You are currently browsing the category archive for the ‘Cultura’ category.
«Feitura do carvão. Vi, claramente visto, o lume vivo.» Há cerca de oito dias o meu amigo Victor Fernandes, Presidente da Junta de Malcata, telefonou-me para me convidar a participar numa jornada que tinha a ver com a feitura do carvão, através da cepa da torga, ou canaveira, como por cá também se diz.
Fiquei, agradavelmente surpreendido, e logo comecei a orientar a vida de modo a que me fosse possível ir à simpática freguesia de Malcata onde somos sempre muito bem recebidos e bem estimados.
Cheguei por volta das 9.30 horas e alguém me disse que os «carvoeiros» já estavam para a serra. Fiquei um pouco embaraçado mas, de repente, apareceu-me o anjo salvador. O Rui Chamusco.
Passados dez minutos chegámos ao local onde cerca de duas dezenas de malcatanhos trabalhavam e outros iam servindo a jeropiga, dizendo que era para aquecer, já que o frio era mesmo de rachar.
Enquanto os mais entendidos iam retirando dos buracos o carvão que já estava feito e arrefecido outros circundavam uma outra fogueira onde estava a ser consumida uma grande quantidade de cepas.
Os mais entendidos iam ajeitando o lume de modo a que as cepas ficassem mesmo no ponto e, quando muito bem entenderam, começaram a escavar terra em volta do lume com a qual iam cobrindo e abafando as cepas que, por sua vez, se iam convertendo no apreciado carvão. Mas que arte, meus senhores! Sob o comando de um Senhor, já bastante maior, como dizem os espanhóis, mais dois ou três iam desenvolvendo as mais diversas tarefas também com as mais diversas ferramentas onde o enxadão é rei.
Já mesmo ao fim da manhã eis que chegava o Tó Peneira com o seu lustroso burro que havia de transportar as quatro sacas de carvão que estava pronto a ser consumido ou comercializado se fosse nos tempos de antigamente.
Por volta das 12.30 horas a maioria das pessoas chegavam à sede da associação onde já um grupo de voluntários e voluntárias tratavam do merecido almoço.
Logo que o burro foi descarregado chamaram todos os presentes para junto do balcão do bar poderem tomar um aperitivo. Num ambiente de pura e franca harmonia todas as pessoas bebiam e conversavam animadamente e o tema principal era mesmo o carvão.
Às 13.00 horas, tal como estava previsto, toda a gente se sentou à mesa onde foi servida carne em abundância acompanhada por um saborosíssimo arroz de feijão e couve que a Carla confeccionou. Parabéns, Carla, extensivos às outras moças que contigo trabalharam nas mais diversas tarefas.
Depois do café e copa e sob a orientação dos incansáveis – anfitriões – Vitor, Presidente da Junta e Rui Chamusco, Presidente da Associação, organizou-se o cortejo onde o burro, todo vaidoso, nos conduziu por várias ruas da Freguesia onde o acordeão do Rui e o pessoal dos bombos animaram toda a freguesia. Quem tem um Rui tem um Cristiano Ronaldo!
Confesso que fiquei maravilhado com esta festa do carvão que julgo ser merecedora de honras de televisão para que a ilustre e simpática Dina Aguiar pudesse divulgar através do seu muito apreciado programa «Portugal em Directo».
Mas para substituir as televisões – faltosas – surgiu o João Paulo e o irmão Tiago Cabral que com uma Câmara e uma máquina fotográfica fizeram um trabalho que prometeram meter em DVDs para que esta actividade possa ser divulgada porque, sinceramente, merece.
Parabéns a todos os malcatanhos quer tivessem ou não participado nesta inolvidável jornada!
Os nossos antepassados agradeceram.
«Nascente do Côa», opinião de José Manuel Campos
(Presidente da Junta de Freguesia de Foios)
jmncampos@gmail.com
«Poetando» é a coluna de Manuel Leal Freire no Capeia Arraiana, na qual aos domingos vai publicando poemas inéditos, cada um dedicado a uma aldeia do concelho do Sabugal. Este Município raiano, um dos maiores do País em termos de extensão territorial, tem 40 freguesias, algumas delas com anexas, sendo no total exactamente 100 (cem) o número das localidades do concelho do Sabugal. Nesta edição o escritor e poeta bismulense dedica um soneto a mais uma anexa da freguesia da Bendada: Trigais. No próximo domingo será editado o poema referente a outra freguesia do concelho: a Bismula.
TRIGAIS
Nas terras onde reina o rei centeio
O nome soará a falso toque
Esvaia-se, porém, todo o receio
No caso não há laivo de remoque
No tempo das carrejas, toque toque
As juntas sem repouso de permeio
Das searas às eiras em reboque
É palmo a palmo um caminho cheio
Um chão humoso em terras de fartura
Ali traçou o céu iluminura
Em plena Cova da Beira nos umbrais
O burgo é pequeno, mas que importa
Jamais alguém bateu em vão á porta
Sem que se abrisse a porta nos Trigais
«Poetando», Manuel Leal Freire
«Poetando» é a coluna de Manuel Leal Freire no Capeia Arraiana, na qual aos domingos vai publicando poemas inéditos, cada um dedicado a uma aldeia do concelho do Sabugal. Este Município raiano, um dos maiores do País em termos de extensão territorial, tem 40 freguesias, algumas delas com anexas, sendo no total exactamente 100 (cem) o número das localidades do concelho do Sabugal. Nesta edição o escritor e poeta bismulense dedica um soneto a mais uma anexa da freguesia da Bendada: Rebelhos. No próximo domingo será editado o poema referente à aldeias anexas desta freguesia que ainda falta: Trigais.
REBELHOS
Prefixo que reforça é sempre um re
Nenhum terá impacto que o vença
A condição imposta pelo se
E quando bem cumprida recompensa
Assim determinante como um de
O termo nos explica sem detença
Rebelhos e rebelde quando e se
O povo com razões se não convença
No mais sempre fiel aos seus desígnios
Os itens de seus votos consigne-os
Que são do povo os mais fiéis espelhos
Não quebram no trabalho e na amizade
O dito igual na praça e à puridade
Jamais traíu a gente de Rebelhos
«Poetando», Manuel Leal Freire
Martim Codax foi um poeta das Rias Bajas de Vigo que também o poderia ter sido dos picos de Xalma.
Escreveu Hugo Rocha, que foi no Porto ilustre crítico literário e não menos ilustrado membro da Academia Galega, que não se concebe facilmente nos dias de hoje o que teria sido um poeta do século XIII, como Martin Codax e os seus pares.
Pelo menos, não se concebe facilmente o que tenha sido um poeta votado a cantar e declamar urbi et orbe a sua poesia.
É certo que,muito antes dos trovadores, dos jograis, dos segreis da Idade Média, a Grécia da Idade Antiga teve os rapsodos que foram os divulgadores da poesia do seu tempo, os cantores e declamadores de então.
Mais perto de nós, os celtas tiveram os bardos e as valemachias gaulesas eram canções de amor levadas pelos bardos de terra em terra, como o haviam de fazer depois os jograis e menestreis da Idade Média.
A fantasia lírica dos escaldos fez das sagas escandinavas os cantos mais típicos do Norte. A Islândia do passado conheceu as edas. A poesia escandinava e inseparável das tradições runicas. As lendas caledónias poetizadas por Ossian tiveram os seus divulgadores populares.
Falar dos nibelungos, dos poemas do Rei Artur e da Távola Redonda é falar dos famosos minessingueres germânicos. O canto épico de Rolando, os poemas cíclicos de Carlos Magno, o romanceiro de Cid Campeador eram poesia declamada, cantada e estruturalmente acompanhada a música instrumental.
Sabe-se o que todos eles declamaram mas desconhece-se-lhes o canto.
Os registos musicais são muito mais difíceis de fixar, além de os acordes sofrerem o influxo transformador do meio – até do geográfico.
Efectivamente, dizem os entendidos, as czardas russas repercutem tanto as grandes estepes como o tango argentino se filia na sintonia do pampas.
Como entre nós, o cante alentejano se modela nos barros de Beja, o fandango estremenho nas pradarias do Tejo e Sado, o vira minhoto nas colinas ondeantes das arribas de Viana…
Não sabemos que toadas terá cantado Martim Codax.
Conhecemos-lhe já perfeitamente o trovar, a sua fusão idiossincrática com o mar de Vigo, as cantigas de amar e amigo:
Ondas do mar de Vigo
Si vistes meu amigo
E, ay Deus, se verra cedo
Ondas do mar levado
Se vistes meu amado
E, ay Deus,se verra cedo
Se vistes meu amigo
O por que eu suspiro
E, ay Deus, se verra cedo
Se vistes meu amado
Por que hei gran coidado
E, ay Deus, se verra cedo
Ay ondas que eu vin veere
Se me saberedes dicer
Por que tarda meu amigo
Sen min
Ay ondas que eu vin mirar
Se me saberedes contar
Por que tarda meu amigo
Sen min
Se tivesse vivido no Ribacoa, Martin Codax teria igualmente cantado o amor em cantigas de amigo.
Só que o estro sopraria da serra, que não do mar.
Mas a língua seria a mesma – um romanço com muito de charro.
«O concelho», história e etnografia das terras sabugalenses, por Manuel Leal Freire
Chegou às salas de cinema nacionais a quarta longa-metragem do realizador sabugalense Joaquim Sapinho intitulada «Deste Lado da Ressurreição». O filme teve a sua estreia mundial na selecção oficial do Festival de Cinema de Toronto no Canadá na secção Visions dedicada aos filmes que em cada ano contribuíram para a expansão das possibilidades poéticas do cinema.
Rafael (Pedro Sousa, campeão júnior de surf do Guincho) é um jovem surfista perdido no mundo, desenquadrado de tudo e de todos. Com uma grande violência interior, que se reflecte no seu corpo e na maneira como surfa, busca um sentido para a sua vida. E será ali, entre a praia do Guincho, o Convento dos Capuchos e a serra de Sintra, que vai finalmente encontrar o seu lugar…
«Deste Lado da Ressurreição» é a quarta longa-metragem de Joaquim Sapinho, depois de «Corte de Cabelo» (1995), «A Mulher Polícia» (2003) e «Diários da Bósnia» (2005). A película teve a sua estreia mundial na selecção oficial do Festival de Cinema de Toronto no Canadá, na secção Visions, dedicada aos filmes que, nesse ano, contribuíram para a expansão das possibilidades poéticas do cinema.
O filme foi escolhido como um dos dez melhores do ano na revista nova-iorquina «Film Comment» e teve antestreia nos EUA nas mais prestigiadas cinematecas do país: a Harvard Film Archive (Cinemateca da Universidade de Harvard) e Anthology.
Realizador: Joaquim Sapinho.
Argumento: Joaquim Sapinho, Mónica Santana Baptista.
Intérpretes: Pedro Sousa, Joana Barata, Pedro Carmo, Sofia Grillo, João Cardoso, Guilherme Garcia, Luís Castro.
Página oficial. Aqui.
jcl (com Rosa Filmes)
«Poetando» é a coluna de Manuel Leal Freire no Capeia Arraiana, na qual aos domingos vai publicando poemas inéditos, cada um dedicado a uma aldeia do concelho do Sabugal. Este Município raiano, um dos maiores do País em termos de extensão territorial, tem 40 freguesias, algumas delas com anexas, sendo no total exactamente 100 (cem) o número das localidades do concelho do Sabugal. Nesta edição o escritor e poeta bismulense dedica um soneto a mais uma anexa da freguesia da Bendada: Quinta do Ribeiro. Nos próximos domingos serão editados os poemas referentes às restantes duas aldeias anexas desta freguesia: Rebelhos e Trigais.
QUINTA DO RIBEIRO
Ribeira era a margem não o curso
Da água sussurrando desde a fonte
A abrir por entre fragas o percurso
Traçado pela linha do horizonte
Ribeiro sempre foi, haja quem conte
Com mais ciência ou menos recurso
O veio de água que, descendo o monte
Venceu os irmãos em leal concurso
Sem ambições jamais será um rio
Mas cumpre o seu dever com todo o brio
Mesmo em Outubro de ano sequeiro
Que melhor trova ou sonorosa loa
Do que esta que por aqui se entoa
Não há Quinta igual á do Ribeiro
«Poetando», Manuel Leal Freire
Dizia-me um amigo meu que as melhores histórias são as histórias de vida, as histórias contadas na primeira pessoa.
O livro que acaba de publicar a editora Verso da Kapa, de Patricia Lopes, tem por título Missão – diário de uma médica em Moçambique. É um livro enternecedor e apaixonante. Lê-se de um fôlego. Quando se começa, dificilmente se larga. Está salpicado de histórias comoventes e coloridas, eivadas de um verdadeiro ambiente africano, e estou convencido que cada um dos leitores não se importaria de ter acompanhado a Dra. Patrícia Lopes nas suas viagens de voluntariado ao norte de Moçambique, para partilhar o entusiasmo desta jovem pediatra que se empenhava de tal modo no tratamento das crianças e jovens doentes, a ponto de ter feito uma transfusão de sangue de si próprio para salvar a vida de um menino que estava condenado a morrer. Nota-se uma grande paixão pelo povo macua, tão cheio de tradições ancestrais que o protegem, mas que também o subjugam.
Na sua redoma lisboeta, sentia-se sufocada pelo ram-ram de um curso de medicina demasiado distante das pessoas doentes. Jovem e intuitiva, pressentia ser a África o melhor terreno para pôr em prática o saber acumulado dos estudos de pediatria. A medicina tropical iria estudá-la no terreno, com o seu olhar clínico sempre atento, corroborado com o saber acumulado das irmãs da congregação religiosa de S. João de Deus, em cujo convento a Dra. Patrícia se alojou durante o seu trabalho de voluntária num hospital pediátrico em Iapala.
Entre ir para a prestigiada universidade de Harvard, onde tinha sido selecionada e anuir a um apelo humanitário em África, que a atraía num desejo de servir e de curar crianças necessitadas e, ao mesmo tempo a repelia pelo seu imaginário de florestas atravancadas de animais selvagens, de insetos repelentes, de cobras venenosas, em cima dos cajueiros, e de perigos em todos os cantos, preferiu lançar-se generosa e abertamente à escuta de uma outra cultura, dar do seu melhor a um país que quase a enfeitiçou, aprendendo mais nas suas estadas de voluntariado do que em qualquer curso da melhor universidade americana.
É que o diagnóstico médico na África, e mais concretamente na civilização macua, não é apenas ciência médica, é também antropologia, semântica, sociologia, psicologia, uma autêntica abordagem multidisciplinar. E a Dra. Patrícia não iria aprender isso em Harvard. Inteligente como é, depressa percebeu que o diagnóstico não é só olho clínico, baseado no saber da medicina. É também antropologia, conhecimento das tradições. E nesta civilização têm um peso tremendo. Felizmente que lá estava a irmã Lurdes, com a experiência de largos anos em África – um autêntico livro aberto junto de quem a Dra. Patrícia tentava obter as explicações para compreender os comportamentos menos inteligíveis das pessoas que a vinham consultar. Claude Levi Strauss não saberia mais que aquela competente e boa irmã.
Com este livro, Patrícia Lopes recria um estilo literário muito intimista – o do Diário, que nos atrai e nos empolga, sem conseguirmos retirar os olhos de uma leitura apressada e viva, a fervilhar de imagens. Estamos ao lado da Patrícia, no hospital de Iapala, no norte de Moçambique, em plena savana, a muitas horas de viagem de Nampula, e não queremos sair de lá. Terminando o tratamento de um doente, temos logo vontade de acompanhá-la para partilhamos os sentimentos, as angústias em frente de outros doentes que só vêm ao hospital em último recurso.
São textos saborosos onde se ri ás gargalhadas, como aquele sobre uma jovem mamã que foi a Nampula fazer o registo de um filho recém-nascido e que não lhe aceitaram o nome. Disseram-lhe que não era um nome normal. Veio lamuriar-se às irmãs que a ouviam um pouco distraidamente. Curiosa, a Patrícia perguntou-lhe.
– Mas, afinal, qual era o nome que lhe queria dar?
– Padre Arlindo
Com esta, também nós nos escancarámos às gargalhadas com a Patrícia que, morta de riso, para não chocar a jovem mamã, deixou cair um brinco no chão para esconder a cara debaixo da mesa. Depois compreendera que o padre Arlindo tinha sido um missionário – categoria de pessoas muito importantes – que tinha ficado amigo do papá do bebé, quando trabalhava em Nampula.
Ou aquele em que descreve o calvário para reparar a prótese dentária que uma irmã tinha partido. Habituada ao desenrasque africano, a irmã acreditou que alguém lhe poderia valer, mesmo se o velho estomatologista indiano, a viver em Nampula há trinta anos, não dispunha do equipamento adequado. Por conselhos de uns e de outros, as irmãs e a Patrícia dirigiram-se em vão à garagem em frente do mercado, que dispunha de material para soldar e ao latoeiro que executava trabalhos minuciosos. Por fim, e em desespero de causa, aceitaram ir ao reparador de bicicletas e das câmaras-de-ar, ao senhor Castelo Branco, que a consertou com uma cola milagreira e a poliu de seguida com um pano de flanela mais negro que um tição ardido.
– Já está. Experimentar, irmã.
Gostava mesmo de lá estar para ver a cara da irmã que, depois de a ter limpo com a ponta dos dedos, sujeitou-se a metê-la na boca, mesmo em frente do senhor Castelo Branco. Trabalho perfeito pelas mãos de artista moçambicano que Deus dotou com tanto engenho, aprovado e elogiado pelo velho estomatologista indiano.
Neste livro, ri-se às gargalhadas, mas também se chora ao lado das mães desconsoladas que fazem quilómetros a pé com os filhos doentes embrulhados nas capulanas sobre as costas, depositando toda a esperança nesta jovem voluntária e dedicada que de vez em quando decidia interromper os estudos de pediatria, em Lisboa, para acudir à miséria infantil moçambicana.
Está de parabéns a Dra. Patrícia Lopes por este lindo livro onde se espelha a sua inteligência e dedicação pelos outros e a sua generosidade, a tal ponto de ter decidido entregar todo o produto dos direitos de autor à APARF – Associação Portuguesa Amigos de Raoul Follereau, que tem lutado contra a erradicação da lepra – flagelo de mutilação física e sobretudo moral, pois as pessoas afetadas por esta doença são degradadas da família e da comunidade em que vivem, consideradas como autênticas párias da sociedade.
Por isso e por tudo o mais, vale a pena ler e comprar o livro da Patrícia Lopes: Missão – diário de uma médica em Moçambique.
Joaquim Tenreira Martins
Soube da ausência (não da morte porque os poetas não morrem) de Manuel António Pina, na tarde de dezanove de Outubro. Foi um dia de Outono triste e cinzento. O céu chorava pequenas lágrimas de chuva nos breves instantes em que o dia se abraçava à noite.
Fiquei incrédulo com a notícia perante a ameaça de uma ausência que me fez fixar a imagem do poeta antes de buscar, no meu íntimo, o esforço suficiente para me convencer. Levantei, depois, o olhar ao céu, um céu frio e angustiado retalhado de nuvens de algodão sujo que, com a chegada da noite, se fazia mais escuro. Dir-se-ia que o luto se queria impor embrulhado na cor da noite. Vi, então, uma imensidão de sombras. Juraria que muitas delas eram sombras de livros que se espalhavam dispersos, desordenados entre as nuvens, como se tivessem caído de uma gigantesca estante. A poesia andava à solta no céu cinzento e o poeta teria partido em busca dela.
Não sei da razão pela qual preferi afastar-me desse momento para só agora tecer este comentário.
Não tive a sorte de conhecer pessoalmente Manuel António Pina embora a sua condição de sabugalense e de beirão/raiano provoque em mim sentimentos amalgamados e misticismos que se situam algures, lá entre o orgulho e o regozijo.
Leio e releio, com a frequência possível, Manuel António Pina. Li-o algumas vezes sofregamente. E sei, sim, que foi dramaturgo, cronista, jornalista e muito mais mas permitam-me que, para mim, ele seja sobretudo poeta, um poeta que desenhou casas com poesia e que me explicou que um livro nos fala com a nossa voz.
Nunca privei com ele, portanto, mas parece-me, neste momento em que escrevo, que o conheci muito bem. Sinto-me como se tivesse por ele (e tenho) uma imensa amizade.
Claro que não sei nem nunca soube explicar a amizade. Não a explico mas entendo-a e sei, absolutamente, o que ela é e quando existe.
O que seria do nosso mundo, tão adensado de estorvos, se não existisse a amizade e se o coração pudesse ser, tão só, um logro? O que seria de nós se a beleza pudesse ser, apenas, ilusão? Ora, a poesia de Manuel António Pina era, é e será eternamente bela. Eis, portanto, a razão pela qual o poeta não morreu nem morrerá. Apenas se ausentou.
Poderemos sempre sentir nos dedos o prazer de tatear as páginas dos seus livros. Poderemos sempre consultá-los antes e quando pretendermos interpretar mistérios. A sua poesia continuará a iluminar as nossas vidas. As suas palavras serão sempre armas com as quais lutaremos contra os escuros das nossas existências e serão, também, a promessa de um final valido nos nossos percursos.
Após a sua ausência, ainda que a noite caia, ainda que o escuro nos envolva e mesmo que o desânimo nos aflore significativamente a poesia de António Pina sempre nos alentará porque ela é e será inseparável das nossas vidas.
Escureceu, então, nesse final de tarde chorosa e outonal mas, apesar de indesejável, a notícia não foi definitiva. Nunca diremos adeus a Manuel António Pina. Será sempre um até à próxima leitura.
«Terras do Jarmelo», crónica de Fernando Capelo
O livro «Como se desenha uma casa», de Manuel António Pina, venceu a oitava edição do prémio de poesia Teixeira de Pascoaes.
O prémio literário foi criado pela Câmara Municipal de Amarante e a sua atribuição ao último livro de Manuel António Pina resultou de uma escolha entre 166 livros apresentados a concurso, de 159 autores.
A entrega do prémio, a título póstumo, está marcada para 15 de Dezembro, no auditório da Biblioteca Municipal Albano Sardoeira, em Amarante.
Manuel António Pina, poeta, escritor, jornalista, Prémio Camões em 2011, natural do Sabugal, faleceu no Porto a 19 de Outubro deste ano, com 68 anos.
O prémio Teixeira de Pascoaes, de periodicidade bienal, foi instituído em 1997, aquando da passagem dos 120 anos do nascimento do poeta de Amarante.
plb
«Poetando» é a coluna de Manuel Leal Freire no Capeia Arraiana, na qual aos domingos vai publicando poemas inéditos, cada um dedicado a uma aldeia do concelho do Sabugal. Este Município raiano, um dos maiores do País em termos de extensão territorial, tem 40 freguesias, algumas delas com anexas, sendo no total exactamente 100 (cem) o número das localidades do concelho do Sabugal. Nesta edição o escritor e poeta bismulense dedica um soneto a mais uma anexa da freguesia da Bendada: Quinta da Ribeira. Nos próximos domingos serão editados os poemas referentes às restantes três aldeias anexas desta freguesia: Quinta do Ribeiro, Rebelhos e Trigais.
QUINTA DA RIBEIRA
O mundo correm trovas cuja fama
Nos vem já não de anos mas milénios
Bem dormirá quem acha boa a cama
Quem tem sopros de fúria, enfim refrene-os
Há outros com doçuras de auriflama
Suaves como vinhos de Silénios
Bonança que em bonanças se recama
Desejos que não são alucigéneos
Viver á beira de água é um regalo
Quem se atreverá a denegá-lo
Não sei se haverá quem o não queira
Eleitos, pois, de Deus decerto são
Os que fora de um munto em confusão
Em paz vivem na Quinta da Ribeira
«Poetando», Manuel Leal Freire
Desde jovem aprendi a ver a Guarda e a admirá-la como uma cidade histórica, onde aquele D. Sancho do Foral, com ar de quem domina o espaço, a meus olhos enchia a Praça. Os arcos ao fundo, onde as lojas quase se escondiam do frio e acoitavam qualquer «estrangeiro» que ali passasse sem abrigo, faziam-me sentir acolhida como se a sua proteção me trouxesse conforto. Por tudo isto, eu estremecia sempre que me abeirava daquela Praça Imponente.

Depois, através da sua história, percebi como muitas verdades se podiam confirmar, pelo que ainda hoje, ir à Guarda é um passeio que me agrada, quase direi, me enche a alma. O clima é frio mas as pessoas são quentes e acolhedoras.
Homenageio o seu castelo que ficou para final entre os castelos de fronteira, não por descuido, mas por querer fechar com algum esmero «La Ruta de los Castilhos», do lado de cá, pois irei ponderar a hipótese de fazer uma busca aos castelos dos nossos vizinhos.
GUARDA
Ó Guarda se foste castro
De nome Lancia opidana
Dos Visigodos eras Warda
Teu castelo fiel guarda
Pela coragem que de ti emana.
Castelo em alvenaria de granito
Estilos românico e gótico são teus
Torre de Menagem no alto da colina
Torre Velha, isolada combina
Como se todas olhassem os céus.
A chamada Torre dos Ferreiros,
Apresenta planta quadrangular
E mostra quadros da paixão
Que quer queiramos quer não
Serve para a muralha recordar.
A Porta da Covilhã e a dos Curros
Provam seu longo existir
Pois entre elas a Rua Direita
Mostra-se caminhando perfeita
Para a todo o burgo servir.
No século XIII, Sancho I
Egitânia para aqui transferiu
Como diocese a vila revigorou
Em 1199 foral te doou
Foi isto que a pesquisa descobriu.
Iniciou vigoroso teu castelo
Que dominou a vila e a paisagem
O distinto e altivo torreão
Que de há tempos já cumpria missão
E Afonso II te fez torre de Menagem.
D. Dinis, Fernando e João
Retocam-te e te fortalecem
Torre Ferreiros, Covilhã também
Porta da Erva, como à época convém
De que muitos traços qu’ainda prevalecem.
No séc. XIV muitas portas existiam
Mas em XIX, as muralhas são benefícios
Alguns troços de muralhas demolidas
As suas pedras dali subtraídas
Para a construção de edifícios.
Em 10 Foste Monumento Nacional
Mas a demolição continuou
Em 40 houve restaurações
Até 21 mais remodelações
Pelo que a Torre dos Ferreiros vingou.
Mais lembro que na vila da Guarda
O Tratado de Alcanizes foi planeado
Em século XIII, seus finais
E apesar de aqui deixar pouco mais
Deixo seu castelo homenageado.
E nessa homenagem deixo também o meu abraço às suas gentes.
«O Cheiro das Palavras», poesia de Teresa Duarte Reis
netitas19@gmail.com
A Direcção e o Conselho de Administração da Sociedade Portuguesa da Autores (SPA) decidiram atribuir, a título póstumo, a Medalha de Honra da cooperativa ao poeta, jornalista, cronista e dramaturgo sabugalense Manuel António Pina, recentemente falecido.
Manuel António Pina era beneficiário da SPA desde 1978 e seu cooperador desde 1985. Na nota inserta no seu sítio da Internet, a SPA destacou a importância da obra literária multidisciplinar e de invulgar qualidade do escritor e jornalista.
Manuel António Pina faleceu no dia 19 de Outubro, no Hospital de Santo António, no Porto, a um escasso mês de completar 69 anos, vitimado por um cancro.
O Prémio Camões, atribuído no ano passado, foi o maior galardão que o autor sabugalense recebeu, mas as manifestações e os prémios de reconhecimento sucederam-se a um título vertiginoso, dando mérito à sua obra literária.
Na sequência da sua morte o Presidente da República, Cavaco Silva, lamentou a perda de um autor que «ficará para sempre na memória dos leitores como um dos grandes poetas da sua geração».
plb
«Poetando» é a coluna de Manuel Leal Freire no Capeia Arraiana, na qual aos domingos vai publicando poemas inéditos, cada um dedicado a uma aldeia do concelho do Sabugal. Este Município raiano, um dos maiores do País em termos de extensão territorial, tem 40 freguesias, algumas delas com anexas, sendo no total exactamente 100 (cem) o número das localidades do concelho do Sabugal. Nesta edição o escritor e poeta bismulense dedica um soneto a uma anexa da freguesia da Bendada: Quinta do Monteiro. Nos próximos domingos serão editados os poemas referentes às demais quatro anexas desta freguesia: Quinta da Ribeira, Quinta do Ribeiro, Rebelhos e Trigais.
QUINTA DO MONTEIRO
Monteiro é nome de altas honrarias
Assim o rezam velhos cronicões
Cantando fragorosas montarias
Romances velhos, trovas de truões
Com tanta fama só as romarias
Vivência funda a fé das multidões
Além o corpo mostra bizarrias
Aqui a alma pias intenções
Conforme se ilustra ou não a crónica
Pois cada um lhe apõe a sua tónica
História e lenda, fluído verdadeiro
Quem vem certificar-nos a verdade
Registo batismal e identidade
Da razão deste nome de Monteiro
«Poetando», Manuel Leal Freire
O filme português «Linhas de Wellington», realizado pela chilena Valeria Sarmiento, é a sugestão cinéfila do Teatro Municipal da Guarda TMG para a próxima terça-feira, dia 30 de Outubro. O filme passa às 21h30 no Pequeno Auditório.
Trata-se de uma reconstituição do ambiente histórico das invasões francesas protagonizada por John Malkovich, IsabelleHuppert, Nuno Lopes e Soraia Chaves. Parte das filmagens desta longa metragem decorreram no distrito da Guarda, mais precisamente em Folgosinho.
Sobre a história, tudo começa em 27 de Setembro de 1810, quando as tropas francesas comandadas pelo marechal Massena, são derrotadas na Serra do Buçaco pelo exército anglo-português do general Wellington. Apesar da vitória, portugueses e ingleses retiram-se a marchas forçadas diante do inimigo, numericamente superior, com o objectivo de o atrair a Torres Vedras, onde Wellington fez construir linhas fortificadas dificilmente transponíveis. Simultaneamente, o comando anglo-português organiza a evacuação de todo o território compreendido entre o campo de batalha e as linhas de Torres Vedras, numa gigantesca operação de terra queimada, que tolhe aos franceses toda a possibilidade de aprovisionamento local. É este o pano de fundo das aventuras de uma plêiade de personagens de todas as condições sociais – soldados e civis; homens, mulheres e crianças; jovens e velhos – arrancados à rotina quotidiana pela guerra e lançados por montes e vales, entre povoações em ruína, florestas calcinadas, culturas devastadas.
Estreia da trilogia de curtas musicadas
A 3 de Novembro, o TMG apresenta em estreia absoluta «Cine-concerto 2 [trilogia de curtas-metragens com música ao vivo]». Três filmes vão ser musicados ao vivo, no Pequeno Auditório, às 21h30: «A Propósito de Nice», de Jean Vigo será musicado por Miguel Cordeiro; «The Blacksmith» de Buster Keaton terá a paisagem sonora de César Prata e «Überfall» de Ernö Metzner será musicado por Luís Rolo. Os três são músicos da Guarda.
Sobre as curtas e os músicos, «A Propósito de Nice» é considerada pelos cinéfilos como uma espécie de «sinfonia de uma cidade», a curta constituiu um marco na história do documentário e catapultou o seu realizador, Jean Vigo para o panteão dos grandes cineastas da primeira metade do século XX. Miguel Cordeiro, é o músico que vai dar som a esta curta. Estudou piano e Jazz no Taller de Música de Barcelona e na escola do Hot Club Portugal. Concluiu em 2011 o mestrado de «composição para cinema e audiovisuais».Actualmente dedica-se à composição de música para imagem.
Já «The Blacksmith» é curta-metragem de excelência artística de Buster Keaton, «o cómico que nunca ri», num exemplo de extraordinária capacidade humorística sem recurso a uma única palavra. Esta curta vai ser musicada por César Prata, o músico dos sete instrumentos e mentor de vários projectos musicais como Chuchurumel, Assobio ou as Canções do Ceguinho. O músico já compôs também para teatro e cinema.
E a finalizar a noite, «Überfall», considerada uma das grandes obras vanguardistas do cinema mudo alemão; um filme de grande poder visual e que será musicado ao vivo por Luís Rolo, músico dado a sonoridades electrónicas que já integrou projectos como Dual Tone (com António Louro), um projecto que misturava a electrónica com o hip-hop.
Noiserv em concerto
Na quarta, dia 31 de Outubro, o projecto Noiserv, de David Santos, volta ao TMG, desta vez ao Pequeno Auditório. O concerto está marcado para as 21h30.
Noiserv tem vindo a afirmar-se como um dos mais criativos e estimulantes, de entre os surgidos em Portugal na última década. O seu percurso tem sido marcado pela criação de peças musicais de um minimalismo capaz de atingir cada individuo na sua intimidade, relembrando-lhe vivências, momentos e memórias intrincadas entre a realidade e o sonho, e por concertos de elevadíssima intensidade, nos quais o público é suspenso a partir de uma teia sonora, criada por um vasto leque de instrumentos inusuais.
Criado em meados de 2005, Noiserv ganhou forma quando David Santos decide gravar algumas ideias numa demo, meses mais tarde esses 3 temas são editados on line, na netlabel Merzbau. Já em 2008 Noiserv edita o seu primeiro longa-duração, “One Hundred Miles from Thoughtlessness”, disco incrivelmente bem recebido pelo público, pela imprensa e crítica, e que actualmente esgotou a sua terceira edição.
Logo a seguir ao concerto de Noiserv o TMG promove no CC uma Noite Mexicana inspirada no Dia de Los Muertos.
Dia de los Muertos [Noite mexicana]
A tradicional festa mexicana dedicada aos defuntos, o «Dia de Los Muertos» serve de pretexto para uma Noite Mexicana no Café Concerto (CC), na próxima quarta-feira, dia 31 de Outubro, logo a seguir ao concerto de Noiserv no Pequeno Auditório do Teatro Municipal da Guarda.
O TMG vai exibir no CC várias curtas-metragens de animação inspiradas no Dia de Los Muertos:
«Viva Calaca 1» de Ritxi Ostáriz, «The Skeleton Dance» de Ub Iwerks, «Hasta los Huesos» de René Castillo, «Viva Calaca 2» de Ritxi Ostáriz e «Skeleton Frolic» de Ub Iwerks. Pela noite dentro haverá preços especiais para as bebidas mexicanas: Mescal, Tequila, Margarita e Cerveja Corona, sempre ao som de música Mexicana. Serão ainda sorteados pelo público presente três vouchers; cada um deles dará acesso a três espectáculos do TMG, a saber: o teatro “Édipo” pela Companhia do Chapitô, o espectáculo transdisciplinar «Pi_add(a)forte» e o concerto da jovem fadista Cuca Roseta.
Tudo boas razões para sair de casa e aproveitar a véspera de feriado no Teatro Municipal da Guarda!
A Música de «Abztraqt Sir Q» no CC
No próximo dia 2 de Novembro (sexta), a Quarta Parede – Associação de Artes Performativas da Covilhã e o TMG apresentam no Café Concerto o espectáculo de música «Abztraqt Sir Q».
«Abztraqt Sir Q» são um grupo de músicos cujos destinos se cruzaram no Extremo Oriente. Auto intitulam-se: «Andy Newman, o baterista pedante. Egon Crippa, o baixista esquivo. Dichma Rahma, a vocalista inconstante. Peter Shuy, o guitarrista neurótico». Fechados no seu próprio mundo, o Xing Palace Place e o seu magnífico jardim, desconstroem canções e deixam-se embalar pela cacofonia. Inventam-se dialectos, reinventa-se a ortografia, subverte-se a fonética, recusam-se as convenções. Não procuram o óbvio mas acabam por encontrá-lo.
O concerto está marcado para as 22h00 e tem entrada livre.
plb (com TMG)
«Poetando» é a coluna de Manuel Leal Freire no Capeia Arraiana, na qual aos domingos vai publicando poemas inéditos, cada um dedicado a uma aldeia do concelho do Sabugal. Este Município raiano, um dos maiores do País em termos de extensão territorial, tem 40 freguesias, algumas delas com anexas, sendo no total exactamente 100 (cem) o número das localidades do concelho do Sabugal. Nesta edição o escritor e poeta bismulense dedica um soneto à freguesia sulista do concelho: a Bendada. Nos próximos domingos serão editados os poemas relativos às cinco anexas da freguesia: Quinta do Monteiro, Quinta da Ribeira, Quinta do Ribeiro, Rebelhos e Trigais.
BENDADA
O nome com sonâncias de benesse
Reflete desde logo pia obra
Aquele que bem dá certo merece
Ainda que só dê o que lhe sobra
Os donativos valem como prece
Ou mais até quando a fé redobra
Ou quem dando oferta o que carece
Os ceitis da viúva Deus desdobra
Registos são prenúncios de um futuro
Premarca o nascimento o nascituro
Traçando o roteiro que lhe agrada
A pia batismal aqui no caso
Marcou um horizonte sem ocaso
Lançando suas bençãos á Bendada
«Poetando», Manuel Leal Freire
A Câmara do Sabugal vai requalificar a Praça da República, arrancando os cotos das árvores que cortou em redor do chafariz, plantando de seguida, ao que parece, uns medronheiros.

Assim como assim, a República já anda de «penas para o ar»…
O crime de cortar as árvores, já não pode a Câmara repará-lo. Como dizia o Manuel António Pina, no prefácio de um livro sobre o mundo das árvores, elas «são seres silenciosos que, a nosso lado, partilha quotidianamente a mesma única vida, a sua e a nossa vida. Mas damos por elas, as árvores, tão comum e familiar é a sua antiquíssima presença perto de nós, e tão anónima. A maior parte das vezes pouco mais somos capazes de dizer do que “árvores”, porque também as nossas palavras se foram, pouco a pouco, tornando silenciosas. E, no entanto, cada árvore, como cada um de nós, é um ser absoluto e irrepetível, idêntico e apenas mutuamente a si mesmo, uma vida única com uma história única, um passado para sempre atado, de forma única, ao nosso próprio passado».
Mas pode muito bem, se quiser emendar a mão, minimizando o estrago, da forma como passo a explicar:
Manuel António Pina teve uma ligação afectiva com aquele largo, aquelas árvores e aquele chafariz que se situa bem defronte da casa onde nasceu, como podem testemunhar algumas pessoas que com ele privaram na intimidade e ouviram histórias das suas brincadeiras naquele largo.
Numa recente entrevista o Manuel A. Pina manifestou a sua gratidão por ter sido lembrado e agraciado pela câmara da sua terra natal, terra essa a quem o ligava um profundo afecto, testemunhado nessa mesma entrevista.
Na TSF, por ocasião da morte do poeta, Francisco José Viegas, Secretário de Estado da Cultura e amigo do poeta, que sabia da paixão daquele por gatos e árvores, sugeriu que em nome do poeta maior, que desapareceu, devia ser plantada uma árvore.
A árvore que mais associada está ao poeta, por estar no seu quintal, é a macieira, conforme refere o poeta num poema do seu livro «Como se desenha uma casa»:
Anoiteceu, apagamos a luz e, depois,
como uma foto que se guarda na carteira,
iluminam-se no quintal as flores da macieira
e, no papel de parede, agitam-se as recordações.
Porque não dá a câmara ao Largo o nome do poeta e planta em redor da fonte umas macieiras?
É coisa simples de fazer, homenageava-se um homem bom e excelente poeta da terra, e ouro sobre azul, apagava-se a burrice feita!
«Arroz com Todos», opinião de João Valente
joaovalenteadvogado@gmail.com
Em homenagem ao escritor sabugalense Manuel António Pina, falecido esta sexta-feira, 19 de Outubro, transcrevemos, com a devida vénia, um excerto da entrevista que em 2009 Pedro Dias de Almeida, editor de cultura da revista Visão fez ao escritor sabugalense, dias antes do mesmo se deslocar ao Sabugal, onde foi homenageado pela Junta de Freguesia, descerrando uma placa na casa onde nasceu. A entrevista seria depois publicada na revista cultural Praça Velha, editada pela Câmara Municipal da Guarda.

«- Há vários temas recorrentes no teu discurso poético. Um deles é a infância. E, às vezes, associada à infância aquela ideia do regresso…
– A casa. É engraçado, e agora vou lá ao Sabugal, à primeira casa de todas…
– E perguntava-te se quando falas nisso há uma casa concreta na tua cabeça, uma casa a que sempre voltas…
– Lá do Sabugal pediram-me um verso para pôr lá na placa, na casa. Encontrei vários versos que falam nisso mas nenhum que servisse para pôr lá, eram todos muito grandes. Em alternativa propus-me ler alguns poemas que falam da casa, do regresso a casa. Mas… Não há nenhuma casa concreta, de facto. A casa é a origem, é a morte. Tenho um livrinho pequenino que se chama Um Sítio Onde Pousar a Cabeça, e a casa é também isso, o sítio onde pousar a cabeça. Isso em termos mais gerais. Agora, em termos mais particulares: eu tive uma vida… saí de lá do Sabugal, descobriram agora, com seis anos… eu não me lembro. O meu pai tinha uma profissão – era chefe de finanças, que acumulava com juíz das execuções fiscais – que estava abrangida pela lei do sexanato, só podia estar seis anos em cada terra. A ideia era mesmo não deixar criar raízes, amigos, influências, essas coisas. Como na altura não havia escolas e liceus em todo o lado, o meu pai começava a pensar mudar logo ao fim de três ou quatro anos para sítios onde houvesse ensino para mim e para o meu irmão… No sítio onde gostou mais de estar, que foi na Sertã, a situação arrastou-se, arrastou-se, e ao fim de seis anos foi mandado para os Açores, para Santa Cruz da Graciosa, mas como eu sofria dos pulmões conseguiu mudar… Para mim, tudo isto teve uma consequência: era uma situação quase de Sísifo, estava sempre a fazer amigos e a desfazê-los, e a fazê-los de novo com a consciência que eram para ser desfeitos, a estabelecer relações sabendo que iam acabar ao fim de três ou quatro anos. Os amigos mais antigos que eu tenho são aqui do Porto, de quando cheguei, aos 17 anos. E aqui, como havia vários bairros fiscais, o meu pai ia mudando de bairro.
– Mas quando falas de casa nos teus poemas da infância, nunca é essa casa do Sabugal? Não tens nenhuma recordação dela?
– Tenho… Mas agora confundo porque já lá voltei uma vez. A senhora que comprou a casa dos meus pais convidou-me uma vez a entrar. Tinha umas memórias assim muito obscuras. Ainda tenho uma espécie de melancolia por andar sempre assim a mudar de casa… Mas tenho memórias, claro. Lembro-me de alguns nomes de miúdos, mas não tenho amigos da escola primária. Fiz a primeira classe em Castelo Branco, a 2ª, 3ª e 4ª na Sertã, o 1 º ano de Liceu em Cernache do Bom Jardim, depois Santarém, o 3º outra vez em Cernache, o 4º em Oliveira do Bairro, o 5º e 6º em Aveiro, e o 7º é que já fiz aqui no Porto. Eu detesto viajar. Uma vez estava em Bordéus, fizeram-me uma entrevista e a jornalista disse-me “se calhar não gosta de viajar por ter andado tanto de terra em terra”, e eu tomei consciência disso, que se calhar é verdade… O melhor das viagens, para mim, é o regresso. Quando chego ao Porto, quando sei que atravessei a fronteira… Digo num poema meu: “O ideal é não nos afastarmos da casa mais do que nos permite metade das nossas forças”, que é para regressarmos. E falo também de “ver sempre ao longe a cor do nosso telhado”. O meu percurso biográfico sublinhou essa melancolia em relação às origens, à casa… Esta homenagem no Sabugal até me permite o reencontro com uma casa concreta, com raízes concretas… Na verdade, nunca tive raízes em parte nenhuma.
– Mas nasceste ali, naquela casa.
– Nasci ali, sim, naquela casa. E a minha memória mais antiga que tenho é do Sabugal. Tenho duas memórias muito antigas. Uma é muito vaga… Estas memórias não sabemos se fomos nós que as construímos, ou… Como aquela frase do William James: “A memória é uma narrativa que nós vamos construir com aquilo que desejamos e com aquilo que tememos”…
– E tu escreveste: “Por onde vens passado, pelo vivido ou pelo sonhado?”…
– Pois é. Anda tudo muito misturado. Não sei se foi a minha mãe que me contou… Como diz também o William James, nós não nos lembramos do passado, lembramo-nos da última vez que nos lembrámos. E quem se lembra de um conto, aumenta um ponto, ou diminui um ponto. Vamos construindo sempre uma narrativa… Mas esta eu sei que me lembro mesmo. A memória mais antiga que eu tenho é numa fonte de mergulho, eu devia ter uns três ou quatro anos – e ainda lá está essa fonte, eu já contei isto à senhora que está agora lá na casa, a Natália Bispo. Para mim essa fonte era muito grande, mas agora já verifiquei que é pequenina. Numa fonte de mergunho a água não corre, as pessoas apanhavam a água mergulhando um balde. Nesta minha memória estou com um chapéu de palha e há um miúdo qualquer que pega no meu chapéu de palha, atira-o à água, e vai-se embora. E eu não fui apanhar o chapéu, por orgulho, porque achava que era uma injustiça, ele é que devia ir… Ele não foi, e eu também não fui. Cheguei a casa sem o chapéu de palha e, deve ter sido muito traumatizante para ainda me lembrar, cheio de medo de ser castigado… E estava lá a minha mãe, com a melhor amiga dela, a Ti Céu. Lembro-me da minha mãe me ralhar e me dizer para ir lá buscar o chapéu, e eu dizer ‘não vou, não vou, não vou’, e a minha Ti Céu (que não era mesmo minha tia) é que acabou por ir lá buscar o chapéu. E deu-mo, molhado e tudo. Estava cheio de medo, mas não fui castigado. E tenho uma memória mais antiga, de que julgo que me lembro vagamente: estou sentado numa daquelas cadeiras altas, preso, porque era uma daquelas cadeiras para dar comida às crianças, e a casa está a arder. Isso aconteceu de facto. Tenho uma memória disso, foi aflitivo, pelos vistos. Não me lembro da casa a arder, na minha memória é fumo. E eu, ou esse de quem eu me lembro, está muito aflito, porque está amarrado, não consegue sair da cadeira… A minha mãe estava a dar-me de comer e, ao mesmo tempo estava a aquecer água num daqueles fogareiros a petróleo para dar banho ao meu irmão, 15 meses mais novo do que eu. O meu irmão começou a tentar dar à bomba do tal fogareiro e a água a ferver caiu para cima dele. Ele gritou e a minha mãe foi a correr para a cozinha, pensou que ele ia ficar cego. Pegou nele e desceu as escadas a correr, não sei para onde, para o hospital, para um médico qualquer… O fogareiro caiu e incendiou a casa, a cozinha começou a arder. Estes pormenores contou-me a minha mãe, depois. Eu estava lá sozinho, preso, e foi uma vizinha que viu a minha mãe a sair aos gritos de casa, e viu depois o fumo, que foi lá buscar-me. Só me lembro da parte do fumo e de ficar sozinho e cheio de medo, com a minha mãe a sair de casa aos gritos… As memórias que tenho dessa casa são essas. Depois tenho umas memórias obscuras de escadas, talvez por isso é que falo tanto de escadas, de corredores…
– Um portão velho…
– O portão velho de que falo mistura-se com outras casas, com a de Oliveira do Bairro, provavelmente… Havia o tal portão em ruínas, nas traseiras, por onde eu saía para ir apanhar o comboio para Aveiro, tinha uma ameixieira, e o tal portão velho de madeira… Mas misturam-se umas casas com as outras, a verdade é essa.
– O teu lugar da infância são lugares, vários lugares, não o associas ao Sabugal…
– São lugares, sim. Essa coisa do regresso a casa é tão importante para mim, que um dos meus pesadelos infantis era eu ir para a escola – nessa casa da Sertã, em que eu tinha que atravessar a rua para ir para a escola – e a certa altura começava a passar um comboio na rua que não me deixava voltar para casa… Esse comboio era um comboio eterno, sempre a passar, a passar, a passar; eu estava do lado de cá e havia esse comboio entre mim e a casa… Por isto tudo é que a casa aparece muito nos meus poemas. Casa. Mãe. Muito associada à infância, sim…
– Também falaste logo de morte, há pouco, a propósito da casa…
– Tem que ver, tem que ver… A morte também é uma mãe, é maternal, é um sossego. Sai-se do ventre da mãe e entra-se no ventre da terra, não é? Tem essa coisa de acolhimento, de serenidade, de tranquilidade. De regresso. É uma coisa engraçada: desde miúdo sempre tive uma noção circular de tudo. Concebia o mundo sempre numa estrutura circular. Havia uma frase engraçada que a minha mãe me dizia, e sei onde foi, foi em Castelo Branco, tinha eu 6 ou 7 anos, ou menos… Lembro-me de querer ir para a rua e a minha mãe não me deixar… [Pausa] Acho que eles estão enganados, eu devo ter saído do Sabugal com 4 anos, não foi com 6, porque ainda não dizia ‘érre’ dizia ‘éle’… Vivíamos nessa altura na casa do Bairro do Cansado e antes tinhamos vivido no bairro do quartel. Os meus pais viviam com bastantes dificuldades económicas, até arrendavam quartos, na primeira casa esteve lá um sargento, do quartel em frente. Tenho duas memórias dessa casa, também… E acho que é a primeira vez que estou a contar isso a alguém, normalmente ocorrem-me quando estou sozinho. Uma: um dia o sargento trouxe-me um pássaro que ele achou; eu andava excitadíssimo com o pássaro mas ele fugiu, deixei fugir o pássaro e fiz uma gritaria, queria o pássaro… Ali fiquei à janela com uma grande raiva ao pássaro por me ter abandonado. E lembro-me da frase do sargento: ‘Não te preocupes, logo te trago outro’ e de eu responder ‘não quero outro, quero aquele! Vamos lá buscá-lo de avião!’. Queria ir apanhá-lo de avião… Essa é uma. A outra memória tem a ver com a tal noção circular do universo. Lembro-me de a minha mãe não me deixar ir para a rua, para a ‘lua’, como eu dizia, e de eu dizer assim: “Ai, não deixas? Vais ver que quando tu fores filha e eu for mãe, também não te vou deixar!” A vida circular, lá está. Afinal ainda tenho outra memória, traumatizante… Os meus pais viviam com muitas dificuldades económicas, num andar, e um dia fui a casa da vizinha de cima e vi uma nota de 20 escudos, que em 1947 ou 1948 era muito dinheiro, em cima da mesinha de cabeceira. E roubei-os. Nunca falei disto, também…
– Então é uma grande confissão, agora…
– Não faz mal, já prescreveu… [risos]. Roubei-os para os dar aos meus pais, porque estava sempre a vê-los a discutirem por causa das despesas, porque não havia dinheiro… Aquilo afligia-me muito. Peguei nos 20 escudos e levei-os à minha mãe. Ela perguntou-me onde é que eu os tinha arranjado, e eu lá acabei por contar… E ela então obrigou-me a ir pôr o dinheiro outra vez lá em cima. Eu, claro, não queria ir, com medo de ser apanhado, encontrar a vizinha. Castigaram-me, e eu já estava a chorar desesperado, quando a minha mãe me disse “vai lá descansado que eu tenho a certeza que ela não está, nunca saberá”. Lá fui pôr o dinheiro no sítio onde estava e voltei para casa a correr. Soube depois que ela disse à vizinha para sair dali, para se esconder, para ir lá eu e aprender a lição. São estas as minhas primeiras memórias. As coisas mais traumatizantes que tive…
(…)»
A Câmara Municipal da Guarda aprovou na reunião desta segunda-feira, dia 22 de Outubro, um voto de pesar pela morte do escritor sabugalense Manuel António Pina.
O texto aprovado considera o poeta «um dos nomes maiores da Poesia e da Cultura em Portugal» e «grande intérprete da realidade social e interventor crítico e lúcido».
«Manuel António Pina deixou-nos uma obra vasta, que se reveste de sensibilidade, emoção e ironia. Enquanto pessoa e enquanto beirão, mereceu-nos a maior admiração e deixa-nos um sentimento de perda e de enorme saudade», lê-se ainda na deliberação aprovada pela Câmara.
A Guarda homenageara Manuel António Pina no final de 2009, através de um ciclo de iniciativas a que deu o nome do escritor. ainda em sua homenagem criou, nesse ano de 2009, um prémio literário, que todos os anos galardoa um trabalho de poesia e de prosa, alternadamente.
plb
Recebemos do nosso colaborador José Carlos Mendes esta pequena nota com o título em epígrafe, colhida de um jornal de hoje, em homenagem a Manuel António Pina no dia do funeral deste ilustre sabugalense. Publicamo-la, associando-nos à saudade de um homem bom e amigo da cultura.
Para lá de D. Januário Torgal, que presidiu às cerimónias desta manhã (domingo), estiveram na igreja de Nossa Senhora da Boavista, no Porto, e no funeral «várias gerações de jornalistas, a maior parte deles do Jornal de Notícias (a “casa” jornalística de Pina), políticos, como Miguel Cadilhe (PSD), Braga da Cruz e Manuel Pizarro (PS) e Honório Novo (PCP), e personalidades da vida pública portuguesa marcaram presença no funeral».
A nota é do ‘Público’ e a foto também / Luísa Ferreira.
Ou seja: o nosso conterrâneo, afinal, juntou na despedida mais apoios do que o Governo.
José Carlos Mendes
Faleceu na tarde desta sexta-feira, 19 de Outubro, no Hospital de Santo António, no Porto, onde estava internado desde o início do Verão, o escritor e jornalista sabugalense Manuel António Pina.

MANUEL ANTÓNIO PINA era jornalista, cronista, escritor, poeta, dramaturgo, actividades em que se notabilizou.
Nasceu no Sabugal em 18 de Novembro de 1943 e viveu a infância numa constante mudança de lugar, passando nomeadamente pela Sertã e Oliveira do Bairro, para depois se fixar no Porto. O pai era chefe de Finanças, cargo que acumulava com o de juiz das execuções fiscais, pelo que não podia estar mais do que certo tempo em cada terra, por imposição legal. Recordará sempre esse tempo da infância e adolescência como a época em que fazia amigos num lugar, que depois perdia para refazer novas amizades noutro local distante.
Após os estudos secundários, concluídos no Porto, licenciou-se em Direito, na Universidade de Coimbra, onde para além de estudar trabalhava para garantir a independência financeira. Embora cursasse Direito gostava mais e frequentar as aulas de Literatura, sobretudo as dos mestres Paulo Quintela e Vítor Aguiar Silva. Mesmo assim, seguiu Direito e, concluído o curso, foi advogado durante algum tempo, porém já escrevia no Jornal de Notícias desde 1971 e o apelo da escrita foi sempre mais forte.
No jornalismo notabilizou-se pela crónica, que, para ele é uma espécie de meio caminho entre o jornalismo e a literatura. No Jornal de Notícia, ao qual se manteve sempre ligado, ocupou o cargo de editor cultural, mantendo uma permanente ligação aos aspectos literários. Nas horas vagas poetava e escrevia contos infanto-juvenil, fazendo um percurso de escritor, onde sobretudo se notabilizaria, recebendo o reconhecimento do seu mérito com a atribuição de inúmeros galardões, entre os quais o Prémio Camões no ano 2011.
A sua poesia, algo hermética, foi sempre marcada por uma espécie de nostalgia, traduzida num sucessivo jogo de memórias entre a infância (parte dela passada no Sabugal) e o quotidiano. Os poemas de Pina são igualmente marcados pela inquietação e a melancolia, tocando por vezes no paradoxo. Nada do que escrevia ou pensava era definitivo, quando lhe perguntaram (JL, 31/10/2001) se fazia alterações aos seus poemas antigos quando os reeditava, respondeu que não, porque de certa forma um texto antigo, escrito por ele e editado, já não lhe pertencia: «quando leio textos que escrevi há algum tempo, tenho a sensação que não foram escritos por mim. E, de facto, foram escritos por outra pessoa, por aquele que eu era.» Esta mutação do ser que somos com o evoluir do tempo é explicada de forma comparativa: «A Ilíada é um dos meus livros de referência. Li-a pela primeira vez quando era jovem e a que leio hoje não é a mesma que li, nessa altura. Porque eu próprio já sou diferente. Os cabalistas dizem que há tantas bíblias quantos leitores da Bíblia. Eu acho que há mais, tantas quantas as leituras.»
Como escritor, foi autor de vários títulos de poesia, novelas, textos dramáticos e ensaios, entre os quais: em poesia – Nenhum Sítio, O Caminho de Casa, Um Sítio Onde pousar a Cabeça, Algo Parecido Com Isto da Mesma Substância; Farewell Happy Fields, Cuidados Intensivos, Nenhuma Palavra e Nenhuma Lembrança; em novela – O Escuro; em texto dramático – História com Reis, Rainhas, Bobos, Bombeiros e Galinhas, A Guerra do Tabuleiro de Xadrez; no ensaio – Anikki – Bóbó; na crónica – O Anacronista; e, finalmente, na literatura infantil – O País das Pessoas de Pernas para o Ar, Gigões e Amantes, O Têpluquê, O Pássaro da Cabeça, Os Dois Ladrões, Os Piratas, O Inventão, O Tesouro, O Meu Rio é de Ouro, Uma Viagem Fantástica, Morket, O Livro de Desmatemática, A Noite.
Embora afastado da sua terra natal desde menino, Manuel António Pina afirmava com orgulho ser sabugalense. Em 4 de Abril de 2009 a Junta de Freguesia do Sabugal homenageou-o colocando na casa onde nasceu uma placa com a seguinte epígrafe: «Nesta casa nasceu o escritor e jornalista Manuel António Pina»
Em 2010 a Câmara Municipal da Guarda, criou, em homenagem a Manuel António Pina, um prémio literário com o seu nome, que distinguirá anualmente, e de forma alternada, obras de poesia e de literatura. Ainda em homenagem ao escritor sabugalense realiza-se na Guarda um ciclo cultural repleto de actividades.
Em 10 de Novembro de 2011, no ano em que foi galardoado com o Prémio Camões, o escritor foi por sua vez homenageado pela Câmara Municipal do Sabugal, que lhe atribuiu a medalha de mérito cultural do Município.
Manuel António Pina foi eleito pelo blogue Capeia Arraiana a «Personalidade do Ano 2011».
Segue-se um poema de Manuel António Pina, que aborda um assunto recorrente na sua poesia – a morte:
Algumas Coisas
A morte e a vida morrem
e sob a sua eternidade fica
só a memória do esquecimento de tudo;
também o silêncio de aquele que fala se calará.
Quem fala de estas
coisas e de falar de elas
foge para o puro esquecimento
fora da cabeça e de si.
O que existe falta
sob a eternidade;
saber é esquecer, e
esta é a sabedoria e o esquecimento.
plb e jcl
A Agência da Guarda da Fundação INATEL, em colaboração com grupos de teatro amador e autarquias locais, organiza a iniciativa «Teatro de Outono 2012», que passará por diversas localidades, cabendo a representação a vários grupos teatrais, entre os quais o grupo Guardiões da Lua, de Quarta-Feira, aldeia do concelho do Sabugal.
O primeiro espectáculo é já na próxima semana, no dia 20 de Outubro (sábado), pelas 21h30, no Cine-Teatro S. Luís, em Pinhel. A peça a representar chama-se «O Movimento» e está a cargo do Grupo Escola Velha Teatro, de Gouveia.
A iniciativa Teatro de Outono leva os grupos de teatro amador do distrito da Guarda e da região centro-norte a itinerarem pelas salas do distrito da Guarda, entre os dias 1 de Outubro e 31 de Dezembro, a preços repartidos entre a agência da Guarda da Fundação INATEL e as autarquias locais.
Disponibilizam espectáculos para este Ciclo os grupos Escola Velha, Guardiões da Lua, Aquilo Teatro, Teatro do Imaginário, Gambozinos e Peobardos, Grup’Arte (estes seis do distrito da Guarda) e ainda o Teatro Experimental de Mortágua, Companhia Pouca Terra, Teatro de Arzila, Teatro O Celeiro, Ultimacto, Teatro Olimpo e Teatro da Perafita.
Estão já agendados mais seis espectáculos para as salas de Pinhel, Celorico e Manteigas, sobre as quais a seu tempo a Fundação INATEL prestará informação.
plb
Comemora-se hoje, 7 de Outubro, o Dia Nacional dos Castelos, sendo variadas, em todo o país, as iniciativas em que os castelos e fortificações se abrem gratuitamente ao público a fim de divulgar e valorizar esse importante património histórico que testemunha a nossa evolução histórica.
O Dia Nacional dos Castelos foi instituído em 1984. Embora inicialmente estabelecido o primeiro sábado de Outubro como a data de comemoração, em 2003 a data foi fixada no dia 07 de Outubro e assim tem permanecido.
Desde a altura em que foi instituída, a data tem vindo a ser comemorada em vários locais do país, mormente aqueles que possuam castelos e fortalezas. O objectivo é a implementação de uma comemoração a nível nacional, que realize iniciativas em todo o país, visando a uma reflexão sobre o nosso património fortificado.
A primeira comemoração aconteceu em 1984 e centrou-se em Vila Viçosa, Abrantes e Almourol, depois a evocação do Dia do Castelo passou por localidades como Torres Novas, Palmela, Santarém, Óbidos, Montemor-o-Velho, Sintra, Trancoso, Lisboa, Porto, Juromenha, Abrantes, Guimarães, Santa Maria da Feira, Belmonte, Castelo de Vide, Açores, Portel, Bragança, Idanha-a-Nova, Evoramonte, Estremoz.
Este ano a Associação dos Amigos dos Castelos centra as comemorações na cidade de Bragança.
O Sabugal que conta com cinco castelos na sua jurisdição (Alfaiates, Sabugal, Sortelha, Vila do Touro e Vilar Maior), sendo portanto um dos concelhos do país com maior número deste tipo de monumentos, não comemora a efeméride, nem sequer simbolicamente.
plb
Manuel António Pina, jornalista e escritor sabugalense, galardoado com o Prémio Camões, mantém-se internado no Serviço de Nefrologia do Hospital de Santo António, no Porto, onde recupera após uma cuidada intervenção cirúrgica.

O escritor está internado há várias semanas, desde que lhe foi diagnosticada uma doença muito grave, que levaria a uma melindrosa intervenção cirúrgica.
Por vontade de Manuel António Pina, a notícia da doença e do internamento hospitalar não foi divulgada, mas todos notaram a falta da crónica semanal do escritor na última página do Jornal de Notícias e noutros espaços onde amiudadamente escrevia.
As últimas notícias veiculadas pela família e amigos mais chegados são as de uma contínua recuperação.
Aqui deixamos ao prestigiado escritor sabugalense desejos de melhoras e que em breve regresse às lides literárias.
plb
Como escrevemos em artigo anterior a classificação da Capeia Arraiana no registo do Património Cultural Imaterial foi um passo importante para a preservação da sua identidade, mas isso não basta. É preciso acrescentar-lhe valor de modo a ser fator positivo contra o despovoamento.
Felizmente que na atualidade existem as redes sociais, a blogosfera, os sites, se democratizou o acesso a meios para recolha da imagem fixa e em movimento… Enfim, qualquer cidadão deixou de ser um mero consumidor para passar a ser também um produtor de informação, aquilo que se convencionou designar por Web 2.0, consubstanciada no conceito de prosumer (produtor/consumidor).
Podemos concluir que, das mais diversas formas, a capeia arraiana tem a sua divulgação assegurada. No entanto, no imenso «matagal» de informação, há, por vezes, dificuldade em selecionar a informação relevante daquela que é inútil ou mera opinião não escrutinada. Não é o caso deste blogue que procura cumprir com os princípios do jornalismo, seja ele expresso em que meio for.
A capeia arraiana «não nasceu ontem». Contudo, o Mundo mudou muito nas últimas três ou quatro décadas e a nossa região não foi excepção. Recordam-se certamente os da minha idade, e um pouco mais velhos, alguns mais novos também, que quase todas as aldeias tinham escola; que as discotecas Poço, Teclado, Upita, da Vila do Touro… estavam sempre cheias, ao fim de semana e principalmente no Verão. Até na Colónia Agrícola vingou um estabelecimento do género. As escolas secundárias do Sabugal e da Guarda e o próprio Instituto Politécnico estavam cheios de jovens que haviam cursado o primeiro ciclo do ensino básico nas respetivas aldeias. Pois é, hoje são cada vez menos. As escolas fecharam (sou contra o modo radical como fizeram a reorganização escolar no concelho, nomeadamente quando há cerca de uma década destacava na primeira página do Nova Guarda a reabertura da escola da Nave por haver mais de 10 crianças), nasceram os lares e são cada mais aqueles que embora sejam do concelho, por cá terem o seu sangue, nasceram um pouco por toda a geografia nacional e noutros países, com destaque para a Europa.
O que mantém a ligação à Raia? Quase todos são unânimes em reconhecer o papel da Capeia Arraiana. Essa marca de identidade que distingue um arraiano de qualquer outro cidadão do Mundo. A capeia não é, portanto, só uma manifestação de cultural regional. É muito mais e pode ser muito mais e, nesse aspeto, gosto de ser pragmático. É que a Raia, as suas gentes, a sua economia, o seu desenvolvimento ou definhamento, não se pode resumir só ao mês de agosto, esse tempo de encontro com a tradição e os amigos que nos enche e reconforta a alma. Quem por aqui vive precisa de ter recursos para viver com dignidade, sem ter que partir.
É certo que todos reconhecemos as implicações económicas que a capeia tem, pelas razões atrás apontadas: na construção civil, no comércio, em geral, e na agricultura e venda de produtos regionais… e tantas outras atividades.
Os tempos são de crise e organizar a capeia não é propriamente barato. Apesar da boa vontade é cada vez mais difícil angariar fundos para pagar as despesas, fundos que, normalmente, saem dos bolsos dos cidadãos de cada localidade (por exemplo em Aldeia Velha cada rapaz solteiro contribui com 80 euros para o Rol). Assim, deixo aqui algumas sugestões, envolvendo uma possível Associação da Capeia, sem fins lucrativos, para ajudar a economia da capeia e não só, fazendo com que os visitantes também dêem algum contributo que não só nos bares.
Uma das ideias passa por criar um passaporte da capeia, com eleição do capeeiro-mor, envolvendo o pagamento de 1 euro por cada carimbo colocado em cada encerro, em cada capeia, em cada garraiada, etc.. O dinheiro seria distribuído em função dos carimbos obtidos por cada evento.
Outra sugestão vem na sequência das referências anteriores sobre a mudança da matriz social, cultural e demográfica e passa por criar um grande festival de verão, que designo por Rock in Raia, o qual poderia ocorrer durante quatro ou cinco dias, envolvendo o Festival do Forcão e algumas capeias, com serviço de autocarros da «aldeia do rock» para as capeias e encerros, juntando, assim, a tradição com a modernidade, trazendo mais gente a animar a economia local e a venda de produtos regionais e de merchandizing relacionado, numa matriz musical de cunho marcadamente ibérico. Vários amigos meus sabem que é uma ideia que me povoa a cabeça há já alguns anos e que, inclusivamente, apresentei na Câmara do Sabugal.
Para já deixo estas reflexões, com a certeza de que pensamento sem ação não passa de mera teoria. Apresentarei futuramente mais algumas sugestões e procurarei ter alguma iniciativa com quem quiser colaborar, com a certeza de que nada se faz sem muito trabalho e amor à causa.
P.S.: Não posso deixar de realçar aqui a organização da Jornadas sobre tauromaquia a decorrer no dia 19 e 20 de outubro. Quando tantas vezes criticamos a falta de iniciativa, devemos recordar que estes eventos e a classificação da capeia como Património Cultural Imaterial, também não aparecem ser trabalho e proatividade.
«Raia e Coriscos», opinião de António Pissarra
A Academia de Música e Dança do Sabugal, dirigida pelo prof. Rui Chamusco, prolongou o período de inscrições nas aulas instrumentais até 15 de Outubro.
Após de um período inicial de inscrições para o ano letivo 2012/2013 e não havendo número de inscrições suficientes que justifiquem o funcionamento da Academia de Música e Dança do Sabugal (AMDS) a Direção achou por bem reformular as condições de frequência de modo a tornar acessível a continuidade da mesma.
Assim, informam-se os interessados de que, até 15 de Outubro, haveá um novo período de inscrições, com as seguintes condições:
– Aula instrumental individual (50 minutos), 50 euros;
– Aula instrumental em grupo com um mínimo de 3 alunos (50 minutos), 40 euros;
– Aula de Formação Musical (30 minutos) + aula de conjunto (30 minutos), 50 euros;
A Academia leciona os seguintes instrumentos:
– Sopro (Clarinete, Saxofone, Trompete, Flauta);
– Cordas (Piano, Guitarra, Cavaquinho, Violino, Bandolim);
– Acordeão.
As aulas para cada instrumento só serão viáveis se o número de inscrições justificar a contratação do respectivo professor. Aconselhamos, portanto, uma segunda opção.
Em caso de seleção de alunos será dada a prioridade aos alunos que já frequentaram a AMDS.
A Direção da AMDS
Numa passagem pelo Sabugal, desloquei-me à Casa do Castelo, em que a Dona Natália Bispo, gerente daquele espaço cultural, me deu conhecimento do 2º Ciclo da Cultura Judaica a decorrer na Cidade da Guarda nos dias 19 e 20 de Setembro.
Lançou-me o repto para estar presente, para me inscrever apresentando o respetivo programa. Fixei o olhar na palestra que a própria irá proferir sobre o tema «A Raiz Histórica Judaica em espaço privado, aberto ao público», e na da Dr.ª Maria Antonieta Garcia sobre, «Beira Interior – Peregrinação em torno da Herança Judaica», num programa imensamente vasto com visitas, festas e tradições judaicas e sobre produtos Kosher.
Os assuntos ligados à Cultura Judaica sempre motivaram interesse, principalmente a partir do momento que a minha saudosa Mãe me dizer, que os seus antepassados eram de origem judia da zona de Caria, que se dedicam à venda de carne e peles. Estes negócios tiveram continuidade e mantiveram-se até à morte de António Alves Martinho, um dos últimos talhantes da antiga Praça da Guarda, espaço onde hoje está construído o edifício da Camara Municipal.
Com esta valiosa oferta cultural resolvi ir no dia 20 de Setembro, o dia dedicado a dois painéis temáticos. Cheguei cedo à cidade Egitaniense, ainda os oradores estavam nos últimos retoques às suas intervenções e fazer as suas maquilhagens. A cidade pelo movimento nas ruas ainda estava meio adormecida. Resolvi fazer uma pequena romagem de saudade. Nas escadarias em frente ao Museu da Cidade lá se encontra um quadro de azulejaria de Frei Pedro da Guarda. Desço e passo pelo local onde estava instalado o Café Mondego, hoje casa comercial, onde vi, à porta em 1958, pela primeira vez televisão, uns desenhos animados.
Subi a calçada para o Paço Episcopal, onde não se vislumbra qualquer presença, e passei pelo edifício da Cáritas Diocesana. Verifiquei que mudou de instalações para o Ex-Colégio de S. José. Fiquei perplexo por desconhecer esta nova morada, porque colaboro voluntariamente neste organismo, mas deve ser culpa própria.
Desci para a Sé e admirei, a um canto, a Estátua de D. Sancho I, que deu o primeiro foral a esta cidade, em Novembro de 1199. Encostado às paredes centenárias da Sé, está um vizinho do Rei Povoador, com vestimentas velhas e rotas muito extravagantes, com cabelo e barbas crescidas de alguns anos, com pinces espalhados pelas orelhas, nariz e parte do rosto. No chão tinha diversos sacos de plástico. Abeirei-me e perguntei-lhe se falava português, francês, inglês… Respondeu-me numa língua que não percebi uma sílaba. Ainda numa mímica gestual lhe dei a entender se queria algum alimento para a boca, fazendo gesto negativo.
Subi as escadas da Sé que demorou cento e cinquenta anos a construir. Apesar deste longo período não foram precisos na construção muitos cadernos de encargos, comparados com as permanentes alterações das de hoje. Entrei. Uma dúzia de cristãos madrugadores recitava o terço.
A cidade começava a despertar. Da zona da Judiaria instalada na cidade amuralhada, começaram a aparecer as pessoas. Um polícia em passo cadenciado dirigiu-se para o seu Posto. Passei em frente á Igreja da Misericórdia, mandada construir por D. João V, na sua frontaria tem um nicho de Nossa Senhora, e ouvi o meu nome. Era a Dona Natália Bispo que se aproximava e me cumprimentou. Lá seguimos para o Auditório do Paço da Cultura.
Na hora do almoço regressei ao local onde se situava a antiga Adega Regional, hoje um moderno restaurante. Foi ali que almocei no Verão de 1956, uma dobrada, com o meu pai, na primeira visita à cidade da Guarda, prémio de ter feito exame da 4ª classe no Sabugal. Era ali que encontrava mais tarde quando esperava o transporte para Gouveia ou para a Cerdeira do Coa, o meu tio Manuel Alves Martinho, às vezes com os néctares vinícolas já muito acentuados. Depois de um trabalho duro no Matadouro Municipal, era ali que tinha o seu escritório e um ambiente de afetos, com os muitos amigos. Com a família numerosa, hoje os filhos espalhados pelo mundo, com exceção da filha Maria de Lurdes Alves Martinho, funcionária na União dos Sindicatos da Guarda.
Com o restaurante cheio, sinal que se come bem e barato, aproximou-se um utente que pediu para se sentar na minha mesa. Notei no rosto daquele homem ares de sofrimento. Sentou-se e abriu o seu Livro de Job. Disse-me que é de Videmonte e que nunca teve necessidade de emigrar, mas há uns meses que não trabalha. Não está desempregado. A esposa anda há muito em tratamento oncológico, mas nos últimos meses a situação tem-se degradado, tem piorado. «Tive de deixar de trabalhar para cuidar da minha mulher, porque ela merece este meu sacrifício, ele merece tudo o que eu possa fazer para seu bem», e as lágrimas caem para o prato da sopa que estava a fazer o esforço para comer. Tem dois filhos, mas esses tiveram de partir para França à procura do futuro. Arrepiou-se-me a alma…
Segui para o Auditório no antigo Seminário Episcopal, mas o meu pensamento já lá não estava.
Falaram uns rabinos sobre o Genesis, o Êxodo e sobre os produtos alimentares animais e vegetais, que compõem as refeições. Já sabia que é um assunto muito sério e que merece muita atenção para os responsáveis pela restauração e turismo.
Ainda se falou de turismo judaico, das redes de judiaria, que afinal o Sabugal não está integrado. Um interveniente ainda chamou a atenção para os organizadores destas jornadas irem a Vilar Maior, Sortelha e Vila do Touro para in loco verem e estudarem vestígios da permanência desse Povo. Fiquei com a sensação de que não vão. Espero que me tenha enganado.
À saída para o Fundão passou à minha frente, o tal HOMEM da Sé, que vagueia pelas ruas citadinas vazias de afetos, imigrante de parte incerta, e lembrei-me do ÊXODO, da história da libertação do Povo de Israel, que caminha no deserto a quem Deus enviou o Profeta Moisés, na direção da Terra Prometida. Será que este jovem alcançará a sua liberdade, o Monte Sinai e toque na Arca da Aliança e se abrigue na Tenda da Terra Prometida?
António Alves Fernandes – Aldeia de Joanes
O Teatro Municipal da Guarda (TMG) assinala o Dia Mundial da Música (segunda-feira, 1 de Outubro) com pompa, circunstância e, sobretudo, com muita originalidade. Todos (ou quase todos) os espaços dos edifícios do TMG serão palco de concertos mais ou menos intimistas, interpretados por músicos guardenses.
Do terraço ao sub-palco ou da sala de reuniões às escadarias e foyers, o público é guiado numa autêntica viagem musical para celebrar este dia especial. Os concertos começarão às 21h30 e prolongar-se-ão até às 01h00. A entrada é livre.
Rock, Clássica, Pop, Jazz, Sefardita, Tradicional, Fado, Electrónica, Erudita Contemporânea e DJ’s, são alguns dos géneros propostos neste «Guarda – Músicas». Os músicos convidados para esta iniciativa estão todos ligados à Guarda por naturalidade ou por afinidade: Carlos Canhoto e Ensemble de Saxofones, César Cravo, César Prata, The Curimakers, Diogo Andrade, Domenico Ricci, Helena Neves, Helena Rodrigues, Hugo Simões, Zé Tavares, Márcia Cunha e Quarteto de Flautas, Olena Sokolovska e Violin‘Arte, One Man Riff, Pedro Baía, Pedro Ospina, Rogério Pires, Teresa Gonçalves e Vanda Rodrigues.
Um excelente itinerário musical e um programa original para a noite do Dia Mundial da Música.
plb (com TMG)
«Poetando» é a coluna de Manuel Leal Freire no Capeia Arraiana, na qual a cada domingo vai publicando poemas inéditos, cada um dedicado a uma aldeia do concelho do Sabugal. Este Município raiano, um dos maiores do País em termos de extensão territorial, tem 40 freguesias, algumas delas com anexas, sendo no total exactamente 100 (cem) o número das localidades do concelho do Sabugal. Nesta edição o escritor e poeta bismulense dedica um soneto a Carvalhal do Côa, aldeia anexa de Badamalos. No próximo domingo será editado o poema relativo a outra freguesia: Baraçal.
CARVALHAL DO CÔA
Aos palmos não se medem as pessoas
Aos palmos não se medem os lugares
As Romas, os Parises, as Lisboas
Não vencem no cotejo com vilares
É outra a pureza dos seus ares
Bem mais lhanas e probas as pessoas
Vivendo juntas alegrias e pesares
Em união nas horas más e boas
Neste nosso Portugal cristão
Bem numerosos os carvalhais são
Das ilhas de Além Mar até ao Minho
Nenhum outro, porém, tem o encanto
De ser um tão poético recanto
Como este Carvalhal Carvalhalzinho
«Poetando», Manuel Leal Freire
A histórica cidade de Trancoso ganhou mais colorido este sábado, 22 de Setembro, com a realização do I Encontro das Confrarias das Beiras, iniciativa da Confraria das Sardinhas Doces de Trancoso com apoio da Câmara Municipal e empresa municipal Trancoso Eventos.

As confrarias gastronómicas das Beiras reúnem este sábado, 22 de Setembro, em Trancoso. O primeiro encontro é uma iniciativa da Confraria das Sardinhas Doces e conta com o apoio do município e da empresa municipal de Trancoso.
Um encontro de saberes e sabores, de experiências que nasceram na lonjura dos tempos e foram transmitidas de geração em geração, uma componente real e importante da Cultura Portuguesa, autêntica expressão do povo que guarda em si segredos da mesa de «arte de bem comer e bem beber» entendida esta como uma herança histórica, etnográfica e gastronómica mas também de elementos que se conjugam com a actividade agro-pecuária.
As Confrarias, ao conjugarem os cidadãos num objectivo de promoção, preservação e divulgação de produtos locais ou regionais ou de animais como é o caso do Cão Serra da Estrela, estão a preservar o património material e imaterial e contribuir para o desenvolvimento sócio-económico onde é de destacar o Turismo nas suas vertentes gastronómica, monumental, paisagística, o artesanato e as tradições.
Programa
09:30 – Recepção às Confrarias e Sardinha de honra.
10:30 – Sessão de boas vindas de Júlio Sarmento, Presidente da Câmara Municipal de Trancoso e representação teatral dos alunos do 2º ano do C.A.S.C. Escola Profissional de Trancoso.
10:45 – 1.º painel – A Gastronomia/As Confrarias e as Comunidades Locais. Moderador: Dr. Carlos Camejo. Participantes: As Mãos fadadas das Freiras (Santos Costa); Os Comeres da Beira na Idade Média (Armando Fernandes); A Singularidade das Comunidades Locais: Contributos de uma Confraria (Olga Cavaleiro).
11:45 – 2.º painel – Contributo das Confrarias para o desenvolvimento de uma Região. Moderador: Dr. Amaral Veiga. Confrarias Gastronómicas, baluartes de promoção e do desenvolvimentodos Territórios (Madalena Carrito); O contributo das confrarias para a promoção do produto endógeno (Luís Baptista); As confrarias e o Príncipe Kropotkin (Carvalho Rodrigues).
Debate
13:30 – Almoço: Hotel Turismo de Trancoso.
15:30 – Momento Musical: Coro da Santa Casa da Misericórdia de Trancoso.
15:45 – Encerramento. O Poder Local e as Confrarias locais e regionais (Júlio Sarmento).
16:00 – Visita a Trancoso.
17:00 – Lanche partilha com produtos das Confrarias.
jcl (com Gab. Comunicação e Imagem da C.M. Trancoso)
Comentários recentes