Damos continuidade à apresentação do léxico com as palavras e expressões populares usadas na raia ribacudana.
BARRA – cama de ferro. Ferro comprido com que se jogava ao «jogo da barra».
BARRABÁS – diabo (Clarinda Azevedo Maia – Batocas).
BARRANCEIRA – subida acentuada; ribanceira; barreira; ladeira.
BARRANHA – alguidar de barro usado na cozinha. Na barranha eram servidas as refeições conjuntas, em que cada um tirava grafadas. Também se diz barranho.
BARRANHÃO – alguidar de barro de grandes dimensões, próprio para preparar a massa para o enchido. José Manuel Lousa Gomes refere o termo barnhão, usado no Soito.
BARRÃO – porco não castrado; macho de criação (Júlio António Borges).
BARRASCO – porco para reprodução. Vítor Pereira Neves escreve barraco.
BARREIRA – subida acentuada; ribanceira; ladeira.
BARRELA – operação de lavagem da roupa, usando cinza e água quente. Brincadeira de rapazes, em que um é seguro para lhe desapertarem as calças e lhe enfiarem ervas. Descrição da barrela de lavar a roupa, por António Maria das Neves: «A ropa branca e mais delicada era colocada em cestos forrados com um lençol, colocando cinzas em cima e em seguida era regada com uma boa quantidade de água fervendo. Depois de pernoitar em ouso, era levada ao lavadouro.»
BARRELEIRA – pia de lavar a louça (Clarinda Azevedo Maia – Aldeia da Ponte).
BARRICA – vasilha em aduelas de madeira, para o vinho, com capacidade entre 30 e 200 litros (Manuel Santos Caria).
BARRICO – vasilha em aduelas de madeira, para o vinho, com capacidade até 30 litros (Manuel Santos Caria).
BARRIÇO – cabeço (Clarinda Azevedo Maia – Batocas).
BARRIGA A DAR HORAS – ter fome; estar ansioso por comer.
BARRIGADA – grande quantidade de comida; fartote; pançada.
BARRIL – bilha de barro para a água.
BARRISCADO – borrifado com água suja (Júlio António Borges).
BARRISCAR – borrifar (Júlio António Borges).
BARROCA – sulco profundo, aberto pelo escorrer da água das chuvas. Vale estreito e profundo.
BARROCAL – local onde há muitos penedos ou barrocos. Curiosa a definição de Célio Rolinho Pires: «estrutura óssea constituída pelo fraguedo maciço de granito que emerge nos altos das encostas».
BARROCO – penedo granítico de grandes dimensões.
BARROCADA – pedrada.
BARROLEIRO – pedra de granito picada, rectangular ou arredondada, com ligeira inclinação e saída para a cozinha, para lavagens e arrumações da louça (Vítor Pereira Neves).
BARRONDA – porca com o cio.
BARROTE – trave de madeira que, a modos de viga, sustenta o soalho.
BARRUGA – bolha formada na pele, geralmente nas mãos, devido à ferramenta (Clarinda Azevedo Maia – Aldeia do Bispo). O m. q. borrega.
BARRUMA – verruga, ou cravo, que aparece nas mãos (Vítor Pereira Neves).
BARRUNTAR – conjecturar; desconfiar; pressentir. Clarinda Azevedo Maia também refere esta expressão, que recolheu em Aldeia do Bispo, onde a terá ouvido no contexto de adivinhar ou pressentir o tempo. «Barruntando que da lura saíria coelho» (Abel Saraiva).
BARULHO – bulha; briga; desordem; confusão.
BARZABENAS – diabo; satanás, mafarrico. «Por artes de barzabenas» (Joaquim Manuel Correia).
BARZABUM – belzebu; diabo (Júlio António Borges).
BASBAQUE – pessoa reles; parvo; pateta.
BASBORINHO – burburinho; redemoinho provocado pelo vento (Vítor Pereira Neves).
BASCULHO – mulher suja e desajeitada. Mal amanhado, trambolho. Também se diz vasculho.
BASTARDO – cobra de grandes dimensões (Clarinda Azevedo Maia – Batocas).
BASTOADA – bordoada (pancada) com bastão ou arrocho (Duardo Neves).
BASUGA – gordo; cheio; barrigudo; anafado. Júlio António Borges refere bajuga.
BATAFORMA – socalco, batorel.
BATATADA – luta; briga; confronto físico. Andam à batatada.
BATATEIRO – indivíduo natural de Aldeia Velha.
BATE-CU – queda em que se bate com as nádegas no chão.
BATER A BOTA – morrer.
BATIFEIRO – esquisito a comer (Rapoula do Côa).
BÁTIGA – aguaceiro; chuva forte; bátega (Clarinda Azevedo Maia – Aldeia do Bispo).
BATOREL – socalco feito nas encostas para cultivar a terra. Clarinda Azevedo Maia, no seu trabalho de campo, recolheu o termo e dois significados diferentes: pequeno poço de água (Batocas); pessoa Gorda (Lageosa da Raia).
BATUCÃO – pancada.
BATUCAR – bater; varejar (Clarinda Azevedo Maia).
BAZÓFIA – soberba; prosápia; gabanço.
BAZULAQUE – intestinos e miúdos de animais; palerma (Júlio António Borges).
BÉ – diminutivo de Isabel (também se diz Béu).
BEBE-ÁGUAS – pessoa de pouca valia. Manuel Leal Freire escreve bebáguas.
BÊBERA – grande figo temporão (que amadura cedo).
BEBERAGEM – vianda para os animais, composta por hortaliças e farinha ou farelo, escaldadas em água (Manuel Santos Caria escreve buberage). Bebida desagradável (Júlio António Borges). Nas terras do Campo (Monsanto) dizem beberragem (Maria Leonor Buescu).
BECA – cabra; interjeição usada para chamar as cabras. «Beca, beca, quem quer rama trepa!» (Célio Rolinho Pires). Taberna – termo da gíria de Quadrazais (Nuno de Montemor).
BECHANA – o m. q. bucheira – peça do enchido (Clarinda Azevedo Maia – Batocas).
BECHINCHE – zaragata (Duardo Neves).
BÉCULAS – designação depreciativa de cara (Júlio Silva Marques e José Pinto Peixoto). O m. q. ventas.
(Continua…)
Paulo Leitão Batista, «O falar de Riba Côa»
leitaobatista@gmail.com
2 comentários
Comments feed for this article
Sábado, 15 Setembro, 2012 às 17:11
José Carlos Mendes
Cá vai o meu fiel contributo, Paulo, à magna tarefa em curso.
No Casteleiro, há outros dizeres, mas mais uma vez encontro aqui hoje bastantes coincidências que até me surpreendem.
Há pronúncias similares para alguns termos. Dizemos de outro modo parecido algumas coisas aqui trazidas hoje. Não dizemos BEBERAGEM, mas sim bobrais. Não BÊBERA, mas abêbra. Não BEBE-ÁGUAS, mas bebaugas. Não BARRANCEIRA, mas barronceira.
Não conheço palavras como: BARRUNTAR, BARZABENAS, BASTARDO (a significar cobra), BASUGA ou BATAFORMA
E usamos e tal e qual, por exemplo: BARRANHÃO, BARRELA, BARRICA, BARRICO, BARRIGA A DAR HORAS, BARRIGADA, BARRIL, BARROCA, BARROCO ou BARRONDA.
Assim se faz a diversidade diária da nossa terra.
Domingo, 16 Setembro, 2012 às 16:53
João Valente
Só um aparte:
Beca é cabra; e na gíria quadrazenha é taberna…. talvez porque bebedeira seja uma grande cabra!.