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O mês de Agosto carrega sempre o secreto apelo do regresso às origens para os que estão longe. No concelho do Sabugal faz povoar as aldeias, abrir as persianas, lotar os bancos das igrejas e encher os lugares públicos com um estranho mas familiar linguajar mesclado aqui e ali de expressões e palavras de origem francesa. Mas, para muitos dos sabugalenses é o tempo da mãe de todas as touradas – a capeia arraiana – espectáculo único que andou escondido esotericamente nas praças das nossas aldeias e que, agora, de há uns anos para cá parece ter perdido a vergonha e tudo faz para se dar a conhecer ao mundo. A tradição manda que as touradas com forcão, precedidas de encerro, se iniciem na Lageosa no dia 6 de Agosto e terminem em Aldeia Velha no dia 25. E que se oiça bem alto o grito: «Agarráááio»
DIA | FREGUESIA | EVENTO |
3 e 4 | Soito | Garraiadas/Largadas |
6 | Lageosa da Raia | Encerro e Capeia Arraiana |
6 | Ruivós | Garraiada Nocturna com forcão |
7 | Soito | Encerro e Capeia Arraiana |
8 | Rebolosa | Encerro e Capeia Arraiana |
10 | Soito | Tourada à portuguesa nocturna |
12 | Aldeia da Ponte | Tourada à portuguesa |
13 | Aldeia do Bispo | Encerro e Capeia Arraiana |
13 | Seixo do Côa | Garraiada |
14 | Nave | Capeia Arraiana |
15 | Aldeia da Ponte | Encerro e Capeia Arraiana |
15 | Ozendo | Encerro e Capeia Arraiana |
16 | Vale de Espinho | Garraiada |
16 | Vale das Éguas | Garraiada nocturna com forcão |
17 | Alfaiates | Encerro e Capeia Arraiana |
17 | Fóios | Capeia Arraiana Nocturna |
18 | Soito | Festival «Ó Forcão Rapazes» |
20 | Forcalhos | Encerro e Capeia Arraiana |
21 | Fóios | Encerro e Capeia Arraiana |
25 | Aldeia Velha | Encerro e Capeia Arraiana |
Fonte: Rota das Capeias da Câmara Municipal do Sabugal |
«A Capeia Arraiana não é uma tauromaquia qualquer. Como uma espécie de religião em que se acredita, não basta assistir, é preciso participar, ir ao encerro, comer a bucha, beber uns goles da borratcha e voltar com os touros, subir para as calampeiras, ser mordomo, ser crítico tauromáquico, discutir a qualidade dos bitchos da lide ou, simplesmente, ser fotógrafo da corrida que não deixa ninguém indiferente, corre na massa do sangue, provoca um nervoso miudinho, levanta os pêlos do peito, atarracha a garganta e perturba o sono. É um desassossego colectivo que comove.» António Cabanas in «Forcão – Capeia Arraiana».
jcl
No primeiro fim-de-semana de Maio, dias 4, 5 e 6, vai realizar-se no concelho do Sabugal um encontro de agentes de viagem com o propósito de efectuar um levantamento das potencialidades turísticas da Região Beirã. (ACTUALIZADO)
O Encontro insere-se num Projecto de Desenvolvimento Turístico que visa promover e dar a conhecer as vertentes em que a região se destaca, sejam gastronómica, hoteleira, taurina, religiosa, histórica, paisagística e lúdica, entre outras.
O Encontro de Agentes de Viagem tem o seguinte Programa:
Sexta-Feira, 4 de Maio
21h00 – Chegada ao Sabugal com dormida no RaiHotel
Sábado, 5 de Maio
10h00– Visita guiada ao Museu Municipal e Castelodo Sabugal
11h30 – Porto de Honra na Casa do Castelo
12h30 – Partida para a aldeia do Casteleiro
13h00 – Almoço no Restaurante Gourmet Casa daEsquila.
15h00 – Visita guiada à Quinta dos Termos.
16h00 – Visita guiada a Sortelha. Actuação do Rancho de Folclórico de Sortelha. Lanche no Salão da Junta de Freguesia.
18h00 – Visita guiada à aldeia de Vila do Touro
20h00 – Jantar no restaurante O Pelicano
22h00 – Prova de vinhos Quinta dos Currais naCasa Villar Mayor. Prova de vinhos Gravato e Adega Cooperativa de CasteloRodrigo com Sessão de Fados de Coimbra.
24h00 – Chegada ao Sabugal com dormida no Hospedaria Robalo
Domingo, 6 de Maio
10h00 – Visita guiada às Termas do Cró.
11h00 – Visita às Casas Carya Tallaya.
12h30 – Visita ao Centro Histórico de Alfaiatescom passagem pelo Santuário de Sacaparte.
13h00 – Chegada Nascente do Côa.
13h30 – Porto de Honra noCentro Cívico de Fóios.
14h00 – Almoço no Restaurante Trutalcôa/Viveirodas Trutas.
A iniciativa está a ser organizada por pessoas interessadas em que o concelho do Sabugal progrida aproveitando o filão turístico.
Estão a prestar apoio a Câmara Municipal do Sabugal, Empresa Municipal Sabugal+, Juntas de Freguesia do Concelho, Casa de Turismo Rural de Villar Maior, Palheiros do Castelo, Casa Carya Tallaya, Casa da Villa-Turismo de Habitação/Sabugal, Vinhos Quinta dos Termos, Vinhos Gravato, Adega Cooperativa de Castelo Rodrigo, Caixa de Crédito Agrícola, Caixa Geral deDepósitos.
plb
A Câmara Municipal aprovou o plano anual de mercados e feiras a decorrer no concelho do Sabugal durante o presente ano de 2012. Muitas terras de pequena dimensão, em termos de moradores permanentes, conseguem manter o seu mercado mensal e a sua feira de ano, demonstrando por essa via a sua vitalidade.
Feiras (chamadas feiras de ano), por terem data de realização todos os anos e não mensalmente, como sucede com os mercados:
Badamalos: 24 de Agosto.
Casteleiro: 10 de Fevereiro, 10 de Maio e 10 de Novembro.
Quadrazais: segundo domingo de Agosto.
Rebolosa: 25 de Novembro.
Ruivós: segundo fim-de-semana de Março.
Ruvina: segunda-feira de Pascoela.
Sabugal: 29 de Junho.
Santo Estêvão: 15 de Março e 25 de Setembro.
Soito: primeiro domingo de Agosto.
Vilar Maior: 17 de Agosto.
Mercados, de realização mensal:
Aldeia do Bispo: primeira terça-feira.
Aldeia da Ponte: primeira segunda-feira.
Alfaiates: segunda quinta-feira.
Bendada: dia 12 de cada mês e às quartas-feiras entre os dias 22 e 29.
Bismula: último dia do mês.
Casteleiro: dia 10 de cada mês.
Fóios: último sábado.
Pousafoles do Bispo: segundo domingo.
Sabugal: primeira quinta-feira e terceira terça-feira.
Santo Estêvão: última quinta-feira.
Soito: quarta terça-feira.
Vale de Espinho: segundo sábado.
Vila do Touro: terceira quinta-feira
Os mercados e as feiras são sinais de vitalidade para a sede de concelho e para as freguesias que ainda os conseguem manter. Para além disso são geralmente de grande utilidade para as pessoas, que assim têm à porta um conjunto de bens essenciais que doutra forma teriam que ir comprar longe.
plb
Se houve pessoas que marcaram gerações no distrito da Guarda, uma delas foi sem duvida o Professor Henrique Varandas. Desde muito cedo, mostrou inclinação para as matemáticas, influenciado talvez pelo seu tio José Maria que, em Vale de Espinho, era um sábio conhecedor dos meandros da argúcia que não temia os indecifráveis e áridos problemas ou as sofisticadas adivinhas em que por vezes tropeçavam lentes e doutores que passavam pela sua oficina de sapateiro.
Filho da encruzilhada das famílias com grande história na aldeia, que foram os Varandas, os Tenreiras e os Esteves, os quais se espalharam um pouco por toda a parte e até pela Argentina, Brasil e por outros mundos fora, o Dr. Henrique Varandas não quis enterrar os seus talentos. Foi um dos primeiros a mostrar-nos o caminho dos estudos e da universidade, considerado como uma das quase únicas formas de ascensão social e de luta renhida contra aquelas serranias agrestes que nos rodeavam.
Pelo Liceu da Guarda passaram gerações de alunos e o pelo professor de matemática que era o Dr. Varandas tinham necessariamente de passar todos os alunos que frequentavam aquela lendária escola. Tinha a lógica matemática nas entranhas, mas também a palavra amiga na ponta da língua e com ele todos aprendiam aquilo que era para todos nós um bicho-de-sete-cabeças. Usava o método directo para cativar a atenção e o interesse dos alunos. Não falava em abstracto, para as paredes. Ao fazer a demonstração de um teorema, de uma equação ou de um outro qualquer bicho-careto da matemática, dirigia-se directamente para um aluno em particular, talvez para aquele que teria mais dificuldade em compreender, e, do principio até ao fim, auscultava, intuitivamente, a compreensão do aluno. Repetia, voltava a explicar por outras palavras até ver na cara do aluno o brilho dos seus olhos e a satisfação de ter apreendido aquilo que de outra maneira teria ficado nos limbos da incompreensão. Quantos valores não teria revelado este grande pedagogo? Não admira por isso que ao seu enterro tenham acorrido tantas testemunhas que, com a sua presença, quiseram prestar uma última homenagem a este homem que dedicou a sua vida ao ensino.
Também na sua terra de adopção – a Guarda – o Dr. Henrique Varandas não passava despercebido. Depois do jantar, deambulava por entre as ruas da cidade para oxigenar o espírito, contactar com os amigos, saborear o ar puro desta Guarda que tanto amava, e fazer a manutenção de um físico que tinha de estar convenientemente preparado para o jogo do ténis ou do golfo, e assim aguentar melhor os torneios que disputava com os seus próprios alunos, necessariamente mais novos que ele.
A alguns quilómetros de Vale de Espinho, onde o Dr. Henriques ia ser enterrado, precisamente no convívio do terceiro Capítulo do Bucho Raiano, e no momento em que decorriam as suas exéquias, vários amigos recordavam-no também com saudade. Todos, professores, alunos e amigos contavam um episódio, uma graça, uma atenção. O Dr. Joaquim Fernandes fazia-nos notar que já havia algum tempo que o não via na missa vespertina da igreja da Misericórdia. O Professor Santos Silva, antigo reitor da UBI, lembrava o seu excelente desempenho no lugar de professor naquela Universidade. Outros trouxeram à memória o tempo em que regeu as disciplinas de matemática no Politécnico da Guarda. Também eu não quis deixar de recordar o que tinha visto com os meus próprios olhos em Moçambique, quando visitei o Pe. Jacob, da Congregação de Cristo Rei, de Gouveia. Ao percorrermos as várias valências do seu apostolado, fez questão de me mostrar o tractor que o Dr. Henrique Varandas tinha oferecido para a sua missão, em Nampula.
Estávamos todos tristes por não ter podido estar presentes no enterro deste matemático, pedagogo, conterrâneo e parente, que nos deixa tantas saudades.
Joaquim Tenreira Martins
Manuel Rito Alves, ex-presidente da Câmara Municipal do Sabugal e actual deputado municipal, aceitou o convite da Associação de Freguesias da Raia Sabugalense para ser o seu delegado executivo. Transcrevemos um comunicado que nos chegou dessa Associação de Freguesias, que reúne Aldeia da Ponte, Aldeia do Bispo, Aldeia Velha, Alfaiates, Foios, Forcalhos, Malcata, Nave, Quadrazais e Vale de Espinho.
«A Direcção de AFRS (Associação de Freguesias da Raia Sabugalense) no uso das suas competências estatutárias convidou Manuel Rito Alves para seu Delegado Executivo.
Após algumas conversas sobre objectivos prioritários a prosseguir e meios mínimos necessários ao exercício do cargo alargadas aos Presidentes de todas as Freguesias envolvidas, houve acordo entre as partes.
Assim, desde o dia 1 de Fevereiro de 2012 o Sr. Manuel Rito Alves é o Delegado Executivo desta Associação, exercendo o cargo sem remuneração, com telemóvel da Associação, sendo ressarcido das despesas com deslocações e eventuais refeições e estadias que efectue no exercício do cargo, ou por causa dele, o que a Associação nesta fase de arranque muito agradece.
A Associação dispõe também, desde essa data, graças à colaboração da Sabugal+ E.M. e com o beneplácito da Câmara Municipal, de um balcão de atendimento no Centro de Negócios Transfronteiriços, no Soito, o que também agradece.»
plb
As aldeias do interior de Portugal, agora desertas, são objecto de uma intensa actividade literária.
Pessoas que as deixaram a aldeia há trinta ou quarenta anos, no fervilhar de uma intensa actividade, onde todos se debatiam na busca de melhores condições, procurando caminhos que se iam abrindo quer pela deslocação para as cidades do litoral, quer para terras estrangeiras, não as esqueceram. As ruas, as pessoas, os horizontes, até as pedras da calçada continuam presentes na nossa memória e acompanham-nos toda a nossa vida.
Alguns não conseguem calar mais este apelo da aldeia onde nasceram. E com um misto de memória, fantasia, imaginação conseguem recriar-nos um universo que é uma delícia para os mais velhos que também o viveram, mas ainda para os mais novos a quem os pais talvez ainda não tenham conseguido transmitir este ambiente, quer por falta de tempo, talvez de habilidade e, quem sabe, por ausência de memória.
Foi certamente esta a tarefa que se propôs o nosso amigo e conterrâneo Dr. Manuel Martins Fernandes, com o seu livro Memórias de Infância – Raízes do coração.
É um bonito livro. Lê-se com agrado. Percorre as ruas, os caminhos, os fontanários da aldeia. Lembra-nos pessoas, umas reais, outras fictícias. Mostra-nos hábitos, tradições… Uma aldeia assim volta a viver. Uma aldeia assim torna-se célebre porque o que está descrito já não morre. Perdura nos nossos corações. Cria raízes e daí o subtítulo bem apropriado: raízes do coração.
Na capa lá está a fotografia da casa dos pais onde Manuel Fernandes viveu a infância. Embora um pouco esfumada pelo tempo que já se encarregou de a substituir, ela continua sempre na memória do autor e na dos conterrâneos que também a conheceram. Foi lá que nasceu, que deu os primeiros passos, que recebeu todo o carinho da mãe e do pai e que cresceu juntamente com os outros irmãos.
Um escritor meu amigo do Porto disse-me um dia que todos nós temos que escrever as nossas memórias. O Manuel Fernandes já cumpriu o seu dever. Eu diria o seu prazer. Pois é sempre um prazer recordar a infância. Este é um tema universal que une todo o ser humano. Todos nós tivemos uma infância. E a infância é a ternura, a emoção, a pureza, um estado de graça onde todos gostaríamos de permanecer. É por isso que nos enternecemos tanto ao parar diante de uma criança.
Manuel Fernandes viveu a sua vida adulta no Porto onde é psicólogo clínico. Ocupou-se sempre da saúde dos adultos. Agora pretende dar saúde à nossa aldeia. Oxalá que com este livro lhe dê mais saúde, mais vida e, deste modo, a faça reviver.
Joaquim Tenreira Martins
E quando percebemos que já estamos em terras sabugalenses, parece que uma alma nova se apodera de nós e que o mundo é melhor!…
São três horas da tarde de quarta-feira, dia 22, quando paro o carro no fundo da rua da Tílias (onde, felizmente, ainda mora a minha mãe).
Para além do matar de saudades, esperam-me uns dias cheios e que começam logo às seis da tarde na:
1. Santa Casa da Misericórdia do Sabugal. Respondendo a um amável convite da Mesa da Santa Casa e do seu Provedor António Dionísio, tenho o prazer de assistir à festa de fim de ano desta Instituição que, em 2016, comemorará os 500 anos!
Idosos e crianças e seus familiares juntam-se num convívio intergeracional de grande intensidade emocional, não podendo deixar de salientar a clara cumplicidade existente entre utentes e pessoal que ali trabalha, numa prova viva de como estes trabalhadores se dedicam à Instituição e aos idosos e crianças para quem trabalham.
À Santa Casa, aos seus dirigentes e trabalhadores e às famílias sabugalenses que usufruem dos seus serviços, os meus sinceros parabéns!
Saído da Santa Casa, volto a pé (que é a melhor forma de amar o Sabugal), e passo, embora de forma fugaz, pelo Largo da Fonte onde têm início as
2. Festas de S. João. Sei que já não são as festas do antigamente (quando o meu pai e o Ti Alberto Espanha entusiasmavam os participantes com as suas actuações enquanto leiloeiros na «quermesse»!), e quando havia o baile dos «pobres» (à volta do coreto, em chão de terra) e o «dancing» dos «ricos» (os que pagavam a entrada e podiam dançar em piso de cimento!).
Mas lá estava o nosso «carvalho», vestido a preceito e com a respectiva «boneca» no topo! Que os percalços que a organização destas festas tão populares vem sofrendo, possam ser ultrapassadas e que o S. João volte a ser uma festa de referência no Concelho (sem dancing, claro…), são os meus mais sinceros desejos…
3. «Forcão Capeia Arraiana». 23 de manhã, desloco-me à Casa do Castelo onde a minha amiga Talinha me guarda um exemplar (autografado pelos autores António Cabanas e Joaquim Tomé) do livro «Forcão Capeia Arraiana». Não me tendo sido possível star presente no lançamento, a leitura que já fiz dos textos e a apreciação das fotografias, leva-me a dizer que este é um dos mais belos livros que já foram feitos sobre a nossa Capeia.
Obrigado a António Cabanas que não sendo do Sabugal, nos brinda com textos de rara sensibilidade e qualidade e ao Joaquim Tomé, nosso conterrâneo para quem certos sabugalenses tão madrastos foram.
As suas fotografias são o exemplo da sua competência enquanto fotógrafo, mas, e sobretudo, a prova do grande amor que o Quim tem pelo Sabugal, pela sua cultura e pelas suas tradições.
Um abraço também à Talinha e ao Romeu que continuam na sua saga de divulgar o Concelho, contra tudo e contra todos.
4. Festas de S. João em Vale de Espinho. Convidado pelo Carlos e pelo Ilídio Clemente, dois irmãos que este ano abraçaram a organização desta festa tão tradicional, voltei à que, como todos sabem, considero a minha segunda terra de nascimento, tais os laços familiares que me ligam a Vale de Espinho.
Ali assisti à leitura das «Famas», acompanhando as centenas de pessoas presentes nas risadas que as quadras mordazes iam provocando.
Não posso deixar de salientar os muitos «valedespinhêros» que se deslocaram de Lisboa, Porto, etc., para não deixar esta festa morrer. Grande exemplo de bairrismo e amor à terra!
E que novos Clementes se sintam motivados para organizarem o S. João para os anos que aí vêm!
5. Igreja de Badamalos. O dia seguinte leva-me a Badamalos onde o dinamismo do Padre Hélder bem apoiado pelos habitantes e naturais desta terra está a levar a cabo a recuperação da igreja.
Participo na iniciativa «Estaleiro Aberto», durante a qual nos é feita uma apresentação do decurso da obra. 39 dias de trabalho intenso que levaram à quase completa requalificação do espaço, a que se seguirá agora a requalificação das peças de arte sacra, com destaque especial para uma riquíssima capela-mor.
Badamalos pode e deve orgulhar-se deste trabalho, não podendo deixar de salientar o apoio que a Junta de Freguesia, a Câmara Municipal, o Governo Civil e a CCDR-Centro têm dado para que esta obra se concretize.
Não posso igualmente deixar de realçar o trabalho de restauro de antigas casas em granito que permitem que o centro de Badamalos seja hoje um exemplo a apontar e a seguir.
6. Assembleia Municipal. Mais um momento alto de democracia, pois quando este Órgão Autárquico se reúne, o sistema democrático local atinge a sua expressão máxima.
E saliento, enquanto Presidente da Assembleia, a forma empenhada com que todos os deputados municipais intervêm, votando em consciência os diversos assuntos que ali são levados, mas, e sobretudo, tornando muito rico o período de Antes da Ordem do Dia, momento em que cada membro pode expressar de forma livre a sua opinião.
7. Convívio dos Manéis. Infelizmente a minha estadia no Sabugal está a chegar ao fim. Não sem antes me associar a este convívio de «Manéis sabugalenses». Poucos sabem, mas também tenho Manuel no nome, e o prazer de estar mais um pouco com os meus conterrâneos leva-me a rumar à Sra. da Graça onde reencontro desde o Manel Rasteiro ao Manel Nabais, passando pelo Manel Ramos (e um grande obrigado à Maria pelo seu doce de ginja!…) e muitos outros amigos de infância, permitindo-me uma referência especial ao meu amigo e antigo vizinho Manel «Pidente» ali levado pela sua mãe, a quem tive também a alegria de abraçar depois de passados tantos anos… E para o ano, contem comigo!
Foi uma forma boa de me despedir e de terminar 4 dias de intenso e imenso Sabugal!
«Sabugal Melhor», opinião de Ramiro Matos
(Presidente da Assembleia Municipal do Sabugal)
rmlmatos@gmail.com
Alguns poemas populares alusivos às festas de São João, da autoria de Ilídio Gonçalves Clemente, natural da freguesia de Vale de Espinho, Concelho do Sabugal, a residir em Lisboa.
Está chegando a grande festa
A festa de São João
É a maior festa da terra
Ninguém pode dizer que não
Nas vésperas chega o fogo
Toda a noite a rebentar
Chega também a filarmónica
Toda a gente vai dançar
Da capela para a igreja
Vai Santo António a se juntar
Cada um no seu andor
Cada um em seu altar
Essa noite é de alegria
e não vos digo mais nada
Logo ao romper da manhã
a música toca a alvorada
Há baile toda a noite
no nosso Largo das Eiras
Essa noite tudo dança
Tanto casadas como solteiras
Á noite lê-se a fama
Como é nossa tradição
Todos querem ouvir versos
na noite de São João
Esta festa de São João
Estamos todos a esperar
É a melhor festa da Terra
Disso nos podemos orgulhar
Este ano os mordomos não aceitaram
Que a festa fosse para a frente.
Quem aceitou fazer a festa
Foi o Sr. Carlos Clemente.
Ilídio Gonçalves Clemente
Alicia Malladas Luraschi escreveu-nos da Argentina. É neta de Manuel Martins Malhadas, natural de Vale de Espinho, e pretende entrar em contacto com familiares em Portugal.
From: Alicia Malladas Luraschi
To: Capeia Arraiana
Subject: Procuro familiares em Vale de Espinho
Soy Alicia Malladas Luraschi, nieta de MANUEL MARTINS MALHADAS, nacido en Vale de Espinho en 1890, filio de Francisco ANTUNES MALHADAS y de Anna MARTINS LUCAS.
Tengo el proyecto de fazer turismo genealógico: conocer los pueblos de donde salieron mis abuelos y bisabuelos, en Portugal, España e Italia. Y me gustaría conocer Vale do Espinho y saber si quedan descendientes de los hermanos de mi abuelo: José Francisco, Nasaret y Gloria Martins Malhadas (nacidos 1895, 1889, 1892), o de sus medios hermanos: Julio y Simón MARTINS MOREIRA.
De este lado del Atlántico somos muy dados a la genealogía, y nos gustaría que los que se quedaron nos acompañaran en esta búsqueda de orígenes comunes.
Espero encontrar la manera de llegar y pasar unos dos o tres días en el pueblo, dentro de uno o dos años. Obrigada por los datos que me puedas dar. Puedo entender portugués.
Por parte de mi abuela, aparezco en este sitio: Aqui.
Un abrazo desde Buenos Aires
Alicia
Podem entrar em contacto com Alicia para: almalladas@hotmail.com
jcl
As nossas aldeias enchem-se no mês de Agosto, o tempo das capeias… Mas os dias outonais são deslumbrantes.
Nos finais de Outubro e começos de Novembro parece que Malhoa e Silva Porto andaram por ali a pincelar a paisagem em tons de amarelo, ocre, laranja, vermelho…
As vinhas, os castanheiros, os choupos, os plátanos, as árvores-do-âmbar, sobretudo em dias de sol, lavam-nos os olhos e limpam-nos a alma. E, quando chegamos a casa, temos ainda outros regalos à nossa espera: o caldo escoado, as castanhas assadas no borralho, a aguardente feita no alambique, uma febra assada nas brasas da lareira, uma generosa talhada de queijo mole pousada numa fatia de pão espanhol…
As fotos foram feitas no Sabugal, Vale de Espinho, Vila Boa e Pêga.
«Na Raia da Memória», opinião de Adérito Tavares
ad.tavares@netcabo.pt
Já lá vai o tempo em que as populações dos Foios e Vale de Espinho andavam de costas voltadas. Por tudo e por nada se implicava a ponto de algumas vezes se terem verificado agressões físicas.
Com o andar dos tempos tudo mudou para melhor. A emigração os estudos dos mais novos e até mesmo uma melhoria das condições sócio-económicas contribuíram para que os aspectos comportamentais se tivessem alterado profundamente.
Há poucos dias o Presidente da Junta de Freguesia de Vale de Espinho, tal como tem acontecido um pouco por todo o lado, programou um magusto que teve lugar hoje, dia 14, do corrente mês de Novembro.
O Presidente da Junta de Vale de Espinho manifestou interesse em que a Junta de Foios lhe pudesse emprestar o já famoso e gigantesco assador de castanhas. Assim aconteceu. Os elementos da Junta de Foios carregaram o assador, na carrinha da Junta, e lá o conduziram até à vizinha freguesia de Vale de Espinho.
Antes das castanhas as autarcas de Vale de Espinho brindaram todos os convidados, no salão da Junta, com uma carne entremeada e uns focinhos de porco.
Passado algum tempo a maioria das pessoas abandonaram o salão para se deslocarem para junto do assador das castanhas.
Ao Sr. Presidente da Câmara deu-se a honra de pegar num esqueiro e deitar lume às carquejas que previamente haviam sido cortadas e transportadas para o efeito. A Caruma é um bom combustível mas julgo que a carqueja resulta melhor.
Os cerca de quarenta quilos de castanhas foram assadas de uma só vez e em cerca de um quarto de hora.
Como o assador constituía novidade viam-se algumas máquinas fotográficas a disparar com a intenção de algumas pessoas poderem levar o magusto para bem longe.
Logo que as castanhas ficaram assadas deu-se autorização para as pessoas se poderem aproximar do assador e começarem a degustarem este saboroso fruto que bem regado com jeropiga e água pé proporcionou uma tarde bem passada às cinco ou sei de dezenas de pessoas que se dignaram associar ao acto.
Não posso deixar de referir o trabalho e o empenho da Secretária e da Tesoureira da Junta de Freguesia de Vale de Espinho. Não se pouparam a esforços para que tudo tivesse corrido bem.
O Presidente António Robalo, que já havia estado na Freguesia de Sortelha, fez questão de marcar presença e animado que estava com o ambiente sugeria que no próximo ano se possa programar um magusto em cada uma das quarenta freguesias tendo sempre em conta a animação musical que o povo muito aprecia e merece.
Parabéns à Junta de Freguesia e parabéns a Vale de Espinho.
Espantámos a crise, pelo menos por uma tarde!
«Nascente do Côa», opinião de José Manuel Campos
(Presidente da Junta de Freguesia de Foios)
jmncampos@gmail.com
Foi constituída, no dia 28 de Julho de 2010, a Associação de Freguesias da Raia Sabugalense (AFRS), que inclui Aldeia da Ponte, Aldeia do Bispo, Aldeia Velha, Alfaiates, Foios, Forcalhos, Malcata, Nave, Quadrazais e Vale de Espinho.
Há já algum tempo que os Presidentes de Junta iam promovendo encontros com vista à criação da AFRS. A uma determinada altura os presidentes entenderam por bem contactar com o advogado Victor Coelho para que ele, na qualidade de jurista, pudesse dar os passos necessários e convenientes tendentes à constituição da associação.
o acto aconteceu num ambiente onde se respirava um ar de felicidade visto que, ao fim de bastantes reuniões, com avanços e recuos, se pôde sentir que afinal valeu a pena.
Após conclusão da escritura os presidentes das respectivas Juntas marcaram uma reunião, para as 21 horas do dia seis de Agosto, na freguesia de Alfaiates, onde a AFRS vai ter a sua sede.
Nesse dia serão debatidos todos os aspectos formais e logísticos e no mês de Setembro associação estará em condições de poder fazer a apresentação, às mais diversas entidades, aprovar o regimento e elaborar o plano de actividades.
O ditado diz que uma caminhada começa num simples passo e nós, presidentes de junta das freguesias acima mencionadas, temos plena consciência de que já iniciámos a caminhada. O caminho é longo e sinuoso mas a vontade de podermos inverter a tendência da desertificação é enorme.
Todos temos plena consciência de que nas nossas freguesias todos anos morrem, em média, dezena e meia de pessoas e a maioria dos jovens partem para outras paragens visto que por cá os empregos são muito raros.
Sabemos que também teremos que ser unidos, acutilantes e ambiciosos. Todos temos consciência de que nada cai do céu. Entrámos em campo pelo que é necessário correr, sofrer e lutar até suar a camisola. A tudo isso estamos dispostos. Este é o ânimo do momento e queremos que prevaleça.
Também nos anima o facto de sabermos que temos uma Câmara e um Governo Civil dispostos a colaborar connosco, nos aspectos mais gerais. Não temos qualquer dúvida de que o Município do Sabugal, na pessoa do seu Presidente, Eng.º António Robalo, e o Governo Civil, na pessoa do Sr. Governador, Dr. Santinho Pacheco, são os nossos principais parceiros e aliados. É absolutamente necessário e conveniente que técnicos e políticos estejam dispostos a trabalhar connosco.
Também não nos deveremos esquecer de que as nossas freguesias são membros de pleno direito do Agrupamento Europeu de Cooperação Territorial – AECT Duero / Douro. Apenas Vale de Espinho não havia aderido mas o actual executivo está na disposição de também poder vir a integrar o AECT.
Com determinação e perseverança havemos de fazer um bom trabalho em prol das freguesias que representamos.
Para terminar pretendo reconhecer e agradecer a boa vontade, compreensão e empenho das seguintes pessoas: Dr.ª Paula Lemos, notária, sua ajudante Anabela, Dr. Victor Coelho e Ismael, Presidente de Junta dos Forcalhos.
O lema é: «Alma até Almeida». Todos ao forcão!
«Nascente do Côa», opinião de José Manuel Campos
(Presidente da Junta de Freguesia de Foios)
jmncampos@gmail.com
Manuel Leal Freire nasceu na freguesia da Bismula, concelho do Sabugal. Viveu grande parte da adolescência nas Batocas (Raia sabugalense) onde o seu pai era guarda-fiscal. Actualmente reside no Porto, onde tem um escritório de advogados, e em Gouveia, onde tem uma quinta. Aos 82 anos mantém uma memória impressionante e surpreende quem não o conhece por fazer discursos sem papel e em verso. Envolvidos em causas culturais e sociais, Manuel Leal Freire é o grão-mestre da Confraria do Queijo Serra da Estrela e mantém uma permanente actividade literária, publicando livros e colaborando em diversos meios de comunicação social. Um vulto com lugar na história cultural e literária das terras raianas e do concelho do Sabugal.
ROTEIRO
Das terras quentes ás frias
Do Casteleiro ás Batocas
Palmilhei todas as vias
Fui coelho em todas as tocas.
E qual tentilhão alaro
Que em todo o ramo faz ninho
Almocei em Santo Amaro
Fui cear a Vale de Espinho
Depois, já lebre montesa
Que nos restolhos faz cama
Abalei à sobremesa
Pra ir dormir à Espanha.
Corri á guisa do vento
Ao certo nem sei as léguas
Se a rota é mesmo a contento
As pernas não pedem tréguas
Por isso, se o mal me açula
As desgraças em matilha
Corro a correr pra Bismula
Ou para Alamedilha
Ali, cansado e bisonho
Pego sono em sonho brando
E entre os eflúvios do sonho
Eu sonho que estou sonhando
Freguesias são quarenta
Mas os burgos quase cem
Bom povo que se contenta
A dar o melhor que tem
Ninguém servirá alguém
De forma tão desprendida
Constantes no mal e bem
Na morte como na vida.
Os filhos deste concelho
São heróis todos os dias
Quem dera ver-me ao espelho
Nas quarenta freguesias.
Manuel Leal Freire
Na Raia Sabugalense o mês de Agosto rima com Encerros e Capeias Arraianas. Já falta pouco!

A sede da Casa do Concelho do Sabugal, na Avenida Almirante Reis em Lisboa, foi pequena para acolher todos os que quiseram estar presentes na sessão de fados ali realizada há 32 anos, na véspera da primeira Capeia Arraiana no Campo Pequeno.
Seguimos editando fotos alusivas ao ano de 1978.
O dia 3 de Junho foi intenso para os sabugalenses que aderiram às iniciativas da então jovem Casa do Concelho do Sabugal. Durante o dia decorreu o habitual convívio anual, iniciado em 1975, com um grandioso piquenique no parque do Seminário dos Olivais, que juntou centenas de pessoas. À noite houve fados e guitarradas na sede da Casa. A sessão foi longa e vivida com abundante alegria. Os fadistas eram amadores e oriundos da nossa região e de Trás-os-Montes.
Nesse fim-de-semana intenso realizou-se ainda, no domingo de manhã, um encontro de futebol entre uma equipa da Casa e outra da Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro. Mas a maior iniciativa estava marcada para o domingo à tarde, na praça de touros do Campo Pequeno: a tourada com forcão, a que os organizadores chamaram Capeia Arraiana.
Numa das fotografias acima editadas pode ver-se o então presidente da Câmara do Sabugal, o Dr Lopes, de Vale de Espinho, que, acompanhado pelo vice-presidente da Casa, Adelino Dias, se dirige aos que nessa noite memorável foram assistir à sessão de fados.
plb
Carlos Alberto Marques, professor nascido em Vale de Espinho, freguesia raiana do concelho do Sabugal, deixou preciosíssimos estudos acerca da vida dos povos de Riba Côa, com abundantes referências aos costumes e tradições populares.
Professor no liceu da Guarda, onde leccionou Geografia, Carlos Alberto Marques, foi um dos mais prestigiados pedagogos do seu tempo, dado o empenho que colocava na docência e a permanente disponibilidade para o estudo.
De cariz científico, enquanto geógrafo, realizou e publicou dois estudos fundamentais: «A Serra da Estrela» e «A Bacia Hidrográfica do Côa». Ambos os livros foram fruto do seu labor, sobretudo visível no trabalho de campo, que realizou em complemento à leitura dos estudos já publicados. De lápis e bloco de notas em punho, o «Geógrafo da Côa», come lhe chamou Pinharanda Gomes, embrenhava-se nos barrocais da serra ou nos desfiladeiros dos rios, anotando a vegetação, a fauna, a composição dos solos e das rochas e demais elementos de interesse para a caracterização dos lugares.
Amante do conhecimento, também estudou os costumes e as tradições do povo raiano, culminando na publicação do livro «Notas Etnográficas de Riba Côa», onde reuniu alguns dos trabalhos saídos da sua pena. Aí descreve as técnicas ancestrais de caça e pesca usadas pelo povo na luta pela sobrevivência. Também anota as impressões de uma montaria aos javalis na serra da Marvana, onde costumava acompanhar o grande monteiro da raia, Francisco Maria Manso. Fala também da inevitável capeia arraiana, nas fogueiras de S. João e S. Pedro, assim como das artimanhas dos contrabandistas de Quadrazais e do cerimonial religioso e profano designado por «Fama dos Santos».
Elucidativo, é o texto intitulado «As Matanças», em que descreve um dia passado em casa de Manuel Coelho, lavrador da Junça, localidade do concelho de Almeida. Nessa manhã o lavrador, família e amigos mataram o marrano, trabalho de cerimonial antigo, pelo qual se garantia a abastança da casa para todo o ano e que nenhum dos habitantes remediados da aldeia dispensava.
Depois do porco morto, chamuscado, lavado, dependurado e aberto, vem o almoço da matança que junta toda a família e os que vieram ajudar no trabalho:
«O tardio almoço está nas mesas (a dos matadores, a dos velhos e mulheres e a das crianças) e toda a gente se lava em duas águas. Muito vinho, substanciosos pratos de carne de porco do ano anterior, arroz, pão e o indispensável e fresquíssimo fígado assado, com azeite e vinagre, ou guisado e com batatas cozidas à parte. Há saúdes e cumprimentos: “que de hoje a um ano o vinho corra pelo mesmo cano e se mate outro marrano, que Deus dê saúde aos de casa para comerem o porco, que a alegria e a paz reinem sempre naquela casa como no presente dia”… Depois a reza, a acção de graças e os Padres-Nossos pelas almas dos mortos da família. As raparigas lavam e arrumam as louças, enchem as morcelas, cosem as tripas enquanto os homens vão à sua vida ou jogam a bisca, entornando copos de vinho.»
«Sabores Literários», crónica de Paulo Leitão Batista
leitaobatista@gmail.com
Recebemos este texto de Sérgio Paulo Silva, o caçador de Salreu, Estarreja, que gosta de calcorrear os campos da raia sabugalense, onde manifesta o seu desagrado pela poluição visual que agora ali abunda.
Aída Acosta, espanhola de S.Martin de Trevejo, Cáceres, escreve poemas e tem uma paixão indisfarçável pela Raia (de que às vezes nos dá testemunho no seu blog «Lluvia de Libélulas») como seu pai, também poeta, que no conjunto da sua obra escreveu um poema que é um hino à bravura e à sensibilidade dos contrabandistas portugueses da raia. Aída Acosta, espanhola, desde Ciudad Rodrigo ou do seu pueblo, escreve poemas como há muitos séculos escrevia Cervantes ou como agora tantos outros escrevem, e em cada dia trava outra batalha espalhando a sua voz plural pela internet contra a instalação de torres eólicas na Sierra de Gata.
Ao meu computador chegou o seu grito e as imagens do mal que invadiu a sua querida serra, imagens que me doeram na alma porque eu também dividi o meu querer raiano pelos montes de lá, agora escancarados aos ventos, e porque à minha porta conheço o escarro. Nos Fóios e em Vale de Espinho, no Sabugal profundo, foram colocadas torres de produção de energia eólica. Em nome da energia limpa deram a essas pobres aldeias a poluição paisagística e sonora. Os benefícios financeiros são irrisórios e as escolhas foram dirigidas estrategicamente para aldeias de populações envelhecidas e rarefeitas onde a capacidade de protesto e resistência são nulas. À falta de outros investimentos que bem mereciam, os responsáveis locais aceitam as eólicas como as putas da estrada aceitam qualquer cliente por mais nada lhes restar. E a nódoa fica e multiplica-se.
D. Quixote, como o teceu Cervantes, via a besta nos moinhos e ergueu contra eles a sua lança. Aída Acosta, tantos séculos depois, queima todo o seu amor pela raia clamando contra as pás fantasmagóricas que invadem as serras. Sei do que fala e o que sente. Apaixonei-me, eu que sou do mar, pelos horizontes raianos e aprendi de cor os seus trilhos e cheiros, os contornos de cada monte. Agora, quando caminho por essas aldeias, já não quero olhar o longe, abrir desmesuradamente o coração. Quando vem o tempo do calor, sigo pelas veredas olhando para o chão onde alguns chupa-mel me podem emprestar um pouco de ternura e, no tempo frio, posso perceber a presença das perdizes. Não, não quero olhar todos os longes da raia porque já não tenho a força da seiva raiana da Aída e sei como foi inútil a valentia do Quixote.
Sérgio Paulo Silva
María Laura Piris enviou-nos um e-mail das terras do tango à procura das suas referências e de familiares em Vale de Espinho.
From: María Laura Piris
To: Capeia Arraiana
Subject: Procura de parentes na aldeia de Vale de Espinho
Mi nombre es María Laura Piris. Soy argentina, vivo en Zárate, provincia de Buenos Aires.
Mi abuelo paterno era portugués nacido en Vale de Espinho, Sabugal.
Su nombre era Alexandre Pires dos Santos, cuando ingresó a Argentina le cambiaron el apellido (Pires por Piris) Vino a Argentina en el año 1920.
En Sabugal quedaron tres hermanas de él. Me gustaría saber si hay algún descendiente de la familia para contactarme.
Desde ya muchas gracias.
María Laura Piris
Contacto de María Laura Piris: mlaurapiris@hotmail.com
jcl
O título será este ou um muito parecido. Ficará decidido na próxima reunião que vai ter lugar em Aldeia da Ponte no dia 27 do corrente mês de Fevereiro. Na verdade a Associação «Terras do Forcão» começa a tomar forma.
No passado dia 13 realizou-se, no Centro Cívico de Foios, a primeira reunião que contou com presença de presidentes e outros elementos das respectivas Juntas.
Visto que todos os presentes sabiam para o que vinham não foi necessário dar grandes explicações. Abriu-se a sessão tendo todos os presentes usado da palavra para exporem os respectivos pontos de vista.
Ficou decidido que todas as Juntas iriam solicitar uma reunião, aos presidentes das assembleias de freguesia, para explicar aos respectivos membros no que consiste e o que se pretende com a criação da associação e ao mesmo tempo, poderem dar o aval.
Para que não se corresse o risco de ferir susceptibilidades foi decidido integrar na futura e hipotética associação as seguintes freguesias. Por ordem alfabética:
1 – Aldeia do Bispo;
2 – Aldeia da Ponte;
3 – Aldeia Velha;
4 – Alfaiates;
5 – Foios;
6 – Forcalhos;
7 – Lageosa;
8 – Malcata;
9 – Quadrazais;
10 – Soito; e,
11 – Vale de Espinho.
As primeiras seis freguesia estiveram representadas na reunião do dia 13 e alguns presidentes, das restantes cinco, telefonaram a justificar a falta.
Naturalmente que na associação apenas entrarão as Juntas que assim o entenderem. Estamos em democracia e é de forma democrática que deveremos trabalhar.
No final da reunião os elementos da Junta anfitriã – Foios – convidaram todos os colegas para um jantar convívio que teve lugar no restaurante «Eldorado». Ou não fosse o primeiro dia dos circuitos gastronómicos.
Depois do jantar o convívio continuou tendo-se visitado as restantes capelinhas da terra.
A associação começou bem. Entrou-se com o pé direito.
Deus permita que tivesse sido em boa hora e que a dita possa contribuir para o progresso e desenvolvimento desta região e do concelho em geral. Bem necessitamos.
Na reunião do dia 27 já serão analisados e discutidos os estatutos bem como o regulamento interno.
Se algum jurista, ou qualquer outra pessoa que esteja preparada, estiver disposto a ajudar-nos agradecemos, muito sinceramente.
José Manuel Campos
(Presidente da Junta de Freguesia dos Fóios)
A convite do Sr. Presidente de Junta da Freguesia de Vale de Espinho, Sr. José Manuel Lucas Mendes, participei no almoço convívio que teve lugar no salão do edifício da Junta de Freguesia, no passado sábado, dia 19 de Dezembro.
Confesso que gostei. Gostei do javali e gostei igualmente de ver muita gente, sobretudo da Freguesia, com um ar simpático e feliz. Foi uma verdadeira festa de Natal.
Participaram também neste convívio os Senhores Presidentes da Assembleia e da Câmara Municipal, Ramiro Matos e António Robalo, respectivamente. Tive a oportunidade de os ver e ouvir a analisar e a discutir assuntos relacionados com o Município. É assim mesmo, Senhores novos autarcas. É, de todo, necessário e conveniente, que todos nos saibamos envolver em torno do progresso e do desenvolvimento do Concelho.
Agradeço o convite ao novo Presidente da Junta de Freguesia de Vale de Espinho. Durante a conversa que travámos tive a oportunidade de lhe manifestar a minha total disponibilidade para tudo quanto necessário e possível. É importante saber praticar a política da boa vizinhança.
«Nascente do Côa», opinião de José Manuel Campos
(Presidente da Junta de Freguesia dos Foios)
jmncampos@gmail.com
Ao sétimo dia de campanha o ex presidente da Câmara e actual presidente da Assembleia Municipal, António Morgado, juntou-se à comitiva socialista e tomou a palavra para defender o voto em António Dionísio.
António Morgado acompanhou no dia 5 de Outubro, a campanha do Partido Socialista, tomando mesmo a palavra nos comícios realizados nos Fóios, em Vale de Espinho, Quadrazais e na Torre. O actual presidente da Assembleia Municipal, eleito nas listas do PSD, que desta vez não é candidato, explicou as razões porque decidiu apoiar a candidatura de António Dionísio e teceu duras criticas à maioria que governa o Município.
«Nestas eleições não há motivos para votar a pensar nos partidos. Devemos pensar antes nas pessoas, e a pessoa que melhor pode representar o concelho e fazer um mandato válido é o António Dionísio. Por isso lhe dou o meu apoio», justificou o ex-presidente da Câmara, que decidiu envolver-se directamente na campanha autárquica sabugalense.
António Morgado, pediu mesmo desculpa aos sabugalenses por ter apoiado a equipa que constitui o executivo actual, afirmando ter-se enganado redondamente ao acreditar que a mesma estava à altura das exigências: «mostraram-se incapazes, e nada digno de registo fizeram durante estes quatro anos, pelo que não merecem ser eleitos para um novo mandato».
Na Torre, a sua terra natal, António Morgado fez o discurso mais eloquente, pedindo aos seus conterrâneos que votem na mudança.
António Morgado já tinha dado sinais de apoio à candidatura do PS, nomeadamente quando em Agosto apareceu ao lado de António Dionísio no Festival «Ao Forcão Rapazes» e quando marcou presença na apresentação das listas de candidatos do PS no dia 20 de Setembro. Porém esta aparição na campanha socialista ultrapassou as expectativas.
plb
Os outdoors, vulgarmente conhecidos por cartazes, da campanha eleitoral do candidato António Robalo foram vandalizados em três freguesias.
(Clique nas imagens para ampliar.)
Os cartazes do candidato social-democrata à Câmara Municipal do Sabugal, António Robalo, foram vandalizados nas freguesias de Vale de Espinho, Aldeia Velha e Soito.
Uma nota emitida pelo director de campanha, Vítor Proença, dá conta que «vai ser feita queixa contra desconhecidos junto da GNR do Soito e da Comissão Nacional de Eleições».
As aldeias do concelho do Sabugal receberam durante o mês de Julho os cartazes de António Dionísio (PS) e de Joaquim Ricardo (MPT) e mais recentemente – há cerca de uma semana – começou a aparecer a propaganda do candidato António Robalo que é agora motivo de queixa às autoridades.
Recorde-se que para 27 de Setembro estão marcadas as eleições legislativas (deputados à Assembleia da República) e para 11 de Outubro as autárquicas desdobradas em três boletins de voto: Assembleia Municipal, Câmara Municipal e Juntas de Freguesia.
1- Não deixa de ser curioso que o legislador tenha dada a mesma importância às três eleições e tenha «obrigado» ao voto em três boletins. Mas… não deixa de ser, igualmente, curioso que nos cartazes já afixados dos três partidos (MPT, PS e PSD – por ordem alfabética) apenas aparecem as caras dos candidatos a Presidente da Câmara quando o número um à Assembleia Municipal e o primeiro da lista à Junta da Freguesia estão colocados democraticamente no mesmo patamar de importância. Considero até que para alguns candidatos seria – ou não – uma mais-valia a presença da imagem do seu número um à Assembleia Municipal. «Coisas» das campanhas da nossa democracia.
2 – Não deixa de ser curioso que num dos outdoors ainda é vísivel uma escada encostada à estrutura.
jcl
José Manuel Mendes Gomes escreveu-nos do Brasil à procura das suas referências e de familiares em Vale de Espinho.
From: José Manuel Mendes Gomes
To: Capeia Arraiana
Subject: Procura de parentes na aldeia de Vale de Espinho
Sou José Manuel Mendes Gomes, nascido em Vale de Espinho, filho de José Gomes e Maria Teresa, moro no Brasil e imigrei para cá no ano de 1949 com 12 anos e gostaria de me comunicar com alguém da minha familia que ainda mora ai. (Familia Gomes e Familia Tereso).
Aguardo qualquer notícia.
Grato desde já.
Um abraço
José Manuel Mendes Gomes
Contacto de José Manuel Gomes: jmgomes2008@ig.com.br
jcl
As aldeias de Vale de Espinho e de Alfaiates, no concelho do Sabugal, estão de luto. O mini-bus envolvido num trágico acidente de viação em França onde perderam a vida quatro portugueses e cinco ficaram gravemente feridos era conduzido por Joaquim Vicente, morador em Alfaiates, que faleceu no desastre. Entre as vítimas conta-se ainda um casal de emigrantes natural de Vale de Espinho.
As quatro vítimas mortais e os cinco feridos do acidente ocorrido, no sábado, em França, são emigrantes na região de Paris naturais do Sabugal e de Gonçalo no distrito da Guarda. O motorista Joaquim Vicente, que faleceu no desastre, vivia em Alfaiates e tinha larga experiência de transporte de emigrantes. Entre as vítimas contam-se Manuel José Dias Martins e a esposa Lídia Varandas, naturais de Vale de Espinho.
O mini-bus que transportava os emigrantes portugueses de volta a Portugal para iniciar as férias de Verão despistou-se na auto-estrada A20 pelas 12.45 horas locais numa descida em Bonnac-la-Côte, perto de Limoges.
As circunstâncias do acidente ainda não estão esclarecidas mas sabe-se que o táxi português, que levava um atrelado, terá embatido noutro automóvel, ainda na sua faixa, antes de perder o controlo e atravessar o separado central da auto-estrada e chocar na faixa contrária com um carro holandês ou outro francês. O condutor holandês morreu e os seus dois filhos sofreram ferimentos graves. No total estiveram envolvidas no acidente quatro viaturas e 18 pessoas, cinco das quais escaparam ilesas.
Em declarações à agência Lusa o presidente da Junta de Freguesia de Alfaiates, Francisco Baltasar, informou que «Joaquim Vicente, de 63 anos, era um profissional com uma empresa de transporte de passageiros sediada em Landes, França, há cerca de 20 anos e que fazia regularmente este tipo de viagens entre Portugal e França transportando emigrantes da região».
O acidente vitimou ainda o casal Manuel José Dias Martins e a esposa Lídia Varandas que eram naturais da freguesia de Vale de Espinho. O Jornal de Notícias relata a emoção vivida por José Joaquim e Rosa Fernandes, moradores em Vale de Espinho, no Sabugal, que ainda não acreditam no que aconteceu aos vizinhos Manuel e Lídia. «Temos as chaves da casa. Contávamos com eles a qualquer momento. Quando recebemos a notícia do acidente, a meio da tarde de sábado, foi um choque muito grande» confessa Joaquim visivelmente inconformado com a sorte dos vizinhos e amigos. «A Lídia tinha uma paixão pelas suas flores», lembra Rosa Fernandes, apontando as hortenses azuis na moradia onde casal, emigrado perto de Paris, e agora reformado passava muitos meses do ano.
«Ele trabalhou muitos anos nas obras. Era pintor. Ela dedicava-se a trabalhos domésticos. Fizeram vida e criaram dois filhos que por lá continuam. Mas nunca deixaram de vir aqui passar uma temporada», recorda ao JN, Maria dos Anjos Pires, outra vizinha e amiga de infância.
O mês de Agosto simboliza para muitos emigrantes as vacances e o regresso às origens. As terras do Sabugal enchem-se de emigrantes, de festas e alegria. Infelizmente este ano tudo começou de forma trágica.
Às famílias enlutadas o Capeia Arraiana endereça sentidos pêsames.
jcl
Com o mês de Agosto chega a época grande das Capeias Arraianas nas terras junto à Raia no concelho do Sabugal. Cumprindo a tradição, as touradas com recurso ao forcão, precedidas do também tradicional encerro, trarão alegria e emoção às nossas aldeias.
DIA | FREGUESIA | EVENTO |
19-07 | Aldeia da Ponte | Cartel de Variedades |
06-08 | Lageosa da Raia | Capeia Arraiana |
07-08 | Soito | Capeia Arraiana (nocturna) |
08-08 | Ruivós | Capeia Arraiana (nocturna) |
09-08 | Soito | Exibição de recortes |
09-08 | Aldeia da Ponte | Tourada à Portuguesa |
10-08 | Aldeia do Bispo | Capeia Arraiana |
10-08 | Seixo do Côa | Garraiada |
11-08 | Soito | Capeia Arraiana |
12-08 | Ozendo Rebolosa |
Capeia Arraiana |
14-08 | Nave | Capeia Arraiana |
15-08 | Aldeia da Ponte | Capeia Arraiana |
17-08 | Alfaiates Forcalhos Vale de Espinho |
Capeia Arraiana |
18-08 | Fóios | Capeia Arraiana |
20-08 | Vale das Éguas | Capeia Arraiana (nocturna) |
22-08 | Aldeia da Ponte | Festival «Ó Forcão Rapazes» |
25-08 | Aldeia Velha | Capeia Arraiana |
Para os interessados, divulgamos desde já o calendário das Touradas de 2009.
Comecemos pelas Capeias (touradas com forcão) que, como é costume, abrem na Lageosa e encerram em Aldeia Velha:
Lageosa da Raia, dia 6.
Ruivós, dia 8 (nocturna).
Aldeia da Ponte, dia 9.
Aldeia do Bispo, dia 10.
Soito, dia 11.
Ozendo e Rebolosa, dia 12.
Nave, dia 14.
Aldeia da Ponte, dia 15.
Alfaiates, Forcalhos e Vale de Espinho, dia 17.
Fóios, dia 18.
Vale das Éguas, dia 20 (nocturna).
Aldeia Velha, dia 25.
No Seixo do Côa, a 10 de Agosto, realiza-se uma também tradicional garraiada, mais propriamente chamada «tourada à vara larga»:
A Praça de Touros de Aldeia da Ponte recebe também alguns espectáculos tauromáquicos.
Ainda em Julho, no dia 19, haverá Variedades Taurinas com cavaleiros praticantes e amadores, assim como novilheiros e forcados.
A 9 de Agosto a mesma praça de touros recebe a sempre muito aguardada Tourada à Portuguesa, com cavaleiros profissionais, organizada pela Associação «Amigos de Aldeia da Ponte».
Momento muito aguardado todos os anos é o Festival «Ó Forcão Rapazes», que na tarde do dia 22 de Agosto se realiza também na Praça de Aldeia da Ponte, onde 9 equipas representativas das aldeias raianas (Alfaiates, Aldeia do Bispo, Aldeia da Ponte, Aldeia velha, Fóios, Forcalhos, Lageosa da Raia, Ozendo e Soito) exibirão a melhor arte de pegar ao forcão.
plb
Estando a época das capeias arraianas a iniciar-se nas aldeias do concelho do Sabugal, e quando se fala no registo dessa tradição única do mundo, resolvemos compilar algumas citações de livros que falam sobre a tourada com forcão. Não há dúvida que esta é, a par com a do castelo de cinco quinas, a nossa melhor imagem de marca.
A assistência põe-se de pé, grita, chora e atira imprecações ao touro: Ai o meu homem que já o mataram! Acudam ao desinfeliz que já o levou o diabo! Jesus, Jesus, o burro do meu filho morto! Eh vaca excomungada, raios te partam, estupor!… Passado o lance, volta o sossego, a alegria, o burburinho.
Carlos Alberto Marques, in «Algumas Notas Etnográficas de Riba Côa».
Ainda hoje se fala na fatídica tarde em que o touro matou um rapaz, subindo para tal alguns degraus duma escada, puxando-o com os dentes para o curro e estoirando-o depois.
Franklim Costa Braga, in «Quadrazais, Etnografia e Linguagem».
Quando a gente de Forcalhos não for capaz de dominar o touro, os moços das aldeias próximas pedem para que os deixem correr esse touro no dia da sua festa, numa manifestação de emulação sócio cêntrica, habitual entre grupos vizinhos.
Ernesto Veiga de Oliveira, in «Festividades Cíclicas em Portugal».
Em toda a geografia ibérica e mesmo mundial o Forcão apenas existe numa estreita faixa de terreno limitada ao norte pelo rio Côa, ao sul pela serra da Malcata, o Ocidente pela serra da Estrela e a oriente pela fronteira de Espanha.
E quando fixamos o limite ocidental na serra da Estrela, é porque nas aldeias do chamado Vale de Estrela ainda se realizam curiosas corridas à vara larga que se podem talvez considerar como uma variante degenerada da corrida do Forcão.
Fernando Teixeira, in «O Touro e o Destino».
O boi, num momento defensivo, de recuo, encontra o portal velho de uma loja, despede-lhe um tremendo coice, a porta cai em estilhas, e do portal arrancado irrompe… uma porca a grunhir. Hilaridade geral. Uma voz grita, aflitíssima:
– Ai, a minha «marrana», que lá se me vai!…
Abel Botelho, in «Uma Corrida de Toiros no Sabugal», do volume «Mulheres da Beira».
– Senhora das Neves, acudi ao forcão!
– Nossa Senhora das Neves, salvai-os!
Do torvelinho de poeira, que enfarinha os espectadores, saem rapazes ilesos ou feridos que marinham, rápidos, pelas cordas presas aos fueiros.
Nuno de Montemor, in «Maria Mim».
O forcão fica pronto e encostado num dos cantos da praça, a aguardar o dia. A canalha visita-o com uma alegria feita de gozo antecipado. Tenta levantá-lo. Põe-se à galha, grita «eh boi!».
Adérito Tavares, in «A Capeia Arraiana».
Às galhas da frente pegam dois rapazes que se hajam notabilizado pela força física. A frontaria do centro confia-se a gente simultaneamente forte, corajosa e de bom engenho. Os restantes postos distribuem-se um pouco à touxe-mouxe pelos voluntários, em todo o caso rapazes valentes e forçantes. Lugar-chave, todavia, é o de rabejador, autenticamente chefe, comandante e capitão da empresa.
Manuel Leal Freire, in «Ribacôa em Contra Luz»
O rabeador eleva ou abaixa o triângulo, auxiliado pelos outros homens, conforme a direcção que o toiro toma, e tenta assim impedir que o toiro salte para cima do triângulo ou se meta por baixo.
J. Leite de Vasconcelos, in «Etnografia Portuguesa».
A parte mais curiosa do folguedo consiste no forcão, espécie de grade, formada de um grande ramo ou pernada de carvalho, com uma grossa vara onde os galhos se atam e afastam, dando-lhe a forma triangular.
Joaquim Manuel Correia, in «Memórias sobre o Concelho do Sabugal».
E eis que a porta se abre, dando passagem ao famoso touro, que irrompe pela praça dentro como um furacão.
Na praça, só o forcão fortemente guarnecido. Todos os demais se empoleiraram o mais alto que puderam. Até os capinhas.
José Martins, in «Drama sob as Nuvens».
Espectáculo único que bem traduz a audácia e a força das gentes de Riba-Côa».
Virgílio Afonso, in «Sabugal, Terra e Gentes».
A tourada raiana é um espectáculo que as gentes da região apreciam de tal modo que, durante o verão, todas as terras realizam a sua, e, em muitos casos, em jeito de rivalidade, procuram até arranjar mais do que uma.
«À Descoberta de Portugal», edição das Selecções do Reader’s Digest.
São os jovens a descer à arena, manobrando um complicado aparelho feito de toros de madeira (o forcado) para manter o boi à distância. E ai do forasteiro que se atreva a deitar a mão a uma das pegas do forcado sem para tal ter sido convidado…
«Guia de Portugal», edição do jornal Expresso (1995).
Os foliões que vão pegar ao forcão mantêm-se ao largo até que se anuncie a saída do primeiro touro mas, alguns, para garantia de que têm para onde fugir, vão ocupando as escadas do pelourinho e um fanfarrão, para mostrar a sua destreza, conseguiu mesmo subir até ao cimo desse monumento que é o mais alto de Portugal numa só pedra.
Porfírio Ramos, in «Memórias de Alfaiates».
Meu pai, que foi um grande aficionado das capeias, sempre que a elas se referia, não se esquecia nunca de falar em quatro toiros, certamente por muito o terem impressionado devido à sua grande bravura, cujos nomes eram: o Carreto, o Galgo, o Gravato e o Cinzento.
José Manuel Lousa Gomes, in «Memórias da Minha Terra».
plb
«Viagens na minha infância» poderia titular-se ainda «Nostalgia da Pequena Pátria». Assim interpretamos o significado das «lembranças romanescas» ordenadas no recente livro de Joaquim Tenreira Martins, natural da freguesia de Vale de Espinho, no concelho do Sabugal, junto ao ainda criança Rio Côa, mas residente na Bélgica há mais de 30 anos e onde constituiu família.
Tivemos o grato prazer de um primeiro encontro, há pouco tempo atrás, na freguesia de Fóios (Sabugal) onde o Centro Cultural levou a efeito um Encontro de Escritores das Terras do Côa. Na memória ficou-nos então o excelente estudo que ele apresentou acerca dos episódios das invasões francesas nas terras de Riba Côa, episódios esses que não foram menores, uma vez que, do ponto de vista militar, Almeida era o alvo e também Almeida se situa em Riba Côa.
A infância que define a temporalidade deste livro é decerto a que medeia entre 1950/1960, uma vez que o autor, nascido em 1945, desse ano e pouco mais seria difícil possuir uma clara memória, par além da circunstância familiar, em que avulta a personalidade de seu pai, que teve a profissão de alfaiate (mas que também praticava a venda nas feiras e mercados da raia cudana) e em cuja oficina se reuniam várias pessoas da aldeia, que transformavam a alfaiataria em «tertúlia do saber». Para a criança, que então era Joaquim, terão surgido os primeiros clarões acerca de uma realidade maior do que a da sua aldeia, mas não muito para além dela, definindo-se um território minúsculo, em que assumem significação social e geográfica, as aldeias circunvizinhas (Quadrazais, Soito, os «pueblos» para lá da Serra das Mesas, já Castela, a «ancha Castilla». E a Serra da Malcata, o acidente orográfico, mas ainda o espaço de trânsito (das aventuras dos contrabandistas) e de artesanato indústrial, qual a do fabrico de carvão de torga, desde o Alambar até aos redutos da Quinta do Major, ou Quinta dos Pinharandas. Estamos perante uma autobiografia, de modelo memorialístico, em que o escritor não se contempla a si mesmo, nem se torna centro de acção, mas se restringe a espectador convivencial, pois nas pequenas comunidades, todos e cada um acabam por ser comparsa dos acontecimentos, dos gostos e desgostos, e dos tempos e dos sítios.
O autor ordena as lembranças em quatro partes. Na primeira, as memórias da infância de quanto ouvia de seu pai; na segunda, intitulada «Os Mitos e os Medos», espaço para fixar os sítios míticos, por vezes fantasmagóricos, as histórias de bruxas, as aventuras de povos móveis como os ciganos, os invernos e as histórias populares acerca dos lobos que desciam da serra; na terceira parte, uma evocação de árvores e de homens: o álamo, e, como árvores em pé, o mítico dr. Armando do Soito (acerca de quem se narravam as mais inverosíveis aventuras cirúrgicas, sem um mínimo de condições) ou do sr. Valente, que levava o seu circo às distantes terras da Raia.
As Memórias terminam com um registo dos usos e costumes e interesses de uma criança – as festividades, as capeias raianas, o pião de amieiro e, também sinal de crescimento, a descoberta do mundo além, a começar por Castela.
Autobiografia parcial quanto ao tempo, ela constitui um registo saboroso da vida quotidiana numa remota aldeia de Riba Côa, cujos usos e costumes permaneceram inalterados e impermeáveis às novidades de fora, incluindo a tradição linguística, pois, embora no quadro ribacudano existissem uma «fala» comum, esta não impedia as «falas» particulares. E, como o autor regista as memórias em conformidade com a fala, encerra o livro com um glossário. De certeza que, hoje em dia, mesmo em Vale de Espinho, as novas gerações necessitam deste glossário para entendimento do que lêem. Tudo muito belo, notamos, porém, a falta de uma ou duas páginas relativas à memória de Carlos Marques, o geógrafo do Côa, que passava as férias na sua aldeia natal e do Zé Margarido, caçador sem descanso.
Esperamos, agora, por um segundo volume, o das viagens à adolescência.
«Carta Dominical», opinião de Pinharanda Gomes
pinharandagomes@gmail.com
Belmiro Rosinha, natural de Vale de Espinho, é o auto destes versos intitulados «Puema dos Contrabandistas».
Puema dos Contrabandistas
Ó lua que vais tão alta
Diz a quem tu alumias
Alumia os contrabandistas
Que não podem andar de dia
A vida de um contrabandista
É uma vida amargurada
Passa os dias a trabalhar
Chega o dia ai sem nada
Ao passar a ribeira
Os guardas saltam ao caminho
Coitado do contrabandista
Fica sem o carreguinho
Corre corre sem parar
Com os sapatos na mão
Os guardas disparam a arma
Atira o carrego ao chão
Os filhos á sua espera
Pela madrugada
Todos lhe pedem pão
Vira os bolsos não tem nada
Belmiro Rosinha
O meu bem-haja a Belmiro Rosinha pelo poema que quis partilhar com todos os raianos e peço desculpa por me intrometer no final mas… Sinto, a cada passo, que temos medo do nosso passado. Os contrabandistas raianos são outra das nossas grandes marcas. O dialecto quadrazenho, o jogo do truco, os atalhos, as estórias, estão a perder-se pouco a pouco. Felizmente vão aparecendo, aqui e ali, documentos escritos, valiosos contributos para resguardar esta memória colectiva do nosso povo. O meu avô foi contrabandista – dos tempos do volfrâmio ao que me disseram – mas pouco mais sei. Falta cumprir-se a memória física do nosso povo e da nossa dura caminhada. A marca do «contrabando» é valiosa. Pouco ou nada temos feito para a divulgar e promover.
jcl
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