Damos continuidade à apresentação do léxico de palavras e expressões populares usadas em Riba Côa. Para além dos termos colhidos em trabalho de campo, ouvindo as gentes falarem entre si, também se colheram frutos de alguns pomares alheios, nomeadamente de monografistas que editaram livros fazendo referência ao léxico raiano.

ACHADA – planície pouco extensa em terreno montanhoso; pequeno planalto.
ACHACADO – adoentado; que sofreu achaque.
ACHAMBOADO – mau; grosseiro; da má qualidade. Falar achamboado: falar do povo; fala simples e rude (expressão recolhida por Clarinda Azevedo Maia nos Fóios).
ACHANASCADO – mau; reles; de má qualidade. Fala achanascada: falar do povo; fala simples e rude (expressão recolhida por Clarinda Azevedo Maia nos Forcalhos).
ACHAQUE – defeito; vício; doença.
ACHICADO – abaixado; acocorado.
ACHICAR – agachar, abaixar; humilhar.
ACHINCALHAR – humilhar, fazer pouco de.
ACHUDA – batata encortiçada por ter ficado muito tempo na terra (Duardo Neves).
ACINCHO – folha de madeira ou tira metálica enrolada e perfurada, usada para fazer o queijo. Luísa Lasso Charters (de Sortelha) recolheu com o mesmo significado os termos cinho e ancinho.
ACOANHAR – limpar o pão (gão de centeio) dos resíduos que contém após a malha. Varrer a eira com a coanha (vassora feita a partir de uma planta silvestre).
ACOBARDAR-SE – ter medo, mostrar-se tímido; fazer cerimónia (Clarinda de Azevedo Maia).
ACOIMAR – tratar de forma injuriosa. Castigar; sujeitar a coima.
ACOIMADO – tratado injuriosamente; castigado; sujeito ao pagamento de coima.
ACOJINER – morrer (termo recolhido por Clarinda Azevedo Maia na Lageosa da Raia).
ACOMODO alojamento.
ACOMPANHAMENTO – cerimónia religiosa que acontece após o funeral de alguém. O povo, com o pároco na dianteira, vai em procissão à casa da família enlutada, rezar pelo defunto. Franklim Costa Braga acrescenta: «comitiva do noivo que no dia do casamento se desloca a casa da noiva».
ACONAPAR – remendar a roupa; deitar conapos (remendos).
ACONCHAVAR – costume que consiste numa aposta, ou ajuste, entre duas pessoas, normalmente crianças, feita pela ligação dos dedos mindinhos. Aquele que no dia de Páscoa primeiro mandar rezar o outro recebe um oflar (geralmente um ovo cozido). Abel Saraiva, dos Gagos (concelho da Guarda), regista a fórmula do aconchavo: «Aconchavar, aconchavar / até ao dia do oflar / nesse dia te mandarei rezar». José Pinto Peixoto, da Miuzela, refere contratar. Manuel Leal Freire, da Bismula, chama-lhe enganchar (pelo enganchar dos dedos).
ACORCEAR – arrastar pedras com a corça (plataforma de madeira, o m. q. zorra) – termo recolhido por Clarinda Azevedo Maia em Aldeia do Bispo.
ACORDAR-SE – lembrar-se (do Castelhano) – termos recolhido por Clarinda Azevedo Maia em Vale de Espinho.
ACRAPULAR – apular, apanhar, suster algo (Rapoula do Côa).
ACTIVA – faca – termo da gíria de Quadrazais (Nuno de Montemor).
ACUDADEIRA – cunha de ferro usada pelo pedreiro para talhar a pedra.
ACUDIR – retorquir; responder à chamada.
AÇUGAR – açular; assanhar; incitar o cão a morder.
ADEITO – porção de linho, correspondente a 50 estrigas (quantidade que se coloca na roca para fiar). Um adeito corresponde a dois afusais e cada afusal pesa dois arráteis (459 gramas). José Pinto Peixoto refere adeiço.
ADENTA – fase em que nascem os dentes às crianças (Júlio António Borges).
ADICAR – ver, observar – termo da gíria de Quadrazais (Nuno de Montemor).
ADIVINHA-NEVES – pássaro preto, que surge em bandos no inverno que, diz-se, antecedem os nevões.
ADJUNTO – reunião; ajuntamento.
ADMENOS – a menos que.
À DOCA – à sorte, de qualquer maneira. Provirá da expressão latina ad hoc (Júlio Silva Marques).
ADOÇANTE – açúcar – termo da gíria de Quadrazais (Franklim Costa Braga).
ADONDAR – tornar dondo; amaciar.
ADREDE – de propósito; com esse mesmo fim. Ir adrede: ir de coisa feita. «Fogueira adredemente preparada» (Joaquim Manuel Correia).
ADREGA – finório, matreiro, espertalhão. «ciganos ou adregas» (Manuel Leal Freire).
ADUA – vez; sistema comunitário que estabelece a regra da alternância no uso comum de qualquer coisa, nomeadamente as águas para rega e o forno. «Apesar de não estar o uso da adua regulado por escrito, todos o seguem» (Joaquim Manuel Correia). Em Figueira de Castelo Rodrigo usa-se a expressão à duia (Carlos Guerra Vicente).
ADUANA – alfândega (do Castelhano).
ADUAR – dividir de forma justa e equilibrada a água da rega pelos vários proprietários que dela beneficiam; seguir o sistema da adua.
ADUBAR – condimentar a sopa, temperar.
ADUBO – gordura derretida utilizada na cozinha como tempero.
ADUELA – costela; juízo (Francisco Vaz). Cada uma das tábuas que fazem o corpo de um pipo.
(Continua…)
Paulo Leitão Batista, «O falar de Riba Côa»

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