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«Poetando» é a coluna de Manuel Leal Freire no Capeia Arraiana, na qual a cada domingo vai publicando poemas inéditos, cada um dedicado a uma aldeia do concelho do Sabugal. Este Município raiano, um dos maiores do País em termos de extensão territorial, tem 40 freguesias, algumas delas com anexas, sendo no total exactamente 100 (cem) o número das localidades do concelho do Sabugal. Nesta edição o escritor e poeta bismulense dedica um soneto aos Amiais, pequena aldeia anexa da freguesia de Aldeia de Santo António. No próximo domingo será editado o poema relativo a outra anexa: a Urgueira.
AMIAIS
Bifronte o amieiro em seu destino
Mil vezes entre a lama enlameado
Mas outros talhando o desatino
Ao cimo dos altares alçapremado
O férreo tamanco agrilhoado
O povo o recorda e em seu ensino
Aos Santos aparece religado
Gémeos irmãos quais o bronze e o sino
A dura pedra o escultor amolda
Do inerme bloco sai formosa Isolda
A derreter Tristão por derradeiro
Por sobre os troncos obra igual milagre
O vero artesão que se consagre
A tornar sacro o pau do amieiro
«Poetando», Manuel Leal Freire
«Poetando» é a coluna de Manuel Leal Freire no Capeia Arraiana, na qual a cada domingo vai publicando poemas inéditos, cada um dedicado a uma aldeia do concelho do Sabugal. Este Município raiano, um dos maiores do País em termos de extensão territorial, tem 40 freguesias, algumas delas com anexas, sendo no total exactamente 100 (cem) o número das localidades do concelho do Sabugal. Nesta edição o escritor e poeta bismulense dedica um soneto às Alagoas, pequena aldeia anexa da freguesia de Aldeia de Santo António. No próximo domingo será editado o poema relativo a outra anexa: Amiais.
ALAGOAS
Do tempo em que a vara de Abraão
Fendendo a dura rocha a volveu fonte
A luta pela água é redenção
Que tem de se exaltar para que conste
Aquilo que já foi um calvo monte
Estéril que lembrava maldição
Não tem em sua linha de horizonte
Quem lhe não preste as honras de rincão
Milagres faz a água da barragem
Disposta a quando chega a estiagem
Horas de laudes de sextas ou noas
A esparzir-se aonde a sede aperta
Aos regos chegará à hora certa
Benditas sejam, pois, as Alagoas
«Poetando», Manuel Leal Freire
Fala-se abundantemente da falta de motivos importantes no Sabugal que motivem e tragam ao concelho pessoas de outras localidades, combatendo a desertificação da região. Ora, aqui está um bom motivo que, com outros existentes mas ainda por explorar, poderão contribuir para a vinda ao concelho de gentes de outras regiões.
Custa-me, sinceramente deixar um tema para trás sem ter a certeza que esgotei todo o seu conteúdo. Julgo portanto, não maçar os nossos leitores se voltar a escrever sobre a presença de povos que em tempos remotos passearam pela região de que sou natural e deixaram vestígios seus muito fortes, que teimam em permanecer, pese embora os responsáveis locais nada tenham feito para preservar o seu legado. E, mais grave ainda é o facto de apesar da sua obrigação em guardar a nossa história, ainda a destruíram! É preciso não ter qualquer sentimento ou amor à história a que estamos ligados. E foi o que fizeram os nossos responsáveis autárquicos!
Mas quer queiram, quer não, a aldeia dos Amiais, da freguesia de Aldeia de Santo António está e estará sempre ligada a povos remotos que a ocuparam e deixaram as suas marcas que atestam bem essa sua passagem.
Há duas semanas deixei aqui o meu testemunho de um possível povoado lusitano, situado no cume de um cabeço, povoado por carvalhos, cobertos de fungos brancos, de baixa altura, por causa, diz-se, «daquilo que se encontra lá por baixo!» ainda por estudar – «a moita – cabeça». Este monte, situa-se a Sul da dita povoação, da freguesia de Aldeia de Santo António e hoje, apresento algumas fotografias onde é possível verificar a forma circular do relevo ali existente.
Mas há outros sinais que testam a presença desses povos antigos e nossos conterrâneos: Primeiros os lusitanos, seguindo-se os romanos e agora nós. Próximo do lugar onde foi feita a exploração de água que ainda abastece parte da bonita cidade do Sabugal, muito próximo do pretenso «povoado lusitano», existia uma fonte romana, entretanto subterrada, sem dó nem piedade, pela autarquia do Sabugal aquando dos trabalhos de abastecimento de água. E também a calçada romana, foi entretanto coberta por cascalho e outros produtos para permitir a passagem de carros de bois único meio de transporte dos produtos agrícolas, outrora abundantes naquele local. No extremo norte à povoação, junto ao actual tanque público de lavagem de roupa e à actual fonte de mergulho (erradamente chamada de romana) também ali existiu, no final de uma regadeira, na esquina com uma edificação em pedra uma outra fonte, essa sim, romana que já foi «destapada» em tempos de muita seca para matar a sede à população pois a actual secara completamente, segundo me assegurou a D. Virgínia, uma jovem senhora com 83 anos de idade, segurando o seu cajado, fiel amigo de alguns tempos que a ajuda a manter um pouquinho mais direita.
Por outro lado, existe um caminho que era muito procurado e utilizado pela população, pois era a aquele que permitia chegar mais depressa à sede da freguesia na altura, a bonita aldeia de Urgueira e que por isso tomou o seu nome: caminho da Urgueira. Tem o seu início na estrada nacional – Sabugal – Terreiro das Bruxas, passa junto à moita – cabeça e depois junto a outro achado arqueológico já próximo de Aldeia de Santo António – as sepulturas romanas. Este caminho actualmente não está transitável pois no seu seio cresceram carvalhos e são muitas as pedras que o tornam irreconhecível. Parte dele, encontra-se até tapado com uma cancela, para guarda do gado que por lá passava. Era urgente a limpeza deste trajecto, pois para além de ter grande utilidade, serviria para o acesso ao povoado lusitano e por isso um lugar de passagem obrigatória para quem se interessa pelo passado. As sepulturas romanas, as que restam, encontram-se em bom estado de conservação, conforme se pode observar pelas fotografias que aqui deixo. Estes monumentos romanos de que restam apenas três eram muitas mais. As restantes foram destruídas, na exploração da rocha onde se encontravam, para construção de casas em Aldeia de Santo António, como me foi dito pela Sra D. Virgínia, dos Amiais, que era a proprietária daquele lugar e o doou à Junta de Freguesia.
Por tudo quanto ficou aqui dito, é urgente que as autoridades locais, a Câmara e os seus serviços de arqueologia, reparem o mal que fizeram ao património arqueológico ali existente: Destruição ou ocultação de fontes e calçada romanas, Iniciar a exploração arqueológica do povoado previsivelmente existente no cume da moita-cabeça e reparar o caminho antigo da Urgueira para permitir a visita aos locais indicados como de interesse histórico. Assim reparar-se-ia a injustiça praticada a este povo – Amiais, quando lhe retiraram compulsivamente toda a sua abundante água ali existente para bem e comodidade exclusiva das pessoas que habitam a cidade.
Fala-se abundantemente da falta de motivos importantes no Sabugal que motivem e tragam ao concelho pessoas de outras localidades, combatendo a desertificação da região. Ora aqui está um bom motivo que, com outros existentes mas ainda por explorar, poderão contribuir para a vinda ao concelho de gentes de outras regiões. É urgente explorar todos os recursos existentes! Não nos podemos dar ao luxo de desperdiçar oportunidades?
«Ideias Soltas», opinião de Joaquim Ricardo
dr_jfricardo@hotmail.com
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