O artigo «Candidatura à UNESCO da Cultura Arraiana» de Kim Tomé suscitou vários comentários e respondendo ao repto que o João Duarte faz aos visitantes e colaboradores do Capeia Arraiana e sem desprimor da histórica designação de Beira Alta e até da Beira Baixa com quem temos também muitas afinidades (Belmonte, Penamacor e Covilhã) recolhi alguns elementos para clarificar a questão.

José MorgadoO Estado Novo adoptou desde o seu início uma politica de regionalização do País, prevista na Constituição de 1933, através da divisão de Portugal Continental em «autarquias regionais» denominadas províncias e criadas em 1936. A divisão provincial, baseou-se nos estudos de Amorim Girão publicados entre 1927 e 1930 que dividiu Portugal Continental em 13 regiões «naturais».
Acabaram por ser criadas somente 11 porque a região de Trás-os-Montes e a região do Alto Douro, bem como a região da Beira Alta e a região da Beira Transmontana, foram fundidas em duas, a de Trás-os-Montes e Alto Douro e a província da Beira Alta que aglutinou a Beira Transmontana.
Paralelamente à divisão em províncias, manteve-se a divisão em distritos, cujos limites não coincidem.
Em 1959 as funções das províncias passaram para os distritos, sendo extintas as Juntas de Província e criadas as Juntas Distritais.
As Províncias mantiveram-se unicamente como divisões históricas, só sendo formalmente extintas com a Constituição de 1976. Apesar disso mantiveram-se até recentemente, nos manuais escolares, talvez por razões económicas com a feitura de novos manuais, continuando a ser, por ignorância a divisão regional de referência da maioria dos portugueses.
Os distritos, embora em vias de extinção pelo processo de descentralização prevista, permanecem actualmente como a divisão mais relevante do país e base dos círculos eleitoras e campeonatos regionais de futebol.
A divisão de Portugal em NUTS (Nomenclatura de Unidades Territoriais) foi estabelecida em 1986, tendo vindo a tornar-se a divisão territorial de Portugal, em detrimento dos distritos.
O Decreto-lei 244/2002 criou três regiões principais: Continente (subdividido em Norte, Centro, Lisboa, Alentejo e Algarve), Região Autónoma dos Açores e Região Autónoma da Madeira.
Relativamente à Zona Centro que apanha globalmente as três Beiras encontra-se subdividida em: Baixo Vouga (com 12 municípios), Baixo Mondego (8), Pinhal Litoral (5), Pinhal Interior Norte (14), Pinhal Interior Sul (5), Dão / Lafões (15), Serra da Estrela (Fornos de Algodres, Gouveia e Seia), Beira Interior Norte (Almeida, Celorico, Figueira, Guarda, Manteigas, Meda, Pinhel, Sabugal e Trancoso), Beira Interior Sul (4), Cova da Beira (3), Oeste (12) e Médio Tejo (10).
Estas Unidades Territoriais foram criadas em conformidade com as directivas da União Europeia, para todo o seu espaço e utilizadas fundamentalmente para efeitos estatísticos.
Embora estas divisões e subdivisões já sirvam de base com as devidas adaptações noutros campos como no Turismo, ordenamento do território e planeamentos diversos, continua a dar-se primazia a divisão por Distritos e Municípios.
E qual o papel da tão propagada Regionalização no meio disto tudo?
A proposta do Governo de António Guterres, para a criação de oito regiões (Entre Douro e Minho, Trás-os-Montes e Alto Douro, Beira Interior, Beira Litoral, Estremadura e Ribatejo, Região Lisboa e Setúbal, Alentejo, Algarve) é rejeitada em 61 por cento dos eleitores, em 8 de Novembro de 1998.
Serão propostas mais tarde cinco regiões-plano e que estão traduzidas nas actuais NUT II (Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve.
Agora, José Sócrates, quer levar novamente a Regionalização a referendo, defendendo um país dividido em cinco grandes regiões, mas só com amplo consenso popular, que garanta a vitória do SIM reconhecendo o «erro» do passado, de não se ter proposto as cinco regiões, porque até os serviços do Estado, já foram reestruturados «na lógica das cinco regiões».
Do antecedente, anularam a Beira Transmontana do estudo de Amorim Girão, integrando-a na Beira Alta.e agora lá se vai a Beira Interior que agregava as terras da Guarda e Castelo Branco, para pertencermos todos «à molhada» do «Centrão».
Que mais nos irá acontecer!
Saudações Raianas, João Duarte
«Terras entre Côa e Raia», opinião de José Morgado

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