É por uma estrada sinuosa, por entre montes e vales, que se chega às portas da aldeia-fortaleza medieval de nome Castelo Mendo. Estamos no distrito da Guarda e mais concretamente, no concelho de Almeida.

José MorgadoCASTELO MENDO – Chegando ao portal da muralha, somos recebidos por dois berrões que ladeiam a entrada, figuras monolíticas originárias da cultura celta. E há séculos que ali repousam, testemunhando o lento passo do tempo, numa terra, hoje, quase abandonada. Realmente, pouco mais de uma centena de pessoas ainda vive em Castelo de Mendo. Por triste que isso pareça, talvez o seu isolamento e desertificação tenham mantido este lugar igual a si próprio. Uma jóia perdida na montanha. As ruas desertas e as casas abandonadas dão-nos uma estranha sensação de intemporalidade.
A freguesia de Castelo de Mendo situa-se na margem esquerda do rio Côa, a cerca de 20 quilómetros da sede do concelho e é constituída pelas povoações de Castelo de Mendo e Paraizal, onde existe um velho e antigo relógio de sol.
A sua história é riquíssima, tendo sido cabeça de um concelho de grande importância, que dominava uma vasta área. O poder de outrora é ainda visível na actual povoação. É hoje uma fortaleza-museu. Vestígios de antigas estradas, cerâmicas e moedas provam a antiga importância da região, mesmo antes da chegada dos romanos, que encontraram aqui um antigo castro bem fortificado.
Castelo MendoNa Reconquista Cristã, Castelo de Mendo foi de crucial importância para a defesa das terras da margem esquerda do Côa. Daí à reconstrução do castelo foi um pequeno passo. D. Sancho II daria carta de foral a Castelo de Mendo em 15 de Março de 1229. Na mesma altura é criada uma feira franca, a realizar três vezes por ano. Foi a primeira feira medieval documentada do país.
Ponto de interesse nesta visita cultural é, o pelourinho manuelino de gaiola e colunelos e a mutilada Igreja Matriz.
A descrição feita por José Saramago em «Viagem a Portugal» não poderia ser mais fiel: «A primeira paragem do dia é em Castelo Mendo. Vista de lado é uma fortaleza, vila toda rodeada de muralhas, com dois torreões na entrada principal. Vista de perto é tudo isto ainda, mais um grande abandono, uma melancolia de cidade morta.
Vila, cidade, aldeia. Não se sabe bem como classificar uma povoação que tudo isto tem e conserva.
O viajante deu uma rápida volta, foi ao antigo tribunal, que na altura estava em restauro e só para mostrar as barrigudas colunas do alpendre, entrou na igreja e saiu, viu o alto pelourinho, e desta vez não foi capaz de dirigir palavra a alguém. Havia velhas sentadas às portas, mas em tão grande tristeza que o viajante deu em sentir embaraços de consciência. Retirou-se, olhou os arruinados berrões que guardam a entrada grande da muralha, e seguiu caminho.»
«Terras entre Côa e Raia», opinião de José Morgado

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