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Nos meus passeios pelo Côa, vêm-me à memória episódios da minha adolescência. Um deles, inesquecível, foi a travessia do Pego (zona do rio Côa junto à cidade) a pé! Sim a pé, era um dia de Inverno, um dia gelado, o rio estava transformado numa estrada de gelo. Então eu, o João Leitão e o João Carriço, temerariamente atravessamos de uma margem à outra.
E hoje querido leitor(a)? Presumo, oxalá me engane, que o Côa não voltará a gelar da mesma maneira, todos sabemos porquê, cada vez se acentua mais o Aquecimento Global. Ninguém pode ignorar que uma catástrofe ecológica ameaça o nosso Planeta, a Mãe Terra está ferida e o futuro da Humanidade está em perigo. Quem feriu a Mãe Terra? Um sistema económico cuja lógica se baseia na concorrência entre empresas nesta economia mundializada e, no progresso e crescimento ilimitados. Este sistema de produção e consumo procura a ganância ilimitada, conseguiu com isto fazer a separação entre o homem e a natureza, entre o homem e a Mãe Terra. Esta, a Mãe Terra, é um ser vivo com a qual temos uma relação interdependente e também espiritual (quantos de vós queridos leitores[as] da Diáspora vos lembrais das vossas aldeias, dos vossos campos, dos vossos rios e ribeiros, e até dos animais que povoam as vossas terras), mas o homem tudo transformou numa mercadoria: a água, a biodiversidade, a vida, e até a morte. A desflorestação dos bosques é um autêntico atentado à natureza, só a Amazónia perde por ano uma superfície de perto de seis mil quilómetros quadrados de arvoredo, na África e na Ásia acontece o mesmo. A agricultura industrial envenena com pesticidas os campos agrícolas, estes pesticidas que são produtos tóxicos, estão incorporados na cadeia alimentar, o que comemos está envenenado, o aumento de casos de cancro é uma consequência disto. Há países na Europa cuja contaminação provocada pelas actividades industriais e agrícolas (agricultura industrial) afecta 80% dos seus rios e 50% das suas capas freáticas. Num outro, uma empresa siderúrgica, das maiores da Europa, contamina o Mar Mediterrâneo com toneladas de produtos tóxicos, calcula-se que entre 2007 e 2012, 10.000 pessoas morreram por doenças que tiveram origem nessas emissões tóxicas. Em Portugal, as agressões ambientais matam bastantes portugueses por ano.
A degradação do meio ambiente e a mudança climática atingem presentemente niveis críticos e são uma das principais causas das migrações internas e também externas, na África e na Ásia. Segundo algumas projecções, em 1995 havia aproximadamente 25 milhões de migrantes climáticos, presentemente são 50 milhões, e prevê-se que para o ano de 2050 sejam entre 200 e 1000 milhões de pessoas deslocadas por causas da mudança climática.
A Humanidade está num dilema: ou continuamos com a contaminação, a devastação e a morte, ou entramos no caminho da harmonia e de respeito com a natureza e com a vida. Não há meio-termo.
Querido leitor(a), não tenho saudades do passado, ninguém tem saudades do passado, do passado têm-se boas ou más recordações, tenho saudades de um futuro diferente, de um futuro melhor, de ver a Mãe Terra sarada, mas já não verei, sabe porquê ? Porque para estabilizar o sistema climático é preciso reduzir para metade as emissões de CO2 nos próximos 40 anos!
«Passeio pelo Côa», opinião de António Emídio
ant.emidio@gmail.com
Há pouco, muito pouco, há escassos dias, assistimos aos minutos iniciais de um novo ano. Será (assim julgo) um ano importante que precisamos e desejamos vencer.
Ora, no ano findo, a crise, apesar de avisada, chegou e trouxe perplexidade, como se chegasse de surpresa, tal foi a sua magnitude. Houve quem não quisesse acreditar nela mas, como em tudo na vida, ignorar não é evitar e ela aí está, implantada e recheada de angústias.
Vencer esta crise é como vencer um campeonato do mundo de futebol, tão grande e tão geral é a sua amplitude assim como é enorme a ansiedade instalada.
É importante entrar no ano novo com o pé direito e julgo que é geral a vontade de ver com atenção os momentos iniciais do jogo. É como se, logo ali, tudo se decidisse.
Assim meditando, segui a linha do rio recordando passados recentes (apenas de aparência sólida) que se esboroaram num futuro repentino e diferente, quase oposto. Fraquíssima consistência mundana!
Tudo me parece, agora, conversa frágil. Tudo me lembra histórias de crianças e tudo é como se eu próprio tivesse falado com os autores ficcionistas.
Valha-nos o rio, pensei. O rio é diferente, é duradouro e persistente, ou melhor, é eterno.
Em tempo de superação de crise hei-de levar como exemplo a imagem do rio nos olhos, o seu correr límpido, o seu seguir perseverante, as suas sóbrias margens, as suas nuvens e o seu sol. Levarei também os seus sons nos ouvidos até que o ano novo se faça velho, até ao preciso momento de uma nova passagem de ano. E hei-de ir como quem diga um poema ao vento, ao vento que beija e ondula a linha de água. Esperarei, portanto.
A crise tem, claro, todo o aspecto de ser marcante. O que dela traduzimos não é tudo, mas é muito. Esperemos que em algum tempo ela toque corações. É que o mundo, cada vez mais, se divide em sacrificados e instalados. Grande divisão, esta, do mundo.
Para o ano, quereria que a minha pena aqui voltasse, fulgurante, no registo de histórias mais felizes e com alguma poesia porque, para além do resto, um ano duro será duro e triste se ficar isento de raios de poesia.
Peço, então, pouca coisa para este ano que ora começa. Que se possa, ao menos, trabalhar respeitando a ordem estabelecida por leis procedentes. Que nem tudo mude (como as regras a meio do jogo) ao sabor de específicas vontades. Peço ainda uma amenização dos sacrifícios e que estes (quando necessários) sejam lúcidos já que não podem ser irrelevantes e, já agora, que os sacrificados possam ganhar, uma vez por outra, algum jogo decisivo.
Fico-me, finalmente, pelo desejo do melhor ano possível para todos.
«Terras do Jarmelo», crónica de Fernando Capelo
Há cerca de meia dúzia de meses abordei o Sr. Eng.º António Borges, Director de Serviços da Autoridade Florestal Nacional do distrito da Guarda, no sentido de se poder repovoar o rio Côa com espécies de trutas autóctones (fário).
O Sr. Eng.º Eng.º Borges pediu-me para lhe dirigir o pedido por escrito o que de facto aconteceu.
Disse-me que o pedido ficava registado e logo que houvesse oportunidade a acção seria desencadeada. Aconteceu hoje, dia 28 de Agosto de 2011.
Por volta das 10,30 horas chegou a carrinha, proveniente do viveiro de Manteigas, com o recipiente e respectivo oxigénio, que continha mil e duzentas trutas.
O Sr. Eng.º Borges, que havia chegado um pouco mais cedo, comandou as operações e lá fomos cerca de uma dúzia de amigos fazer o desejado repovoamento.
No dia anterior tive o cuidado de ligar ao meu amigo Presidente da Junta de Vale de Espinho a dar-lhe conhecimento do que ia acontecer e pedi-lhe para contactar com o Presidente da Associação de Caça e Pesca dessa mesma freguesia.
Convidei-os a participar na acção e disse-lhes que a Junta de Freguesia e a Associação de Caça de Foios ofereceriam o almoço na sede da ACPF. O convite foi aceite e foi com muito amor e carinho que recebemos e tratámos esses nossos amigos e conterrâneos.
As primeiras cem trutas foram lançadas junto da ponte romana de Vale de Espinho e depois subimos em direcção aos Foios tendo depositado mais, cerca de cem trutas, em onze locais diferentes.
Para que tudo corresse bem e com toda a transparência convidámos alguns pescadores que nos iam indicando os locais que lhes pareciam mais indicados para o efeito.
Confesso que todos ficámos imensamente satisfeitos com esta acção que reconhecemos altamente interessante e muito pedagógica.
Este trabalho teve honras de televisão nas pessoas dos amigos Jorge Esteves e Ismael Marcos da RTP1.
Logo que lhes demos conhecimento do evento manifestaram, de imediato, disposição e vontade para fazerem a respectiva cobertura. Filmaram e entrevistaram técnicos, autarcas e cidadãos das duas localidades.
Quem pretender ver a reportagem que sintonize o canal 1 da RTP, amanhã, quinta-feira, a partir das 18 horas.
Interpretando fielmente o sentimento dos associados das duas colectividades (Foios e Vale de Espinho) e cidadãos em geral, pretendemos agradecer ao Sr. Eng.º Borges e aos dois trabalhadores dos serviços a forma como conduziram todo o processo sem que nenhuma trutinha (tamanho de um dedo) tivesse morrido.
Fazemos então um apela à consciência das pessoas, de Foios e Vale de Espinho, para que compreendam e respeitem estas acções, não envenenando nem bombardeando estas espécies indefesas.
A Lei existe e todos a deveremos cumprir e respeitar. Quem tenha a ousadia de praticar tais actos de vandalismo que pense duas vezes antes de o fazer. Se a vontade ou necessidade de trutas for assim tão grande que pense que com o dinheiro das bombas ou do veneno poderá ir ao viveiro Trutalcôa e comprar uns quilitos para matar os desejos.
Tanto os dois Presidentes de Junta como os Presidentes das duas Associações – José Leal e Tó Coixo – solicitaram ao Sr. Eng.º Borges uma maior vigilância e fiscalização, sobretudo nos meses de Verão, visto ser nessa altura que se praticam as acções de crime e vandalismo.
Vamos procurar ser todos vigilantes e se tivermos conhecimentos de actos de vandalismo deveremos denunciá-los, de imediato, às autoridades para que a justiça possa ser aplicada.
Temos conhecimento de que vai havendo um acréscimo de lontras – espécie predadora – mas o homem continua a ser o predador mais perigoso.
Sensibilize-se e eduque-se o homem já que a Mãe Natureza lá se vai encarregando de fazer o resto, ou seja o equilíbrio ecológico.
«Nascente do Côa», opinião de José Manuel Campos
(Presidente da Junta de Freguesia de Foios)
jmncampos@gmail.com
Detenho-me, num olhar, perante o espaço que, das escarpas da Estrela, se estende e acinzenta para bandas do Sabugal.
Num relance mais curto e mais a leste chega-me o meu Monte, o Monte do Jarmelo.
Aplanam-se, depois, as distâncias até se perderem nas longínquas serranias espanholas. Adivinho, com grau de absoluta certeza, que, a meio caminho, se alonga um vale, o vale do Côa, profundo, abrupto, apertado e quente.
E sei, claro, que por aí se esvaem as águas de um rio. Águas oprimidas pelo aperto e alteza das margens. Águas, poucas, agora que se vão na lentidão estival enquanto isentas de chuvas. O percurso dessas águas ocorrerá, em ambiente oprimido, numa extensão de escassos quilómetros e numa luta constante com as margens, como se fizessem uma incessante procura de liberdade mesmo antes de encontrar a foz.
Neste outro monte, num monte povoado, ergue-se a Guarda, meu ponto de observação, cidade envolta e distraída na agitação da tarde.
Entre o movimento e a extensão dos espaços silenciosos permito-me imaginar paisagens, carentes de verdura nesta época do ano e ponteadas de aflorações umas mais cinzentas que outras.
Entre a cidade e os campos espargem-se aldeias, que não crescem mas minguam e que insinuam vidas a transbordar de tradições e de labutas rurais.
Presumo, essas aldeias, esmorecidas fazendo imagem com casas de granito cinzento ou amarelo por entre outras casas cujos modelos foram importados da Europa. Umas e outras se demarcam no interior de um espaço castanho/avermelhado definido pelo tom dos telhados. São aldeias que se desviam, nos longes, como se fugissem, como se quisessem evitar, o açambarque das cidades.
Ainda pairam algumas nuvens nesta tarde. Lembro-me agora que a névoa chegou de manhã. Ao longo do dia a humidade mais baixa foi-se dissipando e, no céu, foram-se agrupando as nuvens. Formaram grupos espessos, cinzentos, quase negros. Agora, ao final do dia, um leve vento dispersou-as. Parte delas disfarçam-se e expõem-se em figuras pitorescas. Houve nuvens que se alongaram e emagreceram deixando-se repassar por raios de sol fraco, fazendo lembrar pedaços de um enorme manto que se esbranquiça na passagem da luz.
Lá mais além, na altura longínqua da montanha espanhola , parecem juntar-se todas as nuvens num doce enlace entre a Serra e o Céu.
Olhando, assim, vou esquecendo azáfamas e vou entrando no abstracto mundo da imaginação onde me entretenho lendo espaços, decifrando e comparando formas, associando-as a imagens reais ou mesmo a acontecimentos quotidianos.
É este o Céu que me cobre a mim, à Guarda, à raia e à cidade do Sabugal.
Ler os espaços que refiro é como ler livros abertos, livros ilustrados com Céus, casas e paisagens, livros recheados de tradições e de saberes ancestrais.
Tudo se proporciona, portanto, para leituras gostosas. Os espaços estão sempre disponíveis. Basta querer lê-los.
«Terras do Jarmelo», crónica de Fernando Capelo
Havia ribeiras, sim, como a Pêga ou as Cabras mas, qualquer delas, não poderia ser comparada ao Côa que era um rio grande, arraiano e, todo inteirinho, português.
O Douro e o Tejo eram grandes, sim senhor, mas nasciam em Espanha. O Côa era grande, também, mas nascia em Portugal. Vinha dos lados do Sabugal. Contornava, a uma distância razoável, o Jarmelo e seguia por bandas de Espanha, sempre ao longo da fronteira sem nunca se internacionalizar. Propunha-se engordar o Douro, claro, como se aprendia na escola primária, na cantilena dos rios e afluentes. Mas, Côa e Douro, apenas se abraçariam numa raia mais a norte, nas proximidades de Vila Nova de Foz Côa.
Assumidamente fronteiriço o Côa esgueirava-se, escorregadio, qual cobra gigante e prateada, raia adentro, sinalizando a proximidade da fronteira sem se inibir de interferir nas vidas arraianas!
O Côa não era, portanto, um rio qualquer. Investia-se de missões específicas. Era tido e achado em muitos actos contrabandísticos e empenhava-se regulando-os. Por vezes ajudava os guardas. Outras vezes facilitava contrabandistas.
Nesses tempos, idos, há mais de três décadas, contrabandeava-se de tudo. As raias (portuguesa e espanhola) praticavam um comércio clandestino amalgamado e abrangente que incluía de um pouco de tudo: pão, galhetas, café, cacau, chocolates, carnes, azeites, óleos, alpergatas, botas, panos, enxadas, tabacos e muito, muito mais. De forma legal quase só os rios cruzavam a fronteira!
Aprendi o Côa, em meados dos anos sessenta, mesmo antes de o cantarolar na escola primária. Naquela altura os rios decoravam-se a cantar. Mas, para mim, o Côa nunca foi um rio de cantigas. Sempre foi real, extremamente real. Conheci-o, cruzei-o e molhei-me nele milhentas vezes.
O São Roque, sítio carismático da margem esquerda, associava-se ao rio. Foi e é local de feiras, festas e romarias. Foi praia, palco de brincadeiras, lugar de merendas e convívios. Há lá capela e ponte a ligar as arribas.
Na minha adolescência, por estas bandas, as águas do rio eram completamente isentas de poluições. Sobretudo no Verão, quando paradas e observadas de perto, lembravam espelhos enormes reflectindo não só a frescura do arvoredo marginal mas também as agruras dos montes medianamente afastados.
A minha relação com o rio é da minha idade e, entre nós, coexiste uma empatia crescente que se renovou em cada reencontro. Sobram-me, agora, retratos antigos que me reavivam imagens e recordações.
De quando em vez, faço questão de me pôr a sós com o Côa. Procuro-o como quem procura um velho amigo. Falo-lhe, conto-lhe, pergunto-lhe e escuto-o. Cheiro-lhe os ares, as águas e as margens. Lanço-lhe olhares profundos tentando decifrar-lhe segredos. Às vezes olho-o suavemente deixando que os meus olhos o percorram e se percam pelos sítios mais recônditos. Olhares profundos e olhares suaves acabam por se reencontrar sobre as águas, entre as margens. E, sempre, sempre após momentos da mais perfeita sintonia ambos (eu e o rio) concluímos que a raia só pode ser como é porque é assim o rio Côa.
«Terras do Jarmelo», crónica de Fernando Capelo
O actual concelho do Sabugal tem afinidade com o planalto do baixo Douro, tal como tem com o Norte da actual Beira Baixa. Isto pela simples razão de que sempre houve uma linha de fronteira a dividir o concelho numa zona Norte, que abrangia os antigos concelhos de Alfaiates e Vilar Maior, climática, cultural e historicamente mais ligada ao planalto do Águeda e Douro e outra, mais a Sul, abrangendo os antigos concelhos de Touro, Sortelha e Sabugal, com afinidades à Beira Baixa.
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Fig. 1 – Fernando A. Seco 1560 |
Fig. 2 – Outro pormenor do mesmo mapa |
Fig. 3 – Pierre Mortier Séc. XVII |
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Fig. 4 – Sanson d’Abdeville Geógrafo D. João IV (1654) |
Fig. 5 – Autor desconhecido | Fig. 6 – António Vizarro 1704 |
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Fig. 10 – Charles Allard Séc. XVIII |
Fig. 11 – Nicolau Vischer Finais séc. XVIII |
Fig. 12 – Placido Agostinho Finais do séc. XVIII |
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A divisão administrativa, eclesiástica e judicial entre estas duas fronteiras sempre existiu desde o tratado de Alcanizes até à reforma administrativa do século XIX que incorporou os concelhos do Norte no do Sabugal, porque aqueles, enquadrados na bacia hidrográfica do Côa (fig. 5), que corre para o Douro, pertencendo inicialmente ao bispado de Cidade Rodrigo até D.João I, sempre foi do bispado de Lamego e depois de Pinhel (até à supressão deste) e da correição judicial de Pinhel e província de Trás-os-Montes (sub-região de Riba de Côa), enquanto os do Sul pertenceram sempre ao Bispado da Guarda, correição judicial de Castelo Branco e Província da Beira, como Penamacor. in Mapa de Portugal Antigo e Moderno, tomo I, 1762 (e Figs. 3 a 12).
A fronteira física entre estas duas áreas, administrativas, judiciais e religiosas coincidia com as dos limites Sul dos concelhos de Vilar Maior e Alfaiates, as quais seguiam pela linha da ribeira de Aldeia da Dona (ribeira de Palhais, figs. 3 e 4) até à fronteira com Espanha (figs. 3, 4, 7, 10 e 11).
Aliás, a ribeira de Palhais (de Aldeia da Dona) era, como as ribeiras de Arnes e a do Meimão, que passa no Sabugal, um afluente da ribeira de Côa, que por sua vez, todos os mapas antigos (figs. 1 a 11) de Portugal até aos fins do século XVIII (fig. 12) faziam nascer em Alfaiates, passando em Vilar Maior e nunca no Sabugal.
E que assim era, comprova-o a descrição pormenorizada de Frei Bernardo de Brito (que era natural de Almeida e sabe por isso do que fala) ao referir que «O rio côa […] nasce em Alfayates e mete-se no Douro junto a Vila Nova de Fozcoa; é rio de muita cópia de peixe, como barbos, bogas, bordalos e outros modos de pescaria. A cor das suas águas é pouco clara, tirante a verde escuro; é de malíssima digestão e muito pesada, causa tristeza, dores de barriga e dores de cabeça, engrossa o entendimento, e para mulheres formosas é de muito pouco proveito porque lhes dana o carão notavelmente, só tem virtude para tingir lãs, e cardar ferro, que neste particular é excelente». in Geografia Antiga da Lusitania, 1597.
Corrobora-o Duarte Nunes de Leão ao afirmar que «a ribeira de Coa de tralosmontes, nasce junto de Alfaiates e vai-se meter no Douro, não longe de Vila Nova de Foscoa» […] e que os povos deste rio chamavam-se «cudanos e transcudanos». in Descrição do Reino de Portugal, ed. de 1610, fol. 38 v.º
Prova-o inequivocamente os pormenores dos doze mapas que reproduzo em rodapé (figs. 1 a 12).
Só a partir de fins do século XVIII é que começou, por causa do lapso nos mapas (confrontar figs. 11 e 12), a confusão também nas pessoas, a ponto de nas págs. 117 e 118 do citado Mapa de Portugal Antigo e Moderno, João de Castro dizer que o Côa «nasce na serra de Xalma, porção da Gata, e entra no nosso reino por folgosinho, Outros lhe dão nascimento mais perto de Alfayates e concordam em se meter no Douro em Vila Nova de Fozcoa».
Resumindo e concluindo: O rio Côa foi, até pelo menos fins do século XVIII, a ribeira de Alfaiates, que passa em Vilar Maior. A nascente da actual ribeira de Alfaiates é que é a nascente histórica do antigo rio Côa.
«Arroz com Todos», opinião de João Valente
joaovalenteadvogado@gmail.com
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