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Esta semana morreu com 87 anos o Senhor Pires, filho do antigo proprietário da padaria e do cinema D. Dinis do Sabugal.
Tive o privilégio de ter convivido com a família Pires, enquanto criança com a Senhora Zézinha, ainda prima de minha avó Isabel, mas sobretudo nos anos 80, quando vindo estudar para Lisboa me acolheram em sua casa, onde vivi 6 anos. A toda a família o meu agradecimento, gratidão e o meu Bem-haja E foi como forma de homenagem ao Sr. Pires que esta crónica surgiu, até porque reencontrei os filhos (Tó Mané e Zé Quim) que não via há bastante tempo, e com quem nesta semana pude lembrar e relembrar tempos passados. Está claro, que o cinema nosso refugio nos finais dos anos 70 foi lembrado.
O edifício, localizado no ainda largo do cinema, foi construído segundo me foi dito, nos meados dos anos 40. Por ele passou muita da vida do Sabugal, das suas gentes, dos seus costumes. Tenho dele uma vaga ideia, da altura que ainda projectava filmes. Lembro-me da cortina vermelha (seria vermelha?) que separava a porta de entrada da sala. Lembro-me do Sr. David na figura de porteiro e lembro-me de ter lá visto alguns filmes, sem ter contudo, qualquer recordação exacta de quais.
O cinema morre.
Depois vem Abril e as recordações, estas sim já bem presentes, trazem-me de novo os hinos da revolução: são os encontros com o MFA, as sessões de esclarecimento dos partidos políticos, o despertar dos sabugalenses para a realidade política e social que se vivia.
Foi ainda naquela velha sala, já sem actividades regulares, que tive contacto com o teatro, eu, e provavelmente muitos dos jovens da minha idade quando um grupo de jovens sabugalenses, universitários em Lisboa, levou à cena a peça de Bernardo Santareno «O Crime da Aldeia Velha».
Ainda na década de setenta, a sala serviu para passar algumas fitas, mas acolheu igualmente os Bailes de Finalistas – foi lá que o baile de finalista do meu ano, se realizou e foi sala de ensaio do grupo musical «Stradivarius». Mas, as melhores recordações que tenho do edifício, foi quando uma parte dele se transformou no primeiro e único clube privado do Sabugal.
Uma tarde andávamos algures pelo Sabugal e o Zé Quim, lembrou-se que um dos espaços do cinema (ainda com condições de segurança) daria uma boa sala de estudo. Pensou e concretizou. Nessa mesma tarde fui a casa, onde tinhas umas latas de tinta, e começámos a pintar as paredes.
Não me lembro se a «sala de estudo» ficou pronta nessa tarde. Lembro-me sim, que esse espaço baptizado, por nós, de Bataclâ, rapidamente passou a ser a disco que não existia, o espaço dos amigos, o sítio das nossas vidas. Ainda hoje muitos se lembram das tardes lá passadas, dos amores por lá havidos, do tempo das descobertas.
Hoje do antigo cinema, restam memórias e no seu lugar, ergue-se um prédio de alguns andares. Era condição do licenciamento do Paliz Hotel, continuar a existir uma sala de cinema – nos primeiros anos, após a construção ainda existia a placa a identificar o cinema – hoje não sei se anda por lá. Mas, os compromissos nunca se concretizaram, e perdeu-se o espaço, construindo-se outro é verdade, mas sem o cheiro e a essência do passado.
São recordações de criança, recordações de adolescente, recordações de uma terra que é a nossa. Não tenho dúvida que aquele velho edifício, para muitos dos sabugalenses, faz parte do filme da sua vida.
«Largo de Alcanizes», opinião de José Manuel Monteiro
jose.m.monteiro@netcabo.pt
Os STRADIVARIUS surgiram no panorama musical sabugalense, no final dos anos 70. Antes de se chamarem STRADIVARIUS chamam-se CLAVE (havia quem pronunciasse «Claive», pensando que era um nome inglês), mas tinham outros elementos na formação.
Era um grupo de baile, mas que, também, tocava algumas músicas mais «pesadas».
O grupo era formado por Totó (guitarra), Horácio (teclas), François (baixo) e Rochita (bateria).
Adquiriram os amplificadores Marshall, as válvulas, aos Spartaks, da Guarda, então em fase de mudança da sua aparelhagem.
Estes amplificadores eram (e ainda são) do melhor do mundo em termos de som. Tanto que um membro dos Mão Morta e dos Mundo Cão, chamado Vasco Vaz, cujo pai é natural do Soito, tendo visto um desses amplificadores a servir de «altifalante» do arraial, nas Festas de S. Cristóvão, do Soito, em 1995, ficou todo admirado e referiu que se o proprietário o vendesse, ele comprá-lo-ia, já que não era muito vulgar encontrar ainda amplificadores a válvulas, nessa época.
Foi, aliás, com a aparelhagem de som dos STRADIVARIUS que os Faíscas realizaram o concerto, já que apenas trouxeram as guitarras e algum (pouco) material de percussão.
Os STRADIVARIUS ensaiavam no antigo Cinema-Teatro do Sabugal. Foram inúmeras as vezes que fui ver os ensaios do grupo a esse local.
Horácio, hoje advogado, com escritório no Sabugal, e na época professor no Externato Secundário do Sabugal, tocava com um órgão Farfisa, e um amplificador da mesma marca. Ao órgão estava, também, acoplado um «Lesley».
Os STRADIVARIUS, para além das «marchas» e dos temas de baile da época (ainda não estava inventada a música Pimba, que é, hoje, norma nos grupos de baile) tocavam temas de Uriah Heep, Beatles, John Miles, etc.
As fotografias dos membros do grupo (aqui reproduzidas, numa colagem) foram tiradas no dia 27 de Maio de 1978, no Sabugal, no dia do concerto histórico dos Faíscas, quando os STRADIVARIUS estavam a tocar no palco. O fotógrafo que tirou essas fotografias foi Viriato Lopes, um dos mais famosos do distrito da Guarda, à época, e que não falhava nenhum acontecimento do género Baile de Finalistas.
Estas fotografias foram, depois, reproduzidas num cartaz onde estava escrito o nome do grupo e que servia de promoção.
O François, que tocava baixo, era o benjamim do grupo e nunca mais o vi, desde essa época. Sei que era de Quadrazais, mas perdi-lhe, completamente, o rasto.
Os restantes membros estão estabelecidos no Sabugal, em diversas actividades.
A pergunta que se impõe é: para quando uma reunião do grupo para um espectáculo, que será, certamente, histórico?
Bem se sabe que os afazeres profissionais de cada um não deixarão grande margem de manobra, mas «matar saudades» era muito bom.
«Música, Músicas…», opinião de João Aristides Duarte
akapunkrural@gmail.com
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