Teresa Duarte Reis - O Cheiro das Palavras - Capeia ArraianaNão destaco a mulher por qualquer razão especial mas, me desculpem, pois ela destaca-se naturalmente, como Mulher e Mãe. O poema, que deixei há um ano, bem prova a multiplicidade de valências que a mulher apresenta, uma vezes para a valorizar, outras, não tanto. Todos sabemos como a mulher desde sempre, na história, era considerada de espécie inferior e hoje ainda temos culturas onde isso acontece.

Em Portugal, várias foram as lutadoras pela liberdade e igualdade da mulher e dessa luta foi-se delineando a Comemoração do Dia da Mulher. Se me perguntarem se concordo, não totalmente, porque se ela sempre deu provas do seu valor, não precisaria de qualquer destaque. Quem sou eu, porém, para questionar se é válido ou não que se faça esta comemoração? E, como nos meus poemas também destaco figuras que considero dignas de tal, aqui deixo uma homenagem a uma mulher que sempre considerei e admirei, pela sua garra, pela sua coragem.

MULHER DO MAR

Sorrisos salgados
Que o sol cresta e perpassa
Lágrimas de sal de puro desgosto
Pestanas russas
Sulcos de quilhas na pele rasgada
De pestes e ventos, secando teu rosto.

Na cabeça a canastra
De prata repleta
Sardinha talvez ou peixe miúdo
São vidas bem cheias
Safado desgosto
De anseio, de pressa, de medo e de tudo.

Na voz canta o mar em rimas e ritmo
Da dança das ondas e barcos no cais
Em olhos de mar
Ou céu de veludo
De negro ou verde
De sons e de versos cantados em ais.

Meneando suas ancas
Gritando “freguesa”
Dançando nas ondas
De pura maresia
É a mulher da praia, do peixe e do mar
Que grita, que canta de nome Maria.

Homem trabalha lá longe a pescar
Coração que bate
Num sufoco sem par
Luta, labuta
Educa seus filhos
Sempre lançando seus olhos ao mar.

Corre ao Senhor
Pedindo, rezando
Com voz de sereia, seu doce cantar
Um choro amargo
De duras esperas
Tantas horas, seu homem no mar!

É o mar que traz é o mar que leva
Num vaivém longo,
Sem fim nem parança
Cansaço de anos
De dias a fio
Mas sempre viva, mantém a esperança.

Vai, vai a varina ligeira
Chinelas tloc, tloc, quase alada
É como que voa e deixa voar
Desliza pela calçada
Baloiça, não esquece
Sempre lembrando seu homem no mar.

«O Cheiro das Palavras», poesia de Teresa Duarte Reis
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