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José María Narciso Alfonso González é o Alcalde de Albergueria de Argañan, aldeia espanhola que fica ao lado de Aldeia da Ponte. Desde muito jovem que frequenta as terras raianas de Portugal, onde tem muitos amigos. No sábado receberá na sua aldeia os Porsches que andam em passeio pelo concelho do Sabugal, é oferecerá um «pincho» e um trago de vinho aos participantes. Estivemos à fala com este autarca espanhol, que é realista e pragmático, mostrando desencanto quanto ao futuro das terras raianas de um e do outro lado da fronteira.
Mantém um bom relacionamento com os «alcaldes» portugueses da raia?
Desde sempre tivemos, e mantemos, um bom relacionamento, e isso acontece com toda a população. No tempo antigo o único problema eram as autoridades, porque as pessoas davam-se muito bem. Tivemos o contrabando, onde curiosamente os portugueses ficaram sempre a ganhar.
Não é essa a ideia dos portugueses. Nós consideramos que os espanhóis é que tiraram maior proveito do contrabando.
Os portugueses desconfiavam muito dos espanhóis, mas a verdade é que nas transacções comerciais ficavam sempre a ganhar. Vocês tinham maior espírito comercial. Talvez isso resultasse de uma maior necessidade, mas a verdade é que ganhavam sempre mais do que nós.
Tem mantido relações regulares com a Câmara Municipal do Sabugal e com as juntas de freguesia portuguesas?
Todos os anos há uma reunião entre os «alcaldes» espanhóis, de Valverde a Fuentes, com o presidente da Câmara do Sabugal e os presidentes das juntas de freguesia, para confirmarmos que os marcos fronteiriços estão no seu lugar. Uma vez é em Espanha e a seguinte em Portugal. Os marcos são apenas um pretexto, porque aproveitamos para nos conhecermos melhor, convivermos e falarmos acerca de assuntos de interesse comum. A última reunião foi em Portugal e falámos do Centro de Negócios do Soito, que o presidente Manuel Rito nos apresentou.
E o que acha desse equipamento? Poderá albergar empresas espanholas que tenham negócios em Portugal?
Sinceramente, penso que aquilo não tem futuro. A ideia é bonita e o presidente está muito entusiasmado, mas o problema é que não há gente nestas aldeias e sem gente não há mercado suficiente para aguentar aquilo.
E o que podem os povos dos dois lados da fronteira fazer para conseguirem um futuro melhor?
Temos de nos unir através de projectos comuns. Vivemos numa das regiões mais pobres da Europa e temos de lutar contra isso. Podemos formar empresas, produzir para exportar e trocar experiências, só assim conseguiremos enfrentar com êxito as dificuldades. A União Europeia enviou muito dinheiro para ajuda ao desenvolvimento, mas ele ficou em Lisboa e em Valladolid. O pouco que cá chegou usaram-no para fazer parques e jardins, instalar luzes e candeeiros, fontes e outras coisas muito bonitas mas que não produzem riqueza, nem dão emprego aos jovens. O resultado de tudo isto é vermos os nossos melhores jovens irem para as cidades.
Considera que os políticos não se têm interessado pelo campo?
Para os políticos as cidades são mais rentáveis, porque o investimento por pessoa é menor do que no campo. Por exemplo, aqui em Albergueria tenho 250 candeeiros públicos para 160 habitantes. Ou seja, é preciso mais de um candeeiro para iluminar cada pessoa. Isto não acontece nas cidades onde cada candeeiro ilumina muita gente e em poucas centenas de metros quadrados conseguem meter prédios com dezenas de famílias. Por isso os políticos pensam sempre em apoiar as cidades e não ligam a quem vive no campo. É por isso que estas aldeias vão ficando sem gente. Temos muito poucos jovens e os que aqui estão não têm perspectivas de futuro.
E o que acha que devem fazer os políticos para fomentarem a fixação dos jovens nestas aldeias do interior?
A única forma de segurarem aqui os jovens é darem-lhes uma cana para pescarem. Ou seja, é necessário criar-lhes as condições para que instalem e desenvolvam o seu próprio negócio.
plb
Na Casa das Beiras continuaram as reuniões da Comissão Instaladora, trabalhando nos estatutos e discutindo outros assuntos de interesse para a Casa.
Decorrido o Magusto em 10 de Novembro de 1974, foi feito o seu balanço, que resultou em mais um grande êxito, com a inscrição de novos sócios, mediante quota de 100 escudos anual, tendo-se distribuído o projecto de estatutos, já aprovado, para avaliar da sua aceitação, sendo a opinião geral favorável e considerado ajustado, pelo que se concluiu na necessidade de angariar fundos para pagar a publicação dos estatutos, bem como a escritura, ficando o Dr. Seabra de encontrar um Notário.
Apesar de mais um êxito, nada de mais relevante aconteceu até à data da escritura, altura em que as dificuldades se avolumaram, tendo a Comissão Instaladora, nesta fase, travado uma luta tremenda, face às tentativas de ocupação das nossas instalações, como veremos adiante.
Legalizada a Casa, havia a necessidade de se trabalhar no sentido de haver eleições para os corpos gerentes, continuando a procura de um espaço, surgindo em 18 de Março 1975, uma proposta do Dr. Seabra com o arrendamento do 2.º andar para sede da associação. Negociou pessoalmente, uma renda de 6000 escudos, aumentando depois 1000 escudos em cada ano. Esta verba era avultada e proibitiva, mas face às renitências de todos os outros, o Dr. Seabra propôs instalar, provisoriamente, um lar em duas das salas, que estavam separadas por uma porta envidraçada. A proposta não mereceu aceitação unânime, mas foram-lhe dados plenos poderes para negociar. Estas peripécias serão relatadas num próximo escrito.
Na reunião de 4 de Abril, o Dr. Seabra disse ter assinado contrato-promessa de arrendamento do 2.º andar. Avisou a Câmara de Lisboa do aluguer, para que o andar saísse da lista de casa devolutas. Isto provocou uma corrida de gente que queria ocupar a casa. Um grupo tentou mesmo ocupá-la à força, arrombando a porta. O Dr. Seabra acendeu lá um candeeiro, que ficava aceso toda a noite, para dar a perceber que o andar já estava ocupado. Instalou mesmo lá, uma empregada da sua casa de repouso, que mantinha a luz acesa, abrindo e limpando as janelas, de dia, para ser vista.
O advogado do senhorio e o Dr. Seabra deslocaram-se à Câmara Municipal de Lisboa, pondo um traço vermelho em ziguezague sobre a casa, em vez de um traço grosso, como estava determinado. Na Junta Freguesia de Arroios também puseram um traço azul débil e na Junta de Freguesia do Alto do Pina, nada conseguiram.
Ainda neste dia, de manhã, após nova tentativa de ocupação, apareceu um polícia que queria alugar a casa a familiares. A empregada do Dr. Seabra abriu-lhe a porta e chamou-lhe a atenção para um papel colado na porta, indicando que a casa pertencia à Casa do Concelho do Sabugal, sendo ela empregada do Sr. Presidente. O polícia pediu para ver o contrato de arrendamento, respondendo-lhe a dita, nada saber sobre isso.
Durante a semana seguinte continuaram as ameaças de ocupação, por gente que considerava a casa desabitada, pelo que em 8 de Abril decidiu-se passar a fazer as reuniões na novíssima sede da C.C. Sabugal. Foram pedidos orçamentos para a instalação eléctrica, mas como eram tão elevados, nenhum foi aceite.
Na reunião seguinte, o João Leitão ofereceu uma placa com o nome da Casa, que foi colocada na porta.
É preciso notar, que durante este período conturbado, era hábito a ocupação de prédios ou andares devolutos, coisa normal na época. Em relação à Casa é justo salientar, que o Dr. Seabra travou uma luta tremenda nas Juntas de Freguesias atrás referidas, acrescida ainda da Freguesia de S. João de Deus e com as Comissões de Moradores, visto que havia uma grande corrente para nos ocuparem a Casa, porque argumentavam, não se justificava uma casa para divertimentos, numa altura que havia tanta falta de habitação. Foi preciso uma explicação convincente do Dr. Seabra, provando-lhes que a associação se destinava a outro fim social diferente, porque se propunha colaborar nos interesses morais e materiais de um dos Concelhos mais atrasados do País, levando a melhor, dentro da legalidade, sobre todos os que tentaram as ocupações.
Assim decorreu esta luta durante algum tempo, com o resultado que se conhece, a casa sobreviveu a esta fase deveras complicada.
«Ecos da Aldeia», opinião de Esteves Carreirinha
estevescarreirinha@gmail.com
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