You are currently browsing the category archive for the ‘Riba-Côa’ category.
Quando saiu o meu artigo sobre o ethos do povo raiano, o José Nunes Martins, de Malcata, observou que o referido ali, a respeito do povo raiano, se aplicava também ao povo português.
Tratou-se de uma observação inteligente, que me fez pensar. De facto, em resultado de uma feliz conjugação da herança étnica e paisagem própria de Riba-Côa, que são as mesmas que se verificam no todo do território nacional, as mesmas características da alma portuguesa manifestam-se a do povo raiano, como talvez em nenhum outro. São precisamente essas circunstâncias étnicas e de paisagem, que estão na origem na religiosidade cristã e pagã do povo raiano, afloradas na parte final do artigo sobre o Aspecto Sagrado Das Capeias.
Daí que, o que se afirma do povo da raia pode extrapolar-se para o português e para se analisar a alma portuguesa pode-se tomar como exemplo a particularidade da alma ribacudana.
Existe um livrinho, de 120 páginas, com o título Arte de Ser Português, editado em 1920, escrito por Pascoais para leitura no ensino público, a fim de incutir na juventude o sentido patriótico, que aborda esta questão da alma do povo português.
Trata-se de um livro muito importante porque resume a doutrina do “existencialismo lusitano”, e ao qual nos cingimos, para transpor para a alma ribacudana tudo o que no mesmo Pascoais refere a propósito da alma portuguesa.
O pensamento subjacente a esta obra, que Pascoais já exprimira em vários artigos da Águia, e desenvolve na Saudade e o Saudosismo (em forma de polémica epistolar com António Sérgio), é a de que ser português é uma arte e como tal, digna de cultura.
Por isso caberia aos professores, trabalhando como se escultores fossem, modelar as almas dos jovens para lhes imprimir os traços da raça lusíada. Traços estes que lhe dão personalidade própria, «a qual se projecta em lembrança do passado, e em esperança e desejo do futuro».
Isto é, o fim desta arte seria «a renascença de Portugal, tentada pela reintegração dos portugueses no carácter que por tradição e herança lhes pertence, para que eles ganhem uma nova actividade moral e social, subordinada a um objectivo comum e superior».
As descobertas teriam sido o início desta obra, e desde então a pátria tem dormido. Despertando, saberia continuá-la.
A Raça, em Pascoais, não tem o sentido pejorativo, conotado com o Estado Novo, sendo apenas um «certo número de qualidades electivas, próprias de um povo, organizado em pátria, isto é, independente sob o ponto de vista político e moral».
Estas qualidades são, ainda segundo ele, de natureza animal e espiritual e resultam do meio físico (paisagem) e da herança étnica (tradição), histórica, jurídica, literária, artística, religiosa e económica.
Na Raça portuguesa a sua herança étnica está nos povos que primitivamente habitaram a península e dos quais descendem os portugueses, castelhanos, vascos, andaluzes, catalães, galegos, etc.
Esses povos pertenciam a dois ramos. O ariano (galegos, romanos, godos, celtas, tec.) e o semita (fenícios, judeus e árabes).
Dos primeiros veio a civilização greco-romana, o culto pela forma, a beleza como representação da realidade próxima e tangível (naturalismo), o paganismo e o panteísmo; dos segundos veio a civilização judaico-cristã, bíblica, o culto de espírito, a unidade divina, a beleza concebida para além da matéria.
Ao primeiro corresponde a verdadeira alegria terrestre, a infância, a superfície angélica da vida, o naturalismo, o amor carnal que continua a vida; ao segundo a dor salvadora que nos eleva ao céu, o sonho da redenção, o espiritualismo judaico, o amor ideal que purifica e diviniza.
Do ponto de vista étnico, o indivíduo, porque não cabe dentro dos seus limites individuais, porque é um ser social, herda as qualidades da família e da sua raça. Assim sendo, o português participa também desta herança étnica e histórica, «adquirindo uma segunda vida que mais vasta, domina a sua existência como indivíduo».
Por sua vez, exceptuando a planície monótona do Alentejo, de cariz mourisco, resume Pascoais a paisagem portuguesa aos planaltos desnudos de Trás-os-Montes, de hostil aridez judaica, e ao Minho viridente, alegre e colorido, de vales e pradarias, de matriz celta e ariana, que estão de acordo pela sua apetência dolorosa com o genuíno semita, e pela sua apetência alegre com o genuíno ariano.
A alma lusíada tem a sua origem na fusão dos antigos povos da península e na paisagem. Nas belas palavras de Pascoais «esta bela flor espiritual brotou de uma haste mergulha as raízes na terra e no sangue, entre os quais se estabeleceram verdadeiros laços de parentesco».
Ou seja, a paisagem é fonte psíquica da raça, porque ainda segundo Pascoais «tem uma alma que actua com amor ou dor sobre as nossas ideias ou sentimentos; transmitindo-lhes, o quer que é da sua essência, da sua vaga e remota qualidade que, neles, conquista acção moral e consciente».
Foram destes dois sangues, que equivalendo-se em energia «deram à Raça lusitana as suas próprias qualidades superiores», e trabalhadas e combinadas desta forma feliz pela paisagem, resultaram na criação da alma portuguesa.
Foi da combinação entre a herança e a paisagem que esta alma, absorveu por essa razão na sua feição religiosa a ideia pagã e a cristã, dualismo este de que resultaria o saudosismo.
É precisamente na paisagem original da região do Tâmega, segundo Pascoais a que conjuga a paisagem dolorosa de Trás-os-Montes e a paisagem alegre do Minho, onde a voz do sangue (herança) e da terra (paisagem), estabelece o diálogo que caracteriza o carácter desta complexa fisionomia dualista portuguesa, alegre e ao mesmo tempo dolorosa; materialista e ao mesmo tempo espiritual.
Ora, é aqui divergimos de Pascoais: Podendo concordar que na região do Tâmega se reúnam os dois elementos da paisagem; falta-lhe sempre o elemento semita da origem étnica, que só existe abaixo do Douro.
Sucede também que, mais que na região do Tâmega, é na região de Cima-Côa que se reúnem de forma clara o elemento paisagístico e étnico na sua plenitude.
Em nenhuma parte do território português se concentram tanto a paisagem de contrastes, a aparência alegre dos verdes campos minhotos, com a mágoa e a dor silenciosa dos ermos transmontanos, como na paisagem mediata e extática dos lameiros, veigas, hortas, cabeços, tapadas e planalto de Cima-Côa.
Em nenhuma parte as brancas nuvens do céu, aonde sob o beijo da chuva amorosa vão beber os ramos sequiosos dos carvalhos e dos freixos; a linfa que, nascendo nos corações dos montes, atravessa os vales estreitos, envolvendo as pedras musgosas, viridificando regatos e prados.
Em nenhuma parte o sol irrompendo ébrio de fortaleza acima dos carvalhais, energia vital que todo o mundo inunda, sangue revigorante da videira, essência de cor que a verdura floresce e a terra alegra num íntimo acordar.
Em nenhuma parte a brancura da lua, entre o arvoredo, projectando no silêncio da noite inquietas formas de luz e de sombras, almas sem corpo, espíritos mortos, onde os olhos bebem a luz das estrelas, e os ouvidos escutam o sinistro lamento da paisagem.
Em nenhuma parte o imenso clarão que a todo o ser deslumbra e incendeia de loucura e alucinação; a branda luz como o roçar de asas de uma ave, convidando ao sonho e à viagem.
Em nenhum outro lugar, como em Cima-Côa, existe tão bem resumido este sentido alegre e plástico do mundo, inspirando uma religião sui generis, tão pagã como cristã.
(continua)
«Arroz com Todos», opinião de João Valente
joaovalenteadvogado@gmail.com
Maria Virgínia Antão Pêga Magro elaborou e apresentou na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, a tese de mestrado em Arqueologia, intitulada «Vilar Maior – Evolução de um castelo e povoado raiano de Riba-Côa (séc. XI a XV)».
A dissertação apresenta a antiga vila de Riba Côa, enaltecendo os vestígios arqueológicos medievais e a arquitectura castrense que a mesma guarda, focando-se ainda no desenvolvimento urbano do povoado ao longo do período compreendido entre os séculos XI e XV.
A autora estudou os testemunhos materiais e bibliográficos disponíveis, o que lhe permitiu compreender a importância de Vilar Maior no contexto da reconquista cristã, no período que antecedeu a anexação de Riba Côa ao reino de Portugal, conseguida pelo rei D. Dinis através da invasão deste território e a consequente assinatura do Tratado de Alcanizes em 1297, com o rei de Leão.
Maria Virgínia Antão Pêga Magro começa por caracterizar geográfica e historicamente o território fronteiriço de Riba Côa, onde a vila de Vilar Maior se insere, falando depois dos antecedentes da ocupação medieval, da própria época medieva, da ocupação leonesa e da invasão dionisina e do consequente tratado que tornou portuguesa aquela língua de terra.
A tese fala ainda da importância do castelo de Vilar Maior do ponto de vista militar, aborda a reforma de D. Dinis consequente à ocupação e à outorga de novo foral, assim como as reformas que se lhe seguiram, já enquanto vila acastelada da fronteira portuguesa.
Para além da caracterização património histórico, o trabalho aborda o poder das instituições sedeadas em Vilar Maior, enquanto cabeça de concelho, analisando ainda a evolução da vila ao longo do tempo.
Interessante é a firme oposição da autora à tese do ermamento (despovoamento), defendida por muitos autores em relação a Riba Côa no que toca ao período que antecedeu a reconquista cristã. Embora sendo território de disputa contínua durante um longo período, tal não significou, na opinião da autora, que tenha sido totalmente abandonada pelos povos que a habitavam.
Ao longo do trabalho a autora apresenta sobretudo um estudo arqueológico acerca da evolução de Vilar Maior e do território envolvente, centrado no período histórico em que houve uma vincada actividade militar, cujos avanços e recuos provocaram uma grande instabilidade no poder administrativo de controlo desta zona fronteiriça em permanente disputa.
O trabalho cita o blogue Capeia Arraiana, nomeadamente o texto publicado pelo nosso colaborador João Valente, acerca da Pia Baptismal de Vilar Maior.
Pode consultar aqui a tese de Maria Virgínia Antão Pêga Magro.
plb
A raia ribacudana é, desde tempos remotos, uma terra de gente bravia, criada entre penedias e chavascais. Vivendo num território algo inóspito, onde impera o barrocal e o clima é de extremos (bem ilustrado no famoso rifão: nove meses de Inverno e três de inferno), o íncola raiano viveu isolado durante séculos, sujeito a si mesmo.
A proximidade da linha de fronteira de Portugal com Leão, que ora avançava ora recuava, trouxe a estas terras a actividade castrense, hoje ainda bem visível pelo elevado número de castelos e fortalezas existentes. Era pois num ambiente de guerra, factual ou pairando como ameaça real, que o raiano se habituou a viver, tendo de proteger-se de tudo e de todos.
Com a prevalência de Portugal no domínio do território, que se seguiu ao Tratado de Alcanizes, em 1297, o povo sentiu maior acalmia, mas passou a sofrer a pressão do poder político e administrativo que o queria manso, trabalhador e cumpridor de seus deveres. Assistiu atónito à instalação de câmaras, cadeias, igrejas, conventos, mosteiros e um vasto conjunto de repartições públicas, tudo sustentado pelos magros proventos do seu trabalho. O campónio, que fossava a terra de sol a sol, na ânsia de sobreviver, tudo teve afinal que custear com o seu magro pecúlio.
Comia o que a terra dava, sem outros mimos. Em esforço colectivo, ergueu pontes e pontões, troncos de ferrar animais, eiras de malhar cereais, moinhos e engenhos de tirar água, tudo na perspectiva de melhorar os equipamentos de produção, na ânsia de uma vida melhor. Mas os zelosos funcionários do Estado montaram-lhe nas barbas a terrível máquina burocrática. Os paços do concelho e as repartições passaram a representar o poder político, que o oprimia, enquanto pelourinhos e forcas representavam a pesada mão da justiça, que o castigava impiedosamente.
E de que se ocupou este homem quase selvagem que se fixou em Riba-Côa? Pois lavrou e semeou a terra pedregosa, andou de pau em riste na arte da caça, pescou armando o galrito, emparelhou pedras para construir habitações. Pegou também em armas para servir nos exércitos, comerciou por onde pôde e, os mais engenhosos, dedicaram-se a artes essenciais, como a carpintaria, a frágua e a alfaiataria.
É pois muito venturoso este povo, que sempre andou envolto em acções de audácia. O maior desafio foi a tentação do proibido. Se lhe era vedado atravessar a fronteira para intercâmbio com os povos do outro lado, o raiano não se acobardou e desatou a cruzar a raia, na inquietação constante de comerciar com Espanha para arranjar sustento. Como bem lembrou o pensador bismulense Manuel Leal Freire, o contrabando era um delito, por força das leis vigentes, mas para o povo crente tal prática nunca foi pecado. Não acorria a estes homens valentes, que pela calada da noite atravessavam carregados a raia, declararem em confissão religiosa, perante o abade, terem errado por contrabandear.
Mau grado a amenização da fome pela via da candonga, que sempre dava algum ganho suplementar, nem assim o povo raiano conheceu a felicidade. Os tempos eram difíceis e trabucava-se a valer, cavando os terrenos, carrejando pedras, desbastando matagais, ceifando e malhando os cereais
Depois, quando todas as esperanças de uma vida melhor na sua própria terra se desvaneceram, deu-se a grande abalada que condenou as terras a uma aridez progressiva. Cansados de tanto lutarem em vão pela vida, os homens deixaram as famílias e deram o salto para franças e araganças, na busca de melhores oportunidades. Foi um acto de coragem, movido pelo desespero de uma vida de miséria que não lhes garantia futuro.
A emigração foi, a seguir ao contrabando, a grande aventura colectiva do povo raiano. Entregou-se a passadores e engajadores, muitos sem escrúpulos, e aceitou lá longe todo o género de trabalhos, sem reivindicar condições, sem exigir salários justos: o que vinha era sempre melhor do que o nada. Resignado, adaptou-se ao novo mundo.
Mas o nosso raiano também gosta da farra e do divertimento. Desde logo no jogo, uma das suas grandes perdições. Jogo a dinheiro, nunca a feijões. Também, nas festas e romarias anuais onde nunca faltava e onde comia rancho melhorado, mau grado as dificuldades do quotidiano.
Porém a maior valentia nestes actos lúdicos estava nas touradas raianas, no desafio de pegar os bois agarrado à galha do forcão. Em tempos idos os touros eram desviados das campinas de Espanha, de onde eram conduzidos às aldeias raianas portuguesas, para ali serem lidados com o forcão. A juventude agarrava-se à base de madeira, de forma triangular, em cujo manejo demonstrava a ousadia, numa prática ancestral e única que muito prezava manter.
O homem raiano é também temente a Deus e, sobretudo, às más artes do Diabo. Todas as tardes recolhia a casa ao toque das Trindades para rezar uma jaculatória. Aos domingos descia à igreja. Ia nas romarias de cruz alçada, rezando ao Santíssimo pelos mortos e pelos vivos e implorando sorte nas lidas da vida. Na Quaresma cumpria a rigor as restrições canónicas e fazia a desobriga pascal dizendo ao vigário o rol dos pecados.
De mistura com o culto religioso, o raiano vê nas festividades a ocasião para dar largas à diversão. Por isso as festas em honra da Senhora e dos Santos têm tanto ou mais de profano do que religioso. Para ele uma peregrinação assume a forma de romaria, onde não faltam as flores e as roupas garridas, a concertina e o acordeão, o vinho que jorra dos pipos e as suculentas merendas que se comem à sombra das frondosas árvores.
O que concluir do homem raiano, do seu ethos? Talvez se lhe aplique que nem uma luva a receita de José Osório da Gama e Castro (Diocese e Distrito da Guarda, Porto, 1902) sobre a índole dos beirões: «são caracteristicamente lhanos e afáveis, dóceis, hospitaleiros, em extremos laboriosos, e amantes da ordem, que muito convém à sua actividade agrícola e industrial».
Ou quiçá a visão mais realista de Aquilino Ribeiro (Guia de Portugal, Lisboa, 1924), também sobre o Beirão: «É empreendedor, vivo, laborioso (…). Ao mesmo tempo é industrioso, por vezes astuto até à manha, económico, mas sem usura, de boa memória para o bem e para o mal. Daqui ser animado de dedicações ou de ódios que apenas o sacrifício ou a desafronta satisfazem. (…) É esmoler, religioso, mas de uma religiosidade milagreira ou de arraial, marcado raramente de fanatismo».
Melhor nos serve a palavra do maior etnógrafo de Riba-Côa, Joaquim Manuel Correia (Memórias sobre o Concelho do Sabugal, Lisboa, 1946), acerca do carácter das suas gentes: «Povo religioso, sem grandes fanatismos, é, como os vizinhos espanhóis, alegre, divertido, sentimental e apaixonado pela música, poesia e pelos touros».
Paulo Leitão Batista
Costumo dizer que a capeia começa com o corte dos paus do forcão e termina dois ou três dias depois, da capeia propriamente dita, com o levantamento das estruturas e a limpeza da praça.
Hoje, último dia do ano, a rapaziada dos Foios foram cortar, carregar e transportar os paus de carvalhos que gentilmente o Ayuntamiento de Navasfrias se digna conceder-nos.
O Alcalde, Celso Ramos, autorizou e o Manolo, funcionário del Ayuntamiento, orientou o corte das árvores para que não se cometessem erros. Cortam-se os carvalhos, que estão mais juntos, e sempre de forma responsável e organizada.
Às nove horas portuguesas, mordomos, alguns familiares e alguns amigos estavam no local. Uns com as motosserras e outros, os mais fortes, dispostos a pegar nos carvalhos e carregá-los para o tractor.
Cerca de duas horas mais tarde os paus estavam no local do costume para dentro de um dois meses serem descascados.
Lá para Abril ou Maio os técnicos constroem o forcão e proporcionam mais um dia de excelente convívio.
VIVA A CAPEIA! VIVA A RAIA!
«Nascente do Côa», opinião de José Manuel Campos
(Presidente da Junta de Freguesia de Foios)
jmncampos@gmail.com
TERRA DO FOGO – O Madeiro de Penamacor, já reconhecido como o maior Madeiro do país, foi votado pelos portugueses como a tradição de Natal mais Criativa no Movimento SIM Natal, patrocinado pela Samsung. A sinopse do filme diz-nos que Miguel faz uma viagem até Penamacor para passar as férias junto do primo João e dos seus tios. O que ele não sabe é que o Natal em Penamacor vai ser muito diferente do que ele conhece. O fogo alimenta histórias de mistério e Penamacor é a Terra do Fogo.
jcl
TERRA DO FOGO – O Madeiro de Penamacor, já reconhecido como o maior Madeiro do país, foi votado pelos portugueses como a tradição de Natal mais Criativa no Movimento SIM Natal, patrocinado pela Samsung. A sinopse do filme diz-nos que Miguel faz uma viagem até Penamacor para passar as férias junto do primo João e dos seus tios. O que ele não sabe é que o Natal em Penamacor vai ser muito diferente do que ele conhece. O fogo alimenta histórias de mistério, e Penamacor é a Terra do Fogo.
jcl
No passado mês de noviembre, pelo segundo ano consecutivo, motards de Espanha e Portugal confraternizamos meio à afición do todo-o-terreno. E nada melhor para o fazer do que a zona do Parque Natural da Serra da Malcata junto ao povo dos Foios.

O nosso bom amigo Zé Manuel, que no ano passado já nos ofereceu as instalações das escolas dos Foios, com 42 camas, para ser durante um fim de semana a nossa casa, volta a ser o nosso anfitrião e o grande representante da hospitalidade destas terras arraianas. E é que em Foios nos sentimos como em casa. Em Foios e em Portugal em geral.
Desde os Foios percorremos os maravilhosos povos da zona arraiana pelos caminhos que os unem.
Foios, Penamacor, Salvador, Monsanto, Medelim, Bemposta, Pedrogao de Sao Pedro, Benquerença, Casteleiro, Sortelha, Aldeia de Santo Antonio, Sabugal, Souto… e novamente Foios. É sem dúvida uma boa mostra dos povos da comarca da Beira. Autênticos, com identidade própria.
O Outono é, provavelmente, a melhor época do ano para descobrir o encanto de suas paisagens. Por caminhos de granito decomposto, o que faz com que a água drene e facilite a condução das motos, atravessamos rios com águas limpas e frias, bosques de robles, pinheiros, de quejigos, de castanheiras, verdes praderas, com a majestuosidade dos seus montes…, caminhos que antanho foram percorridos por autênticos sobreviventes que já unian os dois paises, os macuteiros.
E como recompensa depois de um duro dia de esforços, nada melhor para se recuperar que a gastronomia local. Enchidos, queijos, produtos da huerta, cabrito…regados com o estupendo vinho tinto da terra.
Muito obrigado Zé Manuel, muito obrigado Foios…muito obrigado Portugal.
Já teniamos saudades destas Terras.
Fernando Mendoza
Nos contactos que vou tendo com os meus conterrâneos a castanha, sobretudo nesta época, vem sempre à baila. Em Foios não há ninguém que não tenha castanheiros e se houvesse alguém que não tivesse apanharia, certamente, os de alguém, de meias ou de terças.
Tanto o secretário como o tesoureiro da Junta de Freguesia de Foios são excelentes produtores de castanha e como lido com eles praticamente todos os dias, vou escutando as conversas que travam, com as muitas pessoas que passam pela Junta, pelo que estou bastante bem informado sobre esta actividade.
As pessoas dos Foios estão deveras satisfeitas com a produção e com a venda, no presente ano de 2011.
As primeiras castanhas que caíram, ainda com um tempo de Verão, assustaram as pessoas. A ausência da chuva e o calor faziam com que as castanhas ficassem algo secas ou «bladas» como por cá se diz.
Os compradores do costume também não apareciam e as pessoas já deitavam contas à vida.
Algum comprador que ia aparecendo era ele que fazia o preço e ia dizendo às pessoas que as castanhas não tinham procura.
As pessoas dos grandes centros em vez de procurarem as quentes e boas castanhas procuravam os gelados.
Finalmente o S. Pedro fez a vontade às pessoas e a chuva e o vento vieram em abundância, quando a maioria dos castanheiros se encontravam ainda bastante carregados.
A castanha engrossou um pouco mais e ficou muito mais luzidia como por aqui se diz. Foi um milagre.
Os compradores começaram a vir em força e já não havia castanhas que chegassem. Antes do dia de Todos os Santos as camionetas não paravam de chegar. Alguns compradores vinham duas vezes no dia e outros até por cá dormiam.
Então aí é que os produtores tiveram sorte. Os compradores eram muitos e quase entraram em despique.
Acabaram por pagar a castanha a um preço que as pessoas já consideram, mais ou menos justo.
A maioria vendeu a um euro e meio muito embora algumas tivessem ficado por um e vinte ou um e trinta.
Penso que das mais de 150 toneladas que se produzem nos Foios poucas castanhas devem ter ficado debaixo dos castanheiros.
Fico muito feliz quando converso com as pessoas e as vejo entusiasmadas a ponto de dizerem: Quando verifico que tenho um castanheiro a secar planto, de imediato, três.
Cá pelos Foios todos nos incentivamos uns aos outros porque toda a gente tem plena consciência da enorme importância do castanheiro.
Seria bom que se fizessem estudos e levantamentos, em todo o concelho do Sabugal, e que se incentivassem as pessoas a plantar grandes soutos.
Apelo igualmente às entidades oficiais, nomeadamente e sobretudo à Câmara Municipal, para que se debrucem sobre esta problemática.
O escoamento este ano correu bastante bem mas não estamos livres de anos maus.
O trabalho que se vai desenvolvendo na Colónia Agrícola Martin Rei é já muito importante mas julgo que se poderá ir muito mais além, para bem de todos.
Se os castanheiros secaram em algumas zonas do nosso Município, outrora consideradas mananciais, teremos que ser corajosos e arrancar com novas experiências.
Se os nossos ex-governantes não tivessem dado subsídios para se arrancarem, pomares, vinhas e outras espécies talvez não tivéssemos chegado ao estado de desgraça em que nos encontramos.
Mas tudo o que acabo de referir não nos deverá levar à revolta e ao desânimo, pura e simplesmente. Bem pelo contrário.
O nosso Concelho tem muitas potencialidades, nos mais variados aspectos, pelo que teremos que ser corajosos e organizados.
Arregaçar as mangas e mãos à obra!
«Nascente do Côa», opinião de José Manuel Campos
(Presidente da Junta de Freguesia de Foios)
jmncampos@gmail.com
Este domingo, dia 13 de Novembro, estiveram connosco duas dezenas de pessoas, que se fazem transportar em auto-caravanas e que, quando circulam, dão vida, alma e alegria às freguesias por onde passam e onde estacionam.
Com a crise que ultrapassamos, em termos de gente, é caso para dizer que todas as pessoas são bem-vindas.
Este grupo, de ilustres personalidades, que já mais algumas vezes por aqui tinham passado, têm-nos incentivado à criação do parque de caravanas que estamos a implantar.
O grupo chegou ao espaço, do futuro parque de auto-caravanas, por volta das 13,30 horas, onde almoçaram e onde eu tive o prazer de, com eles, ter tomado café e copa.
De seguida todas as pessoas se deslocaram ao Centro Cívico onde a Junta de Freguesia ofereceu umas castanhas assadas regadas com a saborosa jeropiga da região.
Depois de um franco e útil diálogo chegámos à conclusão de que o parque de auto-caravanas de Foios poderá ser inaugurado na Primavera do próximo ano de 2012.
Antes da despedida foi feita uma foto de grupo e, de seguida, todas as pessoas ocuparam lugar nas respectivas viaturas em direcção da vizinha localidade de Alfaiates.
Pela parte que nos diz respeito só temos a agradecer a passagem pelos Foios com a certeza de que sempre teremos o maior prazer em os receber e com eles conviver.
Não esquecer: Turismo é Futuro!
«Nascente do Côa», opinião de José Manuel Campos
(Presidente da Junta de Freguesia de Foios)
jmncampos@gmail.com
Cinco Castelos, Cró, Côa, Trutas, Capeia e Bucho Raiano. E é disto que o concelho vive. Disto, do mês de Agosto, e de eleições de quatro em quatro anos.

I – A Côa
Muitas àguas leva a Côa,
Junto à vila do Sabugal;
Quando as àguas vão crescidas,
Ninguém passa no pontal.
O meu rio vai tão cheio,
Que não o posso atravessar!
Vai cheio de mil dores…
Ninguém o póde passar!
Foje a Côa, fujo eu,
Cada um com o seu fado,
Sempre em direcção ao mar,
Qual de nós o mais pesado?
Eu levando meus desgostos;
Ele, a rama dos salgueiros…
Qual de nós o mais pesado,
Correndo ambos ligeiros?
Mas debaixo da velha ponte,
Onde a àgua faz remanso,
Quando beija os salgueiros,
Tem a Côa bom descanso.
As àguas do arco grande,
Aos pés da velha muralha,
Em noite de lua cheia,
Há lá melhor mortalha?
O luar batendo nas àguas,
E nos salgueiros como ladrão,
Assim me roubou a Côa,
A alma e o coração.
Estas àguas da velha ponte,
Por querer seus amores,
Na alma me deixaram,
Mil penas e mil dores.
Mansas àguas tem a Côa,
E salgueiros ao Luar!
Mas quando a cheia é de máguas,
Ninguém as póde passar!
Obs: O meu avô Lourenço Martins, devido à sua conhecida paixão da pesca, foi o homem do concelho do Sabugal que mais conheceu e amou o Côa. Ele tratava o rio como mulher; «a Côa», pela fertilidade das suas águas. Este poema é, glozando uma cantiga de Antero de Quental, homenagem aos dois.
II – D. Pixote de La Raia
Era uma vez um certo país longínquo, em cujo Interior profundo havia uma pequena e histórica aldeia.
Nesta pequena e histórica aldeia havia um castelo com muralha envolvente; dentro da muralha, varias casas; fora da muralha, mais casas; e numa destas casas, vivia um homenzinho.
Era uma vez um certo país longínquo, em cujo interior profundo havia uma pequena e histórica aldeia; e nessa aldeia, um homenzinho que gostava de pás giratórias.
O homenzinho sonhou numa noite que seria bom ter moinhos junto às casas, à muralha e ao castelo daquela pequena aldeia do interior profundo, desse país longínquo.
Depois, o homenzinho enfadando-se do seu ócio diário, quis fazer os moinhos com grandes pás giratórias; e vieram operáros que abriram alicerces, junto às casas, à muralha e ao castelo daquela pequena e histórica aldeia do interior profundo, desse país longínquo.
E o homenzinho, visitando a obra, feriu-se num desses alicerces, abertos junto às casas, à muralha e ao castelo daquela pequena e histórica aldeia do Interior profundo desse país longínquo.
Veio então uma máquina voadora com umas grandes pás giratórias buscar o homenzinho daquela pequena e histórica aldeia do interior profundo, de um país longínquo…
Abreviando a História:
Era uma vez um homenzinho obececado em pás giratórias, que um dia andou de helicóptero!
III – Descendo à terra
Agora, que já assentou no Largo da Fonte a poeira do bailarico do Quim Barreiros, vamos às contas da festa.
O Sabugal é das mais enfadonhas, tristes e melancólicas vilas do Interior. Há várias razões para isso: O extremo das amplitudes térmicas do clima; a monocromia da paisagem, que só muda uma vez por ano, com as maias; as águas duras e indigestas da Côa, que tudo conjugado, dobram as vontades, embrutecem as inteligências, produzindo um mal de tristeza nas gentes.
Deste mal de tristeza – origem das mais diversas enfermidades do corpo, do espírito e do carácter – vemos apenas alguns dos sintomas que explicam como na política local se debatam sempre as velhas questões, sempre as mesmas, sem estudo, sem elevação, sem ideias, sem firmeza, sem novidade.
Mas a câmara municipal quiz capacitar-nos, pelo contrário, num programa televisivo, que nos corredores dos paços municipais fervilham ideias, projectos, realizações, que num esforço sobrenatural da intervenção da providência nas sobreditas limitações da condição humana, por milagre, mudarão o destino e a sorte dos seus munícipes e o futuro do concelho, trazendo a gente e dinheiro que faltam.
A câmara, finalmente, após dois anos de retiro para reflexão e estudo, veio apresentar-se aos munícipes e ao país, como corpo pensante, deliberativo e executivo de uma política concertada para o concelho!
E em que consiste essa política?
Cinco Castelos, Cró, Côa, Trutas, Capeia e Bucho Raiano. E é disto que o concelho vive. Disto, do mês de Agosto, e de eleições de quatro em quatro anos.
Numa conjuntura normal, espalhando-se ao país a notícia deste grande projecto civilizacinal, todo o país deprimido viria ao Sabugal comer o nosso cabrito, o bucho e a truta, esvaziar os nossos pipos, pescar nos açudes os mais saborosos bordalos e os mais grossos barbos, banhar-se no Cró, palminhar os nossos caminhos de onde melhor se avistam os brancos casarios das aldeias, emergindo por entre os carvalhos e castanheiros, ao longo de campos de giestas em flor.
Mas não é assim, porque é de notar que a tão cantada Riba-Côa que supomos ser o coração do paraíso terrestre, é tão extremamente pobre, relassa e deprimida como todo o resto do país.
«Arroz com Todos», opinião de João Valente
joaovalenteadvogado@gmail.com
O autor da «Rota dos 5 Castelos em 3D do concelho do Sabugal», Nuno Dias, apresentou mais um trabalho para promoção e divulgação do património histórico da região beirã. O projecto «Valverde em 3D», retrata digitalmente em três dimensões os edifícios mais importantes da freguesia de Valverde, no concelho do Fundão.

«Valverde em 3D» foi um projecto desenvolvido de modo a promover e divulgar digitalmente, em três dimensões (3D), os edifícios mais importantes da aldeia de Valverde, do concelho do Fundão. É um projecto pioneiro para uma aldeia de Portugal, sendo Valverde a «primeira aldeia de Portugal» a ter os seus edifícios mais importantes em 3D. A transposição do papel e da fotografia para a imagem animada por programas digitais possibilita serem vistos por qualquer pessoa em qualquer parte do Mundo, no maior portal geográfico do Mundo – o Google Earth.
O Projecto «Valverde em 3D» foi apresentado no dia 9 de Abril de 2011 aos seus habitantes, no Pavilhão Desportivo, na festa comemorativa do Dia da Freguesia.
Na «Visita Virtual 3D» projectada na sessão e disponível no blogue oficial foram visualizados os seguintes edifícios: o depósito da água, a igreja matriz, o museu D. João de Oliveira Matos, a Junta de Freguesia, a capela do Espirito Santo, a escola primária, o pavilhão desportivo, a capela de São Domingos e a capela do mártir São Sebastião, esta última situada na anexa Carvalhal.
«Além do “Valverde em 3D” sou, também, o autor da “Rota dos Cinco Castelos em 3D do concelho do Sabugal”, um projecto que lancei em 2009 e visou promover e divulgar os cinco castelos e que tem como objectivo promover e divulgar a nossa região», declarou ao Capeia Arraiana o autor, Nuno Dias, aproveitando para mostrar a sua satisfação pela divulgação do seu trabalho nos mais importantes meios de comunicação nacionais.
Blogue oficial de Valverde. Aqui.
Página no Sketchup com os 5 Castelos do Sabugal. Aqui.
Nuno Dias é natural do Fundão, Castelo Branco. Actualmente é freelancer na área de Modelação 3D e estudante de Licenciatura em Engenharia Civil na Universidade da Beira Interior, onde também é formador do curso «Iniciação ao Autocad».
aps
ALDEIA VELHA – CAPEIA E… ENCERRO
«O Forcão, guarnecido de homens, está a postos no meio da praça. Dispensam-se as cerimónias de cortesia, e o pedido da praça, tal como a música, as camisolas e os bonés estampados dos rapazes que pegam ao forcão. Tudo isso se reserva para a tarde. Por ora, trata-se apenas de testar a bravura dos bois, uma espécie de tenta, ou, talvez mais correcto, uma forma de dar expressão à ânsia incontida da festa, à fome dos touros! Na falta do clarim, quatro pancadas fortes na chapa metálica do portão dos curros avisam que o touro vai entrar em cena. Ei-lo, negro, bisco e desenvolto como um relâmpago, a sair de revés, a percorrer todo o perímetro do largo, a limpar, obrigando a recolher aos salva-vidas todos os que ainda permaneciam na arena. Finalmente o bicho apercebe-se do forcão, à sua direita, de onde os rapazes o desafiam insistentemente. Sem se fazer rogado, vai-se à galha, prega-lhe uma valente marrada que obriga a rodar harmonicamente todo o conjunto. Ouvem-se gritos de euforia e receio. A rapaziada aguenta firme e os aplausos irrompem, merecidos.»
Capeia
Negro
Mais negro que os fogueiros ào inferno;
Gordo,
Mais gordo que as mulheres de um rei negróide;
Bufão,
Mais bufão do que Noto, Eolo e Bóreas à compita;
Veloz,
Mais veloz que os golfinhos de Nereu –
Entrou na praça o boi galhardo.
Escarvando,
Olfacteou o argiloso chão,
Com um ar de Satã alucinado.
Depois,
Erguendo a cabeça,
Achou pequenas a pequenez da praça
E a amplidão dos céus.
Depois, ainda,
Mugiu
Em ódio clamoroso e clangoroso.
Então,
A praça entrou nos delírios do pavor.
O forcão
Quedou-se desamparado
No meio do terreiro
E os capinhas galgaram em pamco
O espaço que os separava das trincheiras.
Sozinho,
No meio da praça,
O boi,
Já gigante,
Mais se agigantava.
Empoleirado num carro,
Exalçado a lenha
E enfeitado a colchas,
O tamborileiro rufava,
Querendo rebentar o velho bode.
Então os solteiros ganharam coragem
E, saltando aos magotes para a arena,
Imobilizaram o boi
Entre os aplausos dos homens
E os gritos das mulheres.
Manuel Leal Freire
Clique nas imagens para ampliar |
Textos de António Cabanas e Fotos de Joaquim Tomé (Tutatux) retirados do livro «Forcão – Capeia Arraiana»
jcl
Comentários recentes