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Manuel Leal Freire nasceu na freguesia da Bismula, concelho do Sabugal. Viveu grande parte da adolescência nas Batocas (Raia sabugalense) onde o seu pai era guarda-fiscal. Actualmente reside no Porto, onde tem um escritório de advogados, e em Gouveia, onde tem uma quinta. Aos 83 anos mantém uma memória impressionante e surpreende quem não o conhece por fazer discursos sem papel e em verso. Envolvido em causas culturais e sociais, Manuel Leal Freire é o grão-mestre da Confraria do Queijo Serra da Estrela e mantém uma permanente actividade literária, publicando livros e colaborando em diversos meios de comunicação social. Um vulto com lugar na história cultural e literária das terras raianas e do concelho do Sabugal.
A CEIA DO LAVRADOR
Deram os sinos trindades
Por sobre as casas da aldeia
Toques de suavidades
Que prenunciam a ceia
Mas mesmo que ande de zorros
O lavrador, que é bom pai,
A ver se a ceia é pra todos
Não manda, que ele proprio vai.
Começa a sua inspecçáo
Plas vacas, gado mais nobre
Também cabonde ração
Prás cabras, vacas dos pobres.
Á égua, luxo da casa,
Á burra, sua cestinha,
Mangedora a feno rasa
Mais até do que convinha.
Pois na pia do cevado,
Que só pra comer nasceu,
É o farelo um pecado,
De fartura brada ao céu.
O gado de bico dorme
Ao fusco se regalara
Os cães aguardam que enforme
O caldo que nutre e sara
Aos animais sem razão
Aconchego já não falta
A seguir vem o pregão
Chamando pra mesa a malta.
Filhos, netos, jornaleiros
O conhecem e de cor
Mendigos e passageiros
Também cabem em redor.
Na mesa, que é um altarzinho
Que branca toalha cobre
Não falta caldo nem vinho
Nem pão. Regalo do pobre.
Vem á ceia as courelas
Cada uma traz seus mimos
Dá o quintal bagatelas
A veiga fartos arrimos
Das bouças vêm canhotos
Que um bento calor evolam
E até os manigotos
Mandam cheiros que consolam
Vinhedos, chões e vergéis
Primasias se disputam…
Nem as rochas são revéis
Em dura freima labutam.
As do monte mandam coelhos
As da ribeira bordalos
Pirilampos são espelhos
A cegarrega é dos ralos.
As Almas Santas dos Céus
Também descem para a mesa
A noite, negra de breu,
Resplandesce com a reza.
E quando acaba a litânia
A prece que ceia encerra
Manda pra longe a cizânia
A paz reina sobre a Terra,
Dia um da criação
A quantos na tasca estão.
Manuel Leal Freire
NAMORISCADOR
Quero ir a Quadrasais
Falar à Maria Mim
Nem que a peçam generais
Não há-de negar-me o sim.
Mas deixai, ora me lembro,
Já tenho noiva aprazada.
Meu pai a pediu em rendo
Na lua nova passada
Passadas dei eu em vão
Nas ruas da Lageosa
Não quebrei o coração
Da dona da Genestosa
Porém, vingança a fartar
Hei-de tirá-la me afoito
É trotar a bom trotar
Para o mercado do Soito.
Hoje é a quarta segunda
As moças são a granel
Ou faço apanha que bunda
Ou não me chame Manuel
E se a sorte me não mima
Então arranco uma bula
E vou casar com uma prima
Que me espera na Bismula
Manuel Leal Freire
Manuel Leal Freire nasceu na freguesia da Bismula, concelho do Sabugal. Viveu grande parte da adolescência nas Batocas (Raia sabugalense) onde o seu pai era guarda-fiscal. Actualmente reside no Porto, onde tem um escritório de advogados, e em Gouveia, onde tem uma quinta. Aos 82 anos mantém uma memória impressionante e surpreende quem não o conhece por fazer discursos sem papel e em verso. Envolvidos em causas culturais e sociais, Manuel Leal Freire é o grão-mestre da Confraria do Queijo Serra da Estrela e mantém uma permanente actividade literária, publicando livros e colaborando em diversos meios de comunicação social. Um vulto com lugar na história cultural e literária das terras raianas e do concelho do Sabugal.
ROTEIRO
Das terras quentes ás frias
Do Casteleiro ás Batocas
Palmilhei todas as vias
Fui coelho em todas as tocas.
E qual tentilhão alaro
Que em todo o ramo faz ninho
Almocei em Santo Amaro
Fui cear a Vale de Espinho
Depois, já lebre montesa
Que nos restolhos faz cama
Abalei à sobremesa
Pra ir dormir à Espanha.
Corri á guisa do vento
Ao certo nem sei as léguas
Se a rota é mesmo a contento
As pernas não pedem tréguas
Por isso, se o mal me açula
As desgraças em matilha
Corro a correr pra Bismula
Ou para Alamedilha
Ali, cansado e bisonho
Pego sono em sonho brando
E entre os eflúvios do sonho
Eu sonho que estou sonhando
Freguesias são quarenta
Mas os burgos quase cem
Bom povo que se contenta
A dar o melhor que tem
Ninguém servirá alguém
De forma tão desprendida
Constantes no mal e bem
Na morte como na vida.
Os filhos deste concelho
São heróis todos os dias
Quem dera ver-me ao espelho
Nas quarenta freguesias.
Manuel Leal Freire
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