Em 20 de Outubro de 1940 o dirigente Nazi Heinnrich Himmler, assistiu na praça de touros de Madrid, Las Ventas, a uma tourada em sua homenagem, convidado por Franco, Claro! Não sei o que lá viu nem o que não, mas as crónicas da época dizem que o chefe das S.S. saiu horrorizado da praça e quase desmaiou durante o espectáculo. E este tipo foi um sanguinário…
Outra praça de touros, a de Badajoz no mês de Agosto de 1936 e durante a Guerra Civil Espanhola. A cidade foi tomada pelos nacionalistas (franquistas), foram fuzilados perto de 4.000 republicanos nos dias que se seguiram à entrada dos nacionalistas na cidade. As novas autoridades militares franquistas convidaram para assistir a esse macabro espectáculo dos fuzilamentos vários latifundiários alentejanos. Como é lógico e normal, nessa Guerra Civil matou-se e fuzilou-se dos dois lados, mas segundo historiadores, os republicanos abatiam principalmente grandes terratenentes, padres, freiras, e toda uma classe social alta e riquíssima, os nacionalistas abatiam indiscriminadamente as classes populares. Portanto tem lógica o convite aos latifundiários alentejanos…
Um jornalista português assistiu à cremação dos corpos dos fuzilados no cemitério da cidade de Badajoz, estava junto a um padre que pertencia ao bando nacionalista, então o padre desabafou «mereciam isto», tem lógica também o desabafo do padre.
Vamos até outra praça de touros, a de Salamanca. Depois do Golpe de Estado de 28 de Maio de 1926, instala-se em Portugal uma ditadura militar. Não sei se ainda durante os governos que antecederam o de Salazar ou já com este no governo, porque Salazar ainda nomeou governadores civis militares, as autoridades espanholas convidaram o Governador Civil da Guarda, um militar para assistir a uns festejos em Salamanca. O Governador Civil tinha a noção de ser uma nulidade política, mas não uma nulidade como militar. Na praça de touros, estando todas as individualidades presentes, alguém deu conta que o Governador Civil da Guarda não tinha cadeira para se sentar, então em voz alta exclamou:
– Una silla para el señor gobernador!
O Governador ouviu e disse para o subordinado que estava junto dele:
– Vê lá que até aqui sabem que sou burro!
Ouviu falar em – silla – e confundiu…
Foi-me contada esta historieta, ou anedota, por alguém do Sabugal, já falecido e que pertenceu aos quadros do Estado Novo no Concelho
Vamo-nos manter noutra praça de touros, mas desta vez em Lisboa Campo Pequeno. Nas negociações com os Estados Unidos sobre a Base das Lages nos Açores, Salazar fez-lhes a «vida negra», só tergiversava, fazia-se difícil! Um dia os americanos num gesto de cooperação e amizade trouxeram até ao Tejo uma poderosa esquadra de guerra, tendo à frente o porta-aviões Franklin Delano Roosevelt. Em honra dos marinheiros norte-americanos foi organizada uma tourada. Faço ideia o «frete» que os marinheiros não fizeram, a vontade deles era terem ido para o Cais do Sodré e Bairro Alto! Salazar foi visitar o porta-aviões e, segundo palavras de Marcello Mathias, diplomata do Estado Novo, o chefe do governo anda a bordo «com o chapéu enterrado até às orelhas», com medo que o vento o levasse. Também, mas agora sou eu a dizê-lo, a forte ventania devia ter mostrado as suas célebres botas…
Termino, não numa praça de touros, mas à volta de uns sanitários públicos no Sabugal. Era Presidente de uma Comissão da Câmara Municipal do Sabugal no ano de 1926 do século passado, o político do Casteleiro, Joaquim Mendes Guerra. O Povo da então Vila reivindicava uns sanitários públicos. No dia de Carnaval, e numa das muitas paródias que se faziam, alguns foliões traziam dois pares de calças vestidos e, junto a uma árvore ou a um muro desciam o par de fora e acocoravam-se como quem estava a fazer as necessidades. O Joaquim Mendes Guerra mandou então fazer uns sanitários públicos. Acontece que só os «alinhavou» e num sítio em que o Povo do Sabugal dizia que davam guerra a toda a gente. No ano seguinte, e também no dia de Carnaval, os foliões levavam uma espécie de maqueta dos sanitários públicos, e um cartaz onde estava escrito: «A retrete que deu Guerra a todos» vejam a subtileza…
Foi-me contada esta história por alguém que conheceu esses tempos, também já não vive. Vou perdendo aqueles, e também aquelas, que me falavam da antiga Vila, dos seus costumes, da alegria, da tristeza, dos dramas, e das esperanças do seu Povo.
«Passeio pelo Côa», opinião de António Emídio
ant.emidio@gmail.com
1 comentário
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Quarta-feira, 5 Dezembro, 2012 às 22:24
João Duarte
Belo texto, António