Vai um escarcéu pelas bandas da Direita portuguesa por causa de Cavaco Silva não ter vetado o Diploma sobre o casamento de pessoas do mesmo sexo, que merece um comentário politicamente incorrecto.

João Aristídes Duarte - «Política, Políticas...»Como já tinha escrito numa crónica anterior esta não é questão que me interesse particularmente, mas ver agora Santana Lopes a criticar Cavaco Silva, passado pouco tempo de este último o ter agraciado, em Janeiro passado, com a Grã-Cruz da Ordem de Cristo, pelo seu desempenho nas funções de primeiro-ministro (de tão triste memória) não deixa de ser interessante.
Será esta crítica a vingançazinha de Santana Lopes (depois de já ter a medalhinha, claro) por aquela história da «má moeda», quando ele era o candidato do PSD nas eleições ganhas pelo PS de Sócrates com maioria absoluta?
O caso está a revelar-se de tal maneira complicado, que já mete a hierarquia do clero ao barulho, também. Efectivamente, o cardeal-patriarca de Lisboa disse o seguinte à Rádio Renascença: «Esperava que o Presidente usasse o veto político. Sabemos a fragilidade do veto político na nossa actual Constituição, mas ele, pela sua identidade cultural de católico, penso que precisava de marcar uma posição também pessoal.» Como se sabe a hierarquia da Igreja nunca se mete em política…
Qual seria alternativa de Cavaco Silva, perante a certeza de que, ao vetar o Diploma, ele voltaria à Assembleia e seria aprovado?
Agora, alguns da Direita católica até já pensam em arranjar um candidato para defender as suas posições ultra-conservadoras.
Para estes já nem Cavaco Silva parece ser o representante das suas ideias. E começaram, também, os envios de e-mails por parte de ultra-conservadores (pelo menos para mim) com o último grande sucesso de Quim Barreiros (o que não deixa, também, de ser bastante interessante), que se chama, exactamente «Casamento Gay» e tem uma letra que reza assim:

«Os políticos aprovaram o casamento gay.
Nem todos estão de acordo com a aprovação da lei.
O Zezinho paneleiro casou com o Manuel das tricas.
E convidaram a família, os amigos e os maricas.
Um casamento panasca com muita animação.
Os larilas beijavam-se numa grande confusão.
(…)
O cozinheiro falou com gestos de bichona
O menu apresentou: primeiro vaca galo… e como sobremesa
Banana, pêssego.»

Esse cantor engagé começou logo em 1975, em pleno «Gonçalvismo» com o célebre «O Malhão Não é Reaccionário» com versos como «Depois de 48 anos gritámos libertação», «Por o nosso malhão ser diferente chamaram-nos reaccionários», «Politizados ou não sabemos aquilo que queremos», «Honestos trabalhadores e pouco politiqueiros», «Não queremos cá ditadores» e «Abaixo os oportunistas e os fascistas do Marcello».
Quim Barreiros refere, no entanto, que o seu meio artístico está recheado de homossexuais e as reacções à sua cantiguinha até têm sido simpáticas. Além disso refere que desconhece o significado das palavras «homossexual» e «homofóbico». Também, em entrevista ao «Correio da Manhã», não deixa de salientar que fez uma cantiguinha usando o português corrente, porque o seu público não vai à Gulbenkian.
Isto tudo apesar de, há uns anos, ter lançado a canção «Não comunguei», com o refrão «Não comunguei (ler como um gay), sou casado e baptizado, mas não comunguei».
Enfim… como diria o Guterres: «É a vida!!!»
«Política, Políticas…», opinião de João Aristides Duarte

(Deputado da Assembleia Municipal do Sabugal)
akapunkrural@gmail.com