O Padre Manuel Joaquim Martins nasceu nos primórdios da Primavera de 1939, na Freguesia da Bismula. Os seus Pais viviam junto à Igreja Matriz, que mais tarde foi destruída, reconstruindo a actual, sem qualquer espólio patrimonial e religiosos da anterior, a não ser o aproveitamento das suas pedras.

Seu Pai, Manuel Martins Salgueira, participou no Contingente Militar Português na I Grande Guerra de 1914 em Flandres – França. Ali sofreu as agruras de uma guerra injusta e desumana, regressando são e salvo à sua Bismula, onde casa com Rita Martins. Desta união conjugal nascem duas raparigas e cinco rapazes. O trabalho agrícola era árduo, sem horários, sem férias, sem subsídios, e assim sobreviviam, como a maioria dos habitantes bismulenses.
O seu filho Manuel Joaquim Martins, feito o exame da 4ª Classe no Sabugal, como ordenavam as normas escolares, vai trabalhar nas fainas agrícolas. Os Pais por motivos económicos não o deixaram ir para o Seminário. Porém, com o apoio dos seus conterrâneos, Padre Carlos Leal Moita, do Padre José Eduardo Videira e da sua Tia Célia Martins, Religiosa das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus, os Pais autorizam-no a ir fazer as provas de admissão ao Seminário do Fundão, onde está seis anos. Ingressa de seguida no Seminário Maior da Guarda, onde durante quatro anos frequenta o Curso de Filosofia e Teologia chegando ao Presbitério.
A Ordenação Sacerdotal decorre no dia 19 de Agosto de 1962, na Histórica Vila de Trancoso. Segue-se a celebração da Missa Nova, em 26 daquele mês, na sua Terra Natal – a Bismula, que contou com a anuência e adesão de todo o povo bismulense. Foi seu padrinho o bismulense, Dr. Manuel Leal Freire e Esposa.
Inicia a sua caminhada de Pároco, como Coadjutor da Sé da Guarda, auxiliando o Padre Isidro. Seguem-se as Paróquias de Vilares e Carnicães do Arciprestado de Trancoso. Tive a oportunidade de num Verão o visitar e conviver, acompanhando-o numa velha mota, que passava por caminhos quase intransponíveis, em missão apostólica. Era um padre simples, humilde, muito próximo do povo, preocupado e atento às pessoas e dinâmico com a juventude. Tinha tido um grande mestre, o Padre Ezequiel Augusto Marcos, Pároco na Bismula, que lhe legou importantes ensinamentos e os colocou ao serviço do seu trabalho sacerdotal.
Uma terrível doença atirou-o para o Sanatório Sousa Martins na Cidade da Guarda, Unidade Hospitalar inaugurada com pompa e circunstância pelo Rei D. Carlos I e a Rainha D. Amélia, onde permaneceu vinte meses. Apesar de doente, aproveitou este facto para fazer apostolado junto dos outros doentes. Só um doente sabe e compreende melhor a dor e o sofrimento do seu próximo. Assim, junto dos seus companheiros doentes presta-lhes assistência espiritual e humana, ajuda-os a ter esperança, estimula-os, anima-os, mentaliza-os para terem fé, a acreditar na Primavera da Vida, em dias de sol e de felicidade. Todos o escutam, todos verificam que é um Padre com uma mensagem evangélica. A receptividade a estas verdades ajudam aqueles doentes a vencer obstáculos, os malefícios físicos, psíquicos e outros de uma malvada doença: a tuberculose.
Recuperado totalmente, são-lhe atribuídas as Paróquias de Aldeia de Joanes e Aldeia Nova do Cabo, do Arciprestado do Fundão. Não dispõe de Casa Paroquial, mas graças ao seu dinamismo e com o apoio dos seus paroquianos é-lhe construída uma habitação com toda a dignidade, junto à Igreja Matriz de Aldeia de Joanes. Também é da sua iniciativa, com o apoio da Paróquia de Aldeia de Joanes, que numa Missa Campal e Primeira Comunhão de Crianças, naquela Zona Rural, preparadas pela Catequista Maria Manuela Marques Bernardo, se decidiu fazer-se ali uma Capela. João Franco Diamantino e Teresa Brito Nogueira ofertaram o terreno e uma Comissão começou a recolher donativos para a construção nas Quintas de S. José, da actual Capela com o mesmo nome, onde celebrava a Eucaristia e se ensinava a Catequese. Fez obras de restauro na Igreja Matriz de Aldeia de Joanes, sem ajudas oficiais.
Converso com muitas pessoas que eram jovens, quando o Padre Manuel Joaquim Martins foi Pároco nestas Paróquias, durante dezasseis anos. Falo com muitas pessoas que com ele trabalharam durante os dez anos de Assistente do Agrupamento 120 do Corpo Nacional de Escuteiros do Fundão. Tenho trocado impressões com ex-colegas professores e ex-alunos e alunas da Escola Secundária do Fundão. Dizem-me que estava sempre próximo de todos, a sua casa sempre aberta para receber, para dar conselhos, dar uma palavra amiga, resolver os problemas das Paróquias, e não esquecia os jovens paroquianos em serviço militar, com quem trocava correspondência, e, chegados do Ultramar, visitava-os e contava com eles na sua missão evangélica.
No acompanhamento com os jovens apontava-lhes os valores do Evangelho, e, com eles celebrava todos os Sábados, na Igreja Matriz do Fundão, uma Eucaristia muito participativa com centenas de rapazes e raparigas. Em Aldeia Nova do Cabo celebrou uma Eucaristia com instrumentos musicais com os jovens que foi pioneira na Diocese da Guarda.
Do Fundão parte para a Zona Pastoral de Trancoso e um novo desafio lhe é colocado com a atribuição de outras Paróquias tendo Freches no centro da sua actividade Prebisteral. Dá aulas em Trancoso, Celorico da Beira e em Vila Franca das Naves. Actualmente é Pároco de Vila Franca das Naves, Póvoa do Concelho, V. Mouro e Feital.
O Padre Manuel Joaquim Martins foi um agente cultural, social e religioso, porque teve responsabilidades públicas e esteve sempre mais interessado, em alguma coisa, do que em ele próprio.
Com quarenta e nove anos de serviços às comunidades cristãs, este Bismulense, tem honrado a sua Terra Natal – a Bismula – e a Igreja de que é um simples servidor. Trabalhou sempre nos projectos que Jesus Cristo indicou nos seus Evangelhos.
António Alves Fernandes – Aldeia de Joanes