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O presidente da Câmara Municipal do Sabugal, António Robalo, escolheu o vereador Joaquim Ricardo, eleito pelo Movimento do Partido da Terra (MPT), para desempenhar funções em permanência no Município. Joaquim Ricardo vai acumular a vereação com o cargo de presidente do conselho de administração da empresa municipal Sabugal+.
Joaquim Ricardo, natural de Aldeia de Santo António, vai juntar-se a Delfina Leal e Ernesto Cunha no exercício de funções de vereador em permanência, por decisão do presidente da Câmara, comunicada hoje, 16 de Junho, na reunião semanal do executivo municipal.
Entretanto António Robalo demitiu-se hoje de presidente do conselho de administração da Sabugal+, tendo sido eleita uma nova administração, que será presidida por Joaquim Ricardo, tendo como vogais Vítor Proença e Fernanda, actual secretária do vereador Ernesto Cunha.
Este é o desenlace da autorização concedida pelo executivo ao presidente, na reunião de 19 de Maio, para que convidasse mais dois vereadores para exercerem funções em permanência. O primeiro a ser chamado foi Ernesto Cunha, eleito pelo PSD, que passou a exercer as novas funções em 1 de Junho, sendo agora a vez de Joaquim Ricardo, do MPT, assim se completando, sete meses após a tomada de posse do executivo, o elenco de vereadores que acompanhará o presidente no exercício de funções executivas em permanência.
Capeia Arraiana apurou que esta solução estava já em preparação desde há algum tempo, tendo acontecido conversas confidenciais entre o presidente António Robalo e Joaquim Ricardo com vista a atingir um entendimento.
Tudo indica que desta forma fica em definitivo ultrapassado o problema da falta de maioria do PSD no executivo, estando agora garantida a governabilidade política da Câmara, com esta coligação entre o PSD e o MPT. O acordo não é porém extensível à Assembleia Municipal, onde os deputados eleitos pelo MPT manterão autonomia de decisão nas votações.
A oposição ao executivo será agora assumida pelos três vereadores do Partido Socialista, António Dionísio, Luís Sanches e Sandra Fortuna.
Administração do Capeia Arraiana
Muitas vezes deambulamos pela natureza livre e avistamos, árvores, cursos de água, prados e searas, colinas e casas e outras mil alterações da luz e das nuvens mas, lá por atendermos a um pormenor ou contemplarmos isto ou aquilo, ainda não estamos conscientes de ver uma «paisagem».
Todos estes elementos, contemplados directamente e de forma isolada ainda não são paisagem.
Uma palete de blocos, não é um muro; pelo contrário, só depois de sobrepostos e ligados com argamassa, isto é, quando um conteúdo unificador lhes dá uma forma, é que se tornam muro.
Da mesma forma, só quando a nossa consciência, para além dos elementos, usufrui de uma totalidade nova, de algo uno, não ligado às suas significações particulares, nem delas mecanicamente composto; só aí temos a «paisagem».
Isto explica-se porque a natureza não tem fracções. Ela é a unidade de um todo e no momento que dela destacamos algo, deixa de ser natureza, porque ela só pode existir no seio de uma unidade sem fronteiras.
A natureza, que no seu ser e no seu sentido profundos nada sabe da individualidade, graças ao olhar humano que a divide e que das suas partes constitui, pela sensibilidade artística, unidades particulares, é reorganizada para ser a individualidade respectiva que apelidamos «paisagem».
É precisamente o que faz o artista: extrai do caos do mundo um fragmento, apreende-o e forma-o como uma unidade, que agora encontra, em si mesma, o seu sentido e intercepta os fios que a ligam ao universo e reata-os de novo no ponto central que lhe é peculiar. Isto fazemos nós também de forma mais simplista, quando contemplamos uma «paisagem» em vez de um prado, de uma casa, de um riacho e um séquito de nuvens de forma isolada.
Quando vemos uma paisagem, e já não uma soma de objectos naturais que a compõem, temos uma obra de arte in statu nascendi. Isto significa que o olhar, pelo jungir de todos aqueles elementos como unidade, tornou operante, por embrionária que seja, a nossa sensibilidade artística. Reconfigurou a natureza numa primeira impressão das coisas, aproximando-se da criação artística, que é o quadro superior da contemplação geral da «paisagem».
O suporte relevante desta reconfiguração é a «disposição anímica» da paisagem (sentimento desencadeado pela paisagem) que, influenciando o reflexo afectivo do observador, penetra todos os seus elementos particulares, coadunando-os numa unidade apercebida, levando a alma contemplativa a enxergá-la para lá de uma simples soma de fragmentos dissemelhantes. A este propósito é bem elucidativo este magnífico texto do grande filósofo alemão Heidegger:
«Eu mesmo nunca observei realmente a paisagem. Sinto a sua transformação contínua, de dia e de noite, no grande ir e vir das estações. A gigantes da montanha e a dureza da rocha primitiva, o contínuo crescer dos abetos, a festa luminosa e simples dos prados florescentes, o murmúrio do ribeiro da montanha na vasta noite de Outono, a austera simplicidade dos campos totalmente cobertos de neve, tudo isto se junta e sobe e vibra até lá cima através da existência diária. E, novamente, isto não acontece nos estantes desejados de uma submersão gozosa ou de uma compenetração artificial, senão somente, quando a própria existência se encontra no seu trabalho. Só o trabalho abre o âmbito da realidade da montanha. O movimento do trabalho permanece fundido no acontecer da paisagem […] e o trabalho filosófico não acontece como a isolada ocupação de um extravagante, mas que tem uma íntima relação com o trabalho dos camponeses. Meu trabalho assemelha-se ao do jovem camponês quando sobe a montanha rebocando o trenó de montanha e depois, uma vez bem carregado com os troncos de faia, o conduz à sua cabana em perigosa descida; ao do pastor quando com o seu andar lentamente meditabundo conduz o seu gado montanha acima […] O homem da cidade pensa que “se mistura com o povo” contudo não condescende entabular uma larga conversa com um camponês. Pelas tardes, quando durante a pausa do trabalho me sento com os camponeses à volta da estufa ou na mesa junto ao canto onde está a imagem do Senhor, quase nunca falamos. Em silêncio fumamos os nossos cachimbos. Entretanto talvez troquemos uma palavra. Que o trabalho se acaba na floresta, que a noite anterior se meteu uma marta no galinheiro, que possivelmente amanhã uma vaca parirá, que o camponês Oehmi teve um ataque, que o tempo em breve mudará. A íntima pertença do próprio trabalho na floresta negra e seus habitantes vem de um centenário apego Suavo-Alemão à terra que nada pode substituir.»
(in «Porque permanecemos na província», 1934).
Como vemos, para Heidegger, a Floresta Negra despertava-lhe uma «disposição anímica» para o trabalho filosófico. Da mesma forma que Heidegger, também nós podemos dizer que uma paisagem nos desperta sentimentos de serenidade, seriedade, heroicidade, monotonia, comoção, melancolia, etc. Algumas vezes o sentimento que a paisagem desperta é tão intenso que o próprio observador se integra como elemento na própria «paisagem», como resulta no seguinte texto poético:
«Aldeia deserta!
Aqui descansarei um dia. A minha vontade já não me leva além destes montes. Pertenço a estes cabeços e fragas. Está decidido!
Aqui da colina do castelo, voo mais alto que os outros pássaros, planando sobre as ruas desertas como um milhafre. Este voo calmo de todos os dias, me basta: Duas voltas sobre a praça, uma passagem rasante à flecha do campanário e a descida abrupta sobre a escarpa do rio, onde fiz o ninho.
Aldeia vazia
Terra dos dias calmos
Só as minhas asas
Flamejantes!»
Tais «disposições anímicas», conceptualmente típicas, podem decerto asserir-se acerca da paisagem já antes realizada; mas a disposição psicológica que lhe é imediatamente própria, e que se tornaria outra com a modificação de cada linha, essa é-lhe inata, está indissoluvelmente ligada ao despontar da sua unidade formal. Pode o sentimento resultante ser o mesmo para diversas paisagens, contudo a disposição psicológica que o desencadeia nunca é a mesma, porque os elementos nunca são os mesmos.
Uma «paisagem» de serra pode despertar o mesmo sentimento de melancolia que uma da beira-mar. Contudo a disposição psicológica que desencadeou aquele sentimento não foi a mesma, porque os elementos também o não são os elementos que a tornam cada «paisagem» única. É essa particularidade dos elementos que proporciona ao observador uma disposição anímica própria, que não é a mesma se modificarmos alguns deles.
Uma aldeia medieval amuralhada rodeada de uma linha de horizonte sóbria e despida, não desperta o mesmo sentimento de uma aldeia medieval amuralhada rodeada de uma linha de horizonte povoada com dezassete modernas torres eólicas, porque a disposição psicológica do observador num caso e noutro desponta específicas unidades formais diferentes. Elementos diferentes levam a disposições psicológicas diferentes… Paisagens diferentes… Sentimentos diferentes.
Sortelha sem as eólicas proporciona-me sentimentos de heroicidade, antiguidade, rusticidade, simplicidade, melancolia, nostalgia. Com as eólicas proporciona-me um sentimento de desconforto pela descontextualização espácio-temporal dos seus elementos.
É pois ao afecto e ao sentimento estético que se reduz a problemática das eólicas em Sortelha, caros leitores.
Sortelha até pode existir com as eólicas. Poder, pode… Mas, como se explicou, não é a mesma «paisagem»!
Mas isto só percebem os que estão treinados a escutar a voz do coração…
Isto é, quem for sábio!
«Arroz com Todos», opinião de João Valente
joaovalenteadvogado@gmail.com
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