Olhando para o Castelo de S. Jorge e para uma das suas encostas, sentado a uma janela de uma vetusta casa do bairro da Mouraria, bairro cheio de História e castelo cheio de História, fiz esta pergunta a mim mesmo: o que é Portugal hoje?

António EmidioUm país economicamente destroçado, mas que teima em encontrar o seu futuro simplesmente na economia. As suas elites políticas e económicas, mesmo as que se dizem democratas, tudo sacrificam pela liberdade dos mercados, desde que ganhem com isso dinheiro e votos… Deixaram de defender o ideal de Liberdade e Humanismo que a Revolução de Abril nos trouxe.
Que é feito de Estadistas como Mário Soares, Álvaro Cunhal, Freitas do Amaral e Sá Carneiro? Independentemente do ódio que suscitam alguns dos que aqui mencionei, suplantam, e nem é lícito compará-los a toda uma série de economistas e engenheiros que presentemente «frequentam» os ministérios. Estes, os novos «estadistas», vêem-nos a nós portugueses como uma cambada de ignorantes e estúpidos, acusam-nos de sermos o principal obstáculo ao desenvolvimento do país, acusam-nos também de sermos os culpados da hecatombe económica que se abateu sobre Portugal. Copiam da América o pior, da Europa o péssimo, esquecendo por isso o papel importantíssimo do Estado na vida e no futuro das populações do interior e também do apoio aos dois milhões ou mais de carenciados que existem presentemente em Portugal.
O Estado deve ser defendido e reformado nunca desmantelado. Que será do nosso Concelho sem o Tribunal, o Centro de Saúde, as Escolas, as Finanças e outros organismos públicos? Que nos acontecerá se um dia se suspender a Democracia Autárquica, como deseja Rui Rio, um dos muitos tecnocratas que ajudou a destruir Portugal política, económica e moralmente? Ficamos entregues a dois ou três Chicos Espertos, talvez daqueles que nunca acreditaram em ideais como a Democracia a Justiça Social e o Progresso. Também a uma espécie de troika à portuguesa que vem à Cidade de mês a mês ver como vão as contas de uma qualquer «Comissão» posta a governar não sabemos por quem. Como se nunca tivesse havido déficit e dívidas de Estados e de autarquias no País e no Mundo…
Estes tecnocratas, engenheiros e economistas, vão-nos retirando cada vez mais direitos, direitos esses conseguidos com a Revolução de Abril. Dividiram profundamente a sociedade portuguesa, os ricos estão cada vez mais ricos, os pobres cada vez mais pobres. A oligarquia e a classe média alta vivem da especulação de terrenos, usam todos os estratagemas com os bancos para enriquecerem, vivem encostados ao Estado parasitando-o com negócios rentáveis para elas e desastrosos para o Estado. Agora querem os hospitais públicos através de privatizações, destruindo o Serviço Nacional de Saúde. São accionistas das principais empresas públicas estratégicas que foram privatizadas. O seu dinheiro encontra-se bem guardado em paraísos fiscais e na Suiça. Jogam ténis e golfe, fazem regatas no Mediterrâneo, não saem dos ginásios e das clínicas de cirurgia estética.
O resto dos portugueses? Vivem com dificuldades de toda a ordem, milhares e milhares estão desempregados, milhares na pobreza e desamparados pelo Estado. No meio do muito rico e do resto, estão uns tipos que vivem de expediente, servilismo político, pequena corrupção, etc., etc., etc. Resumindo querido leitor(a), uns 300 mil ricos para 10 milhões de pobres!
Dê soluções! Dirá algum leitor(a). Respondo-lhe dizendo que a base está nestes três valores: Ética, Solidariedade e Humanismo.
O que é a vida querido leitor(a) senão a superação permanente de problemas? Quantos não teve Portugal durante a sua História? Tenho esperança em nós portugueses, não em batalhas e revoluções, o futuro a curto prazo não pede isso, pede um regresso aos valores espirituais, voltarmos a saber que o amor é mais forte que o ódio e a morte, voltarmos a ter ideais de justiça, voltarmos a saber distinguir o bem do mal, voltarmos a ter a ideia de qualidade e valor e, muito importante, deixarmos de ser superficiais! Amarmos cada vez mais a Liberdade e a Democracia. Assim voltaremos a ser Nobre Povo e Nação Valente.
«Passeio pelo Côa», opinião de António Emídio

ant.emidio@gmail.com

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