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A Meimoa é muito conhecida por causa da respectiva barragem, junto ao início da Serra da Malcata, onde deveria viver o lince, com belos olivais, grandes pinhais, vinhas e a famosa Ponte Filipina (que não o é) que liga a Aldeia à Benquerença e daqui aos Três Povos, Alpedrinha, Fundão, Covilhã, Serra da Estrela…

José Jorge CameiraSabia que para lá da minha aldeia existia uma outra aldeia com o nome MEIMÃO, perto do Sabugal mas ainda concelho de Penamacor, e depressa pensei que o nome MEIMOA tivesse algo a ver com o outro. Mas não consigo descortinar parecenças…
Foi na Meimoa que me estreei na equipa de futebol dos Grandes do Vale da Senhora da Póvoa, aldeia a quatro quilómetros. Ou porque era bom a jogar ou talvez porque faltasse alguém, o seleccionador Norberto convocou-me. Lembro-me que a dado momento, durante o jogo, a bola sobrou para mim e chutei ao calhas para a frente… Só dei conta de dez latagões saltarem para cima de mim (um franganote moreno escanzelado e pau de virar tripas) abraçando-me e quase me esmagando. É que tinha marcado um golo, sem querer é claro, mas o único do desafio.
Os rapazes da Meimoa, capitaneados pelo Nuno Moiteiro, presentearam-nos com uma grade de gasosas do Soito, que serviu para recuperar forças, ainda tínhamos que fazer os tais quatro quilómetros a pé de volta à nossa aldeia…
Houve nesta aldeia um acontecimento célebre que é uma delícia recordar! Em todas as aldeias aos domingos os sinos das Igrejas badalavam às 19 horas, marcando o fim dos bailes e a obrigatoriedade dos jovens irem rezar o terço. Até no nosso Vale isso acontecia, os padres estavam combinados, era marosca, via-se… É claro que só as meninas donzelas iam, mas arrastadas pelas mães, que lhes diziam que só assim garantiam um bom casório!
Essa estória chegou-me aos ouvidos pelo meu Tio Manuel Cameira «Caixeiro», do Vale da Senhora da Póvoa e irmão do meu Avô, contada naqueles serões de Inverno junto à lareira e com os varões com enchido verde a pingar sobre todos. O Ti Manuel Caixeiro casou na Meimôa por volta de 1940 com uma senhora de nome Teresa Manteigas. Foi por essas idas e vindas à Meimoa que ele ouviu esta versão do acontecido e assim ma contou.
Numa tarde de um qualquer domingo, às 7 da tarde, o sino tocou e o baile acabou como era hábito.
O Padre Fernando à hora do terço deu pela falta nos bancos compridos de uma rapariga, a Maria Martins, já em namoro adiantado com o Tóino Berto (tudo nomes fictícios).
Não foi à Igreja, sabe-se lá onde terá estado a aproveitar melhor o tempo…
No domingo seguinte, em plena homília no cimo do púlpito, então não é que o Padre Fernando verbera em público, alto e bom som, que a Maria Martins (citou mesmo o nome dela) tinha faltado ao terço do outro domingo!!! Que era pecado, mau comportamento, imoral, uma vergonha…
A rapariga a chorar foi fazer as queixas ao namorado, e fez muito bem.
A coisa parecia ficar por aí, mas, de repentemente, o caso deu para o torto!
O Padre Fernando era encorpado, barrigona, parecendo prenhice à frente, e atrás um grande, largo e gordo traseiro!
Nessa noite, depois de rezado o terço, houve alguém que surgindo do escuro da rua, ferra uma valente e ruidosa chumbada de flobber no gordo e avantajado rabo do arrogante sacerdote…
– Aqui del-rei que querem matar o nosso santo Padre Fernando!! – gritaram as mulheres, ganindo a caozoada ao mesmo tempo!
– De certeza foi o Toino Berto! – gritaram as beatas da sacristia.
– Que nada, disse o Toino, estava a ouvir o relato do Artur Agostinho do Sporting contra o Salgueiros na Emissora Nacional!
Das desconfianças do autor do crime contra as gorduras traseiras do Padre, passou-se às certezas… foi o Toino Berto, pronto, já está!
Foi feita queixa-crime contra o rapaz na GNR de Penamacor… que ele queria mesmo era matar, tinha que ir para a cadeia, não se faz uma coisa dessas e logo ao nosso querido padre, ministro de Deus!
Foi marcado o dia do Julgamento no Tribunal da Comarca em Penamacor.
Entretanto, no «hospital» da Dona Bárbara de Penamacor, foi retirada uma boa mão cheia de chumbinhos do bundão do Padre – estou a imaginar o enfermeiro com uma pinça procurando dentro das entremeadas as bolinhas metálicas reluzentes de toucinho!
O Padre foi instruído para arranjar testemunhas.
– Até tenho muitas ! – disse ele, com ar de vingança demoníaca, esquecendo o perdoar das ofensas no Pai-Nosso.
Nos oito dias antes do julgamento, houve reunião diária, mas nocturna, marcada pelo Padre Fernando na sacristia da igreja com meia dúzia de beatas que assim orquestraram o testemunho contra o rapaz… Que sim, que viram o rapaz com a arma na mão, que disparou contra o Padre…
No dia do julgamento, o juiz interrogou uma a uma essas testemunhas… e todas diziam exactamente a mesma lenga-lenga, originando desconfianças. Terá interrogado de novo cada uma das mulheres de per si para saber quem lhes tinha ensinado aquelas respostas todas iguais.
Ingenuamente, lá foram dizendo que foi o Senhor Padre Fernando que as ensinou a responder daquela maneira na Sacristia, todas as noites, parecendo uma cantoria em coro…
Resultado: essas testemunhas beateiras foram todas um dia-de-cana para o xelindró a ver a Lua aos quadradinhos… e o Toino Berto foi ABSOLVIDO!
Nessa noite na Meimoa parecia a noite de Natal! Houve foguetes nos céus, mandaram até vir o acordeonista do Vale e comeu-se à la gardère um vitelo de churrasco no centro da aldeia bem regado com vinhaça da boa com que todo o Povo se alambazou, celebrando a vitória contra a Inquisição e o Inquisidor local!!
Muitos chumbinhos ficaram sossegados para sempre no rabo clerical, mais valeu isso que arriscar uma paralisia…

José Jorge Cameira

«Estórias de um filho de Vale de Lobo e da Moita»
mailto:jjorgepaxjulia4@hotmail.com

A Câmara Municipal de Penamacor promove entre 24 de Outubro a 5 de Novembro o 1.º Festival Gastronómico do Borrego Churro.

1.º Festival Gastronómico do Borrego Churro - Penamacor

A Câmara Municipal de Penamacor vai promover, de 24 de Outubro a 5 de Novembro, o 1.º Festival Gastronómico do Borrego Churro, espécie ovina autóctone que tem o seu solar no Concelho de Penamacor. O principal objectivo deste festival é promover a ovelha churra em termos gastronómicos, como mais uma iguaria da cozinha regional da Beira Interior.
Restaurantes aderentes: O Tear (Meimoa), Santiago, Dois Pinheiros, Quartel, Jardim, Caçador (Penamacor) e Tapada da Horta (Pedrógão).
Pratos a concurso: Ensopado de Borrego Churro e Borrego Churro à moda da casa.
Conciliar tradição e inovação é o desafio que se coloca aos restaurantes concorrentes.
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O escritor António Cabanas, vice-presidente da Câmara Municipal de Penamacor, apresenta no dia 12 de Junho, às 16 horas, no Auditório Municipal do Sabugal a sua mais recente obra sobre a mais forte tradição raiana – a tourada com forcão – a que todos aprendemos a chamar Capeia Arraiana. A obra surpreende pela investigação e qualidade da escrita de António Cabanas e pelas fortíssimas fotografias do sabugalense Kim Tomé.

Forcão - Capeia Arraiana - António Cabanas

Apesar da absorvente actividade autárquica a que se tem dedicado nos últimos anos, António Cabanas vem publicando com regularidade o resultado do seu labor de investigador.
Licenciado em sociologia pela Universidade da Beira Interior, tem dedicado parte do seu tempo livre a estudar a problemática do mundo rural, com o qual se identifica. As vissicitudes de um interior em profunda transformação têm-no motivado para o estudo daquilo que mais duradouro tem a ruralidade, a sua cultura. Natural do concelho de Penamacor, nunca escondeu o seu entusiasmo pelos temas de Riba Coa, interesse a que não é alheio o tempo em que exerceu funções na Reserva da Malcata, primeiro como vigilante da natureza, mais tarde como técnico superior e director.
Tal como prometera, aí está o seu testemunho sobre a capeia arraiana. Um livro fascinante, magistralmente ilustrado por Joaquim Tomé, um estudo sério, bem escrito sobre a tradição raiana, documento que vem engardecer o património cultural sabugalense: uma bela prenda, para fruição dos amantes da capeia.

António Cabanas
«Duas décadas depois de andanças e contradanças por outras latitudes, voltei ao aconchego destas terras agrestes (raia) quando ingressei na Reserva da Malcata, com outros companheiros vigilantes do Lince, de Vale de Espinho, dos Fóios, de Malcata e do Meimão. O contrabando, a Espanha e os touros eram quase sempre os temas de conversa na hora da merenda. Daí à primeira Capeia Arraiana foi um salto: o convite do colega Armando, fojeiro, que pegava ao forcão, era irrecusável. Foi desde então que passei a considerar-me raiano, coisa que nem é muito habitual nas gentes da minha terra.
Há quem diga que a capeia arraiana decorre a três tempos, uma espécie de tércios da corrida espanhola: a espera, a lide ao forcão e a corrida do touro. Para nós é muito mais do que isso, e não pode nem deve resumir-se a cânones que a assemelhem a outras formas tauromáquicas. Ela é única, é sui generis. Motivo de catarse colectiva dos residentes, mas sobretudo dos que vivem em diáspora, são muitos os momentos da tauromaquia raiana: o encerro, o touro da prova, o desfile dos jovens, o pedido da praça, a lide ao forcão, a corrida dos cortadores, a bezerra das crianças, o desencerro… Mais do que um espectáculo de 3 ou 4 horas, a festa brava raiana ocupa um dia inteiro, a começar bem cedo ao nascer do sol. Além disso, a comunidade participa na sua organização, na montagem e desmontagem da praça, no corte e construção do forcão, na colocação das cancelas, na condução dos touros e até na sua lide. É muito mais do que um espectáculo para o qual se adquire o direito a assistir comodamente sentado na bancada.»

Kim Tomé (Tutatux)
«Na cidade aprendi a arte e as técnicas da imagem. A publicidade, a moda, o turismo, em suma, o cosmopolitismo, que no trabalho diário enchiam a objectiva, ganhavam força e renovada expressão perante uma parede de granito, uma truta saída do turbilhão do açude, a mansidão de um campo de giestas em flor, ou uma tradição. Não pude resistir ao fascínio dos touros, ampliado em cada encerro ou em cada Capeia Arraiana. Com entusiasmo, pus mão à obra. Calcorreei caminhos pedregosos e poeirentos atrás de cavaleiros altivos. Corri à frente dos touros, que por vezes ameaçavam investir no fotógrafo. A adrenalina deu-me a agilidade para galgar muros e ribeiros, não sem alguns trambolhões pelo meio. Tudo por mais um registo fotográfico que contivesse a emoção do acontecimento.»

António Robalo
«O presente contributo de António Cabanas, para além de contextualizar a lide do touro bravo no espaço e no tempo, sistematiza ideias sobre o forcão e a Capeia Arraiana tornando a presente investigação mais num porto de partida do que um porto de chegada. Assim, haja gente que queira estudar e investigar esta peculiar manifestação cultural, dando continuidade ao trabalho desenvolvido pelo António Cabanas, ilustrado de forma excelente por Joaquim Tomé».

Adérito Tavares
Conheci António Cabanas em 2006, no Sabugal, durante as I Jornadas do Contrabando. Ambos participávamos neste importante evento cultural, promovido pela Sabugal+, sobre uma temática marcante do percurso colectivo das gentes sabugalenses, sobretudo raianas. Foi, aliás, pouco tempo antes destas Jornadas que foi lançado um outro livro de António Cabanas, “Carregos”. Desde então, ficou-lhe (ou acentuou-se) o gosto pelo estudo dos temas dominantes da história e da antropologia ribacudense e passámos a cruzar-nos com regularidade noutras manifestações culturais, das “Jornadas da Emigração” à “Homenagem a Joaquim Manuel Correia”, das celebrações republicanas à recente evocação da Batalha do Gravato, passando por uma tribuna que nos é comum, o blogue “Capeia Arraiana”.
Foi por isso sem surpresa que recebi a notícia de que se encontrava no prelo mais um estudo de António Cabanas, desta vez abarcando um tema que me é caro: as práticas da tauromaquia popular na raia do Sabugal. E foi com agrado que aceitei o convite para prefaciar esta obra.
O livro de António Cabanas, com fotografia de Joaquim Tomé, é uma excelente síntese que recoloca e actualiza o tema das capeias. Todavia, embora as capeias com forcão constituam o cerne deste trabalho, ele vai mais longe, contextualizando as práticas taurinas no espaço e no tempo, lançando um amplo olhar sobre as sociedades taurológicas. É uma obra destinada ao grande público, mas suficientemente rigorosa para interessar também o investigador e o estudante de Etnologia ou de Antropologia. E possui vários méritos: porque soube fugir ao tradicionalismo sem cair nos clichés habituais; porque, em “tempos de servidão”, soube tratar com honestidade um tema que facilmente conduz a exageros panegíricos ou a excessos bairristas; e, finalmente, porque a ilustração ultrapassou em muito o habitual, constituindo um trabalho de reportagem aprofundado, completo, de grande qualidade, que valoriza sobremaneira este livro.»

«Forcão – Capeia Arraiana» simboliza a alma raiana. O pensamento escrito de António Cabanas e a transposição fotográfica do real para o eterno de Kim Tomé junta-se, assim, na galeria de excelência da literatura raiana ao «Capeia Arraiana» de Adérito Tavares. Parabéns.
jcl

O Verão vai quase a meio, quente impiedoso, a pedir sombra e locais frescos com água por perto. Logo, logo, virá o mês de Agosto, o mês dos emigrantes e mês de todas as festas. Por aqui não há terra que a não tenha, com mais ou menos pompa, com mais ou menos desassossego.

Festas de Agosto - António Cabanas - Terras do Lince - Capeia Arraiana

António Cabanas - Terras do Lince - Capeia ArraianaLonge de ser apenas um desperdício ou um acontecimento sem significado, a festa comporta um forte elemento de subversão dos códigos estabelecidos, constituindo simultaneamente, um fenómeno social, cultural, económico e político.
Interrompendo a rotina do quotidiano, ela é uma espécie de válvula de descompressão que nos proporciona a explosão de uma série de sentimentos contidos durante os restantes dias do ano.
Acontecimento quase sempre associado ao sagrado e ao ritual, a festa é vivida nas nossas aldeias com grande intensidade, em ruptura com a vida banal de todos os dias, tornando-se ainda no principal espaço de reencontro de familiares e amigos.
As ruas e largos tornam-se cenário de uma realidade virtual, de imagens, de enfeites coloridos, de muita luz. Geralmente associada à festa religiosa, o mundo dos santos convive com as pessoas que os veneram, que os vestem, que os transportam em procissão. É uma aproximação entre o Céu e a Terra!
Põem-se as colchas nas janelas, alcatifa-se o chão de flores e verdura, o homem veste o fato novo, a mulher põe as arrecadas de ouro e faz uma «permanente», mata-se uma rês e partilha-se a comida e a bebida. É um momento de exaltação e de transcendência, sem lugar para a menoridade.
Aparentando tratar-se de um rol de comportamentos fúteis e superficiais, a festa têm, no entanto, uma abrangência que ultrapassa esta realidade, constituindo um investimento de carácter social, um meio de comunicação entre a comunidade, uma forma de afirmação e demonstração e faz parte de um complexo conjunto de estratégias de ajustamentos sociais.
Caracterizando-se pelo divertimento e pela mudança do ritmo normal da vida em comunidade, a festa é mobilizadora, de vontades, de novos projectos, de novos negócios e quantas vezes de novos amores!
Mas a festa tem também uma outra face. A sua coerência programática e o seu sucesso só se atingem mercê do muito trabalho das comissões de festas. Para que tudo funcione bem, nada pode ser deixado ao acaso, sendo necessárias muitas horas de trabalho. Para os mordomos é quase sempre um exame muito exigente em que não se pode falhar. O júri é o próprio povo da aldeia e a bitola mínima é a festa do ano anterior. Obrigam-se, a trabalhar arduamente, colocando na organização todo o seu empenho e dos seus familiares. Merecem, por isso, todo o nosso respeito e admiração, o nosso apreço e incentivo.
«Terras do Lince», opinião de António Cabanas

(Vice-Presidente da Câmara Municipal de Penamacor)
kabanasa@sapo.pt

A convite do ICNB e do projecto Valia deslocámo-nos à Serra de Andújar na Andaluzia para ver in loco o que os espanhóis estão a fazer pela recuperação da população de linces. Autarcas, proprietários de zonas de caça, agricultores, biólogos, representantes de associações ambientalistas, pudemos apreciar o muito que é preciso fazer para melhorar os habitats de Lince.

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«Terras do Lince», opinião de António Cabanas
(Vice-Presidente da Câmara Municipal de Penamacor)
kabanasa@sapo.pt

A convite do ICNB e do projecto Valia deslocámo-nos à Serra de Andújar na Andaluzia para ver in loco o que os espanhóis estão a fazer pela recuperação da população de linces. Autarcas, proprietários de zonas de caça, agricultores, biólogos, representantes de associações ambientalistas, pudemos apreciar o muito que é preciso fazer para melhorar os habitats de Lince.

António Cabanas - Terras do Lince - Capeia ArraianaAqueles que como eu gostam do lobo cerval e anseiam vê-lo de novo no nosso país regressaram satisfeitos. Não é que o tivéssemos visto, mais depressa o lince nos veria a nós, tal era o tamanho da comitiva e todos sabem como é acutilante o seu olhar. Mas as fotos tiradas pelas máquinas automáticas, sim, tinham-no registado na noite anterior. Um excremento fresquinho, ainda a cheirar intensamente, coelhos quanto baste, veados, águias, vistos até do autocarro e paisagem de montado até perder de vista.
Bom foi ouvir Miguel Ángel Simón, responsável pelo projecto Lince, falar dos excelentes resultados do projecto.
Ainda que os censos mais antigos não fossem fiáveis estimava-se que houvesse em meados do século XX 5 a 6 mil linces, reduzidos no final dos anos 70 a 1200 e a 1100 no final de 80. Em 2002 Guzman apontava não mais de 200 animais para a população espanhola, sendo certo que em Portugal era praticamente nula a presença do felino.
No início do milénio, os técnicos de ambos os países davam como inevitável a sua extinção. O desânimo tinha-se instalado na comunidade científica e o seu desaparecimento de um local tão emblemático como a Malcata era revelador de uma situação irreversível. Além do mais as tentativas para os reproduzir em cativeiro não estavam a resultar e quando finalmente começavam a dar frutos, eis que uma leucemia mata 9 linces só em 2007! Era o fim do Lince Ibérico! Até os mais esperançosos acreditaram estar perante a morte anunciada da espécie.
Contra todas as expectativas porém, o felino tem vindo a recuperar nos últimos anos. A Serra de Adújar-Cardena conta hoje com cerca de 160 linces quando em 2002 havia apenas 60. Também a população de Doñana, apesar da consanguinidade tem vindo a aumentar, o mesmo acontecendo na Serra Morena. Tudo isso se deve aos esforços de melhoria dos habitats que têm sido feitos nestes refúgios.
Com a viagem, tinha o ICNB a intenção de demonstrar aos caçadores e proprietários do Alentejo que a introdução do lince não lhes trará prejuízos. É conhecida a enorme desconfiança de uns e outros face às habituais restrições que impendem sobre os territórios geridos pelo ICNB. Curiosamente, na hora de fazer o balanço da viagem, tinha-se virado o feitiço contra o feiticeiro: caçadores e terra tenentes vinham encantados com o que viram e se o ICNB queria os linces que seguisse os bons exemplos dos espanhóis, respeitasse as herdades e as actividades e que em vez de impor restrições as ajudasse a tornar mais rentáveis como acontecia em Andújar. Para eles foi isso que a visita lhes mostrou: dois proprietários de fincas contentes com as limpezas, as adubações e o maneio dos habitats, tudo pago pelo projecto.
Pela nossa parte, ou seja, relativamente à Malcata, ficámos conscientes do muito que há a fazer para aumentar a população de coelho, dos muitos hectares de pastagens a semear, dos marouços a construir, dos coelhos a introduzir, do acompanhamento necessário, do que não ficámos certos é se haverá dinheiro para todo esse esforço. Esperamos que sim.
«Terras do Lince», opinião de António Cabanas

(Vice-Presidente da Câmara Municipal de Penamacor)
kabanasa@sapo.pt

Fundada nos anos 80, a carpintaria do Alves produz móveis de cozinhas, caixilharia e outras utilidades em madeira. Foi sempre um exemplo de bem servir os clientes, de atender com simpatia e correcção a todas as solicitações e encomendas.

Inspecções

António Cabanas - Terras do Lince - Capeia Arraiana«Quando não é possível satisfazer, nem sequer se aceita a encomenda», diz o Alves, orgulhoso dos dois empregados que mantém há mais de 20 anos, sempre com os ordenados pagos a horas, a segurança social e os seguros em ordem, não vá o diabo tecê-las. É verdade que de há uns anos para cá as coisas estão cada vez mais difíceis, «vai-se vivendo, lá vai dando para a luz», mas não se permitem veleidades.
Até que há dois anos uma vizinha lisboeta, que só vem à terra de vez em quando, por birras antigas, «talvez por inveja, sabe-se lá», desatou a fazer queixa do barulho das máquinas, das inalações dos vernizes, do fumo do forno que queima a serradura e até do cão que ladra quando lhe apetece. Diz a vizinha que só descansará quando a carpintaria fechar portas!
A vida do Alves tornou-se um inferno. Ainda gastou uns trocos a construir uma estufa de pinturas para não incomodar a vizinha, deixou de trabalhar até mais tarde, mas de nada serviu. As denúncias continuaram. Em pouco tempo foi visitado pela inspecção do Ministério da Economia, pela inspecção do trabalho, pela GNR (duas vezes), pela fiscalização da Câmara, pela ASAE, pela inspecção do Ambiente (duas vezes, uma da delegação de Coimbra e outra de Lisboa). Nenhuma entidade encontrou deficiências ou infracções na carpintaria a não ser o Ministério do Ambiente. E não apenas uma, mas muitas. Desde logo a chaminé do forno que não cumpre os requisitos, era quadrada e devia ser redonda, além de que teria de dispor de medidor de emissões poluentes. Depois o registo da gestão de resíduos perigosos que não estava em ordem, porque o empresário ao usar embalagens de verniz (resíduos perigosos) deve obter um certificado da entidade a quem as entrega. A fossa séptica que recebe os efluentes da casa de banho não estava licenciada. De nada adiantou o Alves dizer e provar que a chaminé e o forno foram construídos há 20 anos, ao abrigo da licença da Direcção-Geral de Economia e de acordo com as exigências daquela altura; de apresentar uma declaração da Câmara Municipal referindo que esta levava as latas do verniz de 15 em 15 dias para Ecocentro; de alegar que o prazo para registo das fossas tinha sido prorrogado ou de alegar que o sistema informatizado de gestão de resíduos, pertença do Ministério do Ambiente, de alteração em alteração, não estava a funcionar.
Na sua honestidade de rural ainda foi dizendo que nem sequer queimava toda a serradura, porque alguma depositava-a num terreno de mato, sua propriedade, e os desperdícios de madeira iam para a lareira. Logo percebeu o erro da sua sinceridade, pela ameaça de mais uma contra-ordenação por rejeição de resíduos no solo, de imediato corrigiu: «Mas isso foi no princípio, agora não, queima-se tudo!»
Lá foram a Lisboa as testemunhas arroladas, ouvidas por um advogado que presta serviço para o Estado, certamente bem pago. Aguardou a decisão, uma eternidade, e recebeu há dias a notícia: «2 500 euros de multa! Aplicada apenas pelo mínimo, porque podia ter chegado aos 25 000 euros, era o que dizia a contra-ordenação! Estava preparado para fechar a porta.»
«Ainda me aconselharam a recorrer, garantiram-me que com um bom advogado, me limpariam tudo em Tribunal, mas deitei contas à vida, gastaria mais em custas e no advogado do que o valor da multa! Temos que sustentar esta cambada! Vá lá que ainda me facilitaram pagar em prestações!»
É assim que o País trata quem trabalha, obrigando-o a dar o litro, o Estado agarra-se-lhe que nem uma carraça, suga-o a até ao tutano, que o déficit a isso obriga. E não é apenas o Estado que parasita a economia, são também uma panóplia de outras entidades criadas ou estimuladas pelo Estado, consultoras, certificadoras, que emitem certidões de conformidade, que vendem serviços novos que o Estado inventa todos os dias, ou aplicações informáticas que apenas complicam a vida a quem produz.
«Terras do Lince», opinião de António Cabanas

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A Confraria do Toiro Bravo reuniu-se na tarde de Sábado (29 de Maio) para o seu IV capítulo anual em Coruche, onde foi fundada, no final de 2006. O evento decorreu, no Observatório do Sobreiro e da Cortiça, enquadrado na FICOR, certame destinado a promover a fileira da cortiça, onde só aparentemente se poderá estranhar a presença do touro bravo, já que o montado é o seu ecossistema favorito. A Confraria do Bucho Raiano marcou presença em terras ribatejanas.

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António Cabanas - «Terras do Lince»A Vila Ribatejana recebeu as várias dezenas de representantes de outras confrarias engalanada, com feira e tasquinhas, onde não podia faltar a tradicional tourada à portuguesa. Embora de forma modesta, a Confraria do Bucho Raiano esteve presente.
O Presidente da Câmara local, confrade, mas à civil, deu as boas vindas aos forâneos, enalteceu o trabalho desenvolvido pela confraria e justificou a existência do observatório como uma ode ao sobreiro. Ora aí está!
Na oração de sapiência, proferida pelo confrade Dr. Francisco Fernandes, ficou a saber-se que as touradas já vêm dos gregos e romanos e de outras mitologias antigas, mas também que o conhecimento culinário milenar com o qual poucos se preocupam se pode perder com a morte de quem o detém.
Momento de boa catadura ocorreu quando a meio das alocuções entrou o antigo matador de gado do extinto matadouro municipal. Do alto da sua proveta e tisnada idade, desceu a coxia do auditório, deu as boas tardes em voz alta, interrompeu a oratória do maioral e, sentando-se na primeira fila, fez-se notar ostensivamente. E não era para menos, afinal o Sr. Manuel seria entronizado daí a pouco como confrade honorário do Toiro Bravo, ele que no velho matadouro, ensinava o bêabá da arte de matar reses bravas aos futuros matadores.
Vamos ao que interessa, à comida, claro, ou não fosse ela razão maior de uma confraria gastronómica! O restaurante o Farnel esteve à altura da responsabilidade, logo a começar pelas entradas, iniciadas pelos famosos espargos bravos que também os toiros comem na herdade. A língua de fricassé, o beiço e os rins salteados, tudo de bravo, estavam uma delícia. As carnes mais afrodisíacas ficarão para o próximo capítulo! Para variar, o prato principal era constituído por nacos de vitela brava com favas. A sobremesa foi já um tanto apressada pela urgência da tourada, mas deu para notar a curiosa apresentação do folhado com creme de ovos, em forma de cabeça de toiro. O vinho não se ficou atrás, ribatejano, reserva multicastas de 2004 da Quinta Grande, um pouco graduado demais, mas agora é moda.
A maior surpresa estava reservada para a noite, com o desfile de todas as confrarias presentes, em plena praça de touros. Não estando as praças dotadas de portas para confrarias, entrámos pela porta do cavalo. Foi então que entendi a razão das favas ao jantar, só não relinchamos por respeito aos Ribeiro Teles e ao Pablo Hermoso que já alpendorados nas suas belas montadas, aguardavam que o desfile confrádico acabasse, para eles próprios darem início ao de cortesias.
A praça acabou por encher para ver a I Grande Corrida das Confrarias. Os toureiros da terra esforçaram-se para entusiasmar o público, enquanto o espanhol, com cavalos bem treinados apenas lhe faltou a elegância que este tipo de toureio exige.
Os forcados começaram mal, com o primeiro touro, em derrote violento, a desbaratar as ajudas tardias do grupo de Montemor e a deixar o forcado da cara muito maltratado e a necessitar de sair de maca. Já os da casa brindaram a pega às confrarias, e foi uma pega de se lhe tirar o chapéu, que levou a assistência ao delírio. Agarrado que nem uma lapa na cara do touro aguentou meia praça, ora arrastando na areia, ora quase voando pelos ares, até à reunião de todo o grupo.
Confrades e confreiras aplaudimos de pé!
«Terras do Lince», opinião de António Cabanas

(Vice-Presidente da Câmara Municipal de Penamacor)
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A romaria da Senhora da Póvoa, a mais concorrida das Beiras, tem lugar no domingo, segunda e terça-feira do Espírito Santo.

Nossa Senhora da Póvoa
Onde ficais situada
Num desvão da Serra d’Opa
Numa casa caliada

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Estão de volta as grandes romarias da Região, sinal da chegada do bom tempo. Estranhamente, ou talvez não, continuam a arrastar milhares de pessoas aos seus santuários, geralmente pequenos demais para tantos automóveis e tendas de vendedores ambulantes. A Senhora da Póvoa afirma-se no panorama regional como uma das mais concorridas.

Senhora da Póvoa

António Cabanas - «Terras do Lince»Depois de uma quebra nos anos 60 e 70 em que de 3 dias acabou em 1, ei-la de novo em grande! Aos poucos foi crescendo e depressa os «tendeiros» sentiram necessidade de ir de véspera para guardar o lugar, levando a que na tarde de Domingo já houvesse muita gente, muitas tascas e arraial. Hoje vêm na véspera da véspera e já têm de novo dificuldade em obter o tão desejado espaço em sítio adequado, entenda-se onde passe muita gente.
Há os que apenas vão pela devoção religiosa, comungam dos actos religiosos, acendem uma vela, perfilam-se na procissão e rezam na igreja.
Há até quem se martirize de joelhos, em seu redor, pagando uma bênção divina, ou requerendo-a.
Cá fora, o Zé-povinho, numa espécie de orgia colectiva, percorre a feira em busca de uma qualquer pechincha, canta e dança, abraça os amigos, enche o bandulho com opíparos repastos, emborca copos de tinto e de cerveja.
Há muito nos interrogamos sobre a sua origem. Naturalmente, como tantos outros cultos a santos e santas que o nosso povo estima, terá provavelmente origens muito remotas, em antigos cultos pagãos. No cimo da Serra d’Opa há claros indícios de um santuário sacrificial. É um local de cume, também de actuais e antigas divisões administrativas, talvez mesmo muito antigas, pois era normal que elas passassem pelos acidentes geográficos, pelas alturas, ou pelos rios intransponíveis. Mas era também nesses locais que se efectuavam manifestações guerreiras ou, pelo contrário se juntavam as tribos para festejar a paz, eram assim locais de aproximação, de reencontro, provavelmente de festejos, onde quem sabe, se acertavam romances que miscigenavam o sangue.
Como nesse tempo longínquo continuam hoje a afluir gentes de diversas origens. No caso da Sra. da Póvoa vêm de Belmonte, do Fundão, do Sabugal, das Idanhas e de outras paragens mais distantes, além das aldeias do concelho de Penamacor. Ali, se juntaram sempre gentes do norte e do sul, o pandeiro redondo e o pandeiro quadrado. Gaiteiros e tocadores de harmónio, adufeiras e tamborileiros desafiavam os mais dançarinos. Qualquer realejo servia para fazer um baile! Enquanto os foliões se divertiam, os vendedores faziam negócio vendendo foices, tamoeiros, albardas, ancinhos, cabeçadas, e toda uma panóplia de objectos e alfaias de uso doméstico.
Os dias que antecediam a festa eram de muita ansiedade e de muito trabalho: o plantio e a rega da horta ou a apanha do feno. Eram por vezes dias de trovoada, ameaçando estragar os trabalhos agrícolas e a própria festa.
Pior ansiedade ainda provocavam as conversas dúbias lá de casa, que escondiam incógnitos jogos de interesses. O pai que perguntava:
– Não prometeste de ir à Senhora da Póvoa?
A mãe que respondia:
– Não, que está o feno para apanhar.
– Se não vamos, a santa castiga-nos com alguma trovoada!
– Não me apetece preparar a merenda!
– Mas a mãe já fez almôndegas de bacalhau! – Atalhava eu a pensar no realejo e na moto de três rodas, feita em lata pintada e que daria brincadeira para todo o ano.
– Cala-te fedelho, que não são contas do teu rosário!
Por fim, chegava o dia, não havia escola – e mesmo que houvesse! – A madrugada era um corrupio, regar a horta, tratar dos animais, preparar o burro, ou então esperar pela camioneta, na estrada. Muitos autocarros nem sequer paravam, vinham cheios, com gente de pé no corredor. Os vidros abertos deixavam escapar a animação das concertinas e adufes e contagiavam os que aguardavam na paragem:

Nossa Senhora da Póvoa
Onde ficais situada
Num desvão da Serra D’ Opa
Numa casa caleada

Nossa Senhora da Póvoa
A vossa Capela Cheira
Cheira a cravo cheira a rosa
Cheira a flor de laranjeira

Nossa Senhora da Póvoa
Já cá vamos à Meimoa
Que terá o vosso sino
Que o vosso sino não toa

«Terras do Lince», opinião de António Cabanas
(Vice-Presidente da Câmara Municipal de Penamacor)
kabanasa@sapo.pt

Desde há uns anos que a política portuguesa se traduz numa espécie de novela à brasileira, de desfecho tão imprevisível quanto interminável. A instabilidade é a sua imagem de marca, uma espécie de fatalidade, de destino que nos está reservado enquanto povo. Não há governo que se aguente mais que um mandato e isso reflecte-se nas políticas públicas, as quais, mesmo quando ostentam algum virtuosismo, se vêm condenadas ao fracasso logo que o governo mude. Contra a fraqueza de quem governa, os lobbies corporativos foram, por sua vez, ganhando cada vez mais força, com claro prejuízo dos interesses colectivos de âmbito mais alargado.

impeachment

António Cabanas - «Terras do Lince»Ninguém acredita que tal perturbação seja favorável ao progresso da nossa sociedade.
As fragilidades económicas e de desenvolvimento que nos afectam, têm as suas raízes mais profundas nesse estado de contínuo cozimento em lume brando.
A política portuguesa é uma espécie de zona sísmica, que vive em permanente sobressalto e onde não vale a pena erigir nada de substantivo, que logo cairá. O que conta é o imediato e o imediatismo. Somos avessos ao longo prazo!
O sucesso económico da nossa vizinha Espanha, que teve em 35 anos apenas 6 governantes (nós tivemos 4, nos últimos 10 anos!), também se poderá explicar pela sua maior estabilidade política.
Como se não bastasse a crise para gerar perplexidades e incertezas no futuro colectivo, a nossa classe política contribui decisivamente para acentuar a turbulência.
A telenovela diária em que se tornou a Comissão de Inquérito ao negócio PT/TVI, passada em directo pelas televisões, espectáculo deprimente e voyeurista que entretém um país afundado numa enorme crise de confiança, é disso o melhor exemplo.
Ninguém entende o que se quer apurar, quando todos, incluindo a opinião pública, já perceberam há muito o que se passou. Até adivinhamos as conclusões!
Se de um julgamento se trata, uma comissão parlamentar é o pior dos tribunais, onde o juiz é por natureza tendencioso. Nunca será um julgamento justo. Aprovados por votação, os resultados só poderão espelhar a própria composição da Comissão e do parlamento. É também certo e sabido que as partes sairão da comissão como entraram, sem alterar uma vírgula às conclusões previamente formuladas.
Ninguém duvida que o primeiro-ministro detestava o famigerado jornal de «estilo manuelino» da TVI. Nem sequer era o único. A mim também me causava asco. Aliás, Sócrates nem sequer foi cínico, apontou-o como travestido. Penso que o Primeiro-ministro fez mal em preocupar-se com ele, que de tão mau era inofensivo.
Um destacado ex-accionista da TVI assegura, que, de forma deliberada esta estação pretendia derrubar o Primeiro-ministro. Ficou-se também a saber que igual prática foi usada contra Santana Lopes. Só não sabemos o valor do contributo para a sua demissão. Ajudar a derrubar políticos e governos é uma prática comum em alguma comunicação social. Isso é feito de forma descarada.
Que o primeiro-ministro conhecia o tal negócio, parece óbvio, e que foi a barulheira da comunicação social que impediu a sua concretização, ainda é mais óbvio. Mas ainda ninguém percebeu que mal ele faria ao país. Que com tal negócio o governo controlaria a comunicação social, e que haveria um plano com esse objectivo, parece pura fantasia! O governo não controla coisa nenhuma no que respeita a grupos económicos e muito menos a comunicação social que é o mais poderoso! Seria até contraproducente, pois o governo que está hoje, não estará amanhã, virar-se-ia o feitiço contra o feiticeiro.
O cúmulo da futilidade é discutir-se um negócio que nem sequer existiu. Para que serve, então, todo este teatro? A resposta é clara, pretende-se destituir o primeiro-ministro e o governo: uma espécie de impeachment à portuguesa, porque ninguém tem coragem para uma moção de rejeição, pelo receio dos resultados eleitorais que poderiam vir a seguir.
Fica-se com a sensação de estarmos a caminhar para o abismo político, onde vingam os jogos de bastidores de curto prazo que apenas geram poder de curto prazo.
Que ganha o país com tudo isto? Nada. Pelo contrário, acentua-se a degradação da vida política, a desresponsabilização de quem governa, perdem-se reformas iniciadas anteriormente e agrava-se a crise económica e social. É tudo o que este país não precisava neste momento. Só um pacto de regime de amplo consenso, «a la longue», poderá tornar o país governável e permitirá a convergência com os parceiros da UE.
Exemplos não faltam na Europa.
«Terras do Lince», opinião de António Cabanas

(Vice-Presidente da Câmara Municipal de Penamacor)
kabanasa@sapo.pt

O Lince é decididamente um animal enigmático. Tão enigmático que são vários os seus nomes: lobo-cerval, liberne, gato-cerval, gato-cravo ou gato-real. Há até quem o apelide de gato-fantasma ou de nunca-te-vi! Também se lhe atribuem características estranhas como a capacidade de perfurar a rocha com o seu «olhar de lince».

Centro Reprodução Lince Ibérico - Silves

António Cabanas - «Terras do Lince»Trepador, territorialista, e dorminhoco como todos os gatos, não precisa de lições de eficiência energética, pois não gasta energias desnecessárias.
Dizem os especialistas que possui uma estratégia K, opção de vida, por sinal, mais difícil do que o comum das espécies. Significa que, ao contrário de outras que investem em termos reprodutivos em proles numerosas (estratégia r), o lince tem como desígnio ter poucas crias. Mesmo quando nascem mais que uma, raramente sobrevivem mais que duas. A sua reprodução em cativeiro tem reflectido essa tendência, registando níveis elevados de mortandade das crias. A comprová-lo ainda recentemente morreu uma das crias das duas que, pela primeira vez, nasceram em Portugal.
Optando geralmente pelo filho único super-protegido pela mãe, assume-se como animal solitário que não tolera amizades, nem vida de casado que não seja por fugazes momentos de satisfação sexual. Passado o cio, fêmea e macho brigam pelo couto de caça até ao ponto de se ferirem mortalmente. Mesmo o acasalamento tem, como nos gatos domésticos, uma aparente conflitualidade.
A sua estratégia comporta ainda outra característica que por razões conhecidas lhe tem dificultado a sobrevivência. Especialista em coelho, do qual se alimenta em mais de 60%, podendo mesmo chegar a 80 ou 90% se este roedor for abundante, caça de salto, na orla das clareiras. É por isso um sprinter, cujo coração lhe impede a maratona de perseguir as presas, como outros incansáveis predadores.
Foi a sua dependência das populações de coelho e a diminuição destas em virtude de doenças (mixomatose e hemorrágica viral) e de outras razões, o factor que mais contribuiu para a situação de ameaça que impende sobre a enigmática espécie. Foi também a alteração dos habitats, o abandono da agricultura e as florestações em áreas contínuas que lhe roubaram o espaço de que precisa para sobreviver: o mosaico de matorral, entremeado de clareiras com pastagem e, sobretudo com coelhos.
Com a redução das populações e sua fragmentação, veio outro problema ao gato-cerval, a consanguinidade e a consequente diminuição de resistência a doenças. Não se estranham por isso as notícias sobre um elevado número de linces a sofrer dos rins, coisa incompreensível para um velocista.
Conhecidas as principais ameaças, impõe-se combatê-las eficazmente, o que nem sempre é tarefa fácil. Melhorar as áreas potenciais para a sua reintrodução, em alimento, ou seja aumentando a população de coelho, parece ser a principal urgência, que em conjunto com a criação de efeitos de orla, redução de riscos de caça e de atropelamentos, pode contribuir para ajudar à sua sobrevivência. Em alguns casos pode ser vantajoso reduzir os competidores ou combater as suas eventuais doenças.
A ciência não conseguiu ainda encontrar uma vacina eficaz para a hemorrágica viral, como o fez para a mixomatose, mas surgiu recentemente uma luzinha de esperança: as populações de coelho de algumas regiões de Valladolid aparentam ser resistentes àquela doença. Podemos estar pois num ponto de viragem, de nova esperança. O programa de reprodução em cativeiro também esteve enguiçado durante mais de uma década e de repente, de forma enigmática a condizer com o bicho, surgiu a fórmula secreta para o reproduzir. Pelos vistos foi só trocar de macho!
«Terras do Lince», opinião de António Cabanas

kabanasa@sapo.pt

Conscientes da importância estratégica da água e da electricidade, os municípios com barragens nos seus territórios discutem actualmente uma série de reivindicações que pretendem fazer à Administração Central. A vontade de fazer valer os seus interesses é tão forte que já se organizaram em secção no seio da Associação de Municípios.

Barragem do Sabugal

António Cabanas - «Terras do Lince»O principal objectivo da discussão gira à volta da repartição das avultadas verbas que resultam da exploração das centrais hidroeléctricas. As autarquias querem que se adopte o mesmo procedimento que é aplicado aos parques eólicos em que uma parte da produção, legalmente 2,5%, reverte para os territórios em que estão localizados. É na verdade uma pequena migalha em face do elevado rendimento que estes investimentos geram e em face da fatia de leão que pagam ao estado, mas ainda assim um precioso auxílio aos magros recursos municipais. As autarquias tentam negociar uma percentagem idêntica a aplicar às barragens, mas o estado e a entidade reguladora contrapõem que isso se irá reflectir na factura a apresentar ao consumidor. Fazem-se as contas e pronto, o Zé povinho que pague! Logo os partidos do poder, nobres arautos da defesa do consumidor, entenda-se do votante, se opõem tenazmente a qualquer mexida que, supostamente, implique aumentos da luz, porque nenhum quer ser o mau da fita. Porém, a verdade dos factos é outra e o que está por trás é diferente do que se quer fazer crer. O Estado não só recebe os impostos da energia como as verbas astronómicas das concessões das barragens. Recentemente, deliberou antecipar o recebimento dessas contrapartidas, ou seja, fazendo-se pagar à cabeça, por concessões de 25 anos. Pelas barragens do Fridão e do Alvito, por exemplo, a EDP pagou, adiantados ao Estado mais de 200 milhões de euros! As barragens do concelho de Montalegre, onde a EDP produz, por ano, 100 milhões de euros, renderam ao erário público, só pela renovação da concessão, 275 milhões de euros! Isto porque o estado quer, pode e manda e a EDP é, como se sabe, uma empresa pública, ainda que camuflada de sociedade anónima.
Veja-se agora o outro lado, o da própria EDP. Nos últimos três anos económicos, 2007, 2008 e 2009, a «eléctrica» arrecadou em cada ano mais de mil milhões de euros! Claro que isso permitiu que se pagassem os tais ordenados escabrosos dos respectivos administradores e os tais prémios não menos escabrosos, objecto de tanta polémica.
Postas assim as coisas, os 2,5% a pagar pela EDP aos municípios pouca mossa farão nas contas da EDP e menos ainda nas do Estado. Não vemos sequer nenhuma razão para que isso implique qualquer aumento no custo da tarifa da luz. Até porque Portugal já é um dos países da União Europeia com a tarifa mais cara. Nem precisamos ir muito longe, comparando com a vizinha Espanha os portugueses pagam mais 41%.
O estado, e a EDP de que o estado é dono e senhor, bem podem abdicar dessa pequena migalha de 2,5% que os municípios reivindicam.
Nesta, como em outras matérias o estado trata mal os municípios, com a agravante de que neste caso se trata dos municípios deprimidos do interior, que geram riqueza para o todo nacional. Ou seja, a solidariedade tem apenas um único sentido: do interior para o litoral. Se o sol quando nasce é para todos, a electricidade é só para alguns!
Mas na factura da energia há ainda outras aberrações em que os municípios são vítimas da gulodice insaciável do estado: até a iluminação pública, que é como se sabe paga pelas autarquias foi recentemente onerada com as taxas da RTP. Como qualquer consumidor doméstico que possua televisão, as autarquias têm agora de pagar ao estado, via EDP, essa famigerada taxa, por cada um dos milhares de contadores da rede pública. Claro que quem acaba por pagar são, em última instância os munícipes.
«Terras do Lince», opinião de António Cabanas

kabanasa@sapo.pt

No dia em que escrevo este artigo comemoram-se cinco anos da morte de Karol Wojtyla, esse gigante da igreja que quis chamar-se João Paulo II. Figura marcante do século XX, o Papa que ousou desafiar o poder dos grandes impérios, foi ao mesmo tempo cativante e catalisador de massas, de humildes e oprimidos. Mesmo para os mais agnósticos era um homem fascinante e um semeador de esperança. Estimado pelo povo anónimo cristão, foi aos jovens que soube falar como nenhum outro papa o fizera antes. Estes recompensaram-no com autênticos banhos de multidão. Eram aos milhões nas famosas jornadas mundiais da juventude!

Papa João Paulo II com Fidel Castro

António Cabanas - «Terras do Lince»Não precisou de ganhar o prémio Nobel, que aliás seria merecido, para se considerar o maior mensageiro da paz e da concórdia mundial e, simultaneamente, um acérrimo defensor dos direitos humanos e das nações mais pobres.
Foi muitas vezes politicamente incorrecto, mas ética e moralmente coerente com os mais elementares princípios da Igreja. Ousou visitar Cuba e criticar o embargo económico americano para logo criticar também o regime de Fidel e as penas aplicadas aos seus dissidentes.
Poderíamos chamá-lo o Papa peregrino, pois viajou por todo o mundo, visitando centenas de países e milhares de locais, reunindo em todo o lado verdadeiras multidões. Foram as suas inúmeras viagens que contribuíram decisivamente para mudar mentalidades e derrubar muros e regimes obsoletos.
Foi a visita papal ao seu país de origem que levou a libertação e inspirou o movimento Solidariedade para chegar ao poder. Foi um «Não tenhais medo», que fez crescer a coragem e apressou a derrocada do muro de Berlim.
Os portugueses estão-lhe gratos pelas suas 5 visitas, grato também ele ficou à virgem de Fátima, de que era devoto, pelos milagres da sua recuperação.
Quebrou vários tabus do catolicismo: nunca um papa tinha visitado Jerusalém ou rezado no muro das lamentações e em quase mil anos, desde o cisma da igreja ortodoxa, nenhum tinha visitado a Grécia. Pregou em sinagogas e mesquitas, aproximou religiões num diálogo inter-religioso sem precedentes e fomentou o ecumenismo de forma incansável durante o seu pontificado.
Carismático e popular, sabia que liderar é comunicar, lidando admiravelmente com os meios de comunicação social que viajavam consigo para todo o lado e acompanhavam cada momento da sua vida.
Foi um verdadeiro exemplo para todos nós. Órfão de pequena idade, desportista, amante da literatura e do teatro. Deu-nos uma lição de perdão ao perdoar até aos que atentaram contra a sua vida e visitando-os inclusivamente na prisão. Mas também soube pedir perdão por erros que a Igreja cometera no passado.
Quando poderia ter resignado ou fazer-se representar, assumiu-se como exemplo de estoicismo e de luta contra o sofrimento e a doença que no final da sua vida o atormentavam.
Pouco frequentador dos ofícios religiosos, fui no entanto fã deste vulto da Igreja (quem o não foi?). Juntei-me aos milhares que o receberam em Fátima, gostava de ouvir a sua voz na Televisão, desejando-nos, em língua portuguesa, uma feliz Páscoa ou um Bom Ano Novo. Acompanhava à distância as suas viagens e ouvia ou lia os seus discursos. Comovi-me de tristeza com a notícia da sua morte e fiz fila para visitar o seu túmulo no Vaticano. Santo ou não era um homem de carne e osso, igual a nós, mas que mais do que a maioria de nós soube atingir esse desiderato de humanismo que só está reservado a uma pequeníssima minoria. É curioso que seja justamente numa Sexta-Feira Santa, que tal comemoração ocorre.
Rendo-lhe aqui a minha homenagem.
«Terras do Lince», opinião de António Cabanas

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Decididamente a Igreja não sabe lidar com as questões do sexo. Sempre que as mesmas se colocam na sociedade, as estruturas religiosas raramente acertam o passo, assumindo habitualmente posições contrárias ao resto da sociedade.

Papa Bento XVI

António Cabanas - «Terras do Lince»São sobejamente conhecidos os engulhos eclesiásticos acerca da inadmissível discriminação das mulheres, que constituindo a maioria dos fiéis, são estranhamente impedidas de aceder aos cargos sacerdotais. A culpa, neste caso, também é delas, pela passividade e falta de contestação, incompreensível quando comparada com a força demonstrada na luta pelos seus direitos, pela sua emancipação e pela igualdade noutras áreas da sociedade. Pelo contrário, em matéria de religião, continuam, a aceitar a subalternização, como se Deus as tivesse abandonado. Mas não será de excluir que um dia destes as mulheres façam greve à religião, deixando as igrejas vazias!
Outro tema recorrente é o casamento dos padres que, segundo alguns, resolveria o problema da falta de vocações. O Vaticano, porém, nem quer ouvir falar do assunto, demonstrando que ao nível mais elevado da hierarquia da Igreja há assuntos que são autênticos tabus. João Paulo II, apesar de mais aberto à mudança que o actual Papa, também não aceitou discuti-los. No entanto, os incumprimentos ao celibato sacerdotal continuam nos dias de hoje a fazer estragos sociais e deixar sem pároco algumas das nossas freguesias. Ainda recentemente, assistimos a uma mediática história amorosa, entre um jovem pároco português e uma sua paroquiana.
Neste capítulo, a Igreja deu alguns passos atrás, já que no passado, muitos dos clérigos eram casados e tinham filhos. Não soube, por isso, tirar partido da realidade de então, para em definitivo instituir o casamento dos padres e dessa forma universalizar o acesso ao sacerdócio. Teria matando 2 coelhos de uma só vez!
Na mais recente visita a Angola, o Papa voltou a escorregar no ataque ao preservativo, considerando-o como uma espécie de atentado à vida. Numa região em que a sida é o mais sério problema de saúde e de mortalidade, ninguém entendeu a mensagem do sumo pontífice. Neste capítulo, bem pode dizer-se que a instituição religiosa parece ter receio da inovação e do moderno. O controle de natalidade sempre existiu no passado, com formas arcaicas e bastante cruéis, como o abafamento de bebés e outros métodos, bem conhecidos e tolerados pela Igreja. Ao criticar as formas modernas, cómodas e sensatas de controlo de natalidade e que tornam as relações sexuais mais seguras, a Igreja demonstrou mais uma vez a sua dificuldade em lidar com o sexo.
Os piores fantasmas, no entanto, são as notícias que em catadupa, tem vindo a lume nos últimos meses sobre os abusos de pedofilia, supostamente perpetrados por padres em vários países do globo. Estes casos estão a abalar seriamente a ética da instituição religiosa, que não soube no passado recente lidar com o assunto, não soube tomar medidas atempadamente e assobiou para o lado, como se de assunto alheio se tratasse.
Neste particular, o problema poderá tomar dimensões mediáticas catastróficas e está a deixar o próprio Bento XVI em maus lençóis.
«Terras do Lince», opinião de António Cabanas

kabanasa@sapo.pt

São recorrentes as queixas sobre a burocracia, como recorrentes são as supostas iniciativas políticas para a aliviar. Contrariando a ideia de que a informática reduziria drasticamente a dependência dos papéis, promovendo a sua diminuição, a escrita em letra de forma ficou ao alcance de qualquer impressora, pelo que qualquer um de nós tem hoje uma pequena indústria gráfica em casa ou no escritório, multiplicando por mil a facilidade de produzir «papel».

Burocracia

António Cabanas - «Terras do Lince»Se por via da informática se não reduziram os papéis, também não se reduziram por via da simplificação dos serviços, vulgo, simplex, pois não me parece que o cidadão comum tenha notado, através dele, alguma melhoria. Se houve serviços e sectores da administração onde as coisas se simplificaram, continua a haver outros a emperrar o sistema e foram até criados novos e mais difíceis obstáculos.
Há dois anos um amigo meu francês ficou impressionadíssimo com a rapidez com que conseguiu fundar e registar uma empresa em Portugal: em poucos dias ficou tudo pronto e, apesar de o ter aconselhado a não deitar foguetes antes da festa, fiquei cheio de orgulho de ser português!
Encontrei-o recentemente, muito desanimado e perguntando-lhe se o negócio não estava a correr bem, coisa natural com a actual crise, respondeu que nem bem nem mal, pela simples razão que ainda nem sequer o iniciara por falta de licenciamento. Desabafou que, não fora o dinheiro já investido, desistiria do negócio, tal era a descrença na nossa administração pública. Relatou-me então a odisseia de papeladas e pareceres de diversas entidades que teve que solicitar, das demoras de uns e de outros, dos papéis que constantemente lhe pediam, além da enorme despesa que isso lhe acarretara. Bem o avisaram alguns que para a coisa andar, era necessário conhecer alguém nos serviços.
Contou então que, além das muitas autorizações, arrancadas a ferros da Administração, ainda esperava por uma alteração de cadastro e que estava farto de perguntar por ela onde a tinha requerido e não havia forma de vir deferida. O pedido, feito há mais de um ano na repartição de finanças local, seguira o seu curso normal, fora enviado para a repartição distrital que por sua vez o enviara ao Instituto Geográfico (IGP), que lhe enviara uma carta a pedir mais de 250 euros por um serviço de urgência, que depois de um telefonema ficou a saber que era pegar ou largar: ou pagava a urgência, ou esperava sentado, eternamente! Farto de esperar, não viu outro remédio, que não fosse pagar sem demora e passadas umas semanas lá apareceu o topógrafo dos serviços cadastrais que o informou do caminho de volta exactamente igual, mas em sentido oposto, que levariam os papéis, até chegarem à sua mão: do IGP para a distrital de finanças, desta para a repartição de bairro e finalmente para o requerente. Aconselhei-o a telefonar, para as repartições onde os papéis teriam de passar e rogar que de imediato os despachassem para a etapa seguinte, ou até oferecer-se para ser ele o portador dos mesmos. Riu-se, mas acabou por aceitar o conselho quando lhe expliquei que já tinha passado por essa experiência, duas ou três vezes e que nas últimas obtive as operações cadastrais, devidamente aprovadas, em menos de três meses.
Um país que necessita urgentemente de se desenvolver, de promover o investimento, de produzir e criar emprego, não pode dar-se ao luxo de continuar a manter este tipo de garrotes administrativos, retrógrados e que, ao fim e ao cabo, não cumprem nenhum objectivo de defesa do bem público, mas que têm às vezes associados interesses instalados. A mudança de paradigma, porém, não é um desafio apenas da administração pública. É, antes, de todos nós, que temos o direito e o dever de contestar as formas arcaicas de controlo prévio das actividades.
«Terras do Lince», opinião de António Cabanas

kabanasa@sapo.pt

A partir de agora está disponível no mercado mais um produto «Terras do Lince». Trata-se de enchido feito de forma tradicional a partir de porco «Pata Negra». Os suínos são criados em Penamacor, em regime extensivo, em montados de sobro e azinho, a sul da Serra da Malcata, junto à fronteira. A montanheira em sub-coberto, sabiamente feita desde tempos imemoriais, num convívio sereno e ecológico e beneficiando reciprocamente árvores e animais, tem permitido a produção de uma carne suculenta, aromatizada e de sabor intenso.

Terras do Lince - Penamacor - Sabugal

António Cabanas - «Terras do Lince»A salsicharia, recentemente construída na vila raiana, no antigo matadouro municipal, pertence à empresa Vale do Alcaide e foi co-financiada pelo IEFP e pelo Penamacor Finicia. A Câmara cedeu o espaço em regime de comodato com prazo alargado, a empresa elaborou o projecto e executou as obras.
Os diversos tipos de paios e chouriços «Terras do Lince» poderão a partir de agora ser comprados em algumas cadeias de hipermercados nacionais, em França e na Suíça, juntando-se aos queijos, azeite, mel e doces já existentes. A estes produtos juntar-se-ão em breve azeitonas de mesa e outros produtos das terras do lince.
A marca, registada há dois anos pelo município de Penamacor, está disponível para produtos agro-alimentares e serviços e produtos turísticos dos concelhos integrantes da Serra da Malcata (Sabugal e Penamacor), e das regiões espanholas vizinhas Sierra de Gata e Alto-Águeda.
Os representantes destes quatro territórios reuniram-se recentemente em Hoyos para acertarem estratégias de cooperação transfronteiriça e lançarem projectos comuns aos instrumentos financeiros existentes. Há muito que os respectivos municípios cooperam nas áreas do turismo, da educação ambiental, da juventude e, genericamente, do desenvolvimento regional. As candidaturas ao programa POCTEP, antigo Interreg, estão agora abertas e as quatro regiões pretendem candidatar projectos nas áreas do Turismo, das energias renováveis, do emprego e em todas aquelas a que a cooperação possa conferir algum tipo de vantagem.
Um dos temas em discussão na reunião foi justamente a marca «Terras do Lince», em que a vontade de a aproveitar e potenciar foi consensual, para isso, deverá agora ser registada na União Europeia e apostar-se na sua promoção.
«Terras do Lince», opinião de António Cabanas

kabanasa@sapo.pt

O governo acaba de publicar o diploma regulamentar sobre as taxas a aplicar nas áreas protegidas (Aps). Depois de uma anterior tentativa frustrada para taxar a quase totalidade das actividades desenvolvidas nas Aps e da contestação generalizada dos afectados, o ICNB veio de novo à carga: suspensa durante três meses, a portaria volta agora com algumas alterações. Tal como na famigerada lei dos poços, o Ministério do Ambiente, mais uma vez, dera marcha-atrás, mas desta vez para avançar de novo, três meses depois. A pressa em ir ao bolso dos contribuintes nem sempre dá bons resultados!

Paisagens Protegidas

António Cabanas - «Terras do Lince»Concordo com o princípio do utilizador pagador, mas nunca vi com bons olhos as há muito anunciadas taxas das Aps. Algumas, foram agora abolidas, mas ainda assim há muita taxa e pouca conservação na nova portaria, com valores a roçar o exagero.
Os agricultores (se ainda os houvesse) ficarão agora isentos. Neste caso imperou o bom senso. Quem não está isento são as autarquias que para construção de uma nova via ou alargamento de uma existente, pagarão uma taxa que pode ascender aos 5000 euros! Curiosamente o estado tem uma lei que impede as autarquias de cobrar taxas aos serviços da Administração Central. Nunca entendi a má vontade do estado para com as autarquias nem esta dualidade de critérios!
Se uma qualquer entidade, ou um particular pretender a partir de agora construir um edifício com mais de 200 m2, dentro de uma Ap, poderá pagar uma taxa até aos 10 000 euros, dependendo do tamanho. Mas há taxas para todos os gostos!
É um claro desincentivo às actividades nestas zonas tão deprimidas, cuja preservação está hoje mais ameaçada, justamente pela falta de actividades humanas.
Pode dizer-se que é o próprio ICNB a promover o abandono das Aps. As actividades de turismo, recreativas ou de lazer, no fundo as que melhor se adequam às áreas protegidas, ficam agora mais caras e difíceis de desenvolver. Acrescente-se aqui a burocracia e o tempo geralmente gasto na obtenção dos pareceres e autorizações.
As populações e regiões que souberam ao longo de séculos preservar a sua natureza, vêm-se assim injustamente penalizadas pelo seu altruísmo. Paga o justo por pecador!
A razão desta nova política das Aps, não é senão a razão do deficit e dos parcos orçamentos do ICNB que assim tenta minimizar a falta de recursos. Tenho, porém, dúvidas que assim se resolva o problema do instituto. O mais certo é que por tanto se esticar a corda, ela parta, como tem partido em outros sectores da vida nacional.
O problema é, mais uma vez o mesmo: o hábito de passar do 8 ao 80! Quando há uns anos, neste país que nem é dos mais prendados em termos naturais, as Aps proliferaram como cogumelos, enxamearam de funcionários do quadro, estagiários, contratados, vigilantes, biólogos, ninguém se preocupou com os custos, nem com quem iria pagar a factura. Vivia-se à tripa forra! Agora que chega o aperto, é o que se vê! Em alguns casos não há sequer dinheiro para o gasóleo!
Mas ainda assim, não podemos aceitar mais este rude golpe contra as zonas deprimidas e já de si tão castigadas com restrições, até porque a conservação da natureza nada ganha com estas ideias peregrinas. Em vez de se afugentarem, as poucas iniciativas existentes nas Aps deviam ser acarinhadas, feitas naturalmente com estrita observância da salvaguarda dos ecossistemas e da natureza.
Não podem ser os residentes a pagar a factura da conservação da natureza e da preservação das espécies, até porque um dia destes alguém terá que pagar também a preservação da espécie humana (cada vez mais ameaçada de extinção) nas reservas e parques naturais. E isto não é mera figura de retórica, dado que a maioria das nossas Aps se localizam em zonas do Interior que caminham aceleradamente para o ermamento.
«Terras do Lince», opinião de António Cabanas

kabanasa@sapo.pt

Afinal faltará liberdade de expressão em Portugal ou será este assunto mera arma de arremesso político, apenas tema de conversa e nada mais? Tema que se esquece, logo que outro escândalo ou desgraça apareça, como a tragédia da Madeira fez esquecer o Haiti, como a «face oculta» fez esquecer o Freeport e como as restantes novelas do dia a dia, da pedofilia à Maddie, do «apito dourado» ao «Vale e Azevedo» fizeram esquecer outras tantas comédias.

Peanuts

António Cabanas - «Terras do Lince»Comédias para nos entreter e que têm o condão de nos distrair da crise económica e da crise de confiança em que o país se afoga cada vez mais; mote para todo o tipo de artigos, entrevistas e comentários na comunicação social, que ajudam a esgotar jornais e prender espectadores a rádios e televisões.
Sempre achei o actual primeiro-ministro um homem de pulso, um osso duro de roer, a roçar até o ditador (se calhar já fazia falta!). Mas nunca o supus capaz de elaborar um plano para silenciar a comunicação social! Até porque, toda a gente sabe que não têm estudos para isso! Parece que lhe falta o diploma! Além do mais, a nossa comunicação social é muito poderosa, arrogante e intocável.
Seria preciso algum plano engendrado lá fora!
Mas se o plano se resumia a cortar o pio à jornalista, ex-deputada do CDS, Manuela Moura Guedes (MMG), então, mesmo a um não diplomado, não seria difícil fazê-lo. Bastava tirar de lá o chefe/marido e logo ela iria atrás, aliás muita gente disse que a MMG só era pivot da TVI por causa do chefe.
Salvo melhor opinião, a MMG não era propriamente das mais dotadas e muito menos isentas e quando assim é o resultado só pode ser medíocre: um jornalismo de baixo nível, com falta de isenção e rigor, mas arrogante.
A mim, enojava-me aquele tipo de jornal. Não por a senhora ter inclinação política que também se nota em outros profissionais, mas pela falta de ética e até de educação.
Toda a gente sabe que a comunicação social de âmbito nacional está nas mãos dos grandes grupos económicos, para onde passou nos últimos anos. É a eles que obedece, pois são eles que pagam. Pelas mesmas razões, raramente se ouve um jornalista denunciá-los ou investigar os seus negócios como o fazem para outras classes.
Acho que os jornalistas são pressionados sim! Isso nota-se-lhe. Nota-se que alguns jornalistas são coagidos a denegrir a imagem de certos políticos, sobretudo aos que estejam no poder! Dá sempre jeito derrubá-los!
Coitadinhos dos jornalistas! Sentem-se pressionados! Até devem andar a necessitar de apoio psicológico! Onde é que já se viu chamar «jornal travestido» ao pasquim da MMG!? E o bastonário da ordem dos advogados que lhe disse das boas com todo o país a assistir e bater palmas! Jornalista sofre! São muitas as pressões, lá isso é verdade!
Mas parece que as pressões não surtem efeito, os jornalistas publicam tudo o que fizer fumaça, até os segredos da justiça, a troco não sei de que obscuros interesses. Nem a suposta falta de liberdade os impede de publicar informações, quase sempre truncadas, obtidas de forma fraudulenta. Por certo serão mais uma vez, pressões!
Claro que às oposições dá jeito estar do lado dos «pobres» jornalistas. Algumas oposições poderão chegar ao poder e mudarão então de opinião; os que agora o detêm depressa já esqueceram o que diziam e faziam quando estavam na oposição.
Mal vai um país quando tudo gira à volta da comunicação social, quando se faz ou deixa de fazer porque a comunicação social se interessou por determinado assunto. E pior ainda quando o tema é a própria comunicação social. Quando se gastam horas e horas de parlamento a entreter o país com temas de lana caprina.
Aplaudo por isso a resposta dada pelo Presidente do Supremo Tribunal de Justiça (PSTJ) a Judite de Sousa, quando esta perguntou se o PSTJ não achava a liberdade de expressão o bem mais precioso de uma sociedade democrática. Ela estaria à espera de quê? Que ele dissesse que sim senhora, que a comunicação social nacional com as suas periódicas novelas sem epílogo é que são o âmago da vida democrática? Que não! – disse o PSTJ, – nada disso, o bem mais precioso a preservar é e continuará a ser a vida!
O resto são peanuts!
«Terras do Lince», opinião de António Cabanas

kabanasa@sapo.pt

Independentemente da cor política de cada um, a polémica transferência de mais 50 milhões de euros anuais para a Madeira conseguiu pôr-nos os cabelos em pé, sobretudo aos que residem no Interior.

Madeira e Beira Interior

António Cabanas - «Terras do Lince»Não porque não gostemos da Madeira, ou porque tenhamos alguma pedra no sapato com o Dr. Alberto João. Como não gostamos de nivelar por baixo, achamos que os madeirenses merecem tudo o que têm direito. Note-se que essa verba representa uma ínfima parte do que é transferido para aquela região autónoma pelo estado e pela UE e, vistas bem as coisas, é uma gota no oceano da nossa dívida pública. Mas em face das dificuldades que Portugal atravessa e da pobreza que alastra escondida por algumas regiões do continente, fiquei a pensar com os meus botões que este não é um país normal.
Apesar de ser pouco, distribuído pelos 25 concelhos da Beira Interior (distritos de Castelo Branco e Guarda), esse dinheiro daria, em cada ano, 2 milhões por município, o suficiente para cada um acudir às dificuldades com que se debate. Comparando áreas geográficas, estaríamos a beneficiar um território incomparavelmente maior – só o Sabugal tem mais área que a região madeirense. Já no que respeita à população, a Madeira é hoje muito povoada (o dinheiro atrai pessoas!), mas ainda assim tem menos gente que a Beira Interior, aproximadamente 245 000 habitantes, contra os 381 000 da nossa região. Se, da mesma forma, nos baixassem o IVA para 14%, poderíamos atrair investimento, e, em poucos anos, teríamos uma média de riqueza, pelo menos igual à média nacional. Mas não, enquanto uns vivem à grande, outros que apertem o cinto!
Se houvesse um referendo nesta altura sobre a independência da Madeira, sentir-me-ia tentado a votar a favor: dê-se-lhe a independência! Claro que é apenas o desabafo invejoso, de quem gostava de ter as mesmas armas, porque o que esteve mal até aqui não foi a Madeira receber mais que as outras regiões, o que esteve mal, foi o interior receber menos que a Madeira. Mas este não é um país de gente normal, nem de um parlamento normal, nem de um governo normal e muito menos de uma oposição normal. Neste capítulo, tenho que dar razão a Alberto João quando se refere ao contenente, como um país de doidos.
Como estamos em maré de números, vem a propósito a notícia desta semana de que os quatro grandes bancos privados portugueses BES, BCP, BPI e Santander Totta deram lucro em 2009. Finalmente uma boa notícia, diríamos, numa situação normal. Com a economia a afundar-se, com notícias quase diárias de fábricas a fechar, do desemprego a subir em flecha, das contas públicas em derrapagem, do governo a cair a pique, dita assim, esta parecia ser mesmo a melhor notícia da semana. Mas não é.
É que, para um cidadão normal, num país normal, com uma formação moral normal, os bancos arrecadarem quase 1,5 mil milhões, quando se pede aos portugueses que apertem o cinto, só pode considerar-se uma partida de carnaval! Mas como este não é um país normal, nem de gente que regule bem, – porque se regulasse já se teriam revoltado há muito – tudo é admissível. Então a uns, congela-se o salário, e a outros, permite-se o jackpot!?
Quanto poderia ser feito com um bilião e meio de euros!? Daria, por exemplo, para fazer metade do tal aeroporto de Lisboa! Dois anos de lucros bancários dariam para pagar toda a obra! Ou então, para fazer a nova travessia do Tejo e pagar as SCUTs durante um ano! Daria para o Aeroporto Regional da Beira Interior e sobraria muito dinheiro! Acham muito? Só estamos a falar do lucro de 2009, mas em 2006 foi semelhante e em 2005 a banca arrecadou só 3 mil milhões de euros! Coisa pouca!
Fico com saudades do Vasco Gonçalves e das nacionalizações!
Quando a banca, por culpa própria, e por ganância desmedida, quase se afundava e nos afundava a todos, o estado, ou seja o contribuinte, que pagasse as favas! E pagou! Quando dá lucros usurários e escabrosos porque nos esmifram até ao tutano, aqui del-rei que não se pode tocar nos prémios dos banqueiros sob pena dos expertos debandarem para outro país. Deixá-los ir! Até seria bom, com banqueiros menos expertos, mais ficará no bolso dos clientes.
Durante o auge da crise financeira, dizia-se que nada ficaria como dantes. E não ficou, ficou pior! Ninguém tem coragem de tocar nos agiotas! Eu diria que não tardará que tudo volte à santa paz da gestão experta: das offshores, dos investimentos nos paraísos fiscais, do capitalismo selvagem e da banca a pagar 15% de IRC enquanto o resto da economia paga 25%.
Somos ou não um país de doidos!?
«Terras do Lince», opinião de António Cabanas

kabanasa@sapo.pt

A notícia de um novo centro de reprodução de lince em cativeiro que está a ser construído no nordeste da Extremadura espanhola, leva-nos a retomar o tema da crónica do início do ano, «Que 2010 nos traga o Lince». Esta nova estrutura está quase pronta em Zarza de Granadilla, junto à barragem de Gabriel y Galan, prevendo-se a sua conclusão antes do Verão. Os linces irão de Doñana, tal como os que foram para Silves, mas só depois de adquirido equipamento e contratado pessoal para que o centro possa funcionar, o que se prevê para o final de 2011.

Lince Ibérico da Serra da Malcata

António Cabanas - «Terras do Lince»Se tudo correr bem, o centro disporá de Linces para libertar lá para 2014, 2015, e visto serem a Sierra de Gata e as Hurdes tradicionalmente território do felino, poderão ser escolhidas para a reintrodução, vindo a reforçar a população da Serra da Malcata.
Entretanto, quer em Portugal quer em Espanha, os técnicos estudam a espécie, os seus competidores e as suas presas. O ICNB prepara planos de acção onde se inclui o diagnóstico das doenças susceptíveis de transmissão ao lince. É que ao contrário do que se pode pensar, a suposta vida saudável dos animais, em absoluta liberdade, não os isenta de patologias e viroses.
Um dos linces que mais contribuiu para a criação em cativeiro morreu no passado dia 1 de Fevereiro na Sierra Morena, com dez anos de idade, acometido de insuficiência renal crónica. Entre 2005 e 2008 Garfio – assim se chamava o felino – foi pai de onze crias. Dizem os técnicos que dos 72 animais do programa de criação, 25 sofrem do mesmo mal, o que motivou os especialistas da nefrologia espanhola e internacional a procurar um tratamento eficaz para a insuficiência renal do gato mais ameaçado do mundo.
Duas biólogas espanholas, da Estación Biológica de Doñana, estiveram esta semana entre nós para recolherem amostras de lince com vista ao estudo genético das suas populações. Duas peles em Meimoa e Meimão, um lince embalsamado no Museu de Penamacor e outro no Porto oriundo também de Penamacor, foram para já os espécimes objecto da recolha.
Outros linces embalsamados e peles haverá certamente na nossa região e na região vizinha espanhola que possam contribuir com amostras de tecido (geralmente um pedaço de unha) para alargamento da base de recolha. Quanto mais indivíduos forem estudados maior fiabilidade terá o estudo. Aqui deixamos o apelo a quem possuir material biológico, ou saiba da sua existência para que informe o Capeia Arraiana que assim também contribui para a preservação do Gato Real. Recorda-se que foi a evolução dos estudos de biologia que permitiram o sucesso recente da criação em cativeiro, coisa quase impossível anos atrás.
Estas notícias contrastam com a falta delas na Malcata, onde o ICNB, não possui sequer um biólogo que prepare o terreno, para que na hora de libertar animais existam as melhores condições, que estude as populações de coelho e os competidores, que promova a reintrodução de presas.
Esta carência deixa-nos deveras preocupados. Sabemos das dificuldades financeiras do ICNB e que os próximos anos não prometem melhoras nessa matéria, mas também sabemos que o Lince é assunto prioritário da conservação da natureza em Portugal. Gostaríamos pois que o ICNB assumisse as suas responsabilidades na Malcata, dotando-a de técnicos capazes de levar por diante as tarefas que se impõem. Se isso acontecer estará cumprido o voto formulado, para este ano, no anterior artigo.
As duas autarquias envolvidas estão dispostas a ajudar. Não é altura de cruzar os braços.
A Malcata possui a maior área natural, sem população humana, a maior área do Estado, que somada à da Portucel e à de dois ou três latifúndios, dão a esta serra as melhores condições de gestão. Fizeram-se nela investimentos de monta, na instalação de marouços, pastagens e cercados, e em estudos da flora e dos habitats em geral. Ao contrário de outras zonas potenciais de reintrodução de Lince, a Malcata quase não tem zonas de caça, reduzindo ao mínimo o conflito e os factores de risco. Além disso, o último exemplar capturado em Portugal foi na Malcata em 1992.
O maior problema poderá ser a reduzida população de coelhos, mas já vão aparecendo outras presas como o corso, o esquilo e o muflão. De resto ainda vamos a tempo de reintroduzir coelhos, presa preferida do Lince.
Que 2010 nos traga o Lince!
«Terras do Lince», opinião de António Cabanas

kabanasa@sapo.pt

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