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Há mais de meio século, que milhentas vezes fazia uma pergunta a mim próprio: onde estará a minha Professora Primária, ainda está na companhia dos vivos? Tinha umas pistas e havia necessidade de investigar, fazer prospeção e tentar a sua localização.
A última vez que tinha estado com ela, foi quando fiz exame da 4ª classe no Sabugal. Nos dias antecedentes, ainda tivéramos aulas na varanda da casa dos seus pais, numa quinta nos arredores daquela vila. Ao fim de algumas diligências, consegui localizá-la através de sua irmã Professora Joaquina Marques, residente no Sabugal, mas foram necessários diversos telefonemas, para que este aluno falasse com a sua professora. Quando o consegui fui invadido por uma emoção, por uma alegria, por uma felicidade, conversar com aquela que me abriu os caminhos do futuro, que me rasgou os horizontes da cultura e da arte. A minha Professora Primária, chama-se Otília d’Ascensão Marque Gonçalves, é natural de Águas Belas e filha de Joaquim Marques e de Alzira Pires Lages. Os pais eram proprietários de duas quintas, a Quinta Mateia e a Quinta Nova, junto à estrada nacional que liga o Sabugal à Guarda. O seu pai é de Águas Belas e a sua mãe, natural de Carvalhal Meão, e sobrinha do Padre Diamantino Lages, que durante muitos anos foi Pároco de Pega e Carvalhal Meão.
É originária de uma família muito respeitada, muito trabalhadora, organizada e amiga, solidária com todos os trabalhadores e com quem convivia. É a filha mais velha de cinco irmãos, três rapazes e duas raparigas. Todos estudaram e atingiram cargos superiores, na vida militar, no ensino e na engenharia.
Frequentou o Liceu na Guarda e quando terminou estes estudos, já funcionava a Escola do Magistério, formou-se como Professora Primária, em 19 de Agosto de 1952.
Em Outubro desse ano foi colocada na Escola Primária Feminina da Bismula – Sabugal-, como Professora do Quadro de Agregados. Iniciou na Bismula um longo e gratificante caminho de ensino. Seguiu-se a Escola de Penaverde – Aguiar da Beira. Em 1954 voltou novamente à Bismula, como Professora do Quadro Geral. Seguiu-se Vale de la Mula – Almeida-, e o Soito – Concelho do Sabugal. Voltou a fazer a “ terceira comissão“ e última na Bismula. Seguiu-se a Escola Primária de Alfaiates no Sabugal, Vila da Feira em Aveiro, Ota, Póvoa de Santa Iria, Vila Franca de Xira e Escola Secundária de Alenquer e Carregado.
Em 1973 tinha habilitações académicas para dar aulas na Escola Preparatória de Alenquer como Professora de História e Português. Continuou a estudar, frequentou a Universidade de Letras de Lisboa e fez a licenciatura em História, com grande sacrifício familiar. Eram as aulas, eram os filhos, eram os estudos. “Não foi fácil alcançar os meus objetivos, mas consegui com trabalho e esforço.”
Em Junho de 1993, com quarenta anos de ensino primário, preparatório e secundário, pediu a aposentação, por força da lei, terminando uma importante e brilhante carreira docente em Alenquer.
Teve um percurso frutuoso e maravilhoso na educação de milhares de jovens, onde me incluo com muita gratidão.
Na Bismula formou muitos jovens, aí alicerçou muitos homens e mulheres. Passou tempos felizes na primeira escola onde exerceu. «É sempre a primeira escola da minha vida profissional, o começo de uma vida a sério, de uma vida com responsabilidade, tanto para comigo própria, como para as crianças que eu ia ensinar e tentar abrir portas para a vida. Tive a sorte de encontra uma santa de uma senhora, a Senhora Antoninha Polónia, e a Família Vaz, que me ajudaram a ver a vida e o futuro. Esperava-me sempre com olhos de esperança e de confiança. Bons tempos!»
«Só havia uma pequena dificuldade: ir a pé ou a cavalo, da Bismula até à Nave e apanhar o transporte rodoviário da Viúva Monteiro para o Sabugal. Eram outros tempos… não havia estradas, havia caminhos onde mal se podia passar.»
A profissão de Professora é das mais importantes para mim, das mais importantes para a sociedade. É o seu pilar. São estes profissionais do ensino, sucessivamente vilipendiados pelos últimos governos, que ensinam com muita competência, responsabilidade, disciplina e missão, sem olharem a horários ou honorários extras, muitas vezes colocados em situações e locais difíceis, sem direito à mais pequena reivindicação.
Diz a minha Querida Professora Primária: «acho que fui sempre uma Professora que, ao exigir disciplina nas aulas, levava os alunos a desejarem aprender e a obter muitos bons resultados nos finais de cada ano escolar. A melhor prova foi que nenhum aluno da Bismula, levado a exame, reprovou.»
Nos arredores de Lisboa, viúva, chorando a partida de alguns familiares, com doenças irreversíveis, com a sua saúde precária, mas com a força, lucidez e ânimo, na companhia de dois filhos, respetivas noras e quatro netos. Minha Querida Professora Primária, um abraço de gratidão do tamanho do mundo, do seu aluno,
António Alves Fernandes – Aldeia de Joanes
António Alves Fernandes – Aldeia de Joanes
O tempo passa depressa. Já lá vão três anos, que o Padre Francisco dos Santos Vaz deixou o mundo dos vivos. Neste terceiro aniversário o meu objetivo é relembrar, avivar a sua memória. Sabemos que há tendências para esquecer aqueles que nos são próximos, os nossos familiares, os nossos amigos, muitas vezes aqueles que nos ajudaram a crescer em todas as amplitudes humanas e sociais. Para combater essa vertente aqui estou novamente a escrever, porque há pessoas que pelo seu caminhar ao lado de comunidades, de sentirem e apontarem injustiças, não devem ficar nos baús do esquecimento. O Padre Francisco dos Santos Vaz não pode, não deve ser ignorado.
Com ele, partilhámos diversas atividades lúdicas na terra que nos viu nascer – A Bismula – Sabugal.
Com ele, partilhámos idas a Almedilha, terra fronteiriça de Castela, onde na casa «d´el Cura» tomávamos o pequeno-almoço. Ofertava-nos lindos selos que coleccionávamos em uso naquele país. Ainda nos ajudava para que as autoridades (os terríveis carabineiros franquistas), não nos «roubassem» uns pães, uns doces – as galhetas –, uma bola de borracha de futebol, umas sapatilhas e um ou outro livro religioso.
Com ele, partilhámos as idas e estadias no Rio Coa, nas margens de Badamalos, na propriedade de António Joaquim Morgado Leal. Com outros companheiros, pescávamos peixes, refrescávamo-nos, cozinhávamos, enfim, passávamos momentos maravilhosos de entretimento, fazendo parte deste grupo o actual Pároco do Sabugal – Padre Manuel Igrejas. Ainda no passado dia oito de Agosto, na renovada Igreja de Badamalos, na Celebração das Bodas de Oiro do Padre Agostinho Crespo Leal, e no Encontro Anual dos Sacerdotes da Diocese de Évora da Zona Raiana, te recordámos com saudade e rezámos.
Com ele, partilhámos na casa de seus pais, Albertino Vaz e Maria d’Ascensão Leal, o pão repartido, as refeições que fumegavam nas panelas de ferro, aquecidas à lareira, e alojamento à luz da candeia porque a luz elétrica ainda era uma miragem.
Com ele, partilhámos milhares de quilómetros à boleia quando éramos jovens estudantes, ficando mais conhecedores do património nacional.
Com ele, partilhámos cultura quando nos deslocávamos às ruinas romanas de Tróia, aproveitando para umas idas à praia com o mesmo nome, quando esses locais eram do Povo, as salgadeiras, onde os romanos guardavam o melhor peixe de Setúbal.
Com ele, partilhámos conhecimentos de línguas clássicas, grego e latim, onde era mestre, além de dominar o francês, o inglês e o alemão, sem esquecer a língua portuguesa com provas dadas no Ensino Secundário, no Jornal «O Nordeste» e nos livros de sua autoria.
Com ele, partilhámos a amizade dos meus pais e meus irmãos, que viam, no Francisco dos Santos Vaz um filho e irmão mais velho, culto e sabedor.
Francisco dos Santos Vaz, escrevi-te este pobre e simples texto, para que sejas recordado, para que ninguém afirme que já te não conhece na Bismula. Sabes que há muita gente que tem a memória muito curta. Esquecem-se facilmente aqueles que fizeram história, semearam e ensinaram cultura, apregoaram valores e foram sacerdotes ao serviço do amor e da proximidade, nas aldeias dos outros e na sua terra natal.
Francisco dos Santos Vaz, em tua homenagem e para que nunca sejas esquecido «cantarei sempre até que a voz me doa».
António Alves Fernandes – Aldeia de Joanes
Lembrei-me de escrever sobre uma figura muito popular das nossas comunidades cristãs e paroquiais. Todos os que frequentamos a Igreja, conhecemos bem a missão e os serviços prestados por estes homens e mulheres. Nós também já partilhámos essas actividades em muitas cerimónias religiosas ajudando o titular do cargo.
Vou escrever umas notas sobre aqueles com quem me cruzei e a minha experiência neste serviço voluntário.
Da Bismula recordo o Manuel Cordeiro. Nós, ainda muito jovens, procurávamos ajudá-lo principalmente nas Eucaristias da semana, com horário matutino, porque os habitantes tinham de ir trabalhar para a faina dos campos agrícolas. Havia tanta competitividade, que muitas vezes os mais madrugadores se escondiam atrás do altar-mor, fazendo barulhos para afastar os mais preguiçosos. Era uma disputa muito saudável e louvável, sem censuras do Pároco. Lembro-me dos Jovens nestas andanças: Manuel Vaz, seu irmão Messias Vaz, António Alves Fernandes e seus irmãos Manuel José Fernandes e Francisco Alves Monteiro, José Lavajo Fernandes e tantos outros.
Em Setúbal, na Igreja de Santa Maria da Graça, hoje a Sé da Diocese, José Maria Fernandes Monteiro, meu saudoso Pai, durante um ano desempenha, em regime de substituição, o cargo de sacristão, que pertencia a Ernesto Santos Silva, morador na Rua da Paz, junto às muralhas medievais da cidade de Setúbal, a recuperar de uma grave doença. Regressado à sua função, José Maria Fernandes Monteiro fica com o encargo de diariamente ajudar à missa, na Igreja da Boa-Hora (Grilos), edificada em 1566, pela Ordem dos Agostinhos Descalços, onde há muitos anos está alojada a Comunidade dos Missionários Claretianos. Colocado em novo emprego, passaram os filhos a desempenhar aquela missão. Várias vezes coube-me ir desempenhar as funções amadoras de sacristão, principalmente nas férias. Era Superior da Casa, o Padre Carolino, homem bom, com um coração maior que Trás-os-Montes, província de onde era natural, que nos autorizava a colher e comer no quintal laranjas e tangerinas. Já o Padre António Monteiro de Terras de Jarmelo (Guarda), que conheci em Setúbal, era bem mais severo. Talvez fosse fruto de recalcamentos históricos pelo facto de D. Pedro, o Justiceiro, vingar a morte de Inês de Castro, arrasando aquelas povoações e arrancando o coração pelas costas a Pero Coelho de Jarmelo. Em contrapartida, este Rei atribuiu imensos privilégios aos pescadores de Setúbal…
Um dia, possuído de odores a laranja e tangerina, sou interpelado por este celebrante, que além da censura ditatorial, aplica-me o respetivo corretivo. Seguimos para o altar, ainda se celebrava a Eucaristia de costas voltadas para o povo. Ao colocar a almofada para se ajoelhar, o reverendo dá-lhe um pontapé, que parecia um golo do Eusébio, aqui na baliza de Santo Agostinho, que estava no altar muito sossegado com um livro numa das mãos. Foram os citrininos mais amargos que saboreei na cidade de Setúbal. Aqui foi muito negativa a minha experiencia de «sacristão».
Conheci em Setúbal, um sacristão, numa das maiores Paróquias Nacionais, refiro-me a S. Sebastião, um exemplo de dedicação e amor à camisola de serviço à Igreja. Refiro-me a João Maria Afonso Lopes, o «João Sacristão». Muito virado para a evangelização junto dos homens do mar, onde teve as suas origens, construiu uma Capela no Bairro do Faralhão, e durante muitos anos foi o impulsionador e organizador das Festas de Nossa Senhora do Rosário de Troia. O seu nome está perpetuado numa artéria da Cidade de Elmano Sadino, perto da Avenida do Coração de Maria, na Comunidade da Azeda de Cima.
Em Castelo Branco, um sacristão com nome militar – Fernando Sargento – era efetivamente um sargento na guarda dos tesouros da Sé Albicastrense, sempre vigilante durante décadas, falecendo quase centenário. Os Rotários de Castelo Branco prestaram-lhe uma justa homenagem pelos revelantes serviços prestados à comunidade cristã.
Em Aldeia Nova do Cabo (Fundão), durante mais de cinquenta anos, trabalhou para a Paróquia José de Oliveira, sendo substituído por João Gadanho, a quem as dificuldades visuais impediram de ainda estar a serviço.
Em Janeiro de Cima, encontrei uma persistente guardiã da igreja. Decorreu um evento cultural naquele local e a idosa responsável esteve sempre atenta na guarda de todo o património sagrado. Procurei descansá-la, dizendo-lhe que tudo iria correr bem, que os presentes eram gente séria, conhecidos da Junta de Freguesia local e da Câmara Municipal do Fundão, mas apesar de ouvir os meus conselhos, não descurou a segurança.
Termino este périplo em Aldeia de Joanes, onde uma dinastia de sacristães tem ocupado a respetiva cadeira durante muitos anos. Sebastião Nascimento Ramos e seu irmão Manuel Joaquim Ramos, em períodos alternativos, desempenharam a missão de ajudantes do senhor prior. Manuel Ramos tinha uma voz para os cânticos litúrgicos de encher a alma de quem o ouvia. Até arrepiava quando cantava estes versos:
Oh! Vós que passais
Em frente deste Sacrário.
Oh! Eles loucos não pensam
No amor do Santuário.
É ali que repousa
Naquela Hóstia de Amor e Luz
Vamos todos nesta hora
Desagravar o Bom Jesus.
Também nas festividades do Natal, Quaresma e Páscoa, entoava cânticos de grande musicalidade e fervor religioso. Nas diversas procissões era um general a comandar as tropas.
Há anos, com o seu falecimento, terminou esta Dinastia Sagrada, sucedendo-lhe Higino Serra Cruz, que desempenha um vasto trabalho de sacristão, sempre muito atento e preocupado; ainda é ministro da comunhão e elemento da Cáritas e da Equipa Litúrgica, substitui por vezes o Pároco, trata da limpeza da Igreja Matriz, arrumações e sempre que necessário põe em prática os seus vastos conhecimentos de marceneiro.
Estes homens e mulheres, no silêncio religioso das Igrejas, muitas vezes sem lhes ser reconhecida a atenção e o carinho que merecem por desempenhar tarefas fundamentais, nas atividades litúrgicas, na defesa do património dos templos, são voluntariamente os guardiões dos templos. Merecem reconhecimento e homenagem de todos.
António Alves Fernandes – Aldeia de Joanes
A Paróquia da Bismula, foi durante o século passado um grande alfobre, um viveiro de vocações sacerdotais, missionárias e religiosas. Desse grande número, o Bismulense Padre Manuel Joaquim Martins, celebra meio século da ordenação presbiteral, e que aconteceu na cidade de Trancoso, em Agosto de 1962.
O atual Pároco da Bismula, Padre Hélder Lopes, com o seu dinamismo e juventude, criou uma comissão organizadora de Ação de Graças, pelos cinquenta anos de vida sacerdotal do Padre Manuel Martins. Constituiu uma comissão muito abrangente, que é coordenada pelo Padre Hélder Lopes, como é óbvio, por José Augusto Vaz, na qualidade de Presidente da Junta de Freguesia da Bismula e Provedor da Santa Casa da Misericórdia; António Salgueira irmão e Rita Martins Pinheiro, sobrinha, em representação da família, António Alves Fernandes, em representação das Paróquias do Arciprestado do Fundão e de Emília Bordalo, em representação das Paróquias do Arciprestado de Trancoso.
Este evento realiza-se no dia 25 de Agosto, Sábado, pelas 16H00, na Igreja Paroquial da Bismula, com uma Eucaristia presidida por D. Manuel Felício, Bispo da Diocese da Guarda.
No final da Eucaristia será servido um lanche-convívio, nas instalações da Junta de Freguesia.
A presença nesta cerimónia religiosa que se pretende simples, é uma prova de amizade, de reconhecimento e agradecimento, por uma longa e profícua missão sacerdotal, que começou por coadjutor na Sé da Guarda, pelas Paróquias de Carnicães, Vilares, Freches, Vila Franca das Naves, Vale Mouro, Frechão, Feital, Garcia Joanes e Póvoa do Concelho, Tamanhos, do Arciprestado de Trancoso, das Paróquias de Aldeia de Joanes e Aldeia Nova do Cabo do concelho do Fundão, Professor de Religião e Moral no Fundão, em Trancoso e Celorico da Beira, Vila Franca das Naves; de Assistente Religioso do Agrupamento 120 dos Escuteiros do Fundão e um dos primeiros impulsionadores dos Convívios Fraternos no Fundão.
Por motivos de doença, fez um “ estágio obrigatório,” no Sanatório da Guarda, de assistente religioso junto dos seus companheiros doentes durante vinte e dois meses. Só o doente compreende melhor o outro doente, que partilham dores, tristezas, ansiedades e preocupações. Dizia-me há dias que foi o local que contribui muito para a sua realização como padre, companheiro do homem.
Procurou dentro das condições humanas que cada um de nós transporta, ser sinal de Deus no meio dos homens, ser profeta de uma Igreja que é comunidade, anunciou a Boa Nova a todos os cristãos a si confiados.
Qualquer informação e esclarecimento contate a Comissão Organizadora de Ação de Graças:
Padre Hélder Lopes – Telemóvel 966549561
José Augusto Vaz – Telemóvel 927964754
António Salgueira – Telemóvel 271607233
Rita Martins Pinheiro – Telemóvel 919233491/275772627
Emília Bordalo – Telemóvel 961868020
António Alves Fernandes – Telemóvel 962820107/275752726
Deu-se conhecimento do programa e contatos para que com toda a dignidade e fraternidade, agradecemos a Deus os cinquenta anos de sacerdócio do Padre Manuel Joaquim Martins.
António Alves Fernandes – Aldeia de Joanes
A Câmara do Sabugal vai requalificar um conjunto de estradas municipais, nomeadamente as que passam na Nave, Aldeia da Dona e Bismula, assim como na Rapoula, Ruvina , Batocas e Bendada.
A última Assembleia Municipal ratificou a decisão da Câmara Municipal de alterar o Orçamento e as Grandes Opções do Plano para 2012, através da qual se afectaram verbas a a novos projectos, retirando-as de outros, que a Câmara deixou cair. A maior verba, de quase 700 mil euros, foi retirada da rúbrica «ligação da A23 à Fronteira», transferindo-a por inteiro para a requalificação das estradas municipais. Outra actividade que ficou sem verba foi a exposição etnográfica prevista para o Centro de Negócios do Soito, que tinha afectos 29 mil euros.
Uma das estradas que a câmara prevê reparar é o troço entre a Nave e a Bismula, que passa por Aldeia da Dona, prevendo-se que as obras cheguem até à ponte de Vilar Maior.
Outra estrada a ser beneficiada é a que vai do cruzamento da Parada ao limite do concelho.
Também a ligação da Rapoula do Côa à Nave, que passa pela Ruvina, merecerá melhoramentos, o mesmo acontecendo no acesso que liga o cruzamento da estrada nacional às Batocas.
As beneficiações chegarão ainda à via que liga Rebelhos à Bendada e ao troço que atravessa Aldeia Velha.
No total, a câmara afectou à reabilitação de estradas quase 900 mil euros.
As alterações ao orçamento foram aprovadas na Câmara Municipal graças à abstenção do vereador Joaquim Ricardo, que impôs que as reafectações de verbas incluam algumas das obras previstas no plano de eficiência no uso da água. Já os vereadores socialistas optaram por votar contra as alterações, alegando que o faziam não por discordarem das obras a executar, mas pelo facto da proposta não ter sido acompanhada pelo ponto da situação relativo à execução orçamental deste ano.
plb
O significado do dedo polegar, com o resto da mão meio-fechada, é do conhecimento universal, principalmente dos automobilistas.
Nos meus tempos de estudante, dadas as inúmeras necessidades económicas, tive de me fazer à estrada e pedir boleia durante muito tempo. Era uma aventura para mim e aliviava a parca bolsa dos meus pais.
A primeira pessoa que me inspirou nestes itinerários rodoviários foi o Missionário João Czepanski, que sofreu as agruras da Segunda Guerra Mundial, Reitor da Escola Apostólica de Cristo Rei, quando em 1958, vestido de sotaina e munido de uma máquina de escrever e uma pasta preta, ia para a Estrada da Beira, que conduzia a novas oportunidades para os seus pupilos e contactos com benfeitores.
Na década de sessenta o meu pai vai para Setúbal, a quem se junta o meu irmão Manuel José Fernandes, que se encontrava em Lisboa. Numa conversa, nas férias da Páscoa, na minha aldeia natal – Bismula –, com o Francisco dos Santos Vaz, aluno no Seminário da Guarda, já com alguma experiência nas aventuras do asfalto, o repto foi lançado: nas próximas férias de Verão iríamos, de boleia, da Guarda até Setúbal, onde estaríamos uns dias com o meu pai e irmão. O meu pai desempenhava lá as funções de sacristão e sempre dávamos uma ajuda nas liturgias diárias.
Manhã cedo já estavamos estrategicamente à saída da cidade dos três efes. Os automóveis eram raros, mas os condutores eram generosos. O primeiro condutor, com um Citroen 2CV, leva-nos até perto de Celorico da Beira. Ainda apanhámos um grande susto, mas ficou no susto. Junto a nós vi uma vinha com saborosos cachos de uvas. Como era o mais novato, decidi temerário colher os frutos de Baco. De repente, senti um travar de trovoada e o Francisco Vaz a gritar para correr. Claro que lá foram as uvas… Um casal de turistas franceses estava disposto a levar-nos até Lisboa. Foi genial. A primeira paragem foi na cidade de Coimbra. Fizemos uma visita cultural com um cicerone fora do comum: o meu conterrâneo, que falava diversas línguas e com grandes conhecimentos históricos. Tínhamos conquistado a simpatia daquele casal francês. Seguiu-se Alcobaça onde almoçámos. Passámos à Nazaré, adorada por marido e esposa. Antes de chegar a Lisboa ainda passámos por Fátima. No final da viagem recebemos um dólar cada, além de termos almoçado muito bem e chegado ao nosso destino. Foi uma retribuição justíssima pelas aulas de história, geografia, arte e cultura na língua materna do casal.
Assim levei a vacina das boleias, que ainda hoje me corre no sangue, cultivando religiosamente o polegar na linha do horizonte.
A segunda viagem empreendida «a dedo» foi o trajeto invertido da primeira, ou seja, de Lisboa para a Guarda, esticando-se a estrada até Vilar Formoso, à casa paroquial desse homem e padre que nos marcou profundamente de nome Padre Ezequiel Augusto Marcos, que ainda hoje se encontra naquelas terras, onde sempre tivemos toda a sua hospitalidade e acolhimento. Nesta peregrinação calhou-nos um condutor dinamarquês, com um ódio de estimação ao Estado Novo. Várias vezes nos incitou a emigrar para o seu País, pois em Vilar Formoso não havia problemas para ultrapassar a fronteira.
Outra viagem teve saída de Setúbal e, embora muito apertados, chegámos a Santarém. Aí, vistas as dificuldades, só conseguimos entrar numa carrinha de caixa fechada, carregada com sacas de farinha. Saímos em Torres Novas mais parecidos com uns moleiros, todos cheios de farinha, pois, com a trepidação da carrinha, essa estacionava nas nossas roupas. Apesar da roupagem branca, foi o dia negro das nossas viagens. Chegámos ao anoitecer ao Gavião. Ainda não se encontrava lá o José Augusto Vaz, Irmão de Francisco Vaz e em Abrantes a minha prima freira Lurdes Alves Ramos, enfermeira na maternidade do Hospital daquela cidade. Ali chegados sem dinheiro e sem o farnel, já há muito se tinha esgotado, uma desgraça nunca vem só, dirigimo-nos ao Seminário Menor da Diocese de Portalegre. Recebe-nos um padre que não nos dá guarida, ainda insinua que podemos ser malfeitores. Lembrei-me da Parábola do Samaritano. E eis que surgiu uma Samaritana, uma mulher idosa que também tinha um filho que andava por esse país de boleia, dando-nos ceia, dormida e no dia seguinte o pequeno-almoço. Ainda há gente boa para quem a caridade não é só palavreado. Seguimos diretamente para Castelo Branco. Aí, da parte da tarde, um condutor, acompanhado pela sua filha, dá-nos boleia até à Guarda. A filha deve ter pedido para nos transportar. Era boa de sentimentos e linda como uma flor. O seu progenitor entrou em discussão connosco e estava na expetativa de nos pôr fora do automóvel. Quando passávamos por Alpedrinha, já na Serra da Gardunha, surgiu uma tremenda trovoada. Eu estava com medo que ele nos convidasse a sair para um passeio campestre na Gardunha… Já não nos chegava os trovões das suas palavras. Lá chegámos à Guarda…
Noutras férias da Páscoa saí de Gouveia com destino a Setúbal, onde tinha todos os meus familiares. Até Coimbra tudo correu bem. À saída daquela cidade, depois de longo tempo de espera, fui de carroça até Condeixa-a-Nova. Andei doze quilómetros num veículo de tração animal. Essa viagem também não correu bem e tive de apanhar o comboio nas Caldas da Rainha para Lisboa, via Oeste, onde cheguei tarde e a más horas. Sem dinheiro valeu-me a minha tia Amélia Alves Lavajo que residia na Ajuda.
Muitas dezenas de viagens se seguiram. Apontei estas que mais me marcaram. Recebi muitas boleias e ainda corro o risco de as dar, partilhando o meu automóvel para ouvir novas histórias e vidas. Gosto desta forma de contato, de falar com as pessoas, de escutar o coração humano pela longa estrada. Há dias transportei de Castelo Branco um estudante canadiano que andava a dar volta pela velha Europa, como afirmou. Dizia-me que não era crente, que não acreditava em religiões. Á despedida, no Fundão ofereceu-me uma pequenina imagem de Jesus Cristo. Fiquei sem palavras…
Hoje a oferta e a procura passa por novos métodos, por novas tecnologias, por outas vias de comunicação, pela internet, onde se «desenrascam» boleias para o fim do mundo. É uma proximidade mais cómoda, embora eu prefira o risco da boleia de estrada. Por oposição ao polegar (qual imperador romano!) que agora só assinala um «gosto» no facebook, vou recordar sempre o polegar da sobrevivência, sinal «fixe» de camaradagem entre os homens.
António Alves Fernandes – Aldeia de Joanes
Naqueles tempos, há mais de cinquenta anos, os habitantes da Bismula viviam com imensas dificuldades. Era fundamentalmente através das atividades agrícolas e da pastorícia que sobreviviam, com a ajuda das jornas contrabandistas em terras fronteiriças. Todos os terrenos disponíveis eram cultiváveis. Não havia campos incultos.
Os cereais (centeio, trigo, cevada e milho) eram primordiais na alimentação humana e também para os animais.
Os terrenos das searas passavam por três fases ou folhas como o povo chamava. Na primeira, em Março, começava- se a decrua das terras, eram lavradas. Na segunda as searas ficavam no seu normal crescimento e na terceira as terras estavam de poisio ou em repouso.
Começa aqui o ciclo do Pão. Em finais de Setembro e Outubro procedia-se à sementeira do centeio. Onde não chegava o arado eram feitos os cadabulhos com a enxada. As terras eram adubadas com o Nitrato do Chile. Com a semente nascida procedia-se a uma apara com dois objetivos: uma melhor ceifa manual e arrancar algumas ervas daninhas.
As ceifas iniciavam-se pelo S. João, S. Pedro, em finais de Junho. Organizavam-se os ranchos de ceifeiros e ceifeiras em trabalho de parcerias, dado que rareava o dinheiro, daí a necessidade desta permuta. Era um trabalho árduo, debaixo de sol escaldante, que exigia refeições reforçadas. Não faltava o presunto, a chouriça do porco caseiro ou as saladas de bacalhau. Matava-se um borrego, um cabrito, fazia-se um bom ensopado acompanhado com uma refrescante salada de alface. Ao cair da noite regressavam à aldeia cantando ao desafio os diversos ranchos. Antes do repouso justo ainda se comiam as milharadas, feitas com farinha de milho e trigo, misturada com leite.
Feitas as ceifas, atados os molhos das espigas, seguia-se o trabalho da «carranja», que era o transporte em carros de bois para as Lages ou Eiras, onde organizavam as medas, um belo conjunto ordenado dos molhos do centeio.
Na Bismula havia naqueles tempos as Eiras ou Lages dos Pinas, da Tia Maria Emília no Barroco Grande, do Corvo, do Chão do Pinto, do Vale das Mós e do Pombal. Ali malhava-se o cereal com um grupo de homens que, sob a voz de comando, com mestria e cadência, exercitavam os manguais. Destacavam-se neste trabalho Manuel Moleiro, José Vaz, Francisco Carvalho, Joaquim Salgueira, José Pinheiro, Joaquim André Teixeira, entre outros. A ajudá-los havia duas ou três mulheres, as espalhadeiras, com destaque para Maria da Graça Polónia e Maria Pinheira.
Mais tarde surgiram as malhadeiras, que trabalhavam por força de um motor através de correias anexas, de forma a facilitar a tarefa da separação do cereal e da palha. Foi um grande avanço tecnológico, de grande rapidez e sem esforço humano. Também começaram a surgir os motores de rega a petróleo, que também veio revolucionar as regas.
Recolhido o centeio, este seguia para as arcas, a fim de cumprir os compromissos anuais da irmandade, as côngruas, os pagamentos dos adubos e, em maior quantidade, para ser moído, escolhendo-se a melhor semente para futura germinação.
A moagem era concretizada nos Moinhos de Água, na Tapada Ribeira, propriedade de Maria Luiza Fernandes e José Polónia. Mais abaixo, perto de Badamalos, na Negreira, uma outra propriedade de Manuel Salgueira e Manuel Joaquim Polónia. Em Valongo do Coa, também havia o moinho de César Moleiro e Manuel Pires e na Rapoula do Coa moeram muito cereal dos bismulenses.
Obtida a farinha era peneirada e o farelo era de muita utilidade para as viandas dos porcos caseiros. A sua cozedura acontecia principalmente no Forno Comunitário, ainda existente. A Junta de Freguesia procedia à arrematação de lenhas, ramos de pinheiro, giestas, para o seu aquecimento. Muitas vezes, Manuel Martins Salgueira e António Fernandes ganharam esse concurso público. As grandes forneiras eram a Alexandrina Abeira e a Guilhermina…
Conforme o número de pães cozidos, assim se pagava a poia e o seu tamanho era variável de acordo com a fornada.
Tinham fama as célebres broas feitas com farinha de cevada e leite feitas pela Maria Rita Trindade. Cada vez que penso nelas, vem-me muita água à boca, porque as tenho muito presentes.
Além do Forno Comunitário, havia mais quatro fornos de propriedade particular. O mais antigo situava-se no local do Cabeço e pertencia a António Fernandes, José dos Santos Leal e Manuel Martins Salgueiro. Também naquele local havia um outro, pertença do Carloto e Varjão. Junto do Forno Comunitário, havia o dos Pinas e o quarto era propriedade de Manuel Lourenço e Joaquim Rasteiro.
A maior parte dos habitantes da Bismula tinham pequenas searas. Mas os grandes produtores eram Manuel Joaquim Polónia, Manuel Martins Salgueira, António Fernandes, José dos Santos Leal, António Lopes Carreto, Albertino Vaz, José Maria Fernandes Monteiro, Celestino Nunes, Joaquim Cordeiro, Manuel Varjão, Joaquim Leal, João Polónia, João «Lagarto» Fernandes, António Adão Fernandes, António Valente, Joaquim Leal Fernandes e tantos outros.
Assim se fecha este Ciclo do Pão na Bismula, que envolvia um Povo Trabalhador.
Ao terminar este texto, recordo duas frases que a minha avó repetia muitas vezes: «o Pão é como a roupa, umas vezes melhor que a outra, e os meus saudosos Pais ensinaram aos filhos que «o Forno deve cozer todos os dias e o Pão que lá seja colocado é o fruto do suor do nosso rosto». Além de uma grande simbologia religiosa que o pão encerra.
António Alves Fernandes – Aldeia de Joanes
«Um Santo é alguém que apesar dos limites e defeitos, vive plenamente a Vida de Deus»; Comissão da Causa da Canonização.
Há muito que andava com o desejo de fazer um texto sobre o Santo Padre Cruz – Padre Francisco Rodrigues da Cruz, que nasceu em 29/7/1859, na Vila de Alcochete, no Distrito de Setúbal. Esta vontade está alicerçada nas muitas conversas que os meus saudosos Pais Bismulenses – José Maria Fernandes Monteiro e Maria da Piedade Alves Lavajo – entabulavam sobre a vida deste Homem e Padre, que conheceram nas décadas de sessenta do século passado, e a quem se confessaram, tendo por ele uma devoção muito especial. A minha Mãe tinha na sua mesinha de cabeceira uma pequena imagem do Santo Padre Cruz, pedindo-lhe a sua protecção, inclusive para o seu Clube, o Clube da nossa família – O Vitória de Setúbal. Infelizmente, nem sempre o Padre Cruz ouviu as suas orações, mas a minha Mãe explicava-me que a culpa era dos jogadores, que em frente ao guarda-redes e sozinhos falhavam os golos escandalosamente. E tinha muita razão…
Fez os estudos secundários em Lisboa e o Curso de Teologia na Universidade de Coimbra. Aos vinte e três anos foi ordenado sacerdote. Torna-se director do Colégio dos Órfãos de Braga, Director Espiritual de S. Vicente de Fora e Professor de Filosofia no Seminário de Santarém, que por motivos de saúde teve de abandonar.
Em Dezembro de 1940 entrou na Companhia de Jesus e em 1942 visitou a Madeira e os Açores.
Um dia fui cortar o cabelo no Fundão, dando conhecimento ao barbeiro da minha intenção de escrever sobre o Padre Cruz. Este olhou para mim, fixou-me e disse-me: «eu ajudei muitas vezes na missa em Alpedrinha o Santo Padre Cruz, que visitava regularmente a nossa histórica Vila». Joaquim Mendes Caldeira, Barbeiro há mais de cinquenta anos, na Praça do Município do Fundão e o seu conterrâneo Doutor António Ribeiro, ex-Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Alpedrinha, foram acólitos e seus acompanhantes.
Devo a estes dois senhores as pistas que me deram para basear todo este texto, pois viveram de perto todas estas vicissitudes, o que lhes confere uma importante credibilidade. Seria bom o poder local dar maior visibilidade a estes factos, com uma maior investigação, e gravar o seu nome na toponímia de Alpedrinha, ou outro gesto que perpetue a sua memória.
O Padre Cruz tinha em Alpedrinha um grande amigo, Alexandre Inácio, notário em Benavente.
Chegava a Alpedrinha através da via ferroviária e subia a pé com o breviário, o terço, uma malinha, vestido com a sotaina e o seu chapéu, numa modéstia total.
Celebrava a Eucaristia na Igreja Matriz, no altar lateral de Nossa Senhora de Fátima, sempre com a presença da população de Alpedrinha. Muitas vezes visitava os doentes do Hospital da Misericórdia de Alpedrinha sob a orientação das Irmãs Hospitaleiras Franciscanas, hoje o Lar da Terceira Idade.
Estes dois acólitos muitas vezes o acompanharam à Estação de Caminho de Ferro de Alpedrinha. Numa das vindas, o Santo Padre Cruz demorou mais tempo que o previsto com os «seus doentes», como ele costumava dizer e o horário do comboio já lá ia. Todos estavam preocupados, mas o Padre cruz sossegou-os: «o comboio não sai da estação de Alpedrinha sem eu chegar». Conseguiu-se que o único automóvel de Alpedrinha fosse colocado à sua disposição e lá partiram. A verdade é que o comboio lá estava parado, sem se saber as razões deste facto, com grande descontentamento geral e sem explicação, e só começou a sua marcha a caminho de Lisboa, quando o Padre Cruz subiu para uma carruagem, sendo saudado por todos os passageiros que o reconheceram e admiraram a sua santidade. Todos diziam que tinha sido um milagre.
Todos nós sabemos que este sacerdote se dedicou totalmente a visitar doentes, reclusos, pessoas marginalizadas e carenciadas. Hoje fala-se muito na caridade e talvez se pratique pouco. Este simples, humilde e pobre Padre, é uma referência moral e cristã, sobretudo para todos aqueles que têm responsabilidades litúrgicas e não só… Este grande discípulo do Santo Cura de Ars, conduziu a sua missão ímpar, ultrapassando todas as fronteiras e colocando o homem no centro do mundo.
Infelizmente muitas vezes me desloco ao Cemitério de Benfica em Lisboa para me despedir de familiares e amigos. Nunca deixo de rezar junto ao seu mausoléu, onde há sempre pessoas a perpetuar a sua memória. É possível que qualquer dia o festejemos nos altares, porque a vida das pessoas já o santificou.
António Alves Fernandes – Aldeia de Joanes
A Câmara Municipal aprovou o plano anual de mercados e feiras a decorrer no concelho do Sabugal durante o presente ano de 2012. Muitas terras de pequena dimensão, em termos de moradores permanentes, conseguem manter o seu mercado mensal e a sua feira de ano, demonstrando por essa via a sua vitalidade.
Feiras (chamadas feiras de ano), por terem data de realização todos os anos e não mensalmente, como sucede com os mercados:
Badamalos: 24 de Agosto.
Casteleiro: 10 de Fevereiro, 10 de Maio e 10 de Novembro.
Quadrazais: segundo domingo de Agosto.
Rebolosa: 25 de Novembro.
Ruivós: segundo fim-de-semana de Março.
Ruvina: segunda-feira de Pascoela.
Sabugal: 29 de Junho.
Santo Estêvão: 15 de Março e 25 de Setembro.
Soito: primeiro domingo de Agosto.
Vilar Maior: 17 de Agosto.
Mercados, de realização mensal:
Aldeia do Bispo: primeira terça-feira.
Aldeia da Ponte: primeira segunda-feira.
Alfaiates: segunda quinta-feira.
Bendada: dia 12 de cada mês e às quartas-feiras entre os dias 22 e 29.
Bismula: último dia do mês.
Casteleiro: dia 10 de cada mês.
Fóios: último sábado.
Pousafoles do Bispo: segundo domingo.
Sabugal: primeira quinta-feira e terceira terça-feira.
Santo Estêvão: última quinta-feira.
Soito: quarta terça-feira.
Vale de Espinho: segundo sábado.
Vila do Touro: terceira quinta-feira
Os mercados e as feiras são sinais de vitalidade para a sede de concelho e para as freguesias que ainda os conseguem manter. Para além disso são geralmente de grande utilidade para as pessoas, que assim têm à porta um conjunto de bens essenciais que doutra forma teriam que ir comprar longe.
plb
O Padre Manuel Joaquim Martins nasceu nos primórdios da Primavera de 1939, na Freguesia da Bismula. Os seus Pais viviam junto à Igreja Matriz, que mais tarde foi destruída, reconstruindo a actual, sem qualquer espólio patrimonial e religiosos da anterior, a não ser o aproveitamento das suas pedras.
Seu Pai, Manuel Martins Salgueira, participou no Contingente Militar Português na I Grande Guerra de 1914 em Flandres – França. Ali sofreu as agruras de uma guerra injusta e desumana, regressando são e salvo à sua Bismula, onde casa com Rita Martins. Desta união conjugal nascem duas raparigas e cinco rapazes. O trabalho agrícola era árduo, sem horários, sem férias, sem subsídios, e assim sobreviviam, como a maioria dos habitantes bismulenses.
O seu filho Manuel Joaquim Martins, feito o exame da 4ª Classe no Sabugal, como ordenavam as normas escolares, vai trabalhar nas fainas agrícolas. Os Pais por motivos económicos não o deixaram ir para o Seminário. Porém, com o apoio dos seus conterrâneos, Padre Carlos Leal Moita, do Padre José Eduardo Videira e da sua Tia Célia Martins, Religiosa das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus, os Pais autorizam-no a ir fazer as provas de admissão ao Seminário do Fundão, onde está seis anos. Ingressa de seguida no Seminário Maior da Guarda, onde durante quatro anos frequenta o Curso de Filosofia e Teologia chegando ao Presbitério.
A Ordenação Sacerdotal decorre no dia 19 de Agosto de 1962, na Histórica Vila de Trancoso. Segue-se a celebração da Missa Nova, em 26 daquele mês, na sua Terra Natal – a Bismula, que contou com a anuência e adesão de todo o povo bismulense. Foi seu padrinho o bismulense, Dr. Manuel Leal Freire e Esposa.
Inicia a sua caminhada de Pároco, como Coadjutor da Sé da Guarda, auxiliando o Padre Isidro. Seguem-se as Paróquias de Vilares e Carnicães do Arciprestado de Trancoso. Tive a oportunidade de num Verão o visitar e conviver, acompanhando-o numa velha mota, que passava por caminhos quase intransponíveis, em missão apostólica. Era um padre simples, humilde, muito próximo do povo, preocupado e atento às pessoas e dinâmico com a juventude. Tinha tido um grande mestre, o Padre Ezequiel Augusto Marcos, Pároco na Bismula, que lhe legou importantes ensinamentos e os colocou ao serviço do seu trabalho sacerdotal.
Uma terrível doença atirou-o para o Sanatório Sousa Martins na Cidade da Guarda, Unidade Hospitalar inaugurada com pompa e circunstância pelo Rei D. Carlos I e a Rainha D. Amélia, onde permaneceu vinte meses. Apesar de doente, aproveitou este facto para fazer apostolado junto dos outros doentes. Só um doente sabe e compreende melhor a dor e o sofrimento do seu próximo. Assim, junto dos seus companheiros doentes presta-lhes assistência espiritual e humana, ajuda-os a ter esperança, estimula-os, anima-os, mentaliza-os para terem fé, a acreditar na Primavera da Vida, em dias de sol e de felicidade. Todos o escutam, todos verificam que é um Padre com uma mensagem evangélica. A receptividade a estas verdades ajudam aqueles doentes a vencer obstáculos, os malefícios físicos, psíquicos e outros de uma malvada doença: a tuberculose.
Recuperado totalmente, são-lhe atribuídas as Paróquias de Aldeia de Joanes e Aldeia Nova do Cabo, do Arciprestado do Fundão. Não dispõe de Casa Paroquial, mas graças ao seu dinamismo e com o apoio dos seus paroquianos é-lhe construída uma habitação com toda a dignidade, junto à Igreja Matriz de Aldeia de Joanes. Também é da sua iniciativa, com o apoio da Paróquia de Aldeia de Joanes, que numa Missa Campal e Primeira Comunhão de Crianças, naquela Zona Rural, preparadas pela Catequista Maria Manuela Marques Bernardo, se decidiu fazer-se ali uma Capela. João Franco Diamantino e Teresa Brito Nogueira ofertaram o terreno e uma Comissão começou a recolher donativos para a construção nas Quintas de S. José, da actual Capela com o mesmo nome, onde celebrava a Eucaristia e se ensinava a Catequese. Fez obras de restauro na Igreja Matriz de Aldeia de Joanes, sem ajudas oficiais.
Converso com muitas pessoas que eram jovens, quando o Padre Manuel Joaquim Martins foi Pároco nestas Paróquias, durante dezasseis anos. Falo com muitas pessoas que com ele trabalharam durante os dez anos de Assistente do Agrupamento 120 do Corpo Nacional de Escuteiros do Fundão. Tenho trocado impressões com ex-colegas professores e ex-alunos e alunas da Escola Secundária do Fundão. Dizem-me que estava sempre próximo de todos, a sua casa sempre aberta para receber, para dar conselhos, dar uma palavra amiga, resolver os problemas das Paróquias, e não esquecia os jovens paroquianos em serviço militar, com quem trocava correspondência, e, chegados do Ultramar, visitava-os e contava com eles na sua missão evangélica.
No acompanhamento com os jovens apontava-lhes os valores do Evangelho, e, com eles celebrava todos os Sábados, na Igreja Matriz do Fundão, uma Eucaristia muito participativa com centenas de rapazes e raparigas. Em Aldeia Nova do Cabo celebrou uma Eucaristia com instrumentos musicais com os jovens que foi pioneira na Diocese da Guarda.
Do Fundão parte para a Zona Pastoral de Trancoso e um novo desafio lhe é colocado com a atribuição de outras Paróquias tendo Freches no centro da sua actividade Prebisteral. Dá aulas em Trancoso, Celorico da Beira e em Vila Franca das Naves. Actualmente é Pároco de Vila Franca das Naves, Póvoa do Concelho, V. Mouro e Feital.
O Padre Manuel Joaquim Martins foi um agente cultural, social e religioso, porque teve responsabilidades públicas e esteve sempre mais interessado, em alguma coisa, do que em ele próprio.
Com quarenta e nove anos de serviços às comunidades cristãs, este Bismulense, tem honrado a sua Terra Natal – a Bismula – e a Igreja de que é um simples servidor. Trabalhou sempre nos projectos que Jesus Cristo indicou nos seus Evangelhos.
António Alves Fernandes – Aldeia de Joanes
Vivemos o Tempo Quaresmal. O espaço de preparação para a Grande, a Maior Festa da Igreja – A Ressurreição de Jesus Cristo. S. Paulo, numa das suas Cartas, avisa-nos que «se Cristo não ressuscitou é vã a nossa pregação e vã a nossa fé…».
Regresso às minhas memórias e recordo as manifestações e vivências desses Tempos Quaresmais e Pascais. Viviam-se, com total participação, as Procissões dos Passos, os Jejuns e Abstinências, as Músicas e os Cânticos Quaresmais. Havia também um respeito pelo silêncio, retirando-se o barulho aos sinos e saíam para a rua as matracas. Sentia-se e respirava-se a religiosidade.
Com a dinâmica, liderança, força, fé e sentido de missão do Pároco da minha aldeia (Bismula), o Padre Ezequiel Augusto Marcos, nunca mais esqueci a Via Crucis, onde toda a comunidade bismulense participou. Foi a melhor lição de Catequese que vivi. A Via Sacra era uma oração diária durante a Quaresma, com a participação ativa do pároco, dos movimentos da catequese, da ação católica, da irmandade e outros.
Hoje, na maioria das Paróquias, esta oração é uma efeméride longínqua e quase desconhecida, embora em todas as nossas igrejas estejam bem expressas as imagens ou retratos do Caminho do Calvário de Jesus Cristo. Sei que o analfabetismo religioso é grande e muitos não sabem o que representam aqueles quadros. Neste deserto de indiferença, salvaguardo o Agrupamento 1335, do CNE, de Aldeia de Joanes, que por iniciativa própria, vai organizar uma oração de Via Sacra, nesta comunidade paroquial, um ato e exceção única, que será na noite de 4 de Abril.
Neste Caminho do Gólgota, muitos fogem ou se escondem, mas também muitos ficam e o seguem, com olhos de fé na construção dos projetos de Deus, no projeto da sua salvação.
Com estes últimos, vou caminhar e partilhar a Via Sacra, parando e refletindo em cada uma das catorze estações.
Na primeira estação – Jesus é condenado à Morte – seria importante que cada um de nós O visse e corrigisse a injustiça do seu Julgamento. Muitos cristãos, ainda hoje, pela sua fé, são condenados à morte.
Na segunda estação – Jesus toma a Cruz aos Ombros – vejo a vida de muitos cristãos, que suportam a cruz do desemprego, da exclusão social, das incompreensões, das perseguições, dos ultrajes, e outras tropelias.
Na terceira estação – Jesus cai pela Primeira Vez – sinto as quedas que todos nós damos e assim verificamos as nossas fragilidades humanas. Quem cai é alguém que desfalece, não deve ficar sozinho.
Na quarta estação – Jesus encontra sua Mãe – lembrei-me da minha lição de Domingo, na Catequese, «Ele é o Senhor da Vida», e da oração de S. Maximiliano Kolbe: «Mãe Santíssima, por vosso amor, eu me ofereço neste duro cárcere de Auschwitz, mesmo que aos outros seja concedido voltarem para casa. Permanecerei esquecido e desposado a sofrer por Vós. Ofereço-me a Vós, Maria, para que encontre a morte neste campo de concentração no meio de homens hostis e indiferentes.»
Na quinta estação – Jesus é ajudado por Simão de Cirene – apercebi-me que é difícil partilhar, dar e disponibilizar as nossas vidas ao serviço dos outros, dos que precisam. Lembro muitos que praticam o voluntariado nos hospitais, nas cadeias ou nos lares, vejo Simões de Cirene, anónimos em muitas instituições, na sociedade.
Na sexta estação – Verónica enxuga o Rosto de Jesus – lembrei-me daqueles que limpam as lágrimas dos doentes de oncologia em estado terminal, que já não dispõem de forças para as limpar… São Rostos de Cristos Vivos.
Na sétima estação – Jesus cai pela segunda vez – muitos ficam indiferentes perante a segunda queda do seu próximo, é sempre um problema dos outros, não lhes diz respeito, alguns ainda se riem…
Na oitava estação – Jesus encontra as Mulheres de Jerusalém – recordei o sonho de Martin Luther King: «Sonho que um dia os homens se vão levantar e compreender que foram feitos para viverem como irmãos. Sonho que a justiça correrá como a água. Os homens irão transformar as espadas em arados e as lanças em foices. As estrelas da manhã cantarão em maravilhosos coros, e os filhos de Deus, gritarão de alegria.»
Na nona estação – Jesus cai pela terceira vez – urge olhar para a fraqueza humana.
Na décima estação – Jesus é despojado das suas Vestes – vemos como O Senhor sofreu todos estes vexames por amor, por nosso amor, para nos fazer santos, para nos redimir.
Na décima primeira estação – Jesus é pregado na Cruz – aprendemos a não alimentar o ódio no nosso coração contra aqueles que nos ofendem, porque todos nós temos defeitos. Aprendamos a força do perdão, que apregoamos e rezamos na oração do Pai Nosso.
Na décima segunda estação – Jesus Morre na Cruz – rasgam-se os véus de uma vida inútil, sem sentido, sem partilha, sem comunhão.
Na décima terceira estação – Jesus é descido da Cruz – pedi as palavras de S. João «se um grão de trigo caído na terra, não morrer, fica sozinho. Mas, se morrer, dá muito fruto.»
Na décima quarta estação – Jesus é colocada no sepulcro – recordei também o Evangelista S. João, quando Jesus diz: «EU SOU A RESSURREIÇÃO E A VIDA; QUEM ACREDITA EM MIM, AINDA QUE VENHA A MORRER, VIVERÁ.»
Desejo a todos os meus leitores uma Páscoa de fé na ressurreição de Jesus Cristo.
António Alves Fernandes – Aldeia de Joanes
Um grupo de amigos que gostam de pedalar pelos caminhos campestre e percorrer as aldeias da região, vêm realizando um passeio anual, que pelo segunda vez ligou a cidade da Guarda à vila raiana do Soito, passando pela aldeia histórica de Castelo Mendo.
O passeio aconteceu no dia 31 de Março (sábado) e o jantar do grupo foi no restaurante Zé Nabeiro, no Soito, tendo o percurso incluído outras terras do concelho do Sabugal, como Badamalos, Bismula e Nave.
Transcrevemos, com a devida vénia, do blogue «O caruncho btt», alguns excertos da «reportagem» de Carlos Gonçalves, que esteve entre os convivas que ligaram a Guarda e o Soito em bicicleta de todo o terreno, num percurso de cerca de 70 quilómetros. Um texto que é bem o sinal do espírito de amizade e de convívio que preside a estes passeios desportivos que também servem de descompressão e de retemperamento.
«Pelo segundo ano consecutivo estamos a fazer Guarda – Castelo Mendo – Soito.
Se no ano passado falhei a melhor parte (o jantar\convívio no “Nabeiro”), este ano fiz o percurso completo. (…)
Este ano não foi fácil. Volta com muitos furos (alguns até repetiram a dose), avarias e quedas, ainda que sem consequências de maior.
Mas toda a gente chegou a bom porto, o que revela bem o espírito de entreajuda e de verdadeira camaradagem que estava instalado no grupo.
Já passava das 9,30 Horas quando o grupo, sob orientação do Rui Melo, saiu da Guarda (Parque Industrial) em direcção a João Bragal (de Cima e de Baixo), de onde, por trilho trialeiro, progredimos até Casas da Ribeira, Ima (este ano não fomos ver o relógio de sol) e Jarmelo, onde se verificou uma pausa. Do Jarmelo, por trilho muito técnico rumámos até aos Gagos e Castanheira, onde se verificou uma “paragem técnica”
Da Castanheira seguimos em direcção a Rabaça de onde, por trilho muito técnico, descemos à ribeira das Cabras que transpusemos pela velha ponte romana em direcção a Amoreira, alto Leomil e Castelo Mendo, onde chegámos já passava das 13,00 horas e onde efectuámos uma muuuuuuito looonnnnga pausa para “comerete” e “beberete”. (…)
Os trilhos seleccionados pelo Rui Melo estiveram pelo melhor. Muito boa a calçada (romana?) que encontramos logo a seguir a Castelo Mendo, que nos levaria até bem perto da Mesquitela. Daqui progredimos até Monteperobolso (será?) de onde descemos até ao rio Noémi, que transpusemos por um pontão, embicando na velha estação da CP. Daqui, subindo por trilho muito degradado fomos em direcção a Porto de Ovelha, onde já nos esperava o amigo “Bisnaga”. Aqui mais uma pausa para “reposição de líquidos” na sede da Associação de melhoramentos.
A progressão até Badamalos foi feita pela margem esquerda do rio Coa. (…)
De Badamalos até à Bismula mais uns quantos furos.
Na Nave mais uma “paragem técnica” no “Piu Bar”. Aqui ainda houve tempo para relaxar nuns matraquilhos! (…)
Eram quase 20 horas quando chegámos ao Soito, onde tomámos um retemperado banho quente nos balneários do campo de futebol.
Seguiu-se o jantar, em família, no “Nabeiro”.
Que belo dia de BTT (para recordar).»
Veja aqui a «reportagem» completa.
plb
Ir ao mercado foi um acontecimento que me fascinou desde criança. Na minha terra natal, Bismula, concelho do Sabugal, no fim de cada mês realizava-se este evento comercial, onde o meu irmão Manuel José Fernandes vendia todos os melões do meloal, propriedade do meu pai, enquanto o meu irmão Francisco Alves Monteiro vendia pão espanhol, que era muito apreciado naquela zona arraina.
Nas aldeias vizinhas de Alfaiates, Miuzela e Vila do Touro, calcorreei caminhos com o meu progenitor José Maria Fernandes Monteiro, levando animais e produtos agrícolas para vender. Os mercados mensais eram os eventos mais importantes da transacção de mercadorias e produtos. O meu primeiro fato que levei em 1958, para a Escola Apostólica de Cristo Rei em Gouveia, dirigida por padres alemães, foi comprado no mercado de Alfaiates. Em Vila do Touro comi a melhor carne assada pelo meu conterrâneo António Joaquim Videira, que estava um pouco acanhado, mas as ordens da autoridade da freguesia, são neste caso, para se cumprirem. Na Miúzela saboreei umas belas sardinhas, acompanhadas com água, porque era-me proibido beber o vinho famoso daquela região. Era bom ir ao mercado porque sempre folgavam as nossas costas do trabalho rural, sempre se convivia, comia-se com mais gosto, compravam-se mercadorias e animais de quatro patas.
O Mercado mensal do Fundão é um acontecimento regional de grande importância comercial, social, económica, de encontros e desencontros e de convívio das gentes do concelho, extensivo aos Concelhos da Covilhã, Belmonte e Castelo Branco. Ali se cruzam muitas e diversas mercadorias, mas acima de tudo as pessoas.
Entro pelo lado nascente e olha-se para o placard da necrologia para saber se uma pessoa familiar ou amiga faleceu. Desta vez lá estava o amigo Filipe de Sousa Monteiro, mestre na arte da serralharia, na Firma Miguel Reis do Fundão e na Cerâmica de S. Pedro em Alcaria, que desceu à terra pelas 16h30 em Aldeia de Joanes.
Junta-se o amigo alentejano que há tempos não via e lá se veio lamentar de umas dores que não o largam. Seguimos para o espaço do mercado. Conta-me uma história da sua juventude, ao passarmos por uma jovem muito bonita e a beleza feminina é para ser admirada. Trabalhava na Carris e tinha uma meia casinha alugada na Mouraria. Um dia deu abrigo a uma moura, que tinha perdido o marido recluso numa Cadeia da Capital por desfalques a uma empresa de venda de automóveis. Como trabalhava por turnos autorizou-a a dormir na sua cama. Queria respeitá-la, mas um dia de muito frio a sua amiga convidou-o para entrar no vale dos lençóis. O aquecimento recíproco foi deveras proveitoso. Passados meses parecia que a relação podia dar frutos menos desejáveis e de pronto-socorro alguém interveio. Um amigo deu-lhe uma caixa de preservativos e nunca mais teve problemas, inclusive com a dona da casa que tinha o marido lá para as Minas de São Domingos no Alentejo, ficando tudo em família. Ainda hoje ouvi na comunicação social que os Portugueses dão meças ao mundo. Ainda bem!
Enquanto avançávamos e nos cruzávamos com novos e velhos, com reformados ou gente desenfiada que devia estar no seu posto de trabalho, talvez dispensada pelos seus chefes, o meu amigo alentejano conta-me outra história. Há dias entrou numa dessas Igrejas, onde um Pastor gritava que estava a chegar a hora do milagre e que todos deviam colocar a mão no local onde tinham as suas maleitas, requerendo a intervenção divina. A mulher colocou a mão no coração e ele no meio das pernas. Esta maleita chamou-lhe a atenção, porque o referido Pastor faz alguns milagres, mas não ressuscita instrumentos mortos há muitos anos.
Vamos caminhando por meio das tendas de trapos, roupas, sapatos…Algumas estão cheias de mulherio que se acotovelam para comprar roupas de uso pessoal, enquanto ali perto uns carteiristas espreitam uma distracção para dar um golpe fatal, e eu encontrei lá dois que foram clientes no Estabelecimento Prisional de Castelo Branco. De um lado grita-se «aqui é tudo barato, é quase dado, ó freguês, ó freguês, venha ver a qualidade da nossa mercadoria e veja os nossos preços, venha ver as nossas roupas para a criançada, venham, venham, não tenham vergonha de comprar barato». Vejo um vendedor de altifalante em punho como estivesse num comício político, a procurar vender pijamas e roupa interior, e graças aos apelos de compra tinha a sua banca repleta de clientes. Era um formigueiro humano. O som é importante, não é por acaso que junto às Igrejas existem campanários com sinos, para chamar os cristãos às liturgias.
Numa tenda de etnia cigana discutiam-se assuntos de religião, o jejum, a Quaresma, caso muito estranho, e fiquei a saber pela voz do dono daquela banca, que é nesta altura que os cristãos bebem água benta. Com este tempo, não benta já temos. E, a este propósito, no lado poente, encontro um ex-trabalhador do Jornal do Fundão que me diz: «estamos entregues aos Pedros. O que está lá em cima não manda chuva, está cansado de ver tanto malandro. O de baixo é pior que uma calamidade de uma austeridade e crise seca». Também me contou que há dias foi à Missa e que o senhor Prior pediu que quem quisesse ir para o Céu, colocasse a mão no ar. Todos levantaram a mão, menos um idoso. O dito Prior perguntou-lhe o motivo e ele respondeu-lhe que também queria ir, mas ainda não tinha pressa. Quando encontro um simpático e grande conversador, combino logo mais encontros. Assim trocámos os nossos endereços e deu-me o seu email: Alfredoloureiro@come.bebeoquepodeenaodeve. Achei muito interessante e com piada.
Faço a viagem de retorno e cruzo-me com o advogado caminheiro com o seu boné da Adega Cooperativa do Fundão. Desde que fizemos uma digressão a Lisboa para participar numa manifestação de vinicultores, que durante algumas horas percorremos a Baixa de Lisboa, partindo do Marquês de Pombal até ao Terreiro do Paço, com milhares de participantes, que queriam que fossem alterados os graus da taxa da alcoolemia no código da estrada. Por essa acção de luta em favor do consumo do vinho nacional, conseguiu-se subir essa taxa para 5%., ficámos amigos. Almoçamos nessa ocasião no Restaurante A Laurentina de António Pereira natural de S. Jorge da Beira, onde são só consumidos produtos agrícolas da Região do Fundão. Escolhemos uma da especialidade da casa, o bom bacalhau assado com batatas a murro, bem temperado com azeite e vinho da Cova da Beira. Também tem feijão com carne e couves à moda de S. Jorge da Beira. A sua saudação é sempre a mesma: paz e amor. Estas duas palavras encerram tudo de bom para pessoas. Num local assavam-se frangos. Seguimos em frente e passou uma viúva repleta de preto. O meu amigo recita-me: «Luto preto é vaidade / De quem se veste a rigor / O meu luto é a saudade / E a saudade não tem cor».
Os locais de venda das árvores e plantas agrícolas estão à pinha. Ainda bem, porque é necessário plantar e semear. Também no sector dos galináceos e dos ovos há clientela. Bons sinais de vida, para que estas terras não desapareçam.
No sector da venda das ferramentas anda há braços para trabalhar a terra. Tratada dá-nos tudo, é generosa.
Duas horas passeei por este mundo que é importante e dá vida ao Fundão.
António Alves Fernandes – Aldeia de Joanes
Procurarei com este texto, no Dia Mundial do Teatro, que acontece hoje, 27 de Março, prestar uma homenagem a todos aqueles que com o seu trabalho dinâmico, sabedoria, empenho e talento na arte de representar, que proporcionam tantos momentos culturais e emocionais a um público que os admira e respeita.
Viver é representar. Todos os homens escolhem as melhores máscaras e saltam para ao palco do teatro com engenhosas representações.
Shakespeare dizia que o mundo era um palco e Fernando Pessoa definia-se como uma cena viva representando diversos actores em diversas peças. Assim se explica a fome de teatro de todos os homens. A Vida é um Teatro. Experimentem, por exemplo, tirar todas as máscaras nos sectores políticos, religiosos, sociais e culturais, e, que outra consequência senão encontrar a morte? Com efeito, é o Teatro que torna as pessoas mais livres e permite a vida, ora autorizando verdades que, sem máscara, poucos ousariam dizer, ora dissimulando os nossos reais defeitos e possibilitando a sã convivência.
O teatro vem dos clássicos gregos, atravessa séculos de culturas e civilizações, passa pelo misticismo, pela farsa social, pelos testemunhos heróicos, religiosos e tantos outros. A sua importância é milenar. Nas tragédias gregas, por exemplo, as autoridades pagavam ao próprio público para as ir ver.
Quando Molière bateu três vezes com a sua bengala nas «tábuas da aristocracia francesa» do Século XVII, não imaginaria, por certo, que esses sons ecoariam numa aldeia portuguesa recôndita, situada no Planalto do Ribacôa, na alma do POVO anónimo Bismulense, a que com orgulho pertenço, e que escolheu para acontecer Teatro representado em diversos locais públicos: o Largo de Santa Bárbara, da Relva, da Praça, e quando o tempo ameaçava chuva no Salão, ao cimo da Rua do Forno.
Através de um conhecimento baseado na transmissão oral, nos princípios do Século XX já a Bismula fantasiava um jogo cénico com componentes militares e religiosas, envolvente ao Mártir São Sebastião, que já abordei num texto sobre a Irmandade com o mesmo nome, centenária e com irmãos espalhados por todas as freguesias do Concelho do Sabugal.
Com a nomeação do Padre Ezequiel Augusto Marcos para Pároco da Bismula e ali residente, as peças de Teatro levadas à cena atingiram o seu apogeu, contando com o apoio de dois colaboradores e encenadores: José Joaquim Fernandes e o seu parente José Maria Fernandes Monteiro, seguidos por um elenco de actores populares, que hoje envergonhariam muitas vedetas de pacotilha, que aparecem todos os dias nos ecrãs da televisão. Actores de grande talento como Joaquim Firmino, António e Joaquim Videira, Iberte Alves Ramos, José Augusto Vaz, Paulo Cardoso, José Maria Fernandes, Manuel José Fernandes, as Irmãs Faustina, Trindade e Inês Alves Mendes, Maria Bernardete Fernandes Lavajo, António Joaquim Lopes, Antero Leal, Francisco dos Santos Vaz, e tantos outros.
Esta plêiade de homens e mulheres levaram à cena, na Bismula e nalgumas freguesias limítrofes, peças de Teatro com a temática religiosa, histórica e alguma mitologia popular; no final havia sempre uma rábula cómica, que fazia rir o grande público. Para dar um ar festivo ao Teatro, muitas vezes este era abrilhantado por uma Banda de Música, que vinha da Freguesia da Malhada Sorda ou da Parada.
Lembro-me da apresentação das peças de S. Sebastião, «A Bandeira Roubada», «Santo Tarcísio», «Os Dois Jovens Cativos», «A Paixão de Jesus Cristo», «Restauração de Portugal», «O Amor Descoberto», «O Fim do Mundo»; nas peças mais cómicas apareceram «O Barbeiro de Sevilha», «Salsa e Parrilha» e outras que não tenho na memória.
Estas peças eram apresentadas com tanto realismo que numa peça, levada à cena no Largo da Relva, com o palco assente nas pedras do mercado (já desapareceu este património), um dos actores ficou com uma costela partida. Também não posso deixar de dar o meu testemunho pessoal. Na peça «A Bandeira Roubada», o meu pai é condenado à morte e com os meus seis anos comecei a chorar compulsivamente no meio dos espectadores, e só parei quando me agarrei ao pescoço do meu saudoso Pai – José Maria Fernandes Monteiro – e confirmei que estava vivo e não tinha sido morto.
Vivi esta e outras emoções que me acompanham até à morte. Devo-as ao Povo Actor, aos Homens e Mulheres Bismulenses.
HONRA, GLÓRIA E LOUVOR AOS ACTORES ANÓNIMOS BISMULENSES, CUJOS NOMES AINDA ESTÃO VIVOS NA MEMÓRIA DE TODOS AQUELES, QUE ASSISTIRAM A MARAVILHOSAS PEÇAS DE TEATRO.
A TODOS OS HOMENS DO TEATRO.
António Alves Fernandes – Aldeia de Joanes
Sabemos que a Poesia é como o Pão e deve ser partilhada entre todos, eruditos e camponeses, entre todas as nossas imensas, fabulosas, extraordinárias Famílias do Povo»; Pablo Neruda.
Hoje, dia 21 de Março, comemora-se a nível mundial o Dia da Poesia. Com o início da Primavera, não podia existir melhor comemoração.
Quando frequentava a Escola Primária na minha aldeia – Bismula – era muito frequente as professoras falarem da poesia, nós que somos um País de Poetas. Na Escola Apostólica de Cristo Rei, em Gouveia, tínhamos de declamar muitos sonetos dos nossos maiores poetas portugueses: Camões, Sá de Miranda, Bocage, Frei Agostinho da Cruz, Sá Carneiro, Florbela Espanca, Sebastião da Gama, Augusto Gil, Guerra Junqueiro, Antero Quintal, Miguel Torga, e tantos outros.
Desculpe-me algum bismulense que se sinta injustiçado, mas a Bismula teve dois poetas irmãos: José Bárbara Leitão e Joaquim Bárbara Leitão. O primeiro encantava com uma voz maravilhosa e o segundo com voz de desafio e de provocação. Estes trovadores cantadores, que se inspiravam e improvisavam versos, a partir dos Textos da Bíblia Sagrada, eram acompanhados pelo acordeonista Raul dos Santos Tomé, e na sua companhia, percorriam romarias, mercados, onde centenas de pessoas os ouviam com muita admiração e entusiasmo, sobretudo todos os anos junto à fogueira do Natal, na celebração do Nascimento do Menino Jesus. Infelizmente a memória oral não se conserva tanto como a escrita. A seguir temos três poetas, com obra publicada. No cimo da pirâmide está um dos expoentes máximos nacionais e internacionais, o Dr. Manuel Leal Freire, que no seu «Namoriscar» escreveu:
E se a sorte me não minar
Então arranco uma bula
E vou casar-me com uma prima
Que me espera na Bismula.
Manuel Leal Freire é homem de múltiplas atividades profissionais, mas tem uma grande produção literária, tem milhares de textos em diversos jornais, com um espaço no Jornal Nordeste, da Bismula, em Jornais Nacionais e Regionais, em revistas e em alguns sites. As suas principais obras de Poesia são «Sementes na Rocha Nua», «Pátria-Matria», «Terra Paterna», «Cantigas da Pátria Xica» e «Trovas de Escárnio em Vernáculo». Noutros domínios literários, concretamente em prosa, também ali tem inscrita a sua Poesia. É o caso da obra: «Contrabando delito mas não pecado». Na capa principal do livro lemos:
Eu sou o coelho campal
Que em toda a parte faz a cama:
Anoiteço em Portugal,
Amanheço em Espanha.
Convidado em apresentações de livros ou tertúlias, é um encanto ouvi-lo dissertar em verso sobre qualquer tema com muita graça e profundidade.
Manuel Leal Freire é um dos expoentes máximos da literatura portuguesa e a Bismula tem na sua obra grandes motivos para se orgulhar.
Um segundo poeta, é José Maria Fernandes Monteiro, com diversas poesias inseridas no Livro «Pater Famílias». Num dos seus poemas escreveu:
A Bismula me viu nascer
E juntamente com os meus;
Logo que comecei a crer
Ensinaram-ma a amar a Deus.
Num outro poema:
A Rua do Forno na subida
Ou a mesma a descer,
Faz-nos lembrar nesta vida
Subimos? Descemos a morrer.
Mário Tiago Bernardo Fernandes, no esmiuçar daqueles enigmáticos versos, afirma que «alguém que pelo menos uma vez na vida teve uma ideia própria e forte que abala tudo. E nestes simples quatro versos, ao saltar a escatologia de uma Rua da Bismula, para uma escatologia existencial, descreve em poucas palavras a condição humana».
Também o escritor e jornalista Manuel da Silva Ramos, na apresentação da segunda edição do «Pater Famílias», em Aldeia de Joanes, na presença de centenas de pessoas, escreveu e leu: «Lembro-me do meu avô, fazendo versos e rimando “MIM” com “ASSIM… ASSIM”».
Também o colaborador do Jornal Nordeste da Bismula, Professor José Corceiro Mendes, tem apresentado muita temática poética.
Vou deixar vários textos de Poetas, que todos já conhecem, para recitando poemas no Dia Mundial da Poesia, façamos a justa homenagem.
Um grande poeta, tem milhares de poemas com linguagem mundial, que teimosamente não quer publicar, chamasse António Brás Ribeiro, ex-Provedor da Santa Casa de Alpedrinha, e para este Dia Mundial escreveu este poema:
A POESIA, no Tempo
Ecoará…
E não se confundirá
Com o vento.
A POESIA, encontrará
A magia da Palavra
No seu próprio…
TEMPO.
Outros poetas:
Escrevo como quem quer ser escrito.
Jorge Reis Sá
Que por todos se faça POESIA.
Ruy Belo
A POESIA adora andar descalça nas areias do Verão.
Eugénio Andrade
Sei fazer VERSOS, mas doem.
Machado Assis Pacheco
A POESIA não é um dialeto
Para bocas irreais
Nem o suor concreto
Das palavras banais.
É talvez o sussurro daquele inseto
De que ninguém sabe os sinais
Silêncio incorreto.
José Gomes Ferreira
Eu não escrevo em Português
Escrevo eu mesmo.
Fernando Pessoa
A minha Homenagem vai para todos os POETAS PORTUGUESES, principalmente aos BISMULENSES.
António Alves Fernandes – Aldeia de Joanes
José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos é o nome completo desta figura nacional e internacional da música, da intervenção política e cívica, social e docente.
Nasce a 2 de Agosto de 1929, na freguesia da Glória, do Concelho de Aveiro, no seio de uma família de magistrados. Atendendo à actividade profissional dos seus progenitores que se estendeu de Timor a Moçambique e Angola, Zeca Afonso teve de ficar ao cuidado de familiares em Portugal. Reside em Belmonte na casa de um seu tio que desempenhava as funções de Presidente da Câmara. Ali faz o exame da 4ª classe. Em Coimbra frequenta o Liceu Nacional João III e a Faculdade de Letras. Inscreve-se no Orfeão Académico de Coimbra e na Tuna Académica da Universidade de Coimbra, actuando em diversas localidades de Portugal, em Angola e Moçambique. Ainda em Coimbra faz parte da equipa da Associação Académica.
Casa com uma humilde costureira de quem mais tarde se divorcia, passando muitas e diversas dificuldades económicas, aliás, Zeca Afonso foi sempre um desprendido dos valores materiais.
Cumpre o serviço militar obrigatório na Escola Prática de Infantaria em Mafra, frequentando ali o Curso de Oficias Milicianos, onde muitos portugueses passaram.
No ensino oficial como professor dá aulas em Mangualde, Alcobaça, Aljustrel, Faro e Lagos. Mais tarde exerce funções docentes na Beira e Lourenço Marques em Moçambique. Termina a sua carreira em Setúbal, por ter sido expulso por razões políticas. Era uma grande injustiça.
Em 1958 grava o primeiro disco a que se seguem muitos outros. Introduziu novas formas e padrões interpretativos na renovada canção coimbrã. Surge a balada veiculada por uma profunda contestação estudantil. A sua canção é em 1960 e nos anos seguintes a bandeira da oposição ao regime. Surgem canções com forte componente social e política como os Vampiros, O Menino do Bairro Negro, a Balada de Coimbra e tantos outros.
São de grande qualidade poética, têm novas formas rítmicas, com ambientes sonoros compostos por instrumentos africanos, adufes da Beira Baixa, as gaiatas de foles de Trás-os-Montes e da Galiza e outros, recriando a música popular. Zeca Afonso com as vivências da sua longa peregrinação pelo país e por África introduziu na sua música todos os sons destas regiões. Saliento que ao gravar em Paris a “ Grândola Vila Morena”, o Fanhais com umas botas, ao passar por cima de um espaço com areia, fazia o barulho de um grupo de trabalhadores rurais a dirigirem-se para o trabalho.
Tenho dois irmãos ligados ao Zeca Afonso. Ezequiel Alves Fernandes foi seu aluno de História em Setúbal. Conta que as suas aulas eram de uma história viva, com visitas regulares aos locais e monumentos históricos, além de aulas de grande formação cívica e política, que o marcaram para sempre. Manuel José Fernandes, antes e depois do Abril/74, participou em diversas reuniões, em jornadas sociais e em convívios musicais em colectividades populares e cooperativas da Margem Sul e no Alentejo.
Em 23 de Fevereiro de 1987, faleceu no Hospital de S. Bernardo em Setúbal, com uma doença de esclerose lateral amiotrófica. O seu funeral foi um acto nacional com milhares e milhares de portugueses a acompanhá-lo até ao Cemitério de Nossa Senhora da Piedade em Setúbal. Por sua vontade levou um pano vermelho no féretro e repousa numa campa rasa, tendo como companhia uma camélia. É local de muitas visitas e romagens.
Quis o destino que os meus saudosos Pais José Maria Fernandes e Maria da Piedade Alves Lavajo ficassem sepultados no Talhão da Santa Casa da Misericórdia de Setúbal, a poucos metros da sua última morada terrestre. Quatro bismulenses ligados à memória de um dos maiores compositores portugueses e dos mais divulgados a nível mundial. Um dos maiores vultos da cultura musical portuguesa.
Não há cidadão nacional que não conheça uma canção de Zeca Afonso e muitas são de uma grande actualidade. HONRA E GLÓRIA À SUA OBRA. DIA 23 DE FEVEREIRO DE 2012 FAZ 25 ANOS QUE PARTIU DOS VIVOS. Que ninguém se esqueça e o recorde, como faço neste texto.
António Alves Fernandes – Aldeia de Joanes
Inicio este texto com uma afirmação que li há tempos e registei, por se enquadrar perfeitamente neste tema: «brincar não era um tempo oferecido, mas conquistado entre os múltiplos afazeres em que cedo nos iniciávamos no mundo do trabalho».
Na lógica desta afirmação, em Outubro de 1952, ao iniciar a frequência da Escola Primária da Bismula, com mais de duas dezenas de rapazes e raparigas, levei na minha sacola de serapilheira, um caderno, um livro, uma caneta para molhar no tinteiro, uma ardósia escura e um pião com umas baraças.
Naquela manhã outonal, comecei assiduamente a brincar com os meus conterrâneos. Se as lições na sala de aula eram muito importantes, o nosso brincar no pátio da escola tinha o seu valor. Os nossos cenários do brincar eram o Largo da Santa Barbara, junto à Escola Primária e Capela com o mesmo nome, os Largos do Chafariz, da Relva, da Ladeira, da Praça, o extinto Adro da Igreja e o Campo de Futebol.
Há tempos fui convidado a falar para crianças do 1º Ciclo, sobre os brinquedos do meu tempo escolar. Acedi com todo o gosto, prazer e saudade ao ir relembrar a minha infância.
Disse às crianças que me ouviam com muita atenção, que os nossos tempos de brincadeiras eram escassos. Era nos intervalos das aulas, da Catequese e pouco mais, porque as outras horas eram destinadas a ajudar os nossos pais no cultivo dos campos e na guarda e cuidado dos rebanhos.
Disse-lhe que os nossos brinquedos eram muito pobres e poucos, a maioria era feita pela paciência dos nossos pais, de algum familiar ou amigo. As matérias utilizadas eram de origem vegetal, madeira, trapos, frutos secos, ferro, lata ou latões, papel e outros. Não havia dinheiro para se comprarem brinquedos nos mercados. Hoje há uma inflação de brinquedos de toda a espécie e feitio, ao ponto de muitas crianças quando os recebem, nem quase os vêem. E comecei a explicar-lhes que por exemplo o meu pai fazia uns barquinhos com as cascas de nozes, que colocávamos nas condutas da água das regas. Fazia moinhos com uns pauzinhos e bugalhas. Fazia umas caravelas que ao corrermos giravam a grande velocidade e também eram importantes para colocarmos nas hortas, para afugentar a passarada da mesma forma que os espantalhos. Os piões e um cordel de sisal eram o nosso encanto, e o seu jogo era de tal maneira competitivo, que ficávamos muito contentes quando partíamos o do vizinho. Faziam-nos bolas de trapo para jogarmos. Mais tarde chegaram as bolas de borracha que íamos comprar de contrabando a Almedilla, povoação castelhana.
Jogávamos ao bugalho, que íamos às matas dos carvalhos procurá-los, e mais tarde ao berlinde quando chegaram à Bismula as garrafas dos pirolitos; jogos das escondidas, da cabra cega, da corda, do arco…
Falar do Património dos nosso brincar é irmos à memória da nossa infância e recordá-lo. Quem do Concelho do Sabugal não recorda os seus modestos brinquedos de criança? Penso que não há ninguém, porque fizeram parte da nossa história e do nosso crescimento. Cada brinquedo é uma memória, uma história, uma lição aprendida, uma acção de solidariedade, de amizade e de zangas infantis.
Falar deste Património é recordar pessoas que os construíram, que nos ensinaram, é recordar os nossos companheiros de escola, as nossas brincadeiras colectivas e partilhadas, que já não existem.
Para terminar apetece-me declamar o poema de Fernando Pessoa:
O meu passado de Infância,
Boneco que me partiram,
Não poder viajar para o passado,
Para aquela casa e aquela feição.
E ficar lá sempre, sempre criança, sempre contente.
Hoje há pavilhões desportivos e espaços em todas as freguesias para se brincar, para a prática do desporto, resultado de muitas promessas eleitorais. Porém, o que observamos, a maioria está vazio, inactivo. Já não há crianças nas nossas aldeias e aquelas que as tem não estão motivadas, estão desinteressadas.
As crianças dos nossos dias, desta sociedade a esquecer valores, perderam espaço, tempo e autonomia de brincar.
Hoje as crianças deste País, tem brincadeiras e actividades individualizadas. Como eram diferentes os meus tempos de criança e a saudade que tenho do meu arco e do meu pião.
António Alves Fernandes – Aldeia de Joanes
Aleluia! Aleluia! A nossa Selecção Nacional dos Padres de Futsal é Campeã Europeia. Trouxe para Portugal a Taça dos Campeões Europeus.
A Prova Desportiva realizou-se na Hungria. Participaram doze países europeus. Os finalistas foram Portugal e a Croácia, que vencemos por 5-4, tendo recorrido à marcação de grandes penalidades, visto que o jogo terminou empatado. Consta que não baptizaram os árbitros com aqueles nomes que nós chamamos às vezes (eu em particular), principalmente quando a nossa equipa está a perder.
Os senhores abades portugueses tiveram a ajuda dos deuses, porque foram bafejados por uma pontinha de sorte, mas a sorte protege os audazes. São recebidos em ambiente de apoteose no Aeroporto Sá Carneiro, no Porto. Esta foi a grande notícia que me chegou num jornal diário, em letra minúscula e lá para o seu meio. Na outra comunicação social não vi uma imagem ou alguma notícia escrita.
É interessante saber que estes jovens sacerdotes não têm qualquer apoio. Sem patrocínios, apenas podem contar com a ajuda de Deus e do seu esforço físico e técnico, pois jogam por prazer. Pagam as deslocações do seu bolso, que rondam os quinhentos euros. Têm a oferta dos equipamentos e a cedência gratuita dos pavilhões onde treinam aos domingos de tarde e pouco ou nada mais. Dão um bom exemplo a muitos grupos desportivos, clubes e associações que andam sempre na pedincha de apoios do erário público.
Esta Selecção Nacional dos Clérigos é formada por jogadores do Norte de Portugal. Pertencem às Dioceses do Porto, Viana do Castelo, Braga, Vila Real e Lamego. O representante da Diocese de Lamego deve ter-se treinado antes da posse do actual titular. Pelo que ouvi e li, a oratória daquele Prelado, é pior que os discursos do defunto Almirante Américo Tomás, pior que as intervenções televisivas do Jorge Jesus (embora com resultados práticos) ou do Esteves, que desmoralizariam qualquer cristão, quanto mais um futebolista padre.
Verificámos que os representantes da nossa Selecção são todos do Norte do País. Seria bom espalhar a prole por todo o território nacional cristão, passando pelos Açores e Madeira.
Na Diocese da Guarda temos um Bispo que é um bom atleta, já fez mais do que uma vez a Caminhada a Santiago de Compostela na Galiza. Se mandasse na Federação Portuguesa de Atletismo, já lhe teria atribuído uma medalha, porque a merece inteiramente. Não sei, no entanto se há garra para os futebóis. Quanto à Diocese de Lisboa, deveria sair mais uma norma antitabagismo: vi pessoas tão cansadas, que já não têm forças para saudar um qualquer samaritano que por aquelas bandas apareça, caído na Feira da Ladra.
Quanto à Diocese de Setúbal, saiu de lá o melhor treinador que já conheci, homem corajoso, dinâmico, de vivências sociais e desportivas, capaz de levar muitas equipas a ganhar muitos campeonatos.
Quanto às outras não conheço, tive um breve contacto com o Bispo de Aveiro, de estatura meã, mas com genica para recrutar um ou outro elemento, porque os homens não se medem aos palmos.
É bonito, patriótico e religioso saber que elementos responsáveis na Igreja são Campeões da Europa. Deram uma pedrada no charco da crise e da austeridade e logo com cinco golos marcados nas balizas adversárias.
Despir as batinas, vestir uns calções e calçar umas chuteiras também é evangelizar. Nesta missão e acção, conheci o Padre Ezequiel Augusto Marcos – Vilar Formoso, Padre Manuel Joaquim Martins – Aldeia de Joanes, o saudoso Padre Francisco dos Santos Vaz – Bismula, Padre António Cecílio – Manteigas, Padre João de Deus – Vila Nova de Tazém, e Padre Carlos Manuel Jacob Foitinho – Missionário de S. João Baptista – Gouveia.
Não sei se Sua Santidade, o Papa Bento XVI, lhes irá atribuir uma medalha da Santa Sé ou equacionar a canonização futura da equipa. O saudoso João Paulo II, Papa que amava e praticava o desporto, lembrar-se-ia destes bravos padres portugueses, que ganharam a Taça dos Campeões Europeus em Futsal, ainda por cima em país do Leste Europeu. Não tenho dúvidas.
Para estes senhores priores que, além da sua missão nas comunidades cristãs, ainda têm tempo para o Desporto, DEO GRATIAS, continuação de mais êxitos desportivos, e um TE DEUM de acção de graças.
António Alves Fernandes – Aldeia de Joanes
Tarde quente de Janeiro. Através das novas tecnologias recolhi a informação de que no dia sete se comemoravam os 85 anos da Junta Regional do Corpo Nacional dos Escutas da Guarda. Não era muito precisa nem pormenorizada. Ainda aguardei esclarecimentos da imprensa regional e ligada à Diocese, mas nem uma letra publicada. Porque será este silêncio? De quem é a culpa?
Em 1972 nasceu esta Região Escutista, com forte apoio das gentes da Cidade da Lã. Não é por acaso que a Sede Regional se encontra sediada na cidade covilhanense.
A palavra Escutismo é um símbolo que mexe nas minhas humanidades. É uma palavra mágica, construtora, rica de valores, que me ajudou também a crescer e a formar-me.
Assim, parti com destino à Covilhã, onde decorreram as comemorações do aniversário. Percorro a parte velha da cidade. Passo pela Rua do Castelo e deparo com o Pátio dos Escuteiro em frente à Assembleia Municipal, junto a uma casa brasonada e à sua volta ruínas. Casas desabitadas, pequenos comércios e cafés sem clientes. Sinais dos tempos e da austeridade.
Na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, no Largo de S. Francisco, tem lugar a Eucaristia. O Assistente Regional faz referência à Festa da Epifania e aos Reis Magos. Estamos em plena Festa dos Reis. Eles encontraram uma estrela e seguiram-na até ao Presépio de Belém. Também os escuteiros têm se seguir as estrelas nos trilhos, nas veredas, nos caminhos da ecologia, da proximidade, do bem… Estranhei a ausência do Bispo da Diocese, mas estava em Espanha.
A Sessão Solene decorreu numa sala do emblemático Teatro Municipal com a presença de centenas de Escuteiros de treze Agrupamentos, num total de vinte e quatro, com um efectivo de mil e quinhentos jovens escuteiros, espalhados pelo território da Diocese da Guarda. Os efectivos nacionais cifram-se em setenta mil. O poder local primou pela ausência. Talvez por pensar que a aposta na juventude já não tem interesse e é melhor emigrarem já, apelo que fazem constantemente uns altos dignitários do governo.
O Chefe Nacional Carlos Alberto Pereira, num breve improviso afirmou que tal como as sociedades, o escutismo está em mudança e evolução. Tem de incluir novas mentalidades, tem de servir todas as classes e gerações. Tem de ser multicolor, tolerante e atento aos direitos cívicos e humanos. Tem de apontar uma cidadania global. Pertencemos a um movimento de causas. A boa acção está neste sentido. A História da Região da Guarda fez-se e faz-se destas pequenas coisas. Aquilo que cada um de nós faz é História. O Escutismo foi e é útil numa verdadeira escola de formação em cada um de nós.
Fez referências a D. Manuel Vieira de Matos, Bispo da Guarda, mais tarde Arcebispo de Braga e que ali fundou o Escutismo, depois de ter admirado os activos Escuteiros em Roma.
Falou do Padre Adérius desta Diocese que foi seu formador e com uns textos importantes nesta área.
Agradeceu a dedicação, a lealdade, a seriedade, a prática escutista do Chefe Bento, a quem, com toda a justiça, a Junta Central deliberou atribuir-lhe o Colar Nuno Alvares, a máxima condecoração escutista.
O Chefe Regional António Bento Duarte afirmou que esta distinção é de todos os Escuteiros da Região da Guarda, é da sua esposa e filha, os grandes pilares da sua caminhada escutista, do Agrupamento nº 31 da Freguesia do Barco e seus dirigentes onde se iniciou como escuteiro e do saudoso Padre Sanches, um verdadeiro assistente regional, um sacerdote escuteiro.
O Responsável pelo Secretariado do Projecto Educativo apresentou alguns dados da Junta Regional da Guarda, com os nomes dos seus Chefes e Assistentes através dos tempos até aos nossos dias. Apelou para que todos os Agrupamentos guardem, preservem e congreguem o seu próprio património escutista.
Seguiu-se um simples beberete, oportunidade para trocar umas breves impressões com o Chefe Nacional e Regional, com a Chefe Adélia Lopes do Agrupamento do Soito (Sabugal), onde já estiverem incorporados jovens escuteiros da minha terra natal – a Bismula – e com outros elementos dirigentes.
Saí. Caía a noite. Parei no Pelourinho, junto à Estatua de Pêro da Covilhã. Fiz-lhe o azimute e a nascente surgia a Lua Cheia empoleirada no telhado da Igreja da Santa Casa da Misericórdia. E pensei que estavam ali duas excelentes pistas para os olhos luminosos, radiosos, às vezes irrequietos para a juventude escutista.
Parabéns Junta Regional! Parabéns Chefe Regional António Bento Duarte!
António Alves Fernandes – Aldeia de Joanes
Tinha elaborado um texto sobre a PAZ para lembrar a todos os meus Leitores, que no primeiro dia de cada ano civil, celebramos o «DIA MUNDIAL DA PAZ», que deve estar na preocupação de cada ser humano. Porém, entendi substituí-lo por um texto maravilhoso e actual, um hino à PAZ, que o Bismulense – José Maria Fernandes Monteiro, meu saudoso Pai, que agora faria 107 anos – escreveu na década de setenta do século passado, muito bem inserido no Livro Pater Famílias, da autoria do meu irmão Ezequiel Alves Fernandes, que poderá brevemente fazer uma terceira edição. Com humildade e respeito, vou transcrevê-lo:
O que é a Paz
A Paz é a ausência de guerra.
A Paz é não sermos racistas.
A Paz é a confiança entre todos.
A Paz é a amizade entre as nações.
A Paz é a família a conversar.
A Paz é todos sermos felizes.
A Paz é igualdade, liberdade e fraternidade.
A Paz é quando os filhos beijam os pais quando chegam do trabalho.
A Paz é a Noite de Natal.
A Paz é Nosso Senhor Jesus Cristo.
A Paz é o riso das crianças
A Paz é uma rosa a desabrochar.
A Paz é uma criança a dormir.
A Paz é a luz do sol que nos ilumina.
A Paz é fazermos bem a quem nos faz mal.
A Paz é cuidar dos pobres.
A Paz é o casamento entre homem e mulher.
A Paz é consolar os que sofrem.
A Paz é dar de comer aos famintos.
A Paz é vestir os nus.
A Paz é quando não destruímos a vida.
A Paz é quando vivemos na graça de Deus.
A Paz é a melhor coisa deste mundo.
Acabamos de festejar o nascimento do Mensageiro da Paz, e, conforme nos indicava o Profeta Isaías «todo o calçado ruidoso da guerra e toda a veste manchada de sangue serão lançados ao fogo, e tornar-se-ão pasto de chamas, porque um Menino nasceu para nós, um filho nos foi dado. É O PRINCÍPE DA PAZ.»
Muitas famílias neste País acenderam e acendem uma vela, como um gesto de PAZ e de solidariedade para com a Cáritas, numa Campanha da «Distribuição da Luz da Paz». É um símbolo da verdadeira luz e representa a vontade de construir um novo mundo de justiça e PAZ.
«Bem-aventurados os construtores da PAZ.»
Desejo a todos os meus amigos e leitores um Novo Ano com muita saúde e as maiores felicidades pessoais. Que todos nós no dia-a-dia façamos um grande esforço para a construção desse bem que é a PAZ. BOM ANO 2012.
António Alves Fernandes – Aldeia de Joanes
«A caneta é a língua da Alma»; Cervantes, in «D. Quixote».
A Bismula, com muitos séculos de existência, teve e tem pessoas que, em diversas circunstâncias de trabalho e nas mais diversificadas profissões, a prestigiaram. Todos os Bismulenses devem sentir orgulho, embora muitas vezes aqueles que têm o poder político, esqueçam os homens da cultura. Há no campo das letras, da literatura que valorizaram e deram a conhecer ao país e ao mundo, o nome da nossa Freguesia – a Bismula. Estou a fazer referência aos nossos escritores.
Na linha da frente, com diversas obras publicadas, além de imensa colaboração na imprensa escrita e falada, está o Dr. Manuel Leal Freire. A sua imensa obra literária estende-se à prosa, à poesia, que vai perpetuar a voz do nosso povo nas diversas actividades, nos usos e costumes, nas vivências históricas, etnográficas e sociais. Há o saudoso Padre Francisco dos Santos Vaz, o Padre Manuel Leal Fernandes, Ezequiel Alves Fernandes, Professor Couceiro e outros. Porém, quem a coloca também no mapa da literatura portuguesa e a nível internacional é o jornalista e escritor Manuel da Silva Ramos, oriundo da Covilhã, com o livro «TRÊS VIDAS AO ESPELHO», romance alegre e reconfortante, que se traduz num elogio ao contrabandista da zona da raia e revela-nos de uma forma detalhada da vida de uma aldeia – A BISMULA –, perdida entre pedras e solidão, cujos habitantes se dedicam à agricultura, à pastorícia e … ao contrabando, como é descrito na contra-capa.
Esta obra, em que colaborei em diversos itinerários, no referente á primeira parte, teve a sua primeira apresentação na Papelaria Barata, na Av. de Roma em Lisboa, a segunda no Auditório Municipal do Museu do Sabugal, e ainda esteve em perspectiva ser lançado numa grande tenda em Vilar Formoso, junto à fronteira, ideia que se abandonou por questões de logística. A terceira apresentação foi realizada na Covilhã. Estive em todas as apresentações, a convite do escritor, e em todas foram muito participativas. É na apresentação desta última, que senti muito orgulho ter nascido na Bismula. Não é todos os dias que se ouve o mestre dos mestres, do pensamento, da filosofia, da literatura portuguesa – José Eduardo Lourenço –, como orador da noite e comentarista.
José Eduardo Lourenço, fez uma profunda resenha do Livro «TRÊS VIDAS AO ESPELHO», e a rever-se em muitas páginas do mesmo. Ele que nasceu numa aldeia igual a tantas outras da zona fronteiriça – S. Pedro de Rio Seco – junto a Vilar Formoso, sentiu e viveu a dureza de vida daquelas gentes. Aquele ensaísta abre o livro e lê: «dormi em choças de pastores que partilharam comigo pão duro, chouriço picante, queijo de cabra e vinho tépido, aquecido nas brasas do lume ao ar livre, a vida é um poço de sofrimento». Noutra passagem Eduardo Lourenço, continua: «ficava horas nos cômoros ou por baixo das videiras, sentado nos muros de pedra que dividiam as pequenas propriedades sonhava com a França. Na Bismula não havia futuro. De Aldeia de Ribeira até ao Carril, continuava o mesmo mar desolado de pedras, silvas, giestas, azinheiras, paisagem agreste que reforça no coração a ideia de que caiu há milhares de anos nestes sítios mortos um raio infinito de pobreza».
Na diversificada assistência, muitas das pessoas com raízes nestes descritos cenários, ao ouvir estas mensagens, acompanhou-nos uma lágrima de saudade, acompanhada de sofrimento, de dor, mas também de raiva. A ESPERANÇA é a última palavra a morrer na vida do HOMEM.
A obra literária «TRÊS VIDAS AO ESPELHO» é o melhor romance, dos muitos que Manuel da Silva Ramos escreveu.
Com este texto quero homenagear Eduardo Lourenço, nosso vizinho, conterrâneo, que acaba de lhe ser atribuído o Prémio Fernando Pessoa. Ele que embora no estrangeiro teve sempre os olhares em Portugal, que soube sempre dar conselhos oportunos e sábios aos Portugueses. Eduardo Lourenço é uma referência nacional.
António Alves Fernandes – Aldeia de Joanes
Noite de Dezembro fria e noveirada. Aproximava-se a hora do jantar de aniversário de uma das prestigiadas colectividades desta cidade. Todos os anos me inscrevo porque devemos festejar estas efemérides. Chego ao restaurante e nem viva alma. Apenas o dono e os empregados. Está tudo atrasado porque se espera por uma individualidade vinda da capital.
Enquanto aguardo vejo as notícias, sem antes o chefe da casa me esclarecer que anda quase tudo a gamar. É nas auto estradas sem custos, com portagens, as licenças municipais para tudo e mais alguma coisa a subir vertiginosamente com custos a exceder o dobro, as da saúde com uma vistoria de minutos, passa para cá mais de cem euros, é os medicamentos, é tudo …
Qualquer dia fecho a porta porque não posso suportar tantos encargos fiscais.
Olho para as notícias da TV e é o desfilar infindável do rosário da crise.
Assaltos de todas as formas e feitios, é o roubo das caixas multibanco, das ourivesarias, dos restaurantes, dos cafés, dos fios de ouro, e até na minha aldeia, Bismula, que nunca é notícia, este dia foi-o em todos os órgãos de comunicação social escrita e falada, porque uns larápios foram aos postes dos telefones, serraram-nos e levaram os fios de cobre de milhares de metros, deixando-a sem comunicações.
Um vice-reitor de uma universidade diz que a maioria da geração da actual classe política veio de universidades privadas e mais não digo…Que quer dizer este ilustre senhor? Foi a crise?
Por causa da crise está à venda no Bairro Alto – Lisboa, uma Igreja por dois milhões de euros, esperando que não vendam o Céu, porque os pobres já lá não chegam.
Também por causa da crise ouvi uma boa notícia, o preço das Eucaristias não vai subir de preço mantendo-se os dez euros por intenção e o remanescente vai para a Diocese.
Estava-se na crise, quando chegou o desejado dirigente acompanhado pela direcção e entidades oficiais, já alguns dos inscritos para o manjar iam mordiscando o pão com manteiga, azeitonas, pedaços de chouriça e morcela.
Vem a crise dos discursos, e o Presidente aos costumes disse nada, convidando todos para que no próximo ano estivessem presentes, se entretanto o S. Pedro não os chamar para prestarem contas dos nomes bonitos que chamaram ao árbitro, aos jogadores e aos associados de outros clubes, dando a palavra ao autarca de freguesia que foi uma malícia ouvi-lo, ainda por cima é todo virado para o vermelho. Lá foi adiantando que ainda vem longe as eleições, que não trás nada na manga por causa da crise, que tem duas filhotas uma do clube da concorrência e a outra sim do aniversariante. No próximo ano espera estar presente com a filha.
O autarca municipal que é da cor verde salvou a honra do convento, começando por cumprimentar o Sr. Presidente que acaba de conhecer. Eu digo, talvez pela malvada crise quando foi eleito não foi apresentar cumprimentos à edilidade municipal, como mandam as regras protocolares. Destacou a acção social e centro de encontros da referida colectividade, à qual desejou as maiores felicidades.
A seguir falou o representante da tribo maior, que veio da capital do império, começando por esclarecer o atraso. Era a primeira vez que vinha ao Fundão, apanhou muito nevoeiro que lhe dificultou a viagem, mas chegou ao destino. Não aconteceu o mesmo ao nosso Rei D. Sebastião, que o Povo continua à espera, num dia ou noite de nevoeiro. Informa que veio a custo zero. Será que não pagou as malditas portagens? Se a crise de golos não for como as finanças do país, espera ser campeão do futebol indígena.
Perante tanta crise, o profissional da rádio meteu no saco o gravador e foi-se embora, porque não podia colocar no ar tanta falta de qualidade oratória.
Por causa da crise, a Banda Musical não colocou colunas de som na sala, mas ouviu-se e bem.
Que mais irá acontecer. Maldita crise. Que vá para o Diabo que a carregue.
António Alves Fernandes – Aldeia de Joanes
Munidos de motosserras os ladrões de cobre cortaram os 20 postes que suportavam os 2.100 metros de linha telefónica entre as aldeias de Bismula e Ruivós, no concelho do Sabugal, deixando as populações sem comunicações.
O furto aconteceu durante a noite de quarta para quinta-feira passada, e o caso apenas foi descoberto na sequência da falta de comunicações por telefone fixo e Internet, altura em que se verificou o desaparecimento do fio e o caso foi comunicado à GNR.
Os assaltantes cortaram os 20 postes de madeira a cerca de um metro de altura do solo e recolheram seguidamente o fio de cobre em bobinas que terão carregado numa carrinha. O destino é a venda do cobre a sucateiros, negócio que tem motivado o furto constante de metais nas aldeias do interior.
Em Ruivós vivem cerca de 50 pessoas e na Bismula 150, que agora focaram mais isoladas do mundo, pois a rede móvel de telefones funciona com grandes limitações, face à constante falta de rede. O presidente da Junta de Freguesia da Bismula, José Vaz, teme que a reparação da linha demore várias semanas. «Sei que têm o assunto em mãos mas provavelmente a reposição das comunicações vai levar muito tempo, porque são muitos postes a recolocar e uma grande extensão de linha», disse o autarca ao Capeia Arraiana, acrescentando que a falta de telefones de estende a outras aldeias ao redor, nomeadamente a Aldeia da Dona e Carvalhal.
A GNR está em campo a investigar o crime, que poderá ter ligação com outros de igual natureza que têm acontecido na região. O modus operandi (furto com recurso ao corte de uma elevada extensão de postes) já é conhecido e tem acontecido noutros pontos do país, embora neste caso tal tenha sucedido numa grande extensão – mais de dois quilómetros.
O insólito despertou a curiosidade de diversos meios de comunicação social, que foram ao local para observarem in loco os vestígios do furto do fio. «Ontem estiveram aqui televisões, rádios e vários jornais nacionais, querendo inteirar-se da situação, acompanhei-os e prestei-lhes declarações. É bom que se divulgue o que aqui se passou para que as autoridades e as populações do interior se acautelem de modo a evitarem outros casos semelhantes», disse o presidente da junta de Freguesia da Bismula.
plb
Há mais de uma década, cruzei-me acidentalmente no Fundão com o Padre Mário, desconhecendo a razão porque estabelecemos diálogo durante alguns minutos. Logo ali, talvez por termos sangue beirão, entrámos em empatia. Além da agradabilidade da nossa conversação, de um certo sentido de humor, da sua humildade, dois factores pesaram para durante estes anos mantermos uma amizade profícua, o Padre Mário era quase meu conterrâneo e tinha o nome do meu filho mais novo.
Pertencemos ao mesmo Concelho do Sabugal. O Padre Mário natural de Monte Novo – Pousafoles do Bispo, e eu da Bismula, situada no Planalto das Terras do Ribacôa, que o Tratado de Alcanizes, no reinado D. Dinis, agregou à Coroa Portuguesa.
A partir daquele dia muitas outras vezes nos cruzámos pelas ruas do Fundão, trocámos impressões sobre diversos temas, das nossas origens, das nossas gentes, das vivências e pastoral da Igreja. Ele com muitas responsabilidades em diversas acções, principalmente de dirigir a vida de um Seminário Menor.
Quis o destino que a seguir ao nosso conhecimento pessoal, em regime de substituição do Pároco de Aldeia de Joanes, conjuntamente com outros sacerdotes amigos, participasse às exéquias de um meu filho, o acto mais doloroso vivido. Nunca mais esqueci as palavras de solidariedade, de conforto, de esperança, de fé, de amizade, que me transmitiu no final da cerimónia fúnebre.
Nas diversas visitas ao Seminário por inúmeras actividades, sempre me recebeu com os braços e coração abertos, sem cerimónias, com simplicidade, com muita fraternidade e proximidade. Notei que fazia parte da sua família, do grupo dos seus amigos.
Numa das últimas visitas à Instituição, já há muito que não era Reitor, mas ali tinha os seus aposentos, com marcação prévia do dia e hora, disse-lhe que era a minha intenção, ofertar-lhe um livro sobre o meu Pai e ver um pequeno filme sobre a sua apresentação. Acedeu e disse-me que viesse preparado para jantar. Cheguei mais cedo que o combinado e recebeu-me no seu quarto, dei-lhe uma explicação dos fundamentos do «Pater Famílias», título do livro, que dava uma panorâmica religiosa, política, social e cultural das nossas origens, com uma personagem principal, o meu Pai – sua vida e obra.
Convidou-me para a Eucaristia com os alunos numa pequena capela e, qual é o meu espanto, que nem metade participava. Estranhei tanta ausência, perguntei-lhe os motivos e o Padre Mário encolheu-me os ombros… e disse-me que estavam a estudar.
Seguimos para o refeitório comunitário e fiquei ao seu lado, conversando sob os olhares estranhos de outras personagens, com a ideia de que estava ali um intruso, um estranho…que era eu. De seguida partilhámos as imagens que o computador nos ia apresentando numa sessão que demorou uns vinte minutos.
Muitas vezes se deslocou à minha Paroquia de Aldeia de Joanes, principalmente na Celebração da Eucaristia e no acompanhamento dos Funerais. As suas homílias eram curtas mas de grande riqueza evangélica.
Nas cerimónias fúnebres admirava a sua tenacidade e a sua religiosidade. Não ia no carro, mas sim a pé, e com a sua voz forte e firme rezava o terço por alma do defunto, seguido por todos os acompanhantes naquela oração.
Há dias no Hospital da Covilhã dei-lhe o último abraço. Tive essa convicção dada a gravidade da sua doença.
Este é um pequeno testemunho de quem acompanhou esporadicamente um Padre que desempenhou diversas missões, um homem de acção e de trabalho, sem esquecer as suas facetas humanas, sociais e de proximidade com o povo.
Com a sua morte, ficamos mais pobres, partiu mais um obreiro da seara do Senhor, perdeu-se um HOMEM E CIDADÃO do Fundão. Perdi um amigo e um conterrâneo.
António Alves Fernandes – Aldeia de Joanes
(Veja aqui um artigo de Pinharanda Gomes sobre o Cónego Mário)
O objectivo deste texto é lembrar às gerações bismulenses mais novas que tiveram e têm pessoas da sua terra, que em missões humanitárias, sem recompensas monetárias, prestaram serviços importantes, numa entrega total a Deus e aos homens.
Sabemos por experiência própria como alguns responsáveis por instituições públicas e políticas são alérgicas, insensíveis e deixam cair no esquecimento os seus filhos e até afirmam que já ninguém os conhece na sua terra natal. No entanto, muitos tiveram participação social activa no seu meio e estenderam-no pelo mundo em trabalho notável e valioso. Nesta linha está alguém que gastou uma longa vida a curar e a suavizar as dores físicas e psicológicas de muitos doentes.
Há muito que era minha intenção escrever sobre a minha conterrânea, a Irmã Religiosa Célia, com quem falei uma ou duas vezes, nas suas raras visitas à Bismula. Avivei a memória e com alguns apontamentos recolhidos vou debruçar-me um pouco com a sua história.
Nasceu a 4 de Agosto de 1907 na Bismula, nos finais da Monarquia agonizante. Eram seus Pais Luísa Martins e Joaquim Valente. Pertencia à geração do meu Pai – José Maria Fernandes, que me falava muitas vezes desses tempos. Foi registada civilmente com o nome de Maria Rosa Martins. Tinha duas irmãs, Francisca Martins, casada com o meu tio António Fernandes, cedo faleceu de parto, deixando quatros filhos menores órfãos. O recém-nascido Francisco ficou aos cuidados da sua irmã Rita Martins, mas passados alguns meses também morreu. Esta irmã teve uma numerosa família, nove filhos e foi a mãe do Padre Manuel Joaquim Martins.
Aqui tenho de citar Mário Tiago Bernardo Fernandes, no preâmbulo do Livro Pater Famílias de Ezequiel Alves Fernandes, «era o tempo em que as crianças ficavam às escuras na Bismula, olhando as luzes das cidades que emergiam no horizonte, catapultando sonhos impossíveis, o tempo das rixas nas tabernas; as crianças mortas embrulhadas num lençol; o tempo dos gritos da injustiça das mães que viam partir os seus rebentos por falta de assistência médica.» E as mães também partiam… Partiam todos sem cuidados médicos, porque não existiam.
A Maria Rosa Martins frequentou a Escola Primária da Bismula. Nas horas vagas apascenta um pequeno rebanho com a ajuda da sua amiga Leonilde Polónia, no sítio dos Arroios.
Naqueles tempos havia na Bismula alguns casais onde se praticava a violência doméstica, maridos que maltratavam as suas esposas e filhos. A Maria Rosa apesar de adolescente já tinha uma certa consciência destas agressões familiares, assim como a sua companheira. Decidem nunca casar para não passar por aqueles vexames, que passavam as mulheres da sua terra, e decidiram um dia abraçar a vida religiosa. Estava muito viva e presente nas gentes bismulenses a mensagem deixada pelos responsáveis da Congregação das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus, com sede em Idanha – Belas – Lisboa, a primeira Casa Religiosa fundada em Portugal em 1894.
A Congregação é fundada por S. Bento Menni em Maio de 1881, em Ciempozuelos nos arredores de Madrid, com o objectivo da criação de asilos, hospitais gerais e hospitais psiquiátricos, na promoção, tratamento e reabilitação das pessoas, no âmbito da saúde mental, orientada em critérios da centralidade da pessoa doente, na continuidade apostólica dos Irmãos de S. João de Deus, agora com uma componente feminina.
Aos treze anos aquela menina já sabia quais os caminhos a percorrer. Já tinha mentalidade adulta e decide voluntariamente ingressar naquela Congregação desloca-se com os seus Pais, à Freguesia da Parada, do Concelho de Almeida, onde uma Irmã Religiosa a recebe, e seguem para Lisboa, via-férrea, tomando o comboio na Cerdeira do Côa. Mais tarde a sua amiga Leonilde Polónia vai juntar-se a ela.
Ali faz votos de apostolando e é lhe atribuído o nome de Célia. Parte para Espanha e faz o noviciado na Casa Mãe em Ciempozuelos, junto de Madrid. Aí vive intensamente a Guerra Civil Espanhola e por milagre não é fuzilada, como aconteceu a tantos outros religiosos e religiosas. A grande dedicação e serviço aos pobres, mendigos e doentes, são a senha para serem poupadas ao martírio. Segue para Paris e aí desenvolve imenso trabalho hospitalar. Com a ocupação nazi da cidade surge-lhe mais uma tormenta. Diversas vezes têm as instalações ameaçadas por armas pesadas dos nazis, apontadas para disparar. São forçadas a dar assistência médica e alimentação às forças invasoras. É de tal forma o stress que algumas Religiosas pagaram com a morte estas afrontas militares dos nazis. A Irmã Célia com estas vivências de guerra, num território ocupado pelas forças nazis, ficou de tal forma afectada na sua saúde, uma espécie de virose traumática, que nunca conseguiu debelar.
Regressa a Portugal e em trabalho de missão e de angariação de fundos, faz diversos peditórios pelo Concelho do Sabugal, recebendo fundamentalmente produtos agrícolas que o seu cunhado Manuel Salgueira, conduz para a estação de caminho de ferro da Cerdeira do Côa, a fim de seguirem para Idanha.
Através daquela sua acção, jovens bismulenses e de muitas Freguesias do Concelho do Sabugal, como por exemplo da Nave, Ozendo, Vale de Espinho, Aldeia da Dona, Pousafoles do Bispo, Aldeia da Ponte, entraram naquela Congregação. Estão neste número Maria da Piedade Alves Lavajo, Irmã Hortense, Maria da Nazaré, Irmã América, Maria de Jesus Martinho, Isabel Dias, Adelaide Serrote e tantas outras.
A Irmã Célia faleceu no dia 23/2/2006, em Idanha – Belas, e ali está sepultada, onde tinha entrada em 1920. Trabalhou em Portugal, Espanha e França na área da saúde mental, durante oitenta e seis anos, repito oitenta e seis anos. Os números aqui falam melhor que as palavras.
Ontem como hoje os caminhos vocacionais e do testemunho da Fé tem de ser percorridos, com os métodos que os tempos modernos exigem.
Vem aí uma semana dos Seminários, cujo tema é «FORMAR PASTORES CONSAGRADOS TOTALMENTE A DEUS» e a Igreja vai proclamar um ano consagrado ao estudo e aprofundamento da Fé com inicio a 11 de Outubro de 2012 e o encerramento a 24 de Novembro de 2013, na solenidade da Festa de Cristo Rei.
Na questão vocacional hoje levantam-se muitas questões, que não vou abordar. Sabemos e dizem-nos que a Igreja e o mundo precisa de vocações sacerdotais, seduzidos pelo de Jesus Cristo. Para as despertar precisam-se de famílias e comunidades que sejam campo fértil onde possam germinar. Apela-se aos catequistas e educadores para que se empenhem nas vocações sacerdotais, mas sabemos que em algumas paróquias os seus responsáveis esquecem e ignoram os jovens.
Nesta Nova Evangelização à semelhança desta Irmã Religiosa, devemos concretizar as palavras de Jesus Cristo: «Vós sois o sal da terra, vós sois a luz do mundo. Brilhem as vossas obras diante dos homens para que eles vendo-as glorifiquem o Pai que está nos Céus.»
Bem-haja Irmã Célia – Maria Célia Martins, minha conterrânea, Religiosa das humanidades, que deu testemunho de Jesus Cristo na sua simplicidade, no seu silêncio, na sua longa missão.
Deus já a recompensou, porque cumpriu a Parábola do Samaritano e as Bem-aventuranças.
São estes membros da Igreja Viva que tem de ser nossas referências cristãs.
António Alves Fernandes – Aldeia de Joanes
Mestre na arte de versejar, senhor de virtualidades técnicas notáveis, Manuel Leal Freire é um dos maiores poetas da nossa terra.

5. Da Natureza à Alma
«O povo Inglês é um povo mudo; podem praticar grandes façanhas, mas não de escrevê-las», disse Carlyle, dos ingleses.
E acrescentava, com vaidade, no seu poema épico, que os feitos dos ingless está descrito na superfície da terra.
Contrapunha, humilde, Unamuno, que mais modestamente, e mais silencioso ainda, o povo Basco escreveu na superfície da terra e nos caminhos do mar seu poema; um poema de trabalho paciente, na América latina, mais que em qualquer outra. Mas durante séculos viveu no silêncio histórico, nas profundidades da vida, falando a sua língua milenária; viveu nas suas montanhas de carvalhos, faias, olmos, freixos e nogueiras, matizadas de ervas, bouças e prados, ouvindo chamar o oceano que contra elas rompe, e vendo sorrir o sol atrás da chuva suave e lenta, entre castelos de nuvens.
E concluía: «As montanhas verdes e o encrespado Cantábrico são o que nos fez.»
De facto, como tão bem observou Unamuno, é a Natureza e o meio que fazem os povos.
O homem encontra-se determinado pela natureza, a qual engloba tanto o seu próprio corpo, como o mundo exterior. E justamente a efectividade do próprio corpo, os poderosos impulsos animais que o governam, a fome, o impulso sexual, a velhice, a morte, determinam o seu sentimento vital e sua relação com o meio.
Esta constituição vital, que Platão já descrevia na vida presenteira dos terratenentes e sua doutrina hedonista, combatida por Heráclito, encontra expressão na filosofia epicurista, que S. Paulo desdenhou, está presente numa grande parte de literatura de todos os povos, e ressuou nas canções provençais, na poesia cortesã alemã, na epopeia francesa e alemã de Tristão, nas éclogas e pastorais do nosso Bernardim, depara-se-nos igualmente, na filosofia do século XVIII.
Nesta concepção do mundo, a vontade subordina-se à vida impulsiva que rege o corpo e às suas relações com o mundo externo: o pensar e a actividade finalista por ele dirigida encontram-se aqui ao serviço desta animalidade, reduzem-se a proporcionar-lhe satisfação.
Quando tal constituição vital se transforma em filosofia, surge o naturalismo, que, de forma uniforme, desde Demócrito, Protágoras, Epicuro e Lucrécio, a Hobbes, afirma ser o processo da natureza a única e integral realidade; fora dela, nada havendo; a vida espiritual distingue-se da natureza física só formalmente como consciência, de acordo com as propriedades nesta contidas, e a determinidade conteudalmente vazia da consciência brota da realidade física, segundo a causalidade natural.
As experiências do impulso vital, independentemente das construções filosóficas, ebabulações poéticas, levavaram sempre, e isso é que nos interessa, ao mesmo: ao sossego de ânimo, à paz de espírito, que surge em quem acolhe em si a conexão permanente e duradoira do universo.
No poema de Leal Freire, encontramos também a expressão desta constituição anímica. Ele vive em si a força libertadora da grande mundividência cósmica, astronómica e geográfica, que a paisagem particular e a Terra de Riba-Côa criaram.
O universo geográfico, as suas leis gerais, o nascimento de um sistema cósmico próprio, a história da Terra que sustenta animais e homens, por último, produz um homem particular, emergente de um universo cósmico:
«vem á ceia as courelas(10)/ cada uma traz seus mimos/ dá o quintal bagatelas
a veiga fartos arrimos// Das bouças vêm canhotos(11)/ Que um bento calor evolam
E até os manigotos/ Mandam cheiros que consolam// Vinhedos, chões e vergéis(12)/ Primasias se disputam/ Nem as rochas são revéis/ Em dura freima labutam.// As do monte mandam coelhos(13)/ As da ribeira bordalos/ Pirilampos são espelhos/ A cegarrega é dos ralos.»
E o homem que resulta, em Leal Freire, desta cosmogonia é piedoso; um bom pai, há semelhança de Lucrécio, que dizia «ser piedoso quem com ânimo sereno contempla o universo»:
«O lavrador, que é bom pai,/ A ver se a ceia é pra todos/ Não manda, que ele proprio vai.»
Um homem livre que, superando o fundamento mecaniscista do naturalismo, reconhece, como o ideal natrualista de Fuerbach, Deus, na imortalidade e na ordem invisível das coisas:
«Na mesa, que é um altarzinho(9)/ Que branca toalha cobre/
[…]
As Almas Santas dos Céus(14)/ Também descem para a mesa/ A noite, negra de breu,/ Resplandesce com a reza.»
Uma natureza provida de alma, impregnada da interioridade, que nela interpolaram a religião e a poesia.
Uma natureza que covida a uma atitude contemplativa, intuitiva, estética ou artística, quando o sujeito repousa, por assim dizer, nela do trabalho do conhecimento científico-natural e da acção que decorre no contexto das nossas necessidades, dos fins assim originados e da sua realização exterior.
Nesta atitude contemplativa alarga-se o seu sentimento vital, em que se experimentam pessoalmente a riqueza da vida, o valor e a felicidade da existência, numa espécie de simpatía universal.
Graças a tal estado anímico que a realidade suscita, voltamos nela a encontrá-los. E na medida em que alargamos o nosso próprio sentimento vital à simpatía com o todo cósmico e experimentamos este parentesco com todos os fenómenos do real, intensifica-se a alegria da vida e cresce a consciência da própria força vital, tal é a complexão anímica em que o indivíduo se sente um só com o nexo divino das coisas e aparentado assim a todos os outros membros deste vínculo.
Ninguém expressou com maior beleza do que Goethe esta constituição anímica:
Celebra a ventura de «sentir e saborear» a natureza». «Não só permites a fria visita de surpresa, mas deixas-me perscrutar o seu seio profundo, como no peito de um amigo». «Fazes passar diante de mim a série do vivente e ensinas-me a conhecer os meus irmãos no silencioso bosque, no ar e na água».
Esta constituição anímica encontra a resolução de todas as dissonâncias da vida numa harmonia universal de todas as coisas, que tão bem, como Goethe, soube resumir Leal Freire:
«A prece que ceia encerra/Manda pra longe a cizânia/A paz reina sobre a Terra.»
6. Alma enérgica e sensível
Conclui Leal Freire o seu poema com aquela magnífica saudação, que resume todo o carácter da minha raça:
«Dia um da criação (16)/A quantos na tasca estão.»
Uma saudação, curta em palavras, rude, como o que vem da força expontânea da natureza envolvente.
Não é por acaso, que o nosso folguêdo mais apreciado seja a capeia; um passatempo, em que se adestram colectivamente as forças dos homens, em confronto com a força bruta de um boi.
Um divertimento rude, para um carácter simples.
Como dizia Unamuno, a respeito povo Basco, a inteligência da minha raça também é activa, prática, enérgica. Sobreviver numa terra inóspita, de fronteira, exige mais um estética de acção, que de contemplação.
«E para quê poetas em tempos de penúria?», preguntava na 248 elegía, Pão e Vinho, o poeta alemão Hölderlin.
Por isso, em séculos, não produziu nenhum poeta, nenhum filósofo, nenhum santo; mas venceu muitos exércitos invasores, munido apenas de chuços e foices.
Não que o meu povo não seja capaz de pensar, sentir.
A aridez dos cabeços, a dureza da rocha granítica, o contínuo rebentar dos bracejos entre os barrocos, a florição das giestas em Maio, o verdejar dos prados, a sombra fresca dos freixos, o murmúrio dos ribeiros a galgar as fragas, a courela, os quintais, os chãos, os vergéis com os seus mimos, um lenhador carregando ao anoitecer o seu feixe de lenha, o carro de bois carregado balançando-se nos sulcos do caminho, a geada branca sobre o campo, tudo isto se apinha, se agrupa e vibra através da nossa existência diária.
Esta fica tão perto do passo no caminho do poeta e do filósofo que se recreia, como do pastôr, que pela orvalhada sai com o seu rebanho.
Um carvalho no caminho, um freixo num lameiro, induzem todos à lembrança dos primeiros jogos e e das primeiras escolhas da infância. Quando às vezes caía as golpes do machado uma árvore no meio de um bosque, o pai de família procurava na floresta, a madeira seleccionada para as tábuas do soalho, para a cumeeira da casa, o jugo das vacas, a rabiça do arado; o homem mais experiente escolhia a galha mais afeiçoada para o forcão, os moços colhem o madeiro do Natal.
A rudez, o perfume da madeira do carvalho, do castanheiro e do freixo, falam sempre da lentidão e da constância com que uma árvore cresce, floresce e frotifica, abrindo a sua copa ao céu, enquanto a sua raíz mergulha na terra sustentadora.
O caminho do campo recolhe tudo o que tem substância em seu redor, o enigma do perene e do grande, do céu e da terra, penetrando o homem e convidando-o a uma longa e serena reflexão sobre a criação.
Mas esse caminho do campo, como diz Heidegger, «fala sómente enquanto haja homens que, nascidos no seu âmbito, possam ouvi-lo.»
Enquanto o ritmo da vida, o trabalho, as pausas do trabalho, se façam ainda ao ritmo do relógio da torre e dos sinos, que, ainda segundo Heidegger, «sustentam a sua própria relação com o tempo e a temporalidade».
Enquanto «Derem os sinos trindades/ Por sobre as casas da aldeia/ Toques de suavidades/ Que prenunciem a ceia», nas palavras de Leal Freire.
Pena é que só agora, quando o sino das trindades já não marca o tempo dos trabalhos do campo, o meu povo tenha aprendido a falar num idioma de cultura, que revela ao mundo o seu ethos de um profundo sentido do transendente, um saber amável, uma serenidade espiritual, generosidade e fraternidade universais, sob uma aparente rusticidade.
Um ethos de boi valente a investir no forcão, dócil a puxar o arado; generoso sempre, ao pico do garrochão ou da aguilhada. Um povo ao mesmo tempo nervo e sentimento.
Leal Freire, Manuel Pina, Pinharanda Gomes, Eduardo Lourenço, interpretes deste ethos, são poetas e pensadores, que ainda ouvem o caminho do campo, numa Riba-Côa onde rareiam cada vez mais os homens que, nascidos no seu âmbito, ainda conseguem ouvi-lo.
A saudação do final do poema, é o murmúrio que Leal Freire escutou, do vento acariciando as copas dos carvalhos, dos castanheiros e freixos, por esses caminhos de Riba-Côa:
«Dia um da criação, para todos os que na tasca estão!»
Para todos os que ainda consigam ouvir os sinos das trindades e o vento, da terra dos nossos pais!
«Arroz com Todos», opinião de João Valente
joaovalenteadvogado@gmail.com
Mestre na arte de versejar, senhor de virtualidades técnicas notáveis, Manuel Leal Freire é um dos maiores poetas da nossa terra.
1. Observação preliminar
A simplicidade dos temas, imagens, ideias, aliada, de facto, a uma perfeição formal ímpar, concorre na sua poesia para a construção de um universo lírico de rara beleza e que fez de Leal Freire um dos poetas que mais aprecio.
A sua poesia, é, do ponto de vista técnico, um exemplo de rigor métrico, de simetria, de perfeição. O lugar de cada palavra, obedece a um desígnio sabiamente amadurecido; o mesmo se diga da escolha da forma estrófica, em quadras tão ao gosto popular; a estrutura interna dos poemas, nem curtos nem longos, revela um elevado sentido de equilíbrio, numa construção arquitectónica cuidada e minuciosa que a sabedoria de uma longa vida de escrita trazem. Há uma subtil malha de correspondências no seu interior, a deixar perceber uma verdadeira teia, onde todos os pontos se interligam por um fio condutor habilmente desenhado que desenvolve uma ideia simples subjacente a cada um dos seus poemas.
Mas Leal Freire é mais do que tecnicismo. Quer busque no quotidiano as suas imagens (os campos, a lavoura, os animais, os rituais da aldeia), quer as recolha no tempo cósmico, quer, enfim, as molde no universo rural, os seus textos são fiéis retratos da vida simples, com palavras simples, como convém à boa poesia.
As quadras são, como se disse, um exemplo de organização, ao mesmo tempo que uma manifestação de um espírito lírico sem par.
Esta conjugação da beleza poética e da riqueza lírica com o preciosismo técnico e inegáveis virtualidades linguísticas fazem dos seus poemas excelentes instrumentos de trabalho, tanto para a aprendizagem da língua, como para o do estudo da etnografia, e dos costumes de Riba-Côa, mas que pelos valores de humanismo que confere à sua poesia, tem uma dimensão universal digna de estudo.
Aqui se faz, por isso, um exercício despretensioso que visa partilhar com os leitores algumas dessas reflexões sobre a poesia de Leal Freire.
Este post é uma primeira parte de uma reflexão sobre naturalismo e idealismo, que suscita a dimensão humana e universal da sua poesia, mas que, pela extensão e complexidade de raciocínio, não é publicável num blogue. Fica, aqui, no entanto, o desejo de, com o pequeno esforço de análise do poema «A Ceia Do Lavrador», servir e aumentar a já grande comunidade dos apreciadores da magnifica escrita de Leal Freire.
2. Texto
A CEIA DO LAVRADOR
Deram os sinos trindades (1)
Por sobre as casas da aldeia
Toques de suavidades
Que prenunciam a ceia
Mas mesmo que ande de zorros (2)
O lavrador, que é bom pai,
A ver se a ceia é pra todos
Não manda, que ele proprio vai.
Começa a sua inspecção (3)
Plas vacas, gado mais nobre
Também cabonde ração
Prás cabras, vacas dos pobres.
À égua, luxo da casa, (4)
Á burra, sua cestinha,
Mangedora a feno rasa
Mais até do que convinha.
Pois na pia do cevado, (5)
Que só pra comer nasceu,
É o farelo um pecado,
De fartura brada ao céu.
O gado de bico dorme (6)
Ao fusco se regalara
Os cães aguardam que enforme
O caldo que nutre e sara
Aos animais sem razão (7)
Aconchego já não falta
A seguir vem o pregão
Chamando pra mesa a malta.
Filhos, netos, jornaleiros (8)
O conhecem e de cor
Mendigos e passageiros
Também cabem em redor.
Na mesa, que é um altarzinho (9)
Que branca toalha cobre
Não falta caldo nem vinho
Nem pão. regalo do pobre.
vem à ceia as courelas (10)
cada uma traz seus mimos
dá o quintal bagatelas
a veiga fartos arrimos
Das bouças vêm canhotos (11)
Que um bento calor evolam
E até os manigotos
Mandam cheiros que consolam
Vinhedos, chões e vergéis (12)
Primasias se disputam…
Nem as rochas são revéis
Em dura freima labutam.
As do monte mandam coelhos (13)
As da ribeira bordalos
Pirilampos são espelhos
A cegarrega é dos ralos.
As Almas Santas dos Céus (14)
Também descem para a mesa
A noite, negra de breu,
Resplandesce com a reza.
E quando acaba a litânia (15)
A prece que ceia encerra
Manda pra longe a cizânia
A paz reina sobre a Terra,
Dia um da criação (16)
A quantos na tasca estão.
(Leal Freire)
(Continua na próxima semana.)
«Arroz com Todos», opinião de João Valente
joaovalenteadvogado@gmail.com
Foi ontem, dia 18 de Fevereiro, apresentado o livro «História do Escutismo em Setúbal e na Região», da autoria de Francisco Alves Monteiro, um chefe escuteiro da cidade do Sado que nasceu na Bismula, concelho do Sabugal.
«Nunca este salão nobre reuniu tanta gente para assistir a um evento desta natureza», declarou estupefacto o representante da Câmara Municipal de Setúbal, perante as centenas de pessoas que assistiam à apresentação e lançamento do livro.
A cerimónia começou às 21 horas, com a leitura de uma mensagem do bispo emérito de Setúbal, D. Manuel Martins, que assinou o prefácio da obra e que não pode estar presente.
A apresentação do livro coube a Salvador Peres, que exaltou o valor da obra, enquanto testemunho do nascimento e desenvolvimento do movimento escutista em Portugal e na região de Setúbal, levantando o véu relativamente a algumas histórias deliciosas que o autor resolveu revelar. Enalteceu o papel de Francisco Alves Monteiro, o chefe Chico, como carinhosamente todos o chamam, que dedicou a sua vida ao escutismo em Setúbal e se empenhou na investigação acerca da história do movimento na cidade e no distrito.
O chefe nacional do Corpo Nacional de Escutas, Carlos Alberto Pereira, enalteceu o valor dos escuteiros de Setúbal, que sempre foram os mais irreverentes e mais ousados, procurando estar sempre na vanguarda do movimento escutista. Falou depois do importante papel do autor do livro na dinâmica escutista, um chefe que vive a causa intensamente, sendo um exemplo para todos. De seguida condecorou Francisco Monteiro, para grande surpresa e emoção do próprio, colocando-lhe o Colar de Nuno Álvares, a maior condecoração do movimento escutista português, o que motivou uma longa e calorosa ovação.
O livro fala do nascimento do escutismo na cidade do Sado, no crescimento do movimento e na sua consolidação, mau grado as dificuldades sentidas. Revela como o escutismo se cimentou e ganhou a sua própria dinâmica, participando em eventos nacionais e internacionais, promovendo a formação dos jovens para uma verdadeira cidadania. Contém inúmeras fotos antigas e inéditas, bem como documentos históricos que lançam luz acerca da evolução do movimento.
Um grupo de escuteiros tocou e entoou canções, animando o ambiente. O grande salão nobre dos paços do concelho foi exíguo para tanta gente. Muitos ficaram mesmo à entrada, porque o espaço estava verdadeiramente «à pinha».
A última intervenção coube ao autor do livro, que, com grande humildade, agradeceu as presenças, os contributos e as ajudas, afirmando que a edição do livro era o concretizar de um sonho antigo que agora vem à luz do dia.
Franciso Alves Monteiro nasceu na Bismula há 61 anos. Aos 14 veio com os pais e os irmãos para Setúbal em busca de vida mais desafogada, como tantos outros sabugalenses daquele tempo. Em 1963, um ano após ter chegado à cidade do Sado, entra no movimento escutista, integrando a «Patrulha Falcão» do agrupamento 59. Empenhou-se na sua «carreira» de escutista, seguindo os ensinamentos de Baden-Powell, o fundador do movimento. Passa a guia, caminheiro, instrutor, chefe, integrando por diversas vezes, e em diferentes cargos, a direcção da organização regional dos escuteiros. Participa em acampamentos nacionais e internacionais, e em reuniões de alto nível, seguindo sempre o ensinamento do fundador do escutismo: procurar deixar o mundo um pouco melhor do que o encontrou.
plb
Manuel Leal Freire nasceu na freguesia da Bismula, concelho do Sabugal. Viveu grande parte da adolescência nas Batocas (Raia sabugalense) onde o seu pai era guarda-fiscal. Actualmente reside no Porto, onde tem um escritório de advogados, e em Gouveia, onde tem uma quinta. Aos 83 anos mantém uma memória impressionante e surpreende quem não o conhece por fazer discursos sem papel e em verso. Envolvido em causas culturais e sociais, Manuel Leal Freire é o grão-mestre da Confraria do Queijo Serra da Estrela e mantém uma permanente actividade literária, publicando livros e colaborando em diversos meios de comunicação social. Um vulto com lugar na história cultural e literária das terras raianas e do concelho do Sabugal.
A CEIA DO LAVRADOR
Deram os sinos trindades
Por sobre as casas da aldeia
Toques de suavidades
Que prenunciam a ceia
Mas mesmo que ande de zorros
O lavrador, que é bom pai,
A ver se a ceia é pra todos
Não manda, que ele proprio vai.
Começa a sua inspecçáo
Plas vacas, gado mais nobre
Também cabonde ração
Prás cabras, vacas dos pobres.
Á égua, luxo da casa,
Á burra, sua cestinha,
Mangedora a feno rasa
Mais até do que convinha.
Pois na pia do cevado,
Que só pra comer nasceu,
É o farelo um pecado,
De fartura brada ao céu.
O gado de bico dorme
Ao fusco se regalara
Os cães aguardam que enforme
O caldo que nutre e sara
Aos animais sem razão
Aconchego já não falta
A seguir vem o pregão
Chamando pra mesa a malta.
Filhos, netos, jornaleiros
O conhecem e de cor
Mendigos e passageiros
Também cabem em redor.
Na mesa, que é um altarzinho
Que branca toalha cobre
Não falta caldo nem vinho
Nem pão. Regalo do pobre.
Vem á ceia as courelas
Cada uma traz seus mimos
Dá o quintal bagatelas
A veiga fartos arrimos
Das bouças vêm canhotos
Que um bento calor evolam
E até os manigotos
Mandam cheiros que consolam
Vinhedos, chões e vergéis
Primasias se disputam…
Nem as rochas são revéis
Em dura freima labutam.
As do monte mandam coelhos
As da ribeira bordalos
Pirilampos são espelhos
A cegarrega é dos ralos.
As Almas Santas dos Céus
Também descem para a mesa
A noite, negra de breu,
Resplandesce com a reza.
E quando acaba a litânia
A prece que ceia encerra
Manda pra longe a cizânia
A paz reina sobre a Terra,
Dia um da criação
A quantos na tasca estão.
Manuel Leal Freire
Vai ser lançado o livro «História do Escutismo em Setúbal e na Região», da autoria de Francisco Alves Monteiro, num evento que acontecerá na sexta-feira, dia 18 de Fevereiro, pelas 21 horas, no salão nobre da Câmara Municipal de Setúbal.
O autor do livro é natural da Bismula, freguesia do concelho do Sabugal, estando desde criança ligado à cidade de Setúbal, onde cresceu e viveu. Desde muito novo inserido no movimento escutista, Francisco Alves Monteiro, é dirigente do Corpo Nacional de Escutas e está muito ligado à formação dos jovens na região, facto que o levou a escrever o livro, que conta a história do escutismo na região, com informações sobre a formação dos grupos e episódios mais marcantes, depoimentos e discursos.
A obra tem o prefácio assinado por D. Manuel da Silva Martins, Bispo Emérito de Setúbal, e será apresentada no salão nobre do Município sadino pelo Dr Salvador Peres. O evento contará ainda com a participação especial do Agrupamento de escuteiros n.º 1135, da Sobreda da Caparica.
O lançamento deste livro, de grande importância para a história do movimento escutista em Portugal, honra a cidade adoptiva do autor, Setúbal, mas também a sua terra de nascimento, a Bismula, e o concelho do Sabugal, onde esta freguesia se insere.
O Escutismo é um movimento mundial, de inspiração cristã, que tem o propósito de contribuir para a educação integral dos jovens. Baseia-se na adesão voluntária a um quadro de valores expressos na Promessa e Lei escutistas, através de um método que permite a cada jovem ser protagonista do seu próprio crescimento, para que se sinta plenamente realizado e desempenhe um papel construtivo na sociedade.
plb
O Núcleo de Investigação Criminal da GNR da Guarda deteve na Bismula, freguesia do concelho do Sabugal, dois homens (pai e filho), por posse de armas proibidas e de estupefacientes. De 51 e 28 anos de idade, o pai é empreiteiro da construção civil e o filho está desempregado.
As detenções aconteceram ontem, 13 de Dezembro, no âmbito de uma operação realizada na sequência de uma investigação, que decorre desde o início do ano. A operação consistiu numa busca domiciliária, judicialmente autorizada, que permitiu a apreensão de oito armas de fogo (quatro espingardas caçadeiras de calibre 12mm, uma pistola calibre 6,35mm, duas pistolas de alarme transformadas em calibre 6, 35mm, uma espingarda de ar comprimido calibre 4,5mm), 185 munições, 15 gramas de folhas de cannabis, 138 sementes de cannabis e 0,5 gr de haxixe.
Os detidos foram presentes ao Tribunal do Sabugal para realização do primeiro interrogatório Judicial e aplicação de eventuais medidas de coacção.
Estas detenções seguem-se à detenção de um homem em Quadrazais, no dia 9, também pela posse de armas ilegais. O mesmo, de 75 anos de idade, foi presente ao Tribunal, sendo-lhe imposta a medida de coacção de apresentações semanais no Posto da GNR do Soito.
Segundo o comunicado semanal da GNR da Guarda, foram detidos durante a semana passada 13 Indivíduos, nove dos quais em flagrante delito.
No mesmo período registaram-se 27 acidentes de viação: 16 por colisão. sete por despiste e quatro por atropelamento. Desses acidentes resultaram três feridos graves e 13 feridos leves.
plb
As Comunidades da Unidade Pastoral do Planalto do Côa reuniram-se na Ruvina, no Domingo, dia 14 de Novembro, para participarem no magusto inter-paroquial.
Depois de Ruivós (2008) e de Vale das Éguas (2009) terem organizado esta actividade, este ano a Ruvina foi a terra anfitriã do Magusto Inter-Paroquial das Comunidades da Unidade Pastoral do Planalto do Côa.
O Domingo foi preparado com muito cuidado. Ao longo de vários dias muitas pessoas se empenharam nos preparativos para que tudo corresse bem. As previsões atmosféricas ameaçavam estragar os planos, mas até o sol quis participar neste encontro, brindando-nos com a sua presença e alegria ao longo do dia.
Logo cedo, depois das Celebrações Dominicais de cada paróquia, muitos paroquianos das diversas comunidades (Badamalos, Bismula, Rapoula do Côa, Ruivós, Ruvina, Vale das Éguas e Vilar Maior) começaram a chegar ao largo da igreja da Ruvina, uns de transporte próprio, outros nos transportes disponibilizados para o efeito. Às 11.00 horas já a pequena igreja estava repleta. Fizeram-se os ensaios e às 11.30 horas começou o momento mais importante do dia. A Eucaristia foi celebrada com muito encanto. Na assembleia ocuparam lugar de destaque as crianças, adolescentes e jovens das diversas comunidades paroquiais. Os cânticos entoaram-se com beleza. Os altares foram enfeitados com muito esmero. Os acólitos emolduraram o presbitério rodeando o pároco, o Diácono Lucas Fernandes e o jovem André Barros. Rezou-se de forma especial pelos nossos Seminários.
Depois da Celebração Eucarística, passou-se da mesa do altar para a mesa do convívio e da refeição fraterna. No pavilhão das festas, junto ao ringue, foi servido o almoço preparado por um pequeno grupo de pessoas muito diligente. Depois das entradas, foi servida a canja de galinha, carnes assadas acompanhadas de arroz e fruta da época. Dias antes, os paroquianos das diversas paróquias foram convidados a partilhar as sobremesas. As mesas que lhes estavam destinadas rapidamente ficaram repletas de iguarias que saltavam aos olhos e faziam água na boca. Ninguém contou as pessoas presentes, mas os 170 pratos de cerâmica que estavam preparados não chegaram para todos. Foi necessário recorrer a pratos de plástico guardados para as eventualidades. Tudo foi preparado com muita perfeição.
Já com a barriga acomodada foi tempo de desfazer as calorias do almoço. Rapidamente se organizaram os jogos que estavam preparados e muitos se puderam divertir. Houve jogos tradicionais para todos os gostos, idades e feitios, desde os jogos de cartas, aos mini-torneios de «futebol de 5», até aos jogos de cordas. Organizaram-se corridas de sacas, corridas de pares, jogo do balão, jogo do ovo, jogo da maçã, jogo da malha, jogo do prego, jogo da testa entre outros… Foi uma tarde muito bem passada que ajudou pequenos e graúdos a celebrar o Domingo de forma diferente.
Como um dos motivos do encontro era o magusto, o dia não poderia ter terminado sem as castanhas assadas e a jeropiga. Também aqui houve castanhas para todos os gostos, desde as assadas no tradicional monte de caruma, até às assadas em modernos recipientes que permitem um melhor aproveitamento do fruto do castanheiro. Como é natural, alguns chegaram a suas casas irreconhecíveis!
Este dia só foi possível graças à organização feita pela Paróquia da Ruvina com o apoio da Junta de Freguesia local, do Centro Social e Cultural da Ruvina e da Casa de Cristo Rei.
Pe. Hélder Lopes
A Unidade Pastoral do Planalto do Côa realizou no passado dia 5 de Outubro o seu segundo passeio paroquial. O destinou foi o Douro Vinhateiro, na mais bela estação do ano naquela que é a primeira região vitivinícola demarcada do mundo.

Os boletins meteorológicos anunciavam um passeio estragado. O tempo que se fez sentir no Domingo, 3 de Outubro, alarmou os que se inscreveram. E no início do dia em que Portugal comemorava o Centenário da Implantação da República, todos começaram a chegar com casacos e guarda-chuvas. Mas a aurora trazia o prenúncio de um esplêndido dia de Outono.
Os sessenta participantes eram oriundos da Bismula, Rapoula do Côa, Ruivós, Ruvina, Vale das Éguas e Vilar Maior. Às nove e meia da manhã fez-se a primeira pausa na Quintela da Lapa, no Santuário da Senhora da Lapa. Todos tentaram atravessar o buraco do lajedo de granito, sentindo-se na cara de quem por ele passava uma grande alegria! «Consegui passar!» dizia-se com alívio.
Já em Lamego subimos ao Santuário da Senhora dos Remédios, donde se vislumbra toda a cidade e parte dos vales coloridos que beijam o Douro. Descida a pé a escadaria monumental, e toda a avenida principal da bela cidade, celebrou-se Eucaristia na riquíssima Sé Catedral. Presidiu o Pe. Hélder Lopes, acompanhado do seu colega e amigo Pe. Filipe Pereira, natural de Lamego e Pároco na zona de Meda. O jovem anfitrião disse querer acolher-nos como Maria e Marta acolheram Jesus em sua casa. No final da celebração conduziu-nos até ao restaurante panorâmico construído sobre as águas do Rio Douro, do Hotel Régua Douro, na cidade do Peso da Régua. Foi tempo para retemperar forças com enchidos da região, pescada com molho de camarão, vitela assada no forno sem esquecer o vinho daquelas encostas.
Nas Caves do Vinho «Castelinho» fomos bem recebidos pelos responsáveis da Cave de S. Domingos e assistimos a uma «aula de enologia». Descobrimos os tipos e respectivas características dos diversos vinhos finos do Douro, castas predominantes na região, formas de envelhecimento, e anos excepcionais em colheitas. Tiradas todas as dúvidas, passámos por entre centenas de milhares de litros de vinho, alguns já engarrafados e com datas de colheita de há mais de 60 anos. Na sala de provas degustámos um vinho licoroso, que alegrou pequenos e grandes, novos e velhos!
Depois das compras regressámos a casa pelo vale do Douro vinhateiro. Ao longo de vários quilómetros viajámos ao longo da margem do rio. Depois começamos a subir em direcção ao coração do Douro Vinhateiro: S. João da Pesqueira. Deslumbrámo-nos com as vinhas multicoloridas, com os trabalhadores atarefados na apanha do precioso fruto, com a paisagem encantada, ricamente embelezada pela luz dourada do sol que nunca nos deixou ao longo do dia.
Fizemos a última paragem na Meda, para um reforço à base de «Bolas de Lamego» de bacalhau, presunto, frango, fiambre e queijo.
No caminho rezámos Laudes, Vésperas e o Rosário. Como era dia da República fez-se um concurso no autocarro: o primeiro que soubesse cantar todo o hino nacional, sem se enganar na letra das três estrofes e sem desafinar, faria o passeio gratuitamente e receberia uma garrafa de vinho do Porto, um cálice para vinho e uma tablete de chocolate. O concurso foi muito divertido, e a Dona Laurinda Pires da Ruvina levou para casa o tão almejado prémio.
Ao chegarmos a casa uma única coisa brotava naturalmente das nossas almas: «Dai graças ao Senhor, porque é eterna a Sua bondade!»
Pe. Hélder Lopes
O livro de memórias «Um Justo Pater Famílias», foi apresentado em Agosto na Bismula, terra do herói da história, José Maria Fernandes Monteiro, homem de muitas vivências e pai de uma vasta prole de gente boa e dedicada à memória do seu ascendente.
A vida de um qualquer homem dá um livro, porque cada vida terrena encerra um conjunto de aventuras e desventuras que, compiladas, dão sempre uma história com interesse. Esse lugar comum pode ser válido para a generalidade dos homens, mas o bismulense José Maria Fernandes Monteiro, tem uma história absolutamente peculiar e deveras interessante. Por isso mesmo, um filho seu, Ezequiel Alves Fernandes, resolveu publicar um livro com a história da vida do pai.
O homenageado nasceu na Bismula em 1904, num dia frio de Inverno, vindo falecer em Setúbal, a cidade da sua vida, em 1999, com, portanto, 94 anos de idade.
Em 1924 o jovem bismulense, ouvindo a pregação dos missionários do Coração de Maria, sente o apelo da fé, e deixa a aldeia rumando clandestinamente para Espanha, onde frequenta o seminário e integra a comunidade religiosa. Vai depois para o País Basco, onde exerce as funções de irmão claretiano, pregando a fé.
Em 1930 acompanha uma missão da congregação em Setúbal, e ali se fixa e se dedica à vida eclesiástica até 1944, altura em que decide abandonar a vida religiosa e regressa à terra natal onde tem a sua mãe doente, e onde pensa constituir família. No ano seguinte casa com a sua conterrânea Maria da Piedade, também ex-religiosa, de quem viria a ter 10 filhos.
Na Bismula de antigamente vivia-se com imensos sacrifícios, trabalhando-se de sol a sol, sem que os parcos rendimentos auferidos fossem suficientes para uma vida digna. Em 1961 decide regressar a Setúbal, onde tem amigos e pode dar melhor desafogo à família, que rapidamente vai buscar à Bismula. É sacristão, trabalha como guarda numa fábrica, e assim, enfrentado as dificuldades, vai sustentando a família.
Homem de fé e de princípios, José Maria Fernandes impõe aos filhos uma educação austera quanto aos princípios, mas revelando-se um pai compreensivo e um avô extremoso. Trabalharia na fábrica até aos 82 anos de idade e viria a falecer aos 94 anos.
O exemplo de vida de José Maria Fernandes, o «Pater Famílias», agora em livro, foi um tributo do seu filho, com testemunhos de toda a descendência e de muitos dos que privaram com este grande homem raiano que deixou marcar vivas na cidade de Setúbal, terra que o acolheu, e onde a maior parte da família hoje se encontra fixada.
O livro vai muito para além do relato da vida do homenageado. Na verdade é uma compilação histórica, relatando as formas de vida e a sua evolução no tempo e falando nas principais mutações sociais e políticas ocorridas ao longo da vida terrena de José Maria Fernandes.
plb
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