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ALDEIA VELHA – CAPEIA E… ENCERRO

«O Forcão, guarnecido de homens, está a postos no meio da praça. Dispensam-se as cerimónias de cortesia, e o pedido da praça, tal como a música, as camisolas e os bonés estampados dos rapazes que pegam ao forcão. Tudo isso se reserva para a tarde. Por ora, trata-se apenas de testar a bravura dos bois, uma espécie de tenta, ou, talvez mais correcto, uma forma de dar expressão à ânsia incontida da festa, à fome dos touros! Na falta do clarim, quatro pancadas fortes na chapa metálica do portão dos curros avisam que o touro vai entrar em cena. Ei-lo, negro, bisco e desenvolto como um relâmpago, a sair de revés, a percorrer todo o perímetro do largo, a limpar, obrigando a recolher aos salva-vidas todos os que ainda permaneciam na arena. Finalmente o bicho apercebe-se do forcão, à sua direita, de onde os rapazes o desafiam insistentemente. Sem se fazer rogado, vai-se à galha, prega-lhe uma valente marrada que obriga a rodar harmonicamente todo o conjunto. Ouvem-se gritos de euforia e receio. A rapaziada aguenta firme e os aplausos irrompem, merecidos.»

Capeia

Negro
Mais negro que os fogueiros ào inferno;
Gordo,
Mais gordo que as mulheres de um rei negróide;
Bufão,
Mais bufão do que Noto, Eolo e Bóreas à compita;

Veloz,
Mais veloz que os golfinhos de Nereu –
Entrou na praça o boi galhardo.
Escarvando,
Olfacteou o argiloso chão,
Com um ar de Satã alucinado.

Depois,
Erguendo a cabeça,
Achou pequenas a pequenez da praça
E a amplidão dos céus.

Depois, ainda,
Mugiu
Em ódio clamoroso e clangoroso.
Então,
A praça entrou nos delírios do pavor.
O forcão
Quedou-se desamparado
No meio do terreiro
E os capinhas galgaram em pamco
O espaço que os separava das trincheiras.
Sozinho,
No meio da praça,
O boi,
Já gigante,
Mais se agigantava.

Empoleirado num carro,
Exalçado a lenha
E enfeitado a colchas,
O tamborileiro rufava,
Querendo rebentar o velho bode.

Então os solteiros ganharam coragem
E, saltando aos magotes para a arena,
Imobilizaram o boi
Entre os aplausos dos homens
E os gritos das mulheres.
Manuel Leal Freire

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Textos de António Cabanas e Fotos de Joaquim Tomé (Tutatux) retirados do livro «Forcão – Capeia Arraiana»
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BRAVURA E ARTE

«Tratando-se de um espectáculo onde a cor e a arte, numa palavra a beleza está sempre presente, achamos que a escrita não seria suficiente para traduzir toda a sua dimensão. Costuma dizer-se que uma boa imagem vale por mil palavras. E para a melhor tradição raiana só o seu melhor fotógrafo. A prova está à vista, não precisamos de elogiar. Mais do que um texto ilustrado com belas fotos, o resultado é um livro de fotos ilustrado com texto.»

FÓIOS – CAPITAL DA RAIA

«A Capeia dos Foios realiza-se na terceira terça-feira do mês de Agosto integrada nas festas em honra do Santíssimo Sacramento. O encerro inicia-se no planalto do Lameiro, para onde os touros vêm de madrugada, e dirige-se para a aldeia pelo caminho da serra, seguindo depois pela estrada que vem da Aldeia do Bispo em direcção à praça. Como sempre, o professor Zé Manel, presidente da Junta quase uma vida, num breve discurso gritado no megafone, dirige-se à assistência: agradece aos forasteiros a visita, pede aos fojeiros que recebam bem e recomenda valentia e prudência aos que enfrentam os toiros.»

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Textos de António Cabanas e Fotos de Joaquim Tomé (Tutatux) retirados do livro «Forcão – Capeia Arraiana»
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IDENTIDADE DE UM POVO (2)

«A afición das gentes de Riba Côa não fica atrás da de outras regiões onde ocorrem manifestações tauromáquicas. Pelo contrário, a sua adesão aos touros supera em muito a adesão das regiões onde se fazem touradas à portuguesa, que como se sabe têm sofrido nas últimas décadas um decréscimo de assistência. Qualquer capeia arraiana encherá todos os lugares disponíveis da praça, por maior que seja, a pontos de ser dizer na Raia que onde há cornos há gente.»

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Textos de António Cabanas e Fotos de Joaquim Tomé (Tutatux) retirados do livro «Forcão – Capeia Arraiana»
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IDENTIDADE DE UM POVO (1)

«À hora da capeia todos os lugares estão preenchidos. Cada pessoa posiciona-se onde encontre sítio disponível. A afluência ultrapassa em muito a lotação das bancadas, apinhadas de gente nas posições mais caricatas. Há quem veja o espectáculo debaixo dos reboques, deitado por terra, outros permanecem durante toda a lide encalampeirados em postes de electricidade, telhados e outras estruturas. Janelas e varandas mal podem com tanta gente. Com a tourada prestes a iniciar, há ainda tempo para ajudar senhoras e crianças a subir para os tabuados e beber uns copos com os amigos, correndo-se o risco de não conseguir o melhor sítio para assistir ao primeiro touro, situação que se pode corrigir logo que alguém se levante para ir ao bar. Já que não há lugares marcados, os que vão ao bar deixam os lugares para os que deles precisam.»

Ó FORCÃO RAPAZES

«O festival Ó Forcão Rapazes realiza-se por volta do dia 20 de Agosto, no segundo ou no terceiro sábado, conforme o maior ou menor avanço do calendário. Com a Praça de Touros a regurgitar de gente, completamente esgotada por uma assistência vibrante e colorida, a rapaziada da Raia demonstra a sua raça na espera dos bravos e corpulentos touros. A lide, com duração de 15 minutos para cada equipa, é controlada pela organização. Antes do início da capeia tem lugar o espectacular desfile das equipas, marcado pelo rufar dos tambores e pelos aplausos ruidosos dos apoiantes de cada uma das equipas. No final do desfile, os grupos alinham-se em conjunto no centro da Praça, lado a lado, e escutam as palavras de circunstância e de estímulo proferidas pela entidade oficial convidada, normalmente o presidente da Câmara, representante máximo do concelho. Terminado o discurso, as equipas voltam a desfilar, desta vezpara a trincheira, onde aguardarão a sua vezde medir forças com o touro que lhes calhou em sorteio.»

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Textos de António Cabanas e Fotos de Joaquim Tomé (Tutatux) retirados do livro «Forcão – Capeia Arraiana»
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FORCÃO (3)

«O forcão é empunhado por uma trintena de jovens, distribuídos pelos mais de 300 quilos de toda a estrutura. O rabiche, leme do artefacto, é operado à altura da cabeça dos rabejadores, enquanto a base se mantém pela cintura ou até mais abaixo, dependendo da forma como investem os touros. Estes, ao marrarem, por vezes levantam a cabeça (derrote), e com ela o próprio forcão, obrigando os rapazes da respectiva galha a dependurarem-se nele, fazendo peso para o baixar. Há, porém, outros que marram de cima para baixo, humilhando, podendo ainda ser bons trepadores, o que causa, por vezes, alguns embaraços aos jovens. Neste caso é preciso usar de toda a força para levantar o forcão.»

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Textos de António Cabanas e Fotos de Joaquim Tomé (Tutatux) retirados do livro «Forcão – Capeia Arraiana»
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FORCÃO (2)

«Falar da capeia arraiana é falar do artefacto que a torna tão peculiar. Não é difícil, ao analisarem-se outras tauromaquias, encontrar razões para as suas diferentes formas e meios utilizados: o cavalo, os ferros, a corda, os enganos, etc. Explicam-se pela origem da própria tauromaquia, pela caça, pelos treinos de guerra, ou simplesmente pela necessidade de domínio do homem sobre as espécies bravias, com vista ao aproveitamento dos recursos que propiciam. Com o forcão tudo é diferente, não são fáceis as explicações nem descortináveis as origens. Se não oferece dúvidas a ninguém a ancestralidade das garraiadas em Riba Côa, já quanto ao uso do forcão ninguém tem certezas sobre a época do seu aparecimento. Há quem o associe a guerras passadas.»

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Textos de António Cabanas e Fotos de Joaquim Tomé (Tutatux) retirados do livro «Forcão – Capeia Arraiana»
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FORCÃO (1)

«Diz Adérito Tavares que, etimologicamente, a origem do nome forcão se liga à palavra latina furca, de onde também deriva forquilha, fourchete do francês, que significa garfo. Aliás, o forcão, assemelha-se muito a uma gigantesca forquilha. Adolfo Coelho corrobora que palavras como forcado ou forcada e forquilha derivam de furca, termo latino que se referia a uma rudimentar e tosca ferramenta de madeira, com dois ou mais dentes, usada na recolha de feno e palha, também chamada forca. Joaquim Lino da Silva descreve forcada ou forcado como um grosseiro tridente feito de um ramo de carvalho ou vidoeiro a que se dá a melhor forma em verde.5 Embora este autor a mencionasse no Barroso, a ferramenta sempre existiu noutras regiões, designadamente na Beira.»

A PRAÇA

«Actualmente quase todas as freguesias da margem direita do Rio Côa, incluindo algumas anexas, possuem capeias. Aldeia da Ponte, Aldeia do Bispo, Aldeia Velha, Alfaiates, Fóios, Forcalhos, Lageosa da Raia, Ozendo e Soito participam no festival Ó Forcão, uma espécie de 1.ª divisão da capeia, como já alguém disse. A Rebolosa, que até tem praça, sente-se discriminada por não lhe ser permitido participar, uma vez que tem capeias com regularidade. A Nave, voltou à regularidade que, pelos vistos, tinha no início do século XX. Ruivós, Vale de Espinho, Vale das Éguas, Badamalos, Seixo do Côa (margem esquerda) e até o Sabugal organizam garraiadas, capeias noturnas ou capeias diurnas de forma intermitente.»

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Textos de António Cabanas e Fotos de Joaquim Tomé (Tutatux) retirados do livro «Forcão – Capeia Arraiana»
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ENCERRO

«Entre a poeira ao longe despontam as varas dos cavaleiros e, logo no meio do turbilhão, o sobe e desce dos vultos em corrida encrespada, enquanto um rio de poeira acompanha a turba ao longo do caminho. Depressa a cavalgada se aproxima em crescendo ruidoso e passa em grande velocidade sob a muita algazarra de participantes e assistentes. À frente vão os cavaleiros mais experientes, abrindo caminho como batedores, e logo a seguir os cabrestos com enormes chocalhos servindo de chamariz aos seis lustrosos touros pretos, que, misturados no turbilhão, mal se apercebem do que se passa em redor. Só contei quatro – diz um sujeito atrás de nós. Iam mais dois amarelos junto aos cavalos – contrapõe prontamente outro dos presentes. Atrás, vêem-se agora dezenas de cavaleiros e algumas amazonas e, de seguida, a enorme procissão de peões, carros e motos vai engrossando até desembocar na praça. No meio da confusão, os cães ladram de excitação.»

MORDOMOS

«Sem organizadores não haveria festas ou outros eventos sociais. É às comissões também designadas por mordomias, que competem os preparativos, e as tarefas inerentes aos festejos. A escolha dos futuros mordomos é da responsabilidade dos mordomos cessantes. A nomeação dos seus substitutos é a derradeira acção da comissão. Em princípio, cada elemento escolhe o seu sucessor sem precisar de o consultar; mas o normal é que o consulte previamente para indagar da sua vontade em aceitar. A escolha sigilosa significa quase sempre intenção de castigar alguém que criticou ostensivamente a comissão anterior. A nomeação é, por regra, feita publicamente na igreja ou numa pausa do baile. Normalmente nunca se repetem as pessoas, uma vez que se trata de uma festa que exige muito trabalho, responsabilidade e dinheiro.»

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Textos de António Cabanas e Fotos de Joaquim Tomé (Tutatux) retirados do livro «Forcão – Capeia Arraiana»
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CAVALOS… CAVALOS… CAVALOS

«Onde existem touros há geralmente cavalos, como acontece em Riba-Côa. Frequentemente aponta-se como origem das capeias arraianas a tradicional existência de gado na Genestosa espanhola; mas a verdade é que a presença de gado bovino e equino em Riba-Côa é ancestral, como prova o foral leonês de Alfaiates, que sobre o assunto tem variadíssimos preceitos legais. Aí se diz, por exemplo, que um guardador de gado recebia por cada quatro éguas guardadas um morabitino; os proprietários de mais de 25 vacas teriam de as registar, e para as vistorias do concelho teriam que disponibilizar um cavaleiro.»

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Textos de António Cabanas e Fotos de Joaquim Tomé (Tutatux) retirados do livro «Forcão – Capeia Arraiana»
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O CULTO RAIANO DO CAVALO

«Nos últimos anos tornaram-se habituais os encontros equestres na região, realizados sobre a forma de passeios. Em Aldeia do Bispo, no tradicional passeio que ocorre antes da capeia, vêem-se agora dezenas de cavaleiros, que dão mote ao próprio cartaz. Mas onde os raianos demonstram a sua grande afeição pelos cavalos é no encerro dos touros, onde chegam a juntar-se mais de uma centena. Dá gosto vê-los, bem arreados, pêlo lustroso, crinas e caudas aparadas e penteadas, aqui e ali tranças e laços, alguns efectuando acrobacias e passos artísticos à voz do cavaleiro. Nas aldeias raianas da capeia, os cavalos são às centenas, muito por causa dos encerros. Alguns são apenas montados no dia da capeia.»

A CULTURA DO TOURO

«A força, poder e coragem que emanam do touro valeram-lhe o respeito e admiração do homem, que em alguns casos o considera como representativo de um ser superior. O poder reprodutivo, a virilidade, a luta incessante, investindo até à morte contra o inimigo, originaram mitos sagrados que perpassam em alguns livros da Bíblia: símbolo de fertilidade, invencibilidade, chefia e poder de destruição1. Acreditava-se que era nos chifres que o touro concentrava a força da vida, razão para neles se amarrarem os arados que deviam semear as terras.»

A CULTURA DO TOURO

«A força, poder e coragem que emanam do touro valeram-lhe o respeito e admiração do homem, que em alguns casos o considera como representativo de um ser superior. O poder reprodutivo, a virilidade, a luta incessante, investindo até à morte contra o inimigo, originaram mitos sagrados que perpassam em alguns livros da Bíblia: símbolo de fertilidade, invencibilidade, chefia e poder de destruição1. Acreditava-se que era nos chifres que o touro concentrava a força da vida, razão para neles se amarrarem os arados que deviam semear as terras.»

A ESCOLHA DOS TOIROS

«Quando está no seu meio natural, rodeado pelos da sua espécie, o touro não demonstra o comportamento agressivo que apresenta na praça. É para recriar o ambiente de manada, em que o touro se sente mais tranquilo, que se usam cabrestos8 para o conduzir nos encerros e para o retirar da arena, depois da lide. Quando está isolado, é estimulado a investir, não só contra pessoas e animais, como contra qualquer objecto, ainda que movido pelo vento.»

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Textos de António Cabanas e Fotos de Joaquim Tomé (Tutatux) retirados do livro «Forcão – Capeia Arraiana»
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ESCOLHER AS GALHAS E FAZER O FORCÃO

«A preparação do forcão é tarefa da máxima responsabilidade, pois da sua robustez depende a segurança de quantos lhe pegam. Em todas as aldeias da capeia há indivíduos especializados na sua execução, e a eles recorrem os mordomos na altura de o fazer. O Zé Penetra da Lageosa e João Fernandes de Aldeia do Bispo já executaram mais de meia centena para as suas terras e terras vizinhas, sem cobrarem pelo trabalho. Por se tratar de lenha de carvalho, pesada por natureza, corta-se no Inverno ou na Primavera, geralmente na Páscoa, para que esteja seca e leve quando for usada. Para a sua construção são necessários um pau principal de pinho, 3 galhas, 20 estadulhos, 4 varas transversais e 4 tornos para o rabicho. Em alguns casos, as galhas são cortadas no rebollar espanhol, com o consentimento do respectivo alcaide.»

UMA ESPÉCIE DE RELIGIÃO

«A Capeia Arraiana não é uma tauromaquia qualquer. Como uma espécie de religião em que se acredita, não basta assistir, é preciso participar, ir ao encerro, comer a bucha, beber uns goles da borratcha e voltar com os touros, subir para as calampeiras, ser mordomo, ser crítico tauromáquico, discutir a qualidade dos bitchos e a lide ou, simplesmente, ser fotógrafo da corrida.»

E TUDO COMEÇA… NA LAGEOSA DA RAIA

«Pouca gente saberá explicar que fenómeno é este que faz com que as pessoas mais idosas, muitas vezes de bengala e com dificuldade de movimentos, consigam sair de casa e encalampeirar-se num palco ou enfiar-se num buraco debaixo de um carro, para não perder nem um carxinho do espectáculo! Por vezes, dá-se a desculpa do filho ou do neto que andam no corro… Outras, foge a boca para a verdade e confessa-se: «Não há nada melhor que a capeia! Não sou capaz de ficar em casa… Para o ano, quem sabe se cá estou!»

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Textos de António Cabanas e Fotos de Joaquim Tomé (Tutatux) retirados do livro «Forcão – Capeia Arraiana»
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No livro «Forcão – Capeia Arraiana» as poderosas imagens de Joaquim Tomé (Tutatux) investem ao longo das páginas nas galhas da escrita magistral de António Cabanas e vão servir para acrescentar história à História das terras de Riba-Côa. António Cabanas, natural de Meimoa, é também um homem da Malcata e da Raia e é agora, definitivamente, um verdadeiro raiano. Reportagem da jornalista Paula Pinto com imagem de Miguel Almeida da Redacção da LocalVisãoTv (Guarda).

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A profusão de belíssimas fotografias, de excelente visibilidade e óptimo enquadramento, puxando à evidência os mais ínfimos pormenores de pessoas, cavalos e touros, quase ofuscam o também magistral texto do livro recentemente editado e lançado no Sabugal, intitulado «Forcão – Capeia Arraiana», da autoria de António Cabanas (texto) e Joaquim Tomé (fotografia).

António Cabanas é um apaixonado pelas terras da raia sabugalense, o que está bem patente no livro agora editado, que para este autor é uma revisitação às tradições raianas. A primeira incursão traduzida em livro foi em «Carregos, Contrabando da Raia Central» (2006), em que recolhe inúmeros testemunhos acerca da vida dos antigos contrabandistas, traçando o seu perfil e a sua vida de constante desafio ao perigo.
Mas se o contrabando era a exposição ao risco das balas dos fiscais da fronteira para garantia de sustento, a capeia do forcão é também uma forma de desafiar o perigo, mas desta feita para pura diversão nos dias de festejo.
Cabanas vai ao fundo da questão, procurando os mais longínquos vestígios que provam a ancestralidade das touradas na raia sabugalense, enquanto valor cultural e etnográfico que interessa preservar, apesar das polémicas à volta do sofrimento dos animais. E o autor, natural da Meimoa, e autarca empenhado no concelho vizinho de Penamacor, toca no âmago da questão ao pressentir o verdadeiro valor da alma raiana: «não basta assistir é preciso participar, ir ao encerro, comer a bucha, beber uns goles da borratcha e voltar com os touros, subir para as calampeiras, ser mordomo…».
Fazendo uma síntese do muito que já se falou e escreveu sobre a capeia arraiana, enquanto tradição popular única e mobilizadora de toda uma população, António Cabanas consegue traduzir aos leitores a emoção e o fascínio vivido pelos que se embrenham na festa dos touros. E, neste particular, foi necessário recorrer também ao talento do grande fotógrafo Joaquim Tomé, o Tutatux, que captou imagens que conferem magnanimidade à tradição. As imensas fotografias, ajudam quem lê os cuidados textos, a perceber que a capeia é algo único do mundo, apercebendo-se do valor supremo deste povo raiano, que nada teme e tudo desafia em nome de uma tradição que teima em manter viva.
Cabanas fala da origem imemorial do culto do touro, dos costumes taurinos na Península Ibérica testemunhados por Estrabão e das festividades tauromáquicas existentes em Portugal desde os alvores da nacionalidade, para assinalar que as touradas são algo de muito profundo na tradição popular.
Traça a diferença, de resto muito vincada, entre a corrida portuguesa e a espanhola, e embrenha-se a fundo na escalpelização do argumentário dos que defendem as touradas com unhas e dentes e daqueles que as criticam severamente. E, neste ponto, no que em particular se refere à capeia arraiana, descreve a forma como o espectáculo se humanizou: «já lá vai o tempo em que os touros eram lidados com garrocha e garrochão». A capeia deixou de ser selvajaria e tornou-se espectáculo com beleza, valentia e arte, onde o touro é tratado com dignidade, o que o leva a ser apreciado mesmo por muitos daqueles que não gostam de outro tipo de touradas.
Sobre as origens da «capeia», «folguedo» ou «corrida do boi», o autor rende-se à conclusão de que tal é de difícil constatação, enumerando porém as principais teorias conhecidas. A mesma dificuldade se constata na revelação da génese do uso do forcão, da realização do encerro, do passeio dos moços, do pedido da praça e demais rituais que estão associados à tradição taurina raiana. Referência ainda para o papel imprescindível de figuras típicas como o «tamborleiro» e o «capinha» espanhol, indispensáveis nas capeias de sabor mais original.
Um livro que é também um álbum fotográfico, que documenta melhor do que nunca a tradição raiana da capeia e que faz a síntese do que se disse e escreveu acerca de uma manifestação popular que constitui uma potencialidade que importa aproveitar.
Um livro que é essencial adquirir:
António Cabanas: kabanasa@sapo.pt; 968 492 522.
Joaquim Tomé: tutatux@gmail.com; 927 550 656.
Paulo Leitão Batista

Tal como estava anunciado, no dia 12 de Junho, pelas 16 horas, o Auditório Municipal do Sabugal, acolheu a apresentação do livro «Forcão – Capeia Arraiana», da autoria de António Cabanas e Joaquim Tomé.

Algumas dezenas de pessoas, cerca de 70, assistiram ao lançamento de um livro que junta textos e fotografias na abordagem a uma manifestação cultural exclusiva da raia sabugalense. Trata-se de um importante contributo para a valorização desse património cultural, numa altura em que se pretende vê-lo formalmente reconhecido como património da humanidade.
Juntamente com os autores, ocuparam a mesa o presidente da Câmara Municipal do Sabugal, António Robalo, o grafista do livro, Vítor Gil, e o antropólogo Norberto Manso.
Depois das palavra de circunstância, proferidas pelo presidente da Câmara, coube a Norberto Manso a apresentação do livro, esclarecendo que o fazia a pedido expresso do autor António Cabanas, e dada a impossibilidade de o fazer o autor do prefácio, Adérito Tavares, que não pode estar presente. Norberto Manso optou por efectuar uma análise crítica ao livro, que considerou sui generis, por juntar a literatura à arte fotográfica, ora nos parecendo que lemos um livro ora que folheamos um álbum fotográfico, tal a profusão de imagens sugestivas acerca da capeia enquanto espectáculo popular. No minudenciar do conteúdo dos textos, olhados pelo Antropólogo conhecedor da tradição do forcão, evidenciou alguns aspectos de relevo, não deixando de dar a sua própria perspectiva, nomeadamente acerca da real existência de um ritual iniciático nas tarefas ligadas ao corte do forcão, tese defendida por António Cabanas. Procurou também expressões originais e frases lapidares do autor, rebuscadas entre os textos, por vezes nas legendas ou nas notas de rodapé, para evidenciar aspectos e perspectivas de um homem que, embora nascido e vivido no concelho vizinho de Penamacor, tem encontrado no Sabugal e nas tradições das suas gentes campo fértil para as suas investigações e os seus livros.
O autor das fotografias, Joaquim Tomé, tomou a palavra para falar do que sente em relação ao Sabugal, a sua terra que, lamentavelmente, teve de abandonar em menino, para a ela regressar já muito mais tarde, tendo porém que de novo a abandonar por sentir que muita gente não gosta dos que regressam. «Há mais de vinte anos que trago uma pedra do nosso rio no meu bolso, a qual representa a saudade que sempre sinto pela minha terra», disse Joaquim Tomé. Sobre o trabalho fotográfico para o livro afirmou que foi para ele uma honra trabalhar com António Cabanas, e em especial fotografar por toda a raia em capeias e encerros, colhendo centenas de imagens de uma manifestação popular única, onde se sente a fibra da gente raiana.
António Cabanas explicou a razão por que tanto se tem empenhado em estudar as tradições raianas do concelho do Sabugal, que verdadeiramente sente como suas, e em especial o olhar que teve para com a Capeia Arraiana enquanto manifestação cultural original. O livro procura reunir diferentes perspectivas das corridas da raia no sentido de contribuir para a sua documentação e valorização enquanto património cultural e como elemento galvanizador de uma comunidade.
plb

O escritor António Cabanas, vice-presidente da Câmara Municipal de Penamacor, apresenta no dia 12 de Junho, às 16 horas, no Auditório Municipal do Sabugal a sua mais recente obra sobre a mais forte tradição raiana – a tourada com forcão – a que todos aprendemos a chamar Capeia Arraiana. A obra surpreende pela investigação e qualidade da escrita de António Cabanas e pelas fortíssimas fotografias do sabugalense Kim Tomé.

Forcão - Capeia Arraiana - António Cabanas

Apesar da absorvente actividade autárquica a que se tem dedicado nos últimos anos, António Cabanas vem publicando com regularidade o resultado do seu labor de investigador.
Licenciado em sociologia pela Universidade da Beira Interior, tem dedicado parte do seu tempo livre a estudar a problemática do mundo rural, com o qual se identifica. As vissicitudes de um interior em profunda transformação têm-no motivado para o estudo daquilo que mais duradouro tem a ruralidade, a sua cultura. Natural do concelho de Penamacor, nunca escondeu o seu entusiasmo pelos temas de Riba Coa, interesse a que não é alheio o tempo em que exerceu funções na Reserva da Malcata, primeiro como vigilante da natureza, mais tarde como técnico superior e director.
Tal como prometera, aí está o seu testemunho sobre a capeia arraiana. Um livro fascinante, magistralmente ilustrado por Joaquim Tomé, um estudo sério, bem escrito sobre a tradição raiana, documento que vem engardecer o património cultural sabugalense: uma bela prenda, para fruição dos amantes da capeia.

António Cabanas
«Duas décadas depois de andanças e contradanças por outras latitudes, voltei ao aconchego destas terras agrestes (raia) quando ingressei na Reserva da Malcata, com outros companheiros vigilantes do Lince, de Vale de Espinho, dos Fóios, de Malcata e do Meimão. O contrabando, a Espanha e os touros eram quase sempre os temas de conversa na hora da merenda. Daí à primeira Capeia Arraiana foi um salto: o convite do colega Armando, fojeiro, que pegava ao forcão, era irrecusável. Foi desde então que passei a considerar-me raiano, coisa que nem é muito habitual nas gentes da minha terra.
Há quem diga que a capeia arraiana decorre a três tempos, uma espécie de tércios da corrida espanhola: a espera, a lide ao forcão e a corrida do touro. Para nós é muito mais do que isso, e não pode nem deve resumir-se a cânones que a assemelhem a outras formas tauromáquicas. Ela é única, é sui generis. Motivo de catarse colectiva dos residentes, mas sobretudo dos que vivem em diáspora, são muitos os momentos da tauromaquia raiana: o encerro, o touro da prova, o desfile dos jovens, o pedido da praça, a lide ao forcão, a corrida dos cortadores, a bezerra das crianças, o desencerro… Mais do que um espectáculo de 3 ou 4 horas, a festa brava raiana ocupa um dia inteiro, a começar bem cedo ao nascer do sol. Além disso, a comunidade participa na sua organização, na montagem e desmontagem da praça, no corte e construção do forcão, na colocação das cancelas, na condução dos touros e até na sua lide. É muito mais do que um espectáculo para o qual se adquire o direito a assistir comodamente sentado na bancada.»

Kim Tomé (Tutatux)
«Na cidade aprendi a arte e as técnicas da imagem. A publicidade, a moda, o turismo, em suma, o cosmopolitismo, que no trabalho diário enchiam a objectiva, ganhavam força e renovada expressão perante uma parede de granito, uma truta saída do turbilhão do açude, a mansidão de um campo de giestas em flor, ou uma tradição. Não pude resistir ao fascínio dos touros, ampliado em cada encerro ou em cada Capeia Arraiana. Com entusiasmo, pus mão à obra. Calcorreei caminhos pedregosos e poeirentos atrás de cavaleiros altivos. Corri à frente dos touros, que por vezes ameaçavam investir no fotógrafo. A adrenalina deu-me a agilidade para galgar muros e ribeiros, não sem alguns trambolhões pelo meio. Tudo por mais um registo fotográfico que contivesse a emoção do acontecimento.»

António Robalo
«O presente contributo de António Cabanas, para além de contextualizar a lide do touro bravo no espaço e no tempo, sistematiza ideias sobre o forcão e a Capeia Arraiana tornando a presente investigação mais num porto de partida do que um porto de chegada. Assim, haja gente que queira estudar e investigar esta peculiar manifestação cultural, dando continuidade ao trabalho desenvolvido pelo António Cabanas, ilustrado de forma excelente por Joaquim Tomé».

Adérito Tavares
Conheci António Cabanas em 2006, no Sabugal, durante as I Jornadas do Contrabando. Ambos participávamos neste importante evento cultural, promovido pela Sabugal+, sobre uma temática marcante do percurso colectivo das gentes sabugalenses, sobretudo raianas. Foi, aliás, pouco tempo antes destas Jornadas que foi lançado um outro livro de António Cabanas, “Carregos”. Desde então, ficou-lhe (ou acentuou-se) o gosto pelo estudo dos temas dominantes da história e da antropologia ribacudense e passámos a cruzar-nos com regularidade noutras manifestações culturais, das “Jornadas da Emigração” à “Homenagem a Joaquim Manuel Correia”, das celebrações republicanas à recente evocação da Batalha do Gravato, passando por uma tribuna que nos é comum, o blogue “Capeia Arraiana”.
Foi por isso sem surpresa que recebi a notícia de que se encontrava no prelo mais um estudo de António Cabanas, desta vez abarcando um tema que me é caro: as práticas da tauromaquia popular na raia do Sabugal. E foi com agrado que aceitei o convite para prefaciar esta obra.
O livro de António Cabanas, com fotografia de Joaquim Tomé, é uma excelente síntese que recoloca e actualiza o tema das capeias. Todavia, embora as capeias com forcão constituam o cerne deste trabalho, ele vai mais longe, contextualizando as práticas taurinas no espaço e no tempo, lançando um amplo olhar sobre as sociedades taurológicas. É uma obra destinada ao grande público, mas suficientemente rigorosa para interessar também o investigador e o estudante de Etnologia ou de Antropologia. E possui vários méritos: porque soube fugir ao tradicionalismo sem cair nos clichés habituais; porque, em “tempos de servidão”, soube tratar com honestidade um tema que facilmente conduz a exageros panegíricos ou a excessos bairristas; e, finalmente, porque a ilustração ultrapassou em muito o habitual, constituindo um trabalho de reportagem aprofundado, completo, de grande qualidade, que valoriza sobremaneira este livro.»

«Forcão – Capeia Arraiana» simboliza a alma raiana. O pensamento escrito de António Cabanas e a transposição fotográfica do real para o eterno de Kim Tomé junta-se, assim, na galeria de excelência da literatura raiana ao «Capeia Arraiana» de Adérito Tavares. Parabéns.
jcl

A Câmara Municipal de Penamacor chamou a si a exposição fotográfica «Terra de Linces», uma organização da Associação Iberlinx (que o município de Penamacor integra), em parceria com a EDIA – Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva, Águas do Algarve, Junta de Andalucia, Ayuntamento de Valencia del Mombuey e ICNB.

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A mostra, que irá estar patente no Museu Municipal entre 15 de Fevereiro até 20 de Abril, visa tornar presente a difícil situação do felino mais ameaçado do mundo, criar um sentimento de urgência nas populações relativamente à preservação da biodiversidade e, particularmente, estimular um clima favorável à reintrodução do lince ibérico na região.
Desde a sua inauguração em Lisboa, em Maio do ano passado, «Terra de Linces» já passou pelo Porto, Silves e Sevilha, de onde veio directamente para Penamacor.

A exposição
Os animais não posam nem marcam entrevistas. São muitas vezes apenas vislumbrados no meandro de um rio, numa clareira, na orla de um bosque, ou então observados de muito longe, sem que o pressintam.
A imagem traz-nos a natureza que amamos. Aqui, pela arte e engenho do fotógrafo, somos levados a conhecer, de modo íntimo, o lince-ibérico e o seu habitat.
A terra de linces é a nossa terra, o local que temos de partilhar. Esta exposição leva-nos a reflectir sobre o que está mal e sobre o que é necessário fazer para conseguirmos trazer o lince de volta à nossa região e assegurar-lhe um futuro entre nós. Futuro só possível pelo respeito que devemos à natureza e a esse admirável animal, que nos sentimos inclinados a amar, e que ainda é a espécie de felino mais ameaçada no mundo.

O fotógrafo
Andoni Canela é um fotógrafo profissional, de nacionalidade espanhola, especializado em fotografia de Natureza. Há mais de vinte anos que fotografa áreas naturais e temas relacionados com a biodiversidade no mundo.
Vencedor do Prémio Godo de Fotojornalismo, em 2009, por uma reportagem sobre o lobo-ibérico, o seu trabalho ilustra dezenas de reportagens da revista National Geographic, em diferentes edições publicadas em Espanha, Portugal, Itália e França. Possui igualmente trabalhos em publicações de prestígio como La Vanguardia, Geo, Altaïr, BBC Wildlife, Newsweek e The Sunday Times.
Por outro lado, a obra de Andoni Canela tem sido compilada em vários livros, traduzidos para diversos idiomas, e tem sido exibida em numerosas exposições. O seu último livro, «La Mirada Selvage», reúne fotos de mais de uma centena de animais selvagens fotografados em liberdade nos seus habitats ibéricos. Outros livros do autor a destacar são «El Oso Cantábrico», «Un viage soñado», «Éter, la esencia de los quatro elementos» e «Planeta Fútbol», publicado em Espanha, Portugal, França, Itália, Inglaterra e México.
Andoni desenvolveu parte da sua carreira profissional percorrendo os cinco continentes, por destinos como o Alasca, Austrália, Botswana, Madagáscar, Nova Zelândia, Sumatra, Polinésia, Amazónia ou Himalaias. Entre os últimos trabalhos realizados fora de Espanha destacam-se os que abordam as alterações climáticas no Ártico, que incluem reportagens sobre o retrocesso dos glaciares, o gelo marinho e os ursos polares.
aps (com Gabinete de Informação da C.M.Penamacor)

O Verão vai quase a meio, quente impiedoso, a pedir sombra e locais frescos com água por perto. Logo, logo, virá o mês de Agosto, o mês dos emigrantes e mês de todas as festas. Por aqui não há terra que a não tenha, com mais ou menos pompa, com mais ou menos desassossego.

Festas de Agosto - António Cabanas - Terras do Lince - Capeia Arraiana

António Cabanas - Terras do Lince - Capeia ArraianaLonge de ser apenas um desperdício ou um acontecimento sem significado, a festa comporta um forte elemento de subversão dos códigos estabelecidos, constituindo simultaneamente, um fenómeno social, cultural, económico e político.
Interrompendo a rotina do quotidiano, ela é uma espécie de válvula de descompressão que nos proporciona a explosão de uma série de sentimentos contidos durante os restantes dias do ano.
Acontecimento quase sempre associado ao sagrado e ao ritual, a festa é vivida nas nossas aldeias com grande intensidade, em ruptura com a vida banal de todos os dias, tornando-se ainda no principal espaço de reencontro de familiares e amigos.
As ruas e largos tornam-se cenário de uma realidade virtual, de imagens, de enfeites coloridos, de muita luz. Geralmente associada à festa religiosa, o mundo dos santos convive com as pessoas que os veneram, que os vestem, que os transportam em procissão. É uma aproximação entre o Céu e a Terra!
Põem-se as colchas nas janelas, alcatifa-se o chão de flores e verdura, o homem veste o fato novo, a mulher põe as arrecadas de ouro e faz uma «permanente», mata-se uma rês e partilha-se a comida e a bebida. É um momento de exaltação e de transcendência, sem lugar para a menoridade.
Aparentando tratar-se de um rol de comportamentos fúteis e superficiais, a festa têm, no entanto, uma abrangência que ultrapassa esta realidade, constituindo um investimento de carácter social, um meio de comunicação entre a comunidade, uma forma de afirmação e demonstração e faz parte de um complexo conjunto de estratégias de ajustamentos sociais.
Caracterizando-se pelo divertimento e pela mudança do ritmo normal da vida em comunidade, a festa é mobilizadora, de vontades, de novos projectos, de novos negócios e quantas vezes de novos amores!
Mas a festa tem também uma outra face. A sua coerência programática e o seu sucesso só se atingem mercê do muito trabalho das comissões de festas. Para que tudo funcione bem, nada pode ser deixado ao acaso, sendo necessárias muitas horas de trabalho. Para os mordomos é quase sempre um exame muito exigente em que não se pode falhar. O júri é o próprio povo da aldeia e a bitola mínima é a festa do ano anterior. Obrigam-se, a trabalhar arduamente, colocando na organização todo o seu empenho e dos seus familiares. Merecem, por isso, todo o nosso respeito e admiração, o nosso apreço e incentivo.
«Terras do Lince», opinião de António Cabanas

(Vice-Presidente da Câmara Municipal de Penamacor)
kabanasa@sapo.pt

Sempre fui um adepto convicto do utilizador pagador, não apenas nas portagens, mas na generalidade dos bens públicos. Fosse essa prática habitual talvez se pagasse menos por cada bem ou serviço, não estaria o património tão abandonado e os espaços de lazer tão mal cuidados. Naturalmente, haverá sempre que ressalvar as situações excepcionais em que o indivíduo não possa ou não deva pagar, como a invalidez, a deficiência, a velhice, a pobreza ou que quer que impute à restante comunidade o dever de pagar por si.

António Cabanas - Terras do Lince - Capeia Arraiana

António Cabanas - Terras do Lince - Capeia ArraianaNo que respeita a auto-estradas, os sucessivos governos criaram nos portugueses a ilusão que era possível manter tais equipamentos de forma gratuita e com isso nos confundiram anos a fio. A confusão iniciou-se com a famosa via cavaquista do Infante, a começar na fronteira e terminar perto de Boliqueime, terra do seu autor. Foi a primeira borla. A desculpa até era convincente: a CEE é que pagara a construção e não autorizava que aquela via fosse portajada. A seguir vieram os planos rodoviários nacionais que ainda hoje estão por cumprir, mas avançaram as Crils, as Crels e as Vcis, os ICs e os Ips, muitos à volta de Lisboa, outros em redor do Porto. Depois um primeiro-ministro que «não esquecia o Interior», após muitas outras auto-estradas no litoral, lá fez a primeira scut do Interior, a passar naturalmente na sua terra! Nada de novo a não ser a fabulosa invenção de fazer obras sem dinheiro. O país encheu-se de auto-estradas, mais nuns sítios que noutros, em alguns casos aos pares, e noutros em triunvirato, sem outro critério além do peso político do território onde se construíam.
Estas e outras ilusões que custaram muitos milhões ao erário público, despejados à pazada no litoral, impediram que algumas migalhas caíssem em territórios deprimidos. E não foram apenas os pequenos municípios que ficaram a ver navios, há também capitais de distrito que ficaram encravadas, como Bragança ou Portalegre, por exemplo.
Como não há almoços grátis, não se paga em portagens, paga-se em impostos!
Bem alertaram os pregadores do deserto para a factura que havia de vir, em duplicado, cara demais, talvez quando a não pudéssemos pagar. Infelizmente, tinham razão antes de tempo. É justamente numa altura em que a economia necessita de ajuda, quando os impostos sobem e os ordenados descem que o governo se vê obrigado a cobrar as scuts, dificultando ainda mais a vida aos cidadãos e às empresas, não apenas às empresas de transportes, pois fatalmente, a factura repercutir-se-á nas matérias-primas, nas mercadorias e na nossa vida em geral.
Além de virem na pior altura, as portagens não resolverão o problema do país que mais do que financeiro, é um problema económico, de falta de produtividade, onde a sanguessuga do estado, para quem não há dinheiro que baste, quase proíbe que se faça o que quer que seja.
Este é o resultado da leviandade e da irresponsabilidade dos governantes e da política imediatista que tem pautado os destinos do país nas últimas décadas. Leviandade ainda vigente, aliada agora à pressa de fazer dinheiro a todo o custo. Sabe-se que a pressa é má conselheira, mas a necessidade urgente de dinheiro está a desnortear um governo à beira de um ataque de nervos, dando uma no cravo, outra na ferradura. A proposta de isentar de portagens os residentes e as empresas dos concelhos que são atravessadas por scuts é a emenda pior que o soneto! Então e os que não têm auto-estrada, que vivem no interior do interior, além de não beneficiados, devem ser castigados? Terão os residentes de Idanha e de Penamacor que mudar para junto das scuts?! Deverão as empresas transportadoras do Sabugal sediar-se em Belmonte, na Guarda ou na Covilhã?!
É o que dá a governação de cabotagem, com a costa à vista, acaba sempre por tornar o percurso mais longo, tanto mais longo quanto mais sinuosa for a costa. E a costa da nossa política é muito sinuosa e corporativa.
Não houve em devido tempo discernimento para avaliar o impacto futuro de decisões irreflectidas, nem coragem para dizer não aos grupos de pressão. Mas a História teima em repetir-se e mais uma vez não haverá coragem para afrontar os que gritam mais alto.
«Terras do Lince», opinião de António Cabanas

(Vice-Presidente da Câmara Municipal de Penamacor)
kabanasa@sapo.pt

A convite do ICNB e do projecto Valia deslocámo-nos à Serra de Andújar na Andaluzia para ver in loco o que os espanhóis estão a fazer pela recuperação da população de linces. Autarcas, proprietários de zonas de caça, agricultores, biólogos, representantes de associações ambientalistas, pudemos apreciar o muito que é preciso fazer para melhorar os habitats de Lince.

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«Terras do Lince», opinião de António Cabanas
(Vice-Presidente da Câmara Municipal de Penamacor)
kabanasa@sapo.pt

A convite do ICNB e do projecto Valia deslocámo-nos à Serra de Andújar na Andaluzia para ver in loco o que os espanhóis estão a fazer pela recuperação da população de linces. Autarcas, proprietários de zonas de caça, agricultores, biólogos, representantes de associações ambientalistas, pudemos apreciar o muito que é preciso fazer para melhorar os habitats de Lince.

António Cabanas - Terras do Lince - Capeia ArraianaAqueles que como eu gostam do lobo cerval e anseiam vê-lo de novo no nosso país regressaram satisfeitos. Não é que o tivéssemos visto, mais depressa o lince nos veria a nós, tal era o tamanho da comitiva e todos sabem como é acutilante o seu olhar. Mas as fotos tiradas pelas máquinas automáticas, sim, tinham-no registado na noite anterior. Um excremento fresquinho, ainda a cheirar intensamente, coelhos quanto baste, veados, águias, vistos até do autocarro e paisagem de montado até perder de vista.
Bom foi ouvir Miguel Ángel Simón, responsável pelo projecto Lince, falar dos excelentes resultados do projecto.
Ainda que os censos mais antigos não fossem fiáveis estimava-se que houvesse em meados do século XX 5 a 6 mil linces, reduzidos no final dos anos 70 a 1200 e a 1100 no final de 80. Em 2002 Guzman apontava não mais de 200 animais para a população espanhola, sendo certo que em Portugal era praticamente nula a presença do felino.
No início do milénio, os técnicos de ambos os países davam como inevitável a sua extinção. O desânimo tinha-se instalado na comunidade científica e o seu desaparecimento de um local tão emblemático como a Malcata era revelador de uma situação irreversível. Além do mais as tentativas para os reproduzir em cativeiro não estavam a resultar e quando finalmente começavam a dar frutos, eis que uma leucemia mata 9 linces só em 2007! Era o fim do Lince Ibérico! Até os mais esperançosos acreditaram estar perante a morte anunciada da espécie.
Contra todas as expectativas porém, o felino tem vindo a recuperar nos últimos anos. A Serra de Adújar-Cardena conta hoje com cerca de 160 linces quando em 2002 havia apenas 60. Também a população de Doñana, apesar da consanguinidade tem vindo a aumentar, o mesmo acontecendo na Serra Morena. Tudo isso se deve aos esforços de melhoria dos habitats que têm sido feitos nestes refúgios.
Com a viagem, tinha o ICNB a intenção de demonstrar aos caçadores e proprietários do Alentejo que a introdução do lince não lhes trará prejuízos. É conhecida a enorme desconfiança de uns e outros face às habituais restrições que impendem sobre os territórios geridos pelo ICNB. Curiosamente, na hora de fazer o balanço da viagem, tinha-se virado o feitiço contra o feiticeiro: caçadores e terra tenentes vinham encantados com o que viram e se o ICNB queria os linces que seguisse os bons exemplos dos espanhóis, respeitasse as herdades e as actividades e que em vez de impor restrições as ajudasse a tornar mais rentáveis como acontecia em Andújar. Para eles foi isso que a visita lhes mostrou: dois proprietários de fincas contentes com as limpezas, as adubações e o maneio dos habitats, tudo pago pelo projecto.
Pela nossa parte, ou seja, relativamente à Malcata, ficámos conscientes do muito que há a fazer para aumentar a população de coelho, dos muitos hectares de pastagens a semear, dos marouços a construir, dos coelhos a introduzir, do acompanhamento necessário, do que não ficámos certos é se haverá dinheiro para todo esse esforço. Esperamos que sim.
«Terras do Lince», opinião de António Cabanas

(Vice-Presidente da Câmara Municipal de Penamacor)
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No dia 13 de Junho, dia de Santo António, primeiro o terreiro com o nome do santo lisboeta e depois as ruas de Penamacor coloriram-se com os trajes tradicionais dos ranchos folclóricos de «São João» (Casal de Comba, Baixo Mondego e Bairrada), «As Moleirinhas de Marinhas» (Esposende, Minho), «As Pedrinhas de Arronches» (Alto Alentejo), «Capeleira» (Óbidos, Estremadura) e o rancho «da casa» – Penamacor (Beira Baixa) – que organizou o encontro em parceria com a Câmara Municipal.

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Fundada nos anos 80, a carpintaria do Alves produz móveis de cozinhas, caixilharia e outras utilidades em madeira. Foi sempre um exemplo de bem servir os clientes, de atender com simpatia e correcção a todas as solicitações e encomendas.

Inspecções

António Cabanas - Terras do Lince - Capeia Arraiana«Quando não é possível satisfazer, nem sequer se aceita a encomenda», diz o Alves, orgulhoso dos dois empregados que mantém há mais de 20 anos, sempre com os ordenados pagos a horas, a segurança social e os seguros em ordem, não vá o diabo tecê-las. É verdade que de há uns anos para cá as coisas estão cada vez mais difíceis, «vai-se vivendo, lá vai dando para a luz», mas não se permitem veleidades.
Até que há dois anos uma vizinha lisboeta, que só vem à terra de vez em quando, por birras antigas, «talvez por inveja, sabe-se lá», desatou a fazer queixa do barulho das máquinas, das inalações dos vernizes, do fumo do forno que queima a serradura e até do cão que ladra quando lhe apetece. Diz a vizinha que só descansará quando a carpintaria fechar portas!
A vida do Alves tornou-se um inferno. Ainda gastou uns trocos a construir uma estufa de pinturas para não incomodar a vizinha, deixou de trabalhar até mais tarde, mas de nada serviu. As denúncias continuaram. Em pouco tempo foi visitado pela inspecção do Ministério da Economia, pela inspecção do trabalho, pela GNR (duas vezes), pela fiscalização da Câmara, pela ASAE, pela inspecção do Ambiente (duas vezes, uma da delegação de Coimbra e outra de Lisboa). Nenhuma entidade encontrou deficiências ou infracções na carpintaria a não ser o Ministério do Ambiente. E não apenas uma, mas muitas. Desde logo a chaminé do forno que não cumpre os requisitos, era quadrada e devia ser redonda, além de que teria de dispor de medidor de emissões poluentes. Depois o registo da gestão de resíduos perigosos que não estava em ordem, porque o empresário ao usar embalagens de verniz (resíduos perigosos) deve obter um certificado da entidade a quem as entrega. A fossa séptica que recebe os efluentes da casa de banho não estava licenciada. De nada adiantou o Alves dizer e provar que a chaminé e o forno foram construídos há 20 anos, ao abrigo da licença da Direcção-Geral de Economia e de acordo com as exigências daquela altura; de apresentar uma declaração da Câmara Municipal referindo que esta levava as latas do verniz de 15 em 15 dias para Ecocentro; de alegar que o prazo para registo das fossas tinha sido prorrogado ou de alegar que o sistema informatizado de gestão de resíduos, pertença do Ministério do Ambiente, de alteração em alteração, não estava a funcionar.
Na sua honestidade de rural ainda foi dizendo que nem sequer queimava toda a serradura, porque alguma depositava-a num terreno de mato, sua propriedade, e os desperdícios de madeira iam para a lareira. Logo percebeu o erro da sua sinceridade, pela ameaça de mais uma contra-ordenação por rejeição de resíduos no solo, de imediato corrigiu: «Mas isso foi no princípio, agora não, queima-se tudo!»
Lá foram a Lisboa as testemunhas arroladas, ouvidas por um advogado que presta serviço para o Estado, certamente bem pago. Aguardou a decisão, uma eternidade, e recebeu há dias a notícia: «2 500 euros de multa! Aplicada apenas pelo mínimo, porque podia ter chegado aos 25 000 euros, era o que dizia a contra-ordenação! Estava preparado para fechar a porta.»
«Ainda me aconselharam a recorrer, garantiram-me que com um bom advogado, me limpariam tudo em Tribunal, mas deitei contas à vida, gastaria mais em custas e no advogado do que o valor da multa! Temos que sustentar esta cambada! Vá lá que ainda me facilitaram pagar em prestações!»
É assim que o País trata quem trabalha, obrigando-o a dar o litro, o Estado agarra-se-lhe que nem uma carraça, suga-o a até ao tutano, que o déficit a isso obriga. E não é apenas o Estado que parasita a economia, são também uma panóplia de outras entidades criadas ou estimuladas pelo Estado, consultoras, certificadoras, que emitem certidões de conformidade, que vendem serviços novos que o Estado inventa todos os dias, ou aplicações informáticas que apenas complicam a vida a quem produz.
«Terras do Lince», opinião de António Cabanas

(Vice-Presidente da Câmara Municipal de Penamacor)
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A Confraria do Toiro Bravo reuniu-se na tarde de Sábado (29 de Maio) para o seu IV capítulo anual em Coruche, onde foi fundada, no final de 2006. O evento decorreu, no Observatório do Sobreiro e da Cortiça, enquadrado na FICOR, certame destinado a promover a fileira da cortiça, onde só aparentemente se poderá estranhar a presença do touro bravo, já que o montado é o seu ecossistema favorito. A Confraria do Bucho Raiano marcou presença em terras ribatejanas.

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António Cabanas - «Terras do Lince»A Vila Ribatejana recebeu as várias dezenas de representantes de outras confrarias engalanada, com feira e tasquinhas, onde não podia faltar a tradicional tourada à portuguesa. Embora de forma modesta, a Confraria do Bucho Raiano esteve presente.
O Presidente da Câmara local, confrade, mas à civil, deu as boas vindas aos forâneos, enalteceu o trabalho desenvolvido pela confraria e justificou a existência do observatório como uma ode ao sobreiro. Ora aí está!
Na oração de sapiência, proferida pelo confrade Dr. Francisco Fernandes, ficou a saber-se que as touradas já vêm dos gregos e romanos e de outras mitologias antigas, mas também que o conhecimento culinário milenar com o qual poucos se preocupam se pode perder com a morte de quem o detém.
Momento de boa catadura ocorreu quando a meio das alocuções entrou o antigo matador de gado do extinto matadouro municipal. Do alto da sua proveta e tisnada idade, desceu a coxia do auditório, deu as boas tardes em voz alta, interrompeu a oratória do maioral e, sentando-se na primeira fila, fez-se notar ostensivamente. E não era para menos, afinal o Sr. Manuel seria entronizado daí a pouco como confrade honorário do Toiro Bravo, ele que no velho matadouro, ensinava o bêabá da arte de matar reses bravas aos futuros matadores.
Vamos ao que interessa, à comida, claro, ou não fosse ela razão maior de uma confraria gastronómica! O restaurante o Farnel esteve à altura da responsabilidade, logo a começar pelas entradas, iniciadas pelos famosos espargos bravos que também os toiros comem na herdade. A língua de fricassé, o beiço e os rins salteados, tudo de bravo, estavam uma delícia. As carnes mais afrodisíacas ficarão para o próximo capítulo! Para variar, o prato principal era constituído por nacos de vitela brava com favas. A sobremesa foi já um tanto apressada pela urgência da tourada, mas deu para notar a curiosa apresentação do folhado com creme de ovos, em forma de cabeça de toiro. O vinho não se ficou atrás, ribatejano, reserva multicastas de 2004 da Quinta Grande, um pouco graduado demais, mas agora é moda.
A maior surpresa estava reservada para a noite, com o desfile de todas as confrarias presentes, em plena praça de touros. Não estando as praças dotadas de portas para confrarias, entrámos pela porta do cavalo. Foi então que entendi a razão das favas ao jantar, só não relinchamos por respeito aos Ribeiro Teles e ao Pablo Hermoso que já alpendorados nas suas belas montadas, aguardavam que o desfile confrádico acabasse, para eles próprios darem início ao de cortesias.
A praça acabou por encher para ver a I Grande Corrida das Confrarias. Os toureiros da terra esforçaram-se para entusiasmar o público, enquanto o espanhol, com cavalos bem treinados apenas lhe faltou a elegância que este tipo de toureio exige.
Os forcados começaram mal, com o primeiro touro, em derrote violento, a desbaratar as ajudas tardias do grupo de Montemor e a deixar o forcado da cara muito maltratado e a necessitar de sair de maca. Já os da casa brindaram a pega às confrarias, e foi uma pega de se lhe tirar o chapéu, que levou a assistência ao delírio. Agarrado que nem uma lapa na cara do touro aguentou meia praça, ora arrastando na areia, ora quase voando pelos ares, até à reunião de todo o grupo.
Confrades e confreiras aplaudimos de pé!
«Terras do Lince», opinião de António Cabanas

(Vice-Presidente da Câmara Municipal de Penamacor)
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A romaria da Senhora da Póvoa, a mais concorrida das Beiras, tem lugar no domingo, segunda e terça-feira do Espírito Santo.

Nossa Senhora da Póvoa
Onde ficais situada
Num desvão da Serra d’Opa
Numa casa caliada

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ac

Estão de volta as grandes romarias da Região, sinal da chegada do bom tempo. Estranhamente, ou talvez não, continuam a arrastar milhares de pessoas aos seus santuários, geralmente pequenos demais para tantos automóveis e tendas de vendedores ambulantes. A Senhora da Póvoa afirma-se no panorama regional como uma das mais concorridas.

Senhora da Póvoa

António Cabanas - «Terras do Lince»Depois de uma quebra nos anos 60 e 70 em que de 3 dias acabou em 1, ei-la de novo em grande! Aos poucos foi crescendo e depressa os «tendeiros» sentiram necessidade de ir de véspera para guardar o lugar, levando a que na tarde de Domingo já houvesse muita gente, muitas tascas e arraial. Hoje vêm na véspera da véspera e já têm de novo dificuldade em obter o tão desejado espaço em sítio adequado, entenda-se onde passe muita gente.
Há os que apenas vão pela devoção religiosa, comungam dos actos religiosos, acendem uma vela, perfilam-se na procissão e rezam na igreja.
Há até quem se martirize de joelhos, em seu redor, pagando uma bênção divina, ou requerendo-a.
Cá fora, o Zé-povinho, numa espécie de orgia colectiva, percorre a feira em busca de uma qualquer pechincha, canta e dança, abraça os amigos, enche o bandulho com opíparos repastos, emborca copos de tinto e de cerveja.
Há muito nos interrogamos sobre a sua origem. Naturalmente, como tantos outros cultos a santos e santas que o nosso povo estima, terá provavelmente origens muito remotas, em antigos cultos pagãos. No cimo da Serra d’Opa há claros indícios de um santuário sacrificial. É um local de cume, também de actuais e antigas divisões administrativas, talvez mesmo muito antigas, pois era normal que elas passassem pelos acidentes geográficos, pelas alturas, ou pelos rios intransponíveis. Mas era também nesses locais que se efectuavam manifestações guerreiras ou, pelo contrário se juntavam as tribos para festejar a paz, eram assim locais de aproximação, de reencontro, provavelmente de festejos, onde quem sabe, se acertavam romances que miscigenavam o sangue.
Como nesse tempo longínquo continuam hoje a afluir gentes de diversas origens. No caso da Sra. da Póvoa vêm de Belmonte, do Fundão, do Sabugal, das Idanhas e de outras paragens mais distantes, além das aldeias do concelho de Penamacor. Ali, se juntaram sempre gentes do norte e do sul, o pandeiro redondo e o pandeiro quadrado. Gaiteiros e tocadores de harmónio, adufeiras e tamborileiros desafiavam os mais dançarinos. Qualquer realejo servia para fazer um baile! Enquanto os foliões se divertiam, os vendedores faziam negócio vendendo foices, tamoeiros, albardas, ancinhos, cabeçadas, e toda uma panóplia de objectos e alfaias de uso doméstico.
Os dias que antecediam a festa eram de muita ansiedade e de muito trabalho: o plantio e a rega da horta ou a apanha do feno. Eram por vezes dias de trovoada, ameaçando estragar os trabalhos agrícolas e a própria festa.
Pior ansiedade ainda provocavam as conversas dúbias lá de casa, que escondiam incógnitos jogos de interesses. O pai que perguntava:
– Não prometeste de ir à Senhora da Póvoa?
A mãe que respondia:
– Não, que está o feno para apanhar.
– Se não vamos, a santa castiga-nos com alguma trovoada!
– Não me apetece preparar a merenda!
– Mas a mãe já fez almôndegas de bacalhau! – Atalhava eu a pensar no realejo e na moto de três rodas, feita em lata pintada e que daria brincadeira para todo o ano.
– Cala-te fedelho, que não são contas do teu rosário!
Por fim, chegava o dia, não havia escola – e mesmo que houvesse! – A madrugada era um corrupio, regar a horta, tratar dos animais, preparar o burro, ou então esperar pela camioneta, na estrada. Muitos autocarros nem sequer paravam, vinham cheios, com gente de pé no corredor. Os vidros abertos deixavam escapar a animação das concertinas e adufes e contagiavam os que aguardavam na paragem:

Nossa Senhora da Póvoa
Onde ficais situada
Num desvão da Serra D’ Opa
Numa casa caleada

Nossa Senhora da Póvoa
A vossa Capela Cheira
Cheira a cravo cheira a rosa
Cheira a flor de laranjeira

Nossa Senhora da Póvoa
Já cá vamos à Meimoa
Que terá o vosso sino
Que o vosso sino não toa

«Terras do Lince», opinião de António Cabanas
(Vice-Presidente da Câmara Municipal de Penamacor)
kabanasa@sapo.pt

Alguém ainda se lembra da Gripe das Aves? Claro, foi substituída pela gripe dos porcos, airosamente rebaptizada de Gripe A. Quem ainda se lembra dos planos de contingência e do previsto uso de máscaras? Eu lembro, vinha aí uma pandemia, uma tragédia das grandes! Ainda bem que passou ao lado. Livramo-nos de boa!

Vous êtes riches! - António Cabanas

António Cabanas - «Terras do Lince»Ou terá sido o terramoto do Haiti que nos fez esquecer a Gripe, como os escândalos de corrupção fizeram esquecer o terramoto e o Benfica e o Papa juntos apagaram a novela das inquirições.
Aparentemente, terá havido na questão da gripe um erro de cálculo. Como na meteorologia, em que as massas de ar se desviam das rotas previstas pelos meteorologistas e as borrascas se abatem ou esbatem de forma imprevista, também aqui houve um erro de cálculo. Aliás já o tinha havido com a gripe das aves. Foi também o caso da doença das vacas loucas e de tantos outros medos que intermitentemente nos assustam. Mas talvez não tivesse sido apenas um erro de cálculo. É que, ao contrário da meteorologia, no caso das gripes houve também cálculos certeiros, que só falharam por defeito, como os milhões arrecadados pelos donos das grandes farmacêuticas que produzem vacinas; os mesmos milhões desembolsados pelos estados, que o mesmo é dizer pelos contribuintes, para as pagar; os milhões de litros de desinfectante vendidos para lavar as mãos da tinhosa estirpe da gripe suína ou ainda os milhões de aves inocentes que foram sacrificadas, e os milhões de euros de prejuízos que os avicultores tiveram de suportar.
Por detrás estão sempre os poderosos que manipulam a informação científica e a colocam na comunicação social sempre ávida de desgraças e pouco propensa a investigar a veracidade do que lhe fornecem. É a terrível arma da propaganda do medo, propalada por quem tem dinheiro para pagar publicidade camuflada em notícias cirurgicamente difundidas. Sempre haverá um Rumsfeld qualquer preparado para vender doses aos milhões. Pelo meio há os governos incautos, dispostos a gastar o que têm e o que não têm para agradar aos seus governados, não vá perder-se o poder devido a uma hipotética mortandade nacional. Há ainda os hipócritas que tentam vender as sobras que já ninguém quer e há os pobretanas estados africanos que quando a esmola é grande, desconfiam. Porque na política pode ser-se preso por ter cão e por não ter, o melhor mesmo foi oferecerem-se as vacinas aos países amigos, não viesse a opinião pública reclamar do desperdício!
Mas porque deixou então de falar-se da gripe? Porque era apenas uma treta! Assim mesmo lhe chamou, em devido tempo, a Ministra da Saúde finlandesa que acabou demitida pela frontalidade e honestidade demonstrada numa entrevista. Afinal estava coberta de razão, só que nem sempre é conveniente ter razão.
Numa das minhas últimas estadias em França, um Maire amigo andava numa roda-viva, envolvido na nobre missão de saúde pública de sensibilizar os seus munícipes para a vacinação em massa que ocorria no próprio Hotel de Ville (Paços do Concelho). Ele próprio fora o primeiro a dar o exemplo! Lembrei-me logo do escândalo que estalou na Alemanha quando constou que não haveria vacinas suficientes, e que só os vips seriam vacinados, versão imediatamente alterada para uma vacina de primeira e outra de segunda. Passou-me também pela retina o filme Titanic e os salva-vidas onde só cabiam os ricos. Perguntou-me então o Maire como estava a decorrer a vacinação em Portugal e se eu já estava vacinado! Que não, que os autarcas em Portugal eram tratados como persona non grata, e que seriam os últimos a ser vacinados se vacinas chegassem! Como eu já não me constipava há mais de sete ou oito anos e não seria um viruseco qualquer, ainda por cima vindo do porco, a deitar-me por terra, se não morria da doença, muito menos morreria da cura! Rimo-nos quando acrescentei que, como a vacina tinha efeitos indesejáveis, eu ficaria para contar a história. Uns meses após o regresso, não pude deixar de sorrir com a notícia de que o governo francês não sabia o que fazer a tantos milhões de vacinas! Veio-me então à memória uma frase que dissera ao meu amigo francês: Vous êtes riches!
«Terras do Lince», opinião de António Cabanas

(Vice-Presidente da Câmara Municipal de Penamacor)
kabanasa@sapo.pt

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Em exibição nos cinemas UCI

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