Sortelha é uma das aldeias medievais mais antigas de Portugal, que chegou a ficar despovoada durante as lutas da Reconquista Cristã. Hoje, é um destino turístico de eleição para quem procura as mais belas e históricas aldeias do País.

José MorgadoSORTELHA – Como cartão de visita, podemos observar as muralhas da aldeia. Mandadas edificar por D. Sancho I, em 1187, erguem-se com enormes penedos dispostos em forma circular, ganhando a forma de um anel. Disposição que em muito contribuiu para o seu nome. «Sortija», «Sortilia» ou «Sortela» são alguns nomes castelhanos que designam um jogo antigo de cavaleiros, que consistia em enfiar a ponta de uma lança num anel de pedrarias.
Mas a história de Sortelha remete-nos igualmente para a história do seu castelo, erguido numa escarpa vertical, a 760 m de altitude. Terá sido D. Sancho II a mandar fazer a reedificação do castelo, bem como a conceder o foral mais antigo a Sortelha em 1228. No entanto, foi apenas no reinado de D. Dinis que a defesa final da linha das fronteiras ficou definida nesta região de Portugal, com a assinatura, em 1297, do Tratado de Alcañizes. Não obstante as obras de restauro de que foi alvo, o castelo de Sortelha perdeu naturalmente a sua importância militar. No reinado de D. Manuel I, em 1510, nova carta de foro foi concedida à aldeia.
Nesta aldeia da Beira Alta, a pedra granítica é nota dominante. Apenas os verdes do vale lhe conferem cor. A entrada em Sortelha faz-se através de uma porta gótica do século XIV, sobre a qual se vê a «Varanda de Pilatos», balcão do reinado de D. Dinis, com mata-cães por onde, do alto, se atacava os agressores. Na ombreira de uma outra porta da muralha, situada no lado Oeste, duas ranhuras de pedra, representam duas medidas da época – a “«ara» e o «Côvado».
SortelhaChegando ao pelourinho, reparamos no sino que se ergue sobre o beirado do solar dos viscondes de São Sebastião. A visitar é também a Igreja Matriz, templo do século XIV, onde se destaca a talha dourada do altar-mor e o tecto mudéjar.
Numa aldeia de encantos mil, cuja arte do paleolítico lhe valeu a classificação de Património da Humanidade pela UNESCO, as casas de granito fundem-se com o pavimento tosco e encantam os curiosos turistas que deambulam pelas suas ruas. As gentes da terra vivem do turismo, por isso, apostam no artesanato, especialmente no trabalho de tapeçaria, bordados e elaboração de cestos.
José Saramago em «Viagem a Portugal», ao visitar Sortelha, ficou com a seguinte impressão: Entrar em Sortelha, é entrar na Idade Média (…). O que dá o carácter medieval a este aglomerado é a enormidade das muralhas que o rodeiam, a espessura delas e também a dureza da calçada, as ruas íngremes e empoleirada sobre pedras gigantescas, última cidadela, ultimo de sitiados, derradeira e talvez inútil esperança.
Se alguém venceu as ciclópicas muralhas, de fora, não há-de ter sido rendido por este castelinho de brincar.
Com esta última resenha histórica da nossa jóia, termino aquilo a que me propus em Junho, divulgar as aldeias consideradas históricas, vizinhas de Sortelha
Além destas nove, não referi, Castelo Novo (Fundão) Belmonte e Piódão (Arganil).
Outras povoações deveriam também fazer parte das Aldeias históricas e dos seus programas de recuperação e valorização, nomeadamente a aldeia de Algodres, Avô (Oliveira do Hospital), Cidadelhe (Pinhel) e Vilar Maior e Alfaiates (Sabugal) que se não são consideradas históricas, têm, contudo, muita história por contar.
«Terras entre Côa e Raia», opinião de José Morgado

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