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Sem querer alimentar questões estéreis, porque, de um modo geral, parece-me que todos estamos de acordo, não posso deixar de fazer algumas referências à questão da capeia (parece que o Sabugal não tem mais soluções e questões para resolver, mas…) e ao comentário de João Valente, sobre algo que sugeri.

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António Pissarra - Raia e Coriscos - Capeia ArraianaÉ com algum sentimento de raiva que vejo como vamos debatendo questões enquanto os grandes decisores se estão, passe a expressão, marimbando para nós. A não ser assim, o País ter-se-ia desenvolvido de forma mais harmoniosa, menos assimétrica e talvez houvesse menos problemas que aqueles que agora temos em Portugal.
O concelho do Sabugal é bem o exemplo da incúria dos sucessivos governos e um espelho do Interior. Com uma grande extensão o Sabugal só não tem perdido território, porque, quanto ao resto: população e serviços, por exemplo, é o que se sabe. E nem se pode dizer que a culpa pode ser só imputada aos governantes locais, pois a corda da fronteira sofre do mesmo mal. É por isso que recorrentemente insisto que ninguém fará nada por nós; a mudança far-se-á ou não pela nossa ação ou pela falta dela. Não estamos entregues à nossa sorte, mas perto disso.
É pela perspetiva estrutural, mas também conjuntural, que nos vamos agarrando àquilo que pode ajudar ao desenvolvimento ou, pelo menos, a evitar o definhamento. Compreende-se, assim, que por argumentos racionais, mas também emocionais, haja quem, exageradamente, considere a capeia arraiana a maior indústria do concelho. Consciente dessa importância, na economia dos afetos e na identidade cultural, a câmara do Sabugal resolveu acrescentar valor e preservar aquilo que é uma marca única. A classificação da capeia como Património Cultural Imaterial e as jornadas que decorreram dias 19 e 20 de outubro, no Auditório Municipal, subordinadas ao tema «Pensar a tauromaquia em Portugal – diversidade, valorização, sinergias», são um bom exemplo.
As jornadas apresentaram um vasto leque de assuntos e pessoalmente só posso lamentar não ter podido estar presente em todas as intervenções por razões profissionais. Infelizmente também não terão estado tantas pessoas quantas as que seria desejável, algumas com obrigações, mas as coisas são mesmo assim. Talvez noutro contexto temporal fosse mais apelativo – a festa dos touros quer calor. Ainda assim, perdeu quem esteve ausente, como por exemplo a intervenção de Luísa Mendes Jorge, arraiana, da Faculdade de Medicina Veterinária, que apresentou alguns dados preliminares sobre um estudo com caráter científico sobre o impacto socioeconómico da capeia arraiana. Aguardo com expectativa a conclusão desse estudo que trará alguma luz sobre um aspeto a propósito do qual tanta gente opina, mas ninguém apresenta dados concretos.
Reconhecida essa vertente económica da capeia, considera-se que deve potenciar-se sem, contudo, adulterar a sua essência. Na intervenção que tive fiz questão de frisar esse risco; que o sucesso mediático da capeia pudesse ser causa da transformação em algo que não corresponde a uma manifestação de cultura popular, que emanou do Povo e é propriedade do Povo e de mais ninguém. Foi nesses termos, como salientou Paulo Costa, da Direção-geral do Património Cultural, que a capeia arraiana obteve a classificação. Portanto, há uma matriz que engloba várias facetas, nomeadamente o contexto geográfico, o facto de ser uma festa do Povo, consequentemente não comercial, como acontece com outras manifestações tauromáquicas, e, ainda que «cada terra com seu uso», é essa diversidade e unidade que a tornam única, razões mais que suficientes para «não andar com o forção para todo o lado» e manter as coisas nos termos da inventariação. Pela parte que nos toca, em Aldeia Velha continuarão os carros de vacas, continuará o Rol e tudo o resto que é ancestral, continuar-se-á a receber bem quem quiser aparecer, mas sem esquecer que é o folguedo dos da terra.
Postas as coisas nos termos anteriores, não devemos esquecer que nestas terras vive gente, que gostaríamos que mais gente se mantivesse e outra regressasse e que todos tivessem uma qualidade de vida adequada aos tempos atuais, preservando as tradições, mas sem aquela ideia que basta o ar puro e a paisagem para se viver feliz.
É por isso que não vejo mal nenhum em ter iniciativas que possam ajudar as pessoas. A capeia é a capeia, o rock é o rock. Uma coisa não tem nada a ver com outra. No entanto, nada impede que a Raia tenha um grande festival de verão para a juventude que seja potenciado pelas nossas tradições. O pão é o pão e o queijo é o queijo, mas nada nos impede de comer pão com queijo e se for pão centeio, malhado ao mangual e moído num moinho recuperado, para não esquecer como se fazia antigamente, acompanhado de um queijinho de cabra, daqueles que nós conhecemos, nem perde o pão nem o queijo.
«Raia e Coriscos», opinião de António Pissarra

Decorreram no passado fim-de-semana, no Sabugal, as jornadas subordinadas ao tema «Pensar a touromaquia em Portugal – diversidade, valorização, sinergias». O programa era vasto e o tema motivador, multiplicando o interesse. Interesse este, que não ficou defraudado com intervenções inteligentes e, permitam-me, aficionadas.

Logicamente que a questão central se centrava na capeia arraiana, mesmo que tal não fosse propriamente a génese das jornadas. Contudo (e era inevitável), o interesse estava naquela que é a maior manifestação cultural do concelho do Sabugal. E sendo assim, o primeiro apontamento que registo é o facto das autodenominadas onze freguesias onde se realizam capeias arraianas, não terem estado presentes praticamente nenhum Presidente de Junta de Freguesia (creio que estiveram dois!). E aqui, perdoem-me a franqueza, mostra como tratamos aquilo que é nosso. Sabiam que a capeia arraiana é património cultural imaterial nacional? E que é o primeiro e único registo deste tipo? Como podem estar preparados para rentabilizar, dinamizar, preservar e desenvolver esta tradição e este fenómeno? Não podem. E não podem porque não sabem e nem se preocupam em saber. Perderam uma excelente oportunidade de se informarem, de tirar dúvidas e de exporem preocupações. Lamento. Também um apontamento para a ausência de gente e de aficionados. A sala apresentou-se demasiado vazia. E podemos tirar algumas conclusões; ou desinteresse, ou deficiente publicitação ou data da realização inadequada (uma sexta-feira é sempre complicado). Todas elas podem estar certas. Mas confesso, desejo que não seja o desinteresse o que tenha motivado tamanha ausência de gente.
As intervenções foram, todas elas, de grande qualidade. Desde as intervenções mais técnicas às mais substantivas historicamente. Intervenções empenhadas e que foram muito além do discurso racional. Demonstrando, também ali, que a relação com o touro é, essencialmente, paixão. E é a paixão pela capeia arraiana que me leva a outro apontamento, o pouco tempo que houve para o debate. Sei que o programa era apertado, vasto, o que não dava muita margem de manobra. Mas… faltou um diálogo mais profundo sobre a capeia. Pois era esse o principal objectivo das pessoas que ali foram. O que me leva, também, á espectativa da realização de mais eventos sobre o tema e deste calibre.
Só uma curiosidade, de todos os concelhos que estiveram representados e com manifestações taurinas, todas elas têm eventos na própria sede de concelho, menos o Sabugal. Mera curiosidade…
Não deixo de manifestar as minhas felicitações para a e pela realização destas jornadas.
«A Quinta Quina», crónica de Fernando Lopes

fernandolopus@gmail.com

Face ao reconhecimento da Capeia Arraiana como Património Cultural Imaterial, coloca-se com acuidade a questão de saber o que fazer para tirar partido dessa nossa tradição, quão genuína como original, exclusiva das nossas terras mais chegadas à fronteira com Espanha.

O processo, liderado e financiado pelo Município sabugalense, foi inegavelmente meritório, mas o seu resultado não deve ser no fim da linha. É agora urgente equacionar a forma de aproveitar o potencial da nossa tradicional tourada com forcão.
Fernando Lopes, ilustre colaborador deste blogue, já tocou na ferida, balizando o que é uma capeia arraiana. Em sua opinião, para o ser de facto, deve cumprir-se todo o ritual tradicional que lhe está associado: encerro, toiro da prova, pedido da praça, tourada com forcão e desencerro.
Mas algumas questões se colocam, como a da presença «nociva» de motociclos, tractores e outros veículos motorizados na condução dos toiros para o curro (o encerro), que assim se descaracteriza.
A capeia é um jogo com o toiro bravo, que investe no forcão, atrás do qual os pegadores se protegem. Mas, sendo tourada, está-lhe inerente uma inevitável dificuldade de afirmação, atendendo às constantes e ferozes campanhas contra este tipo de espectáculo. Neste campo há que afirmar a capeia como uma tradição popular onde a violência para com o animal está erradicada. E nisso houve um percurso que importa assinalar, pois vão longe os tempos das «garrochadas», quando o público picava violentamente os toiros que se aproximavam das «calampeiras», ou quando os «galhos dianteiros» manejavam o forcão munidos de aguilhadas, com as quais feriam os animais no momento da investida.
Qualquer atitude que possa ser considerada resquício de violência gratuita para com o animal deve ser suprimida. Falamos aqui de factos que ocorreram neste verão, como puxar, em plena praça, um toiro atado a um tractor, ou picá-lo com aguilhão eléctrico para que, após a lide, tome o caminho do curro. A saída da bezerra, que nalgumas terras ainda vem à praça, para gáudio dos mais novos, gera facilmente momentos de desagrado provocados pelos que não se contêm e agarram o animal, sujeitando-o.
Para além do tratamento para com o toiro, há outros aspectos que importa avaliar, como o uso crescente de grades de metal no fecho das praças improvisadas. Vimos algures uma ideia interessante, que foi a cobertura do ferro das grades por madeiras (costaneiros), que lhe eram aparafusadas. Para quem vê, o aspecto é tradicional, ao mesmo tempo que se garante uma maior segurança. Outra boa prática é recuperar e conservar alguns carros de vacas antigos, para com eles se fechar a praça, como se faz ainda em Aldeia Velha.
Um elemento que importa garantir é a presença do «tamborleiro», que com os seus rufos característicos marca as várias fases do espectáculo. Outro ritual a recriar é o do «passeio dos mordomos» e o «pedido da praça», com o uso das alabardas e da bandeira, em respeito com as usanças de cada terra.
Há ainda uma abordagem que é fundamental: como fazer da raia sabugalense o «Algarve das Beiras» – na feliz expressão do nosso colaborador António Pissarra. Sabemos que assistir a uma capeia no mês de Agosto não é tarefa fácil para quem nos visita. Tirando a possibilidade de ir onde exista praça ou redondel, nas restantes aldeias assistir em pleno a uma capeia é aventura de quase impossível execução. Face ao facto, a questão que se coloca é a de saber se há interesse em realizar nas praças existentes umas capeias suplementares, para «turista ver», ou se isso é, afinal, descaracterizador da genuinidade do espectáculo?
Há ainda uma questão recorrente: deve o manejo do forcão cingir-se às nossas terras ou é desejável que viaje pelo país e pelo estrangeiro exibindo a nossa tradição? Considerando a segunda hipótese, sob que regras e em que condições isso pode ser garantido?
Anunciaram-se para o presente mês de Outubro, nos dias 19 e 20, umas jornadas de reflexão e debate intituladas «Pensar a Tauromaquia em Portugal», que se realizarão no Sabugal. A iniciativa, accionada e paga pelo Município, é oportuna e coloca o Sabugal no eixo da análise às mais variadas formas tauromáquicas tradicionais, mas o que mais importa é colocar à discussão pública a própria Capeia Arraiana.
O blogue Capeia Arraiana há muito que dá nesta matéria um precioso contributo. Tem sido a partir desta tribuna que pensadores como Manuel Leal Freire, Adérito Tavares, Esteves Carreirinha, António Pissarra, António Cabanas, José Manuel Campos, João Aristides Duarte, Fernando Lopes e João Valente, entre outros, analisam temas como as origens da capeia e a sua caracterização como tradição popular e aventam ideias acerca do seu aproveitamento como força motriz da afirmação das nossas terras.
Uma reflexão que certamente continuará e para a qual este espaço está aberto.
«Contraponto», opinião de Paulo Leitão Batista

leitaobatista@gmail.com

A temática da capeia arraiana tem vindo a ser reflectida em textos belíssimos neste espaço por variadas personalidades. Desde a sua génese até aos nossos dias, temos tentado explicá-lo. Talvez seja este o erro da nossa reflexão. A capeia talvez não se explique e, tão somente, se sinta. Talvez, por isso, seja muito mais fácil entender a capeia arraiana quando se está lá. Pegando, afoliando, assistindo.

Capeia Arraiana no Soito

Não procuro, nem tão pouco esta crónica, explicar – se me permitem – cientificamente, o fenómeno da capeia arraiana. O que motiva esta escrita, para além do interesse próprio e suspeito, foram os vários textos e notícias que tenho lido nos últimos tempos. E não perco de vista essas jornadas touromáquicas que se vão realizar brevemente. Assim, parece-me perfeitamente plausível e natural que a origem da capeia esteja numa manifestação de culto religioso. O touro foi, desde sempre, um animal associado à divindade. Neste sentido (e no sentido da linguagem actual) é uma manifestação pagã. Sabemos que muitas das festas, hoje religiosas, têm na sua origem festas pagãs. A capeia arraiana não foge a esse padrão: elas acontecem associadas à festividade de um santo. Se quisermos efectuar uma analogia com o passado, elas continuam a celebrar-se como um ritual “religioso”. Sendo, ela própria, composta por vários rituais. É por isso que afirmo que a capeia arraiana só acontece quando todos os rituais que a compõem acontecem. Não posso, assim, deixar de manifestar a minha revolta quando, num jornal da raia, se apresenta uma notícia com o título de capeia arraiana em Tábua. Desculpem-me, mas é uma blasfémia. Podemos desconhecer a sua origem ou o quando, mas sabemos o espaço geográfico, o onde acontecem. Desta forma, a capeia arraiana só acontece ali. É a manifestação de um viver, de um sentir, de uma forma de estar, de um povo. A capeia entrelaça-se, como uma hera, por todos os membros da comunidade. Formando como que uma irmandade e estabelecendo uma identidade. Também, por isso, não concordo com a exibição do forcão fora da raia (à excepção da capeia do Concelho do Sabugal em Lisboa). Porque está fora do contexto. E estando fora do seu território natural, a capeia perde o sentido, diria, perde o sentir. Lá fora, vai explicar-se o quê? E como? O cenário de uma capeia arraiana não são os carros de bois, os andaimes, os “salva-vida”. Mais do que tudo isto, o cenário, são as pessoas. São o seu vestir. São o seu falar. São a sua forma de estar num dia de capeia. Sem este cenário, a capeia é fria, de certa forma, racional. Ora a capeia arraiana não é uma peça de museu, que possa andar itinerante por aí. Deve, obviamente, ser estudada, discutida, cuidada, aperfeiçoada, mas, essencialmente, deve ser vivida. E são os testemunhos de quem “lá anda” que melhor a explicam, porque são eles que a sentem. A capeia arraiana é pura emotividade. Por isso, no programa das jornadas que aí se avizinham, sinto a falta desses que “lá andam” e, no bloco dedicado especialmente à capeia arraiana, no final, não há lugar a debate, porquê?

P.S. O governo prepara o maior despedimento da história. Espero é que nesse despedimento de contratados, também estejam os assessores (que são a rodos), incluindo o ministro pardo, António Borges.

P.S. A estratégia do nosso génio iluminado das finanças resume-se ao… aumento de impostos! Afinal, porque foram buscar tal figura ao olimpo, quando, cá pelo burgo, qualquer um saberia fazer isso!
Quanto a fazer contas, talvez um estágio (ou MBA) numa mercearia de bairro ensinasse alguma coisa ao ministro e ao primeiro-ministro! Já que as contas deles saem sempre erradas! Ou será o célebre lapso?!
«A Quinta Quina», crónica de Fernando Lopes

fernandolopus@gmail.com

A capeia raiana deriva do culto de Mitra? Entendemos que não… pondo, antes, o acento tónico no aspecto lúdico.

Manuel Leal Freire - Capeia ArraianaEntre os numerosíssimos estudiosos que se têm debruçado sobre a origem e a essência da capeia raiana e do seu símbolo maior – o forcão – não podemos deixar de considerar os que têm pretendido religá-la ao culto de Mitra.
As ligações de Aníbal, o Barca, filho de Amilcar e neto de Asdrubal, a Mitríades, rei do Ponto e sumo sacerdote daquele antiquísssimo rito, podem servir de base para o estudo.
Anibal, o grande chefe cartaginês que não soube aproveitar o choque vivido em Roma com as derrotas de Canas e do Lago Transimeno, deixando-se ficar em doce far niente com as moças da Apulia, tinha para com a Ibéria Interior profundos laços de vivência.
Aqui recrutara os tércios e tiufados que o acompanhariam nas travessias dos Pirinéus e dos Alpes.
Daqui teria levado as cabras que municiaram de leite e carne os seus famosos esquadrões – rezes que enfeitadas nos chifres com luzentes archotes disseminaram o terror por entre as legiões, de Cipião.
Aqui se abasteceu com municiosos carregamentos de queijo velho de ovelha que forneceu aos seus homens um suplemento alimentar que lhes permitiu enfrentar os gelos na travessia dos dois maiores colossos orográficos da Europa.
Como todos os colonizadores deixou também entre nós sinais materiais e espirituais.
E, dentre estes, os cultos, um dos quais foi certamente o de Mitra, o do Minotauro e o de Zeus – touro divino responsável pelo rapto da Europa.
Tanto mais quanto é certo que os cartagineses eram os herdeiros e depositários das civilizações fenícia e cretense.
Aliás foi essa característica marcadamente mercantilista e nauta a principal responsável pelo fracasso de Cartago ante Roma – que extremando os campos fez desta a cidade eterna enquanto daquela só restam umas vagas ruínas na foz do Rio Bragadas, algures na Costa Tunísina.
E quanto à capeia raiana, como, de resto, à tourada em geral, embora lhe reconheçamos um aspecto cultual, de religiosidade profunda, pensamos nada ter a ver com o púnico culto de Mitra.
Mas sendo essencialmente uma manifestação lúdica da valentia dos vergalhudos da Raia, comporta e transporta fé.
«O concelho», história e etnografia das terras sabugalenses, por Manuel Leal Freire

Acho interessantes as propostas do artigo de António Pissarra, no sentido de «potenciar economicamente» a Capeia Arraiana.

João Valente - Arroz com Todos - Capeia ArraianaTudo o que sejam propostas e ideias, são sempre oportunidade de reflexão, discussão e progresso. Não sendo inimigo do progresso, contudo, vejo algumas delas com algumas reservas! Eu diria mesmo, com muitas reservas! E explico muito resumidamente porquê:
A Capeia não é um produto do portefólio de uma empresa oferecido a um determinado mercado, mas um produto cultural, manifestação, entre outras, de uma alma, de uma sensibilidade excessiva que a paisagem extrema e particular de Riba-Côa produziu num povo.
Peço que leiam aquele artigo de Alexandre S. Martins, no último Cinco Quinas, a propósito dos encerro em Aldeia Velha, que é um bom exemplo desta alma excessiva. Neste texto, de genuíno sabor popular, vê-se, pelo como o autor fala, pensa, sente, age, como ser ribacudano é uma arte. Da alma ribacudana, vemos sem dificuldade neste texto as seguintes qualidades: Sinceridade, bravura, generosidade, orgulho!
O homem ribacudano tem um carácter próprio, um conjunto de qualidades, conservadas e transmitidas pela herança e tradição, de que a Capeia é uma das várias manifestações.
É por intuir nas Capeias este alto sentido transcendental, de manifestação da sua alma, que o povo a ela adere de forma tão espontânea e entusiástica. Não é outro o motivo!
Adivinho o sorriso de quem lida com as coisas da ciência, troçando desta minha fé «ingénua» no espírito e na alma dos povos.
Aqui remeto-os para aquele belo poema de Leal Freire, Prece (aqui), sobre a terra de Riba-Côa, como a «terra mãe», onde a alma do poeta, que é «um balão voador que pelo espaço deambula», depois da sua viagem, quer ser amortalhada. As almas pertencem a uma paisagem, que é o seu pai e sua mãe, como defendia Pascoais. Os poetas, esses seres divinos que pressentem as almas nas sombras, como Leal Freire, sabem-no:
A alma de Leal Freire…
«Começa em Ciudad Rodrigo
Acaba em Vilar Maior
[…]
Levita o ar a Bismula
Desce em Aldeia da Ponte
[…]
Ruelas de Almedilha
Ou esquinas de Valverde
Picos rupestres dos Foios
Cercanias de Arganhã
».

Como dizia Pascoais, «se a montanha é a terra firme que pisamos, a nuvem intangível e aérea não será a água que a fecunda?». A matéria sem o espírito não é nada!
O primeiro período da infância dos povos foi o poético, como o do ciclo da natureza é a Primavera. E digam os sábios o que quiserem, como referia Pascoais também, a poesia é muito mais antiga e muito mais bela que a ciência. Logo muito mais verdadeira.
Se Leal Freire diz que há uma «Alma Ribacudana» própria de uma «Paisagem Ribacudana», quem somos nós para o negarmos?
Oxalá a gente de Riba-Côa e quem está á frente destas iniciativas pensem nisto. Muitas vezes é necessário intercalar o espirito no deve e haver, pôr um poema no lugar das regras de marketing.
A alma é a compensação da matéria. E é precisamente isto que me preocupa: É que tornando a Capeia num mero produto comercial, ponham no lugar do Ser, de que ela é manifestação, o Ter!
Adulterando o que há em nós de genuíno, misturando-o ou copiando-o com o que nos é alheio, entre outras coisas com um festival de Rock, como entre outras coisas, nos é sugerido, destruam o nosso carácter…
Troquem a nossa figura por uma máscara!
«Arroz com Todos», opinião de João Valente

joaovalenteadvogado@gmail.com

Como escrevemos em artigo anterior a classificação da Capeia Arraiana no registo do Património Cultural Imaterial foi um passo importante para a preservação da sua identidade, mas isso não basta. É preciso acrescentar-lhe valor de modo a ser fator positivo contra o despovoamento.




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António Pissarra - Raia e Coriscos - Capeia ArraianaFelizmente que na atualidade existem as redes sociais, a blogosfera, os sites, se democratizou o acesso a meios para recolha da imagem fixa e em movimento… Enfim, qualquer cidadão deixou de ser um mero consumidor para passar a ser também um produtor de informação, aquilo que se convencionou designar por Web 2.0, consubstanciada no conceito de prosumer (produtor/consumidor).
Podemos concluir que, das mais diversas formas, a capeia arraiana tem a sua divulgação assegurada. No entanto, no imenso «matagal» de informação, há, por vezes, dificuldade em selecionar a informação relevante daquela que é inútil ou mera opinião não escrutinada. Não é o caso deste blogue que procura cumprir com os princípios do jornalismo, seja ele expresso em que meio for.
A capeia arraiana «não nasceu ontem». Contudo, o Mundo mudou muito nas últimas três ou quatro décadas e a nossa região não foi excepção. Recordam-se certamente os da minha idade, e um pouco mais velhos, alguns mais novos também, que quase todas as aldeias tinham escola; que as discotecas Poço, Teclado, Upita, da Vila do Touro… estavam sempre cheias, ao fim de semana e principalmente no Verão. Até na Colónia Agrícola vingou um estabelecimento do género. As escolas secundárias do Sabugal e da Guarda e o próprio Instituto Politécnico estavam cheios de jovens que haviam cursado o primeiro ciclo do ensino básico nas respetivas aldeias. Pois é, hoje são cada vez menos. As escolas fecharam (sou contra o modo radical como fizeram a reorganização escolar no concelho, nomeadamente quando há cerca de uma década destacava na primeira página do Nova Guarda a reabertura da escola da Nave por haver mais de 10 crianças), nasceram os lares e são cada mais aqueles que embora sejam do concelho, por cá terem o seu sangue, nasceram um pouco por toda a geografia nacional e noutros países, com destaque para a Europa.
O que mantém a ligação à Raia? Quase todos são unânimes em reconhecer o papel da Capeia Arraiana. Essa marca de identidade que distingue um arraiano de qualquer outro cidadão do Mundo. A capeia não é, portanto, só uma manifestação de cultural regional. É muito mais e pode ser muito mais e, nesse aspeto, gosto de ser pragmático. É que a Raia, as suas gentes, a sua economia, o seu desenvolvimento ou definhamento, não se pode resumir só ao mês de agosto, esse tempo de encontro com a tradição e os amigos que nos enche e reconforta a alma. Quem por aqui vive precisa de ter recursos para viver com dignidade, sem ter que partir.
É certo que todos reconhecemos as implicações económicas que a capeia tem, pelas razões atrás apontadas: na construção civil, no comércio, em geral, e na agricultura e venda de produtos regionais… e tantas outras atividades.
Os tempos são de crise e organizar a capeia não é propriamente barato. Apesar da boa vontade é cada vez mais difícil angariar fundos para pagar as despesas, fundos que, normalmente, saem dos bolsos dos cidadãos de cada localidade (por exemplo em Aldeia Velha cada rapaz solteiro contribui com 80 euros para o Rol). Assim, deixo aqui algumas sugestões, envolvendo uma possível Associação da Capeia, sem fins lucrativos, para ajudar a economia da capeia e não só, fazendo com que os visitantes também dêem algum contributo que não só nos bares.
Uma das ideias passa por criar um passaporte da capeia, com eleição do capeeiro-mor, envolvendo o pagamento de 1 euro por cada carimbo colocado em cada encerro, em cada capeia, em cada garraiada, etc.. O dinheiro seria distribuído em função dos carimbos obtidos por cada evento.
Outra sugestão vem na sequência das referências anteriores sobre a mudança da matriz social, cultural e demográfica e passa por criar um grande festival de verão, que designo por Rock in Raia, o qual poderia ocorrer durante quatro ou cinco dias, envolvendo o Festival do Forcão e algumas capeias, com serviço de autocarros da «aldeia do rock» para as capeias e encerros, juntando, assim, a tradição com a modernidade, trazendo mais gente a animar a economia local e a venda de produtos regionais e de merchandizing relacionado, numa matriz musical de cunho marcadamente ibérico. Vários amigos meus sabem que é uma ideia que me povoa a cabeça há já alguns anos e que, inclusivamente, apresentei na Câmara do Sabugal.
Para já deixo estas reflexões, com a certeza de que pensamento sem ação não passa de mera teoria. Apresentarei futuramente mais algumas sugestões e procurarei ter alguma iniciativa com quem quiser colaborar, com a certeza de que nada se faz sem muito trabalho e amor à causa.

P.S.: Não posso deixar de realçar aqui a organização da Jornadas sobre tauromaquia a decorrer no dia 19 e 20 de outubro. Quando tantas vezes criticamos a falta de iniciativa, devemos recordar que estes eventos e a classificação da capeia como Património Cultural Imaterial, também não aparecem ser trabalho e proatividade.
«Raia e Coriscos», opinião de António Pissarra

A exposição sobre a Capeia Arraiana organizada pela Associação Raiar, de Aldeia do Bispo, esteve patente ao público no Consulado de Portugal em Paris e mereceu uma reportagem da LusoPressTv.

jcl

O manejo do forcão só pode ter êxito assente naquelas quatro virtudes que servem de epígrafe a este texto. A inteligência do rabejador, a destreza dos capinhas que puxam a rez para a lide, a valentia dos laterais e a heroicidade dos fronteiros.

Tourada com forcão

Manuel Leal Freire - Capeia ArraianaComo sabe qualquer iniciado na terminologia do toureio, o responsável pela corrida tem o titulo profissional de inteligente.
Do latim – raízes em inter e legere – é o que lê por sinais, nos dizemos o que é capaz de ler nas entrelinhas, como que discreteando o texto.
A inteligência é fonte de virtudes, até de força, a darmos crédito ao aforismo – nunca faltou força onde sobeja a inteligência, sendo, pelo contrário, a ignorância mãe de todas as derrotas, impotências e franquezas.
Numa corrida, o inteligente tem de saber ler, tanto a feridade o toiro, como a estrelinha do bandarileiro, ou a argúcia do par cavalo-cavaleiro ou ainda a temeridade dos moços de forcado. Para decidir a prossecução ou suspensão da lide, a natureza da pega ou denegar até que seja tentada.
Na capeia raiana, o verdadeiro inteligente é o rabejador, capaz de entrar na psique do touro, adivinhar-lhe os movimentos, perscrutar-lhe as hesitações.
E ao saber das suas leituras ou cognições fazer dançar toda a triangulação, impondo-lhe rota e compasso.
Lembro na Aldeia da Ponte dos meus verdes anos, a inegualável técnica de dois mestres.
Primeiro, o Senhor Quitério e, depois, o Senhor Pausidro, de ascendência espanhola… Albergaria de Arganhã, sendo o nome pelo qual era conhecido provavelmeme um crase sincopada de Paulo Isidro.
Mas que soberbas lições de rabejamento.
E que intuiçao não demonstravam os capinhas. Sem outras armas que uma boina e uma saca a desviarem a rez da sua crença natural e levando-a a investir contra o forcão, onde o esperava o garbo dos laterais e a força hercúlea dos fronteiros.
Destes seja-me permitido destacar os dois que em Aldeia da Ponte marcaram na minha meninice… o Manuel Marcos e o Zé Barreiras. Dois autênticos hércules que faziam afocinhar qualquer toiro.
Rogo também trinta segundos de atenção para dois que foram modelo de capinhas, igualmente em Aldeia da Ponte, o Zefo, que morreu no Brasil, onde se firmava como empresário, e o Manuel Gusmão, conhecido pelo Forcalheiro por o pai ter vivido nos Forcalhos, onde comandou a guarnição fiscal. Ele próprio foi também elemento aliás muito qualificado daquela polícia aduaneira, pois tratava-se pessoa muito inteligente, séria e de bom trato…
«O concelho», história e etnografia das terras sabugalenses, por Manuel Leal Freire

E da Antiguidade aos nossos dias, o touro continuou animal de culto, porque na Península Ibérica sempre foi um animal abundante e todos os povos terão tido uma relação próxima com o animal ao longo dos séculos.

João Valente - Arroz com Todos - Capeia ArraianaProva-se pela universalidade do ódio do cristianismo ao touro e cultos mitraicos, que arrasou templos, estatuária e ritos, substituindo-os por outros como o de aspergir com água benta, procissão do «Corpo de Deus» ou no «Sagrado Lausperene», figuração do demónio (conotado com Mitra).
Contudo, os rituais, mais ou menos escondidos, nunca deixaram de ser realizados, assim se provando que a religião derrotada sempre permanece. Para ESPÍRITO SANTO (1995), as touradas portuguesas, nomeadamente as chamadas populares, têm a sua origem «nestas corridas populares do fim das ceifas, do solstício ou do fim dos trabalhos agrícolas, em Setembro» dos cultos mitaricos em que as festas do final das colheitas e da partilha incluíam sempre touradas seguidas de abate e comida.
Em conclusão, o touro tem sido, além do símbolo de deus, vítima de expiação e repasto colectivo, o elemento central da «festa» e da sua função redentora no Social. Por seu lado, FERREIRA (2007), afirma que «para muitas religiões e mesmo povos o tourear é como homenagear um deus que se encontra na figura do touro».
Este culto permanece ainda hoje nas touradas, as quais celebram a força, potência e fecundidade, porque o touro, possuindo um arreigado sentido de territorialidade, possui coragem e força bruta, é manancial de abundância, estruma as terras e quando domesticado, era um auxiliar dos trabalhos agrícolas.
A capeia é por isso também, como as restantes manifestações tauromáticas, celebração da força, potência, fecundidade, força bruta do touro da manada e força tranquila, manancial de abundância do boi agrícola;.
E assim sendo, além de reminiscência de um culto sagrado, é, neste tempo em que a vertigem da vida moderna e o barulho ensurdecedor das máquinas impedem o homem de ouvir a sua voz interior, um retorno de cada um que nela participa, ao caminho do campo, onde respira o ar variável das estações, da irrupção turbulenta da primavera e o ocaso tranquilo do outono, o cheiro das árvores da floresta, e revive a serenidade melancólica e sabedoria madura do camponês que de madrugada, no tempo certo do ano, sai com os bois para a arada, farnel na cestinha, seguido do grande cão de guarda.
O carvalho do forcão, recordando a árvore mais alta do paraíso, aberta à amplidão do céu, cujas raízes mergulham na fertilidade da terra primordial, resume esta espécie de «Gaia Ciência» da vida em que o homem só é verdadeiro e genuíno se for como o carvalho: disponível ao apelo mais do mais alto e sensível à proteção da terra que sustenta e produz.
A Capeia é, por tudo isto, a celebração de uma liturgia colectiva em nome da natureza, em nome da liberdade absoluta, em nome da amplidão, que contrastam com a liberdade e a cultura das cidades.
E sendo uma liturgia, compõe-se de um conjunto de actividades, gestos, símbolos, linguagem e comportamento, cuja origem, perdendo-se no tempo, que lhe dão um significado próprio.
Obedece a uma lógica, tem uma finalidade, estrutura e causa, e acrescenta um resultado real aos participantes.
No caso da capeia, os símbolos utilizados são o touro e o forcão e o carvalho, que têm a ver com o culto da fertilidade, como já observamos, associados ao mitraísmo e culto de dionísio.
A sequência do seu ritual é a preparação do forcão, o encerro, o desfile, a lide do touro, e o desincerro.
A simbologia do forcão e a lide do touro já os tratamos aqui num texto anterior, para o qual remetemos; o encerro e desincerro, têm semelhanças, e talvez a sua origem longínqua esteja nas procissões dionisíacas e mitraicas; e o desfile com as alabardas no desfile de falos nestas festividades.
É este o ritual que tem caracterizado a capeia e lhe tem dado um sentido coerente. Realiza-la sem qualquer uma destas etapas é desvalorizá-la e empobrecer o seu significado de culto de regeneração e fertilidade.
Um significado coerente com toda a triologia festiva de Cima-Côa, cristã e também pagã, que é constituída pela missa matinal com sermão e procissão, a capeia pela tarde e o arraial ou adega pelo fim do dia.
O primeiro invocando o favor propiciatório do céu, o segundo celebrando a força geradora da natureza, e o último consagração ao sémen fertilizador do homem e libação à seiva frutificante da videira.
«Arroz com Todos», opinião de João Valente

joaovalenteadvogado@gmail.com

Em Aldeia Velha, freguesia raiana do concelho do Sabugal, ainda se guardam «religiosamente» cinco carros de vacas, para com eles se fechar a praça para a tourada de Agosto, permitindo assim reconstituir-se, em parte, o cenário antigo.

Longe vai o tempo em que as aldeias raianas estavam pejadas de carros de vacas, que na véspera do dia da capeia se juntavam do largo principal para fechar o espaço onde os touros iriam ser corridos com o forcão. Os carros eram normalmente carregados com lenha, passando a constituir as chamadas «calampeiras», ou seja, os lugares onde o público se colocava para ver a tourada.
Nalgumas aldeias havia até o hábito de deitar um carro à porta do curral onde os toiros aguardavam a vez para serem corridos, servido assim de porta giratória.
Com o desenvolvimento tecnológico os carros de vacas foram substituídos pelos tractores, que porém, devido ao abandono do cultivo dos campos, não são tantos como o era o número de carros que havia em cada aldeia. Eles pura e simplesmente desapareceram e restam apenas alguns exemplares que pessoa mais cautelosa guardou para decoração.
Nas touradas os reboques de tractores substituíram os carros de vacas na sua função de fechar a praça, ou então construíram-se trincheiras com madeira em toda a volta dos largos, o que fez desaparecer de vez os antigos carros de tracção animal do cenário das capeias.
Pois em Aldeia Velha, terra arreigada à tradição, ainda se guardam cinco desses antigos carros, que a cada ano são colocados em carreira para dar um ar antigo e, portanto, genuíno à praça improvisada. Um exemplo que outros poderão seguir recuperando alguns dos carros de vacas que ainda estão em condições.
plb

Já em tempos, então diretor de um jornal, me referi à Raia Sabugalense nos termos que o faço neste título. Fi-lo, e faço-o, com a convicção que assim é relativamente ao potencial turístico que esta região pode ter, principalmente no mês de agosto. Pode argumentar-se que a comparação peca por excesso. Talvez, mas também penso que temos aproveitado por defeito as possibilidades que a Raia, as suas tradições seculares e o seu património humano e natural oferecem para uma realidade socioeconómica que poderia apresentar outro cariz.

(Clique nas imagens para ampliar.)

António Pissarra - Raia e Coriscos - Capeia ArraianaHabitualmente me manifesto sobre a injustiça que tem sido feita com o esforço de tantos sabugalenses que tiverem que partir à procura de um futuro melhor, principalmente em terras de França. O seu esforço, os seus sacrifícios, contabilizaram-se em números, nas remessas de dinheiro que enviavam para Portugal. Apesar disso, também por culpa própria, essas verbas serviram principalmente para desenvolver outras regiões. É certo que havia/há muita gente que teve arte para ganhar dinheiro, mas faltou-lhe sabedoria para o investir, nomeadamente no concelho. Investimento que criasse emprego e mais riqueza para todos, impedindo o êxodo que se tem observado nas últimas décadas. Faltou também, talvez, uma estratégia por parte dos responsáveis autárquicos que ajudasse a que as coisas fossem diferentes.
Voltando às comparações com as Terras do Sul, podemos dizer, para os mais pessimistas, que também o Algarve não está cheio o ano inteiro, mas sabemos como um bom verão pode «salvar» o ano inteiro. Salvaguardadas as devidas distâncias, também a Raia pode ter um bom verão que ajude o resto do ano. Quem não gostaria de ver nas diversas aldeias o movimento que se verifica no verão? Também os empresários algarvios desejariam o mesmo. Tal não é possível quando se fala de prestação de serviços e não na produção de produtos transacionáveis.
Apesar de as duas atividades serem distintas, uma e outra podem estar ligadas, nomeadamente, na Raia, no que aos produtos tradicionais se refere, e são estes, aqueles que são diferentes e que constituem uma marca de identidade, que podem ser uma mais-valia para o concelho.
A classificação da Capeia Arraiana como Património Cultural Imaterial, pelo Instituto dos Museus e da Conservação, pode ajudar, mas vale de pouco se não se lhe acrescentar valor. Não se trata de regular, por lhe retirar autenticidade, uma manifestação de cultura popular, que emanou do Povo, é vivida pelo Povo e paga pelo Povo. A Capeia não pode ser vítima da sua notoriedade mais recente e deve ser fiel ao seu passado. No entanto, pode haver algumas iniciativas que potenciem este fenómeno, sem deixar de ser aquilo que sempre foi: uma festa do Povo.
Quando este verão, em Nave de Haver, observei uma banca de uns nossos vizinhos espanhóis a vender miniaturas de forcões a 10 euros, pensei para comigo: «Caramba, generosa é a gente da Raia, todos lá vão buscar e ninguém leva para lá nada!» Será que a culpa é de quem tem iniciativa ou de quem a não tem? Certamente é de quem a não tem. E já é tempo de fazer alguma coisa. Voltaremos ao assunto, apresentando algumas sugestões.
«Raia e Coriscos», opinião de António Pissarra

António Pereira de Andrade Pissarra é natural de Vila Garcia, concelho da Guarda, tem 50 anos, é professor de comunicação social no Instituto Politécnico da Guarda e foi o último director do Jornal Nova Guarda. Casado em Aldeia Velha, concelho do Sabugal, tem dois filhos, e mantém uma forte relação sentimental com as tradições raianas. Estudou na Guarda, leccionou em Évora, onde frequentou o curso de engenharia agrícola (que não concluiu), licenciou-se em Tecnologias da Informação aplicadas à educação, fez o mestrado em comunicação educacional multimédia e frequentou o doutoramento em processos de formação em espaços virtuais na Universidade de Salamanca. Actualmente é presidente e fundador do Guarda Unida Futebol Clube.

O Capeia Arraiana dá as boas-vindas ao jornalista e professor universitário António Pissarra que inicia hoje uma série de crónicas sob a rúbrica «Raia e Coriscos». O nosso bem-haja por ter aceite o convite para integrar e valorizar este painel da opinião raiana.
jcl e plb

Desde o mundo antigo a figura do touro tem sido exaltada pela sua força e vigor. Os mitos gregos falavam do Minotauro (monstro metade homem metade touro), a arte minoica representava acrobatas saltando sobre o dorso de touros. O altar do templo de Salomão era adornado com chifres de touros e um dos tetramorfos associados aos evangelhos é o touro.

João Valente - Arroz com Todos - Capeia ArraianaA mística deste animal sobrevive ainda nas touradas, e nas manifestações taurinas, porque elas têm, como é comummente sabido de quem estuda estes assuntos, origem nos rituais de fecundidade, das forças genésicas da renovação e criação, remontando ao período neolítico, aos antigos mistérios de Mitraicos e Dionisíacos, em que a sacralidade do touro se funda na percepção do seu vigor físico e genésico, como pai do rebanho.
Mas de entre estas manifestações, cujos testemunhos históricos remontam pelo menos à civilização cretense (2.200 a 1.400 a.c), a capeia é a mais completa, porque reúne o elemento vegetal (carvalho) além do elemento animal (touro), que tem a mesma simbologia que este.
De facto, o carvalho, roble (da raíz latina róbur), com que se faz o forcão, foi em todos os tempos sinónimo de força e a nível arquétipo, aponta para a Arvore do Mundo, que é o pilar genético da criação e que estava plantada no centro do jardim do Éden.
Muitas tradições consideram o carvalho uma árvore sagrada pela sua robustez e majestade e pelo seu poder de atração dos raios celestes, tinha a importância de meio de comunicação entre o céu e a terra, sendo a árvore por excelência:
Na idade média, tinha influência mágica sobre o tempo e fazia parte das poções mágicas que provocavam tempestades.
Abraão recebeu a revelação junto a um carvalho e a sua morada em Hebron era junto de um carvalho.
Ulisses, na Odisseia, consulta o carvalho de deus antes de regressar a casa.
As coroas da vitória em Roma eram feitas de folhas de carvalho e bolotas e o bosque de Diana era de carvalhos.
Os celtas veneravam o carvalho como uma divindade e na Irlanda as igrejas eram chamadas dairthech, «casas de carvalho», o mesmo nome que entre os druidas significava bosque sagrado.
Interessante, também é como Schopenhauer, na sua teoria sobre o pecado original, faz esta ligação entre a árvore do paraíso, o pecado original e a descoberta da sexualidade.
Em Pascoais, naquela obra magnífica, Regresso ao Paraíso, muito mais sublime que o Inferno de Dante, quando Adão e Eva regressam à terra no dia do Juízo final e passam junto ao que foi o Jardim do Éden, a árvore que vêm, dominando todas as outras, como centro do Jardim, não é a macieira, mas um Roble com muitos frutos.
Claro que o fruto do roble é a bolota, que tem aparência da glande, o que nos remete mais uma vez para a conotação genésica e sexual desta árvore.
O carvalho identificando-se portanto com a força genésica, é um dos símbolos de Mitra, Dionísio, Zeus ou Júpiter e Juno ou Vesta, no templo do qual havia um carvalho sagrado, sendo também com a sua lenha que se acendia o fogo sagrado.
E como, diz-nos Eliade, a fecundidade é uma especialização da vocação essencial de criadores, estes deuses celestes das religiões indo-mediterrânicas identificam-se também, desta ou daquela maneira, também com o touro.
Nas religiões do médio-oriente, Mitra (representado sob a forma de um jovem sentado num touro, ostentando na mão uma adaga para matar este, numa clara semelhança ao mito de Teseu e Minotauro ou à luta de S. Jorge com o Dragão, cujo culto esteve na origem do de Zeus e Júpiter, e se estendeu à península no período romano, surge também como divindade mediadora entre duas forças antagónicas (o Sol e a Lua), viabilizando o nascer de um novo dia, ou seja, não permitindo que a Lua ocultasse o Sol, representando a Luz Celestial, ou a essência da Luz, que desponta antes do Astro-Rei raiar e que ainda ilumina depois dele se pôr e, porque dissipa as trevas, é também o deus da Integridade, da Verdade e da Fertilidade, motivo pelo que também surge associado ao Touro primordial.
Segundo as lendas de origem persa, Mitra terá recebido uma ordem do deus-Sol, seu pai, através de um seu mensageiro, na figura de um corvo. Deveria matar um touro branco no interior de uma caverna.
O ritual de iniciação nos mistérios de Mitra era o Taurobolium, porque exigia esse sacrifício do touro. É através da sua morte ritual que se dá origem à vida com o seu sangue, à fertilidade, à dádiva das sementes que, recolhidas e purificadas pela Lua, concebem os «frutos» e as espécies animais, pois a sua carne é comida e o seu sangue bebido.
Este ritual de iniciação, em que inicialmente se sacrificava o touro e se bebia o seu sangue, evolui posteriormente para o sacramentum, banquete ritual mítraico, em que, se consagrava o pão e a água, se bebia vinho que simbolizava o sangue do touro, simbolizando o renascimento numa nova vida.
O culto de Dionísio, que é originário da Frígia (Anatólia) através da Trácia, onde Mithra se identificou também com Attis, é como estes, uma divindade associada à fertilidade. Tinha a forma de touro, liderava desfiles de bacantes e sátiros, ninfas e outras figuras disfarçadas para os bosques, que dançavam e esquartejavam animais e comiam as suas carnes cruas. Implicava também desfiles com falos, danças orgíacas de bacantes e delírio místico, o esquartejamento do touro ou do bode com o mesmo associado, cujas partes cruas eram consumidas em banquete (omofagia) e espalhadas com o sangue pelo campo como auspício de fertilidade, renascimento e imortalidade.
Na Península, onde o touro já era, desde o neolítico, um dos animais relacionados com as divindades, inserindo-se num culto com raízes comuns a todo o Mediterrâneo, à chegada dos romanos, cujos legionários tiveram contacto com o oriente, teve um novo surto orientalizante, chegando até ao fim do século III a rivalizar com o cristianismo, como se vê nos escritos de Tertuliano, espalhando-se pelos confins do mundo romano sob a designação de «Sol Invictus» (Mitra leoncéfalo) e desde a Bretanha até à China, sobrevivendo ainda no Oriente Próximo.
Daí que a partir do século I apareçam na iconografia com frequência bucrânios (crâneos de touro) e representações de touros, como aquele do silhar aparelhado que, associado à representação do sol, se encontra em exposição na Casa do Castelo, no Sabugal, o qual se assemelha a algumas imitações dos motivos helenísticos datadas do século I a.C. e que fazia parte possivelmente de uma ara funerária votiva romana, como já acontecia no mundo funerário ibérico, simbolizando a força fecundadora, ligada à crença astral de imortalidade.
(Continua)
«Arroz com Todos», opinião de João Valente

joaovalenteadvogado@gmail.com

O Consulado de Portugal em Paris inaugura no próximo dia 14 de Setembro, às 18h30, uma exposição dedicada à tradição popular portuguesa Capeia Arraiana.

Trata-se de uma iniciativa que se segue ao registo da Capeia Arraiana como Património Cultural Imaterial no Inventário Nacional do Instituto dos Museus e da Conservação, classificado pelo seu valor enquanto manifestação popular e etnográfica.
A Capeia Arraiana, diz-se numa nota divulgada pelo Consulado de Portugal em Paris, é uma manifestação tauromáquica específica de algumas freguesias da orla raiana do concelho do Sabugal, que se singulariza pelo facto de a lide do touro bravo ser realizada com o auxílio do forcão, estrutura triangular em madeira suportada por um grupo de homens que assim enfrenta as investidas do touro.
A mostra, que está integrada na programação cultural do Consulado, pode ser visitada até 26 de Setembro, de segunda a sexta-feira, das 9 às 17 horas, no Espaço Nuno Júdice do Consulado Geral de Portugal – 6 Rue Georges Berger 75017 Paris.
A organização da exposição partiu da iniciativa da Associação RAIAR, de Aldeia do Bispo, e especialmente dos raianos Domingos Ricardo e Manuel Luís Gonçalves, contando com a colaboração do Consulado de Portugal em Paris.
plb

Paulo Leitão Batista tem sido um atentíssimo «repórter» das capeias que neste Verão decorreram na Raia sabugalense. Nós, os leitores do blogue «Capeia Arraiana», estamos-lhe todos muito gratos por isso, sobretudo aqueles que, como eu, não puderam assistir ao vivo.

Salto ritual do touro. Pintura a fresco, Palácio de Cnossos, Creta, c. 1450-1500 a.C.
Salto numa corrida landesa. Sul de França, 2010 Salto mortal por um recortador. Navarra, Espanha, 2011 Salto-de-anjo numa corrida landesa. Sul de França, 2011

(Passe o cursor nas imagens para ver a legenda e clique para ampliar.)

Adérito Tavares - Na Raia da MemóriaA propósito do texto de Paulo Leitão Batista intitulado «Os malabarismos das capeias» peço-lhe licença para acrescentar algumas «notas» antropológicas e históricas.
Na verdade, estes saltos acrobáticos remontam a uma tradição antiquíssima. Muito provavelmente, aqueles que, de forma tão ágil e corajosa os praticam nas nossas capeias, fazem-no tão espontaneamente que nem lhes passa pela cabeça que, na ilha de Creta, há cerca de 3500 anos, outros como eles faziam o salto mortal por cima de touros sagrados. Numa das fotografias aqui reproduzidas podemos ver um fresco do Palácio de Cnossos que nos mostra três momentos de um salto acrobático ritual. Os cretenses da época minóica veneravam o touro como símbolo da fertilidade e estas “acrobacias taurinas” efectuavam-se no âmbito de cerimónias religiosas. Muito provavelmente foram estas práticas que deram origem ao mito do minotauro.
Mas o curioso é que este ritual permaneceu na memória popular dos povos da orla mediterrânica e ainda hoje persiste: no sul de França efectuam-se as chamadas «corridas landesas» (courses landaises), nas quais jovens como o Frank ou o Balhé saltam por cima de vacas bravas ou dos pequenos touros da Camargue, conforme podemos ver nas fotografias. Também em várias regiões de Espanha encontramos uma prática semelhante, chamada «recorte»: rapazes destemidos e fisicamente bem preparados, chamados “recortadores”, saltam por cima de touros bravos, neste caso animais encorpados e poderosos.
As capeias arraianas sempre tiveram este segundo momento: depois do forcão «corria-se» o touro, com ou sem acrobacias. É sobretudo a pensar nesta segunda parte que Joaquim Manuel Correia chama «folguedo» à capeia. Ainda bem que estes rapazes, muitos deles «franceses-arraianos», alegram as capeias com a sua agilidade. Cabe-nos aplaudi-los.
Lembro-me bem de alguns dos mais «leves» rapazes de Aldeia do Bispo fazerem saltos espantosos, tanto por cima dos bois como para cima das calampeiras. Quando eu era garoto, dizia-se que o mais «leve» de todos era o António da Ti Claudina, também conhecido por António das Meninas: com as suas calças de pana metidas dentro das meias e as suas alpergatas espanholas, foi durante muitos anos um verdadeiro «líder» das capeias de Aldeia do Bispo. Morreu há pouco, com 93 anos. Merece descansar em paz e que a terra lhe seja leve.
«Na Raia da Memória», opinião de Adérito Tavares

ad.tavares@netcabo.pt

Para além do encerro, toiro da prova, passeio dos rapazes, pedido da praça, lide com o forcão e o desencerro final, a tradicional Capeia Arraiana conta também com os momentos em que o toiro corre pela arena improvisada ao sabor dos desafios que a rapaziada lhe faz livremente.

Após o manejo do forcão, logo que o mesmo é encostado às «calampeiras», os jovens saltam para a arena e correm a fazer tangentes sucessivas ao toiro bravo, abordando-o por todos os lados, por vezes de forma estonteante, fazendo com que o animal rodopie na tentativa de atingir algum dos vultos que o «atentam». Doutras vezes o toiro corre para alcançar o atrevido que lhe passou de raspão e ainda se atreveu a dar-lhe uma palmada de incitamento.
Mas ele há momentos mágicos, de verdadeiro malabarismo, nomeadamente quando os rapazes mais intrépidos e de melhor preparação física correm para o toiro, que para eles investe decidido, e, no momento da reunião, formam um salto por cima do dorso do animal, caindo ilesos e em perfeito equilíbrio. Em recompensa, os corajosos ouvem longos clamores de admiração seguidos de infindáveis aplausos.
Alguns desses moços arrojados passam sobre o animal sem lhe tocarem, outros assentam-lhe um pé em cima, num acto de desafio e de dominação, outros, cuja sorte ou destreza não os acompanham, desequilibram-se e caem desamparados na arena, originando o desassossego geral perante uma eventual colhida.
Temos na memória o feito memorável de um jovem japonês que, já lá vão 15 anos, entrou na praça do Campo Pequeno, em Lisboa, quando ali acontecia a capeia anual da Casa do Concelho do Sabugal. Da bancada, onde esteve uns instantes, desceu à trincheira e dali entrou na arena, quando os cortadores arraianos se divertiam e davam espectáculo fazendo tangentes velozes ao animal. O jovem japonês, magro e alto, olhou para o toiro e quando este investiu para ele o jovem arrancou também em direcção ao animal, sob o olhar incrédulo das pessoas. Formou um salto e colocou o pé sobre o dorso do toiro, caindo em equilíbrio do outro lado. O público gostou e ovacionou o jovem estrangeiro, que possivelmente nunca pusera até então um pé numa praça de toiros.
Na raia os «malabaristas», chamamos-lhe assim sem qualquer sentido pejorativo, multiplicam-se pelas terras e dão espectáculo nas capeias.
O festival Ó Forcão Rapazes, que este ano se realizou no Soito, no dia 18 de Agosto, foi exemplo disso.
Os manos Batista, de Alfaiates aproveitaram um toiro feroz, que investia com valentia, para lhe saltarem por riba. Um deles, o Frank, formou mesmo um salto mortal perfeito, para gáudio do público que o compensou com um longo e caloroso aplauso.
O Pedro Fonseca (conhecido por Balhé) do Soito, que também é mestre nos saltos, teve este ano o trabalho dificultado por ter cabido à sua terra um toiro pouco dado a investir, que se colava às tábuas, mas mesmo assim, na única oportunidade que se afigurou, o jovem não hesitou e satisfez um público já sedento de observar e ovacionar o seu herói.
Que o espírito, a vontade e a intrepidez dos «malabaristas» não esmoreça, para que as capeias possam continuar a contar com o seu contributo para a valorização do espectáculo.
plb

Agora, que a época das capeias arraianas terminou, parece-me oportuno reflectir sobre o que ela foi.

Este era o primeiro ano em que a capeia arraiana se apresentava ostentando a classificação de património cultural imaterial nacional. Alguém se lembrou disto? Creio, até, que a maioria dos arraianos nem sabe de tal título atribuído à sua maior manifestação cultural. Pois bem, a primeira questão desta reflexão, prende-se precisamente, com o título desta crónica: chamar os bois pelo nome. Uma capeia arraiana não é uma garraiada, uma garraiada não é uma largada e uma largada não é um touro á corda. Um touro e um forcão não é uma capeia arraiana! Uma capeia arraiana é composta por três momentos: encerro (ir a buscar os touros a pé, repito, a pé – cavalos e pessoas – e encerrá-los); esperar os touros ao forcão (afoliá-los*) e desencerro (levar os touros de volta a pé). São estes os momentos que compõem uma capeia arraiana. Sem o cumprimento testes três momentos, portanto, com a falta de algum deles, não se cumpre a capeia arraiana. Será somente uma garraiada com forcão. Ora, esta época houve acontecimentos que feriram o cumprimento destes momentos, não cumprindo, assim, a tradição da capeia arraiana. Neste ano (e sempre) era importante que a matriz da tradição fosse e seja cumprida. O que candidatámos a património e nos foi concedido foi a capeia arraiana com todos os seus rituais. Não foi isso que aconteceu. Houve falhas que não podem acontecer, sob o risco de estarmos a entregar argumentos que funcionam contra nós. Prepara-se para Setembro a entrega de um Projecto lei contra as touradas. É bom que estejamos atentos. Por isso, não consigo perceber por que motivo, e é a segunda questão desta reflexão, não existe uma espécie de entidade reguladora que preserve oficialmente o conceito da capeia arraiana. Onde está o pelouro da cultura? O que foi feito neste ano para a divulgação da capeia arraiana como património cultural? E não me refiro á divulgação nacional, mas aqui, na raia? Se queremos valer-nos desta tradição, se a queremos preservar e rentabilizar como um valor cultural e económico, temos que fazer muito mais. As capeias arraianas não podem continuar a ser tratadas desta forma. É preciso um maior rigor no cumprimento dos rituais, na seriedade dos encerros, na apresentação e cuidado dos animais (a presença oficial de um veterinário é imprescindível) e na assistência médica.
Como primeiro ano de património demos uma má imagem das capeias arraianas. Se tudo deixarmos como está, corremos o risco de deteriorar-mos a capeia arraiana. E esta, não é somente um espectáculo com touros. É muito mais. É a maior manifestação social e cultural comunitária.

* Significa correr os touros, tourear.
«A Quinta Quina», crónica de Fernando Lopes

fernandolopus@gmail.com

A capeia de Aldeia Velha foi marcada pela presença de uma equipa da Central de Cervejas, constituída pelo Director Regional do Centro e outros responsáveis, nomeadamente o director de Marketing da empresa.

O distribuidor local da Sagres, José Carlos Ricardo, da Uniraia, trouxe á derradeira capeia deste ano os dirigentes da empresa para verificarem como vale a pena visitar e conviver nestas terras raianas, que em Agosto vivem em rebuliço com as tradições taurinas.
A muita cerveja que se bebe na raia sabugalense, onde a Sagres domina em absoluto, demonstra bem o ânimo com que a malta convive. São milhares de litros que, em copos e em garrafas (as célebres minis) passam de mão em mão em rodadas sucessivas, animando as conversas e cimentando a amizade.
O «patrão» regional da Sagres, Gonçalo da Franca, pegou até ao forcão, desafiando entre os raianos locais um dos toiros da tarde.
A objectiva do Capeia Arraiana, captou a foto que juntou, em plena praça, a família da cervejeira nacional num momento de descontracção.
plb

Todos os anos o ciclo das touradas com forcão na raia sabugalense tem o seu ocaso com a realização da tradicional capeia arraiana de Aldeia Velha, no dia 25 de Agosto. Este ano estivemos na festa brava, palco de todos os encontros.

Desde 6 de Agosto na Lajeosa da Raia até 25 em Aldeia Velha, correm 19 dias de intensa vida na Raia Sabugalense, em que a tourada com o forcão é a demonstração festiva essencial. A tourada de Aldeia Velha, por ser a derradeira em cada ano, colhe atenções especiais e junta sempre um mar de gente.
Neste Agosto de 2012 não foi diferente. Aconteceu a um sábado, o que facilitou a mobilização geral.
O imenso público assistiu pela manhã ao encerro dos magníficos toiros do ganadeiro Zé Nói. Dezenas de cavaleiros encarregaram-se de conduzir os animais bravos ao curro, após o que se seguiu o almoço, que para os forasteiros constituiu um animado convívio, degustando frangos assados ou outros petiscos, sob frondosas sombras das árvores, nos restaurantes da redondeza ou nas roulottes dos que ali «acamparam» para ver a capeia.
De tarde, às 5 horas em ponto, teve início a capeia, precedida pela cerimónia protocolar do «passeio dos rapazes». Os toiros saíram endiabrados dos curros e investiram fortemente no forcão, bem seguro e dirigido pelos capeadores da terra. As pessoas apinharam-se nas calampeiras, para assistir ao espectáculo. A praça improvisada no largo da aldeia não era porém suficiente para albergar a grande quantidade de gente, que se espalhava pelas ruas e largos fronteiros, bebendo e convivendo.
Após a tourada fez-se o «desencerro», com os cavaleiros conduzindo os toiros de volta para o campo, enquanto a festa continuou a animar Aldeia Velha pela noite dentro.
Para o ano haverá mais capeias na raia sabugalense e Aldeia Velha marcará de novo o fim da época taurina com igual, ou até maior, enchente de povo.
plb

Os bravos e encorpados toiros da ganadaria José Manuel Duarte proporcionaram excelentes lides no festival Ó Forcão Rapazes, que se realizou no Soito, no dia 18 de Agosto.

Perante uma praça municipal completamente lotada, em que os bilhetes se esgotaram e muitos não puderam entrar, teve lugar uma expressiva demonstração da maior e mais viva tradição do concelho do Sabugal, a Capeia Arraiana, que se realizou dentro do espírito de amizade e alegria que caracterizam a festa dos rapazes que pegam ao forcão.
Os toiros estiveram à altura das exigências do festival. Todos investiram bem ao forcão proporcionando óptimas lides às diferentes equipas.
Depois do desfile das nove equipas representativas de outras tantas aldeias raianas onde a tradição taurina não despega, iniciou-se o espectáculo, sob a orientação do experiente Esteves Carreirinha, o orador de serviço.

A primeira equipa a pisar a arena foi a dos Fóios, equipando com camisola azul. Os perto de trinta jovens que pegaram ao forcão enfrentaram um toiro preto forte e pujante, talvez o melhor de toda a tarde, que investiu vigorosa e continuadamente. O aparelho, seguro firmemente e dirigido com mestria pelo rabeador, rodopiou ao sabor das investidas do animal. Por mais de uma vez se pensou que o toiro iria contornar o forcão, mas os pegadores foram velozes e exímios no seu trabalho de plena sincronia, evitando o pior. Foi uma óptima lide, e certamente uma das melhores da tarde, o que fez com que o Festival abrisse com chave de ouro.

Seguiu-se a lide da equipa de Aldeia do Bispo, que equipou de azul claro. Os rapazes enfrentaram um toiro castanho muito forte que saiu fulgurante do curro, embatendo com violência na galha. O forcão aguentou firme e volteou ao sabor da investida. Porém o animal não marrava com a insistência do primeiro, afastando-se por vezes, sendo necessário incitá-lo para novos acometimentos. Ainda assim proporcionou uma boa lide, devido ao trabalho notável dos rapazes que pegaram ao forcão com valentia conseguindo tirar partido de um toiro que tinha que ser chamado para investir com alma.

O terceiro toiro da tarde coube a Alfaiates, cujos pegadores, ostentando a cor laranja nas camisolas, aguentaram um primeiro embate fortíssimo, a que se seguiram outros de igual vigor. Os rapazes mostraram-se sempre atentos e trabalharam em perfeita sincronia. De tanto embater e rodopiar o touro cansou-se e ficou menos insistente. Depois da lide os moços agarraram o animal, feito apenas igualado pela rapaziada de Aldeia da Ponte. O tempo concedido à equipa foi bem aproveitado, nomeadamente por dois jovens, os irmãos Batista, que cometeram a proeza de saltar sobre o dorso do animal, nomeadamente o Frank que deu um moral, o que causou espanto entre os espectadores e valeu um longo e merecido aplauso.

A turma de Aldeia Velha, vestindo de verde, enfrentou um dos melhores toiros da tarde, um animal castanho muito forte, que teve uma entrada fulgurosa, atacando a galha esquerda do forcão com muita violência, fazendo estalar o madeirame. À descomunal força do toiro contrapôs-se o empenho total da equipa, que segurou firme o aparelho e volteou ao sabor das endiabradas investidas. Com o correr do tempo e face ao cansaço o toiro bateu mais a compasso, ainda que sempre com força, obrigado os pegadores a um empenho permanente. A lide de Aldeia Velha esteve entre as melhores da tarde, o que lhe valeu sucessivos aplausos do público que enchia as bancadas da praça.

Os rapazes dos Forcalhos equiparam com camisolas castanho-avermelhadas (bordô) e enfrentaram com o forcão um toiro preto que bateu bem inicialmente, mas que depois passou a hesitar. Numa das investidas na galha o toiro correu com vigor tentando contornar o aparelho, o que gerou um clamor nas bancadas, num momento em que se anteviu o pior. Porém o intrépido rabeador acelerou o movimento circular do forcão e evitou que o animal o contornasse. No final, face às sucessivas hesitações do toiro, valeu o incitamento dos rapazes para que continuasse as fortes investidas no aparelho.

O Soito, que equipou de cinza, lidou um toiro castanho bastante alto, mas algo menos encorpado que os demais. Saiu no curro e investiu forte à galha esquerda, da qual demorou a despegar, proporcionando um bom momento de faena. Depois continuou a investir numa e outra galha, sendo contudo mais frouxo no encontro com o aparelho. A equipa da casa não beneficiou porém da bravura indómita do toiro que outras equipas tiveram em sorte, mas conseguiu ainda assim uma óptima lide. Encostado o forcão, os cortadores do Soito depararam-se com o toiro colado às tábuas, sendo de difícil chamamento para o meio da praça, o que desagradou à malta que gosta de «atentar» o animal.

A Lageosa equipou de azul escuro e lidou um toiro também negro que, tal como os restantes, bateu bem à investida inicial, quando saiu do curro. Marrou na galha direita, fazendo com que os pegadores rodopiassem rapidamente, o que fez levantar uma expressiva nuvem de poeira. Passado esse primeiro momento da lide, foi necessário incitar o animal para que voltasse a investir, conseguindo-se ainda assim bons momentos, em que os capeadores mostraram a mestria com que pegam ao forcão. O pó que se levantava da arena levou a que os Bombeiros do Soito regassem o solo, o que foi imprescindível para a continuação do Festival.

O Ozendo, que vestiu de vermelho, enfrentou um toiro preto, que quando entrou na praça deu um enorme trabalho à equipa, valeu-lhe permaneceu unida, bem agarrada ao aparelho, movendo-se em plena sincronia ao sabor das tremendas investidas do animal. O toiro meteu por mais de uma vez a cabeça por baixo do forcão tentando levantá-lo, valendo para o evitar a intrepidez e a boa atenção dos homens das galhas. Com o andar da lide o animal foi manifestando desinteresse pelo forcão, porém bateu sempre forte e com alma, partindo até uma galha numa das investidas. A equipa do Ozendo proporcionou uma das grandes lides da tarde.

Coube a Aldeia da Ponte fechar o Festival. Os rapazes, com camisola verde alface, lidaram um toiro preto, que marrou violentamente no forcão, fazendo estalar as galhas, o que chegou a criar um sussurro nos espectadores. Contudo a bravura do toiro não assustou os corajosos pegadores, que se mantiveram firmes e ágeis no lidar do forcão. Com o evoluir da faena o animal desinteressou-se pelo forcão, sendo necessário estimulá-lo para novas investidas. Aldeia da Ponte tem bons cortadores, que na fase que se segue à lide com o forcão geram um bom espectáculo, quase sempre coroado com a pega do animal, porém desta feita o toiro colou-se demasiadamente às tábuas, o que dificultou o trabalho dos aldeiapontenses, que no entanto honraram os seus créditos consumando a pega.

Foi uma tarde de excelente promoção da capeia arraiana, que mais uma vez se revelou enquanto manifestação popular emocionante e viva, com condições para se continuar a afirmar com um dos grandes potenciais de promoção do concelho do Sabugal.
plb

Voltamos a Frederico Garcia Lorca para de novo dissertarmos sobre a magia do toureio e suas cores. Agora,fazemos apelo a uma charla sobre SOL Y SOMBRA.

Manuel Leal Freire - Capeia ArraianaTranscrevamos, traduzindo:
Basta escrever aquelas duas palavras, assim, sol com letra amarela e sombra com letra escura para caracterizar a estética do toureio.
E assim teria que ser quando se jogasse com o sol e a sombra, quando daquelas palavras se queira fazer metáfora e conceito.
E isto não depende de nuvem, espelho ou muro, mas apenas do toureiro, pois é dele que brotam na arena o sol e a sombra.
Lagartijo, por exemplo, conseguiu corridas, em que não houve senão sol – gloriosa experiência de uma estética de estátuas, como a do touro, antes das banderilhas.
A sombra, em Lagartijo, era pura especulação, ou mera simulação.
Ele amava a nudez e a linha concreta, amava a roda do sol e suprimia o ângulo infinito da sombra.
Mas para muitos outros toureiros continuou a haver sol e sombra.
Bombito, esse aprendeu a lidar, sem riscos, com o sol e a sombra.
El Gallo levou a um alto expoente esse jogo de luzes.
Mas só a capeia raiana tem o condão de fazer apelo a um terceiro elemento – o arbóreo, personificado no forcão.
É a imagem protectora do carvalho-roble, é a floresta intrometendo-se neste duelo homem-touro.
Todos os contendores se sentem atraídos e protegidos por aquele nume.
O touro avança buscando na sombra projectada pelos troncos e ramos da floresta perdida.
Os bravos e possantes moços que guarnecem as alas, sentem o alívio de asas e o próprio rabejador na sua essência de timoneiro, não deixa de pressentir o hálito benfazejo da árvore mesmo desnudada.
As divindades que se acoitam no bosque transferem-se meteoricamente para a arena.
A dança do forcão é um baile mandado em que, fantagórica, mas harmoniosamente se agitam todas as divas da pradaria…
Até os freixos para que os vaqueiros sobem quando o espírito do mal açula os toiros.
«O concelho», história e etnografia das terras sabugalenses, por Manuel Leal Freire

Os encerros e as capeias arraianas na Raia sabugalense têm um novo protagonista. Chama-se José Manuel Monteiro Duarte mas todos o conhecem por «Fininho». O ganadero tem apresentado nos dois últimos anos excelentes curros com destaque para a recente Capeia de Aldeia do Bispo onde houve um reconhecimento unânime da qualidade dos toiros em praça. «No dia em que acabarem os encerros e as capeias a Raia perde a sua identidade», diz-nos quem sabe do que fala numa conversa descontraída onde confessou que agora o grande objectivo é fazer uma corrida no Campo Pequeno, em Lisboa.

Ganaderos José Manuel Duarte «Fininho» e Joaquina - Sabugal

José Manuel Monteiro Duarte, o «Fininho» como é conhecido na Raia sabugalense, nasceu há 41 anos na freguesia de Famalicão da Serra, concelho da Guarda.
«Comecei sozinho em 1994», lembra o ganadero no início da nossa conversa no Café do César, na Ruvina, onde chegou à hora marcada acompanhado da mulher Joaquina. A entrevista esteve inicialmente marcada para a quinta onde tem os toiros mas um calendário muito preenchido no mês de Agosto deixou essa visita para futura oportunidade. O terreno com muitos carvalhos vai desde o caminho agrícola da descida da Laje da Guarda até ao rio Côa contornando o cabeço da Senhora das Preces, local de romaria dos ruvinenses.
Voltando às memórias dos primeiros tempos diz-nos que aprendeu muito com o ganadero Manuel Rui, para quem trabalhou e a quem namorou uma filha. «Era o maior das touradas», diz com admiração.
– Qual foi a primeira capeia que realizou na Raia sabugalense?
– A primeira corrida, uma garraiada, com toiros meus teve lugar a 10 de Junho de 1994 numa praça desmontável em Famalicão da Serra. Fui comprar os animais ao Ribatejo e no primeiro ano e meio fiz 19 corridas. A minha primeira corrida na Raia foi em Aldeia do Bispo na tradição capeia do Carnaval. Nesse tempo ainda tinha os toiros a pastar em Famalicão mas tomei a melhor decisão da minha vida. Optei por vir sozinho para a terra dos toiros. Aqui é que é o Mundo das touradas e dos cavalos. Nesse tempo, no tempo do Emiliano e do Paco, os encerros tinham muito peso. Curiosamente, de há dez anos para cá, voltaram a ter muita participação e fui obrigado a comprar cabrestos. Os encerros trazem muita gente. No dia em que acabarem os encerros e as capeias a Raia perde a sua identidade.
– Considera-se um ganadero?
– Em vinte anos já realizei mais de 400 corridas em concelhos como o Sabugal, Guarda, Almeida, Bragança, Águeda, Aveira, Penamacor ou Castelo Branco. Fiz um enorme investimento nestes dois últimos anos para mudar a forma de trabalhar melhorando os pastos, a alimentação e o transporte dos toiros separados em gaiolas. Considero que tenho todas as condições para ser reconhecido como ganadero e tenho ganas de triunfar. Além disso faltava-me um braço direito que encontrei na minha mulher Joaquina com a qual faço uma equipa. Foi como encontrar uma agulha no palheiro. A Joaquim passou de guardadora de ovelhas para tratadora de toiros. Foi uma mudança radical mas que está a valer a pena. Tem evoluído muito rapidamente e de forma surpreendente na maneira de ver e perceber o que é bom para o forcão. Já vai a pé fechar os toiros e as vacas de quatro e cinco anos.
– Como aconteceu aquela colhida no encerro de Nave de Haver?
– Já apanhei cornadas valentes há cerca de 15 anos com um toiro em pontas. Já este ano, em Nave de Haver, levei umas cambalhotas valentes no encerro a cavalo. Acontece. Normalmente ando no meio dos toiros sem problemas. Eles têm muita sensibilidade e percebem se estamos com medo ou não mas temos de mostrar que quem manda somos nós. São animais que aprendem depressa e que sabem quem os traba bem. Há momentos em que me deito na majedouro onde comem mas também já tive de subir a correr para os carvalhos mais perto.
– Como se escolhe um toiro para o forcão?
– Para bater bem ao forcão o toiro tem de ser macio e meigo. Os que levei à Capeia de Aldeia do Bispo, na semana passada, eram todos perfeitos. Tenho as corridas separadas em cada parque porque não convém juntar animais de ganaderias diferentes. Cada toiro faz uma corrida ao forcão e depois vai para o matadouro. Prefiro o gado português e já estou a trabalhar com várias ganaderias para preparar as corridas do próximo ano. Para criação própria tenho vacas de ventre a parir desde há cerca de três anos.
– Há cuidados especiais para preparar uma corrida como o Festival «Ó Forcão Rapazes»?
– Foi a Joaquina que escolheu a ganaderia Ortigão Costa mas tivemos em conta o orçamento. Os nove toiros (mais um sobrero de reserva) para o Festival «Ó Forcão Rapazes» têm apresentação, idade, peso, terapio e qualidade para não falharem. A «Ortigão Costa» é uma ganaderia de muita tradição que manda toiros para o Campo Pequeno, para Espanha e para França. A responsabilidade e o número de corridas e encerros obrigou-me a aumentar a equipa com alguns amigos que me acompanham. No entanto ainda não dá para viver exclusivamente das corridas. Os alimentos estão muito caros e, por isso, fora da época alta trato dos animais e dedico-me à venda de lenha.
– A temporada de 2012 está a correr de feição…
– Está a correr muito bem. Um passo importante que dei para chegar aqui foi um encerro nos Fóios há três anos em que me deram muito valor porque já há mais de 40 anos que não encerravam o gado todo. Esta temporada destaco os encerros e capeias de Aldeia do Bispo, Rebolosa, Fóios e, claro, o Festival da praça do Soito. Outros momentos importantes foram o encerro de Nave de Haver e a corrida em Vale da Mula que está a ganhar muito peso na região. Em Vila Boa animaram-se e voltaram a fazer uma corrida após mais de 20 anos muito por culpa dos meus amigos Manuel António, do filho e do Manuel «Forneiro» que também me andam a ajudar. (Enquanto conversávamos ficou apalavrada com o mordomo Carlos Pina Solito a garraiada da Bismula para o dia 22 de Agosto).
A Joaquina foi uma espectadora atenta de toda a conversa e apenas interveio para destacar as qualidades do nosso entrevistado. «O Zé Manel nasceu para ser ganadero. Está-lhe no sangue. Às vezes para embolar um toiro senta-se em cima dele com um àvontade como se estivesse a lidar com gado manso.»
A terminar o «Fininho» confessou um desejo: «Agora tenho como grande objectivo fazer uma Capeia Arraiana na Catedral em Lisboa.»

Contactos: Telemóvel: 963 912 967. Facebook: Ganaderia José Manuel Duarte Fininho.

Os toiros do Festival Ó Forcão Rapazes podem ser vistos Aqui.

Camião do Ganadero José Manuel Duarte Fininho - Sabugal

O José Manuel Duarte surpreende por manter uma expressão quase inalterável ao longo da conversa. Transmite convicção, gosta de pormenorizar os factos e percebe-se que tem as ideias arrumadas.
jcl

Segundo Frederico Garcia Lorca, o mais sublime cantor do gosto ibérico pelo toureio, este tem dois santuários: La Fortis Salamantina, torre de Salamanca, que se remira nas pradarias do Tormes, e a Giralda, de Sevilha, que se reflecte nas verduras do Gualdaquivir.

Manuel Leal Freire - Capeia ArraianaE concretiza – O touro de lide só pode crescer com a erva mágica daquele segundo rio, que é o de Herrera e de Gongora, ou a dos plainos do primeiro, que é o de Lope de la Vega e Frei Luis de Leão.
O Poeta, que, por certo, ninguém se atreverá a classificar de retrógrado, reaccionário ou fascista, como que santificava a arte de tourear.
Ouçamo-lo:
Na segunda metade do verão peninsular abrem-se as praças de touros, ou seja os altares.
O homem sacrifica a brava rez, filha da dulcíssima vaca, deusa do amanhecer que vive no orvalho. A imensa vaca celeste pede também o holocausto do homem e recebe-o.
Todos os anos caem os melhores toureiros.
Parece que o touro, como que guiado por um instinto não revelado, ou por uma secreta lei desconhecida, elege o toureiro mais heróico para abatê-lo, como nas tauromaquias de Creta se escolhia a virgem mais pura e delicada.
Desde Pepe-Hillo ao inolvidável Ignacio Sanchez Mejias, passando por Espartero, Antonio Montez e Joselito, há uma incontável série de mortos gloriosos, de espanhóis sacrificados por uma obscura religião, incompreensível à primeira vista, mas que constitui a chama perene que torna possível a gentileza, a galanteria, a generosidade, a bravura sem ambições, onde ganha força o carácter inalterável do nosso povo.
Todo o espanhol se sente arrastado por essa força que empolga o touro e o toureiro e é uma força irreflexiva.
Lorca falava de dois santuários da arte brava e bravíssima.
Nós aditamos-lhe um terceiro:
Esta pequena tira da orla raiana do Sabugal onde se pratica a capeia.
Espectáculo único no mundo, mas intensamente vivido por esta corda de povos que vai de Nave de Haver aos Fóios e pouco se afasta da primeira linha de fronteira.
Uma zona de transição do carrasco para o carvalho-roble, o carvalho lusitano.
Ou, se preferirmos outra nomenclatutra, do planalto charro para as alturas da Lusitânia Citeriot.
«O concelho», história e etnografia das terras sabugalenses, por Manuel Leal Freire

AMANHÃ, 6 DE AGOSTO, TUDO COMEÇA… NA LAGEOSA DA RAIA

«Pouca gente saberá explicar que fenómeno é este que faz com que as pessoas mais idosas, muitas vezes de bengala e com dificuldade de movimentos, consigam sair de casa e encalampeirar-se num palco ou enfiar-se num buraco debaixo de um carro, para não perder nem um carxinho do espectáculo! Por vezes, dá-se a desculpa do filho ou do neto que andam no corro… Outras, foge a boca para a verdade e confessa-se: «Não há nada melhor que a capeia! Não sou capaz de ficar em casa… Para o ano, quem sabe se cá estou!»

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Texto de António Cabanas e Fotos de Joaquim Tomé (Tutatux) retirados do livro «Forcão – Capeia Arraiana»

Vá às capeias arraianas que se realizam na raia sabugalense durante o mês de Agosto. Consulte o calendário das capeias de 2012 que o blogue disponibiliza.
jcl e plb

Capeia Arraiana, tradição única no mundo criada pelos nossos preservada por nós…
A pouco tempo do concelho parar!

Já é habitual nesta altura os rebuliços que se começam a sentir por estas terras da raia, o mês que todos esperam está preste a iniciar e o ponto alto destas «férias» é definitivamente a tradicional Capeia Arraiana que este ano tem um sabor especial pela classificação como património imaterial da humanidade. Como já é hábito tudo começa na Lageosa da raia que tem o principal papel da abertura desta maratona de eventos/capeias em diversas aldeias. Passando durante o restante do mês pela capeia do Soito, Aldeia do Bispo, Nave, Aldeia da Ponte, Ozendo, Alfaiates, Forcalhos, Fóios e por fim Aldeia Velha que encerra este que é o período festivo do conselho.
Contudo importa referir e estabelecer que esta nossa tradição já embutida no nosso sangue raiano partiu á muitos anos pelos «nossos» que como o passar dos tempos se veio a actualizar e apaixonar muitos dos que por esta altura aqui passam e vivem esta adrenalina. São diversos os comentários que se ouvem em cada esquina sobre esta tradição, é já instintivo referenciar qual o touro que bateu melhor, qual a melhor, onde se vê melhor espectáculo, qual o melhor forcão, a garra das pessoas, os sustos que se viveram ali e aqui entre muitos outros dizeres que tornam esta tradição ainda melhor e com o espírito de ser maior e melhor.
Principais razoem para a construção deste wallpaper tipográfico onde podemos encontrar todas as frases, palavras, dizeres, sentimentos, objectos, organizadores, entre muitas outras coisas que estão presentes do mundo da Capeia Arraiana que merece a nossa maior estima. Podemos encontrar nesta pequena imagem uma enchente de tradição, e de passada sendo este o principal propósito que todos a analisem, se identifiquem e partilhem para que esta tradição seja conhecida pelo ser real valor.
E como slogan nada melhor do que Capeia Arraiana, tradição única no mundo criada pelos nossos preservada por nós…
É com agrado que deixo aqui o meu trabalho para que todos o possam apreciar, partilhar e utilizar para comunicar a nossa tradição.
Edgarfernandes|design | facebook.com/EdgarFernandesS | Nave’12

Os capinhas, ou maletas, que se vão tornando uma raridade, foram durante décadas um elemento integrante da capeia arraiana, a maior e mais viva tradição cultural do concelho do Sabugal.

Um capinha em acção (foto Arraianos.net)Diversos estudiosos, entre etnólogos, antropólogos, historiadores e outros cientistas sociais, têm tropeçado com as capeias, encontrando aí um apetecível campo de estudo para desbravar, dada a peculiaridade que o espectáculo reveste. De onde lhe vêm as origens? Representa um ritual? É obra do acaso? J. Leite de Vasconcelos, ilustre etnólogo e estudioso da cultura popular portuguesa, reparou no forcão, máquina de lidar o touro deveras original, e descreveu em pormenor o curioso engenho: «Um triângulo de uns cinco metros de altura formado de varas muito grossas e atravessado por outras menores». Apresenta um esquema gráfico do forcão, nele indicando, através de letras, os vários posicionamentos dos lidadores. Destaque para o rabiador, o homem que dirige os movimentos do triângulo segundo os ataques do touro.
Na colecção leitiana de recortes de jornais lá surge também um artigo de Karl Marx (pseudónimo de Carlos Alberto Marques, grande escritor, geógrafo e etnólogo de Vale de Espinho), sob o título «Uma Corrida de Touros na Lageosa», publicado em 1926 no semanário regionalista «O Sabugal». Karl Marx relata em estilo incisivo o folguedo (assim se designava a capeia arraiana), evidenciando o entusiasmo, a alegria, a emoção e, bastas vezes, a aflição, que rodeia esta peculiar manifestação taurina. E o espectáculo não é só o rodopiar nervoso do forcão ao centro da praça improvisada. É, antes que tudo, o encerro dos touros trazidos de Espanha, da Genestosa, onde pastam em manadas. São os foguetes que restalam, sinal de festa e diversão. É o samarra, ou tamborileiro, que com seus rufos incendeia o corro. São os rapazes arrojados que, dum e doutro lado, avançam e passam junto ao animal com casacos, cobertas ou sacas. São os pouco ágeis que se afoitam à praça e logo são colhidos, para exaltação geral. São, finalmente, os capinhas ou maletas.
Em quem são os capinhas? São toureiros amadores, vindos de Espanha, que participam nas capeias arraianas para se exercitarem na arte do toureio. O autor valdespinhense descreve-os magistralmente no seu artigo:
«O capinha é um pobre de Cristo que no Inverno morre de fome ou se ocupa em trabalhos servis e que no Verão oferece em holocausto à sublime arte tauromáquica o seu cicatrizado corpo; de terra em terra, andrajosamente vestido, com uma capa de clara cor debaixo do braço, conta as touradas pelo número de ferimentos. É um apaixonado que, nesta escola donde quasi nunca sai, se treina para entrar na eternidade nas chaves de um toiro, diante de um público que o aclame, diante de uma mulher por quiem se muere. O capinha canta lindas malagueñas pelas tabernas, estende a capa a colher donativos e vai deixando umas gotas de sangue na terra que os outros regam com suor. Faz umas sortes arriscadas, espeta uns ferros e sobre tudo sonha com a glória.»
Na verdade, nas nossas aldeias, a capeia arraiana não é capeia se não incluir a apreciada e muito aplaudida exibição dos arrojados capinhas, em cujos redondéis se praticam no toureio, sonhando actuar um dia na praça de uma grande cidade de Espanha, onde triunfem recebendo aplausos e aclamações, cortando rabos e orelhas.
Paulo Leitão Batista

A AAR-Associação dos Amigos de Ruivós tem programado para o período entre 4 e 6 de Agosto diversas actividades desportivas, culturais e associativas. O convívio entre sócios e amigos da freguesia de Ruivós inclui a Festa da Cerveja (entre 4 e 6 de Agosto), mais uma edição da concentração de motos antigas (no sábado) e na segunda-feira, 6 de Agosto, a Assembleia Geral Ordinária e a Garraiada Nocturna com Forcão.

(Clique nas imagens para ampliar.)

Gonçalo Pires (Presidente da Direcção da AAR)

O mês de Agosto carrega sempre o secreto apelo do regresso às origens para os que estão longe. No concelho do Sabugal faz povoar as aldeias, abrir as persianas, lotar os bancos das igrejas e encher os lugares públicos com um estranho mas familiar linguajar mesclado aqui e ali de expressões e palavras de origem francesa. Mas, para muitos dos sabugalenses é o tempo da mãe de todas as touradas – a capeia arraiana – espectáculo único que andou escondido esotericamente nas praças das nossas aldeias e que, agora, de há uns anos para cá parece ter perdido a vergonha e tudo faz para se dar a conhecer ao mundo. A tradição manda que as touradas com forcão, precedidas de encerro, se iniciem na Lageosa no dia 6 de Agosto e terminem em Aldeia Velha no dia 25. E que se oiça bem alto o grito: «Agarráááio»

DIA FREGUESIA EVENTO
3 e 4 Soito Garraiadas/Largadas
6 Lageosa da Raia Encerro e Capeia Arraiana
6 Ruivós Garraiada Nocturna com forcão
7 Soito Encerro e Capeia Arraiana
8 Rebolosa Encerro e Capeia Arraiana
10 Soito Tourada à portuguesa nocturna
12 Aldeia da Ponte Tourada à portuguesa
13 Aldeia do Bispo Encerro e Capeia Arraiana
13 Seixo do Côa Garraiada
14 Nave Capeia Arraiana
15 Aldeia da Ponte Encerro e Capeia Arraiana
15 Ozendo Encerro e Capeia Arraiana
16 Vale de Espinho Garraiada
16 Vale das Éguas Garraiada nocturna com forcão
17 Alfaiates Encerro e Capeia Arraiana
17 Fóios Capeia Arraiana Nocturna
18 Soito Festival «Ó Forcão Rapazes»
20 Forcalhos Encerro e Capeia Arraiana
21 Fóios Encerro e Capeia Arraiana
25 Aldeia Velha Encerro e Capeia Arraiana
Fonte: Rota das Capeias da Câmara Municipal do Sabugal

«A Capeia Arraiana não é uma tauromaquia qualquer. Como uma espécie de religião em que se acredita, não basta assistir, é preciso participar, ir ao encerro, comer a bucha, beber uns goles da borratcha e voltar com os touros, subir para as calampeiras, ser mordomo, ser crítico tauromáquico, discutir a qualidade dos bitchos da lide ou, simplesmente, ser fotógrafo da corrida que não deixa ninguém indiferente, corre na massa do sangue, provoca um nervoso miudinho, levanta os pêlos do peito, atarracha a garganta e perturba o sono. É um desassossego colectivo que comove.» António Cabanas in «Forcão – Capeia Arraiana».
jcl

A primeira Capeia Arraiana no Campo Pequeno realizou-se em 4 de Junho de 1978, dia em que os sabugalenses acorreram a Lisboa, enchendo a catedral da tauromaquia nacional para assistirem a um espectáculo popular desconhecido no país.

A ideia de trazer a Capeia Arraiana até Lisboa foi do Francisco Engrácia, de Vila Boa, que a custo convenceu a direcção da Casa do Concelho da exequibilidade da iniciativa. Uma comissão por si coordenada pôs mãos à obra, assumindo a responsabilidade pela organização e aceitando cobrir os prejuízos, se os houvesse, e assumindo que os lucros, se surgissem, reverteriam a favor dos Bombeiros Voluntários do Sabugal, na altura a única corporação do concelho.
«Capeia Arraiana» foi a designação escolhida pelos organizadores para o espectáculo, expressamente justificado: «O nome CAPEIA que demos à tourada no Campo Pequeno resultou de assim serem chamadas as touradas características das aldeias fronteiriças do nosso concelho. O termo caracteriza uma tourada em praça improvisada. Não foi concretamente o caso, mas o facto de termos trazido o FORCÃO conjuntamente com a realização do chamado PASSEIO DOS RAPAZES foi o bastante para que o termo se afigurasse ajustado. Capeia é também em Espanha a tourada realizada nos mesmos moldes que a CAPEIA ARRAIANA.» (jornal Sabugal, nº3, Julho/Agosto de 1978).
A tourada do forcão acresceu ao convívio anual que juntava os sabugalenses residentes em Lisboa e que se vinha realizando desde 1974: «o piquenique». O convívio aconteceu nesse ano de 1978 em 3 de Junho (dia imediatamente anterior ao da Capeia), no Parque do Seminário dos Olivais. Depois do convívio, os sabugalenses dirigiram-se para a sede da Casa do Concelho, onde assistiram a uma sessão de fados que se prolongou pela noite dentro.
Na manhã seguinte, domingo, realizou-se um jogo de futebol, opondo a equipa da Casa do Sabugal à da Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro, que os raianos ganharam por um expressivo sete a zero. Seguiu-se um almoço da sede da associação, que juntou os jovens futebolistas de ambas as equipas a uma delegação dos Bombeiros do Sabugal e aos elementos da direcção da Casa, estando também presente o presidente da Câmara Municipal do Sabugal, o Dr Lopes.
Findo o almoço chegou a hora de ir para a Capeia, no Campo Pequeno, e o percurso fez-se a pé, num vistoso e muito participado cortejo, que partiu da Praça do Areeiro e seguiu pela Avenida João XXI até ao Campo Pequeno.
A tourada com forcão aconteceu sem incidentes e encantou os que encheram a praça. A alegria e o convívio foram vencedores e, no final, feitas as contas, verificou-se um saldo positivo, sendo desde logo lançada a ideia de que no ano seguinte se realizaria nova capeia.
plb

A Praça de Touros do Campo Pequeno recebe no dia 2 de Junho a 34ª Capeia Arraiana organizada pela Casa do Concelho de Sabugal em Lisboa.

A novidade da Capeia deste ano de 2012 é a aposta da organização na apresentação de touros «puros» (que ainda não foram toureados) para serem lidados ao forcão. Os cinco touros virão da ganadaria de José Dias, de Santo Estêvão de Benavente, e o expressivo cartaz desta edição mostra as fotos dos animais evidenciando a sua beleza e imponência.
A animação estará cargo da Sociedade Filarmónica da Bendada e de um grupo de Sevilhanas, que actuarão ao intervalo. Os bombeiros do Sabugal e do Soito associar-se-ão à festa, assim como diversas Juntas de Freguesia do concelho, que optaram por organizar excursões a Lisboa.
As capeias arraianas realizam-se anualmente no Campo Pequeno, em Lisboa, desde 1978, sendo porém a deste ano a primeira que se segue à declaração deste genuíno espectáculo popular como Património Cultural Imaterial.
No dia 2 de Junho TODOS AO CAMPO PEQUENO!
plb

O primeiro concelho a tomar a decisão de declarar a tauromaquia como Património Cultural e Imaterial de Interesse Municipal foi o de Vila Franca de Xira (distrito de Lisboa), seguindo-se o do Sabugal (Guarda), Barrancos (Beja), Pombal (Leiria), Alter do Chão, Monforte e Fronteira (Portalegre).

Os sete municípios portugueses tomaram uma medida será certamente seguida por outros autarcas de todo o país, atendendo a que a tauromaquia constitui uma tradição implantada em diversas regiões.
O próximo município a avançar com a declaração de Património Cultural e Imaterial de Interesse Municipal será o de Alcochete (distrito de Setúbal), decisão que será tomada na reunião de câmara marcada para o dia 9 de Maio, segundo informou a agência Lusa.
No âmbito da Associação Nacional dos Municípios Portugueses foi criada, no ano de 2001, a Secção de Municípios com Actividade Taurina, a qual reúne 40 Câmaras Municipais de norte a sul do País.
O Sabugal tem uma tradição tauromáquica única no mundo, a Capeia Arraiana, que consiste na lide dos touros usando o forcão – um artefacto de madeira na forma triangular ao qual «pegam» duas dúzias de rapazes que o manejam ao sabor das investidas do animal.
plb

Sempre considerei que a capeia era a actividade que envolvia toda a comunidade, directa ou indirectamente. A capeia arraiana tem sido contada, estudada, fotografada, filmada, noticiada… mas penso que sempre faltou um estudo centrado numa perspectiva mais sociológica e até antropológica. Obviamente, que não pretende esta crónica sê-lo! Mas, aproveito este início de época das capeias, agora que a capeia é património nacional cultural imaterial, para analisar o anúncio que a inventaria.

O documento apresenta as razões que levaram a comissão a considerar a capeia património. E neles, estão alguns aspectos que sustentam a minha ideia. A primeira é que ela é «identitária e de ancoragem territorial». Identitária porque identifica, não só os que são das aldeias onde se realizam mas, também, os de todo o concelho. Territorial porque, sendo de uma parte, ela é regional, enquanto concelho. É esta identidade e identificação com a capeia que, praticamente, nos torna gente com uma matriz social e cultural única. Mas importa verificar que, o anuncio, aponta dois pontos que me parecem os mais relevantes, «a produção e reprodução efectivas que caracterizam esta manifestação do património cultural na actualidade, devendo ser salientado o papel de mobilização social e de reforço identitário que esta prática cultural desempenha no interior da respectiva comunidade» e «a efectiva transmissão intergeracional desta manifestação». Relevantes, porque a capeia é um fenómeno aglutinador e dinamizador. A realização da capeia é um trabalho que envolve toda a comunidade. É verdade que são responsáveis os mordomos (e não serão estes mordomos os herdeiros daqueles, que as cartas de foral autorizavam os «vizinhos» (habitantes) dos concelhos a escolher como recolectores de impostos(?!), mas no momento em que são nomeados, toda a comunidade o é. È preciso escolher os touros, fechar a praça, tapar os caminhos do encerro, andar com o rol, cortar e fazer o forcão… todo este trabalho é feito pela comunidade, por todos. E reparem que, mesmo o esperar o touro e afoliá-lo é uma actividade que envolve todos. A capeia é, efectivamente, um polo de mobilização social. Junta todos e, aqui, não só os da comunidade que a organiza, mas toda um região.
O outro ponto que me parece relevante, é o facto de a capeia ainda ser um fenómeno de transmissão intergeracional. Numa altura em que, por motivos que aqui agora não importa desenvolver, os saberes, os sabores e, portanto, muitas tradições se perdem porque não têm um veículo de transmissão às gerações seguintes, a capeia, ainda, repito, ainda, é uma tradição que se vai transmitindo às gerações futuras. E aqui, reforço, porque ela é uma tradição identitária e que não pertence a nenhuma elite, a nenhum grupo, mas porque é de todos.
Ora, o facto de a capeia ter sido considerada património cultural imaterial nacional, não representa um prémio, no sentido de nos terem dado um rebuçado, mas representa um acrescentar de responsabilidade. Já não é só nossa, partilhamo-la com todo o país. Contudo, é a nós, arraianos dessas aldeias, e sabugalenses, que compete a tarefa de a preservar, manter, divulgar e, essencialmente, transmiti-la às gerações futuras. È esta a principal tarefa e ninguém se pode excluir, porque seria negar a sua própria identidade.
Oxalá saibamos ser dignos da consideração com que nos distinguem a herança que recebemos.
Ó forcão rapazes!

P.S. Desejo a todos uma santa e óptima Páscoa.
«A Quinta Quina», crónica de Fernando Lopes

fernandolopus@gmail.com

Aldeia da Ponte, honrando a tradição, realiza no dia 7 de Abril (sábado) a habitual Capeia da Páscoa, que para além da lide de touros com o forcão, inclui o encerro.

A Capeia da Páscoa é já uma tradição arreigada nesta freguesia raiana do concelho do sabugal, uma das que mais contribui para a divulgação da tourada popular com forcão, uma exclusividade da raia sabugalense. A realização na aldeia já vem de longe e, pese embora alguma irregularidade, esta é a sétima edição consecutiva.
Os cinco touros que irão animar a tarde na praça de Aldeia da Ponte, sairão da quinta do Ganadeiro Zé Noi, acompanhados pelos cabrestos, pela 8 horas do sábado, a fim de serem conduzidos à aldeia. Os cavaleiros encarregar-se-ão da boa condução das rezes, para que, pelas 11 horas, o cortejo taurino entre em corrida na praça. Feito o tradicional encerro, um dos touros será de imediato lidado – é o touro da prova, uma velha tradição taurina da raia, que em Aldeia da Ponte se segue com preceito.
Depois do almoço, pelas 16 horas, iniciar-se-á a capeia com a lide dos touros com o manejo do forcão.
A organização da Capeia da Páscoa pertence à Associação da Juventude Pontense.
Esteves Carreirinha, o maior entusiasta das Capeias Arraianas, explica as razões da manutenção desta tradição taurina em Aldeia da Ponte, sua terra natal: «O principal objectivo da Capeia da Páscoa, assim como de muitas outras, é proporcionar o convívio perfeito que estas realizações acarretam, seja na Páscoa, São Pedro, Agosto ou qualquer outra data que seja escolhida. Todos sabemos que onde há cornos, a malta comparece, seja em que Aldeia for. É a sina dos arraianos, que não querem deixar esmorecer a tradição».
No dia 7 de Abril, todos a Aldeia da Ponte!
plb

Costumo dizer que a capeia começa com o corte dos paus do forcão e termina dois ou três dias depois, da capeia propriamente dita, com o levantamento das estruturas e a limpeza da praça.

(clique nas imagens para ampliar.)

José Manuel Campos - Presidente Junta Freguesia Fóios - Capeia ArraianaHoje, último dia do ano, a rapaziada dos Foios foram cortar, carregar e transportar os paus de carvalhos que gentilmente o Ayuntamiento de Navasfrias se digna conceder-nos.
O Alcalde, Celso Ramos, autorizou e o Manolo, funcionário del Ayuntamiento, orientou o corte das árvores para que não se cometessem erros. Cortam-se os carvalhos, que estão mais juntos, e sempre de forma responsável e organizada.
Às nove horas portuguesas, mordomos, alguns familiares e alguns amigos estavam no local. Uns com as motosserras e outros, os mais fortes, dispostos a pegar nos carvalhos e carregá-los para o tractor.
Cerca de duas horas mais tarde os paus estavam no local do costume para dentro de um dois meses serem descascados.
Lá para Abril ou Maio os técnicos constroem o forcão e proporcionam mais um dia de excelente convívio.
VIVA A CAPEIA! VIVA A RAIA!
«Nascente do Côa», opinião de José Manuel Campos

(Presidente da Junta de Freguesia de Foios)
jmncampos@gmail.com

A inscrição da nossa Capeia Arraiana no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial foi um dos grandes acontecimentos concelhios de 2011.

Ramiro Matos – «Sabugal Melhor»Fortemente enraizada na cultura popular, em especial da parte raiana do Concelho, este é um fenómeno cultural que une a esmagadora maioria dos sabugalenses espalhados pelos quatro cantos do mundo.
Estiveram bem todos aqueles que, desde o primeiro momento, defenderam o seu reconhecimento nacional, mais um passo para afirmar a nossa identidade e diferenciação quer a nível sub-regional, quer a nível nacional.
Mas se este é um momento de alegria e de sentimento do dever cumprido, este é também um passo que desafia a nossa capacidade em afirmar este acontecimento único, sabendo responder à previsível maior atenção que todos lhe vão dar.
Quero com isto dizer que, não deturpando a «capeia», temos de encontrar novas formas de conjugar a pureza e a tradição, com formas inovadoras de captação de novos entusiastas.
É um desafio que toca todos, desde as Comissões Organizadoras de cada terra, às Juntas de Freguesia, à Câmara Municipal e à Casa do Concelho do Sabugal.
Não quero, até porque para isso não tenho competência, apontar caminhos, limito-me a alertar para esta nova realidade.
A Capeia Arraiana, não deixando de ser um dos mais importantes símbolos da «identidade sabugalense», passou a ser reconhecida por todos como Património Cultural Imaterial de Portugal.
Estou convencido que saberemos honrar esta distinção!

Ps: Sai esta crónica em vésperas de mais um Natal. Desejo a todos os que regularmente acedem a este Blogue umas ótimas festas na companhia dos seus.
«Sabugal Melhor», opinião de Ramiro Matos

rmlmatos@gmail.com

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