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Dois caças F-16 da Força Aérea Portuguesa perseguiram esta madrugada, sobre o Sabugal, uma aeronave que entrou em espaço aéreo português. Uma missão da Força aérea justificada pela suspeita de tráfico de droga. O aeródromo da Ruvina foi vigiado durante todo o dia por patrulhas da GNR.
Um avião ligeiro não identificado, que já vinha de Espanha, escapou à vigilância de dois aviões F-16 da Força Aérea Portuguesa e não se sabe onde está.
No âmbito do sistema de defesa aérea, um avião militar espanhol tinha acompanhado a aeronave ligeira a partir das imediações do Golfo de Cádiz, no extremo sul do país, até à zona de fronteira com Portugal, mas teve de abandonar a missão, por falta de combustível.
Segundo o tenente-coronel Rui Roque, porta-voz da FAP, os aviões portugueses chegaram a ter contacto por radar e visual com a aeronave, mas foi subitamente perdido a 10 quilómetros da fronteira, na zona do Sabugal, distrito da Guarda.
«Os dois F-16 fizeram várias passagens pelo local onde a aeronave deixou de ser avistada, não voltando a localizá-la, e depreenderam que terá aterrado no campo», indicou à Lusa o porta-voz da FAP.
A Força Aérea decidiu então dar por terminada a missão de defesa do espaço aéreo e notificar a GNR para tentar averiguar a situação no terreno «porque havia suspeita de transporte de estupefacientes».
«Tudo se passou entre as 4:50 e as 7:22 da manhã de hoje», indicou o tenente-coronel Rui Roque, acrescentando que não foi possível confirmar se se tratava de um avião que transportava drogas.
Contactado pela Lusa, o Comando-Geral da GNR, em Lisboa, indicou que foi feito um patrulhamento na região, mas não foi encontrado qualquer avião.
jcl (com agência Lusa)
Faleceu na tarde desta sexta-feira, 19 de Outubro, no Hospital de Santo António, no Porto, onde estava internado desde o início do Verão, o escritor e jornalista sabugalense Manuel António Pina.

MANUEL ANTÓNIO PINA era jornalista, cronista, escritor, poeta, dramaturgo, actividades em que se notabilizou.
Nasceu no Sabugal em 18 de Novembro de 1943 e viveu a infância numa constante mudança de lugar, passando nomeadamente pela Sertã e Oliveira do Bairro, para depois se fixar no Porto. O pai era chefe de Finanças, cargo que acumulava com o de juiz das execuções fiscais, pelo que não podia estar mais do que certo tempo em cada terra, por imposição legal. Recordará sempre esse tempo da infância e adolescência como a época em que fazia amigos num lugar, que depois perdia para refazer novas amizades noutro local distante.
Após os estudos secundários, concluídos no Porto, licenciou-se em Direito, na Universidade de Coimbra, onde para além de estudar trabalhava para garantir a independência financeira. Embora cursasse Direito gostava mais e frequentar as aulas de Literatura, sobretudo as dos mestres Paulo Quintela e Vítor Aguiar Silva. Mesmo assim, seguiu Direito e, concluído o curso, foi advogado durante algum tempo, porém já escrevia no Jornal de Notícias desde 1971 e o apelo da escrita foi sempre mais forte.
No jornalismo notabilizou-se pela crónica, que, para ele é uma espécie de meio caminho entre o jornalismo e a literatura. No Jornal de Notícia, ao qual se manteve sempre ligado, ocupou o cargo de editor cultural, mantendo uma permanente ligação aos aspectos literários. Nas horas vagas poetava e escrevia contos infanto-juvenil, fazendo um percurso de escritor, onde sobretudo se notabilizaria, recebendo o reconhecimento do seu mérito com a atribuição de inúmeros galardões, entre os quais o Prémio Camões no ano 2011.
A sua poesia, algo hermética, foi sempre marcada por uma espécie de nostalgia, traduzida num sucessivo jogo de memórias entre a infância (parte dela passada no Sabugal) e o quotidiano. Os poemas de Pina são igualmente marcados pela inquietação e a melancolia, tocando por vezes no paradoxo. Nada do que escrevia ou pensava era definitivo, quando lhe perguntaram (JL, 31/10/2001) se fazia alterações aos seus poemas antigos quando os reeditava, respondeu que não, porque de certa forma um texto antigo, escrito por ele e editado, já não lhe pertencia: «quando leio textos que escrevi há algum tempo, tenho a sensação que não foram escritos por mim. E, de facto, foram escritos por outra pessoa, por aquele que eu era.» Esta mutação do ser que somos com o evoluir do tempo é explicada de forma comparativa: «A Ilíada é um dos meus livros de referência. Li-a pela primeira vez quando era jovem e a que leio hoje não é a mesma que li, nessa altura. Porque eu próprio já sou diferente. Os cabalistas dizem que há tantas bíblias quantos leitores da Bíblia. Eu acho que há mais, tantas quantas as leituras.»
Como escritor, foi autor de vários títulos de poesia, novelas, textos dramáticos e ensaios, entre os quais: em poesia – Nenhum Sítio, O Caminho de Casa, Um Sítio Onde pousar a Cabeça, Algo Parecido Com Isto da Mesma Substância; Farewell Happy Fields, Cuidados Intensivos, Nenhuma Palavra e Nenhuma Lembrança; em novela – O Escuro; em texto dramático – História com Reis, Rainhas, Bobos, Bombeiros e Galinhas, A Guerra do Tabuleiro de Xadrez; no ensaio – Anikki – Bóbó; na crónica – O Anacronista; e, finalmente, na literatura infantil – O País das Pessoas de Pernas para o Ar, Gigões e Amantes, O Têpluquê, O Pássaro da Cabeça, Os Dois Ladrões, Os Piratas, O Inventão, O Tesouro, O Meu Rio é de Ouro, Uma Viagem Fantástica, Morket, O Livro de Desmatemática, A Noite.
Embora afastado da sua terra natal desde menino, Manuel António Pina afirmava com orgulho ser sabugalense. Em 4 de Abril de 2009 a Junta de Freguesia do Sabugal homenageou-o colocando na casa onde nasceu uma placa com a seguinte epígrafe: «Nesta casa nasceu o escritor e jornalista Manuel António Pina»
Em 2010 a Câmara Municipal da Guarda, criou, em homenagem a Manuel António Pina, um prémio literário com o seu nome, que distinguirá anualmente, e de forma alternada, obras de poesia e de literatura. Ainda em homenagem ao escritor sabugalense realiza-se na Guarda um ciclo cultural repleto de actividades.
Em 10 de Novembro de 2011, no ano em que foi galardoado com o Prémio Camões, o escritor foi por sua vez homenageado pela Câmara Municipal do Sabugal, que lhe atribuiu a medalha de mérito cultural do Município.
Manuel António Pina foi eleito pelo blogue Capeia Arraiana a «Personalidade do Ano 2011».
Segue-se um poema de Manuel António Pina, que aborda um assunto recorrente na sua poesia – a morte:
Algumas Coisas
A morte e a vida morrem
e sob a sua eternidade fica
só a memória do esquecimento de tudo;
também o silêncio de aquele que fala se calará.
Quem fala de estas
coisas e de falar de elas
foge para o puro esquecimento
fora da cabeça e de si.
O que existe falta
sob a eternidade;
saber é esquecer, e
esta é a sabedoria e o esquecimento.
plb e jcl
Como escrevemos em artigo anterior a classificação da Capeia Arraiana no registo do Património Cultural Imaterial foi um passo importante para a preservação da sua identidade, mas isso não basta. É preciso acrescentar-lhe valor de modo a ser fator positivo contra o despovoamento.
Felizmente que na atualidade existem as redes sociais, a blogosfera, os sites, se democratizou o acesso a meios para recolha da imagem fixa e em movimento… Enfim, qualquer cidadão deixou de ser um mero consumidor para passar a ser também um produtor de informação, aquilo que se convencionou designar por Web 2.0, consubstanciada no conceito de prosumer (produtor/consumidor).
Podemos concluir que, das mais diversas formas, a capeia arraiana tem a sua divulgação assegurada. No entanto, no imenso «matagal» de informação, há, por vezes, dificuldade em selecionar a informação relevante daquela que é inútil ou mera opinião não escrutinada. Não é o caso deste blogue que procura cumprir com os princípios do jornalismo, seja ele expresso em que meio for.
A capeia arraiana «não nasceu ontem». Contudo, o Mundo mudou muito nas últimas três ou quatro décadas e a nossa região não foi excepção. Recordam-se certamente os da minha idade, e um pouco mais velhos, alguns mais novos também, que quase todas as aldeias tinham escola; que as discotecas Poço, Teclado, Upita, da Vila do Touro… estavam sempre cheias, ao fim de semana e principalmente no Verão. Até na Colónia Agrícola vingou um estabelecimento do género. As escolas secundárias do Sabugal e da Guarda e o próprio Instituto Politécnico estavam cheios de jovens que haviam cursado o primeiro ciclo do ensino básico nas respetivas aldeias. Pois é, hoje são cada vez menos. As escolas fecharam (sou contra o modo radical como fizeram a reorganização escolar no concelho, nomeadamente quando há cerca de uma década destacava na primeira página do Nova Guarda a reabertura da escola da Nave por haver mais de 10 crianças), nasceram os lares e são cada mais aqueles que embora sejam do concelho, por cá terem o seu sangue, nasceram um pouco por toda a geografia nacional e noutros países, com destaque para a Europa.
O que mantém a ligação à Raia? Quase todos são unânimes em reconhecer o papel da Capeia Arraiana. Essa marca de identidade que distingue um arraiano de qualquer outro cidadão do Mundo. A capeia não é, portanto, só uma manifestação de cultural regional. É muito mais e pode ser muito mais e, nesse aspeto, gosto de ser pragmático. É que a Raia, as suas gentes, a sua economia, o seu desenvolvimento ou definhamento, não se pode resumir só ao mês de agosto, esse tempo de encontro com a tradição e os amigos que nos enche e reconforta a alma. Quem por aqui vive precisa de ter recursos para viver com dignidade, sem ter que partir.
É certo que todos reconhecemos as implicações económicas que a capeia tem, pelas razões atrás apontadas: na construção civil, no comércio, em geral, e na agricultura e venda de produtos regionais… e tantas outras atividades.
Os tempos são de crise e organizar a capeia não é propriamente barato. Apesar da boa vontade é cada vez mais difícil angariar fundos para pagar as despesas, fundos que, normalmente, saem dos bolsos dos cidadãos de cada localidade (por exemplo em Aldeia Velha cada rapaz solteiro contribui com 80 euros para o Rol). Assim, deixo aqui algumas sugestões, envolvendo uma possível Associação da Capeia, sem fins lucrativos, para ajudar a economia da capeia e não só, fazendo com que os visitantes também dêem algum contributo que não só nos bares.
Uma das ideias passa por criar um passaporte da capeia, com eleição do capeeiro-mor, envolvendo o pagamento de 1 euro por cada carimbo colocado em cada encerro, em cada capeia, em cada garraiada, etc.. O dinheiro seria distribuído em função dos carimbos obtidos por cada evento.
Outra sugestão vem na sequência das referências anteriores sobre a mudança da matriz social, cultural e demográfica e passa por criar um grande festival de verão, que designo por Rock in Raia, o qual poderia ocorrer durante quatro ou cinco dias, envolvendo o Festival do Forcão e algumas capeias, com serviço de autocarros da «aldeia do rock» para as capeias e encerros, juntando, assim, a tradição com a modernidade, trazendo mais gente a animar a economia local e a venda de produtos regionais e de merchandizing relacionado, numa matriz musical de cunho marcadamente ibérico. Vários amigos meus sabem que é uma ideia que me povoa a cabeça há já alguns anos e que, inclusivamente, apresentei na Câmara do Sabugal.
Para já deixo estas reflexões, com a certeza de que pensamento sem ação não passa de mera teoria. Apresentarei futuramente mais algumas sugestões e procurarei ter alguma iniciativa com quem quiser colaborar, com a certeza de que nada se faz sem muito trabalho e amor à causa.
P.S.: Não posso deixar de realçar aqui a organização da Jornadas sobre tauromaquia a decorrer no dia 19 e 20 de outubro. Quando tantas vezes criticamos a falta de iniciativa, devemos recordar que estes eventos e a classificação da capeia como Património Cultural Imaterial, também não aparecem ser trabalho e proatividade.
«Raia e Coriscos», opinião de António Pissarra
Quando saiu o meu artigo sobre o ethos do povo raiano, o José Nunes Martins, de Malcata, observou que o referido ali, a respeito do povo raiano, se aplicava também ao povo português.
Tratou-se de uma observação inteligente, que me fez pensar. De facto, em resultado de uma feliz conjugação da herança étnica e paisagem própria de Riba-Côa, que são as mesmas que se verificam no todo do território nacional, as mesmas características da alma portuguesa manifestam-se a do povo raiano, como talvez em nenhum outro. São precisamente essas circunstâncias étnicas e de paisagem, que estão na origem na religiosidade cristã e pagã do povo raiano, afloradas na parte final do artigo sobre o Aspecto Sagrado Das Capeias.
Daí que, o que se afirma do povo da raia pode extrapolar-se para o português e para se analisar a alma portuguesa pode-se tomar como exemplo a particularidade da alma ribacudana.
Existe um livrinho, de 120 páginas, com o título Arte de Ser Português, editado em 1920, escrito por Pascoais para leitura no ensino público, a fim de incutir na juventude o sentido patriótico, que aborda esta questão da alma do povo português.
Trata-se de um livro muito importante porque resume a doutrina do “existencialismo lusitano”, e ao qual nos cingimos, para transpor para a alma ribacudana tudo o que no mesmo Pascoais refere a propósito da alma portuguesa.
O pensamento subjacente a esta obra, que Pascoais já exprimira em vários artigos da Águia, e desenvolve na Saudade e o Saudosismo (em forma de polémica epistolar com António Sérgio), é a de que ser português é uma arte e como tal, digna de cultura.
Por isso caberia aos professores, trabalhando como se escultores fossem, modelar as almas dos jovens para lhes imprimir os traços da raça lusíada. Traços estes que lhe dão personalidade própria, «a qual se projecta em lembrança do passado, e em esperança e desejo do futuro».
Isto é, o fim desta arte seria «a renascença de Portugal, tentada pela reintegração dos portugueses no carácter que por tradição e herança lhes pertence, para que eles ganhem uma nova actividade moral e social, subordinada a um objectivo comum e superior».
As descobertas teriam sido o início desta obra, e desde então a pátria tem dormido. Despertando, saberia continuá-la.
A Raça, em Pascoais, não tem o sentido pejorativo, conotado com o Estado Novo, sendo apenas um «certo número de qualidades electivas, próprias de um povo, organizado em pátria, isto é, independente sob o ponto de vista político e moral».
Estas qualidades são, ainda segundo ele, de natureza animal e espiritual e resultam do meio físico (paisagem) e da herança étnica (tradição), histórica, jurídica, literária, artística, religiosa e económica.
Na Raça portuguesa a sua herança étnica está nos povos que primitivamente habitaram a península e dos quais descendem os portugueses, castelhanos, vascos, andaluzes, catalães, galegos, etc.
Esses povos pertenciam a dois ramos. O ariano (galegos, romanos, godos, celtas, tec.) e o semita (fenícios, judeus e árabes).
Dos primeiros veio a civilização greco-romana, o culto pela forma, a beleza como representação da realidade próxima e tangível (naturalismo), o paganismo e o panteísmo; dos segundos veio a civilização judaico-cristã, bíblica, o culto de espírito, a unidade divina, a beleza concebida para além da matéria.
Ao primeiro corresponde a verdadeira alegria terrestre, a infância, a superfície angélica da vida, o naturalismo, o amor carnal que continua a vida; ao segundo a dor salvadora que nos eleva ao céu, o sonho da redenção, o espiritualismo judaico, o amor ideal que purifica e diviniza.
Do ponto de vista étnico, o indivíduo, porque não cabe dentro dos seus limites individuais, porque é um ser social, herda as qualidades da família e da sua raça. Assim sendo, o português participa também desta herança étnica e histórica, «adquirindo uma segunda vida que mais vasta, domina a sua existência como indivíduo».
Por sua vez, exceptuando a planície monótona do Alentejo, de cariz mourisco, resume Pascoais a paisagem portuguesa aos planaltos desnudos de Trás-os-Montes, de hostil aridez judaica, e ao Minho viridente, alegre e colorido, de vales e pradarias, de matriz celta e ariana, que estão de acordo pela sua apetência dolorosa com o genuíno semita, e pela sua apetência alegre com o genuíno ariano.
A alma lusíada tem a sua origem na fusão dos antigos povos da península e na paisagem. Nas belas palavras de Pascoais «esta bela flor espiritual brotou de uma haste mergulha as raízes na terra e no sangue, entre os quais se estabeleceram verdadeiros laços de parentesco».
Ou seja, a paisagem é fonte psíquica da raça, porque ainda segundo Pascoais «tem uma alma que actua com amor ou dor sobre as nossas ideias ou sentimentos; transmitindo-lhes, o quer que é da sua essência, da sua vaga e remota qualidade que, neles, conquista acção moral e consciente».
Foram destes dois sangues, que equivalendo-se em energia «deram à Raça lusitana as suas próprias qualidades superiores», e trabalhadas e combinadas desta forma feliz pela paisagem, resultaram na criação da alma portuguesa.
Foi da combinação entre a herança e a paisagem que esta alma, absorveu por essa razão na sua feição religiosa a ideia pagã e a cristã, dualismo este de que resultaria o saudosismo.
É precisamente na paisagem original da região do Tâmega, segundo Pascoais a que conjuga a paisagem dolorosa de Trás-os-Montes e a paisagem alegre do Minho, onde a voz do sangue (herança) e da terra (paisagem), estabelece o diálogo que caracteriza o carácter desta complexa fisionomia dualista portuguesa, alegre e ao mesmo tempo dolorosa; materialista e ao mesmo tempo espiritual.
Ora, é aqui divergimos de Pascoais: Podendo concordar que na região do Tâmega se reúnam os dois elementos da paisagem; falta-lhe sempre o elemento semita da origem étnica, que só existe abaixo do Douro.
Sucede também que, mais que na região do Tâmega, é na região de Cima-Côa que se reúnem de forma clara o elemento paisagístico e étnico na sua plenitude.
Em nenhuma parte do território português se concentram tanto a paisagem de contrastes, a aparência alegre dos verdes campos minhotos, com a mágoa e a dor silenciosa dos ermos transmontanos, como na paisagem mediata e extática dos lameiros, veigas, hortas, cabeços, tapadas e planalto de Cima-Côa.
Em nenhuma parte as brancas nuvens do céu, aonde sob o beijo da chuva amorosa vão beber os ramos sequiosos dos carvalhos e dos freixos; a linfa que, nascendo nos corações dos montes, atravessa os vales estreitos, envolvendo as pedras musgosas, viridificando regatos e prados.
Em nenhuma parte o sol irrompendo ébrio de fortaleza acima dos carvalhais, energia vital que todo o mundo inunda, sangue revigorante da videira, essência de cor que a verdura floresce e a terra alegra num íntimo acordar.
Em nenhuma parte a brancura da lua, entre o arvoredo, projectando no silêncio da noite inquietas formas de luz e de sombras, almas sem corpo, espíritos mortos, onde os olhos bebem a luz das estrelas, e os ouvidos escutam o sinistro lamento da paisagem.
Em nenhuma parte o imenso clarão que a todo o ser deslumbra e incendeia de loucura e alucinação; a branda luz como o roçar de asas de uma ave, convidando ao sonho e à viagem.
Em nenhum outro lugar, como em Cima-Côa, existe tão bem resumido este sentido alegre e plástico do mundo, inspirando uma religião sui generis, tão pagã como cristã.
(continua)
«Arroz com Todos», opinião de João Valente
joaovalenteadvogado@gmail.com
A crónica publicada por António Pissarra aqui no Capeia Arraiana com o título «Raia – o Algarve do Interior?» e com a qual, como já tive a oportunidade de dizer, estou de acordo, coloca um tema que me é particularmente querido: o da importância da localização do nosso Concelho no contexto nacional e ibérico.
Situemos então o concelho do Sabugal face à envolvente próxima, a qual pode ser analisada segundo o papel que o concelho poderá vir a desempenhar em contextos territoriais de níveis distintos:
– no âmbito regional – na sua relação com os concelhos vizinhos e, essencialmente com os núcleos urbanos principais, perspetivando a participação numa área diversificada de valências sócio-económicas, a qual deve ser valorizada positivamente e ser mesmo encarada numa ótica de aproximação ao núcleo principal, suportado pelo denominado Arco Urbano do Centro Interior (AUCI), constituído pelas cidades da Guarda, Covilhã, Fundão e Castelo Branco, numa lógica de integração do Concelho no núcleo líder do desenvolvimento da Beira Interior.

– na relação com Espanha – integrando um novo conceito de centralidade entre o litoral português e as regiões centrais de Espanha, na consideração de que o Arco Urbano do Centro Interior (AUCI) e o Eixo Urbano da Raia Central Espanhola (EURCE) constituem o «sistema nervoso» raiano e as espinhas dorsais dos dois sistemas urbanos fronteiriços, os quais devem desenvolver em termos estratégicos, um conjunto de iniciativas que contribuam de modo eficaz para o desenvolvimento de todo o sistema territorial, desenvolvendo relações de complementaridade e relações eficientes de dependência funcional entre os diferentes centros; funcionando estes nós como «as portas» de promoção e comunicação entre a Raia Central e o exterior, caminhando para o modelo territorial indicado no mapa.

ps. A resposta que os portugueses deram a este conjunto de garotos que pretende governar-nos não chega para mudar o rumo do País, mas lá que fez mossa fez!
«Sabugal Melhor», opinião de Ramiro Matos
rmlmatos@gmail.com
A Freineda, freguesia raiana do concelho de Almeida, recebeu no domingo, dia 16 de Setembro, um vistoso e colorido festival de pára-quedismo, ao qual assistiu um mar de gente. Tratou-se de uma iniciativa diferente que conferiu uma nova dinâmica à tradicional e muito apreciada festa de Santa Eufémia.
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plb
Ainda que se queira falar noutros assuntos, a verdade é que a austeridade, que já vínhamos sentindo, inflacionada com as medidas que o Governo anuncia, já para este ano e para o próximo, tornam incontornável a abordagem do tema, nomeadamente naquilo que à região se refere.

O País está em choque e o Governo, com destaque principal para Pedro Passos Coelho e Vitor Gaspar conseguiu algo inacreditável que é a quase unanimidade da crítica negativa, da Esquerda à Direita. Várias figuras destacadas dos partidos da coligação não têm «papas na língua» para qualificar o que consideram o disparate de algumas das propostas do Governo.
A verdade é que o Povo tem memória curta e disso sabem bem os políticos profissionais que gerem a sua própria memória à medida das suas conveniências. Quer isto dizer que não chegámos ao atual estado de coisas «por obra e graça do Espírito Santo». Foram anos e anos de má gestão, de aumentar orçamentos todos os anos, embora os de anos anteriores fossem deficitários. Foi muita corrupção, muito desperdício em negócios ruinosos que só beneficiaram os intervenientes… Enfim, os partidos mudam de opinião rapidamente após o dia das eleições, conforme o resultado, embora não haja dúvidas que todos mentem deliberadamente para obter as boas graças do eleitorado que se apresenta irracionalmente crédulo e com os tais problemas de memória.
Penso que não existem muitas dúvidas sobre os responsáveis da situação a que chegámos. Sabemos que a culpa não é dos políticos, mas sim do alcatrão, do cimento, das parcerias público-privadas, das fundações… Enfim, a culpa «morreu solteira». Sabemos que o Estado é um sorvedouro de recursos, que o Estado é mau pagador e implacável cobrador, que o Estado é responsável pela falência de inúmeras empresas, por essas razões, mas o Estado tem tido líderes desde 1974. Ora, aquilo a que temos assistido é à degradação da qualidade de vida dos portugueses por um Estado canibal até chegarmos à beira do precipício da bancarrota. Perante a inevitabilidade da ajuda externa importava ter dirigentes que fossem suficientemente criativos para atenuar as ondas de choque da intervenção troikiana, dirigentes que fossem suficientemente corajosos para tomarem as medidas corretas no sentido de aliviar a economia nacional do «regabofe» que tem sido nas últimas décadas. No entanto, parece não ser assim e aquilo a que vimos assistindo é a atitudes experimentalistas que culminaram com a perda de paciência do bom Povo Português, com críticas vindas de todo o lado e até com a troika a demarcar-se de algumas iniciativas, como a das anunciadas alterações às regras sobre a Taxa Social Única.
O País orienta-se numa direção que não sabemos onde pode terminar e neste contexto são os mais frágeis, os mais pobres, os mais prejudicados. Nesta perspetiva, o Interior, nomeadamente o concelho do Sabugal, nada pode esperar de bom. Os tecnocratas de Lisboa continuarão a governar pessoas e território com a lógica dos números, funcionando o princípio da «pescadinha de rabo na boca»; quer isto dizer que cada vez há menos gente e, consequentemente, são necessários menos serviços, cada vez há menos serviços, logo menos gente. Tem sido assim desde os tempos de Cavaco Silva, mais a sua ideia em fazer uma grande capital (Lisboa) que servisse de locomotiva ao País. Como damos conta, um destes dias a locomotiva não tem nada para puxar.
O fecho do tribunal do Sabugal é um bom exemplo daquilo que referimos. A falta de alternativas aos serviços transfronteiriços que terminaram, outro exemplo. O fecho de escolas. A falta de uma política fiscal suficientemente atrativa que levasse à instalação de empresas produtoras de bens transacionáveis, idem. Enfim, uma tragédia ainda maior que aquela que vive globalmente o País. O que será do Interior?
«Raia e Coriscos», opinião de António Pissarra
Já em tempos, então diretor de um jornal, me referi à Raia Sabugalense nos termos que o faço neste título. Fi-lo, e faço-o, com a convicção que assim é relativamente ao potencial turístico que esta região pode ter, principalmente no mês de agosto. Pode argumentar-se que a comparação peca por excesso. Talvez, mas também penso que temos aproveitado por defeito as possibilidades que a Raia, as suas tradições seculares e o seu património humano e natural oferecem para uma realidade socioeconómica que poderia apresentar outro cariz.
Habitualmente me manifesto sobre a injustiça que tem sido feita com o esforço de tantos sabugalenses que tiverem que partir à procura de um futuro melhor, principalmente em terras de França. O seu esforço, os seus sacrifícios, contabilizaram-se em números, nas remessas de dinheiro que enviavam para Portugal. Apesar disso, também por culpa própria, essas verbas serviram principalmente para desenvolver outras regiões. É certo que havia/há muita gente que teve arte para ganhar dinheiro, mas faltou-lhe sabedoria para o investir, nomeadamente no concelho. Investimento que criasse emprego e mais riqueza para todos, impedindo o êxodo que se tem observado nas últimas décadas. Faltou também, talvez, uma estratégia por parte dos responsáveis autárquicos que ajudasse a que as coisas fossem diferentes.
Voltando às comparações com as Terras do Sul, podemos dizer, para os mais pessimistas, que também o Algarve não está cheio o ano inteiro, mas sabemos como um bom verão pode «salvar» o ano inteiro. Salvaguardadas as devidas distâncias, também a Raia pode ter um bom verão que ajude o resto do ano. Quem não gostaria de ver nas diversas aldeias o movimento que se verifica no verão? Também os empresários algarvios desejariam o mesmo. Tal não é possível quando se fala de prestação de serviços e não na produção de produtos transacionáveis.
Apesar de as duas atividades serem distintas, uma e outra podem estar ligadas, nomeadamente, na Raia, no que aos produtos tradicionais se refere, e são estes, aqueles que são diferentes e que constituem uma marca de identidade, que podem ser uma mais-valia para o concelho.
A classificação da Capeia Arraiana como Património Cultural Imaterial, pelo Instituto dos Museus e da Conservação, pode ajudar, mas vale de pouco se não se lhe acrescentar valor. Não se trata de regular, por lhe retirar autenticidade, uma manifestação de cultura popular, que emanou do Povo, é vivida pelo Povo e paga pelo Povo. A Capeia não pode ser vítima da sua notoriedade mais recente e deve ser fiel ao seu passado. No entanto, pode haver algumas iniciativas que potenciem este fenómeno, sem deixar de ser aquilo que sempre foi: uma festa do Povo.
Quando este verão, em Nave de Haver, observei uma banca de uns nossos vizinhos espanhóis a vender miniaturas de forcões a 10 euros, pensei para comigo: «Caramba, generosa é a gente da Raia, todos lá vão buscar e ninguém leva para lá nada!» Será que a culpa é de quem tem iniciativa ou de quem a não tem? Certamente é de quem a não tem. E já é tempo de fazer alguma coisa. Voltaremos ao assunto, apresentando algumas sugestões.
«Raia e Coriscos», opinião de António Pissarra
António Pereira de Andrade Pissarra é natural de Vila Garcia, concelho da Guarda, tem 50 anos, é professor de comunicação social no Instituto Politécnico da Guarda e foi o último director do Jornal Nova Guarda. Casado em Aldeia Velha, concelho do Sabugal, tem dois filhos, e mantém uma forte relação sentimental com as tradições raianas. Estudou na Guarda, leccionou em Évora, onde frequentou o curso de engenharia agrícola (que não concluiu), licenciou-se em Tecnologias da Informação aplicadas à educação, fez o mestrado em comunicação educacional multimédia e frequentou o doutoramento em processos de formação em espaços virtuais na Universidade de Salamanca. Actualmente é presidente e fundador do Guarda Unida Futebol Clube.
O Capeia Arraiana dá as boas-vindas ao jornalista e professor universitário António Pissarra que inicia hoje uma série de crónicas sob a rúbrica «Raia e Coriscos». O nosso bem-haja por ter aceite o convite para integrar e valorizar este painel da opinião raiana.
jcl e plb
A Comissão de Festas de Santa Eufêmea 2012 da Freineda, no concelho de Almeida, organiza um Festival de Pára-quedismo com quatro grupos de saltos no dia 16 de Setembro. Os pará-quedistas vão ser transportados por uma aeronave que levará voo do aeródromo da Dragoa, na Ruvina, para depois saltarem sobre o Largo de Santa Eufêmea na Freineda. A angariação de donativos para as populares festas da freguesia raiana tem decorrido ao longo do ano em diversos encontros de convívio e confraternização. O Capeia Arraiana esteve presente num desses momentos…

A tarde daquele dia 11 de Agosto esteve mui caliente mas o pôr-do-sol trouxe consigo um ar fresco que aconselhava a alguns agasalhos. No Largo da Igreja Matriz da Freineda, junto à fachada da casa que, durante meses, serviu de quartel ao general Wellington, duque inglês que comandou as tropas que defendiam Almeida das invasões francesas, os panelões já estavam ao lume. Na mesa ao lado cerca de uma dezena de quilos de arroz alinhavam na formatura ao lado do sal e das latas do feijão.
«Temos por tradição organizar almoços e jantares para angariar dinheiro de forma a fazer face às despesas», começa por nos explicar José António Reis, um militar da Força Aérea que nunca vira a cara quando se trata de promover a sua terra. «Este jantar vai ser servido com carne de vitela oferecida pelo ganadero Emilio, de La Alamedilla, a quem estamos muito gratos porque já em diversas ocasiões fez questão de mostrar que é um grande amigo da nossa terra», acrescenta o nosso anfitrião. A seu lado Emilio ouvia atentamente e aproveita para meter a sua cucharada: «Já fui mordomo da Carroça. É mais uma fiesta inventada pelo Gonçalves que mete garrafón e paletas porque no dia 17 faltava qualquer coisa. A mi me gusta essa fiesta!»
Enquanto se acrescentavam mais umas mesas e uns bancos corridos porque, afinal, as previsões foram ultrapassadas e era necessário acomodar cerca de uma centena de freinedenses que aderiram à «prova da vitela do Emilio» era tempo do aperitivo numa adega mais conhecida por «Bodega do Reis». O espaço tornou-se apertado para tantos amigos que se sentaram em roda da mesa presidida pelo Pedro, filho do Jordão das Batocas. «Não falho um encerro. Ainda hoje estive em Vilar Formoso. Vivam as Capeias», brinda o Pedro secundado por todos os presentes.
A noite terminou com o jogo do galo onde os participantes de olhos vendados (mas pouco) tentavam acertara num ovo que dava direito a levar para casa um galo vivo oferecido pela Comissão de Festas. Os mordomos (casais) de Santa Eufêmea (de acordo com a grafia da Freineda) em 2012 são: Carlos Tavares, Mário Rocha, Edgar Gonçalves, Licínio Gonçalves, Carlos Pereira e João Pedro.
Mas… ainda falta falar dos pára-quedistas? Claro que sim. A Freineda, e toda a Raia, vão assistir pela primeira vez a um festival de pára-quedismo. No dia 16 de Setembro a Comissão de Festas de Santa Eufêmea 2012 da Freineda vai proporcionar momentos inéditos. O avião vai estar estacionado no aérodromo da Dragoa, na Ruvina, concelho do Sabugal, e levantará voo para levar os pára-quedistas em duas vagas de manhã e duas da parte da tarde: os saltos sobre o Largo de Santa Eufêmea, na Freineda, com seis «páras» de cada vez estão marcados para as 11:00 e para as 11:45 e para as 16:00 e 16:45 horas. As festas da Freineda obrigaram a antecipar para 8 e 9 de Setembro, em Vila Nova da Barquinha, a Taça de Portugal de Pára-quedismo com Precisão de Aterragem.
O Capeia Arraiana associa-se à Comissão de Festas de Santa Eufêmea 2012 da Freineda apoiando este momento inédito em terras raianas.
jcl
O agrupamento 879 do Corpo Nacional de Escutas, sediado na Póvoa de Santo Adrião, concelho de Odivelas, está a realizar o seu acampamento anual com o tema «Na rota dos Contrabandistas». São quase oitenta os escuteiros, das quatro secções, inscritos para esta atividade de final de ano que se prolonga até ao dia 27 de Julho.

O tema das atividades é «Na rota dos Contrabandistas». Se outrora, os caminhos arraianos foram calcorreados por pessoas que, para sobreviver, contrabandeavam os mais diversos produtos, muito deles de primeira necessidade, agora estes jovens escuteiros vão trilhar pelos campos, serras e aldeia vizinhas refletindo sobre outros «produtos» ou mercadorias, essenciais para o desenvolvimento humano que são os valores. Não são valores financeiros, mas um capital humano que é necessário adquirir, transacionar e partilhar. Valores como acolhimento, oração, cuidado, disponibilidade, entrega, comunidade, gratidão, justiça, paz, amizade, amor, verdade, honestidade, respeito pela dignidade da vida do ser humano, pela natureza e muitos outros são princípios que visam a educação destas crianças com mais de seis anos e jovens na procura da felicidade.
O contacto com as populações vai ser uma mais valia para todos. Para os escuteiros que vão conhecer melhor a cultura destes povos raianos e para os populações que vão conhecer melhor a atividade destas crianças e jovens que deixam o comodismo citadino e urbano para entrar em contacto com a natureza.
As diversas secções tem uma programação própria e autónoma por vezes coincidente. Na programação de algumas secções prevê-se a pernoita nalgumas aldeias vizinhas, visita à Serra das Mesas, nascente do Côa, Sra dos Prazeres, Santuário da Sacaparte, atividades no Parque recreativo do Bardal (Navasfrias) e visita a lugares ricos na flora (é de destacar a visita a um carvalho, cujo tronco quatro adultos dificilmente abraçam), a lugares marcados pela geologia (uma barroco que oscila), a sepulturas antropomórficas todos eles em Aldeia do Bispo e também a animação da eucaristia dominical.
A base do acampamento situa-se nas zona envolvente ao Lar de Santo Antão e conta com o apoio expresso do Centro Social e Paroquial de Nª dos Milagres que dá apoio logístico, e dos proprietários e usufruidores dos lameiros cheios de carvalhos e freixos que dão excelentes sombras para instalarem as tendas. Conta-se também com o apoio de populares que disponibilizaram meios de transporte e corte de plantas para as atividades, da Câmara Municipal Junta de Freguesia de Aldeia do Bispo, entre outras, Liga dos amigos da Sacaparte e do Município de Navasfrias e da autoridade de saúde local, GNR e Bombeiros.
Esperamos que no futuro este tipo de atividades possam ser fomentadas ainda mais porque constituem um grande meio de promoção turística e cultural destas Aldeias Raianas.
Carlos Fernandes
Parabéns aos escuteiros da Póvoa de Santo Adrião pela escolha do concelho do Sabugal para o seu acampamento anual. Esperamos que tenham sido bem recebidos, que tenham tido facilitadas todas as questões logísticas e que voltem mais vezes.
jcl
Os capinhas, ou maletas, que se vão tornando uma raridade, foram durante décadas um elemento integrante da capeia arraiana, a maior e mais viva tradição cultural do concelho do Sabugal.
Diversos estudiosos, entre etnólogos, antropólogos, historiadores e outros cientistas sociais, têm tropeçado com as capeias, encontrando aí um apetecível campo de estudo para desbravar, dada a peculiaridade que o espectáculo reveste. De onde lhe vêm as origens? Representa um ritual? É obra do acaso? J. Leite de Vasconcelos, ilustre etnólogo e estudioso da cultura popular portuguesa, reparou no forcão, máquina de lidar o touro deveras original, e descreveu em pormenor o curioso engenho: «Um triângulo de uns cinco metros de altura formado de varas muito grossas e atravessado por outras menores». Apresenta um esquema gráfico do forcão, nele indicando, através de letras, os vários posicionamentos dos lidadores. Destaque para o rabiador, o homem que dirige os movimentos do triângulo segundo os ataques do touro.
Na colecção leitiana de recortes de jornais lá surge também um artigo de Karl Marx (pseudónimo de Carlos Alberto Marques, grande escritor, geógrafo e etnólogo de Vale de Espinho), sob o título «Uma Corrida de Touros na Lageosa», publicado em 1926 no semanário regionalista «O Sabugal». Karl Marx relata em estilo incisivo o folguedo (assim se designava a capeia arraiana), evidenciando o entusiasmo, a alegria, a emoção e, bastas vezes, a aflição, que rodeia esta peculiar manifestação taurina. E o espectáculo não é só o rodopiar nervoso do forcão ao centro da praça improvisada. É, antes que tudo, o encerro dos touros trazidos de Espanha, da Genestosa, onde pastam em manadas. São os foguetes que restalam, sinal de festa e diversão. É o samarra, ou tamborileiro, que com seus rufos incendeia o corro. São os rapazes arrojados que, dum e doutro lado, avançam e passam junto ao animal com casacos, cobertas ou sacas. São os pouco ágeis que se afoitam à praça e logo são colhidos, para exaltação geral. São, finalmente, os capinhas ou maletas.
Em quem são os capinhas? São toureiros amadores, vindos de Espanha, que participam nas capeias arraianas para se exercitarem na arte do toureio. O autor valdespinhense descreve-os magistralmente no seu artigo:
«O capinha é um pobre de Cristo que no Inverno morre de fome ou se ocupa em trabalhos servis e que no Verão oferece em holocausto à sublime arte tauromáquica o seu cicatrizado corpo; de terra em terra, andrajosamente vestido, com uma capa de clara cor debaixo do braço, conta as touradas pelo número de ferimentos. É um apaixonado que, nesta escola donde quasi nunca sai, se treina para entrar na eternidade nas chaves de um toiro, diante de um público que o aclame, diante de uma mulher por quiem se muere. O capinha canta lindas malagueñas pelas tabernas, estende a capa a colher donativos e vai deixando umas gotas de sangue na terra que os outros regam com suor. Faz umas sortes arriscadas, espeta uns ferros e sobre tudo sonha com a glória.»
Na verdade, nas nossas aldeias, a capeia arraiana não é capeia se não incluir a apreciada e muito aplaudida exibição dos arrojados capinhas, em cujos redondéis se praticam no toureio, sonhando actuar um dia na praça de uma grande cidade de Espanha, onde triunfem recebendo aplausos e aclamações, cortando rabos e orelhas.
Paulo Leitão Batista
A raia ribacudana é, desde tempos remotos, uma terra de gente bravia, criada entre penedias e chavascais. Vivendo num território algo inóspito, onde impera o barrocal e o clima é de extremos (bem ilustrado no famoso rifão: nove meses de Inverno e três de inferno), o íncola raiano viveu isolado durante séculos, sujeito a si mesmo.
A proximidade da linha de fronteira de Portugal com Leão, que ora avançava ora recuava, trouxe a estas terras a actividade castrense, hoje ainda bem visível pelo elevado número de castelos e fortalezas existentes. Era pois num ambiente de guerra, factual ou pairando como ameaça real, que o raiano se habituou a viver, tendo de proteger-se de tudo e de todos.
Com a prevalência de Portugal no domínio do território, que se seguiu ao Tratado de Alcanizes, em 1297, o povo sentiu maior acalmia, mas passou a sofrer a pressão do poder político e administrativo que o queria manso, trabalhador e cumpridor de seus deveres. Assistiu atónito à instalação de câmaras, cadeias, igrejas, conventos, mosteiros e um vasto conjunto de repartições públicas, tudo sustentado pelos magros proventos do seu trabalho. O campónio, que fossava a terra de sol a sol, na ânsia de sobreviver, tudo teve afinal que custear com o seu magro pecúlio.
Comia o que a terra dava, sem outros mimos. Em esforço colectivo, ergueu pontes e pontões, troncos de ferrar animais, eiras de malhar cereais, moinhos e engenhos de tirar água, tudo na perspectiva de melhorar os equipamentos de produção, na ânsia de uma vida melhor. Mas os zelosos funcionários do Estado montaram-lhe nas barbas a terrível máquina burocrática. Os paços do concelho e as repartições passaram a representar o poder político, que o oprimia, enquanto pelourinhos e forcas representavam a pesada mão da justiça, que o castigava impiedosamente.
E de que se ocupou este homem quase selvagem que se fixou em Riba-Côa? Pois lavrou e semeou a terra pedregosa, andou de pau em riste na arte da caça, pescou armando o galrito, emparelhou pedras para construir habitações. Pegou também em armas para servir nos exércitos, comerciou por onde pôde e, os mais engenhosos, dedicaram-se a artes essenciais, como a carpintaria, a frágua e a alfaiataria.
É pois muito venturoso este povo, que sempre andou envolto em acções de audácia. O maior desafio foi a tentação do proibido. Se lhe era vedado atravessar a fronteira para intercâmbio com os povos do outro lado, o raiano não se acobardou e desatou a cruzar a raia, na inquietação constante de comerciar com Espanha para arranjar sustento. Como bem lembrou o pensador bismulense Manuel Leal Freire, o contrabando era um delito, por força das leis vigentes, mas para o povo crente tal prática nunca foi pecado. Não acorria a estes homens valentes, que pela calada da noite atravessavam carregados a raia, declararem em confissão religiosa, perante o abade, terem errado por contrabandear.
Mau grado a amenização da fome pela via da candonga, que sempre dava algum ganho suplementar, nem assim o povo raiano conheceu a felicidade. Os tempos eram difíceis e trabucava-se a valer, cavando os terrenos, carrejando pedras, desbastando matagais, ceifando e malhando os cereais
Depois, quando todas as esperanças de uma vida melhor na sua própria terra se desvaneceram, deu-se a grande abalada que condenou as terras a uma aridez progressiva. Cansados de tanto lutarem em vão pela vida, os homens deixaram as famílias e deram o salto para franças e araganças, na busca de melhores oportunidades. Foi um acto de coragem, movido pelo desespero de uma vida de miséria que não lhes garantia futuro.
A emigração foi, a seguir ao contrabando, a grande aventura colectiva do povo raiano. Entregou-se a passadores e engajadores, muitos sem escrúpulos, e aceitou lá longe todo o género de trabalhos, sem reivindicar condições, sem exigir salários justos: o que vinha era sempre melhor do que o nada. Resignado, adaptou-se ao novo mundo.
Mas o nosso raiano também gosta da farra e do divertimento. Desde logo no jogo, uma das suas grandes perdições. Jogo a dinheiro, nunca a feijões. Também, nas festas e romarias anuais onde nunca faltava e onde comia rancho melhorado, mau grado as dificuldades do quotidiano.
Porém a maior valentia nestes actos lúdicos estava nas touradas raianas, no desafio de pegar os bois agarrado à galha do forcão. Em tempos idos os touros eram desviados das campinas de Espanha, de onde eram conduzidos às aldeias raianas portuguesas, para ali serem lidados com o forcão. A juventude agarrava-se à base de madeira, de forma triangular, em cujo manejo demonstrava a ousadia, numa prática ancestral e única que muito prezava manter.
O homem raiano é também temente a Deus e, sobretudo, às más artes do Diabo. Todas as tardes recolhia a casa ao toque das Trindades para rezar uma jaculatória. Aos domingos descia à igreja. Ia nas romarias de cruz alçada, rezando ao Santíssimo pelos mortos e pelos vivos e implorando sorte nas lidas da vida. Na Quaresma cumpria a rigor as restrições canónicas e fazia a desobriga pascal dizendo ao vigário o rol dos pecados.
De mistura com o culto religioso, o raiano vê nas festividades a ocasião para dar largas à diversão. Por isso as festas em honra da Senhora e dos Santos têm tanto ou mais de profano do que religioso. Para ele uma peregrinação assume a forma de romaria, onde não faltam as flores e as roupas garridas, a concertina e o acordeão, o vinho que jorra dos pipos e as suculentas merendas que se comem à sombra das frondosas árvores.
O que concluir do homem raiano, do seu ethos? Talvez se lhe aplique que nem uma luva a receita de José Osório da Gama e Castro (Diocese e Distrito da Guarda, Porto, 1902) sobre a índole dos beirões: «são caracteristicamente lhanos e afáveis, dóceis, hospitaleiros, em extremos laboriosos, e amantes da ordem, que muito convém à sua actividade agrícola e industrial».
Ou quiçá a visão mais realista de Aquilino Ribeiro (Guia de Portugal, Lisboa, 1924), também sobre o Beirão: «É empreendedor, vivo, laborioso (…). Ao mesmo tempo é industrioso, por vezes astuto até à manha, económico, mas sem usura, de boa memória para o bem e para o mal. Daqui ser animado de dedicações ou de ódios que apenas o sacrifício ou a desafronta satisfazem. (…) É esmoler, religioso, mas de uma religiosidade milagreira ou de arraial, marcado raramente de fanatismo».
Melhor nos serve a palavra do maior etnógrafo de Riba-Côa, Joaquim Manuel Correia (Memórias sobre o Concelho do Sabugal, Lisboa, 1946), acerca do carácter das suas gentes: «Povo religioso, sem grandes fanatismos, é, como os vizinhos espanhóis, alegre, divertido, sentimental e apaixonado pela música, poesia e pelos touros».
Paulo Leitão Batista
«Imagem da Semana» do Capeia Arraiana. Envie-nos a sua escolha para a caixa de correio electrónico: capeiaarraiana@gmail.com
Data: 28 de Fevereiro de 2012.
Local: Nascente do Rio Côa na freguesia dos Fóios.
Autoria: José Manuel Campos.
Legenda: Hoje fui dar um passeio lá para os lados da nascente do Côa e do Lameirão. Às vezes apetece-me andar por lá sozinho e fazer a exploração da Natureza ao meu ritmo. Procurei meruge mas apenas encontrei par uma simples saladinha. A água escasseia e a meruge não nasce. Mas encontrei outras coisas belas. Uma raposa, que não me viu, andou, durante um quarto de hora, pelo meio de uma dúzia de vacas de campo capturando alguns bichinhos que saltavam junto desses animais. Fiz também esta fotografia da chamada «Carambola» que tem um marco fronteiriço no ponto mais alto. É que tempo é propício para este género de passeios.
José Manuel Campos
O número 6 da revista de pedestrianismo «Itinerante», com a edição dedicada aos «Trilhos do Contrabando», foi apresentada no Sabugal, no dia 18 de Fevereiro
A revista Itinerante é a primeira e única revista de pedestrianismo nacional, com uma abordagem temática dos percursos pedestres que apresenta. A mesma dedicou a última edição (de Fevereiro de 2012) ao Tema «Por Trilhos do Contrabando», falando na raia e nos percursos que antigamente seguiam os contrabandistas. Também aborda as histórias dos contrabandistas e dos guardas-fiscais, da gastronomia tradicional e do património dos lugares pelos quais se sugerem viagens de sonho e de fantasia.
Contém uma interessante entrevista com José Manuel Campos, presidente da Junta de Freguesia dos Fóios, que fala sobre o contrabando dos tempos idos, em que se subia e descia a serra das Mesas para se ganhar a vida atravessando a fronteira com mercadorias, pondo-se a vida em risco, pois era um comércio proibido, efectuado através de uma fronteira fortemente vigiada.
Como sugestão aos amantes das caminhadas apresenta-se, entre outros, o trilho «de Fóios a Navasfrias», passando pela nascente do rio Côa e pela serra das Mesas, num percurso com cerca de 10 quilómetros, relativamente fácil de seguir, ainda que se tenha que subir e descer uma montanha, e enquadrado por paisagens amplas e de grande beleza natural.
A revista Itinerante tratou de outros temas, nas edições anteriores: «Por Trilhos das Invasões Francesas», «Por Trilhos em redor dos Faróis de Portugal», «Por Trilhos das Linhas de Torres Vedras», «Por Trilhos do Caminho de Santiago, em Ano Jacobeu», «Por Trilhos da República», «Por Trilhos das 7 Maravilhas Naturais de Portugal».
A revista tem um portal na Internet aqui, que a complementa e que permite a descarga dos trilhos para GPS.
plb
No concelho do Sabugal há empreendimentos turísticos de elevada qualidade. Nesta crónica vou dar a conhecer o «Meia Choina» em Quadrazais que tem a particularidade de ter dado a uma das habitações o nome «Maria Mim» imortalizado pelo escritor raiano Nuno de Montemor no épico romance que retrata a vida «terrível» dos quadrazenhos do século passado.
Quando vi neste blogue a notícia de que «a Câmara Municipal do Sabugal decidiu fomentar o alojamento local nas terras do concelho, em alternativa às unidades hoteleiras tradicionais, como forma de potenciar o Turismo Rural», fiquei contente e veio-me à memória um empreendimento turístico rural do nosso concelho. Estou a falar de um empreendimento – o «Meia Choina» em Quadrazais (terra de contrabandistas e uma das 40 freguesias do nosso extenso concelho) – que, aquando da minha recente visita me deixou impressionadíssima.
Em conversa com a sua promotora, Colette Borrega Correia, esta informou-me de que este empreendimento oferece quatro casa de turismo em espaço rural – casas de campo e uma casa de prova e venda de produtos regionais –, Casa do Manego, Casa da Maria Mim, Casa da Meia Choina, Casa da Forja Frágua e Casa do Cusco.
A casa já recuperada, concluída e classificada é a Casa do Manego, tendo tido como primeiro nome «Casa da Fábrica», por outrora ter sido uma pequena fábrica de sabão pertencente José Manuel Pires Correia, avô paterno da empresária. Tal nome não pode ser registado por já existirem três idênticos em Portugal.
A tradição do contrabando deixou marcas inegáveis que perduram ainda na localidade. O dialecto quadrazenho ou gíria utilizada pelos contrabandistas é uma fenómeno linguístico único na região, daí o ter utilizado vocábulos oriundos da gíria para batizar o espaço e as ditas casas.
A casa do Manego tem uma área coberta de 180 m2 e capacidade para 8 pessoas. Possui 4 quartos, dois deles com casa de banho privativa, dois duplo, duas casas de banho sociais, uma área de convívio e cozinha. O espaço exterior tem como cenário a Serra da Malcata, a privacidade e a grande área exterior permite ao visitante uns dias de repouso e total descontração, a região oferece também algum potencial nomeadamente o Rio Côa, para a pesca desportiva e e algumas praias fluviais.
Isilda Silva
As cores do Côa no Inverno por Alber Einstein.
«Quando li o Bhagavad-Gita e refleti como Deus criou este universo, tudo o mais se tornou supérfluo!» (Albert Einstein).
«Paixão pelo Côa – fotografia», crónica de Carlos Marques
carlos3arabia@yahoo.com
Costumo dizer que a capeia começa com o corte dos paus do forcão e termina dois ou três dias depois, da capeia propriamente dita, com o levantamento das estruturas e a limpeza da praça.
Hoje, último dia do ano, a rapaziada dos Foios foram cortar, carregar e transportar os paus de carvalhos que gentilmente o Ayuntamiento de Navasfrias se digna conceder-nos.
O Alcalde, Celso Ramos, autorizou e o Manolo, funcionário del Ayuntamiento, orientou o corte das árvores para que não se cometessem erros. Cortam-se os carvalhos, que estão mais juntos, e sempre de forma responsável e organizada.
Às nove horas portuguesas, mordomos, alguns familiares e alguns amigos estavam no local. Uns com as motosserras e outros, os mais fortes, dispostos a pegar nos carvalhos e carregá-los para o tractor.
Cerca de duas horas mais tarde os paus estavam no local do costume para dentro de um dois meses serem descascados.
Lá para Abril ou Maio os técnicos constroem o forcão e proporcionam mais um dia de excelente convívio.
VIVA A CAPEIA! VIVA A RAIA!
«Nascente do Côa», opinião de José Manuel Campos
(Presidente da Junta de Freguesia de Foios)
jmncampos@gmail.com
A Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Soito iniciou em 16 de Setembro de 2011 a ampliação das instalações do quartel. O projecto é um grande salto na melhoria das condições da corporação e uma das maiores iniciativas da actual Direcção presidida por Maria Benedita Rito Dias.
É um bom indício para o ano 2012 que começa. Como se pode verificar nas fotos, já se começa a vislumbrar as divisões para o serviço administrativo e comando bem como os pilares, para os altos portões das futuras garagens do edifício.
Quem pretender ajudar os bombeiros pode transferir o seu donativo para:
NIB: 003507020001137293062
ou, se for no estrangeiro, através do:
IBAN: PT50003507020001137293062, código CGDIPTPL.
A Direção e os Bombeiros Voluntários do Soito agradecem.
jcl
Hoje também te vou falar de uma coisa, que lá fora muito falam, agora! É «crise»! Não me lembro bem quem descreveu o Amor como o poder universal de atração mútua da gravitação, atuando por toda a parte entre os átomos, representando o véu material do Universo, bem como entre diferentes manifestações da consciência.
Talvez seja verdade quando expressas no mundo da relatividade. Talvez, falando praticamente, o Amor seja o único poder aonde se possa passar da relatividade para a Realidade.
Por outras palavras, quando a Humanidade luta no caminho da Realização, sabe quanto é necessário o poder do Amor para vencer todos os obstáculos.
É bom lembrar as palavras de São Paulo: «Ainda que eu tivesse o dom da profecia e ainda que compreendesse todos os mistérios e tivesse todo o conhecimento, ainda que eu tivesse uma fé capaz de remover montanhas, mas se não tivesse Amor, nada seria.»
Ora Côa, acredito que esta dita «crise» ocidental, é em primeiríssimo lugar, uma crise de valores (de amor).
Explico-te: se as pessoas responsáveis por outras pessoas, talvez uma coisa denominada de políticos, fossem pessoas de bem e com amor, não haveria egoísmos, roubos de todas as formas, ocupações de países, imposições de ideias e incompetências, constituições de «mercados» e «troikas», vaidades, ostentações, explorações humanas, fome, miséria, etc., etc.
Aqui à tua beira, não sinto a dita «crise», sigo o teu curso e ciclo natural. Sinto uma simbiose contigo e o Universo! Ainda bem, Côa, que tu existes, assim como outros lugares existem para além «deste ocidente»!
«Paixão pelo Côa – fotografia», crónica de Carlos Marques
carlos3arabia@yahoo.com
A escolha da personalidade do ano 2011 foi muito fácil e evidente. A silhueta de um nome destaca-se na paisagem raiana pelo mérito e reconhecimento que recebeu durante o ano que agora termina. Estamos a falar do poeta, escritor, jornalista e cronista Manuel António Pina. Quis o destino que este ilustre português, nascido em terras raianas do Sabugal, fosse galardoado, em 2011, com o Prémio Camões, a mais importante distinção para autores de língua portuguesa. «A vida é um rio que corre para a nascente», destacou Manuel António Pina, no Sabugal, na apresentação do seu mais recente livro «Como se desenha uma casa».

Os homens temem as longas viagens,
os ladrões da estrada, as hospedarias,
e temem morrer em frios leitos
e ter sepultura em terra estranha.
Por isso os seus passos os levam
de regresso a casa
às veredas da infância,
ao velho portão em ruínas; à poeira
das primeiras, das únicas lágrimas…
Manuel António Pina é a escolha (natural) do Capeia Arraiana para «Personalidade do Ano».
O jornalista, cronista, escritor e poeta nasceu a 18 de Novembro de 1943 na vila do Sabugal, terra de origem da família materna enquanto o pai é oriundo de Aldeia Viçosa, no concelho da Guarda. Por força da profissão do pai, que tinha de mudar de serviço e de localidade cada seis anos, Manuel António Pina saiu do Sabugal ainda menino, precisamente aos seis anos de idade, passando a andar de terra em terra e de escola em escola. Do Sabugal foi para Castelo Branco, depois para a Sertã, Cernache de Bonjardim, Santarém, de novo Cernache do Bonjardim, Oliveira do Bairro, Aveiro e Porto, onde acabou por se fixar aos 17 anos. Entretanto licenciou-se em Direito pela Universidade de Coimbra e dedicou-se à escrita e ao jornalismo.
Em 1971 ingressou no Jornal de Notícias onde foi editor e chefe de redacção. Actualmente publica diariamente na última página do diário portuense uma coluna de opinião com profundo sentido crítico sobre os grandes temas da actualidade nacional e internacional.
A sua obra, traduzida em várias línguas, divide-se entre a poesia, a literatura infanto-juvenil, o teatro, a crónica e a ficção. Autor de livros para a infância e juventude e de textos poéticos com um estilo único onde «brinca» com as palavras e os conceitos num permanente trocadilho aliado ao «jogo da imaginação».
O Prémio Camões, criado em 1989 por Portugal e pelo Brasil para distinguir um escritor cuja obra tenha contribuído para a projeção e reconhecimento da língua portuguesa, foi-lhe atribuído por unanimidade do júri hoje reunido no Rio de Janeiro.
«A decisão foi consensual e unânime, numa reunião que durou menos de meia hora», diz o comunicado do júri que atribuiu a Manuel António Pina o Prémio Camões, o maior galardão literário de língua portuguesa.
«É a coisa mais inesperada que poderia esperar. Nem sabia que estava hoje a ser discutida a atribuição do prémio», disse Manuel António Pina quando tomou conhecimento da atribuição do Prémio Camões.
O presidente da República, Cavaco Silva, felicitou o escritor Manuel António Pina pela atribuição do Prémio Camões 2011, principal distinção no meio literário lusófono. «A atribuição deste Prémio é o reconhecimento da relevância nacional e internacional que a sua obra representa na literatura em língua portuguesa e é, sem dúvida, um motivo de grande orgulho para todos os que apreciam a sua escrita», refere a mensagem de Cavaco Silva, também divulgada no site da Presidência da República. O chefe de Estado sublinhou que esta distinção «honra a literatura Portuguesa».
Em entrevista ao Capeia Arraiana, em Março de 2009, confessa que «a recordação mais antiga que tenho de mim mesmo é uma criança de dois ou três anos, de chapéu de palha na cabeça, ao pé de uma fonte, acho que uma fonte de mergulho, circular, num largo talvez em frente de minha casa. Outra criança tira-me o chapéu da cabeça e atira-o à água. Eu – acho que sou eu essa criança – exijo-lhe que o vá buscar e mo devolva. O outro miúdo não o faz, e afasta-se rindo. Então, cheio de orgulho ferido, eu regresso a casa». Um pouco mais à frente acrescenta que todas as outras memórias que tem do Sabugal «são imagens confusas do passado, misturadas com sentimentos presentes de que falo em outros poemas: «Lugar» (de «O caminho de casa») «[Lugares da infância]» (de «Um sítio onde pousar a cabeça»), e ainda «O quarto cor-de-rosa» (sobre a casa onde nasci, que é hoje da mãe da Natália), «Branco», «Forma, só forma» e «Um casaquinho preto» (sobre o casaco, na verdade uma pequenina casaca de cerimónia, feita pela minha «ti Céu», que ainda tenho e que vesti aos dois ou três anos numa festa de Carnaval no Sabugal)».
«Nesta casa nasceu o escritor e jornalista Manuel António Pina» testemunha a placa colocada ao lado da porta da casa onde nasceu o ilustre sabugalense. A homenagem promovida pela Junta de Freguesia do Sabugal teve lugar no dia 4 de Abril de 2009. Os actos da homenagem a Manuel António Pina centraram-se no Auditório Municipal do Sabugal, onde teve lugar uma palestra de Arnaldo Saraiva e a peça de teatro do grupo portuense «Pé-de-Vento». O programa incluiu, ainda, o descerrar de uma placa e visita à casa onde nasceu, troca de lembranças e oferta de livros do escritor à biblioteca municipal no salão nobre da Câmara do Sabugal, e a finalizar um porto de honra com uma mesa de luxo repleta de iguarias na Casa do Castelo.
Em 2010 a Câmara Municipal da Guarda, criou, em homenagem a Manuel António Pina, um prémio literário com o seu nome, que distinguirá anualmente, e de forma alternada, obras de poesia e de literatura. Ainda em homenagem ao escritor sabugalense realiza-se na Guarda um ciclo cultural repleto de actividades.
Galardões: 1978, Prémio de Poesia da Casa da Imprensa («Aquele que quer morrer»); 1987, Prémio Gulbenkian 1986/1987 («O Inventão»); 1988, Menção do Júri do Prémio Europeu Pier Paolo Vergerio da Universidade de Pádua, Itália («O Inventão»); 1988, Prémio do Centro Português para o Teatro para a Infância e Juventude (CPTIJ) (conjunto da obra infanto-juvenil); 1993, Prémio Nacional de Crónica Press Club/ Clube de Jornalistas; 2002, Prémio da Crítica, da Secção Portuguesa da Associação Internacional de Críticos Literários («Atropelamento e fuga»); 2004, Prémio de Crónica 2004 da Casa da Imprensa (crónicas publicadas na imprensa em 2004); 2004, Prémio de Poesia Luís Miguel Nava 2003 (Os livros); 2005, Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores/CTT (Os Livros); 2011, Prémio Camões.
jcl
«As comemorações dos 200 anos das Invasões Francesas e a importância da região raiana nas movimentações militares» foram eleitas pelo Capeia Arraiana como o Acontecimento do Ano.

As cerimónias oficiais da evocação da Batalha do Sabugal no sítio do Gravato tiveram início no dia 2 de Abril de 2011 no Auditório Municipal do Sabugal.
O professor Adérito Tavares abriu «as hostilidades» explicando (como só ele é capaz) o «expansionismo napoleónico na Península Ibérica: o princípio e o fim». Já no dia anterior, sexta-feira, no mesmo local, uma plateia repleta de alunos das Escolas do Sabugal tiveram oportunidade de aprender com o ilustre historiador natural de Aldeia do Bispo. Seguiu-se o lançamento dos livros «A Batalha do Gravato – Narrativas do famigerado combate do Sabugal» da autoria de Manuel Morgado e Marcos Osório e de «Sabugal e as Invasões Francesas» de Manuel Francisco Veiga Gouveia Mourão, Joaquim Tenreira Martins e Paulo Leitão Batista. O prefácio e a apresentação do livro escrito a «três mãos» esteve a cargo do filósofo e pensador sabugalense mestre Jesué Pinharanda Gomes.
No sábado, dia 2 de Abril, pelas 14 horas, teve lugar a inauguração da exposição, designada «A defesa da Fronteira da Beira», no Museu Municipal do Sabugal. No Auditório Municipal, decorreu o lançamento de dois livros dedicados às invasões. O primeiro, intitulado «A Batalha do Gravato – Narrativas do Famigerado Combate do Sabugal», da autoria de Manuel Morgado e Marcos Osório e o segundo, intitulado «Sabugal e as Invasões Francesas», sendo seus autores Manuel Francisco Veiga Gouveia Mourão, Joaquim Tenreira Martins e Paulo Leitão Batista, e foi apresentado pelo escritor e pensador sabugalense Jesué Pinharanda Gomes. No prefácio da obra o ilustre filósofo diz-nos: «A aventura ou gesta relativa às invasões, focalizando o caso específico do Sabugal, encontra-se reconstruída e descrita neste livro, cujo epílogo põe a nossos olhos o fim, sem remissão, do General Massena, incapaz de satisfazer o projecto do Imperador, e dessa atroz figura do «Maneta», o famigerado Loison. Tudo com o fim na Batalha do Sabugal, junto ao Coa, em 3 de Abril de 1811. Fim militar, ou politico-militar, porque a outra «invasão», a ideológica, a da recepção dos ideários da Revolução Francesa (frutificante entre nós a partir de uns dez anos mais tarde, 1820), achou na presença militar franco-inglesa, oportuna sementeira.»
O livro, editado pela Orfeu, tem três autores, o que proporciona perspectivas diferentes do que foi o Sabugal no contexto das invasões napoleónicas.
Manuel Francisco Veiga Gouveia Mourão descreve em pormenor a Batalha do Sabugal, acontecida em 3 de Abril de 1811. Explica as movimentações de retirada do exército de Massena, descreve o local onde se deu a batalha e as forças em presença, decifra os planos de Wellington para o confronto e a forma como realmente a batalha ocorreu. Os textos são complementados por croquis muito elucidativos, onde se observam os movimentos planeados e as manobras que foram de facto executadas.
Joaquim Tenreira Martins escreve sobre o Sabugal no tempo de Napoleão. Explicita o contexto histórico em que aconteceram as invasões francesas, com destaque para a terceira, que foi a que mais afectou a região do Sabugal. Desenvolve uma sugestiva e interessante tese acerca das duas «tentações» de Massena em diferentes momentos do movimento de retirada. Descreve o contexto em que aconteceu a Batalha do Sabugal e pormenoriza os planos e os movimentos das tropas que se digladiaram depois em Fuentes de Oñoro.
Paulo Leitão Batista traça alguns retratos do que foram as movimentações militares, os combates e os actos colaterais, tendo por cenário Riba-Côa e em especial as terras raianas do Sabugal. Descreve episódios pouco conhecidos e traça o perfil de alguns dos famosos generais que por aqui passaram em campanha.
Ainda no auditório teve lugar um Encontro Temático dedicado às invasões com as comunicações a cargo de Adérito Tavares: «O expansionismo napoleónico na Península Ibérica: o princípio do fim»; Joaquim Tenreira Martins: «Sabugal e as tentações de Massena na terceira Invasão Francesa»; José Alexandre Sousa: «Condicionalismos humanos e naturais numa acção militar – o combate do Sabugal a 3 de Abril de 1811»; Paulo Leitão Batista: «O Sabugal e a quarta Invasão Francesa»; e José Paulo Ribeiro Berger: «A importância da ponte sobre o rio Côa no Sabugal para o êxito do exército aliado na perseguição a Massena».
Às 21 horas um concerto pelo Ensemble da Orquestra Sinfónica do Exército encerrou as cerimónias desse dia.
No domingo, dia 3, os sinos das igrejas do Sabugal repicaram às 9:30 horas, seguido da inauguração de um memorial no sítio do Gravato, com presença militar.
Às 11 horas foi inaugurado um monumento evocativo da Batalha na rotunda de entrada no Sabugal, da autoria do escultor Augusto Tomás, seguida de cerimónia de homenagem aos mortos e evocação histórica pelo Tenente-Coronel Urze Pires.
Às 12 horas foi celebrada missa pelos mortos em combate. À tarde decorreu no castelo uma recriação das comemorações da vitória.
Assim é com todo o mérito que destacamos as comemorações do bicentenário da batalha do Gravato como o Acontecimento do Ano.
jcl
TERRA DO FOGO – O Madeiro de Penamacor, já reconhecido como o maior Madeiro do país, foi votado pelos portugueses como a tradição de Natal mais Criativa no Movimento SIM Natal, patrocinado pela Samsung. A sinopse do filme diz-nos que Miguel faz uma viagem até Penamacor para passar as férias junto do primo João e dos seus tios. O que ele não sabe é que o Natal em Penamacor vai ser muito diferente do que ele conhece. O fogo alimenta histórias de mistério e Penamacor é a Terra do Fogo.
jcl
TERRA DO FOGO – O Madeiro de Penamacor, já reconhecido como o maior Madeiro do país, foi votado pelos portugueses como a tradição de Natal mais Criativa no Movimento SIM Natal, patrocinado pela Samsung. A sinopse do filme diz-nos que Miguel faz uma viagem até Penamacor para passar as férias junto do primo João e dos seus tios. O que ele não sabe é que o Natal em Penamacor vai ser muito diferente do que ele conhece. O fogo alimenta histórias de mistério, e Penamacor é a Terra do Fogo.
jcl
TERRA DO FOGO – O Madeiro de Penamacor, já reconhecido como o maior Madeiro do país, foi votado pelos portugueses como a tradição de Natal mais Criativa no Movimento SIM Natal, patrocinado pela Samsung. A sinopse do filme diz-nos que Miguel faz uma viagem até Penamacor para passar as férias junto do primo João e dos seus tios. O que ele não sabe é que o Natal em Penamacor vai ser muito diferente do que ele conhece. O fogo alimenta histórias de mistério e Penamacor é a Terra do Fogo.
jcl
TERRA DO FOGO – O Madeiro de Penamacor, já reconhecido como o maior Madeiro do país, foi votado pelos portugueses como a tradição de Natal mais Criativa no Movimento SIM Natal, patrocinado pela Samsung. A sinopse do filme diz-nos que Miguel faz uma viagem até Penamacor para passar as férias junto do primo João e dos seus tios. O que ele não sabe é que o Natal em Penamacor vai ser muito diferente do que ele conhece. O fogo alimenta histórias de mistério e Penamacor é a Terra do Fogo.
jcl
No passado mês de noviembre, pelo segundo ano consecutivo, motards de Espanha e Portugal confraternizamos meio à afición do todo-o-terreno. E nada melhor para o fazer do que a zona do Parque Natural da Serra da Malcata junto ao povo dos Foios.

O nosso bom amigo Zé Manuel, que no ano passado já nos ofereceu as instalações das escolas dos Foios, com 42 camas, para ser durante um fim de semana a nossa casa, volta a ser o nosso anfitrião e o grande representante da hospitalidade destas terras arraianas. E é que em Foios nos sentimos como em casa. Em Foios e em Portugal em geral.
Desde os Foios percorremos os maravilhosos povos da zona arraiana pelos caminhos que os unem.
Foios, Penamacor, Salvador, Monsanto, Medelim, Bemposta, Pedrogao de Sao Pedro, Benquerença, Casteleiro, Sortelha, Aldeia de Santo Antonio, Sabugal, Souto… e novamente Foios. É sem dúvida uma boa mostra dos povos da comarca da Beira. Autênticos, com identidade própria.
O Outono é, provavelmente, a melhor época do ano para descobrir o encanto de suas paisagens. Por caminhos de granito decomposto, o que faz com que a água drene e facilite a condução das motos, atravessamos rios com águas limpas e frias, bosques de robles, pinheiros, de quejigos, de castanheiras, verdes praderas, com a majestuosidade dos seus montes…, caminhos que antanho foram percorridos por autênticos sobreviventes que já unian os dois paises, os macuteiros.
E como recompensa depois de um duro dia de esforços, nada melhor para se recuperar que a gastronomia local. Enchidos, queijos, produtos da huerta, cabrito…regados com o estupendo vinho tinto da terra.
Muito obrigado Zé Manuel, muito obrigado Foios…muito obrigado Portugal.
Já teniamos saudades destas Terras.
Fernando Mendoza
Estou contigo Côa, e como deixei tudo para trás, relembro aqui, junto de ti, aquele poema singelo e desconhecido, mas intenso e profundo. Estranha, doce e sentida experiência…
«Como um desmaio, um instante,
Outro sol inefável me deslumbra,
E todos os orbes conheci, e orbes mais brilhantes desconhecidos,
Um instante da futura terra, terra do céu.
Não posso estar acordado, porque nada me olha como antes
Ou então estou acordado pela primeira vez, e tudo antes foi simples sonho.»
Walt Whitman
Obrigado Côa!
«Paixão pelo Côa – fotografia», crónica de Carlos Marques
carlos3arabia@yahoo.com
Vou deixar para traz tanta parvoíce acerca de democracias, crises, povos, hipocrisias, valores, imagens ilusórias, mercados e outras merdas, troikas e trocas, pseudo políticos, capitalistas, vigaristas e oportunistas, futilidades de poderes e materialistas.
A tudo isto, Côa, renego, e quando estou junto de ti, grande momento, sublime indiferença: nada disto vejo!
Então, compreendo e sinto todo o instinto bom e natural que me despertas: A verdadeira natureza da humanidade é a Felicidade!
Quando regresso, vejo como eles são tão pobres…
Mais uma vez e sempre Côa: Obrigado!
«Paixão pelo Côa – fotografia», crónica de Carlos Marques
carlos3arabia@yahoo.com
O branco tule da neblina envolvia a Rebolosa enquanto o sino tocava alegremente em homenagem à Santa Catarina. Também os foguetes nos lembravam que era dia de festa. Fomos amavelmente recebidos pelo Sr. Presidente da Junta sorrindo, como sempre, e sondámos o seu pulsar. Não há dúvida que o coração da terra palpitava no seu olhar, ao falar-nos do orgulho que sente por estar à frente dos destinos desta Aldeia lutadora.

REBOLOSA
A meio da manhã
O Sol adoça a aldeia em festa
Aquecendo os feirantes
Tal como os acompanhantes
Turistas…e possíveis conquistas.
Então não era nas feiras
Nas festas e romarias
Que se descobriam amores
Não era dali que os Senhores
Davam sua permissão?
A Permissão na Rebolosa
Segundo reza a história
É a tal carta passada
Pelo Alcalde certificada
Para o porquinho matar.
Porquinho criado ali
Com farinhas, cereais
Que carne! Que maravilha
A assar na brasa, quentinha
Francamente a nos chamar!
Pãozinho daquele bom
Gentes sãs que acarinham
Carnes de todos os pores
Comidas de tantos sabores
O convívio a aumentar.
E dou comigo a pensar
Nesta terra, a Rebolosa.
Parece distante do Centro
E tanto que tem lá dentro
Como Rei se fez explicar.
Pois é ele, desta vez
O Presidente actual
Que nos recebeu de mão cheia
Pois há ali pé-de-meia
Numa terra abençoada.
Habitantes, mais de duzentos
Mas de tudo ali encontro
Uma Aldeia a lutar
A produzir, a criar
P´ra sua terra crescer.
Sobreviver ao silêncio
Aos lutos da interioridade
Para que a vida não se esfume
E ali a fogueira, o lume
Mostrarem que vale a pena.
E o Presidente continua
Que saneamento já tem
Ruas limpas, calcetadas
E vemos Peñas animadas
Com músicas em chamamento.
Chamamento para os jovens
Outro sonho a descobrir
Na Luta está a Autarquia
Que tudo deseja, tudo cria
Para que os jovens não emigrem.
E a Capeia Arraiana
O ex-líbris da zona
É pensada também para aqui
Tal como eu percebi
Pois que espaço já não falta.
Então a festa será valente
Mais ainda do que é
Lugar de melhor encontro
Tal como vi e vos conto
Para animar Rebolosa.
Rebolosa terra viva
Em luta pelo futuro
Não quer morrer de solidão
Pensa estruturas para o Verão
Para todos se banharem.
Sim, praia fluvial é sonho
Espaços verdes, água fresca
Que se quer realidade
Trazer trabalho de verdade
Para todos abranger.
Tocadores de realejo
Acordeonistas de garra
Anseiam pelo Encontro
E por isso aqui aponto
Pelo que vale lutar.
E a Câmara também ali esteve
O Presidente Robalo
Em seu apoio de Autarca
E isto também nos marca
Que a Autarquia acompanha.
Acompanha e apoia
Como fica bom de ver
E motiva Vereadores
Dr. Marques, outros Senhores
Que marcaram sua presença.
É isso que alicia
Vir à Raia, gente querida
E a Localvisão está sempre
Com Paula Pinto à frente
Da Câmara a comentar.
E fomos de volta à Peña»
Onde o Paulo nos recebeu
E a jeropiga provámos
E também quase dançámos
Na animação do encontro.
Então o cafezinho quente
Reúne gentes amigas
E a lareira acolhedora
Recebe os de cá ou de fora
A aquecer o coração.
«Eu morro à sede
Não há por aí uma pinga?»
Registei na brincadeira
Gosto de escrever à maneira
Para a todos agradar.
E que mais posso dizer?
Que na Rebolosa há vida
Por isso gostámos de estar
Conviver e petiscar
Como em nossa casa estando.
Parabéns Rebolosa
«O Cheiro das Palavras», poesia de Teresa Duarte Reis
netitas19@gmail.com
Depois da primeira edição em Salamanca, em 2010, a feira de cooperação transfronteiriça Ecoraya vem este ano até Trancoso, nos dias 10 e 11 de Dezembro.
A segunda edição da feira espera juntar cerca de 120 expositores e receber mais de 50 mil visitantes no Pavilhão Multiusos de Trancoso
O certame junta produtores da Beira Interior Norte e da província de Salamanca, em Espanha, e centra-se em três ideias chave: valorizar, Inovar e potenciar.
A edição de 2012 voltará a realizar-se em Salamanca e em 2013 a Ecoraia ocorrerá na cidade de Pinhel.
A Câmara Municipal do Sabugal está entre as entidades que promovem, através da Associação de Municípios da Cova da Beira (AMCB), esta feira internacional, que que se realiza com a parceria da Diputación de Salamanca.
O grande objectivo da Ecoraya é dinamizar o tecido produtivo e a coesão territorial, através da promoção de produtos regionais das regiões transfronteiriças. Entre os produtos a promover contam-se vinhos e licores, produtos lácteos, azeites e vinagres, enchidos, frutos secos, farinhas e derivados, mel, geleias e marmeladas.
Para além da exposição dos produtos da terra, haverá diversas iniciativas de animação e seminários temáticos.
Nas primeiras quatro edições da feira, já acordadas, a participação de expositores e a entrada de visitantes é gratuita.
plb
No seguimento dos anteriores pensamentos de «loucura» não resisto, Côa, a transcrever leituras que tu me despertas…
«O pensamento possui um poder incrível. Pode curar moléstias. Pode transformar a mentalidade das pessoas. Pode fazer qualquer coisa, até milagres. A velocidade do pensamento é incalculável.
O pensamento é uma força dinâmica. É causado pelas vibrações do Prana psíquico, ou Sukshma Prana, na substância mental. É uma força como a gravitação, coesão e repulsão. O pensamento viaja ou se move.
As células realizam seu trabalho sem o conhecimento consciente de nossa vontade. Suas atividades são controladas pelo sistema nervoso simpático. Estão em comunhão direta com a mente no cérebro.
Todo impulso da mente, todo pensamento, é transmitido às células. Estas são enormemente afetadas pelas várias condições ou estados de ânimo. Se na mente existir confusão, depressão e outras emoções e pensamentos negativos estes serão transmitidos telegraficamente através dos nervos a cada célula do corpo. As células soldados entram em pânico. Enfraquecem. Ficam incapacitadas para executar suas funções. Tornam-se ineficientes.
Alguns pensam demais no corpo e não têm ideia do que seja o Eu, levam uma vida indisciplinada e desregrada, abarrotam o estômago de doces e de bolos, etc. Não dão descanso aos órgãos da digestão e de excreção. Sofrem de fraqueza e de moléstias. Os átomos, moléculas e células em seus corpos produzem vibrações desarmoniosas e discordantes. Carecem de esperança, confiança, fé, serenidade e alegria. São infelizes. A força vital [prana] não está funcionando direito. O nível de sua vitalidade é baixo. Têm a mente cheia de medo, desespero, preocupação e ansiedade.
Enquanto a luz viaja a uma velocidade de 300.000 quilómetros por segundo, o pensamento é virtualmente instantâneo na sua propagação.
Qual seria o meio condutor em que os pensamentos de uma pessoa passam para a mente de outra? A melhor explicação possível é a de que o Manas, ou substância mental, enche, como o éter [“Akasha”, o espaço cósmico], todo o espaço e serve de veículo dos pensamentos, como o Prana [energia cósmica] dos sentimentos, o éter do calor, da luz e da eletricidade e o ar do som.
Cada um de nós tem o seu mundo de pensamento (é o chamado plano mental).
Quanto mais forte for o pensamento, mais rapidamente ele frutifica. O pensamento é focalizado e isso lhe dá determinada direção e, na proporção em que for focalizado e dirigido, estará o efeito que pretende alcançar.
Grandes Iogues como Jnanadev, Bhartrihari e Patanjali costumavam enviar e receber mensagens de pessoas distantes através da telepatia mental (rádio mental) e da transmissão de pensamento. A telepatia foi o primeiro serviço radiofónico, telegráfico e telefónico que existiu no mundo.
Existe na física o termo “força de orientação”. Apesar de haver uma massa de energia a corrente não flui. Precisa ser ligada ao circuito e só então a corrente elétrica fluirá através da “força de orientação”.»
«O Poder do Pensamento pelo Ioga», Swami Shivananda
«Paixão pelo Côa – fotografia», crónica de Carlos Marques
carlos3arabia@yahoo.com
Nos contactos que vou tendo com os meus conterrâneos a castanha, sobretudo nesta época, vem sempre à baila. Em Foios não há ninguém que não tenha castanheiros e se houvesse alguém que não tivesse apanharia, certamente, os de alguém, de meias ou de terças.
Tanto o secretário como o tesoureiro da Junta de Freguesia de Foios são excelentes produtores de castanha e como lido com eles praticamente todos os dias, vou escutando as conversas que travam, com as muitas pessoas que passam pela Junta, pelo que estou bastante bem informado sobre esta actividade.
As pessoas dos Foios estão deveras satisfeitas com a produção e com a venda, no presente ano de 2011.
As primeiras castanhas que caíram, ainda com um tempo de Verão, assustaram as pessoas. A ausência da chuva e o calor faziam com que as castanhas ficassem algo secas ou «bladas» como por cá se diz.
Os compradores do costume também não apareciam e as pessoas já deitavam contas à vida.
Algum comprador que ia aparecendo era ele que fazia o preço e ia dizendo às pessoas que as castanhas não tinham procura.
As pessoas dos grandes centros em vez de procurarem as quentes e boas castanhas procuravam os gelados.
Finalmente o S. Pedro fez a vontade às pessoas e a chuva e o vento vieram em abundância, quando a maioria dos castanheiros se encontravam ainda bastante carregados.
A castanha engrossou um pouco mais e ficou muito mais luzidia como por aqui se diz. Foi um milagre.
Os compradores começaram a vir em força e já não havia castanhas que chegassem. Antes do dia de Todos os Santos as camionetas não paravam de chegar. Alguns compradores vinham duas vezes no dia e outros até por cá dormiam.
Então aí é que os produtores tiveram sorte. Os compradores eram muitos e quase entraram em despique.
Acabaram por pagar a castanha a um preço que as pessoas já consideram, mais ou menos justo.
A maioria vendeu a um euro e meio muito embora algumas tivessem ficado por um e vinte ou um e trinta.
Penso que das mais de 150 toneladas que se produzem nos Foios poucas castanhas devem ter ficado debaixo dos castanheiros.
Fico muito feliz quando converso com as pessoas e as vejo entusiasmadas a ponto de dizerem: Quando verifico que tenho um castanheiro a secar planto, de imediato, três.
Cá pelos Foios todos nos incentivamos uns aos outros porque toda a gente tem plena consciência da enorme importância do castanheiro.
Seria bom que se fizessem estudos e levantamentos, em todo o concelho do Sabugal, e que se incentivassem as pessoas a plantar grandes soutos.
Apelo igualmente às entidades oficiais, nomeadamente e sobretudo à Câmara Municipal, para que se debrucem sobre esta problemática.
O escoamento este ano correu bastante bem mas não estamos livres de anos maus.
O trabalho que se vai desenvolvendo na Colónia Agrícola Martin Rei é já muito importante mas julgo que se poderá ir muito mais além, para bem de todos.
Se os castanheiros secaram em algumas zonas do nosso Município, outrora consideradas mananciais, teremos que ser corajosos e arrancar com novas experiências.
Se os nossos ex-governantes não tivessem dado subsídios para se arrancarem, pomares, vinhas e outras espécies talvez não tivéssemos chegado ao estado de desgraça em que nos encontramos.
Mas tudo o que acabo de referir não nos deverá levar à revolta e ao desânimo, pura e simplesmente. Bem pelo contrário.
O nosso Concelho tem muitas potencialidades, nos mais variados aspectos, pelo que teremos que ser corajosos e organizados.
Arregaçar as mangas e mãos à obra!
«Nascente do Côa», opinião de José Manuel Campos
(Presidente da Junta de Freguesia de Foios)
jmncampos@gmail.com
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