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No próximo dia 14 de Fevereiro, vamos levar pela terceira vez o Grupo de Caminheiros a que pertenço – Caminheiros Gaspar Correia – às terras arraianas, embora desta vez essencialmente do lado espanhol.
No sábado, dia 14, as nossas actividades começam nos Foios, onde o nosso amigo comum Zé Manuel Campos irá receber de novo o Grupo «Caminheiros Gaspar Correia». Segue-se uma caminhada transfronteiriça, dos Foios a Navasfrias, pela nascente do Côa e pelas rotas do contrabando. Ficaremos alojados nas instalações do Albergue «El Bardal», tencionando visitar o Centro de Interpretação da Natureza local. À noite haverá uma festa de Carnaval Caminheiro – com baile de máscaras e tudo… – que já é tradicional no Grupo.
No domingo, dia 15, se a meteorologia o permitir, faremos a subida da Serra da Enxalma, desde o Puerto de Santa Clara ao cume do Jálama (ou Xálima), descendo depois para terras estremenhas até às míticas ruínas do Castelo de Trevejo.
Caso o tempo não ajude (mas contamos que sim…), essa caminhada será substituída pela da calçada romana do Puerto de Santa Clara a San Martín de Trevejo, pelo castanhal de Ojesto, ou de O´Soitu. A partir de San Martín … será o regresso a Lisboa.
José Carlos Callixto
No fim dos anos oitenta do século passado, juntámo-nos, um grupo de homens de Vilar Maior, para arranjar um caminho vicinal. Aterrando e limpando, chegamos a um determinado trecho do caminho, obstruído por um grande pedregulho que nas últimas chuvas deslizara de um cabeço sobranceiro.
Resolvendo desimpedir a passagem, tentámos movê-lo sem sucesso para um terreno inferior.
Um velho pastor, sentado num muro sobranceiro, observava os nossos inúteis esforços para mover a pedra. Ali esteve mudo e quieto por uma boa meia hora e quando viu que já desistíamos, interveio:
– Assim não vão lá… – e observando a pedra com ar de entendido – Dois homens chegam para a tombar.
– Isso é impossível – objectei, incrédulo – como viu, nem cinco a conseguimos mover…
Então, descendo do muro e agarrando-se à pedra, o velho pastor foi explicando:
– Estão a ver? Põem uma pedra para fazer de calço e puxam deste lado que tem menos peso – e exemplificando com o cajado – outro põe o ferro aqui para a tombar. O ferro sobre o calço, vai-a depois arrastando.
Assim fizemos e a pedra tombou à primeira tentativa, deslizando, com a ajuda do ferro, sobre o calço para fora do caminho.
Descansando depois à sombra de um reboleiro, reflecti como um homem simples do povo acabava de aplicar o princípio das alavancas de Arquimedes e a lei física das massas a um caso bem concreto da vida sem nunca ter ouvido falar deles. E concluí que era eu, que frequentara os melhores estabelecimentos de ensino e tivera os melhores mestres, o verdadeiro analfabeto ali.
De facto, a cultura é bem relativa… Um homem estudado pode ser inculto e outro sem estudos, culto; porque a cultura apenas depende dos saberes que se dominem indispensáveis para sobreviver no meio de cada um deles.
Um lavrador que conheça os ciclos da natureza e do tempo e as artes necessárias para o seu ofício é um homem culto. Um erudito que viva no campo e não domine esses saberes é ignorante.
Finalmente compreendi António José Saraiva quando afirmou que «cultura é o domínio de todos os saberes que um homem precisa para sobreviver no seu meio».
E foi um pastor que mo ensinou…
«Arroz com Todos», opinião de João Valente
joaovalenteadvogado@gmail.com
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