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O burburinho em torno de «Super 8», o mais recente filme de J.J. Abrams, criador da série «Perdidos», é um pouco exagerado. Nem é um dos melhores filmes do ano, nem um dos piores.
As expectativas criadas em torno do filme foram tantas, que quase se pode dizer que a montanha pariu um rato. Isto não quer dizer contudo que «Super 8» não seja um bom filme quando comparado com a maioria dos blockbusters vindos dos EUA e com as estreias que já ocorreram e estão para chegar no resto do Verão.
O filme é uma homenagem a um certo tipo de cinema que se fazia nos anos 1980 (será este mais um sinal da febre que nos faz regressar aquela década?), centrado num grupo de miúdos que tem de se entreter durante as férias de Verão, até que um evento qualquer acaba por tornar umas pacatas férias em algo que lhes ficará para sempre na memória. Neste caso os miúdos de «Super 8» pertencem a um grupo de amigos que quer fazer um filme de zombies com uma câmara daquele formato. E as rodagens correm bem até que um acidente de comboio militar liberta algo que vai aterrorizar a pequena comunidade onde tudo se passa.
Claramente inspirado no cinema de Steven Spielberg do início dos anos 1980, nomeadamente «ET» e «Encontros Imediatos de Terceiro Grau», «Super 8» tem uma boa história e com um elenco, sobretudo os miúdos, que conseguiu boas interpretações. Mas se J.J. Abrams consegue manter o suspense durante boa parte do filme, e até consegue provocar bons sustos em algumas das cenas, o desenlace acaba por saber a pouco, pois não é de todo imprevisível. Apesar de uma boa caracterização da época (os pormenores da música, roupa e mesmo alguns clichés dos filmes daquela altura passados em pequenas cidadezinhas estão lá), o filme não consegue ir mais além do que isso e nota-se que podia ir bem mais longe. Até as personagens secundárias precisavam de ser um pouco mais aprofundadas.
«Super 8» entende-se como uma boa homenagem aos heróis de J.J. Abrams e é bom para ver como filme de Verão. Mas não é muito mais do que isso.
«Série B», opinião de Pedro Miguel Fernandes
pedrompfernandes@sapo.pt
Apesar de ter sido realizado em 1936 «Tempos Modernos», de Charles Chaplin, continua a ser tão actual como na época em que foi feito.

Nesta sátira ao industrialismo e à sociedade do consumo, ou uma história sobre a indústria, a iniciativa empresarial ou da cruzada da Humanidade à procura da felicidade, como é indicado na legenda de abertura, Charles Chaplin surge como um pobre operário fabril que acaba por enlouquecer em plena linha de montagem e consequentemente é despedido. A primeira parte do filme, nos seus variados episódios (da cena do cigarro ao genial teste da máquina que auto-alimenta os operários), mostra bem as condições inumanas das fábricas na altura.
Paralelamente à história do operário despedido, que ainda acaba na prisão por ser confundido com um líder comunista, noutra genial cena de «Tempos Modernos», o filme acompanha a história de uma rapariga que vive em condições semelhantes às do herói, interpretada por Paulette Goddard, e que acaba por se tornar a sua amada. A partir daqui, quando os dois se encontram, nasce uma bela história de amor que consegue não afastar o filme do seu objectivo final: criticar uma sociedade que desumaniza as pessoas.
Filmado numa altura em que o período mudo já tinha sido deixado para trás há muito tempo, devido às reticências de Charles Chaplin em utilizar o som nos seus filmes, «Tempos Modernos» já recorre a alguns elementos sonoros. A banda sonora, que já se encontrava presente em alguns filmes mudos, volta a ter uma presença muito forte, complementando a imagem, os sons ambiente, que ganham uma grande expressividade sobretudo nas sequências da fábrica. E também aqui se encontra uma personagem de Chaplin que fala pela primeira vez. Ou melhor, canta, numa sequência onde são ditas poucas palavras, aparentemente sem grande nexo. Estes elementos fazem com que «Tempos Modernos» seja considerado por muitos, ainda hoje, como o último filme da época do mudo.
E ao abordar temas como o desemprego e as dificuldades de uma sociedade que vive em busca de um sonho (a tal casa que o casal procura), muitas vezes fazendo coisas acima das suas capacidades, quase que podemos dizer que os «Tempos Modernos» de Chaplin são bastante parecidos com os tempos de hoje.
«Série B», opinião de Pedro Miguel Fernandes
pedrompfernandes@sapo.pt
«Lixo Extraordinário» é um fantástico documentário sobre um projecto do artista plástico brasileiro Vik Muniz, que conseguiu criar obras de arte com a ajuda de catadores de lixo de uma das maiores lixeiras do Rio de Janeiro.
Realizado por Lucy Walter, João Jardim e Karen Harley «Lixo Extraordinário» foi um dos nomeados ao galardão de Melhor Documentário na última edição dos Óscares e é um daqueles documentários que nos leva para dentro de uma realidade que não conhecemos. Partindo de um projecto de Vik Muniz, que pretendeu criar fotografias artísticas com lixo retirado do Jardim do Gramacho, um dos maiores aterros sanitários do mundo, situado no Rio de Janeiro, o documentário vai muito para além de mostrar a arte. Conta as histórias das pessoas que vivem literalmente no meio do lixo, ganhando entre 40 e 50 reais por dia (entre cerca de 17 e 21 euros), segundo nos conta uma das mulheres que lá trabalham, para vender material para reciclar. As imagens daquela enorme lixeira quase que nos fazem sentir o cheiro. Mas são precisamente as pessoas e a sua grande humanidade e forma de estar na vida que nos tocam mais, com as suas histórias no meio da miséria, onde foram parar por falta de alternativas. Mais do que a o trabalho de Vik Muniz, o pretexto para o filme.
Depois de conhecermos alguns dos protagonistas e as suas filosofias («99 não são 100», diz um dos trabalhadores mais velhos, que acabou por ficar de fora dos retratos finais) vamos assistindo à criação dos retratos feitos por Vik Muniz. Primeiro as fotografias tiradas aos protagonistas e depois a sua reconstrução em estúdio, com o material recolhido no Jardim do Gramacho. Apesar de poder ser considerado como um filme de promoção à obra do artista plástico, o que apenas se poderá notar nas cenas em que ele regressa à casa onde viveu, também numa favela, «Lixo Extraordinário» não deixa de ser um belo filme sobre pessoas e a sobrevivência em condições muito difíceis. Não há contos de fadas no Jardim do Gramacho, mas este projecto ajudou algumas daquelas pessoas a recuperarem a sua humanidade.
«Série B», opinião de Pedro Miguel Fernandes
pedrompfernandes@sapo.pt
No final dos anos 1920, antes da chegada do cinema sonoro, o período mudo deixou-nos grandes obras, com cenários grandiosos, sendo um dos mais conhecidos o fabuloso «Metropolis», de Fritz Lang. Mas apesar de ser mais conhecido, este não foi caso único na altura.
Um outro filme que se pode encaixar no mesmo estilo é «O Dinheiro», de Marcel L’Herbier. Apesar de não ser um filme de ficção científica, como o anterior, é um filme gigante (3 horas e 20 minutos, demasiado para um filme mudo) e utiliza muito bem os cenários e as centenas de figurantes. No caso dos cenários, o grande destaque são as cenas filmadas in loco na Bolsa de Paris, que dão uma sensação de confusão que são estes sítios.
«O Dinheiro», filme baseado numa obra de Emile Zola, é uma crítica ao capitalismo. E quão actual continua a ser nos dias que correm. No centro do argumento está o banqueiro Nicolas Saccard, dono do Banco Universal e um especulador nato, que só vive para fazer dinheiro, sem olhar a meios para atingir os seus fins. No início do filme vemos os seus planos cair por terra, quando um accionista maioritário vota contra um aumento de capital no banco. Mais tarde sabemos que este accionista anónimo era um testa de ferro para um rival de Saccard, Alphonse Gundermann, dono de uma petrolífera que pretende desmascarar Saccard.O banqueiro resolve então voltar à carga e decide apoiar um projecto de Jacques Hamelin, para valorizar as acções do Banco Universal. Mas o plano de Saccard quer ir mais longe, pois outro dos objectivos é conquistar a esposa do piloto, Line Hamelin. Esta mais tarde apercebe-se do esquema do banqueiro e acaba por levá-lo a tribunal, acusando-o de fraude.
A história de «O Dinheiro» é um excelente conto moral sobre o poder e a influência do dinheiro. Mas vai muito para além de uma simples história. O filme de Marcel L’Herbier, um dos mais caros da altura, tem excelentes cenas e está muito bem filmado. Para a história ficam as sequências filmadas na própria Bolsa de Paris, como referido atrás. Uma das mais espantosas consiste numa montagem em paralelo onde a partida de Jacques Hamelin acontece ao mesmo tempo em que decorre uma sessão na Bolsa e à medida que o avião levanta voo, também a câmara faz a mesma trajectória, atravessando a sala da mesma forma, dando um efeito fantástico. Uma grande lição de cinema, até para muitos dos cineastas actuais.
«Série B», opinião de Pedro Miguel Fernandes
pedrompfernandes@sapo.pt
Morreu esta semana Sidney Lumet, realizador norte-americano, autor de filmes como «Doze Homens em Fúria», «Serpico» ou «Um Dia de Cão». Os dois últimos foram papéis memoráveis de Al Pacino.
Conhecido como um dos grandes realizadores de um cinema chamado liberal, que tem como principais características uma raiz realista e política, a sua estreia no cinema, depois de uma passagem pela realização de séries de televisão, dá-se em 1957, com o filme de tribunal «Doze Homens em Fúria». Esta primeira longa-metragem rende-lhe a primeira de quatro nomeações para Óscar de Melhor Realizador. As restantes três foram para «Um Dia de Cão» (1975), «Escândalo na TV» (1976) e «O Veredicto» (1982), tendo recebido uma outra nomeação para Melhor Argumento Adaptado por «O Príncipe da Cidade» (1981), escrito a meias com Jay Presson Allen.
Com cerca de 40 filmes realizados, filmados ao longo de uma carreira de meio século (o último filme de Lumet, «Antes que o Diabo Saiba que Morreste», é de 2007), conseguiu dirigir grandes lendas do cinema, como o já referido Al Pacino, Henry Fonda, Paul Newman, Marlon Brando, Katharine Hepburn, Faye Dunaway, Robert Duvall ou River Phoenix. Dentro deste grupo de actores de luxo, aos quais se podiam juntar muitos outros, 17 conseguiram ganhar ou pelo menos chegar aos nomeados para os Óscares. Em 2005, dois anos antes da última longa-metragem que nos deixou, recebeu o Óscar honorário da Academia.
Sidney Lumet faleceu em Nova Iorque aos 86 anos, vítima de linfoma.
«Série B», opinião de Pedro Miguel Fernandes
pedrompfernandes@sapo.pt
«Fantasia Lusitana» é um excelente retrato de Portugal. E vê-lo nesta altura, em que somos iludidos por todos, sejam os governantes ou os mercados (sejam eles quem forem), foi o mais indicado.
O documentário é de 2010, mas tive oportunidade de o ver este fim-de-semana no âmbito do Festival Panorama, dedicado ao cinema documental feito em Portugal, onde o destaque foi dado a um punhado de filmes realizados no pós-25 de Abril. Pegando sempre em imagens de arquivo, o realizador João Canijo conseguiu em «Fantasia Lusitana» mostrar dois países diferentes: um visto pelos olhos da propaganda da ditadura liderada por Salazar e outro visto pelo olhar de três estrangeiros que passaram por Lisboa durante a época retratada no filme.
O período em causa é o da II Guerra Mundial, conflito em que Portugal se manteve ‘neutro’. Esta neutralidade foi aproveitada até ao expoente máximo pelo regime para mostrar o papel que Salazar teve para nos deixar fora do conflito que estava a destruir a Europa. Quase como o actual primeiro-ministro tentou fazer para nos afastar do FMI, ou da ajuda externa, como gostam de lhe chamar.
Sem narração actual, ou seja, Canijo aproveitou apenas o som dos filmes de época recolhidos, este é quase um país das maravilhas, onde as contas públicas estão em ordem, e que mesmo em tempos difíceis é capaz de organizar uma Exposição do Mundo Português que demonstra que Portugal está acima de qualquer guerra. Mas a cena do lançamento da nau Portugal, que afunda assim que é lançada às águas, já é um prenúncio que nem tudo estava bem.
O outro país é narrado por três refugiados que passaram por cá durante a II Guerra Mundial, quando Lisboa servia de plataforma de entrada e saída para melhores destinos. E a imagem que estes três estrangeiros – Antoine de Saint-Exupéry, o escritor de «O Principezinho», Alfred Döblin, o autor de «Berlin Alexanderplatz», e Erika Mann, filha de Thomas Mann, – aproxima-se mais da dura realidade. Um país pobre, com uma população pouco escolarizada e onde os refugiados se vêem presos e têm de enfrentar duras condições.
Numa altura em que voltamos a sofrer na pele uma crise bastante complicada, «Fantasia Lusitana» quase que pode ser visto como um grito de alerta para o que se está a passar, quando muitos nos tentam convencer que as coisas não estão tão difíceis como parecem e nos iludem com falsas mensagens de que tudo está bem. E poucas vezes um filme centrado num passado mais ou menos longínquo conseguiu ser tão actual.
«Série B», opinião de Pedro Miguel Fernandes
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Há cineastas que conseguem criar universos facilmente reconhecíveis. Seja porque têm características que nos permitem topar à légua o que lá vem, seja pelo recurso aos mesmos actores ou até à forma como filmam um determinado género cinematográfico.
Jean-Pierre Jeunet é um desses realizadores e isso está bem patente no seu mais recente filme – «Micmacs – Uma Brilhante Confusão» – que chegou às nossas salas com dois anos de atraso. Tirando talvez a sua aventura norte-americana, quando filmou um dos episódios da série «Alien», todos os seus filmes nos remetem para um mundo entre o real e o imaginário.
Em «Micmacs – Uma Brilhante Confusão» o protagonista é Bazil (Dany Boon, um bom actor cómico francês, que nos deu um ar de sua graça em «Bem – Vindo ao Norte», filme que ele próprio realizou e estreou por cá há um par de anos), o funcionário de um clube de vídeo, cujo pai morreu vítima de uma mina quando era criança, que leva um tiro na cabeça e fica com a bala presa no cérebro. Depois de uma operação em tons surrealistas, em que o cirurgião decide se lhe tira a bala ou não atirando uma moeda ao ar, Bazil fica desempregado e sem abrigo e resolve vingar-se dos fabricantes da bala e da mina que destruíram a sua vida.
Para tal conta com a ajuda de um conjunto de sem abrigos, cada um com as suas características peculiares, que o acolhem no seu seio e se comprometem a continuar a dar-lhe guarida apenas se ele aceitar a ajuda deles para defrontar os seus inimigos, dois fabricantes de armas rivais.
A história consegue bastante original e o mesmo se pode dizer do ambiente e personagens criadas por Jean-Pierre Jeunet, mas acaba por ser demasiado confuso com demasiadas trocas e baldrocas que não conseguem dar o ritmo desejado ao evoluir do argumento. Mesmo como panfleto anti-guerra, que é no fundo o principal objectivo do filme, não cola, pois as caricaturas dos dois magnatas rivais estão demasiado exageradas. Infelizmente perdeu-se uma boa história, que mesmo assim é capaz de agradar aos fãs do realizador de «Delicatessen».
«Série B», opinião de Pedro Miguel Fernandes
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Morreu Elizabeth Taylor, uma das maiores divas de Hollywood, conhecida tanto pelo seu talento e beleza como pela polémica vida que levou ao longo de 79 anos.
Nascida a 27 de Fevereiro de 1932 no Reino Unido, apesar de ser filha de pais americanos, Elizabeth Taylor estreou-se no cinema aos 10 no filme «There’s One Born Every Minute», de Harold Young. Posteriormente começou a participar em séries para um público juvenil, nomeadamente a célebre «Lassie». Na década de 1950 começa a ter alguns papéis em filmes de relevo, como «Ivanhoe», de Richard Thorpe, «Quo Vadis», de Mervyn LeRoy, «O Gigante», de George Stevens, ou «Gata em Telhado de Zinco Quente», de Richard Brooks. Nessa mesma década consegue as primeiras três de cinco nomeações para os Óscares.
Na década seguinte tem mais algumas das suas interpretações memoráveis, nomeadamente «BUtterfield 8», de Daniel Mann, «Cleopatra», de Joseph L. Mankiewicz, ou «Quem Tem Medo de Virginia Woolf?», de Mike Nichols.
O primeiro e o último papel deram-lhe os seus dois únicos Óscares da carreira. A partir dos anos 1970 a sua presença no grande ecrã começa a diminuir e a sua última aparição dá-se em 2001, quando entra na série de TV «God, the Devil and Bob» e no telefilme «These Old Broads».
Apesar da sua beleza e talento, a vida fora das luzes da ribalta sempre foi polémica, em grande parte devido aos seus inúmeros casamentos e divórcios. Nos últimos anos tinha dado a cara em campanhas a favor da luta contra a Sida, tendo mesmo sido uma das primeiras celebridades a defender esta causa. As causas da morte de Elizabeth Taylor, que sofria de problemas cardíacos há alguns anos, ainda não foram desvendadas. Ficará para sempre na memória de muitos cinéfilos.
«Série B», opinião de Pedro Miguel Fernandes
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Uma bela surpresa «As Múmias do Faraó: As Aventuras de Adèle Blanc-Sec», o primeiro de uma trilogia baseada numa heroína de BD.
Realizado por Luc Besson o filme baseia-se numa banda desenhada franco-belga protagonizada por Adèle Blanc-Sec, uma jornalista do princípio do século XX que bem podia passar por uma Indiana Jones de saias. Nesta aventura a heroína tenta salvar a irmã, que sofreu um insólito acidente durante uma partida de ténis, recorrendo aos poderes de um cientista que consegue ressuscitar os mortos.
E esta missão leva-a ao Antigo Egipto onde vai buscar uma múmia que a poderá ajudar a salvar a irmã. O problema é que enquanto Adèle se ausentou o cientista Marie-Joseph Esperandieu treinou os seus poderes com um pterodáctilo, que por sua vez começou a semear o terror pelas ruas de Paris.
Não sendo um daqueles filmes extraordinários, «As Múmias do Faraó: As Aventuras de Adèle Blanc-Sec» é um filme de aventuras bem simpático, que se vê de uma assentada e sem nos deixar desiludidos. Os efeitos especiais estão muito bons, pois foram utilizados meios digitais e na animação do pterodáctilo parece que foi utilizado mesmo um boneco, o que nos faz lembrar certas técnicas utilizadas nos anos 1980.
«As Múmias do Faraó: As Aventuras de Adèle Blanc-Sec» acaba por ser puro entretenimento, tal como os filmes de Indiana Jones o eram quando recuperaram os filmes de aventuras mais clássicos. E os pontos de contacto entre Adèle e o personagem criado por George Lucas e Steven Spielberg são vários. Desde a procura por relíquias antigas, neste caso a múmia, às bocas que a heroína vai mandando ao longo do filme, passando pelo vilão Dieuleveut, protagonizado por um irreconhecível Mathieu Amalric. Depois desta aventura, resta esperar pela continuação.
«Série B», opinião de Pedro Miguel Fernandes
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«Blue Valentine» é a segunda longa-metragem de Derek Cianfrance, que apesar de se ter estreado na cadeira de realizador em 1998, esteve até ao ano passado ligado a curtas e documentários.
Esta é a história de um casal na casa dos 30 anos à beira da ruptura, com uma filha pequena para criar. Protagonizado por Ryan Gosling e Michelle Williams, ambos estão muito bem e não se percebe como é que apenas ela foi nomeada aos Óscares, o filme retrata o fim da relação e, recorrendo a flashbacks, a forma como o casal se conheceu e como nasceu o amor entre os dois.
O filme é uma bela história de amor com duas personagens bastante fortes, cada uma com as suas características bastante vincadas, que chegaram a um ponto das suas vidas em que não sabem como ultrapassar as dificuldades de uma relação.
Ele ainda tenta salvar o casamento, mas ela parece não estar para aí virada. Como referi atrás a interpretação dos dois está muito boa, pois parece que conseguiram transmitir uma boa química para o ecrã, como se aquilo que vemos fosse mesmo um casal a sério.
Mas «Blue Valentine» acaba por não conseguir descolar de um filme banal, sobretudo na maioria das cenas do passado, tirando uma ou outra cena. E é precisamente aqui que está uma das falhas do filme. Apesar de Ryan Gosling estar bem caracterizado quando representa a personagem mais nova, Michelle Williams continua praticamente igual, independentemente de ser nova ou mais velha. Parece que só se lembraram de rejuvenescer o actor. Ponto positivo para a banda sonora, assinada pela banda norte-americana Grizzly Bear.
«Série B», opinião de Pedro Miguel Fernandes
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Para comemorar o lançamento de uma caixa de DVD dedicada à obra de Koji Wakamatsu, um veterano realizador japonês inédito comercialmente em Portugal, a distribuidora Medeia estreou em sala os seus dois últimos filmes.
«Exército Vermelho Unido», a par de «O Bom Soldado», foi um desses filmes. Os dois são filmes históricos, mas passados em períodos distintos. Neste caso «Exército Vermelho Unido decorre no final da década de 1960 e início da década seguinte. O filme relata um episódio pouco conhecido, penso eu, mas com alguns pontos de contacto com episódios semelhantes ocorridos na mesma altura noutras áreas do globo.
«Exército Vermelho Unido» começa por ser um documentário sobre as manifestações estudantis contra o aumento das propinas e os acordos entre o Governo do Japão e os EUA, que permitiam ao exército norte-americano utilizar bases em território nipónico. Estas, por sua vez, eram utilizadas para apoiar as tropas no Vietname. É neste barril de pólvora que começam a emergir facções mais radicais que defendem a violência e a revolução armada para levar ao comunismo.
Koji Wakamatsu faz um excelente retrato deste período atribulado da história do Japão recorrendo na primeira parte a imagens de arquivo, onde um narrador vai explicando o que se passou nas manifestações e apresenta as figuras chave do movimento. Numa segunda parte, já depois das manifestações, o realizador passa a ficcionar o que se passou quando estes jovens, na sua maioria com idades na casa dos 20 anos, partem para as montanhas. Nesta altura já as várias facções se tinham reunido numa só e estão nas montanhas para preparar a guerra generalizada. Só que como todas as utopias, as coisas acabam por não correr muito bem. E quando os líderes da revolução vêem que as suas ‘tropas’ não estão à altura começam a incentivá-las torturando os mais fracos. O episódio terminou na morte de alguns deles e num cerco feito pelas autoridades aos últimos quatro resistentes do grupo.
Apesar dos elementos mais documentais, este é um filme que pode bem ser visto como complemento de «O Complexo Baader Meinhof», do alemão Uli Edel, que estreou em 2008 (o filme de Koji Wakamatsu é de 2007) , pois retrata o mesmo período e os mesmos problemas, mas numa região diferente. E para quem não conhecia, não deixa de ser uma boa oportunidade para aprofundar um tema que marcou o século passado. O filme só peca por ser demasiado longo: mais de três horas. Mas compensa para quem gosta de um bom filme e de História.
«Série B», opinião de Pedro Miguel Fernandes
pedrompfernandes@sapo.pt
Se há desporto que está bem representado no cinema norte-americano é o boxe. São inúmeros os filmes que abordam o boxe e o que se passa em torno dos ringues.
Volta e meia lá surge mais um e desta vez o culpado foi David O. Russell, que realizou «O Último Round», a história verídica de Micky Ward (Mark Wahlberg), um boxer proveniente da cidade operária de Lowell que tenta uma segunda oportunidade quando já ultrapassou os 30 anos. Mas se o filme se centra na história de Micky, é no que está a sua volta que se passa o melhor de «O Último Round», tal como acontece em muitos filmes de boxe.
A começar pela história do seu irmão Dicky Ecklund (Christian Bale), que tinha sido uma promessa do desporto e cujo ponto alto foi uma vitória contra a lenda Sugar Ray Leonard. Só que depois acabou por se tornar viciado em crack e é neste estado que o encontramos, com a HBO a fazer um documentário sobre os efeitos daquela droga. Ao mesmo tempo, e apesar deste estado pouco recomendável, Dicky é o treinador do irmão até que acaba por ser preso. Christian Bale tem aqui uma excelente interpretação, vindo provar que é um dos melhores actores da actualidade, que tanto consegue desempenhar um super-herói (Batman) como um criminoso viciado em crack, completamente lunático. Já para não falar de outros papéis de relevo que tem vindo a protagonizar.
É sobretudo no campo da interpretação e nos dilemas de Micky, que a certa altura tem de escolher entre a família, que sempre o ajudou, e um novo manager e um novo treinador, que «O Último Round» marca pontos. Aliás, as cenas de luta até nem são muitas quando comparadas com outros filmes do género. E talvez só o último combate do filme seja o que tem mais destaque. Mas se Christian Bale está muito bem, o mesmo não se pode dizer de Mark Wahlberg, que por vezes parece não estar à vontade no papel. Já nos secundários, quem está muito bem é Melissa Leo, que interpreta a mãe e gestora da carreira dos dois irmãos. Também neste caso pareceu-me que Amy Adams, que faz de namorada de Micky está um pouco deslocada. Por isso é de estranhar a sua nomeação aos Óscares.
«Série B», opinião de Pedro Miguel Fernandes
pedrompfernandes@sapo.pt
O mundo do ballet nunca foi tão perturbador como no mais recente filme de Darren Aronofsky.
Protagonizado por Natalie Portman, «Cisne Negro» é a história de uma bailarina que conquista o papel principal no célebre «Lago dos Cisnes»: a Rainha dos Cisnes. O filme começa praticamente quando Nina é escolhida para o papel e vai até à sublime actuação final.
Pelo meio vamos acompanhando a jovem bailarina, que vai sucumbindo aos poucos à pressão. A pressão da mãe controladora, do encenador que recorre ao imaginário sexual para a ajudar a libertar-se, da antiga bailarina estrela da companhia (uma Winona Ryder como há muito não se via) que se vê ultrapassada pela idade e de uma estranha colega que chega de fora para se tornar a grande rival de Nina.
É sobretudo a relação entre as duas colegas que torna «Cisne Negro» tão perturbador, pois nunca chegamos a perceber se tudo o que se vai passando está mesmo a acontecer ou é fruto da imaginação de Nina.
Darren Aronofsky consegue filmar muito bem as cenas dos bailados e a diferença entre as duas protagonistas: uma sempre de branco (a angélica Nina) e outra sempre vestida de negro (a diabólica Lily). Mas o filme é todo de Natalie Portman, que consegue uma das suas interpretações mais assombrosas de sempre. A personagem de Nina, com as suas alucinações e as pressões de tudo o que a rodeia, vê-se à prova por diversas vezes o que acaba naquele final, muito semelhante ao que o realizador nos tem habituado.
Não há heróis nos filmes de Aronofski e Natalie Portman é bem capaz de estar a caminho de vencer a sua primeira estatueta dourada, apesar da concorrência de peso.
«Série B», opinião de Pedro Miguel Fernandes
pedrompfernandes@sapo.pt
Clint Eastwood é um dos realizadores veteranos que se tem provado bastante prolífero nos últimos anos e quase sempre com bons resultados. É esse o caso de «Hereafter – Outra Vida», o seu mais recente filme.
Com argumento de Peter Morgan (o mesmo de «A Rainha» e «Frost/Nixon») o filme mais parece uma obra do mexicano Alejandro González Iñárritu, cineasta que por estes dias também chegou às salas portuguesas, devido à sua estrutura com três histórias paralelas que se cruzam no final. E elas são as histórias de Marie LeLay (Cécile De France), uma jornalista francesa que tem uma experiência de pós-morte durante o tsunami de 2004 que afectou o Sudeste asiático, George Lonegan (Matt Damon), um ex-vidente norte-americano que consegue entrar em contacto com os mortos tocando nas mãos das pessoas, e Marcus (George McLaren), um miúdo britânico que perde o seu irmão gémeo num acidente.
Todos se questionam sobre a vida para além da morte, cada um à sua maneira e cada um com as suas dúvidas específicas.
Aparentemente «Hereafter – Outra Vida» poderia ser mais um daqueles filmes sobre filosofias transcendentais, com ideias muito rebuscadas sobre as grandes questões do universo, mas Clint Eastwood consegue fazer uma vez mais um grande filme. Há qualquer coisa nos seus filmes, que por mais simples que pareçam, faz com que nos agarrem. E nem precisa de ter grandes nomes no elenco, como é este caso.
Está muito bem filmado, aquela banda sonora com o piano e guitarra (que também é assinada pelo realizador) está sempre no ponto certo.
Uma vez mais Clint Eastwood prova porque razão continua a ser considerado o último dos realizadores clássicos de Hollywood.
«Série B», opinião de Pedro Miguel Fernandes
pedrompfernandes@sapo.pt
Já me tinham alertado para a dureza deste filme, mas quem tem visto alguns filmes do cinema russo recente não ficará surpreendido. A verdade é que algumas obras desta cinematografia são duras de engolir.
E «A Minha Alegria», apesar do título, não é excepção. Algo que é expresso logo a abrir, numa sequência aparentemente sem ligação ao resto do filme, em que alguém é enterrado em cimento.
A estreia na ficção de Sergei Loznitsa, realizador com obra feita na área do documentário, mostra o percurso de Georgy, um camionista que transporta uma mercadoria e por um acaso do destino (fica preso numa enorme fila de trânsito e lembra-se de dar boleia a uma prostituta menor) acaba por tomar um atalho por uma estrada secundária. Mal sabia que iria para uma viagem sem retorno.
Se a princípio parece que estamos numa viagem apenas estranha, com tons surreais como a cena da bomba de gasolina em que respondem ao camionista por cartazes, quando Georgy chega à vila onde vive a rapariga as coisas mudam. A jovem não aceita a ajuda e o camionista começa a ser olhado de lado. Depois de abandonar esta localidade, Georgy acaba por se perder e um novo encontro, desta vez com um bando de ladrões, acaba por ser determinante para o resto do filme. O mal que é feito à personagem, que às tantas é aconselhada a não interferir (conselho que vem tarde, pois nessa altura já nada podia fazer), leva-a a um final brutalíssimo que nos deixa sem pinga de sangue.
Apesar de ser um filme de ficção, nota-se que Sergei Loznitsa levou alguma da sua experiência de documentarista para «A Minha Alegria». Nota-se muito na tal cena da vila, na forma como são filmados os figurantes e nota-se na forma como são contados alguns dos episódios secundários, sobretudo o primeiro, que se dá quando um estranho homem aparece no camião de Georgy. Mesmo assim não deixa de ser para já um dos melhores filmes estreados este ano.
«Série B», opinião de Pedro Miguel Fernandes
pedrompfernandes@sapo.pt
Tod Browning sempre teve um certo gosto pelo bizarro e um dos seus filmes mais conhecidos é sem dúvida «Freaks», obra que relata a vingança de um grupo de criaturas de circo contra um casal de colegas perfeitos.
Realizado em 1936, «A Boneca do Diabo» foi o penúltimo filme de Browning. Tal como muitos dos seus filmes anteriores remete para o mundo do fantástico e do horror. E uma vez mais para a vingança. No centro de «A Boneca do Diabo» está a história de um banqueiro inocente, condenado por fraude, numa burla engendrada pelos seus três antigos sócios. Vários anos depois de passar na prisão Paul Lavond (Lionel Barrymore) consegue escapar com a ajuda de um companheiro de cela, o cientista, de certa forma louco, Marcel (Henry B. Walthall). O destino da fuga é precisamente a casa deste cientista e aí Lavond trava conhecimento com umas experiências que a esposa de Marcel tinha continuado a fazer a mando do marido: uma fórmula para reduzir o tamanho dos seres vivos para um sexto do seu tamanho original. O propósito de Marcel era bom, reduzir o tamanho das pessoas iria reduzir as necessidades de cada um, e por isso não haveria o problema da falta de recursos.
Mas esta técnica tinha um senão. Também o cérebro dos visados era reduzido, logo a pessoa ou animal que era reduzida não tinha autonomia. Esta autonomia só regressava através de ondas cerebrais de outra pessoa, que podia assim controlar os actos de quem era reduzido. Entretanto Marcel acaba por morrer e Lavond engendra um plano para utilizar as pequenas criaturas para avançar com a sua vingança. Ao mesmo tempo, e já na cidade, opta por se disfarçar de idosa para tentar reconquistar a sua filha, que pensava que o pai era um grande canalha.
«A Boneca do Diabo» é um clássico de terror dos anos 1930. Lionel Barrymore tem uma grande interpretação neste duplo papel, bastante convincente quando se transforma em Madame Mandelip, e os feitos especiais, mesmo que hoje em dia estejam completamente desactualizados, estão muito bem feitos. A forma como Browning conseguiu colocar os actores em miniatura nos cenários da gente grande produz o efeito desejado, com as proporções bem feitas. Uma prova de que o cinema quando é bem feito consegue sempre ser mágico. O filme só peca pela parte final, já depois de consumada a vingança, quando se torna um bocado lamechas. Parece mesmo que o final foi apressado. Mas isso não deixa de tirar o mérito à obra do realizador de «Freaks».
«Série B», opinião de Pedro Miguel Fernandes
pedrompfernandes@sapo.pt
O ano cinematográfico de 2011 começou mal. Duas mortes marcam os primeiros dias do ano: o actor Pete Postlethwaite e o realizador Peter Yates, ambos nascidos no Reino Unido.
O primeiro a partir foi Pete Postlethwaite, actor nomeado para o Óscar de Melhor Actor Secundário em 1993 pelo seu papel no filme «Em Nome do Pai», de Jim Sheridan, logo na primeira semana de 2011. Tal como grande parte dos actores britânicos, Pete Postlethwaite veio do Teatro, onde chegou a fazer parte da Royal Shakespeare Company durante os anos 1980. A sua estreia na Sétima Arte dá-se em 1977 no filme «O Duelo», de Riddley Scott, mas apenas 11 anos mais tarde, em 1988 que vê reconhecido o seu talento, ao participar em «Vozes Distantes, Vidas Suspensas», de Terence Davies.
Foi nesse ano que deu o salto para Hollywood e começa a acumular papéis em filmes de realizadores bastante diversos, como «Hamlet», de Franco Zeffirelli, «Alien 3», de David Fincher, «O Último dos Moicanos», de Michael Mann, «Os Suspeitos do Costume», de Bryan Singer, «Romeu + Julieta», de Baz Luhrmann, ou «O Mundo Perdido: Jurassic Park» e «Amistad», de Steven Spielberg.
As suas últimas aparições de relevo foram ainda em 2010 nos filmes «A Cidade», de Ben Affleck, e «A Origem», de Christopher Nolan. Para 2011 está prevista a estreia de «Killing Bono», uma comédia de Nick Hamm que será a sua interpretação. Faleceu aos 64 anos, vítima de cancro.
Já esta semana partiu Peter Yates. Vítima de doença prolongada o cineasta morreu em Londres aos 81 anos deixando como legado pelo menos um grande filme que fica na memória dos cinéfilos: «Bullitt», o policial protagonizado por Steve McQueen que tem uma das melhores cenas, se não mesmo a melhor, de perseguição automóvel da História do Cinema. Além de «Bullitt», realizado em 1968 e que foi apenas a sua quarta obra, recebeu quatro nomeações para os Óscares, ambas para Melhor Filme e Melhor Realizador: em 1980 com «Os Quatro da Vida Airada» e em 1984 com «O Companheiro».
A carreira de Peter Yates começou no final dos anos 1950, princípio dos anos 1960, quando foi realizador assistente em vários filmes, entre os quais «Os Canhões de Navarone», de J. Lee Thompson. A sua estreia na realização dá-se em 1963 com «Mocidade em Férias», musical interpretado por Cliff Richard. Até se tornar realizador de cinema a tempo inteiro, em 1967, Peter Yates realiza ainda episódios das séries de televisão «Danger Man» e «O Santo».
Em 1968 dá o segue para os EUA para filmar o já referido «Bullitt». A partir daí dirige nomes como Mia Farrow e Dustin Hoffman, Peter O’Toole, Robert Mitchum, Raquel Welch e Jacqueline Bisset, entre outros. Teve uma carreira de 28 títulos nas várias décadas, até 1999 quando filma «Curtain Call». Na primeira década deste século realiza apenas dois telefilmes: «Don Quixote» e «A Separate Peace».
Duas mortes que deixam o cinema mais pobre.
«Série B», opinião de Pedro Miguel Fernandes
pedrompfernandes@sapo.pt
No final do ano é tempo de fazer um balanço dos últimos meses. Estes foram, para mim, os 20 melhores filmes estreados em sala durante 2010. A única excepção é «Um Profeta», filme que estreou no último dia de 2009.
1 – Líbano, de Samuel Maoz
2 – Cópia Certificada, de Abbas Kiarostami
3 – O Escritor Fantasma, de Roman Polanski
4 – Um Lugar Para Viver, de Sam Mendes
5 – Mistérios de Lisboa, de Raúl Ruiz
6 – Tudo Pode Dar Certo, de Woody Allen
7 – Parnassus – O Homem Que Queria Enganar o Diabo, de Terry Gilliam
8 – O Laço Branco, de Michael Haneke
9 – Lola, de Brillante Mendoza
10 – Um Profeta, de Jacques Audiard
11 – Louise-Michel, de Gustave de Kervern e Benoît Delépine
12 – Nas Nuvens, de Jason Reitman
13 – A Rede Social, de David Fincher
14 – Inside Job – A Verdade da Crise, de Charles Ferguson
15 – Scott Pilgrim Contra o Mundo, de Edgar Wright
16 – O Mágico, de Sylvain Chomet
17 – Mother – Uma Força Única, de Joon-ho Bong
18 – Tony Manero, de Pablo Larraín
19 – Wendy & Lucy, de Kelly Reichardt
20 – O Segredo dos Seus Olhos, de Juan José Campanella
Aproveito também para desejar a todos os leitores do Capeia Arraiana um Feliz Ano Novo.
«Série B», opinião de Pedro Miguel Fernandes
pedrompfernandes@sapo.pt
A partir do final da década de 1950, no auge da Guerra Fria, as duas super-potências da altura, EUA e URSS, começaram a competir pela conquista do espaço.
A União Soviética conseguiu colocar o primeiro homem em órbita (Yuri Gagarin) no ano de 1961 e os norte-americanos foram os primeiros a andar na lua, com a missão Apollo 11. A partir daí a exploração do Espaço continuou, mas já não havia uma corrida por objectivos propriamente dita.
Foi neste contexto que surge a missão Apollo 13, em 1970. Aquela que seria a terceira missão a levar astronautas dos EUA a pisar solo lunar, mas que devido a problemas técnicos acabou por resultar numa missão arriscada que terminou com a tripulação salva depois de vários dias atribulados. O episódio histórico foi filmado por Ron Howard em 1995, com base num livro da autoria de Jeffrey Kluger e Jim Lovell, sendo este um dos três astronautas envolvidos na missão.
Com um bom elenco, composto por nomes como Tom Hanks, Ed Harris, Bill Paxton, Kevin Bacon ou Gary Sinise, «Apollo 13» foi mesmo nomeado para vários Óscares, incluindo Melhor Filme. Mas este é daqueles casos em que tantas nomeações não se justificam. Apesar dos meios envolvidos, e da própria reconstrução histórica dos
acontecimentos estar bem feita, a missão lunar apresentada por Ron Howard é um pouco insossa. Tem demasiados pormenores técnicos que nos deixam um pouco
atarantados a meio do filme. O excesso de nomeações talvez se deva ao facto de ser uma história ao agrado do mainstream e pelo regresso de Tom Hanks a uma personagem ligada à História dos EUA. Recorde-se que um ano antes tinha sido o ano de «Forrest Gump».
E se Tom Hanks é um bom actor, em filmes que requerem uma boa dose de ansiedade, como é o caso deste, quase que poderíamos dizer que não foi talhado para estes papéis.
Talvez por isso tenham falhado as cenas de suspense, que não nos conseguem agarrar e ficar na expectativa do que vai acontecer a seguir. Isso só se nota no final, quando os astronautas estão a chegar à Terra e vamos vendo as reacções de todos os secundários, incluindo um filho de Jim Lovell que nunca tinha aparecido em todo o filme, enquanto aguardamos resposta do módulo lunar.
O resultado final deste épico espacial acaba por ser um típico filme de Howard.
«Série B», opinião de Pedro Miguel Fernandes
pedrompfernandes@sapo.pt
«West Side Story» é ainda hoje um dos musicais com mais Óscares no currículo. Nada mais, nada menos do que 10.
Adaptado pela dupla Robert Wise e Jerome Robbins a partir de um musical homónimo da Broadway, esta é a história de amor entre dois jovens pertencentes a meios diferentes, neste caso ligados a dois gangues rivais de Nova Iorque. De um lado temos os Sharks, oriundos da comunidade porto-riquenha, do outro os Jets, filhos dos imigrantes europeus que vêem os EUA como o seu território.
É no meio deste barril de pólvora que nasce o amor entre Tony (Richard Beymer) e Maria (Natalie Wood). O primeiro é o melhor amigo de Riff (Russ Tamblyn), o líder dos Jets, e a segunda a irmã de Bernardo, o líder dos Sharks (George Chakiris). Mas West Side Story vai muito para além de uma simples história de amor, tão ao gosto dos amantes de um bom romance. Mostra-nos também, através dos dois grupos rivais, a história dos conflitos que sempre fizeram parte de Nova Iorque. Mais tarde Martin Scorcese filmou esta realidade, mas num período histórico muito anterior, em «Gangues de Nova Iorque». Não é à toa que num dos conflitos entre os dois grupos, Bernardo chama nativos aos Jets, expressão que define um dos grupos no filme de Scorcese citado.
As sequências musicais são bastante boas, muitas ainda hoje são conhecidas e fazem parte de qualquer boa antologia do género, e algumas conseguem mesmo aprofundar os temas que à partida dificilmente pensaríamos encontrar num musical, género conotado com o amor e romance. A tal rivalidade é apenas uma delas. Mas por exemplo numa das cenas mais famosas, com a música «America», encontramos um excelente retrato do sonho americano visto pelos olhos de quem o procura: as mulheres vêem os EUA como a terra das oportunidades, enquanto que os homens a vêem como uma terra de oportunidades. Mas no fundo ninguém quer deixar o país.
Apesar de ter já quase 50 anos, «West Side Story» é um filme que nos apresenta uma Nova Iorque que ainda permanece no ideal de quem sonha com a cidade que nunca dorme. É um bocado datado, é certo, mas aquela a Manhattan onde decorre a acção ainda hoje é possível encontrar em muitos filmes passados em Nova Iorque. E curiosamente, apesar do sucesso que teve na altura da estreia, é um filme que tem um final triste (ou menos feliz), o que acaba por ser de certa forma surpreendente se pensarmos que muitos realizadores são obrigados a filmar um final feliz para agradar às plateias.
«Série B», opinião de Pedro Miguel Fernandes
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Vindo de Espanha, «Cela 211» é um filme sobre prisões que aborda muito mais do que a simples vida atrás das grades.
Na sua quarta longa-metragem como realizador Daniel Monzón leva-nos a uma prisão onde está prestes a iniciar um motim liderado por Malamadre, um grande vilão, que ficará como um dos grandes personagens do ano, interpretado por Luis Tosar. Ao mesmo tempo a narrativa apanha pelo meio Juan Oliver (o estreante Alberto Ammann), um novo guarda prisional que resolve visitar o seu posto de trabalho na véspera de entrar ao serviço e acaba por ficar do lado errado da prisão.
O que vamos assistindo é a infiltração de Juan Oliver no meio dos presos, onde se faz passar por um deles para não sofrer as consequências de ser uma presa fácil, e a sua evolução que resulta do desespero das notícias que lhe vão chegando do lado de fora. E o que inicialmente parecia ser um jovem tímido ansioso por conhecer os cantos à casa começa a tornar-se outra pessoa, mais vingativa, fruto do meio onde está inserido que o leva a praticar acções necessárias para a sua sobrevivência.
Mas além desta evolução, «Cela 211» foca também muitas questões relacionadas com a vida nas prisões e os problemas neste tipo de sítios, que são apontados na lista de pedidos dos amotinados. O filme aborda ainda a forma como os prisioneiros bascos são vistos no meio prisional espanhol: tanto os presos como as autoridades os desprezam, devido às suas ligações ao terrorismo da ETA, (o sentimento é igual na outra parte) mas os três bascos acabam por ser fundamentais para as negociações em curso.
«Cela 211» é um filme forte (a cena inicial de um prisioneiro a cortar os pulsos diz-nos logo ao que vamos) que apesar de ser passado numa prisão acaba por não cair nos clichés do género. A prisão onde decorre maior parte da acção não é um espaço claustrofóbico, pelo menos isso não se sente, e Daniel Monzón conseguiu filmar bem a história, mesmo nas cenas mais movimentadas, onde tudo parece estar no sítio certo.
«Série B», opinião de Pedro Miguel Fernandes
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Errol Flynn tornou-se popular a protagonizar heróis em filmes de aventuras. Robin Hood é apenas um dos exemplos. Não é isso que acontece em «Sangue e Prata» um western de Raoul Walsh.
Realizado em 1948 Errol Flynn interpreta Mike McComb, um capitão do exército federal que é afastado da carreira militar depois de optar por queimar um milhão de dólares que iriam parar às mãos do inimigo sulista. Este episódio leva-o a procurar outras paragens, já com uma personalidade mais obscura, e é em Silver City que resolve assentar arraiais com o objectivo de criar um casino.
Mas antes de chegar à pequena localidade, que depende fortemente das minas de prata, cruza-se com Georgia Moore (Ann Sheridan) a mulher do dono de uma das minas por quem acaba por se apaixonar. Esta paixão e as suas jogadas para conquistar tudo e todos (não só Georgia, mas também os terrenos que lhe darão cada vez mais dinheiro) acabam por nos mostrar uma personagem sem escrúpulos, a completa antítese do Errol Flynn mais popular. Foi por isso que o filme acabou por não ter grandes resultados na bilheteira, pois o público não estava habituado e não queria ver Flynn a fazer de vilão.
Além de ser um filme sobre a ambição e a busca de poder e com um vincado sentido político, «Sangue e Prata» remete também para uma história bíblica. O caso entre McComb e Georgia é uma variante da história do Rei David, que envia um general para a frente de batalha para ficar com a sua mulher. Esta é explicada por uma personagem secundária bastante importante para a história, o advogado John Plato Beck (uma excelente interpretação de Thomas Mitchell), que não deixa de atirá-la à cara de McComb sempre que pode.
McComb acaba por se redimir no final do filme quando lidera a multidão de mineiros que vai expulsar os assassinos de John Plato Beck, que entretanto se tinha candidatado a senador. Esta é uma das cenas mais bem conseguidas do filme, com a enorme turba a entrar em Silver City por todos os lados, não deixando nenhuma abertura. Uma vez mais Raoul Walsh mostra aqui como consegue filmar de forma magistral multidões.
A banda sonora de Max Steiner também está muito boa, tanto nesta cena final referida anteriormente, como nas primeiras cenas do filme, quando são retratadas algumas batalhas da Guerra Civil americana ou mesmo na perseguição inicial que dá origem ao tal episódio da expulsão de McComb do exército.
«Série B», opinião de Pedro Miguel Fernandes
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Se não soubesse que estava a ver um documentário quando entrei na sessão de «Inside Job – A Verdade da Crise», durante o visionamento comecei a pensar se não seria antes um filme de terror ou algo mais surrealista.
Depois de se estrear com um documentário sobre a guerra no Iraque no segundo documentário o realizador norte-americano Charles Ferguson volta a abordar uma questão dos tempos actuais: a crise dos mercados que rebentou em 2008 e que ainda hoje não se sabe bem qual a sua dimensão ou o que pode ainda acontecer. Basta pensarmos no que se está a passar todos os dias com Portugal e outros países europeus que os mercados apelidam, curiosamente, de PIGS (Portugal, Itália, Grécia e Espanha).
Sem recorrer à ironia guerrilheira de Michael Moore, que também assinou no ano passado uma história de amor ao capitalismo onde foca este tema, Charles Ferguson consegue explicar como é que os mercados chegaram ao ponto em que chegaram, devido à falta de regulamentação, que permitiu criar formas de as instituições financeiras lucrarem com produtos que sabiam que iam prejudicar as pessoas que lhes confiavam as suas poupanças. E o mais chocante é que a maioria dos envolvidos saiu impune e conseguiu ganhar milhões com os esquemas. Os exemplos são muitos e para piorar alguns continuam a ocupar cargos de responsabilidade em áreas que não deveriam.
Um dos grandes trunfos deste «Inside Job – A Verdade da Crise» é que conseguiu entrevistar alguns dos envolvidos e pessoas que apresentaram sinais a quem de direito para o que aí vinha, mas ao que tudo indica ninguém tinha interesse em ouvi-los. Mas compreende-se porque foram poucos os responsáveis que aceitaram falar, pois os que aparecem por vezes não sabiam o que responder ou afastavam-se da questão. Houve até um que às tantas diz ao realizador que o seu tempo está a terminar.
«Inside Job – A Verdade da Crise» foi feito como um alerta para explicar como é que tudo isto aconteceu e é um bom filme para que as pessoas conheçam melhor uma questão tão complexa. Nota-se uma certa tendência do realizador para apontar o dedo aos ‘maus’, se assim se pode dizer, mas Charles Ferguson não deixa de referir que pouco mudou com a chegada de Obama à Casa Branca, pois na sua equipa económica continuam pessoas que estiveram ligadas a instituições envolvidas nos problemas. Nem os republicanos nem os democratas escapam.
Mesmo quem não percebe muito de mercados financeiros, como é o meu caso, consegue ficar com uma pequena ideia sobre o que se passou. Ficam várias questões no ar, sobretudo como é que todos os envolvidos escaparam impunes e praticamente voltaram ao ponto de partida. Se calhar quando surgir a próxima crise vamos estar aqui a analisar um outro documentário.
«Série B», opinião de Pedro Miguel Fernandes
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Tim Burton é daqueles realizadores que consegue, nos dias de hoje, ter uma imagem que nos faz reconhecer os seus filmes à distância. Ambientes negros, cenários góticos e personagens inadaptadas são as principais características das suas obras, que acabaram por lhe dar uma enorme legião de fãs.
«A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça» faz parte da sua filmografia mais negra. É também mais uma das suas colaborações com Johnny Depp, a terceira, actor que faz parte de um grupo que normalmente integra os filmes de Tim Burton e a par de Helena Bonham Carter, esposa do realizador, é um dos actores mais presentes neste universo bastante peculiar.
Passado no final do século XVIII (é curioso vermos as personagens falarem da chegada do novo século da mesma forma que em 1999, o ano deste filme, se aguardava com um misto de surpresa e euforia a chegada do ano 2000), «A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça» leva o polícia Ichabod Crane (Johnny Depp) à localidade de Sleepy Hollow, onde tem de investigar uma série de homicídios levados a cabo por um cavaleiro sem cabeça (Christopher Walken), que dá nome à lenda.
De início céptico, devido à sua fé na ciência, Ichabod acaba por se aperceber que a estranha personagem existe de facto e fica enredado numa conspiração que envolve grande parte da população de Sleepy Hollow e uma boa dose de bruxaria.
Com um argumento destes, baseado num livro de Washington Irving, Tim Burton sente-se em casa e consegue fazer uma bela obra, que mistura tons de suspense e alguns pozinhos de terror, muito ao estilo do realizador. A banda sonora do seu cúmplice Danny Elfman também ajuda a criar um ambiente de certa forma sombrio e vai muito ao encontro do que se pretende num filme destes. Johnny Depp, uma vez mais, interpreta uma daquelas personagens que aparentemente só ele consegue interpretar nos filmes de Burton, com os seus tiques específicos que veremos mais tarde aprofundados em filmes como «Charlie e a Fábrica de Chocolate» ou «Alice no País das Maravilhas».
«Série B», opinião de Pedro Miguel Fernandes
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Ben Affleck é talvez dos maiores canastrões do cinema actual. Mas a sua passagem para trás das câmaras em «Vista Pela Última Vez…» em 2007 deu-nos uma outra faceta do actor, que já tinha dado cartas na escrita de argumentos logo na estreia com «O Bom Rebelde» de Gus van Sant, com a ajuda de Matt Damon.
Desta vez com «A Cidade» Ben Affleck resolveu realizar e interpretar a personagem principal. E é este segundo pequeno pormenor que acaba por ser um dos pontos negativos do filme.
Passado em Boston, tal como «Vista Pela Última Vez…», este filme conta a história de Douglas MacRay, o ‘arquitecto’ de um gangue de assaltantes de bancos e carrinhas de valores que quer mudar de vida, depois de um dos assaltos não correr de acordo com o planeado. Tudo estava a correr bem até o grupo se lembrar de fazer uma refém (Rebecca Hall), por quem Douglas acaba por se apaixonar quando não devia. Esta paixão é mais uma razão para Douglas deixar a ‘má vida’ mas tudo se complica porque ninguém do seu grupo o quer ajudar, a não ser se for para participar em mais um assalto. Ao mesmo tempo, o gangue tem um agente do FBI (Jon Hamm) à perna que não lhes dá tréguas.
Bem filmado, sobretudo nas cenas dos assaltos e nas perseguições de automóveis, «A Cidade» acaba por perder muito por ter Ben Affleck no papel principal, pois o actor quase não muda de registo. O mesmo sucede com Jon Hamm que não parece ter sido a escolha mais acertada para o agente do FBI. Salvam-se Rebecca Hall e Jeremy Renner, que interpreta o melhor amigo de Douglas e seu parceiro nos assaltos, James Coughlin.
Esperemos que da próxima vez que Affleck se decida a realizar, opte por apenas ficar atrás das câmaras, pois já deu provas de que poderá vir a ser um bom realizador.
«Série B», opinião de Pedro Miguel Fernandes
pedrompfernandes@sapo.pt
Em 1972 os Rolling Stones estavam com problemas fiscais no Reino Unido, depois de terem sido enganados pelo seu manager, e «fogem» para o Sul de França. O documentário «Stones in Exile» conta este período atribulado de uma das maiores bandas do mundo.
Deste exílio forçado nasce um dos maiores e mais experimentalistas álbuns da carreira da banda: «Exile on Main St.», fruto de uma temporada de excessos numa mansão alugada por Keith Richards. E desta experiência de sexo, drogas e rock ‘n roll nasceu «Stones In Exile», um documentário com pouco mais de uma hora com imagens da época que nos mostram como foi feito o álbum.
O filme conta com depoimentos actuais de alguns dos intervenientes que sobreviveram àqueles dias de excesso, em que praticamente tudo era possível naquela que já era considerada a maior banda do mundo.
Mas não são os excessos e as histórias do quotidiano da mansão o grande trunfo de «Stones In Exile».
Para quem gosta de música este documentário é uma excelente forma de conhecer um pedaço da história da música popular do século XX e como foi feito o álbum clássico, directamente da cave da mansão de Keith Richards.
A mais neste documentário só estão alguns depoimentos de pessoas que se sentiram influenciadas pelo álbum, algo que já parece um cliché dentro deste género de filmes.
Apesar de contar com depoimentos de músicos e pessoas ligadas ao cinema a falar de «Exile on Main St.», «Stones In Exile» bem se podia ficar apenas pela história da gravação do clássico LP.
«Série B», opinião de Pedro Miguel Fernandes
pedrompfernandes@sapo.pt
«Bird – O Fim do Sonho» não é só um grande filme sobre a vida de Charlie Parker, um dos mitos do jazz que teve uma vida trágica que terminou aos 34 anos. É também a longa que cimenta a carreira de Clint Eastwood como realizador, que a partir daí tem um currículo cheio de grandes obras, algo que não se podia dizer do período anterior, e o filme que dá a oportunidade a Forest Whitaker para provar que é um grande actor.
Um filme obrigatório para os fãs de Eastwood realizador e para os amantes do jazz, que acompanham em cerca de duas horas e meia a vida de um dos maiores saxofonistas do género que tocou ao lado de outros gigantes, com destaque para Dizzy Gillespie, cujo papel na vida de Charlie Parker fica bem patente em «Bird». A interpretação da genialidade do saxofonista, assim como os problemas com a droga e álcool que o perturbam está magistralmente interpretada por Whitaker, na altura da estreia um quase desconhecido, apesar das aparições em «Bom Dia Vietname», de Barry Levinson, «Platoon», de Oliver Stone, ou «A Cor do Dinheiro», de Martin Scorcese.
Na própria cinematografia de Eastwood «Bird» acaba por ser um filme de certa forma atípico. Surgem alguns aspectos oníricos, a história não é contada sequencialmente, mas em flashbacks, alguns derivados de sonhos, que não são comuns na sua obra. Talvez a opção por estes ambientes oníricos tenha algo a ver com a música de Charlie Parker, um pouco dada ao improviso.
E apesar de ser um confesso adepto de jazz, de já antes de 1988 ter realizado filmes com a música como campo de fundo («A Última Canção») e mesmo sendo autor de algumas das bandas sonoras dos seus filmes, Clint Eastwood só iria voltar a filmar um filme sobre música em 2003, quando participou no projecto para televisão «The Blues», onde assinou o documentário «Piano Blues». Com «Bird» deu-nos uma boa oportunidade para conhecermos um capítulo da história do jazz, que infelizmente não é dos mais felizes, tirando a excelente música do saxofonista.
«Série B», opinião de Pedro Miguel Fernandes
pedrompfernandes@sapo.pt
Harvey Pekar faleceu há algumas semanas atrás. Não sendo uma figura ligada ao cinema, a sua história ficou ligada à Sétima Arte, com a adaptação da banda desenhada «American Splendor».
«American Splendor» é um daqueles filmes fantásticos que surgem do nada e são difíceis de classificar. Quando parece ser uma ficção sobre a vida de Harvey Pekar, um norte-americano que um belo dia se lembrou de contar o seu dia a dia numa banda desenhada underground, logo vemos o próprio Pekar a ser entrevistado pela dupla de realizadores Shari Springer Berman e Robert Pulcini, como se se tratasse de um documentário sobre a sua vida.
«American Splendor» é assim uma mistura dos dois géneros e é um excelente filme sobre uma pessoa singular, com gostos peculiares e uma vida tão banal como a de qualquer um de nós.
A banalidade deste arquivista é que o levou precisamente a deixar algo ao resto do mundo: a banda desenhada sobre o quotidiano, o trabalho no hospital, a convivência com um cancro ou o relacionamento com os amigos e o amor. Paul Giamatti brilha num papel feito à sua medida e que lhe assenta como uma luva.
Em 2003 o filme foi uma das sensações do cinema independente e ainda hoje continua a ser uma obra peculiar que se vê muito bem. A mistura entre ficção e realidade, as imagens de cartoon e as imagens reais estão muito bem conseguidas e rever este «American Splendor» poucos meses depois da morte de Harvey Pekar, que faleceu no passado mês de Julho, é uma justa homenagem à sua vida cheia de incidentes tragicómicos, alguns dos quais são recuperados no filme. Um óptimo filme para ver nestes dias de chuva que começam a chegar.
«Série B», opinião de Pedro Miguel Fernandes
pedrompfernandes@sapo.pt
Se uma imagem vale mais do que mil palavras, filmes como «Crepúsculo dos Deuses» são indescritíveis e são quase obrigatórios para quem gosta de Cinema com C maiúsculo.
Realizado por Billy Wilder em 1950 é uma das obras de arte do cinema norte-americano que se debruçam sobre a própria história de Hollywood, nomeadamente abordando os efeitos da transição do período mudo para o sonoro.
O papel principal cabe inteiramente a Gloria Swanson que interpreta Norma Desmond, uma antiga estrela de filmes mudos que prepara o seu regresso, com a ajuda de um jovem argumentista (William Holden) a braços com várias dívidas. E é precisamente Joe Gillis que narra o filme, apresentando um mundo que antes foi feito de sucesso e agora apenas vive do passado. É um retrato brutal da fama e dos efeitos que provoca em quem deixa de estar no topo do mundo. Até outras estrelas do mudo aparecem por breves instantes, num jogo de bridge.
E estamos a falar de grandes nomes do cinema, como Buster Keaton ou Hedda Hopper, que são tratados como figuras de cera pelo jovem argumentista, o que prova a imagem que este mundo em decadência acabou por ter depois do enorme sucesso alcançado no arranque do cinema.
Gloria Swanson tem uma interpretação excelente, ao retratar a louca vedeta em que Norma se tornou. Não conhecendo a verdadeira história da actriz, quase se poderia dizer que estava a interpretar-se a si própria. A última cena, quando desce as escadas em frente às câmaras que pensa serem do seu filme é um dos melhores e mais fortes momentos do filme. No campo da interpretação destaque ainda para um outro papel, o do mordomo Max, que mais não é do que Erich von Stroheim, um dos maiores realizadores do cinema mudo e em simultâneo um actor que participou em mais de 70 filmes. «Crepúsculo dos Deuses» é um grande filme, de um grande realizador.
«Série B», opinião de Pedro Miguel Fernandes
pedrompfernandes@sapo.pt
O cinema soviético do período mudo é sobretudo conhecido por grandiosos filmes de propaganda que relatam os episódios da Revolução Russa. Sergei Eisenstein é o nome mais conhecido dessa geração, mas há muitos nomes que a integraram e que não são tão conhecidos nos dias de hoje. Inclusive alguns fizeram comédias.
Um desses exemplos de comédias é «A Casa da Praça Trubnaia», de Boris Barnet. Tal como os filmes dos seus companheiros da altura, este é um filme de propaganda onde se exaltam os valores da sociedade soviética e os inimigos são os burgueses.
No caso deste filme o tema principal é o papel dos sindicatos e a importância destas associações para evitar a exploração laboral. A história de «A Casa da Praça Trubnaia» é a de Paracha Pitunova, uma jovem que é enviada do campo para Moscovo para se encontrar com o tio, que por um acaso do destino está a chegar à sua aldeia quando o comboio parte para a capital russa. Na grande cidade Paracha vai deparar-se com um mundo novo onde é fácil perder-se e acaba por ir parar precisamente à casa da Praça Trubnaia, um edifício comunitário, e é contratada como doméstica por um casal de burgueses, que só a aceita por não estar sindicalizada, logo, potencialmente não trará problemas.
É esta a base da história, que depois vamos acompanhando, com a jovem a chegar ao sindicato e com o seu patrão a acabar na polícia, onde lhe vão traçar a sentença por não respeitar os direitos da funcionária. Mas «A Casa da Praça Trubnaia» vai muito para além da história, não fosse este um filme soviético. Como noutros casos, aqui dá-se muita importância ao que é filmado, não só às personagens, mas também à forma como se filma.
Há três momentos muito bem conseguidos neste excelente filme de Boris Barnet: o acordar de Moscovo, com a filmagem de cenas da cidade acompanhadas com entre-títulos que nos explicam como são as primeiras horas de Moscovo até as ruas ficarem cheias de gente; a filmagem do prédio comunitário num corte transversal que nos mostra em simultâneo o que se passa nos vários andares; e por fim, a utilização de objectos em movimento para dar a ideia de som que não havia na altura. Por exemplo, a genialidade dos planos em que a jovem está irritada com o patrão e a câmara foca diversos tachos e cafeteiras ao lume com água a ferver.
Apesar de pouco conhecido, tanto o filme como o próprio género no cinema soviético do período mudo, este é um excelente filme que nos permite descobrir uma faceta daquele período cinematográfico que vai muito para além de Eisenstein.
«Série B», opinião de Pedro Miguel Fernandes
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Estreia esta semana a sequela de «Wall Street», filme realizado por Oliver Stone nos anos 1980 sobre o universo financeiro protagonizado por Michael Douglas, numa personagem que ficou naquela década. Antes, tinha chegado às salas um outro filme com Michael Douglas.
«Eterno Solteirão» sofre de um mal, que apesar de não ter nada a ver com cinema, bastante comum nas traduções dos títulos em Portugal. Quem olhar para o título dado pela distribuidora ao filme, que no original é «Solitary Man» (homem solitário, em português), pensa que estamos perante mais uma comédia romântica. Mas este filme de Brian Koppelman e David Levien tem muito pouco de comédia.
É antes um drama sobre um antigo vendedor de automóveis, que chegou a ter um bom momento profissional, a quem o médico diz que não tinha gostado de algo que descobriu no seu coração. Mas em vez de fazer os exames, para saber realmente o que se passa, Ben Kalmen (Michael Douglas) opta por esquecer o que se passou naquela consulta de rotina e começa a fazer o que lhe vai na cabeça, desde sair com mulheres a torto e a direito, incluindo a filha de uma das suas conquistas, que acaba por lhe arruinar um regresso ao trabalho, a destruir o negócio que lhe deu uma posição de topo.
Não estamos perante um grande filme, mas é um filme que se vê bem. O próprio final está bem conseguido, pois a dupla de realizadores conseguiu escapar ao facilitismo de dar uma resposta ao dilema que se apresenta a Ben Kalmen no banco de jardim onde conheceu a sua antiga esposa.
Michael Douglas carrega o filme às costas, pois este é um daqueles filmes que praticamente só a personagem principal conta, dado que está presente em todas as cenas. E fá-lo bastante bem, a provar que ainda consegue ser um grande actor. Destaque ainda para a presença de um bom naipe de secundários, onde despontam Danny DeVito ou Susan Sarandon. Um bom aperitivo enquanto esperamos pela estreia da sequela de «Wall Street».
«Série B», opinião de Pedro Miguel Fernandes
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O cinema francês volta a estar de luto. Depois da morte de Eric Rohmer no início do ano, uma outra figura da Nouvelle Vague faleceu esta semana: Claude Chabrol.
Tal como muitos dos seus companheiros da nova vaga do cinema francês, que despontou no final dos anos 1950 e durante a década de 1960, Chabrol começou por ser crítico na revista Cahiers du Cinéma. A sua estreia atrás das câmaras teve lugar em 1958, quando rodou «Le Beau Serge» («Um Vinho Difícil»), o primeiro de cerca de 80 filmes realizados para cinema e televisão, numa carreira de meio século, que terminou no ano passado, com «Bellamy», filme protagonizado por Gérard Depardieu. Estas 80 fitas tornaram Chabrol como um dos cineastas franceses com maior obra na segunda metade do século XX. As suas fitas ficaram conhecidas por uma descrição mordaz da burguesia francesa da província e por filmar num estilo mais clássico quando comparado com nomes da mesma época, como Jean-Luc Godard, François Truffaut ou Eric Rohmer.
Nascido em Paris em 1930, no seio de uma família de farmacêuticos, Claude Chabrol começou a escrever sobre cinema para os Cahiers ainda na universidade e iniciou-se na Sétima Arte quando criou uma produtora, com a ajuda da sua primeira esposa, que se estreou com uma curta-metragem de Jacques Rivette.
Quando volta a casar em 1964, Chabrol escolhe como companheira uma actriz que figurará em diversas obras ao longo das décadas de 1960 e 1970: Stéphane Audran. Nesta fase o cineasta francês filma vários policiais. No final da década de 1970, mais concretamente em 1978, com a estreia de «Violette Nozière», Claude Chabrol ganha uma nova actriz fetiche, que irá ser presença constante nos seus filmes estreados nas duas últimas décadas do século passado: Isabelle Huppert.
Claude Chabrol faleceu aos 80 anos, vítima de complicações decorrentes de um pneumotórax.
«Série B», opinião de Pedro Miguel Fernandes
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Tal como a guerra do Vietname deu pano para mangas na Sétima Arte, os conflitos do Iraque e do Afeganistão começam também a chegar em força ao cinema.
Um dos mais recentes a estrear por cá foi «Entre Irmãos», um remake de um filme norueguês realizado por Jim Sheridan. No centro do argumento está a história de uma família que vê um jovem militar (Tobey Maguire), filho de um veterano do Vietname (Sam Shepard) e pais de duas filhas, partir para o Afeganistão enquanto o irmão mais novo (Jake Gyllenhall) sai da prisão. Contudo uma das missões em que o militar se vê envolvido corre da pior maneira e o soldado é dado como morto.
É a suposta morte deste militar, que mais tarde vemos que foi raptado por um grupo de guerrilheiros talibãs com um colega, que vai despoletar um conjunto de emoções na família: o seu irmão, dado como um delinquente mas em recuperação, aproxima-se da cunhada (Natalie Portman) e das sobrinhas, enquanto o pai tem uma explosão de raiva no funeral do filho contra o comportamento do mais novo. O regresso do soldado a casa, com diversos traumas resultantes do cativeiro, vem abrir algumas feridas na família.
Com «Entre Irmãos» o cinema norte-americano aborda uma vez mais os recentes conflitos onde os EUA se têm metido e começam aos poucos a surgir grandes obras sobre esta temática. Basta ver como exemplo o grande vencedor da última edição dos Óscares, «Estado de Guerra» ou «No Vale de Elah», realizado um ano antes por Paul Haggis. Neste caso o filme de Jim Sheridan não é tão focado na acção e no cenário de guerra, mas antes nos traumas provocados nas famílias dos soldados que regressam. E um dos grandes pontos positivos vai para a interpretação, pois o realizador irlandês conseguiu reunir um excelente elenco, com três grandes jovens actores. Neste campo destaque para o desempenho de Tobey Maguire, que lhe valeu uma nomeação para os Globos de Ouro, muito diferente do que nos tem habituado, sobretudo quando se fala da trilogia Homem Aranha.
«Série B», opinião de Pedro Miguel Fernandes
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Richard Kelly realizou um dos grandes filmes de culto da primeira década deste século: «Donnie Darko». Depois de uma aventura meio falhada com «Southland Tales», o realizador norte-americano regressa com «Presente de Morte».
Com um título que mais parece saído de um filme de terror (pelo menos na tradução portuguesa, pois no original «Presente de Morte» é «The Box», ou seja, a caixa em português) o mais recente filme de Richard Kelly pouco tem a ver com este género. Em «Presente de Morte» um casal na casa dos 30 anos (James Mardsen e Cameron Diaz) recebe a visita de um estranho que lhes oferece uma caixa onde se encontra um botão, semelhante aos que se vêem nos concursos televisivos. Este estranho personagem, uma grande e sinistra interpretação de Frank Langella faz-lhes uma proposta: se carregarem no botão recebem um milhão de dólares e alguém que não conhecem morrerá, dando-lhes um dia para decidir o que fazer.
Desta forma «Presente de Morte» coloca os dois personagens principais perante um dilema moral de facto curioso. Seria legítimo receber uma pipa de massa em troca da morte de alguém, mesmo com os problemas financeiros à perna? Acaba mesmo por ser um dilema que aparece quase na altura certa, em que muitas pessoas atravessam graves problemas precisamente pela falta de dinheiro.
Mas o filme de Richard Kelly vai para além deste dilema e parte para terrenos que já tinham feito sucesso em «Donnie Darko». Infelizmente o resultado não é o mesmo, pois uma boa ideia não se repete e falta a «Presente de Morte» melhores actores. Tirando Frank Langella, que tem aqui um excelente vilão, os actores que compõem o casal não convencem. Sobretudo Cameron Diaz, que parece talhada para outro género de filmes.
«Presente de Morte» não deixa de ser um bom filme, algo diferente do que é normal estrear. E para os adeptos da música mais alternativa, há sempre a hipótese de ouvirem uma banda sonora criada por Win Butler e Régine Chassagne, dois dos membros da banda canadiana Arcade Fire, e Owen Pallet.
«Série B», opinião de Pedro Miguel Fernandes
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