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Mostra-me a tua lixeira, e dir-te-ei quem és.

António MouraUm dia vi uma pedra, uma linda pedra antiga, bem trabalhada. Representava parte de uma cruz, com uma base larga na zona inferior prolongando-se na vertical até à secção horizontal (travessa) que compunha a dita cruz. Estava incompleta mas mesmo assim bela, como qualquer estátua antiga a que falta um braço, uma mão ou a ponta do nariz (sphinx). Quando a vi, não acreditei logo no que via, de tal forma era estranho o local do achado. Mas por muito estranho, ele é já uma celebridade desde há mais de 30 anos, trata-se pois da já famosíssima lixeira a céu aberto que desde há três décadas, em Quadrazais, obtém a complacência de Presidentes de Junta, Câmaras Municipais e demais autoridades competentes que na GNR dispõem agora de um chamado «núcleo do ambiente».
PedrasA pedra, reconhecia de imediato já que se tratava de uma cruz que ornamentava o fontanário público da aldeia e que por acidente ou vandalismo lhe fora subtraída a parte superior, tal como podem ver na imagem da esquerda. A imagem da direita, essa, representa um pálido substituto daquilo que facilmente imaginamos ter sido o original. A espessura é de cerca de metade com apenas 4 faces simples em vez das oito faces do original (ou 4 faces chanfradas), e sem a base inferior que assentando numa outra formava um belo e imponente motivo.
Este episódio ocorreu há 20 anos atrás. Nos últimos 15 anos ornamentou um jardim em Coimbra. Hoje, ela está de novo disponível para servir de modelo a algum digno escultor que se proponha realizar o trabalho (cópia de substituição), no estrito respeito pelo original, tanto na traça como no tipo de granito.
Já encontrei coisas interessantes nesta lixeira, entre as quais objectos em ferro fundido tais como balanças e utensílios de uso agrícola. Felizmente isso não acontece com tanta frequência ultimamente. Sinais dos tempos, as pessoas vão mudando. Mais vale tarde do que nunca.
«Caminho sem Percurso», opinião de António Moura

mouramel@sapo.pt

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Comme dit un proverbe «africain» si tu ne sais pas où tu vas regardes d’où tu viens.

António MouraQuem conduz o carro no caminho? Será o caminho que ditando as leis do percurso o tornam no condutor? Ou será o homem que segue o traçado imposto pelo próprio caminho.
Caminhar movimenta-nos no espaço e no tempo, onde uma cultura de percurso e contactos energéticos altera a nossa polaridade e sensibilidade. Os velhos amantes são muito parecidos, tornaram-se semelhantes ao longo do tempo de permanente contacto. As relações humanas constituem assim mecanismos de trocas energéticas e de alterações de polaridades, que tanto podem elevar-nos como provocar o efeito contrário. Ao masculino cabe a entrega pela posse, ao feminino a posse pela entrega.
Numa estratégia em que nos damos de comer um pouco para comermos um pouco mais, as ralações entre as pessoas contêm um princípio canibalesco. Os pais também canibalizam os filhos, ao imporem condicionalismos a um crescimento que querem ver perpetuado na sua memória e nos seus genes, estes por sua vez (como algumas aranhas) comem uns pais complacentes, bebendo neles recursos físicos e mentais depauperantes, mas também perpetuadores.
Estas não são relações de Amor, são relações de presa e predador sujeitas à escravidão do argumento evolucionário.
Caminhar afasta-nos também do conteúdo original na criança que fomos. Tornando-se mais difícil ouvir, na multidão de formatos mentais e experiencias de percurso, onde reina o plagiador de identidades convenientes, ao serviço de uma qualquer estratégia de sobrevivência.
Misterioso homem, proclamador de um Darwinismo que a ele não explica, no seu desproporcionado potencial mental, quando uma pequena parte bastaria para ser bem sucedido como espécie.
«Caminho sem Percurso», António MouraVoltar à criança depois de percorrer o caminho, à criança sem percursos onde a energia flui, livre de conceitos civilizacionais, onde ela pode ser boa ou má, livre, brincando e movendo-se apenas porque sim, sem razões nem explicações, surfando num oceano de energia fluida, livre de obstáculos mentais, de desejos e tentações. Mas ela tem de crescer, cumprir o animal mental, mergulhar e ser possuída por esse inferno, e esquecer-se de si para um dia talvez relembrar.
A natureza do desejo, faz-nos perseguir miragens no deserto. Atingirmos ou não um desejo, é sermos felizes ou infelizes, o desejo é a moeda em cujas faces está a alegria e a tristeza. Nós desejamos o lado feliz da moeda, esquecendo até que é uma moeda e que como tal o lado feliz não existe sem o lado infeliz. No efémero momento em que possuímos o lado feliz da moeda, não vemos já a sombra da tristeza sobre nós. Assim que ela nos possui deitamos fora a velha moeda e corremos em direcção a outra. A um novo objectivo, que logo perde intensidade para de seguida perseguirmos outro, numa roda-viva de estímulos e respostas em que julgamos ser donos das nossas acções de percurso.
A ilusão da moeda de uma face é a ilusão tentadora no percurso em Matrix (filme), no Maya dos budistas ou simplesmente na nossa própria vida. É assim que a nossa mente entende o mundo, ela divide, não é capaz de ver o Centro, e aceder a um sentimento de totalidade.
O não desejo prepara o terreno, o não desejo em possuir alegria ou em repelir a tristeza por saber serem instrumentos da Matrix, prepara um caminho onde tudo quanto é, é apenas por ser, numa onda de Energia Consciente.
«Caminho sem Percurso», opinião de António Moura

mouramel@sapo.pt

Na ponte entre a margem da mente e a da sua ausência, ilumina-se esse sentimento de perda a que chamamos solidão.

António MouraPara o animal mental dar a outra face significa colocar-se a jeito para ser agredido, mas para outros esta é uma poderosa mensagem que nos diz que devemos viver entre os opostos, quando algo é negativo devemos dar a face positiva, em presença de um pólo devemos dar o outro, para que a energia possa fluir livremente sem congestionamentos.
A solidão não é uma revolta para fora, é para dentro, é um mecanismo de encontro a si mesmo, indutor de um conhecimento não mental, não decifrável pelo raciocínio, e por isso também apenas gerado na sua ausência. É pessoal e intransmissível. Não pode ser oferecido, apenas indicado.
O conhecimento de natureza mental é exterior e comum a todos, e como tal pode ser partilhado. Esse mecanismo actua como uma feromona circulando por todo o enxame humano, induzindo comportamentos direccionados para o exterior, para a predação, usando pensamentos como ferramentas de progressão. A sua ausência, inverte a direcção do movimento de fora para dentro, para o centro no qual não há perguntas nem respostas, não há bem nem mal, apenas um centro numa união de opostos.
Os Himalaias crescem em resultado da igual oposição de duas placas tectónicas, sem que uma domine a outra, o caminho do homem é igualmente o do equilíbrio de conflitos sem repressão nos seus opostos, animal e espiritual, bem e mal, positivo e negativo. Quando um lado quer dominar, temos apenas de «dar a outra face».
Os verdadeiros perigos no homem surgem quando uma das suas partes tentando negar a outra, produz a fricção e o consequente tremor de terra. Se houver aceitação de ambas partes o homem pode cometer erros (de aprendizagem), mas nunca terão a violência, que resultando do atrito da negação, conduzem ao brusco deslizamento no animal selvagem que também somos. Esse é o homem de duas faces assimétricas em que uma domina uma outra perpetuamente revoltada.
Sem as dores resultantes de duas partes em equilibrado conflito, o homem continuará na ilusão de um caminho que o não deixará passar pelo buraco da agulha, não por causa da posse de bens materiais! Mas sim pela posse de conceitos mentais e valores morais.
O que é amor e ódio, guerra e paz? Na perspectiva da mente são coisas diferentes porque a sua natureza vive no movimento. A divisão cria o movimento que a alimenta, quando a mente pára o movimento cessa e a divisão também para dar lugar ao Centro. Mas para o amor não correspondido que se transforma em ódio ou a guerra santa em paz podre, a mente na sua incessante busca introduz o factor tempo através do qual cada elemento ocupa um espaço diferente, tornando assim inteligível (para ela) o mundo que a rodeia. A mente é extraordinária no seu fervilhar incessante, proporcionando ao homem um considerável bem-estar físico comparativamente aos animais, mas ela é também o maior dos obstáculos quando nos agarramos às pontes que constrói. As pontes são para ser atravessadas.
Que fazem os pais, cujo amor os induz a proteger os filhos, seu património genético? Nada que os animais não façam ao protegerem as suas crias, e isso é bom e deve ser aceite, mas nada tem de espiritual, é apenas um maravilhoso mecanismo instintivo e egocêntrico do nosso lado animal. Amar, é dar sem a expectativa de quem por ter demasiado nada espera em troca, nem mesmo o prazer de se sentir bem em resultado de ter dado. Praticar boas acções num espírito mercantilista, de troca, de toma lá dá cá, é o que fazem os detentores de grandes fortunas (igreja incluída) quando se tornam beneméritos. Primeiro exercem o poder acumulando neles muito daquilo que era dos outros, depois porque sentiram vazio nos objectivos ou problemas de consciência, tentam então comprar o alimento da boa consciência, usando o mesmo método do caçador, do animal mental. Mas esse é um velho cliché, que tem de ser abandonado para quem quiser transpor a ponte. A busca invertida e as velhas ferramentas abandonadas.
«Caminho sem Percurso», opinião de António Moura

mouramel@sapo.pt

Uma das mais inquietantes observações que podemos fazer a propósito da compulsiva adoração da Igreja Católica relativamente ao «deus matéria», é essa incompreensível contradição no discurso, entre a glorificação dos valores espirituais e a adoração visceral aos aspectos materiais.

António MouraO discurso clerical, claramente perturbado e ultrapassado no tempo, defronta-se hoje com um óbvio impasse na escolha das ferramentas de controlo do rebanho. Para ele, o objectivo primeiro continua a ser o da perpetuação desse seu poder chamado «espiritual», para isso tem de mostrar a sua competente autoridade «material», os seus santos e os seus mecanismos (científicos?) de aferição de santidade. É preciso convencer, mostrar que sabe, esquecendo que foi desde há muito subjugada pelo deus matéria, já no tempo em que queimou seres humanos em fogueiras e destrui para sempre culturas ancestrais. Quando um discurso espiritual é ultrapassado pelo tempo, é porque de espiritual nada tem. A essência espiritual é intemporal porque não bebe na matéria.
A verdadeira espiritualidade não tem de se adaptar ao tempo, porque ela tem uma dimensão supra-temporal e é fruto de um conhecimento gnóstico. Cristo não se adaptou ao tempo, foi o tempo que se adaptou a ele. Tendo tão só sido um veículo portador de mensagem, um veículo auto-consciente capaz de se tornar vazio. O problema da igreja está no facto de estar cheia de coisas, de conceitos e valores morais, de imensos valores materiais. Mas a igreja é uma instituição gerira por milhares de mente desejosas, como podem elas estar vazias.
Para os judeus a vida começa com o nascimento. Para a igreja católica ela começa algures durante o acto sexual, com os amantes ainda suados do prazer carnal. Independentemente das condições de vida que essa potencial criança possa vir a ter nesta terra. O mais importante é a matéria, a carne, a perpetuação da espécie. Com o espírito subjugado pela carne, a igreja tem de dar a outra face se quiser voltar a ser uma religião viva. O seu conflito é o mesmo de todos os homens, mas cabe também a ela dar a outra face se quiser voltar a viver.
Constantino foi o primeiro e o maior destruidor do Cristianismo Primitivo (puro), numa altura em que muitas seitas cristãs bebiam ainda das águas cristalinas, foi ele quem após a sua própria e conveniente conversão, escolheu e moldou a igreja que chegou até nós. Peneirando evangelhos, numa clara trajectória de consolidação do poder. Constantino deu o toque, o modus operandi religiosamente seguido pela igreja até hoje.
Mas vejamos bem, se as pessoas fossem verdadeiramente religiosas, verdadeiramente centradas na sua espiritualidade, o que iriam elas fazer a uma igreja? Deus não está em todo o lado? Será que vão por hábito, por temor, para ver quem vai, para medir os índices de religiosidade dos outros ou pelo sim pelo não, numa postura de precaução e prevenção claramente comercial e tão contrária à espiritualidade proclamada? Um espaço físico entre paredes e tecto a que chamamos igreja não dá por si só nada ao homem, pelo simples facto de deslocarmos até lá os nossos corpos materiais. A espiritualidade é um sentimento de encontro consigo mesmo, de encontro com coisas que não têm a ver com o exterior. A própria acção evangelizadora se torna assim suspeita, como podem dar aqueles que não receberam, será que todos os que apregoam a palavra são seus íntimos, ou colocam-na apenas na boca para a domesticar, numa vã tentativa de auto-convencimento. A palavra vem de dentro para fora, não pode ser adquirida no exterior.
«Caminho sem Percurso», opinião de António Moura

mouramel@sapo.pt

«O batimento de asas de uma borboleta no Brasil pode provocar um tornado no Texas?»

António MouraEsta é a célebre metáfora (Efeito Borboleta) tornada emblemática pela Teoria do Caos, fenómeno de sensibilidade às condições iniciais, com o seu conceito de «determinismo relativo». De facto, a pergunta que a metáfora coloca não é cientificamente aceitável, devido ao efeito de dissipação da pequena quantidade de energia emitida. Por vezes a Ordem que emerge do Caos, é exactamente oposta ao chamado Efeito Borboleta. E talvez possamos considerar também, que se o seu efeito pode criar um tornado, também o pode anular.
Na verdade, o que podemos retirar da observação da complexidade, é o de ela conduzir à simplicidade, assim como o caótico à estabilidade ou a guerra à paz.
Para o observador que sabe distanciar-se do palco, da sua acção, movimentos e tempo, não é muito difícil cheirar a transformação das coisas nas suas transições pendulares. Mas para aquele que em permanência está na acção, mergulhado nos conceitos, valores e condicionalismos resultantes desses apegos, o olhar visionário não é possível, embora seja ciclicamente indispensável no virar de página dos grandes problemas.
Muitas coisas têm de ser alteradas nesta presente sociedade tribal. Não nos iludamos, os mecanismos de obtenção e consolidação do poder que regulam o mundo, continuam a ser os mesmos dos tempos da barbárie. A espada é hoje a pena, a palavra ditatorial e sem apelo armada por doce lei orgânica, ou norma comunitária, para melhor engolirmos. Os lobbies vistos com normalidade democrática, cercam leis que se perpetuam ao serviço do mais forte, porque o homem continua a ser o mesmo, apenas mudou a forma, não o conteúdo.
O poder do povo, chegou à encruzilhada da legitimidade que advém do voto, sem ter forçosamente razão. A razão tem que ver com qualidade e não com quantidade. O princípio da democracia baseia-se num pressuposto primário que atribui o poder ao mais forte (a união faz a força), o seu funcionamento gerou-se na noite dos tempos, ele cria blocos de oposição assimétrica, tal como no mundo natural, presas e predadores.
Onde está o homem?
Descobriu-se ao acaso, num filme passado a grande velocidade numa sala de montagem, que os búfalos africanos vão a votos quando decidem mudar de pastagens. Deitados enquanto ruminam, a votação realiza-se lentamente, e consiste em levantarem-se individualmente, apontando o focinho numa determinada direcção e deitar-se de novo. Um após outro de forma contínua, até finalmente toda a manada se erguer e seguir o rumo médio de todas as direcções apontadas. Uma notável proeza de consenso democrático.
Onde está o animal?
Por vezes, frequências inaudíveis à maioria das mentes, podem transformar alguns raros pelo seu toque. Outros apenas ouvem, dogmatizam e enquadram nas suas próprias culturas, transformando, mesmo que parcialmente (por ignorância ou excesso de conhecimento), veiculam ainda assim ensinamentos que transcendem as suas próprias limitações, crenças, moral e demais ferramentas de apoio à normalidade vivida.
Mensagens sem tempo nem lugar concreto, surgem naquilo que não oferece resistência nem contem, porque só o vazio pode realmente conter.
Retiremos das mensagens aquilo que de acessório o animal coloca, e veremos a mesma origem e universalidade, o mesmo tronco comum. Apenas a nossa mente caótica impede esse olhar visionário. Essa torre de Babel.
Na babilónia, Babil significava «Porta de Deus», no hebraico antigo significa «Confusão». Confusão às Portas de Deus, nada de mais natural.
A mensagem de uma borboleta vale mais pela transformação que se opera no seu interior, do que pela mudança que provoca no exterior. Ela vive rastejando até à morte que lhe dá vida, para uma simbiose com as flores.
«Caminho sem Percurso», opinião de António Moura

mouramel@sapo.pt

É de grande importância o impacto que a imagem pode gerar a jusante ao utilizar o visitante como embaixador.

António MouraAs imagens quaisquer que elas sejam, urbanas, rurais, de paisagens mais ou menos humanizadas, constituem uma poderosa influência do nosso comportamento. Num novo espaço em aproximação a primeira mensagem é sempre visual, é a mais importante, é aquela em que mais acreditamos porque é gerada na distância onde o não compromisso é possível, e por isso lhe atribuímos mais verdade ou pureza. À medida que nos aproximamos da imagem, ela desaparece, para dar lugar ao objecto real com o qual temos de estabelecer compromissos. O objecto real, por contaminação passa assim a fazer parte da nossa realidade ou da percepção que temos dela, e que projectamos também nos outros. Tal como no amor, apaixonamo-nos por imagens pintadas dentro de nós, porque o mecanismo de aproximação física assim o exige.
O que buscam as pessoas nos seus momentos de turismo e lazer, e no contacto com lugares novos, é a percepção de imagens e sabores numa liberdade que a distância de uma acção transitória permite.
No entanto, a imagem que temos de nós próprios e que no quotidiano projectamos à nossa volta, em todas as nossas acções, é a imagem que realmente influencia os outros, porque é a imagem real, não a imagem turística.
Na nossa comunidade, muitas são as aldeias cuja imagem pode ser englobada na categoria de cacofonia paisagística. Numa panóplia de cores, materiais e formas anárquicas, que apenas podem revelar interesse para algum estudioso em ciências humanas.
Nem as igrejas escapam à lapidação do «espírito do avô», onde se misturam granitos polidos de texturas e origens diversas, com o nosso tosco antigo. Onde as suas torres, outrora ornamentadas com ninhos de cegonha e apetrechos (galos) indicadores do sentido do vento, dão agora lugar à manifestação de endinheirados egos, na forma de enormes cruzes luminosas medonhamente descaracterizadoras.
As edificações religiosas nas aldeias do nosso Concelho, capelas e igrejas, deveriam constituir espaços privilegiados de projecção de imagem. Espaços geridos por entidades ou comissões de vocação multidisciplinar coordenadas pelo próprio I.P.P.A.R., e não deixadas entregues a comissões de festas, ou mordomos preocupados antes de mais em mostrar a grandeza de si próprios através de «notáveis obras de restauro e acrescentos sem nexo» ou de festas e romarias. Como se a fé pudesse ser mostrada a alguém.
A morte do avô, é a destruição de tudo aquilo que representa a imagem de um passado cuja proximidade compromete e priva de apreciarmos em liberdade.
«Caminho sem Percurso», opinião de António Moura

mouramel@sapo.pt

«Não se pode entrar duas vezes no mesmo rio», pois ele a cada instante renasce no fluxo que transporta. Provérbio Zen.

António MouraNasceu num tempo sem nomes nem homens. Nas suas margens conheceu lobos que nele beberam, veados, corços, linces, ursos, bisontes e outros seres de eras mais recuadas. Gerado por mil nascentes, ao longo de um percurso que então era seu. Deram-lhe um nome, os que dele se apropriaram.
Veio até nós com pureza, oferecendo a água, os peixes, o aroma dos poejos e a força da corrente, que nos moinhos transformava em farinha, o grão que lá entrava. Regando os cultivos nas suas margens, onde as mulheres lavavam roupas que punham ao sol a corar. De todas as povoações, Coadrazais é a primeira a receber o seu nome, e quem sabe, talvez contenha também no final da palavra um afluente do Côa conhecido por Ribeira de Urjais ou dos Rosais. Não me admiraria que em tempos idos, houvesse nestas paragens gentes conhecidas pelos de Côa dos Urjais ou Côa dos Rosais, a semelhança fonética dá que pensar.
Recordo momentos mágicos passados dentro de água pescando trutas à mão. Em zonas de pouca profundidade, pude aprender com os mais velhos a pratica de uma arte que considero ter valor cultural potencialmente explorável. Delimitando e protegendo zonas do rio especialmente vocacionadas para esta actividade, poder-se-ia considera-la como possível oferta eco cultural e de interacção com a natureza, no meio de várias outras, seria um potencial negócio e singular imagem de marca das Terras do Alto Côa. Apanhar pelas guelras trutas de boas dimensões, apenas com as mãos nuas, é para mim a mais extraordinária experiencia de pesca em rio de montanha. Esta arte piscatória tem ainda um impacto nulo ou até benéfico quando o peixe é retirado da água, já que as trutas de maiores dimensões exercem forte predação nos juvenis.
Este rio, tinha no passado, uma sustentável capacidade de regeneração, aguentando as mais selvagens formas de pesca. Com redes, venenos, bombas de foguetes, esvaziamento de açudes, pistolas submarinas, e até uma outra peculiar só possível em rios de abundância, que consistia em bater com uma marra nas pedras maiores, de forma a atordoar os peixes que por baixo se abrigavam.
Hoje, a nossa truta Fário assim como os grandes cardumes de Barbos, que passeavam rio acima rio abaixo com os maiores à frente e os pequenos atrás, por ordem decrescente de tamanho, aos poucos desaparecem. Pela introdução de achigãs, carpas, trutas de viveiro, alteração dos níveis de oxigénio por acréscimo de matéria orgânica de «proveniências várias»… regularização de um caudal que ao ter menos quedas não favorece a oxigenação, falta de sombreamento das margens útil á diminuição da temperatura da água. E finalmente pela delegação de responsabilidades por parte do Estado, em quem não tem a sensibilidade adequada.
As vacas autóctones desaparecem, os porcos pretos felizmente tiveram refúgio do outro lado da raia. Os corpulentos cães de gado com riscas verticais que segundo li algures eram endémicos desta zona da raia de ambos lados da fronteira, parecem também já ter ido.
Procura-se empreendedorismo e visão criativa. Mas primeiro, temos de perceber porque não gostamos das nossas coisas.
Porque se não gostamos delas
como poderão os outros gostar
quando de tão por nós maltratadas
já nada fazem lembrar
Ou lembrar-nos-ão ainda a miséria?
«Caminho sem Percurso», opinião de António Moura

mouramel@sapo.pt

Alimentos biológicos à moda antiga, sem perdas de tempo e dinheiro com entidades certificadoras.

António MouraOs PCBs, parentes próximos das dioxinas, não têm na Europa uma lei eficaz que os controle. Para estas substâncias nocivas ao homem, não existe qualquer garantia de que não venham parar ao nosso prato. As análises aos alimentos mais susceptíveis revelam um risco real. Este composto químico dá origem a diversos derivados de elevada toxicidade e persistência ambiental. Acumula-se em bola de neve ao longo da cadeia trófica até níveis muito elevados nos mamíferos. A exposição crónica a baixas concentrações pode causar danos no fígado, disfunções reprodutivas, debilitação do sistema imunitário, desordens endócrinas e neurológicas e desenvolvimento infantil e intelectual retardado.
Este é apenas um entre milhões de elementos nocivos à saúde, resultantes desta era de frenesim predatório, em que a identificação e resolução dos problemas de saúde pública é quase sempre reactiva e não preventiva. A velocidade na criação de novos estratagemas de obtenção de mais-valias é directamente proporcional ao nível de ansiedade com que a sociedade devora, numa vã tentativa de apaziguamento. Frequentemente ficamos mais pobres proporcionando mais-valias a alguns importadores de bugigangas.
A troca directa de alimentos entre pequenos produtores apostados em obter de modo sustentável alimentos de qualidade será a breve trecho uma saudável inevitabilidade no mundo rural, uma ajuda complementar ao orçamento familiar, e um modo de vida que o actual modelo de desenvolvimento único faz renascer das cinzas.
Comer bem, evitando a ingestão de alimentos que por contaminação cruzada, chegam hoje de forma insuspeita aos nossos pratos, está ao nosso alcance. Os mais sensibilizados por esta questão, que possuam a abertura de espírito mais própria do mundo urbano e o conhecimento da terra do mundo rural, darão o impulso inicial. A associação voluntária de agentes de troca agregados por um ideal dará a força que por vezes a razão não tem.
Sendo já uma realidade nalgumas comunidades, onde as excentricidades iniciais de sonhadores cosmopolitas deram origem a estruturas funcionais e adaptadas às especificidades locais.
Ninguém espera revolucionar as estruturas existentes de produção e comercialização em massa de produtos alimentares. Aquilo que esses pequenos grupos procuram fazer, é transformar o seu próprio mundo a partir deles próprios, impulsionados não tanto pelos instintos do corpo mas por sentimentos da alma. Mas talvez por isso mesmo, sejam eles até mais letais para a matriz de desenvolvimento instalada do que poderíamos imaginar, porque aqueles que realmente podem mudar o mundo não são os que pretendem mudar os outros com discursos emprestados, são os que tendo criado o seu próprio paradigma, o podem por isso mesmo oferecer, sem oratórias evangelizadoras. Quem não possuí, também não pode dar.
O cultivo de espécies vegetais desde sempre utilizadas na agricultura de subsistência, hoje nalguns casos extintas ou em vias de o ser, tem uma enorme importância. A diversidade genética destas variedades é hoje amplamente reconhecida pela ciência como contendo mais elementos de adaptação às anormais instabilidades e flutuações climatéricas. O que também que dizer que as espécies geneticamente manipuladas são as primeiras a tombar, fruto da sua artificialidade genética e fraco poder de adaptação, elas têm de ser permanentemente reinventadas a partir da riqueza de espécies nativas que as grandes companhias de O.G.Ms (Organismos Geneticamente Modificados) ciosamente guardam em banco de dados, para tirar proveito da dependência que vão criando. Tanta energia e tempo gastos, quando podemos utilizar plantas e animais que embora possam produzir pontualmente menos quantidade, tem ainda assim a vantagem do sabor e da garantia de durabilidade ao longo de gerações.
Recorrer sem preconceito a sinergias resultantes da ligação do novo com o velho. Dos novos conhecimentos sobre produção biológica, com saberes antigos orquestrados pela própria terra. Partilhar tais saberes, fomentando a preservação e utilização dos verdadeiros produtos agrícolas desta terra, numa base científica, culminando com a criação de uma bolsa de produtos num site, seria certamente um projecto aliciante num mundo cada vez mais massificado pela corrida ao argumento económico.
«Caminho sem Percurso», opinião de António Moura

mouramel@sapo.pt

JOAQUIM SAPINHO

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