Toda a gente do Casteleiro cresceu com aquela imagem atraente e bela de um edifício muito especial, bonito, elegante, no meio da serrania. É um hotel. Melhor: foi um hotel.

Cresci a pensar que aquilo era da minha Freguesia, o Casteleiro. Só muito mais tarde, já adolescente, é que percebi que era da Freguesia de Sortelha.
Isso, em termos administrativos. Mas em termos sociais e de vivência de cada um, era assim: a Serra da Pena é um local de encanto nosso.
Adiante.
Em pequeno, estive sempre muito ligado à gestão daquele equipamento. Conheci os representantes dos ingleses donos da empresa que explorava o hotel, já moribundo, e as Águas Radium. Assisti ao desmantelamento de um e de outra. Desmantelamento, literalmente: banheiras, torneiras, sanitas, canalizações… tudo foi levantado, levado, apropriado por alguém que se julgava prejudicado e quis prejudicar também. Até sei os nomes das pessoas em causa, porque eles faziam parte do meu dia-a-dia naqueles dias de meados da década de 50.
O hotel foi construído muito cedo: pouco depois de 1910. As termas e a utilização medicinal das águas radioactivas e depois das lamas com as mesmas propriedades foram crescendo.
As primeiras concessões das águas datam de 1922.
Aos espanhóis que fundaram este complexo, segue-se uma administração francesa, ligada ao urânio – não esquecer as Minas da Bica, ali perto da Azenha (Quarta-Feira).
A água era engarrafada e vendida como quase milagrosa (ver aí em baixo).
Nos anos 30 do século XX, jornais de Castelo Branco publicitam profusamente as Águas, as Termas e o Hotel.
Mas, provavelmente, nessa altura são já os ingleses que dominam por ali.
E depois, vinte anos depois, tudo acaba sem honra nem glória.
Ficou o «castelo» encantado.
Era assim que lhe chamávamos no Casteleiro quando eu era pequeno: o Castelo da Serra da Pena.
Para que serviam as Águas Radium e as lamas radioactivas?
Procurei informação. Eis uma síntese do que encontrei:
Indicações
Reumatismo, gota, hipertensão arterial, colites, edemas, insuficiência circulatórias (Acciaiuoli.1939)
Doenças do aparelho circulatório, rins e nas perturbações da nutrição, hipertensão arterial e nas feridas (Contreiras, 1951)
Doenças da circulação, gastrointestinais.
Tratamentos / caracterização de utentes
«O tratamento metódico por lamas radioactivas […] a aplicação de lamas radioactivas em artrites e artroses mono ou poli-articulares, é sem dúvida uma óptima aquisição da Águas de Radium com rendimento terapêutico, bem comprovado […] A aplicação de compressas eléctricas radioactivas G. Ray nas artrites, ciáticas, dores ováricas – provocam redução das dores.
O aparelho Studa Chair para lavagem do cólon, com 35 litros de água mineral, produz uma boa desinfecção mecânica.
» (Acciaiuoli1940)
«”Studa chair” compressas e lamas radioactivas.» (Contreiras1951)
In aguas.ics.ul.pt.
«A Minha Aldeia», crónica de José Carlos Mendes