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Damos continuidade à apresentação do léxico com as palavras e expressões populares usadas na raia ribacudana.
AGUILHADA – vara com ferrão na extremidade, própria para picar as vacas. Medida de comprimento, correspondente a 19 palmos (significado colhido por Clarinda Azevedo Maia na Lageosa da Raia).
AICHE – pequeno ferimento (linguagem infantil); o m. q. farraiche. Muitos autores escrevem aixe e axe.
AIDRO – adro, terreiro à volta da igreja. O povo ajuntou-se no aidro.
AJAVARDADO – sujo; grosseiro (de javardo: javali).
AJAVARDAR – sujar; fazer mal; estragar. Ajarvadou o trabalho.
AJOUJADO – muito carregado; cansado.
AJOUJAR – carregar muito, fazer cansar. Júlio António Borges dá o significado de: juntar.
AJUSTAR – contratar; combinar a prestação de um trabalho e a sua contrapartida.
AJUSTE – contrato de trabalho. Andar de justo: trabalhar sob contrato.
ALA – interjeição que indica pressa. Ala, que sa faz tarde!. Joaquim Manuel Correia traduz por levantar chama: «o lume tomou ala».
ALABARDA – pau enfeitado, usado nas touradas pela mordomia quando pede a praça. Bandeiras usadas nas festas do Espírito Santo, em algumas terras; o m. q. labarda. «Era constituída por duas bandeiras, ambas em forma de galhardete, e cujos panos de uma forma quadrada, eram constituídos por retalhos quadrados de cores, em que predominava o vermelho, o amarelo e o verde e por um ceptro, de pau alto, encimado por uma cruz, em torno da qual se colocavam cravos e manjericos, a modos de enfeite» (Pinharanda Gomes).
ALABARDEAR – manejar a alabarda, agitando as bandeiras a pulso, até ao cansaço (Pinharanda Gomes). Também se diz labardear.
ALACRÁRIO – lacrau; escorpião (Vitor Pereira Neves, de Sortelha). Júlio Silva Marques, de Vilar Maior, escreve alecral. José Prata, de Aldeia da Ponte, refere lacrário. Júlio António Borges, de Figueira de Castelo Rodrigo, refere alacrairo e alacrau.
ALACRÊNCIA – miriápode; centopeia (Vitor Pereira Neves).
ALAFRAU – patife (Júlio António Borges).
ALAGADEIRA – mulher desgovernada, incapaz de gerir a casa; gastadora (Júlio António Borges).
ALAGOA – lagoa (Duardo Neves).
ALAGOSTA – mulher que esbanja; o m. q. alagadeira.
ALAGOSTAR – esbanjar (José Pinto Peixoto).
ALAMAR – enfeite no vestuário (Júlio António Borges).
ALAMBA – resina (Joaquim Manuel Correia).
ALAMBAZADO – cheio; farto; que comeu em excesso; que encheu o odre.
ALAMBAZAR – comer em excesso.
ALAMBRAR – atiçar a chama – lambra (José Pinto Peixoto).
ALAMPIÃO – lampião, candeeiro grande (Francisco Vaz).
ALÂMPIO – azeite – termo da gíria de Quadrazais (Franklim Costa Braga).
ALAMPIOSA – azeitona – termo da gíria de Quadrazais (Franklim Costa Braga).
ALANCAR – carregar excessivamente; vergar com o peso. Também diz alangar, segundo José Prata. Por sua vez Júlio António Borges traduz por: «ir-se embora».
ALANGOSTA – pessoa que come demais; lambão (Clarinda Azevedo Maia).
ALANTERNA – lanterna; candeia que acompanha os funerais (Franklim Costa Braga).
ALANZOAR – dizer coisas à toa; falar muito. «E tu a alanzoar que estou bêbeda» (Abel Saraiva).
ALAPARDADO – agachado; escondido. Júlio António Borges traduz por: «sentado à vontade».
ALAPARDAR – agachar; esconder.
ALARDE – ostentação; aparato.
ALAVÃO – parte do rebanho de ovelhas que está a produzir leite, que se separa para melhor trato (Vítor Pereira Neves).
ALBARCA – calçado espanhol, feito de borracha – em geral pelo aproveitamento de pneu velho, segundo Adérito Tavares. Calçado tosco de madeira e couro (Clarinda Azevedo Maia).
ALBARDA – aparelho para colocar sobre o lombo das bestas de carga, feito com cabedal e estopa e cheio com palha. Albardeiro era o mestre no fabrico e venda de albardas.
ALBARDADO – com albarda. Bacalhau frito passado por farinha e ovo.
ALBARRÃ – espaço amplo e desocupado (Rapoula do Côa): cabanal albarrã. José Prata traduz por: «descampado».
ALBERNÓ – peça de vestuário que fica desajeitada ao corpo (Júlio Silva Marques). Júlio António Borges, de Figueira de Castelo Rodrigo, refere albornó, expressão igualmente referenciada por Maria Leonor Buescu acerca da linguagem de Monsanto, dando-lhe o mesmo significado. A generalidade dos dicicionários da língua portuguesa registam albornoz.
ALBOREDO – alvoroço; barulho; gritaria (Clarinda Azevedo Maia – termo recolhido em Aldeia da Ponte).
ALBRICOQUE – alperce; pêssego (José Pinto Peixoto).
ALBROQUE – celebração do fecho de um negócio, com pagamento de vinho a todos os intervenientes. Também se diz alboroque, alberoque e alborque. João Valente publicou neste blogue um interesante texto intitulado «Alborque ou Albroque» (dividido em duas partes) acerca da origem e do uso deste termo na raia sabugalense, que pode consultar aqui e aqui.
ALBRÓTIA – abrótea; planta espontânea muito procurada pelos animais quando pastam no campo. José Manuel Lousa Gomes, do Soito, refere que esta planta era apanhada para servir de alimentação aos porcos.
ALÇA – suspensório usado pelos garotos, feito a partir da tira da bainha dos tecidos. Júlio António Borges dá outro significado: «quadro de madeira, metido na colmeia, onde as abelhas constróem os favos».
ALCABOSIAR – berrar; ralhar (Júlio António Borges).
ALCACER – horta constituída especialmente por pimentos, cebolas, tomates, couves: «tenho de ir à Regada bachicar o alcacer» (Porfírio Ramos). Mais a sul, em Monsanto, designa o terreno em que cresce trigo, cevada ou centeio (Maria Leonor Buescu).
ALCADUTO – aqueduto (José Prata).
ALCAGUETE – alcoviteiro (Clarinda Azevedo Maia – termo recolhido em Vale de Espinho). Do Castelhano: alcahuete.
ALCAIDE – designação que em algumas terras se dava ao regedor. No tempo da reconquista cristã designava a pessoa nomeada pelo rei para administrar militarmente uma vila ou cidade, residindo no respectivo castelo. Em Espanha o alcalde é a pessoa que está à frente da administração de uma povoação.
ALCAMAZES – pulos; saltos. Andar aos alcamazes: brincar pulando e saltando, sem regra (Júlio Silva Marques).
ALCANÇAR – conceber; engravidar. Normalmente usado quando referente a animais.
ALCANDÓRIO – coisa grande e desajeitada; pessoa alta e mal apresentada (Júlio António Borges).
(Continua…)
Paulo Leitão Batista, «O falar de Riba Côa»
leitaobatista@gmail.com
A Itália existe? Ou, pelo contrário haverá duas Itálias, ou até uma por região. É uma questão que os tratadistas habitualmente se põem (por todos Patrick Meney, in «A Itália de Berlinguer»).
Na obra referenciada, pode, com efeito, ler-se:
«Parece tratar-se de dois países: um rico, industrializado; outro pobre, em vias de desennvolvimcnto; dois mundos, onde apesar de tudo, se fala a mesma língua, mas em que as palavras nem sempre têm o mesmo sentido; dois mundos em que o elemento de unidade mais aparente é o Fiat 500.
Mas um Fiat 500 que, no Norte, é utilizado como segundo carro e que, no Sul, é um automóvel que serve para tudo, por único.»
Como se sabe, a República Italiana tem pouco mais de meio século: nasceu do referendo popular de 2 de Junho de 1946, três anos após o derrube de Mussolini. E a unificação italiana ainda não atingiu os cem anos.
E, naquela manta polícroma de cidades que forarn estado, mantem-se fortemente acentuado o contraste norte-sul.
Passamos mais uma vez a palavra a Patrick Meney:
«Mezzogiorno, Sicília.,Calábria, Apúlia, Campanha, Sardenha, Basilicata, Molise.
Um sul que se estende bem para o interior da bota. Em que, ainda mesmo agora, o turista pouco se aventura. O Cristo parou em Emholi. O estrangeiro não foi para além de Roma. O industrial, esse, não passou de Nápoles…
Mostra-se bem diferente o Norte: Nevoeiros, chuvas, chaminés de fábricas, zonas industriais,cruzamentos de auto-estradas, grandes cidades tristes com avalanchas de operários que, de manhã cedo, são tragados pela Fiat ou pela Alfa Romeu. Combóios de mercadorias. Navios… É a outra Itália, a que produz, a que trabalha, a da reconstrução, a do êxito… Com todos os industriais do País, com os créditos, a de que os italianos se orgulham, a que permite ao País colocar-se entre os sete mais; a que serve de caução aos empréstimos vindos do estrangeiro…
Enfim, uma Itália que se dá ares de Alemanha…»
Milão vale como símbolo de toda esta opulenta região de que é verdadeiramente a capital, sendo também por isso, a capital económico-financeira de toda a Península.
Aliás, o seu valor de símbolo não vem de hoje.
O império sacro-romano-germânico tinha-o na conta de uma das suas melhores jóias.
Pelos séculos, as rivalidades entre as potências que aspiravam ao domínio da Europa centrava-se por ali.
Francisco I, de França, o galo indino verberado pelo nosso Camões, revelou-o numa frase lapidar:
Eu e meu primo Carlos V estamos finalmente de acordo. Ambos queremos Milão. Ou, diria um outro imperador, se a Itália fosse uma vaca, Milão ou meIhor o Milanado, seria o lombo.
O seu contributo para o equilíbrio da balança de pagamentos; a elevada percentagem no produto interno bruto, o prestígio de que goza a nível interno e externo fazem da região (uma das vinte em que a Itália se decompõe) um autêntico oásis.
De tal modo que assegura quase um quarto do rendimento nacional.
Não releva apenas a raça, mais próxima dos bárbaros vencedores de Rómulo Augustulo do que dos etruscos ou sabinos.
A madre natura ajudou também: as montanhas que ocupam 43% do território não são, ao contrário do que poderia pensar-se, uma desvantagem. Bem pelo contrário: desde o começo da Revolução Industrial que elas fornecem os cursos de água necessários à produção de energia. Estão, por isso, na base da arrancada industrial.
Aliás, o alto grau de pluviosidade, em marcada oposição com a secura escalavrante do Sul e Ilhas serviu de antecâmara à criação da riqueza, potenciando uma agricultura rentável, geradora de fundos afectáveis a outras iniciativas.
Enfim, entre o Milanado e a Calábria verificam-se diferenças que impõem o regionalismo.
A invectiva camoniana a uma distância de quatrocentos anos, a passar, dá-nos conta do que para sempre há-de opor os italianos:
Pois que direi daqueles que em delicias
Que o vil ócio no mundo traz consigo
Gastam as vidas, logram as divícias.
Esquecidos do seu valor ant1igo?
Nascem das tiranias inimicícias
Que o povo forte tem de si imigo
Contigo, Itália, falo já submersa
Em vícios mil e de ti mesma adversa…
Poderá a Europa das Regiões desagregar à Europa das Pátrias? Ou, pelo contrário, acabarão as regiões, por cimentarem mais fortemente as Pátrias?
«Politique d’ Abbord – Reflexões de um Politólogo», opinião de Manuel Leal Freire
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