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Depois de seis anos de obras, abriu ao público, no dia 16, o novo pólo termal de Longroiva (concelho de Mêda). Uma infra-estrutura que dá maior capacidade às termas para o desenvolvimento da sua actividade.

Trata-se de um investimento público que ultrapassou os 5 milhões de euros, e que se traduziu na construção de um novo edifício dotado com equipamentos de vanguarda na área do termalismo e bem-estar.
As termas de Longroiva, em funcionamento desde 2001, são recomendadas para o tratamento de doenças musculo-esqueléticas e das vias respiratórias superiores.
Neste novo espaço existem, para além do termalismo dito clássico, espaços destinados ao termalismo lúdico, como piscina, sauna e banho turco; à reabilitação e ao Fitness, permitindo atender mais de 300 pessoas por dia.
Os tratamentos de cura termal serão obrigatoriamente precedidos de consulta médica por um dos médicos hidrologistas e serão realizados por técnicos de balneoterapia devidamente formados, sempre sobre a supervisão de um enfermeiro.
Na área do bem-estar, poderá ser adquirido um dos pacotes disponíveis existindo a possibilidade de combinar diferentes experiências termais como talaxion ou duche Vichy.
O balneário estará aberto das 08:00h às 12:00h e das 16:00h às 20:00h de Segunda a Sábado e aos Domingos das 09:00h às 12:00h.
Com este novo equipamento, a vila termal de Longroiva ganha nova dinâmica posicionando-se num segmento de mercado, que apesar da conjuntura económica difícil poderá contribuir decisivamente para o fortalecimento da economia local.
Mais informações Aqui.
plb (com C.M. Mêda)
Dando continuidade à publicação da eloquente Lição de Sapiência pronunciada no Sabugal no dia 5 de Março de 2011, na cerimónia do II Capítulo da Confraria do Bucho Raiano, pelo confrade João Luís da Inês Vaz, aqui deixamos a terceira, e última, parte do texto. (parte 3 de 3.)

Quando os Árabes invadiram a Europa, faz este ano 1.300 anos, o consumo de carne torna-se numa questão de distinção cultural, pois quem é partidário de Maomé não come porco e o cristão come. De notar que o mesmo vai acontecer outra vez quando os Judeus começaram a ser perseguidos na Europa e o consumo de porco faz a distinção entre Cristãos e Judeus. Não esqueçamos que teria sido por isso que surgiu essa preciosidade da nossa gastronomia que se chama alheira.
Diz-se que as relíquias de S. Marcos, o de Veneza, onde tem a sua grandiosa basílica, teriam sido trazidas de Alexandria, então sob domínio árabe, escondidas debaixo de carne de porco… O porco torna a ser tão importante a nível religioso que é dos poucos animais que tem entrada nos altares, pois acompanha sempre santo Antão, sendo mesmo o ícone distintivo deste santo.
Nos forais régios ou nos documentos monásticos da Idade Média o porco aparece com frequência sob a forma de imposto que deve ser pago quando as pessoas matam e são obrigadas a dar ao senhor da terra um quadril ou quarto do porco, por exemplo em épocas certas do ano.
Na infância de todos nós, como todos aqueles que fomos criados na aldeia sabemos, o porco representava efectivamente um tesouro, como diz o aforisma e infelizmente nem todos podiam matar porco. No porco tudo se aproveitava, como diz o testamento do porco. A faceira, depois de separada dos ossos da cabeça serve para fazer deliciosos «chuchurrões», os ossos da cabeça salgam-se para cozer conjuntamente com os ossos da suã, a língua serve fazer um delicioso salpicão ou o «chouriço da língua», como se lhe chama na nossa zona. O resto do porco é desmanchado para fazer febras, consumidas fritas ou grelhadas logo no dia da desmancha, para cortar em febrinhas pequenas num talhador para encher as chouriças em tripas do próprio porco ou outras previamente preparadas. Além das febras, o toucinho metia-se na salgadeira para fritar ou derreter para banha ou até para cozer na sopa para lhe dar sabor e depois ser comido com pão. Na salgadeira metiam-se ainda outras partes do porco, nomeadamente os presuntos que só iriam ser consumidos muito mais lá para diante e duravam muitas vezes até à matança seguinte. E o lombo, lembram-se daquele lombo que era apenas «entalado» e depois metido na própria banha do porco e conservado em talhas de barro durante meses? Que sabor inexcedível quando era tirado e acabado de fritar em azeite na «pela» posta ao lume… As morcelas, as farinheiras, os chouriços, as chouriças de boches, tudo era posto a secar no fumeiro das casas que não tinham chaminé, e eram tantas… Diz o testamento do porco que a bexiga era deixada às crianças para brincarem à bola, mas já viram que nossa zona as bexigas sempre aproveitadas para encher como se fossem a tripa do porco? Talvez aqueles que a deitavam fora nunca se tenham apercebido que também podia ser cheia e poderia haver também algum repúdio por questões higiénicas, mas o que é certo é que depois de bem desinfectada e esfregada com sal e vinagre fica como as tripas pronta a ser cheia, embora não durasse muito tempo até ser comida pois poderia com facilidade criar «penilha».
E o bucho, razão pela qual estamos aqui hoje e nos levou a ser confrades que jurámos defender esta iguaria? O bucho deverá ser tão antigo como a elaboração do fumeiro, mas nada de certo podemos dizer. O que podemos dizer é que o nosso «butcho» é único quer na sua elaboração quer na sua apresentação. Em Trás-os-Montes, na zona de Valpaços e Vinhais faz-se aquilo a que se chama o «butelo» que difere substancialmente do nosso no seu recheio, pois leva demasiados ossos. Na zona do Pinhal Interior (Ferreira do Zêzere, nomeadamente) fazem-se os maranhos que nada têm a ver com nosso bucho, mas que muitos consideram como uma variante do bucho. O que é certo é que o recheio deste pode ser até o arroz, mas o mesmo nome utiliza-se em Proença-a-Nova para o estômago do cabrito recheado com arroz e pedacinhos de carne do próprio cabrito. O nosso bucho que sempre se fez nas nossas aldeias é feito do estômago do bicho que depois de bem lavado é recheado com as orelhas, o rabo, o focinho, as pontas finas das costelas e algumas costelas mais pequenas… Era o último grande enchido a ser comido e por isso se comia no domingo gordo ou na terça-feira gorda que eram respectivamente o domingo de carnaval e a terça-feira de carnaval. É que, daí para a frente, eram quarenta dias de jejum e abstinência e por isso tudo o que não se pudesse conservar tinha que ser comido. As chouriças ainda se podiam conservar em azeite numa talha de barro, tal como o lombo, o que estava salgado podia continuar na salgadeira, mas o enchido que estava fora como o «chouriço do cú», o da tripa grossa e o bucho tinham que ser consumidos antes da dieta higiénica dos quarenta dias da Quaresma. O consumo do bucho reunia à volta da mesa toda a família e, às vezes, até familiares mais afastados se aproximavam neste dia e era ocasião de festa porque a seguir ao almoço chamado até há alguns anos como «jantar» pois à noite comia-se a «ceia», era ocasião de pôr as máscaras e gozar o «Entrudo».
À mesa, o porco produto de uma sociedade camponesa ou urbano-rural, morto e consumido num ritual mágico-religioso e iniciático, provocou sempre prazeres colectivos com uma mistura de deleite individual. Não deixemos que o prazer que estes rituais colectivos nos proporcionam e o prazer que sentimos se varram da nossa memória e da nossa identidade arraiana.
(Fim.)
João Luís da Inês Vaz
Perante a fugaz passagem do tempo decorre, inevitavelmente, a Primavera e sobra-nos, a nós, a sensação de que o razoável não nos basta. Seria forçoso crer no impossível para que o presente pudesse ser promessa de um futuro melhor. E não se leia, nestas linhas, pessimismo porque eu direi que não, que o não é, que é tão só nua e crua realidade.
Enquanto assim, falar de quê? Talvez falar de algo agradável na tentativa de temperar momentos, alguns momentos destes dias que nos gastam sem que nos ofereçam grande realização.
Então que, ao menos, o meu falar não enfade enquanto me refiro ao mítico ambiente histórico/lendário da zona jarmelista. De facto, por aqui, a história e a lenda amalgamam-se, fatalmente, revestindo-se, ambas, de ambiente austero e, paradoxalmente, suave.
Claro que é difícil ficar indiferente perante uma onda de austeridade granítica tonalizada de cinzento, quase feia, entremeada de verdura frutificante como que propondo um derradeiro e forte apelo à esperança. Repare-se, ainda, no formato terno e feminino do Monte terminado, lá no alto, por dois cimos sugerindo uns seios de mulher. Razões e contrastes capazes de marcar personalidades.
Coloquemos, então, sobre este Monte uma presença histórica de defesa estratégica que assistiu à sucessão dos séculos. Tal historicidade fica provada por dois forais, o primeiro de D. Afonso Henriques e o segundo Manuelino. Também o rei D. Pedro se afeiçoou a estes sítios onde desfrutou encontros amorosos, festas e caçadas. Mas, tais circunstâncias, não podem fazer olvidar o futuro perante a modernidade que lhe pisa os pés. A auto estrada que se lhe estende em frente perde-se numa infindável extensão, sonorizada por uivos ultra velozes de motores acelerados que ligam Portugal ao interior da Europa.
E, sim, é do contraditório que nasce a razão e é no contraste que se constrói o equilíbrio. Não será de esperar que, por aqui, a modernidade, apague a história nem que a história ofusque a modernidade.
No cimo da montanha subsistem vestígios de um castro lusitano e de um povoado medieval que ficarão eternamente ligados aos trágicos amores de Pedro e Inês provavelmente a mais célebre história de amor em Portugal.
De mãos dadas com a história emerge, assim, a lenda (tal como esta) de uma pedra, que o povo crê ter sido a pedra de montar de Dona Inês de Castro. Ao longo dos tempos os Jarmelistas impuseram a eles próprios, a conservação da dita pedra e, para tal, foi correndo a tradição de as noivas pagarem uma tença ao casarem. Ainda hoje é sobejamente conhecida a quadra «Adeus Vila do Jarmelo/ Adeus perda de montar/ Enquanto o Mundo for Mundo/ Dinheiro hás-de Ganhar».
«Terras do Jarmelo», crónica de Fernando Capelo
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