFOGAR – estrangular; matar por asfixia.
AFOITO – destemido; corajoso; que não tem medo; o m. q. foito. Clarinda Azevedo Maia define de modo, reportando a palavra às Batocas: «prevenido, que conta com alguma coisa que vai suceder».
AFOLIAR – desafiar o touro a investir, colocando-se à sua frente.
AFORRAR – arregaçar as mangas ou as calças. Aforrou-se e avançou de punhos cerrados.
AFUNDIR – afundar; ir para o fundo.
AFUSAL – porção de linho com dois arráteis (459 gramas). Clarinda Azevedo Maia define de outra forma, reportando a Aldeia da Ponte: «conjunto de 24 mãos-cheias de linho depois de espadelado».
AGACHAR – abaixar-se, pôr-se de cócoras. Defecar. Agachou-se para dar de corpo.
AGACHIZ – esconderijo; cabana muito exígua, onde uma pessoa mal se pode movimentar. Cada um em seu agachiz.
AGADANHAR – ceifar com a gadanha: O mê home foi agadanhar o lameiro.
AGALHADO – pau bifurcado para virar o feno, o m. q. galhada (Francisco Vaz – Alfaiates) ou agalhada. Também significa pau bifurcado para segurar as cancelas do aprisco – o que noutras partes do país se chama fôrca (J. Leite de Vasconcelos).
AGARRAR O SENTIDO – ficar aguado, com um desejo insatisfeito (apenas relativo a animais). A vaca ganhou o sentido do lameiro e é para lá que embica.
AGASNATAR – agarrar pelo pescoço (gasnato). Agasnatou-o de tal modo que o ia afogando.
AGASTAR – ofender, aborrecer.
AGATONAR – roubar – termo da gíria de Quadrazais (Franklim Costa Braga).
AGAZIAR – dar três uivos seguidos (Ah! Hi! Hi!) em sinal de alerta – termo da gíria de Quadrazais (Franklim Costa Braga).
AGAZULAR – asfixiar; apertar as goelas (Júlio António Borges). O m. q. agasnatar.
A GENTE – nós; as pessoas: A gente somos pobres.
AGONIADO – enfadado; enjoado.
AGRADAR-SE – olhar para algo com gosto. Agradou-se da cachopa.
AGRANGIR – angariar (Júlio António Borges).
AGRAZ – uva verde; muito azedo (Júlio António Borges).
AGRE – amargo; azedo; acre.
AGRO – talhado a pique; ribanceira (Clarinda Azevedo Maia). O m. q. agre. Conjunto da produção agrícola: vão bons os agros; colhi muito agro.
AGRUNHO – abrunho (Júlio António Borges).
AGUAÇADA – aguaceiro; chuva súbita e forte (Clarinda Azevedo Maia – Aldeia da Ponte).
ÁGUA CHILRA – água choca: Donde veio esta água-chilra?
AGUADA – chuva forte e intensa. Júlio António Borges traduz por «Criança muito magra».
AGUADEIRAS – cangalhas (suporte de madeira) para transporte de cântaros no lombo de um burro.
AGUADOIRO – molhos de linho (Júlio António Borges).
ÁGUA-MEL – indivíduo natural de Vale de Espinho – dito depreciativo de que os valdespinhenses não gustavam.
AGUAMENTO – desejo alimentar insatisfeito (também se diz auguamento). Para se evitar o auguamento dos animais devem-se convidar, dando-lhes uma pequena porção de alimento. Também a mulher que está gestante não deve deixar de provar uma iguaria, sempre que a vê comer a outra pessoa.
ÁGUA-REZIA – aguaceiro; chuva forte (Clarinda Azevedo Maia – Forcalhos).
AGUÇADEIRA – pedra de afiar (também se diz aguçadoura).
AGUCINA – pedra de afiar. O m. q. aguçadeira, afiadeira ou esmoril. Nos currais ou nos balcões das casas havia sempre uma grande e pesada agucina para afiar facas, podoas e malhos. Também havia pedras pequenas, como a de afiar a gadanha.
AGÚDIA – formiga grande com asas, muito utilizada como isco para apanhar taralhões com costelas (costis) – Vítor Pereira Neves.
AGUIGUIAR – grito dos rapazes nas rondas nocturnas: ah-gui-gui! Júlio Silva Marques, de Vilar Maior, chama-lhe aguguiar. José Prata, de Aldeia da Ponte, usa o termo aghighar. José Pinto Peixoto, da Miuzela, refere aghughiar. Clarinda Azevedo Maia registou ahihiar. Os gritos dos rapazes da ronda, ou da «confraria dos solteiros», como lhe chama Manuel Leal Freire, eram um sinal de poder e de afirmação. De noite as ruas de cada aldeia eram da ronda, a quem cabia zelar pela segurança. Nuno de Montemor chama azagueios a esses gritos dos rapazes da ronda. Franklim Costa Braga coligiu o termo agaziar, que apresenta inserido na gíria de Quadrazais, significando dar três uivos seguidos (ah, ih, ih), o que seria um sinal de alerta usado no contrabando.
(Continua…)
Paulo Leitão Batista, «O falar de Riba Côa»

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Damos continuidade à apresentação do léxico de palavras e expressões populares usadas em Riba Côa. Para além dos termos colhidos em trabalho de campo, ouvindo as gentes falarem entre si, também se colheram frutos de alguns pomares alheios, nomeadamente de monografistas que editaram livros fazendo referência ao léxico raiano.

ACHADA – planície pouco extensa em terreno montanhoso; pequeno planalto.
ACHACADO – adoentado; que sofreu achaque.
ACHAMBOADO – mau; grosseiro; da má qualidade. Falar achamboado: falar do povo; fala simples e rude (expressão recolhida por Clarinda Azevedo Maia nos Fóios).
ACHANASCADO – mau; reles; de má qualidade. Fala achanascada: falar do povo; fala simples e rude (expressão recolhida por Clarinda Azevedo Maia nos Forcalhos).
ACHAQUE – defeito; vício; doença.
ACHICADO – abaixado; acocorado.
ACHICAR – agachar, abaixar; humilhar.
ACHINCALHAR – humilhar, fazer pouco de.
ACHUDA – batata encortiçada por ter ficado muito tempo na terra (Duardo Neves).
ACINCHO – folha de madeira ou tira metálica enrolada e perfurada, usada para fazer o queijo. Luísa Lasso Charters (de Sortelha) recolheu com o mesmo significado os termos cinho e ancinho.
ACOANHAR – limpar o pão (gão de centeio) dos resíduos que contém após a malha. Varrer a eira com a coanha (vassora feita a partir de uma planta silvestre).
ACOBARDAR-SE – ter medo, mostrar-se tímido; fazer cerimónia (Clarinda de Azevedo Maia).
ACOIMAR – tratar de forma injuriosa. Castigar; sujeitar a coima.
ACOIMADO – tratado injuriosamente; castigado; sujeito ao pagamento de coima.
ACOJINER – morrer (termo recolhido por Clarinda Azevedo Maia na Lageosa da Raia).
ACOMODO alojamento.
ACOMPANHAMENTO – cerimónia religiosa que acontece após o funeral de alguém. O povo, com o pároco na dianteira, vai em procissão à casa da família enlutada, rezar pelo defunto. Franklim Costa Braga acrescenta: «comitiva do noivo que no dia do casamento se desloca a casa da noiva».
ACONAPAR – remendar a roupa; deitar conapos (remendos).
ACONCHAVAR – costume que consiste numa aposta, ou ajuste, entre duas pessoas, normalmente crianças, feita pela ligação dos dedos mindinhos. Aquele que no dia de Páscoa primeiro mandar rezar o outro recebe um oflar (geralmente um ovo cozido). Abel Saraiva, dos Gagos (concelho da Guarda), regista a fórmula do aconchavo: «Aconchavar, aconchavar / até ao dia do oflar / nesse dia te mandarei rezar». José Pinto Peixoto, da Miuzela, refere contratar. Manuel Leal Freire, da Bismula, chama-lhe enganchar (pelo enganchar dos dedos).
ACORCEAR – arrastar pedras com a corça (plataforma de madeira, o m. q. zorra) – termo recolhido por Clarinda Azevedo Maia em Aldeia do Bispo.
ACORDAR-SE – lembrar-se (do Castelhano) – termos recolhido por Clarinda Azevedo Maia em Vale de Espinho.
ACRAPULAR – apular, apanhar, suster algo (Rapoula do Côa).
ACTIVA – faca – termo da gíria de Quadrazais (Nuno de Montemor).
ACUDADEIRA – cunha de ferro usada pelo pedreiro para talhar a pedra.
ACUDIR – retorquir; responder à chamada.
AÇUGAR – açular; assanhar; incitar o cão a morder.
ADEITO – porção de linho, correspondente a 50 estrigas (quantidade que se coloca na roca para fiar). Um adeito corresponde a dois afusais e cada afusal pesa dois arráteis (459 gramas). José Pinto Peixoto refere adeiço.
ADENTA – fase em que nascem os dentes às crianças (Júlio António Borges).
ADICAR – ver, observar – termo da gíria de Quadrazais (Nuno de Montemor).
ADIVINHA-NEVES – pássaro preto, que surge em bandos no inverno que, diz-se, antecedem os nevões.
ADJUNTO – reunião; ajuntamento.
ADMENOS – a menos que.
À DOCA – à sorte, de qualquer maneira. Provirá da expressão latina ad hoc (Júlio Silva Marques).
ADOÇANTE – açúcar – termo da gíria de Quadrazais (Franklim Costa Braga).
ADONDAR – tornar dondo; amaciar.
ADREDE – de propósito; com esse mesmo fim. Ir adrede: ir de coisa feita. «Fogueira adredemente preparada» (Joaquim Manuel Correia).
ADREGA – finório, matreiro, espertalhão. «ciganos ou adregas» (Manuel Leal Freire).
ADUA – vez; sistema comunitário que estabelece a regra da alternância no uso comum de qualquer coisa, nomeadamente as águas para rega e o forno. «Apesar de não estar o uso da adua regulado por escrito, todos o seguem» (Joaquim Manuel Correia). Em Figueira de Castelo Rodrigo usa-se a expressão à duia (Carlos Guerra Vicente).
ADUANA – alfândega (do Castelhano).
ADUAR – dividir de forma justa e equilibrada a água da rega pelos vários proprietários que dela beneficiam; seguir o sistema da adua.
ADUBAR – condimentar a sopa, temperar.
ADUBO – gordura derretida utilizada na cozinha como tempero.
ADUELA – costela; juízo (Francisco Vaz). Cada uma das tábuas que fazem o corpo de um pipo.
(Continua…)
Paulo Leitão Batista, «O falar de Riba Côa»

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Despois de alguns artigos de enquadramente ao modo de falar dos povos de Riba Côa, incia-se agora a publicação de um léxico, que contém alguns das palavras e expressões populares usadas na região. Para além dos termos colhidos em trabalho de campo, ouvindo as gentes falarem entre si, também se colheram frutos de alguns pomares alheios, nomeadamente de monografistas que editaram livros fazendo referência ao léxico raiano.

ABAFADIÇO – calmoso; encalorado – tempo abafadiço.
ABAIXAR – fazer as necessidades no campo – abaixar as calças.
ABALADA – saída; partida do lugar onde se está – estou de abalada.
ABALADIÇA – última rodada bebida numa súcia de amigos ( a que antecede a abalada).
ABALAR – ir embora; partir. As pessoas nunca usavam a expressão ir embora, mas sempre abalar: «Esse bruto deixou abalar a égua» (Joaquim Manuel Correia). Mais para norte, em Figueira de Castelo Rodrigo, traduz-se por «mal vestido» (Júlio António Borges).
ABALDEAR – tornar baldio. Diz-se que uma propriedade é abaldeada quando se toma por passagem, o que pode fazer com que se torne caminho público.
ABALOFADO – inchado; gordo; balofo.
ABALROAR – deitar abaixo; deixar ao desmazelo; devassar.
ABANADELA – abanão; safanão; sacudidela.
ABANCAR – sentar para demorar.
ABANDALHAR – descuidar; perder a dignidade. Uma pessoa que veste mal é abandalhada.
ABANO – utensílio de junco entrelaçado, de forma circular, seguro por cabo de madeira, que serve avivar o lume.
ABANTESMA – fantasma; espectro. José Pinto Peixoto, da Miuzela, refere abentesma.
À BARBA LONGA – à custa dos outros; de borla.
ABARBATAR – deitar as mãos a qualquer coisa; apanhar; surripiar; tirar algo a alguém.
ABARBEITAR – dar barbeito à terra, ou seja, lavrá-la e deixá-la em repouso. José Pinto Peixoto refere aberbeitar.
ABARROTAR – encher o mais possível; atulhar; atestar. Diz-se que a panela está a abarrotar quando demasiado cheia, a deitar fora. Uma pessoa abarrota-se quando come em excesso, à tripa-forra.
ABASBAR – encher demasiado (Júlio António Borges).
ABEBOREIRA – figueira que dá abêboras.
ABÊBORA – abebra (ou abêbera); figo temporão. Clarinda Azevedo Maia registou outras variantes: bêbora, bebra, breba.
ABELHANA – avelã (Júlio António Borges) – do Castelhano (avellana).
ABELOIRA – dedaleira, planta existente em montes e bordas de caminhos (Júlio Silva Marques). Borboleta (José Pinto Peixoto).
ABERTA – intervalo na chuva. Lá vem uma aberta para enganar a esperta (adágio).
ABESPA – vespa; abelha brava. Também se diz: bespa, abêspera, abêspora, abespra.
ABETOIRO – abeloira; planta frequente na serra.
ABINADA – diz-se de uma aldeia anexa a outra do ponto de vista eclesiástico (Clarinda Azevedo Maia recolheu esta expressão nas Batocas). A palavra derivará de «binar», que significa, em linguagem eclesiástica, dizer duas missas no mesmo dia, o que acontece ao sacerdote que tem a seu cargo duas paróquias.
ABOBORO – abóbora pequena, ainda muito tenra. «E este aboboro é pró caldinho» (Joaquim Manuel Correia).
ABÓBRA – abóbora.
ABOBRADA – aboborada; papas doces de abóbora com leite.
ABOCANHAR – enxovalhar o próximo; difamar; censurar. Duardo Neves registou abocanar, a que atribui o significado anterior, dando a abocanhar o significado de «apanhar e lambuzar os alimentos; comer à maneira dos cães». Já José Prata refere que o gado bravo se escapava de Espanha para Portugal, abocanhando as colheitas.
ABONADO – rico; abastado (termo recolhido por Clarinda Azevedo Maia nos Forcalhos).
ABORNAR – arrefecer a sopa (Francisco Vaz).
ABRANGAR – vergar com o peso da carga; puxar para baixo o ramo de uma árvore (Duardo Neves).
ABRANGER – dar, chegar ao pé. Abranger pão para carregar o carro: diz-se quando se carrega o carro após a ceifa para transportar os molhos do centeio para a eira.
ABRASINADO – abrasado; cheio de calor (Júlio António Borges).
ABRIGADA – lugar soalheiro, resguardado do vento.
ABRIR O SOL – aparecer o sol por entre as nuvens.
ABROLHAR – brotar; rebentar. Clarinda Azevedo Maia recolheu este termo nos Forcalhos, usado com o significado de: mortificar; cobrir de espinhos.
ABRUNHO – murro; soco.
ABUISSE – desejo vão, que se não quer ou não se pode concretizar (Duardo Neves).
ABURRIMENTO – aborrecimento (do Castelhano).
ABURRIR – aborrecer (do Castelhano).
ACABADOTE – velho; um tanto acabado.
ACAÇAPAR – agachar, abaixar. Também se diz acachapar.
ACACHINAR – matar (os coelhos) com uma pancada na cabeça.
AÇAFATAR – mexericar; falar da vida alheia: lá anda ele a açafatar.
AÇAFATE – pequeno cesto de verga, de bordo baixo. Também se diz safate.
AÇAFATEIRO – intriguista, que açafata (sobretudo usado no feminino: açafateira).
ACAGAÇADO – amedrontado, assustado.
ACAMALHOAR – virar a terra em camalhão (leiva de terra virada pelo arado ou pela charrua); lavrar.
ACAMBOAR – meter ao cambão (cabo de madeira que liga à canga); rebocar. Duardo Neves traduz assim: «acto de ligar duas ou mais juntas de vacas a puxar pelo mesmo carro ou charrua; prestar ajuda».
ACAREAR – dar careio; dar guarida; recolher; cuidar. Clarinda Azevedo Maia refere acariar, que traduz por: «juntar, reunir, ir em busca de».
ACARRANJA – transporte do centeio para a eira no carro das vacas, onde formará a meda. Também se diz acarreja.
ACARRANJAR – fazer a acarranja; carregar; transportar. Também se diz acarrejar e acarjar.
ACARRAR – alapardar; esconder e ficar imóvel. Descanso das ovelhas na hora de maior calor, normalmente à sombra de uma árvore. «O javali acarrou numa densa mancha de matos» (Dr Framar, in Caçadas aos Javalis).
ACARRETAR – transportar em carro de tracção animal. Também se diz acartar.
ACEITA – buraco no solo aberto pela toupeira (termo recolhido por Clarinda de Azevedo Maia em Vale de Espinho).
ACELGA – planta comestível parecida com a beterraba, com a diferença de não lhe engrossar a raiz. Usada para fazer sopa.
ACENDALHAS – lenha miúda, usada para se acender o lume (Júlio António Borges).
(Continua…)
Paulo Leitão Batista, «O falar de Riba Côa»

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A estrutura do falar da zona raiana do concelho do Sabugal foi já alvo de um aturado estudo, protagonizado por Clarinda de Azevedo Maia, professora da Universidade de Coimbra, pelo que se não justificam outras incursões na sua caracterização geral.

O trabalho de Clarinda de Azevedo Maia, intitulado Os Falares Fronteiriços do Concelho do Sabugal e da vizinha Região de Xalma e Alamedilla (Coimbra, 1964), tem merecido cuidados elogios dos meios académicos, sendo invariavelmente citado nos trabalhos de investigação sobre essa temática. Sendo uma referência ao nível da ciência linguística em Portugal, iremos expor resumidamente, cm base nele, as características essenciais do falar de Riba Côa, no que especificamente se refere á fonética, à morfologia e à sintaxe.

FONÉTICA
Verificam-se alterações ao nível das vogais tónicas e atónas, dos ditongos e das consoantes.
O a é, em dados contextos, realizado como e: frelda, em vez de «fralda»; amanhê em vez de «amanhã».
O e pode passar a ei: tienho em vez de «tenho».
Nas consoantes é muito visível a substituição do v pelo b: binho em vez de «vinho»; grabe em vez de «grave».

MORFOLOGIA
O artigo definido aparece muitas vezes com a forma castelhana: el, la, lo, los: el binho, las casas, Vale de la Mula.
Também o artigo indefinido pode, esporadicamente, parecer como: uno, una, unos, unas.
O género dos substantivos também pode variar, em muito devido à influência do castelhano: a cajada em vez de «o cajado»; a Côa em vez de «o Côa»; a tomata em vez de «o tomate».
O número dos substantivos está igualmente sujeito a variação, preferindo-se muitas vezes o uso do plural: golas em vez de «gola» (garganta); tenazas em vez de «tenaz»; tesouras em vez de «tesoura».
No que se refere aos adjectivos, o grau superlativo nunca é formado por «issimo», usando-se prefixos e sufixos com uma função intensificadora: descontrafeito, desinfeliz, delgadecho.
Os pronomes possessivos podem ter formas diferentes: mei, tei, sei, ou mê tê, sê.
Os pronomes demonstrativos sofrem algumas alterações: munto em vez de «muito»; oitro em vez de «outro»; otrem em vez de «outrem»; qualquera ou quaisquera em vez de «qualquer». Também aqui se usa nenhum como pronome substantivo, ou seja, em vez de «ninguém». Também é de registar o uso de quiem quiera em vez de «quem quer».

Quanto aos verbos, há muitas originalidades:
Os verbos em que a consoante anterior é z, são assim pronunciados:
Dize-o, em vez de «di-lo»; faze-o, em vez de «fá-lo»; traze-o, em vez de «trá-lo».
Nalgumas formas verbais, acrescenta-se um i à vogal:
Aibra, em vez de «abra»; caibe, em vez de «cabe»; coima, em vez de «coma».
A primeira pessoa do plural do presente indicativo passa às vezes a terminação de «amos» para emos. Exemplos: Chamemos, estemos, falemos, andemos.
Adiantam-se outras particularidades, que não permitem, constituir uma regra: dande, em vez de «dai»; vande, em vez de «ide»; oibo, em vez de «ouço».

Há também particularidades no uso dos advérbios.
De lugar: abaxo, em vez de «abaixo»; adentro, em vez de «dentro»; adonde, em vez de «onde»; drento, em vez de «dentro»; i, em vez de «aí».
De tempo: adepois ou adespois, em vez de «depois»; amanhê, em vez de «amanhã»; antão ou atão, em vez de «então»; antonte, em vez de «anteontem»; aspois, em vez de «depois»; honje, em vez de «hoje»; inda, em vez de «ainda».
De modo: aquase, em vez de «quase»; asseim, em vez de «assim».
De quantidade: mai, em vez de «mais»; munto, em vez de «muito».
De negação: ou , em vez de «não»; siquera, em vez de «sequer».

Sobre preposições, aponta-se o seguinte: antre, em vez de «entre»; inté, em vez de «até”; sim, em vez de «sem».

SINTAXE
O artigo definido é muitas vezes omitido.
O artigo partitivo é usado em certas expressões, como por exemplo: Não sei de nada, em vez de «não sei nada»; quem me dera da água, em vez de «quem me dera água».
Nos pronomes destaca-se o uso do lhe como complemento: foi-lhe padrinho, em vez de «foi padrinho dele». Também o reforço do sujeito nominal: ela a lua já lá vem. Ainda o uso do pronome possessivo em vez do pronome pessoal: tenho casa de meu, em vez de «tenho casa minha».
No que toca aos verbos, há tendência para reflectivar: cear-se; dormir-se; morrer-se. Muitos verbos não são acompanhados da devida preposição: bati-o, em vez de «bati-lhe». Deficiente uso do verbo haver: hemos de ser amigos. Colocação do sujeito ele antes do verbo: ele agora num faz frio.
As preposições têm por vezes deficiente uso: vai a chover, em vez de «vai chover».
Nas conjunções destaca-se o uso somente de que, em vez de «para que»: dá-lhe uma cadeira que se assente. Também há a referir a introdução do não em comparações: não conhece mais rios que não a Côa.
Paulo Leitão Batista, «O falar de Riba Côa»

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Um contínuo processo de normalização vem destruindo as características do falar que efectivamente existiu neste recanto português que é Riba Côa. Fruto desse processo a pronúncia estabilizou ao redor da palavra correctamente escrita e na sua exacta expressão oral. A fala rude e imprópria foi ganhando regras e adquirindo a devida sonoridade.

Vêm de longe as influências que contribuíram para essa padronização do falar, mas ter-se-á acentuado com a expansão do sistema de ensino e a instalação de escolas na generalidade das povoações e também com a saída dos jovens para o cumprimento do serviço militar obrigatório. Na escola aprendia-se a ler e a escrever o português perfeito, seguindo à risca os manuais, e isso reflectia-se na fala, que passava a ser mais cuidada. Na vida militar os jovens beirões eram ridicularizados pela pronúncia e pelo léxico que utilizavam e, no seu regresso aos campos, vinham a falar diferente e a censurar aos familiares e amigos o que a eles igualmente fora censurado. De entre os outros factores da nivelação linguística conta-se a sucessiva instalação de postos da Guarda Fiscal nas povoações da primeira linha de fronteira. Das guarnições faziam parte militares que não eram originários da zona e os muitos militares raianos que integravam essa força tinham de submeter-se a um curso na incorporação, e podiam permanecer largos anos em terras longínquas até conseguir colocação no rincão natal. Também os párocos na Igreja, e fora dela, desempenhavam esse papel nivelador da língua. Ainda que geralmente oriundos de aldeias próximas às que pastoreavam, os eclesiásticos eram sujeitos a longa e cuidada formação nos seminários, sendo privilegiados conhecedores da língua portuguesa, cujas formas de rigor passavam a transmitir.
Mas a grande mudança deu-se mais modernamente, sobretudo pela penetração nas aldeias de poderosos meios de comunicação, como os jornais, a rádio e, sobretudo, a televisão. A população foi ficando conhecedora de que havia formas mais finas de falar, tomando consciência que a sua expressão era uma maneira algo rude de comunicar. Além do mais, houve a vaga de movimentos migratórios para o Litoral e para fora do País, com um regresso continuado à aldeia no tempo de férias, sendo o emigrante portador de novos conhecimentos, de outra forma de falar. Mais uma vez o íncola que ficara agarrado ao seu terrunho, era ridicularizado: que continuava labrego, um autêntico troglodita, usando expressões ásperas e rudimentares pouco condizentes com o «português de lei».
Depressa se acentuaram as diferenças nas falas, principalmente entre os velhos e os mais novos que haviam saído a correr mundo, ou que frequentavam a escola, ou que vinham do seminário. Começou a usar-se a designação de fala charra, achavascada, achambuada, chamorra ou à pastora, para as formas de expressão mais antigas, querendo esses mesmos termos dizer «falar mal». Já o «falar bem», dentro da norma, ou a isso aproximado, era designado por falar grave ou falar à política, o que não era acessível a todos.
Podemos considerar que o processo de normalização linguística a que ficou sujeito o povo de Riba Côa e do geral das regiões de Portugal (o fenómeno aconteceu um pouco por todo o lado e num tempo aproximado), levou ao triunfo da língua portuguesa, aproximando-se todo o país às suas regras convencionais, perdendo-se porém a riqueza da suas particularidades regionais e locais. A tendência para a uniformidade fonética ocorreu em relativamente poucos anos, num processo que podemos considerar acelerado, ao qual ninguém ficou indiferente. As pronúncias muito acentuadas e muitas das antigas designações locais foram sufocadas pelas formas escorreitas da língua oficial que o mestre-escola passou a ensinar aos meninos das aldeias. Podemos até afirmar que a normalização linguística se ficou primeiramente pela aproximação fonética, naquilo que verdadeiramente foi possível nivelar, no restante, ou seja, na morfologia e na sintaxe as evoluções foram menos visíveis, mantendo-se uma forma de falar, onde se destacou um léxico rico em expressões locais que não tinham uso divulgado noutras zonas do país.
Mas a aldeia deixou de ser estar fechada sobre si mesma, com o adro como centro do mundo, e abriu-se a um vasto cosmos que progressivamente a invadiu, fazendo-a aperceber-se da sua pequenez.
A uniformização passou com o tempo a ter consequências a todos os níveis, perdendo-se mesmo parte da variedade lexical. Digamos que restou, contudo, uma boa parte do vocabulário e uma que outra expressão fonética mais arcaica, de forte incidência local, às vezes agarrada apenas a habitantes mais antigos.
Paulo Leitão Batista, «O falar de Riba Côa»

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Variados factores influenciaram os habitantes de Riba Côa no seu falar, contribuindo para a criação de uma espécie de «dialecto empobrecido», com muitas originalidades, como de resto observou e explanou a filóloga Clarinda de Azevedo Maia no seu estudo «Os Falares Fronteiriços do Concelho do Sabugal e da vizinha Região de Xalma e Alamedilla», datado de 1964.

Mas de onde provém essa forma de falar que se enraizou na raia ribacudana? Francisco Vaz (in Alfaiates na Órbita da Sacaparte, Lisboa, 1989), lança alguma luz, aventando possíveis fontes desse linguajar peculiar, sobretudo no que reporta ao léxico: «O idioma leonês que nos embalou o berço; a tradição cujas raízes não secam; vocábulos de criação original e simbólica, colhida das coisas; também a lei do menor esforço; a onomatopeia que supõe erudição».
A influência mais notada, segundo a generalidade dos estudiosos, terá sido o idioma do país vizinho, fruto dos contactos assíduos. A tudo isto não é alheio ainda o bilinguismo dos falantes, que ao conviver entre os dois lados da fronteira falam com facilidade ambas as línguas, fazendo com que, do nosso lado, expressões castelhanas integrem o falar normal e quotidiano das pessoas.
Depois, há a considerar que a linguagem do povo é, em todo o espaço e em todo o tempo, composta por um falar prático, funcional, recorrendo ao pragmatismo e à simplicidade de exposição, sem muitos rodeios e elaborações. Isso não significa ignorância, mas sim revela a forma nua e crua como pessoas que vivem na mesma comunidade, em amplos aspectos fechada ao mundo, necessitam de comunicar com absoluta compreensão. Claro que existem falares mais elaborados, quer ao nível da estrutura sintaxológica, quer ao nível lexical, mas isso reporta-se a compartimentos mais estanques do todo social, sobretudo no âmbito de grupos profissionais.
Grande importância teve também a corruptela ou simples deturpação de palavras e sons, que variam de terra para terra, sobretudo ao nível da pronúncia, cuja alteração acentuada conduzia a diferentes forma de expressão e a uma abundância de termos característicos.
Mas no que especialmente toca à fonética e à prosódia, há que atender à natural tendência para a simplificação de sons, dentro da lei do menor esforço, como é exemplo a supressão de sílabas ou o seu encurtamento. Também se trocam letras, sendo usual o câmbio do v pelo b, tão vivo em algumas terras ainda nos dias que agora correm (belho, binho). Também o ch se transforma geralmente em tch (tchouriça, tchapéu, bitcho), o que resulta da influência do falar castelhano. E, sobretudo, como elemento caracterizador, o som sibilante do s, que aparenta transformar-se em x (xou do Xabugal), o que na verdade não sucede. Aqui atendamos em o que nos deixou escrito o investigador miuzelense José Pinto Peixoto (in Miuzela – A Terra e as Gentes, Lisboa, 1996), na sua crítica à normalização da língua e ao consequente desaparecimento de ricas formas de expressão: «Havia uma diferença muito pronunciada nas sibilantes. Assim se distinguiam as sibililantes provenientes do s dobrado (ss), com tendência a pronunciar-se de forma dental, quase como se (asssim, passso, ect.) do c e s iniciais, ou do ç de origem árabe (sincelo, açafate, sete, etc.)».
Tenhamos também em conta as sábias palavras de Célio Rolinho Pires, autor de cavados estudos sobre o nosso berço raiano: «O homem do povo, a cuja cultura o homem erudito nem sempre deu a devida importância, regra geral prima pela simplicidade, pela lógica, pela racionalidade, pelo bom senso». Isto aplica-se especialmente ao modo de falar popular característico da nossa região.
Muito haveria a referir quanto à objectiva caracterização da forma de falar das gentes de Riba Côa, contudo não possuímos formação nem conhecimentos de Filologia que nos habilitem a tal. Contudo, também não é meta destes trabalhos esparsos mergulhar no estudo da parte sintáctica do falar. Deixemos tal tarefa para competentes linguistas, que nos evidenciem a disposição dos termos nas proposições e destas no discurso. O mesmo ocorre quanto à Fonética, campo imenso a desbravar em estudos mais profundos, baseados num rigoroso trabalho de campo, aprofundando a valoroso trabalho efectuado pela professora Clarinda Azevedo Maia, da Universidade de Coimbra.
Paulo Leitão Batista, «O falar de Riba Côa»

leitaobatista@gmail.com

Abordamos neste artigo, e noutros que se seguirão, o linguajar tradicional do povo raiano das zonas do Sabugal e de Riba Côa, procurando caracterizar formas de expressão que o tempo está a fazer desaparecer, face ao continuado processo de normalização linguística. Depois de uma superficial caracterização desse «falazar» típico, seguir-se-á a publicação de um léxico enumerando alguns dos termos populares e os seus significados.

Uma nota prévia para referir que, não me opondo à natureza prática do Acordo Ortográfico tendo em vista harmonizar a Língua Portuguesa escrita e falada por diversos povos no mundo, considero que a raiz e a matriz de uma língua está no povo que por ela se expressa. Por isso cito e concito Aquilino Ribeiro, o escritor português que melhor defendeu o regionalismo tradicional português: «Persisto em crer que pouco pode a disciplina léxica e literária contra o uso inveterado e a acção do inconsciente mas irrefragável formador da língua que é o povo» (in Aldeia – Terra, Gente e Bichos). E é precisamente na riqueza lexical da língua portuguesa falada pelo povo de Riba Côa que me irei centrar, formulando uma recolha de palavras e de expressões linguísticas que o tempo já quase derriscou.
As gentes de Riba Côa, herdaram um «falar português» algo diferente daquele que é praticado noutras partes do país. Há de facto peculiaridades de expressão, que caracterizam a fala do povo desta faixa de terra que vai de Quadrazais a Barca d’Alva, com influências visíveis em ambas as margens do rio Côa, à roda do qual os povos se estabeleceram e comunicaram entre si.
Sendo a fala o meio mais poderoso na comunicação entre as pessoas que vivem numa mesma comunidade, ou em comunidades vizinhas, estes povos construíram um modo de expressão linguística próprio, com características claras ao nível da morfologia, da sintaxe e do léxico.
Não se trata porém de um dialecto, muito longe estamos disso, porque aí teríamos uma variante da língua portuguesa, da qual diferiria por características fonéticas, fonológicas e particularidades lexicais muito vincadas – em Portugal só o Mirandês é considerado um dialecto, pois diferencia-se em determinadas situações do português padrão, ainda que lhe seja muito próximo. No que toca a Riba Côa, estamos perante um falar, que incorpora alguns desvios em relação ao português normal, com particularidades fonéticas e lexicais, e apenas com forma na oralidade. Porém, mesmo em termos de falar, estamos perante um conceito limitado, porque só com alguma vontade se pode hoje considerar que ele existe, pois não é notada complexidade nem coerência que permita concluir tratar-se de uma variante linguística, ainda que ténue.
Os artigos seguintes abordarão a origem do linguajar característico desta região e o desenvolvimento da sua fonética, morfologia e sintaxe. Abordar-se-á ainda o processo de normalização linguística (que destrói a riqueza lexical), e apresentar-se-á um léxico que foi fruto de uma aturada recolha no terreno e nas obras escritas de muitos autores, sobretudo dos nossos maiores monografistas.
Para justificação deste modesto intento, cito o prestigiado filólogo Manuel Paiva Boléo: «Todo o homem que não explorou cuidadosamente os falares regionais do seu país, não conhece da sua língua senão metade».
Paulo Leitão Batista, «O falar de Riba Côa»

leitaobatista@gmail.com

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