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«Poetando» é a coluna de Manuel Leal Freire no Capeia Arraiana, na qual a cada domingo vai publicando poemas inéditos, cada um dedicado a uma aldeia do concelho do Sabugal. Este Município raiano, um dos maiores do País em termos de extensão territorial, tem 40 freguesias, algumas delas com anexas, sendo no total exactamente 100 (cem) o número das localidades do concelho do Sabugal. Nesta edição o escritor e poeta bismulense dedica um soneto a Águas Belas, freguesia da margem esquerda do rio Côa. Nos próximos domingos serão editados os poemas relativos às aldeias anexas de Águas Belas: Vale Mourisco, Espinhal e Quinta do Clérigo.
ÁGUAS BELAS
A ciência popular, por milenária
Atestam-na os selos dos espertos
Mas sendo em sua essência una e vária
Tem cânones dia a dia descobertos
Por isso, em aforismos sempre certos
Se encerra uma verdade e a contrária
São ditos por outros ditos recobertos
Mas sempre a experiência a emissária
Em azulejo aposto numa fonte
Alguém mandou gravar para que conste
E sirva de recado pra donzelas
Quando se busque água ou mulher
Só se for pura e boa é que se quer
Que assim é que são as águas belas
«Poetando», homenagem às terras sabugalenses de Manuel Leal Freire
A necessidade de alertar as populações para o perigo de incêndio no verão que se aproxima levou a GNR, através do Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente (SEPNA) a executar um programa de prevenção que passa por diversas sessões de esclarecimento, que também passam pelo concelho do Sabugal.
A principal preocupação é com a necessidade de limpar os terrenos em redor de casas isoladas e de povoações envolvidas por floresta ou por mato.
O Comando Territorial da GNR da Guarda está já no terreno para esclarecer os principais factores ligados à prevenção de incêndios florestais e à defesa da floresta. As acções fazem-se no quadro do Plano Distrital de Prevenção relativo a aglomerados populacionais, edificações isoladas e perímetros florestais.
O SEPNA está a proceder ao levantamento das situações de maior risco, de modo a alertar para a necessidade de uma intervenção urgente. Ao mesmo tempo os homens da GNR estão já no terreno a exercer também a acção fiscalizadora, verificando as situações de flagrante incumprimento da legislação em vigor.
Entre Janeiro e Maio deste ano, o SEPNA levantou 29 autos a particulares que não procederam à limpeza dos terrenos, salientou o tenente-coronel Silva Lourenço à Lusa, acrescentando que houve ainda outros casos detectados que foram «relatados e enviados à entidade administrativa competente» para que sejam accionados os mecanismos legais que conduzam à eventual aplicação de coima.
«Há casos em todos os concelhos do distrito da Guarda», disse ainda o responsável da GNR.
Uma primeira acção foi efectuada em Aldeia de Santo António, concelho do Sabugal, no dia 19 de Maio, onde foram explicados procedimentos mais comuns, como em situações de incumprimento de limpeza de terrenos, investigação de incêndio, recolha de água para análise e fiscalização de pescadores na albufeira da barragem da Senhora da Graça, no Sabugal.
O SEPNA da Guarda dispõe de um total de 47 homens, que será em breve reforçado com mais dois elementos.
Na área de competência do SEPNA da Guarda incluem-se os Parques Naturais da Serra da Estrela e do Douro Internacional e a Reserva Natural da Serra da Malcata.
No concelho do Sabugal o SEPNA tem ainda agendadas outras acções de sensibilização durante as próximas semanas. As sessões ainda previstas acontecerão às 21h00, nas Juntas de Freguesias de Fóios (a 26 de Maio), Águas Belas (a 2 de Junho), Casteleiro (a 9 de Junho) e Nave (a 16 de Junho).
plb
Foi um dos momentos mais hilariantes do ano, correu mundo, deu azo a todas as interpretações: «¿Pero por qué no te callas?» O «pero» foi quase inaudível, quase ninguém o captou, mas aí estava para os ouvidos mais atentos. Talvez o assunto tivesse tido menos transcendência se o rei tivesse dito ao ditador: «¿Pero, por qué no le dejas hablar?»
Ao longo da história da Humanidade a liberdade de expressão e pensamento têm sido uma das pedras de toque da arte de viver em sociedade, não sendo infrequente que de vez em quando um louco com poder ponha em causa esta essência do ser humano. Como escrevia o poeta Antero, «a liberdade não é tudo, mas é o primeiro passo para se alcançar tudo o que é justo e santo».
«Clama ne cesses» é uma expressão latina, que se encontra inscrita no púlpito datado de 1692, da Igreja de estilo românico de Águas Belas, que significa «Fala, não te cales» e que reproduz parte de uma das epístolas de S. Paulo a Timóteo, onde o exortava a expandir a palavra de Deus com inteira liberdade e coragem.
Como nos refere o amigo e pároco de Águas Belas, dr. Francisco Vaz, professor de Latim aposentado, «a Igreja de Águas Belas, sendo românica deverá datar do século XIII, com marcas deste estilo nomeadamente, as portas redondas e os cachorros dos beirais, sendo certo que foi objecto de posteriores intervenções, nomeadamente no século XVIII, com a introdução das janelas, com data de 1756 inscrita em vários locais e na sacristia existe um lavatório desse ano, nitidamente encastradas na parede. O orago é Santa Maria Madalena».
Sobre a porta principal podemos ainda encontrar uma cruz dos Templários, sinal evidente que este lugar interessou em tempos a esta ordem religiosa, extinta como se sabe a uma sexta-feira, dia 13 de Outubro de 1307, por Filipe, o Belo. Ainda hoje referimos ser dia aziago a sexta-feira 13, por referência a tal data.
Esta jóia arquitectónica está no entanto votada a algum abandono, devendo merecer da parte das autoridades maior atenção e cuidados, nomeadamente a substituição daquele muro exterior de blocos, por outros materiais que dignifiquem o local.
O Presidente da Junta de Freguesia, Raul José Luís, refere: «Águas Belas, já foi centro nevrálgico na exploração do minério, com as minas localizadas no termo da freguesia, mas esse fulgor perdeu-se e a freguesia está despovoada, devido à emigração e falta de postos de trabalho. Concluídas as obras de saneamento, e renovação da rede de águas, é importante recuperar o Largo da Igreja», para acrescentar com alguma indignação que «também não posso admitir que a sede da freguesia esteja a 16 quilómetros de uma anexa como Vale Mourisco, se com uma nova estrada de ligação entre estas duas localidades poderíamos ficar a apenas seis».
Por outro lado, no entender de Raul José Luís, deveria haver mais investimento produtivo, para que as pessoas se pudessem fixar nas aldeias, contrariando assim esta desertificação humana, que nos vai empobrecendo a todos.
João Filipe Cunha, é um jovem natural de Águas Belas, amante como ninguém da sua aldeia, mas que por circunstâncias madrastas da vida, reside na Guarda. O João tem 16 anos de idade e é um virtuoso do piano. «Comecei a tocar piano com 11 anos, porque para mim o piano é um instrumento emocionante. Tocar é um desafio permanente, proporciona-me prazer, como acho que os meus colegas terão prazer a jogar futebol.»
Encontro o João Filipe no Conservatório antes de uma audição e com responsabilidade e respeito pelas pessoas que o vão ouvir, pede-me «desculpa, mas só já falta uma hora e tenho que continuar o ensaio». O João Filipe é um perfeccionista, com uma capacidade de progressão enorme, sendo já um caso sério na forma apaixonada como aborda cada nota e cada peça que executa. Esta noite, o programa será preenchido com Claude Debussy. «Os meus compositores preferidos, são Beethoven, Mozart, Debussy e Chopin. Como tenho a chave do Conservatório, ao fim de semana, aproveito para com tranquilidade fazer aquilo que mais gosto: tocar piano.»
Ouvir este virtuoso do piano, onde todo o corpo se movimenta em duas mãos, mais parecendo duas aranhas que com magia correm todo o teclado, numa fria noite de Dezembro, é um privilégio só para alguns, dos quais fiz parte.
Com o olhar perdido de sonhador, o João Filipe, faz-me uma última confidencia, um desejo de curto prazo: «Gostaria de dar um concerto para piano na minha terra, o Sabugal, agora que sei que tem um auditório com muito boas condições acústicas.»
Digo adeus ao João vindo-me então à memória a tal exortação inscrita no púlpito da igreja de Águas Belas, «Clama ne cesses», sendo certo que o João Filipe merece ser ajudado e apoiado.
«Páginas Interiores» opinião de José Robalo
joserobaload@gmail.com
Manuel Leitão é um quase anónimo artesão do concelho do Sabugal. Natural de Ruivós e emigrante em França dedica os seus tempos livres a esculpir estátuas em madeira. Aceitou um desafio, abriu uma excepção, e esculpiu em granito uma estátua em tamanho natural de São Paulo que ofereceu ao povo de Ruivós. A 14 de Agosto de 2007 foi homenageado na sua terra natal.
Manuel Leitão é natural de Ruivós. A sua mulher Edite nasceu em Águas Belas mas quis o destino que se conhecessem, emigrantes, em terras de França. Por lá ficaram, por lá nasceram duas filhas. E para que a harmonia se mantivesse a casa de férias foi reconstruída no Sabugal, na Praça da República, com vista para a torre do relógio e para a Câmara Municipal a meio-caminho entre as duas aldeias.
Desde sempre dado a esculpir estátuas em madeira tem marcado presença em algumas feiras de artesanato realizadas no concelho do Sabugal. Obras únicas influenciadas por uma vivência repartida entre França e as suas origens.
Quis um acaso do destino que o homónimo empreiteiro de Ruivós, Manuel Leitão, numa demolição recuperasse da frontaria de uma casa grande bloco de granito. Logo ali achou que o melhor destino seria ofertá-lo ao outro Manel e esperar para ver…
Com a ajuda de um tractor a pedra foi colocada no antigo cabanal da família. E assim começou a tarefa de esculpir a estátua do apóstolo São Paulo à qual dedicou as férias de quatro anos consecutivos.
A estátua foi inaugurada em Agosto de 2006 e benzida pelo saudoso padre António Sanches recentemente falecido.
Um ano depois o povo de Ruivós reuniu-se num grande convívio para dizer «Bem-hajas Manel».
«A maior dificuldade foi ter o bloco de granito deitado. Bom… Na verdade tive mais dificuldades. Não tinha luz no cabanal e sabia que era uma pedra única. Se falhasse deitava tudo a perder. Vim muitos dias trabalhar para Ruivós e a Edite ficava no Sabugal. Felizmente ela compreendia», diz-nos na sua maneira de ser introvertida.
– E a festa foi bonita?
– Foi uma grande surpresa. Nem a minha mulher, nem as minhas irmãs, nem as minhas filhas abriram o jogo. Percebi uns dias antes que estavam a preparar qualquer coisa. Mas tudo isto tomou uma dimensão que não estava à espera. Quando me disseram para ocupar o lugar principal da mesa nem queria acreditar.
O agradecimento preparado em segredo durante quase um ano tinha programado uma missa solene, uma procissão até à capela de São Paulo no cemitério de Ruivós e um jantar-convívio aberto a todos.
«Agradeço a todos. Em primeiro lugar ao senhor Bispo da Guarda, D. Manuel Felício, aos senhores padres Américo e Carlos, ao diácono Lucas e ao senhor vereador António Robalo que tiveram a gentileza de estar presentes num mês em que têm uma agenda muito apertada e um abraço muito especial aos organizadores, os meus amigos Inácio Leitão, Isidoro Gonçalves e Manuel Leitão».
Mesmo quando os povos anda arredios, mesmo quando todos ralham, mesmo quando todos acham que têm razão, há momentos, há agradecimentos a que todos estão obrigados. A história destes momentos e os momentos desta História também se escrevem com grandes gestos de assinatura anónima.
E que diferença quando numa mesa com mais de 150 pessoas conhecemos o nome de todas. Na cidade seria quase impossível.
Vivam as nossas terras raianas! Vivam as nossas gentes raianas!
jcl
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