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Dentro dos contributos para a história do Hospital do Sabugal, apresenta-se a derradeira transcrição do Bloco de Recordações do Sr. Dr. Francisco Maria Manso, onde fala da actividade do Hospital logo após a sua inauguração e descreve a sua acção enquanto médico.
«01.03.1940
Chegaram em meados de Fevereiro as Irmãs e abriu o Hospital com carácter definitivo. Nada de reclamo, nada de exibicionismo. Provisoriamente parece ter-se resolvido dentro da Comissão da Misericórdia que fizessem serviço os dois médicos do Hospital. Se houvesse concursos, com as respectivas condições, no Diário do Governo, ter-me-ia, talvez, resolvido a não concorrer, mas desta forma, sem saber se remunerado, se gratuito, não me pareceu razoável tomar deliberação contrária à opinião da Comissão da Misericórdia e assim entendeu também o Sr. Dr. José Batista Monteiro, que ficou fazendo serviço na enfermaria dos “homens”.
Quando os lugares sejam postos a concurso, a Comissão resolverá a escolha entre os concorrentes e até lá não se devem criar dificuldades a tão simpática e humanitária Instituição.
14.02.1945
Quasi cinco anos são passado sem escrever neste livro qualquer facto importante da história do Hospital da Misericórdia.
Depois da nomeação provisória, minha e do Dr. José Batista Monteiro, entrou em acção a correspondência trocada entre a Misericórdia (Dr. Carlos Frazão) e a Direcção de Assistência de Lisboa
Para encurtar razões e discussões, a Direcção da Assistência informou que não podiam os médicos municipais serem nomeados para o Hospital, porque eram preferidos os médicos desempregados, isto é, sem lugar oficial. Não querendo de forma alguma ir de encontro a ideias tão “sociais” o Dr. José Batista e eu, resolvemos abster-nos de enviar os nossos documentos ao concurso e assim nos puseram termo a tantos trabalhos e canseiras. Da minha parte não sei se lucrei, se perdi. Amava o Hospital, que foi a dama dos meus pensamentos durante alguns anos. Ali, pensava executar operações cirúrgicas urgentes para as quais me considerava habilitado e nas quais me exercitei na técnica cirúrgica com o mestre Bissaia Barreto e donde saímos habilitados por cursarmos aquele, apenas 8 ou 10 estudantes e termos como programa toda a alta cirurgia. Pensei mesmo em voltar a cursar a cirurgia durante alguns meses para assim poder operar os doentes pobres, porque dos ricos não esperava ser cirurgião porque demais sabia que “Santos da porta não fazem milagres”.
Seja como for, a verdade é que muitos trabalhos me poupou a Direcção da Assistência recusando a nomeação.
Um dos primeiros doentes que foi morrer ao Hospital, foi o benemérito do mesmo Hospital, Sr. Pe. Joaquim Nabais Caldeira. Ali terminou os dias, não o podendo acompanhar na doença em virtude da minha exclusão, de médico, daquela casa.
O Concelho de Sabugal com 800 Kilómetros quadrados de superfície tem ainda poucos médicos e assim todos nos vemos assoberbados com trabalho, sendo o hospital uma forma de tratar doentes em conjunto que aumentariam ainda o nosso trabalho, para tratá-los cada um por sua vez, nos seus domicílios.
Actualmente e desde o início, por 1940, fazem serviço no Hospital os senhores Doutores Adalberto Pereira e José Gonçalves Pina
Os povos felizes não têm história e parece que sucede o mesmo ao Hospital.»
Romeu Bispo
(Provedor da Santa Casa da Misericórdia do Sabugal)
José Diamantino dos Santos, fundador e director do Externato Secundário do Sabugal, faleceu em 2 de Fevereiro de 2009. Será homenageado, por ocasião do encontro dos antigos estudantes do colégio por si fundado, que acontecerá a 1 de Maio no Sabugal. Associando-nos desde já a esse preito, aqui ficam algumas notas biográficas desse grande sabugalense.
Nasceu no Freixial, concelho do Fundão, a 4 de Novembro de 1930. Fez a escola primária em Vilar Maior, no concelho do Sabugal, e frequentou depois o Seminário Menor de Beja e o Seminário Maior dos Olivais em Lisboa, vindo a terminar os seus estudos na Universidade de Salamanca, em Espanha, onde se licenciou em Filosofia.
De regresso ao concelho do Sabugal, fundou, em 1955, o Externato Secundário do Sabugal, onde exerceu a sua actividade de professor e director até 1986, data em que fechou as portas, dando lugar à Escola Secundária do Sabugal.
O «Colégio», como era conhecido o Externato, foi durante os anos em que existiu o maior foco irradiador de cultura no concelho do Sabugal. Milhares de jovens de gerações sucessivas tiveram a sua formação nesse grande centro de instrução, assim se preparando para a vida, vendo no seu director não apenas um empenhado e exigente pedagogo, mas sobretudo um amigo e até, em certos casos, um autêntico pai.
O Dr Diamantino dos Santos, era, para além de proprietário, director e professor do Colégio um homem perfeitamente integrado na vida sabugalense, tendo granjeado um prestígio assinalável, dado o seu empenho na educação dos jovens.
Essa notoriedade conduziu-o à eleição para presidente da Câmara Municipal do Sabugal, cargo que exerceu durante oito anos sucessivos. Isso aconteceu ainda antes da Revolução de 25 de Abril de 1974, quando não existia o poder local democrático que hoje conhecemos, mas também num tempo em que os Municípios quase não possuíam recursos e as aldeias estavam muito carenciadas. Mesmo assim, fazendo face às dificuldades, o Dr Diamantino, enquanto presidente de Câmara, deu um forte e decisivo impulso ao desenvolvimento do concelho. Melhorou as infra-estruturas, tais como as vias de comunicação e instalação eléctrica em todas as freguesias do concelho, e também a formação das populações, com a construção de diversas escolas primárias.
Foi um dos fundadores do Sporting Clube do Sabugal, em 1959, participando depois activamente na vida desta associação. Foi presidente da direcção, cargo que exerceu em diversos mandatos, e desempenhou igualmente as funções de presidente da Mesa da Assembleia Geral.
Também participou na gestão do Hospital do Sabugal, sendo durante alguns anos membro da sua Comissão Administradora. Ainda dentro do sector da educação, estruturou e dirigiu o Ciclo Preparatório do Sabugal, entre os anos 1972 e 1975.
Pertenceu aos corpos gerentes da Casa do Concelho do Sabugal, como presidente da Assembleia Geral, entre os anos 1990 e 1992, tendo obtido em 1996 o título de Sócio Honorário desta associação sabugalense, em reconhecimento pelo seu papel no desenvolvimento do concelho.
Depois de encerrado o Colégio que fundou e dirigiu, o Dr Diamantino dedicou-se sobretudo a outra obra, onde colocou todo o seu esforço: a Santa Casa da Misericórdia do Sabugal. Foi eleito sucessivamente Provedor, e, enquanto tal, desempenhou um papel verdadeiramente ímpar no desenvolvimento da assistência social. Promoveu a instalação do Lar de Idosos Nossa Senhora da Graça nas antigas instalações do Hospital e criou ainda as valências de centro de dia, apoio domiciliário, centro comunitário, creche, ensino pré-escolar e apoio aos tempos livres.
O encontro de antigos alunos, funcionários e professores do Colégio do Sabugal que se realiza este ano é o momento oportuno para que o concelho do Sabugal preste o devido tributo a um homem que marcou a vida concelhia durante décadas e ganhou um lugar destacado no coração dos sabugalenses.
Paulo Leitão Batista
As fotografias apresentadas nesta crónica referem-se à participação do Soito no Cortejo que teve lugar em 1969, no Sabugal, aquando da visita à sede do concelho do Presidente do Conselho, Marcello Caetano.
O Soito participou com um Rancho de raparigas que cantaram aquele que ficou conhecido como o «Hino do Soito» (música «Ay Portugal Porque Te Quiero Tanto» – também conhecida por «Estudantina Portuguesa» e letra de Judite Nunes Aristides).
Lembro-me bem desse desfile e da participação do Soito, quando eu tinha 9 anos de idade.
Efectivamente, foi uma das primeiras vezes que eu fui ao Sabugal. O meu professor queria, à viva força, que os alunos dele levassem batas brancas para receberem o senhor Presidente do Conselho. Só que nós não usávamos batas. Ainda hoje estou para saber, no entanto, como é que alguns (poucos) dos meus companheiros de escola conseguiram levar vestidas as batas brancas, com as quais nunca os tinha visto na escola.
Nesse dia havia tolerância total, decretada pelas autoridades da época, e as camionetas da Cristalina podiam transportar pessoas para o Sabugal. Foi numa dessas camionetas (que se vê na imagem) que eu fui para o Sabugal. A camioneta levava um ramo de castanheiro, ainda com ouriços, e, quando a fome apertou, as castanhas desapareceram todas.
A Cristalina participou, ainda, com outro carro alegórico, onde estava escrito «Rossio Rival do Paço, Paço Rival do Rossio, Cristalina Não Tem Rival». Julgo que isso se refere a uma rivalidade entre dois bairros, existentes em Canas de Senhorim, mas quem saberia disso, na época?
«Memória, Memórias…», opinião de João Aristides Duarte
akapunkrural@gmail.com
Dentro dos contributos para a história do Hospital do Sabugal, apresenta-se mais uma transcrição do Bloco de Recordações do Sr. Dr. Francisco Maria Manso, onde fala da actividade do Hospital logo após a sua inauguração e descreve a sua acção enquanto médico.
«Hospital – 20-11-1938
Poucos dias depois de inaugurado o Hospital, foi internado o menor Francisco Monteiro Ferreira, com febre tifóide. O doente deu entrada no hospital depois de tratado duas semanas em sua casa. O estado do doente inspirava sérios cuidados e colhi o sangue para confirmação do diagnóstico de Widal. O diagnóstico foi confirmado e principiou-se com abalneoterapia fria. Deram-se dois banhos por dia. As temperaturas ao fim de uma semana fizeram uma descida em lisis e actualmente podemos considerar o doente livre de perigo. A temperatura de manhã está normal e à tarde tem um acréscimo para 37 º. Parece pois que o Hospital se iniciou bem, se atendermos a que o doente foi internado por temor de morte próxima.
Um facto que desejo exarar é o do primeiro doente morto no hospital. Sucedeu ontem, dia 19 de Novembro de 1938. Pelas 7 horas da noite fui procurado em minha casa para ir ao hospital ver um homem que ficou debaixo de uma camioneta e estava em perigo de vida. Fui imediatamente e encontrei sobre a mesa de observações do consultório um homem de 28 anos, robusto, com o fácies cadavérico, as extremidades frias, sem pulso e proferindo com frequência que estava morto. Dei uma injecção de cafeína. Mandei dar outra de óleo canforado, passados instantes e verifiquei a realidade terapêutica. Pela palpação notei a fractura da 4º costela direita, dando crepitação óssea quando o doente mudava de posição. Mandei que se despisse o doente e ao voltá-lo sobre o lado esquerdo notei uma deformidade do osso “sacrum” que estava fracturado com uns oito centímetros de saliência da região direita para a esquerda. A perna direita encontrava-se assim sem movimentos e a fractura da bacia trouxe ao doente um estado de dor muito acentuado. Deviam existir grandes lesões dos órgãos abdominais. O doente sucumbia uns 30 minutos depois da sua entrada no hospital, depois de o ter mandado deitar sobre a primeira cama do lado esquerdo da enfermaria à direita (quando se entra para o corredor). Este pobre homem era do Meimão e deixou três filhitos. Era extremamente pobre. Mandei que fosse levado para a capela do cemitério e ali esperasse pela vinda da família.
Foi este o primeiro óbito havido no Hospital de Sabugal. O pobre homem vinha numa camioneta e pretendeu descer sem avisar o chaufeur, descendo em movimento. Perdeu o equilíbrio e a roda de traz passou resvalando pelo tórax, abdómen, para passar por cima dos ossos da bacia que fracturou internamente».
Romeu Bispo
(Provedor da Santa Casa da Misericórdia do Sabugal)
Em 24 Agosto de 2009 foi colocada neste Blogue uma minha crónica sobre a participação do Soito no Cortejo de Oferendas a favor do Hospital do Sabugal.

A foto que hoje apresento é diferente da apresentada no ano passado, uma vez que nesta se vê o início do desfile do Soito, com o cartaz onde está o nome da freguesia, o que não era visível na foto anterior.
São dois os homens que transportam o cartaz com o nome Soito.
Resta referir que, para além da banda a fingir, a representação do Soito incluía um «rancho» de mulheres, com uns chapéus de palha na cabeça, que desfila na parte de trás da representação da freguesia.
«Memória, Memórias…», opinião de João Aristides Duarte
akapunkrural@gmail.com
Dentro dos contributos para a história do Hospital do Sabugal, apresenta-se mais uma transcrição do Bloco de Recordações do Sr. Dr. Francisco Maria Manso que acaba por ser um texto descritivo da Inauguração do Hospital.
Foi obra de muita doação e muito querer principalmente do seu primeiro benemérito porque além do terreno para a construção foi dando outras valiosas contribuições, da Comissão da Misericórdia, da Câmara Municipal, do Sr. Dr. Manso que também colaborou pessoalmente e de todos aqueles que colaboraram directa ou indirectamente. Foi necessário quase uma década para se inaugurar uma obra necessária a todo o Concelho, mas fica demonstrado que a persistência acaba por vencer.
Outubro de 1934«09-10-1938
Acabo de chegar da inauguração do Hospital, ou melhor dito da sessão de abertura.
Presidiu sua Exª. Reverendíssima o Sr. Bispo auxiliar da Guarda – D. João.
Falou em primeiro lugar sua Exª. R.ª, depois o Sr. Dr. Carlos Frazão que fez um belo discurso elogiando a obra do Sr. Pe. Manuel e mostrando as vantagens do Hospital para os doentes pobres. Seguidamente li algumas palavras e referências a este livro. Falou em seguida o Sr. Cónego “Alvaro” que fez uma bela oração ligando a caridade dos hospitais à religião.
O Sr. Bispo declarou finalmente que é costume dizer-se “está encerrada a sessão”, mas que neste caso ele diria que está aberto o hospital e que ele precisa do carinho de todos.
Passou-se à sala das sessões onde a filhita do Sr. José Maria Baltazar descerrou o “retrato” do SR. Pe. Manuel Nabais Caldeira, tendo usado, nesse momento, a palavra o Sr. Dr. César Louro que elogiou calorosamente a acção do Sr. Pe. Manuel.
O Sr. “Abade Fatela” desta vila tomou a palavra e num discurso entusiasta elogiou também a bela acção do Sr. Pe. Manuel, relacionando a formação dos hospitais com a crença religiosa.
Os bombeiros fizeram ouvir o seu Clarim tocando a sentido e o Sr. Pe. Manuel comovidamente agradeceu pronunciando as únicas palavras, belas e inspiradas, que um homem bom de coração pode pronunciar: “Estou velho pouco mais já posso fazer, mas depois da minha morte peço-lhes que olhem por isto”. Estas palavras são um poema de bem e pronunciar mais seria tirar todo o merecimento a quem as pronunciou, pois delas nasce um infinito de pensamentos e de considerações.
Teve lugar a sessão na enfermaria da esquerda que se encontrava inteiramente repleta pela assistência, vendo-se não só as pessoas de mais representação na Vila, mas ainda muito povo principalmente raparigas que volitavam por todos os cantos para satisfazer a sua curiosidade.
As salas estavam limpas e a impressão colhida por todas pareceu boa.
Como estou de serviço este mês procurarei dar início à obra para que foi destinado, tratando o melhor que posso e sei, os doentes que ali forem internados, ainda que provisoriamente pois não se montou a cozinha e apenas fica um enfermeiro para receber algum doente e vir avisar de que é preciso ir ao Hospital. Se forem necessárias dietas ficou determinado pela “Comissão” encomendar essas dietas em qualquer das pensões, enquanto a enfermagem pelas Irmãs da Caridade se não fizer.»
Romeu Bispo
(Provedor da Santa Casa da Misericórdia do Sabugal)
A fotografia desta crónica refere-se à participação da localidade de Espinhal, uma anexa de Águas Belas.

O Espinhal apresentou-se com um carro de vacas onde se encontra o cartaz com a indicação da localidade.
No carro das vacas vão várias pessoas a executarem ao vivo trabalhos artesanais.
Embora esta fotografia não esteja muito nítida, parece-me que é o ciclo do linho que as pessoas estão a representar.
Do lado esquerdo do carro vão cinco pessoas (quatro adultos e uma criança).
Sei que o Espinhal apresentou, neste Cortejo, uma canção que ficou na memória de muita gente, tanto que nos anos 70, do século XX, ainda me lembro de pessoas que, embora não sendo do Espinhal, a recordavam. O seu refrão rezava assim:
Nós somos do Espinhal
Freguesia de Águas Belas
Trazemos ao Hospital
As ofertas mais singelas
Viva o Hospital (…)
«Memória, Memórias…», opinião de João Aristides Duarte
akapunkrural@gmail.com
A foto de hoje, do Cortejo de Oferendas a favor do Hospital do Sabugal, apresenta um grupo de homens, rapazes e raparigas, para além de crianças. Na fotografia não é visível a identificação de nenhuma localidade do nosso concelho.

O carro alegórico, lá atrás, tem escrito «Comércio», pelo que tudo leva a crer que seja o representante dos comerciantes do concelho de Sabugal ou só da vila do Sabugal.
À frente vai uma senhora com um vestido comprido, que transporta um cesto com flores, na mão esquerda.
Atrás dela seguem as crianças, com uns cajados e um barrete na cabeça, como o que usam os campinos, no Ribatejo. Essas crianças estão com gravata.
Os homens levam cajados e usam chapéu de feltro, para além de se apresentarem, também, com gravata. Os cajados levam umas fitas na parte cimeira.
Já as mulheres levam um cesto com flores na mão e usam blusa branca e vestido de cor escura, por cima.
O público, como sempre, está atento ao desenrolar da acção.
«Memória, Memórias…», opinião de João Aristides Duarte
akapunkrural@gmail.com
Não consegui identificar os participantes que são apresentados, na fotografia desta crónica.

A foto foi tirada junto à tribuna, como a maioria das fotografias já colocadas nestas crónicas.
No início vêem-se umas crianças (todas rapazes) com umas armas a fingir que são soldados. Por acaso têm a arma do lado esquerdo, o que não é muito normal em situações de desfiles militares (o mais natural era que a arma estivesse do lado direito).
Não se consegue perceber se a farda que eles estão a usar é a da Mocidade Portuguesa.
Do lado direito destes «soldadinhos» consegue descortinar-se, perto do público, um homem a tocar viola.
Um pouco atrás podem ver-se umas crianças do sexo feminino, que transportam cestos com flores e, logo a seguir, um Rancho de rapazes e raparigas (na casa dos 18/ 20 anos), que parecem estar a dançar. Todos transportam na mão um ramo de flores, que, nesse momento; estão a fazer passar por cima das suas cabeças. Ao lado do Rancho observam-se quatro ou cinco mulheres (viúvas?) com o típico traje de lenço negro na cabeça e xaile preto a cobrir todo o corpo.
Alguém consegue identificar a localidade a que pertence esta fotografia?
Como estamos em época festiva, aproveito para desejar a todos os visitantes deste blogue um Feliz Natal e um Bom Ano Novo.
«Memória, Memórias…», opinião de João Aristides Duarte
akapunkrural@gmail.com
A fotografia que hoje se anexa à crónica sobre o Cortejo de Oferendas a favor do Hospital do Sabugal, realizado em 1947, é referente ao público junto à Casa dos Britos.

A fotografia foi tirada da tribuna, onde estava o júri que iria classificar as várias freguesias e anexas participantes.
Podem ver-se, em primeiro plano, as cadeiras, onde esse júri se sentava.
De certeza que esta fotografia foi tirada antes do início do Cortejo.
Podem ver-se dois soldados da GNR com a sua arma (uma Mauser?) a tiracolo, controlando a verdadeira multidão que se concentrava na escadaria da Casa dos Britos e, mesmo, no seu telheiro. Também em ambos os passeios da rua se encontra bastante público.
Do lado direito pode ver-se a igreja do Sabugal, também ela com muita gente junto à sua entrada, para assistir ao Cortejo.
Os Cortejos de Oferendas a favor do Hospital não aconteceram só no Sabugal.
Ainda esta semana, ao ler uma monografia do concelho de Aguiar da Beira (onde estou a trabalhar como professor), pude aperceber-me que também nesse concelho se realizaram Cortejos de Oferendas a favor do Hospital concelhio.
Realmente, era uma época em que se não se realizassem estes Cortejos de Oferendas, a população não tinha direito a cuidados de saúde. E mesmo assim…
Não posso deixar vir ao de cima a minha costela de político que sou (e de que faço gala) e referir que, ainda, recentemente, alguém mais velho do que eu colocou um comentário neste blogue referindo que antigamente (no tempo do Estado Novo) havia assistência para todos. Realmente, essa pessoa e eu devemos ter vivido em países diferentes, já que tendo eu nascido em 1960 (portanto já depois da pessoa que escreveu esse comentário) nunca dei conta que houvesse essa assistência para todos, a não ser aquando da implementação do Serviço Nacional de Saúde, já depois do 25 de Abril de 1974.
«Memória, Memórias…», opinião de João Aristides Duarte
akapunkrural@gmail.com
Continuando a analisar as fotografias do Cortejo de Oferendas, realizado no Sabugal, em 1947, a favor do Hospital do Sabugal, eis hoje a representação da Torre.

A Torre é, hoje, uma localidade anexa do Sabugal, tal como era em 1947.
A representação da Torre está a desfilar junto à tribuna, onde se encontravam as altas individualidades da época.
Antes da Torre, termina o seu desfile o Soito (com a Banda Filarmónica a fingir, já motivo de crónica anterior).
A Torre apresenta um Rancho de raparigas, algumas ainda bastante jovens, que vão vestidas com saias à moda antiga e levam (algumas) um lenço ao pescoço.
A multidão que rodeia as participantes da Torre é imensa. Quase não há espaço para poderem executar a sua dança de roda.
Algumas das raparigas da Torre estão a tocar adufe e outras usam um chapéu de palha de aba larga, na cabeça.
Atrás (já depois do cartaz onde está escrito o nome da localidade) surgem umas mulheres com mais idade e vestidas com xaile preto.
«Memória, Memórias…», opinião de João Aristides Duarte
akapunkrural@gmail.com
Continuamos a transcrever excertos do caderno de apontamentos do Sr. Dr. Francisco Maria Manso, existente na Santa Casa da Misericórdia do Sabugal, onde constam pormenores interessantes acerca da edificação do Hospital do Sabugal.
Outubro de 1934
«Largo tempo sem escrever nestas memórias o seguimento das obras no hospital. Alguns factos se deram dignos de menção: Feita a petição ao Ministro das Obras Públicas para subsidiar as obras do Hospital, depois de muitos pedidos e bastante morosidade nos despachos e devido certamente ao muito interesse mostrado sempre Governador Civil Sr. Dr. A. Borges Pires, chegou enfim a notícia da comparticipação do Estado nas Obras, em cem contos!!! Preciso se torna executar trabalhos para receber esta verba, mas o recebimento há-de ser um facto, como um facto indiscutível há-de ser a sua conclusão e breve abertura ao desempenho da santa missão a que se destina.
6 de Fevereiro de 1938
O facto mais importante a relatar consiste no oferecimento pelo Sr. Pe. Joaquim Manuel Nabais Caldeira de todo o mobiliário do Hospital. A sua generosidade foi ainda até ao oferecimento do material cirúrgico para a sala de operações, consultório médico, etc…
Incumbido pelo Sr. Pe. J.M.N.C. de escolher o material cirúrgico, em ocasião que tive de ir a Lisboa, escolhi nos diferentes laboratórios o material que me pareceu necessário e depois do confronto de preços e qualidades organizei relações do indispensável para sala de operações, consultórios e enfermarias, relações que entreguei ao Sr. Pe. J.M.N.C.
O custo do material escolhido orçava por uns trinta contos e essa importância foi imediatamente posta à disposição para a compra da totalidade do material. Várias reuniões entre o Sr. Sousa Martins, o Sr. Pe. J.M.N.C. e eu, e consultas a casas fornecedoras, fizeram com que se não fizesse a encomenda na ocasião o que originou maior despesa na aquisição, devido à subida de preços nesses materiaes . Feita a encomenda, os caixotes abarrotando de utensílios de toda a ordem, foram colocados na enfermaria (da esquerda) e ali com um interesse admirável o Sr. Pe.J.M.N.C. assistiu à abertura e ele próprio guardou a chave do quarto onde foram guardados.
Se todos nós, se quasi todo o concelho trabalhou para a realização de uma obra que serve para mitigar o sofrimento humano, principalmente d`aqueles que ainda depois de doentes, são pobres…nenhum de nós pode merecer uma parcela de gratidão, dos vindouros, se compararmos o pouco que demos com o que tão generosa e modestamente soube dar essa formosíssima alma de benemérito que é o Sr. Pe. Joaquim Manuel N. Caldeira. Se sabe pregar a caridade porque a sua profissão assim o manda…sabe praticá-la, porque lhe nasce do coração. Não há na dádiva um fim político, um motivo de vaidade. Perante mim, mostrou o desejo que não se soubesse da oferta, não tem ambições políticas o Sr. Pe. J.M.N.C.
Mas se contentamento pode vir de uma boa acção, esse deve senti-lo o Sr. Pe. J. porque os ferros cirúrgicos oferecidos hão-de rasgar o corpo humano à procura das lesões que matam e que estirpadas fazem voltar à vida e dão alegria de viver. Nos leitos que ofereceu hão-de os pobres encontrar o que não tinham em suas casas,… conforto para tratar o seu mal e, à sua roda, carinho consolador, admirável e sempre bem vinda medicação para os que sofrem.
Podemos dizer deste homem que fez alguma coisa pela sua geração, porque aumentou o conforto, o bem-estar e a felicidade dos que sofrem.
Só os que trabalham para o bem da humanidade têm direito à consagração de todos.
Ser bom, ser honesto, não basta, é preciso ser útil aos nossos semelhantes, com dedicação, com interesse desprovido de egoísmo.»
Romeu Bispo
(Provedor da Santa Casa da Misericórdia do Sabugal)
De regresso ao Cortejo de Oferendas de 1947, a favor do Hospital do Sabugal, temos hoje a representação da freguesia de Rendo.

A freguesia apresenta um Rancho de rapazes e raparigas, que estão a dançar. Ao centro encontram-se um acordeonista, um tocador de ferrinhos e um tocador de pandeireta. Há, também, um senhor que transporta a placa com o nome da freguesia.
Todos os rapazes de Rendo se apresentam com um lenço ao pescoço, de várias tonalidades. Também usam, todos eles, uma boina tipo basco.
Já as raparigas se apresentam vestidas (parece-me) à moda da época e não com as roupas tradicionais nos Ranchos Folclóricos portugueses, que, normalmente, são de épocas mais antigas.
Todos os elementos do Rancho dançam à volta dos «tocadores».
A «molhe» humana, neste local do Cortejo de oferendas é imensa. Há pouco espaço livre para os participantes de Rendo poderem executar as suas danças. Pela fotografia apercebe-se que a multidão estava atentíssima à participação de Rendo, neste Cortejo de Oferendas.
«Memória, Memórias…», opinião de João Aristides Duarte
akapunkrural@gmail.com
A fotografia que, hoje, apresento refere-se à participação de Alfaiates no Cortejo de Oferendas, a favor do Hospital do Sabugal, realizado no ano de 1947.

Alfaiates apresentou um carro no qual vão algumas raparigas a trabalhar o linho.
Pode observar-se o espadelar do linho, num grande tronco de madeira, bem como o dobar do linho na dobadoira. Também se consegue ver uma rapariga a usar a estopa para «assedar» o linho.
Só não se vê alguém a fiar o linho, numa roca, outra das fases importantes do «ciclo do linho».
Em baixo, junto ao carro alegórico, vêem-se crianças que deviam andar na escola primária, pela sua tenra idade.
Há, também, três homens em cima do carro. Dois deles transportam a faixa com o nome Alfaiates e um outro (que usa chapéu) não se consegue perceber o que estará a fazer.
Atrás desses homens, e em cima do carro, vê-se uma réplica do pelourinho de Alfaiates, que se encontra na praça principal da localidade.
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PS 1: Num comentário sobre a minha crónica, aqui publicada em 19 de Outubro p.p., o sr. Fernando Latote, dos Forcalhos, refere que deverão ter existido dois Cortejos de Oferendas, uma vez que o primeiro aconteceu num dia de forte nevão e algumas localidades (incluindo os Forcalhos) não puderam participar. Não consegui confirmar essa informação, mas é bem possível que tenha sido essa a realidade. Se alguém tiver dados mais consistentes sobre isso, agradecia que colocasse um comentário.
PS 2 : Do sr. Luís Pina (da Rebolosa) recebi um e-mail com o seguinte conteúdo, a propósito da minha crónica sobre a participação da Rebolosa no Cortejo de Oferendas: «Fui procurar informação relativa ao dia em que a população da Rebolosa, foi ao Sabugal participar no Cortejo de Oferendas a favor do Hospital. Segue a informação que consegui: O carro de vacas utilizado no cortejo era do sr. Francisco Peres «Arrifano». A menina que estava em cima do carro, era a Isabel Barros, já falecida, esta menina tinha mais 7 irmãos, entre eles o sr. Manuel Barros, o sr. Ernesto Barros e a sra. Maria dos Anjos «Ti Marquitas». Também consegui a letra da música, cantada pelos representantes rebolosenses nas ruas de Sabugal, durante o cortejo.
Nós somos da Rebolosa,
Viemos ao Sabugal.
Ver esta terra formosa,
Ver este lindo hospital.
Viva Salazar, merece louvores,
Viva o hospital e seus protectores.
Viva o hospital, casa dos doentes,
Viva o hospital e seus dirigentes.
É uma consolação,
Para os doentes pobrezinhos.
Que quando para lá vão,
Têm quem lhes dê carinhos.
Viva a Rebolosa, terra encantadora,
Ó terra mimosa, terra sedutora.
Viva a mocidade, dança de contente,
Viva a Rebolosa, viva toda a gente.
Têm quem lhes dê carinhos,
Tudo que necessitam.
Remédios e tratamentos,
Muitas mortes evitam.
Viva a Rebolosa, terra encantadora,
Ó terra mimosa, terra sedutora.
Viva a Rebolosa, merece louvores,
Viva o Hospital e seus protectores.
Quero agradecer ao Sr. Manuel António Frango, toda a amabilidade e disponibilidade em fornecer toda esta informação sobre um dia que ficou na história e para a história do Concelho de Sabugal.»
«Memória, Memórias…», opinião de João Aristides Duarte
akapunkrural@gmail.com
A fotografia que apresento nesta crónica é a da tribuna, local por onde passaram todas as freguesias e anexas que participaram no Cortejo de Oferendas a favor do Hospital do Sabugal.

A tribuna estava instalada de frente para a Casa dos Britos.
Altas entidades, civis e militares, da época encontravam-se na tribuna.
Podem ver-se elementos da Guarda Nacional Republicana e, talvez, da Polícia de Segurança Pública, para além, com toda a certeza, do Presidente da Câmara Municipal do Sabugal e outras entidades civis concelhias.
A tribuna era ladeada por umas colunas enfeitadas com pano. Não se consegue ver se o tecto da tribuna era coberto.
Embora na fotografia todos os membros que se encontram na tribuna apareçam de pé, sei que havia umas cadeiras para eles se sentarem, talvez enquanto esperavam a chegada de outra representação alegórica.
Não tenho a certeza, mas penso que a bandeira que se vê ao centro da tribuna contenha o emblema da Santa Casa da Misericórdia do Sabugal, a proprietária do Hospital, que tinha sido inaugurado em 1930.
Aparece, também uma criança, na tribuna, que deverá ser familiar de algum dos membros presentes.
Julgo que seriam os membros presentes na tribuna que classificariam as várias representações alegóricas, que deram a vitória à Bendada, com o «carro-cisne».
Em baixo, do lado direito, com a mão no colete pode ver-se o Dr. Adalberto Pereira, à época médico conceituado na vila do Sabugal. Junto à Escola C+S do Sabugal, numa transversal, existe, desde há uns anos, uma rua com o nome desse médico.
«Memória, Memórias…», opinião de João Aristides Duarte
akapunkrural@gmail.com
«Seguem com a morosidade necessária as obras. Está-se procedendo à colocação das pedras para as janelas e portas em arco da fachada principal. (12-7-1931) (continuação.)
Na colocação de uma destas pedras um elo da corrente vem bater ainda num trabalhador de 15 anos a quem fiz o tratamento, aplicando três agrafes sobre uma ferida no coiro cabeludo, região parietal direita.
Varanda ou não varanda? É a discussão agora em dia na C. da Misericórdia. Parece que resolvem não aplicar a varanda, no tipo da varanda da casa onde está o depósito dos tabacos, com cuja decisão eu concordo, mas deveria aplicar-se a varanda com duas colunas como está na planta que vem do Porto, servindo-nos do cimento e vigas de ferro para fazer o suporte para as pedras que viriam da parede para as colunas e parte entre colunas. Não se faz com certeza este melhoramento na fachada principal, contudo é pena, porque traria embelezamento que mais tarde não poderá ter aplicação. Qual o motivo? A falta de capital que está quasi esgotado, a crise de falta de dinheiro, de desemprego, de carência é sempre um facto vulgar, banal que se encontra a toda a hora; como seria mais agradável que a crise fosse de abundância e que o nosso trabalho fosse todo no sentido de procurar arabescos bonitos, utensílios e desenhos complicados para poder aplicar o excesso de capita!!!»
As obras vão continuando com o assentamento das escadas exteriores e os carpinteiros avançam com a armação do telhado. No 18-09-1931 o sr. Dr. Manso escreve:
«Passei hoje pelas 11 horas a cavalo junto ao hospital e o seu aspecto agradou-me completamente, apesar de ser apenas o esqueleto sem as belezas da carne e dos enfeites…, mas com médico soube observar que o esqueleto está bem conformado…, venha o reboco, o pó d´arroz, o chapéu de “Marselha” e então preencherá os olhos do caminhante num doce enlevo de arte e de asseio…»
Mas, em Novembro desse ano, após a colocação do telhado as obras paralisaram completamente devido à falta de verbas: «Esperávamos da “assistência” grande verba e afinal tivemos uns 2.000$00!!
A falta de dinheiro é um mal tão espalhado que por mais lástimas que se chorem aos poderes públicos tão endurecidos por lá estão os corações, que não vem refrigério para tão grande mal, nem se lhe percebem lágrimas sentimentalistas perante as lágrimas compungidas das Mesericórdias…»
No próximo artigo vamos dar um salto temporal e ficaremos mais próximos da inauguração.
Romeu Bispo
(Provedor da Santa Casa da Misericórdia do Sabugal)
A «equipa» de Quadrazais, participante no Cortejo de Oferendas, no Sabugal, em 1947, é aquela que hoje é apresentada nesta crónica.

Na fotografia pode ver-se a frente da representação de Quadrazais, terra de grandes tradições.
Montado num cavalo, junto com uma quadrazenha, vestida com o traje típico da época, vai o Presidente da Junta de Freguesia, sr. Simão Salada. Este transporta numa das mãos o brasão da freguesia. O meu pai, que viveu na infância em Quadrazais, ainda hoje conta que as mulheres quadrazenhas usavam um traje muito semelhante às mulheres minhotas, inclusivamente com algum ouro que faziam questão de ostentar ao pescoço. Até nas danças eram parecidas com as mulheres do Minho. O seu traje era muito garrido, com cores berrantes (normalmente vermelho), tal como é uso e costume nas terras mais a norte de Portugal. Embora pareça estranho, por Quadrazais pertencer à Beira Alta, esta era a realidade.
Para evitar que o cavalo do Presidente da Junta de Freguesia se espante com a multidão presente, é puxado pela rédea por um habitante de Quadrazais.
Atrás do Presidente da Junta de Freguesia segue o desfile das moças de Quadrazais, com cestos à cabeça, certamente seguros por alguma sogra ou «molide».
Entre elas podem distinguir-se alguns homens de Quadrazais, vestidos com a moda da época (onde o chapéu era um adereço indispensável).
Entre o público presente (a foto foi tirada junto à tribuna) podem ver-se alguns agentes da autoridade e até um homem, à direita, com capacete (será um bombeiro?).
«Memória, Memórias…», opinião de João Aristides Duarte
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Mais uma freguesia representada no Cortejo de Oferendas, realizado em 1947 na (então) vila do Sabugal, a favor do Hospital. Desta vez é a Cerdeira do Côa, que se apresentou numa camioneta de carga, daquelas da época, com um pára-brisas dividido ao meio.

A camioneta tem escrito na porta «A. Gomes Telf. 87 Guarda». Seria de alguém que fazia transportes na Guarda, mas era da Cerdeira e a cedeu para participar no Cortejo de Oferendas? Ou os organizadores do desfile da Cerdeira alugaram a camioneta na Guarda?
Dentro da cabine da camioneta podem ver-se dois passageiros e o motorista (na época chamado «chauffer»).
Na carroçaria aparece um moinho de vento (nada típico da nossa região). Nas velas do moinho estão escritas palavras como «caridade», «humanidade» e «fraternidade».
Na frente da carroçaria lê-se «A Cerdeira Ao Hospital». Também se vê que a rodear o moinho estão vários ramos de árvores.
Lá atrás, em cima da carroçaria da camioneta, vão algumas raparigas da Cerdeira.
Não se consegue descortinar mais nada, através da fotografia, pelo que não sei se a Cerdeira desfilou com algum rancho de rapazes e raparigas, como o fez a maioria das freguesias ou só o fez com a camioneta.
«Memória, Memórias…», opinião de João Aristides Duarte
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A «equipa» dos Forcalhos no Cortejo de Oferendas, a favor do Hospital do Sabugal, apresenta-se com um grupo de jovens que transportam alabardas, tal como ainda hoje são usadas nas capeias e nos «passeios», em algumas aldeias da raia sabugalense.

Estão a desfilar junto à tribuna, onde se encontram as mais altas individualidades (à época) do concelho.
À frente vão dois jovens que transportam o cartaz onde está escrito o nome da freguesia. Ao seu lado esquerdo segue o tamborileiro, outra das figuras sempre presentes na raia sabugalense, nas capeias e nos «passeios» dos rapazes solteiros. Quem participa nos «passeios» diz-se que anda a «passear». O meu pai, que viveu em Aldeia Velha algum tempo, ainda hoje conta que foi convidado pelos rapazes dessa freguesia para ir «passear» com eles, pelas ruas da freguesia, por alturas das Festas de São João Baptista.
Mais atrás, do lado esquerdo, vê-se o porta-bandeira, que, com toda a certeza, fez o seu «bandear», como era (e é) costume fazer no pedido da praça, nas capeias e no chamado «passeio» dos rapazes que se pratica em localidades como Aldeia Velha, Aldeia do Bispo, Aldeia da Ponte ou Lajeosa.
Os moços que transportam as alabardas usam chapéu e, alguns, fato e gravata.
Entre as duas alas dos que transportam as alabardas encontra-se uma rapariga, que leva nas mãos uma «estampa» ou quadro, de que não se consegue identificar o motivo.
De todas as fotografias a que tive acesso, referentes às várias localidades do concelho de Sabugal, os Forcalhos são a única que desfilou com as alabardas e a bandeira multicolor usadas pelos rapazes nas capeias. Digamos que os Forcalhos foram a única freguesia do concelho que desfilou usando os símbolos de uma tradição que se mantém, ainda, em vigor. As restantes freguesias usaram outros meios para se fazerem representar no Cortejo de Oferendas, sendo que nem todas o fizeram com motivos vindos da tradição.
«Memória, Memórias…», opinião de João Aristides Duarte
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Chegou a vez da participação da Rebolosa no Cortejo de Oferendas a favor do Hospital do Sabugal, que teve lugar em 1947.

A Rebolosa está a desfilar à frente dos Fóios, já que se consegue vislumbrar o cartaz dos Fóios, lá atrás.
Um carro de vacas, enfeitado e com um chafariz (?) onde se encontra uma criança com uma bilha de barro, é o que dá início ao desfile da Rebolosa. O carro de vacas ainda é daqueles que tem as rodas de madeira (mais tarde apareceram uns que já tinham uma parte em ferro). Na parte de trás do carro pode ver-se uma rapariga sentada, transportando nas mãos uma coroa de flores.
No jugo que as vacas levam está o cartaz com o nome da freguesia: Rebolosa.
Logo atrás encontra-se outro cartaz onde está escrito «Oferece Mocidade da Rebolosa ao Hospital».
Atrás do carro de vacas desfilam uma série de jovens, de ambos os sexos, da Rebolosa, incluindo aqueles que transportam um novo cartaz com o nome da localidade.
«Memória, Memórias…», opinião de João Aristides Duarte
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Continuando com as localidades que participaram no Cortejo de Oferendas a favor do Hospital do Sabugal, que teve lugar em 1947, apresento, desta vez, os representantes de Malcata.

Os habitantes da «terra do lince» estão a desfilar junto à tribuna, perto da Casa dos Britos. Podem ver-se algumas das «altas individualidades» presentes a aplaudirem a passagem de Malcata.
Na frente seguem um homem e uma mulher do povo vestidos mesmo à moda da época.
O homem leva um «placard» onde está escrito «D. A. P. oferece uma casa». O que seria o D.A.P.?
As raparigas de Malcata que participam no desfile levam uma canastra na cabeça. Será que essa canastra teria alguma coisa dentro para ser oferecida ao Hospital? As moças desfilam com lenço na cabeça e um avental também branco. Já os rapazes de Malcata (só é visível um) levam camisa branca, calças pretas e chapéu.
Lá mais atrás, embora não se perceba muito bem, vê-se um «carro alegórico» de Malcata com uma plataforma onde vão duas raparigas de pé.
Para a semana regressa mais uma localidade que participou neste histórico Cortejo de Oferendas.
«Memória, Memórias…», opinião de João Aristides Duarte
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Da história da construção do hospital fazem parte alguns factos curiosos, mas para os contar nada como ler o ilustre sabugalense, Dr. Francisco Maria Manso.
«Das antigas muralhas de cintura do magestoso Castelo do Sabugal, restavam panos incompletos, cercados já por muros de quintas. A muralha era a parede divisória do quintal da família «Bigote» e da viúva «Canaveira». Mesmo ao cinto da parede divisória o pano de muralha estava quase completo. Na sua parte superior existia um velho carvalho todo coberto de «era», onde os rouxinóis em noites de luar subiam a gargear as suas serenatas, que muitas vezes ouvi extasiado.
Resolveu a C. da Mesericórdia construir o Hospital com o auxílio desta pedra e foi um pouco contristado que vi apear essas pedras que ali estiveram engrinaldadas de era durante séculos e que mereciam o respeito da nossa geração em nome Da esthética e para relembrar o esforço dos nossos avós levantando muralhas e castelos para manter a independência de Portugal e assegurar o seu pleno domínio.
Ainda propuz que não se demolisse esse pano de muralha e que conforme alguém lembrou se abrisse uma rua que passaria por baixo desse pano de muralha e seguiria quase em linha recta ao «teatro». A Comissão da Misericórdia não concordou e a pedra foi levada em carros de bois e camionetes para o local do hospital. O transporte foi gratuito e tanto os lavradores como os proprietários de camionetes (sr. Bartholomeu e Lucas) trabalharam com afan, querendo dar todo o esforço para a realização desta obra, mas as dificuldades não podiam tardar! Poucas pedras estavam ainda nos alicerces, quando se recebeu ordem telegráfica, endereçada ao delegado da comarca, para embargar as obras e levantar processo averiguando responsabilidades. Devia a origem ter sido qualquer conversa ou carta com o director dos Monumentos Nacionais, que tomou providências no sentido de salvar as muralhas. O Sr. Presidente da Câmara, falou neste sentido com o Sr. Governador Civil e d´ali vem ordem para continuar as obras. Continuaram… e poucos dias depois voltava outra ordem para suspender.
Foi uma comissão a Lisboa, composta do Presidente da Comissão da Misericórdia (Dr. Carlos Frazão), Presidente da Câmara (Afonso Lucas) e Dr. Galhardo que trouxeram ordens para as obras continuarem e foram recebidos com foguetes. Passado poucos dias vinha um engenheiro dos Monumentos Nacionais do Ministério da Guerra e avaliava as pedras da muralha em 8 contos que aquele ministério mandou que se pagasse… Por intermédio do Sr. Dr. João José Garcia, essa ordem ficou sem efeito e as obras livres para continuar.
As obras foram seguindo e quando um dos membros da Comissão da Misericórdia (Sousa Martins) regressava de dois meses de ausência, notava deficiências na aplicação da “cal” e como resolvesse medir o comprimento das paredes encontrou que o hospital tinha menos um metro e meio de que marcava a planta. Chamado o empreiteiro verificou-se que a fita métrica de que se servia tinha 3 centímetros a menos em cada metro.
Pediu-se a vinda de um técnico que condenou a obra e mandou que se desfizesse tudo o que estava feito… Intimado o empreiteiro… depois de várias peripécias desapareceu e os fiadores tiveram de arcar com as responsabilidades das clausulas postas na escritura e assim desfazer tudo o que estava feito, não obrigando a C. da Misericórdia ao pagamento da multa, por comiseração.»
Em Julho de 1930 escreve o Sr. Dr. Francisco Maria Manso: «Desfeitas as obras, modificou-se ligeiramente a planta e anunciou-se nos jornais nova arrematação».
Romeu Bispo
(Provedor da Santa Casa da Misericórdia do Sabugal)
Continuando com o «folhetim» das representações alegóricas das freguesias e localidades do concelho de Sabugal que participaram no Cortejo de Oferendas, a favor do Hospital, no ano de 1947, seguem-se os Fóios.

Na época esta freguesia era conhecida como o «calcanhar do mundo».
É mais que evidente o progresso dos Fóios, sobretudo desde o 25 de Abril de 1974. Essa alcunha não faz, realmente, qualquer sentido, hoje em dia. Mas a História é o que é.
Na fotografia podemos ver um «rancho» de raparigas dos Fóios trajadas a rigor, atrás dos dois rapazes que transportavam o cartaz com o nome da freguesia. Não sei qual era o tipo de traje que as raparigas usavam, mas é bem vistoso. Atrás das raparigas ainda se conseguem distinguir uns poucos de rapazes, integrando, também, a representação dos Fóios.
À frente de todos vemos um homem de chapéu e casaco. Seria o Presidente da Junta ou o Regedor, que indicava o caminho a seguir aos seus conterrâneos? Ou alguém da Organização do Cortejo de Oferendas, que estava incumbido da tarefa de indicar aos participantes a via que deveriam seguir?
Esta fotografia foi tirada perto da tribuna onde são visíveis as «altas individualidades» que eram saudadas pelos participantes (o rapaz que transporta o cartaz, do lado esquerdo coloca o chapéu na cabeça, após ter saudado a tribuna).
Apesar de eu não estar de acordo com o regime político vigente na época e o motivo que levou à realização deste Cortejo de Oferendas (o facto do Estado não garantir às populações serviços de saúde e terem que ser as pessoas a fazer estas manifestações para angariar fundos para o funcionamento do Hospital), tal não significa que não veja estas fotografias como um verdadeiro achado e agradeça imenso à mão amiga que as disponibilizou. Pode haver quem não goste de História, mas tal como escrevi num comentário, neste blogue, há uns tempos, «um povo sem História é um povo sem Futuro».
Nestas fotografias está um pouco da História do povo do concelho de Sabugal. Faço ideia do que seria este Cortejo de Oferendas, numa época em que não se passava (quase) nada. Um verdadeiro acontecimento.
«Memória, Memórias…», opinião de João Aristides Duarte
akapunkrural@gmail.com
A «Imagem do dia» e a «Imagem da Semana» são dois destaques em imagens sobre acontecimentos, momentos ou recordações relevantes. Ficamos à espera que nos envie a sua memória fotográfica para a caixa de correio electrónico: capeiaarraiana@gmail.com
Local: Junto à Casa dos Britos no Sabugal.
Legenda: Bendada foi a vencedora do prémio da melhor representação alegórica com o carro-cisne.
Autoria: Desconhecido.
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Continuando com as fotografias do Cortejo de Oferendas, realizado na vila do Sabugal, em 1947, para angariar fundos para o Hospital do Sabugal, apresento hoje a representação da Bendada.

A Bendada participou com um carro alegórico representando um cisne.
Segundo informações que recolhi, a Bendada foi a vencedora do prémio da melhor representação alegórica, atribuída pelo júri (constituído pelas altas individualidades do concelho, na época) que se encontrava numa tribuna instalada junto à Casa dos Britos.
Embora não seja visível nestas duas fotografias, o desfile da Bendada incorporou a Banda Filarmónica, ainda hoje existente. Das fotografias que me foram disponibilizadas por mão amiga, apenas há uma – que não digitalizei – onde é visível uma pequena parte da Banda Filarmónica da Bendada.
Desfilando atrás da representação da Bendada pode ver-se a de Pousafoles do Bispo.
Amigo leitor: esteja atento aos próximos episódios deste desfile. Há grandes surpresas para mostrar, ainda, a todos os cibernautas do concelho de Sabugal, das mais variadas localidades.
«Memória, Memórias…», opinião de João Aristides Duarte
akapunkrural@gmail.com
Como arraiano e natural do Concelho do Sabugal queria, mui modestamente, deixar aqui apenas um pequeno contributo, como uma achega, ao que o artigo de Romeu Bispo referiu acerca das notas do empenho do Sr. Dr. Francisco Maria Manso.
Era natural da minha terra, Aldeia do Bispo. Foi contemporâneo do meu avô paterno, cujo nome herdei. Era o médico da família. Recordo, às segundas-feiras, por volta das 15 horas, era dado um sinal, através do sino. As pessoas doentes ou precisadas de cuidados médicos dirigiam-se ao seu consultório. Muitas famílias estavam avençadas, como acontecia com a minha, e o valor das consultas anuais eram pagas em géneros, principalmente centeio. Como paciente não tenho recordações muito gratas. Com cerca de seis anos caí de um muro, na Rua Nova, e tive de ser suturado com três agrafes nos lábios e tive de extrair um ou dois dentes a sangue frio. Como homem e benemérito foi uma pessoa espectacular em favor dos outros, e, como médico e profissional, apesar dos fracos meios existentes, foi de uma conduta a todos os títulos meritória.
No Hospital do Sabugal, ignoro a data, foi submetida a uma intervenção cirúrgica ao apêndice a minha extremosa mãe, falecida há um ano, tendo feito parte da equipa o Dr. Manso. Outros episódios havidos, no hospital do Sabugal, existiram, mas de momento, não me recordo.
Mas o assunto principal prende-se, sobretudo com o Cortejo de Oferendas, então organizado, como forma de angariar fundos para custear as despesas da construção do hospital do Sabugal. Entre os principais impulsionadores esteve o Dr. Manso, entre muitos outros cujos nomes desconheço, embora saiba os de alguns.
Tive conhecimento que todas as aldeias se mobilizaram e participaram, dentro das suas parcas posses, porque os bens essenciais eram arrancados das terras, à custa de muito sangue suor e lágrimas. Lavradores de avultadas posses eram escassos, a população, na sua grande maioria, vivia da «jorna» ou da «jeira» ou do amanho das terras a «meias», «terças» ou «quartas».
Tive conhecimento, sobretudo através de relatos orais de pessoas mais idosas que Aldeia do Bispo se mobilizou e até, nessa altura, para assinalar a efeméride se criou um «Hino» da autoria do Sr. Dr. Francisco Manso, com a colaboração de outros conterrâneos e amigos que nos dias de hoje perdura, embora com ligeiras adaptações e alterações.
Como forma de ilustrar e justificar tal facto aqui deixo o Hino de Aldeia do Bispo.
Aldeia do Bispo avante
A cantar e a trabalhar
Cada seara ondulante Refrão
É um poema a vibrar
Vimos de terra arraiana
À festa do hospital
Trazemos cravos d’Espanha
E a alma de Portugal
O sol das nossas touradas
E as tardes de maravilhas
Erguem-se hoje em pinceladas
Neste lençol de mantilhas
Hoje, existem várias adaptações, conforme as circunstâncias e o cantor.
Entre as várias a mais usual é a seguinte (primeira quadra):
Somos de terra arraiana
Concelho do Sabugal
Trazemos cravos d’Espanha
E a alma de Portugal.
Manuel Nunes
Quando a história se mede por milhões ou milhares de anos, oitenta anos nesta visão global do Universo não tem grande significado, mas para os humanos significa uma vida e sabemos que não são todos os que atingem tal provecta idade. No sabugal contam-se pelos dedos aqueles que viveram e se lembram deste ano. Foi o ano do início da construção do Hospital da Misericórdia que funcionou muitos anos como Hospital concelhio.
Num caderno de Notas/Memórias do Sr. Dr. Francisco Maria Manso encontrámos o relato de uma empresa que, à data, envolveu praticamente todo o Concelho: «No espírito de todos estava a construção de um hospital, mas para a realização desta obra era preciso dinheiro e não existia”. “A assistência neste Concelho mal existia e algum dinheiro era gasto em presentes aos pobres, no dia de Natal, ou data solene, sendo esses presentes constituídos por arrôs, assucar etc…».
Fazendo parte da Comissão de Assistência Municipal foi o Dr. Manso que propôs a entrega das verbas sobrantes à Comissão da Misericórdia para constituição do fundo de construção do hospital: «Todos os membros da Mesericordia e lembramo-nos sobre tudo do sr. Joaquim Monteiro, José Augusto dos Santos e Afonso Dias, abraçaram a ideia com enthusiasmo a guardar religiosamente todas as migalhas da Mesericórdia para esse fim».
Colaborou com a Misericórdia o «Sr. Ismael Mota que como secretário da Câmara a todas as reuniões assistia e com grande enthusiasmo desejava também ver realizada a obra que a todos interessava».
Foi o Sr. Dr. Manso que emprestou 160$00 (cento e sessenta escudos) de uma vez e 200$00 (duzentos escudos) de outra para que as plantas fossem feitas pelo Sr. Antonio Braga Calheiros, posteriormente copiadas no Porto e mais uma vez alteradas na Guarda.
«Outra dificuldade foi saber onde e quem deveria aprovar a planta. Enviada ao Exmo. Sr. Mangas para Lisboa, este nosso conterrâneo e grande amigo do Sabugal, foi ao Ministério do Comércio com a respectiva planta e memorial e ali informaram que era com as obras públicas da Guarda. Fomos às obras públicas da Guarda e ali informaram que não era ali e não sabiam onde era! Seguimos para o Governo Civil e ali o Sr. Governador (Dr. Filipe) assumiu toda a responsabilidade e que se desse começo à obra.
Publicaram-se anúncios no «O Século» e «Diário de Notícias» e apareceram dois arrematantes, o Sr. Engenheiro do Fundão (Lobo) e o Sr. Francisco Dias, de Rebelhos.
O Sr. Engenheiro Lobo só tomaria conta da obra por 99 contos (paredes) e o Sr. Francisco Dias faria a obra por 100 contos pondo o telhado. Foi adjudicada ao último e feita a escritura de responsabilidade.
Deu-se início à obra em fim de 1929».
As dificuldades são de todos os tempos, porém veremos que as dificuldades daqueles tempos, tendo em conta os condicionalismos políticos e sociais da época, pareciam insuperáveis. Em próximo artigo poderemos compreender a razão da data de 1930 que está no frontispício do edifício.
Romeu Bispo
(Provedor da Santa Casa da Misericórdia do Sabugal)
Foi há 79 anos que foi erguido o hospital do Sabugal, equipamento que permitiu dar assistência na doença a uma população de mais de 36 mil habitantes que passava tempos difíceis.
Em 1995 tive ocasião de entrevistar para o jornal Sabugal, órgão informativo da Casa do Concelho do Sabugal, um grande sabugalense: o Ti Zé Cacau.
O velho carpinteiro, entretanto falecido, proporcionou-me a mais bela entrevista que já fiz e que, um dia, aqui reproduzirei. No meio da conversa, em que o Ti Cacau evocou os tempos antigos do Sabugal, falou-se na cerimónia de inauguração do hospital, onde o entrevistado estivera presente. Sendo senhor de uma memória prodigiosa, o Ti Cacau contou algo que recordava limpidamente:
«Da abertura do hospital, ainda recordo uma palavra do Padre Velho, de nome Manuel Nabais Caldeira, que a chorar disse: «Estou com os pés na sepultura, mas peço-lhes que nunca abandonem esta casa».
A recordação das palavras comovidas do velho carpinteiro foi-me agora proporcionada pelas preciosas fotografias e textos de João Duarte, que retratam os Cortejos de Oferendas, pelos quais se recolhiam donativos para construir e manter em funcionamento aquele equipamento público.
A história da construção do hospital do Sabugal merece ser contada. No frontispício do edifício, desde há quinze anos transformado em lar de idosos, está inscrita uma data: 1930. É essa a fotografia que ilustra este pequeno artigo e que serve de mote para o desafio que faço a que outros, à semelhança do João Duarte, contribuam para a recomposição da história do hospital do Sabugal.
«Contraponto», opinião de Paulo Leitão Batista
leitaobatista@gmail.com
Mão amiga arranjou-me mais algumas fotografias do Cortejo de Oferendas a favor do Hospital do Sabugal, que teve lugar em 1947 na vila do Sabugal.

O desfile onde participaram todas as freguesias do concelho percorreu as ruas principais da então vila.
Esta fotografia refere-se à representação de Vila Boa.
O público a assistir era muito. Nesta época ainda não tinha acontecido a grande vaga de emigração (sobretudo para França), que levou à perda de 60% dos habitantes do concelho. Essa vaga só surgiria na década de 1960.
Os homens mais velhos do público usavam chapéu. Era um adereço de moda, nesta época.
Vila Boa desfilou com crianças (que deveriam andar na escola e levavam cestos na cabeça), e um rancho de mulheres. Para acompanhar o rancho, musicalmente, Vila Boa fez-se representar por dois acordeonistas. Que tema musical estariam a tocar os acordeonistas?
Curiosamente, passados muitos anos (já no final do século XX) Vila Boa voltou a ter um Rancho Folclórico, que ainda hoje existe.
«Memória, Memórias…», opinião de João Aristides Duarte
akapunkrural@gmail.com
A foto reproduzida nesta crónica refere-se a um Cortejo de Oferendas, realizado a favor do Hospital do Sabugal, no ano de 1947. Quem está a desfilar é a representação do Soito.

A foto reproduzida nesta crónica refere-se a um Cortejo de Oferendas, realizado a favor do Hospital do Sabugal, no ano de 1947. Quem está a desfilar é a representação do Soito.
Era costume, por esta época e até posteriormente, realizarem-se Cortejos de Oferendas, onde a população do concelho se juntava para angariar fundos para alguma instituição.
O Estado não cumpria, efectivamente, o seu dever e não dotava as instituições (hoje chamadas IPSS) com as verbas necessárias para a realização de obras ou compras de material.
Nesta época o Hospital era propriedade da Misericórdia do Sabugal.
Nas imagens pode ver-se que a representação do Soito, nesse Cortejo de Oferendas, que se apresentou com uma espécie de Banda Filarmónica, só que com instrumentos forjados ou que não eram verdadeiros instrumentos musicais. Por exemplo, pode ver-se uma campânula de uma grafonola a servir de instrumento de sopro.
Claro que esta «Banda» não tocava. Era tudo a fingir.
O Soito teve uma Banda Filarmónica, que terminou em 1918, tendo os seus instrumentos sendo vendidos.
Talvez a vontade dos habitantes do Soito de poderem voltar a ter a Banda Filarmónica, os tivesse levado a desfilarem desta maneira.
O último Cortejo de Oferendas de que eu tenho conhecimento aconteceu aquando da visita do Presidente do Conselho (curioso existir ainda hoje um Ministério da Presidência do Conselho de Ministros, com 2.670 funcionários), Marcello Caetano à vila do Sabugal, no ano de 1969.
«Memória, Memórias…», opinião de João Aristides Duarte
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