You are currently browsing the tag archive for the ‘pinharanda gomes’ tag.
Foi ontem, dia 10 de Novembro, entregue ao filósofo quadrazenho Pinharanda Gomes a medalha de mérito, que o executivo municipal do Sabugal decidira conceder-lhe.
Na cerimónia solene que comemora o Dia do Concelho foram distinguidas diversas personalidades que a Câmara Municipal homenageou dada a sua meritória de dedicação ao desenvolvimento e à divulgação do concelho do Sabugal.
A medalha de mérito cultural foi entregue ao escritor Pinharanda Gomes, que a recebeu, como documenta a foto, das mãos do presidente da Câmara António Robalo, sob o olhar atento do Presidente da Assembleia Municipal, Ramiro Matos.
Na cerimónia solene foi ainda concedida a mesma Medalha de Mérito Cultural ao Grupo Etnográfico do Sabugal, à Associação Etnográfica de Sortelha e ao Centro de Convívio Cultural e Desportivo de Quarta-feira (Grupo de Teatro Guardiões da Lua).
Outra personalidade homenageada foi a judoca sabugalense Carla Gonçalves Vaz, que recebeu a Medalha de Mérito Desportivo.
Foram ainda distinguidas três empresas do concelho (Lactibar, Palagessos e Univest) com a Medalha de Mérito Empreendedor.
O agora chamado dia do concelho, foi criado pelo regulamento de distinções honoríficas. Não é porém feriado municipal – esse mantém-se inalterado e corre na segunda-feira de pascoela, dia de festa rija na Senhora da Granja e da Senhora da Graça. Ainda assim neste ano de 2012, o segundo em que o chamado dia do concelho é «festejado», aconteceu a um sábado, o que permitiu preparar uma digna e vistosa sessão solene no auditório do Município, a que assistiu muita gente.
plb
A Câmara Municipal do Sabugal decidiu conceder ao escritor quadrazenho Jesué Pinharanda Gomes a Medalha de Ouro do Município, aprovando por unanimidade uma proposta formulada pela vereadora socialista Sandra Fortuna.
A Medalha de Ouro do Município será atribuída a Pinharanda Gomes no agora chamado «dia do concelho», que se celebra a 10 de Novembro, em louvou ao dia em que D. Dinis concedeu foral ao Sabugal, no ano de 1296.
Transcrevemos, na íntegra, o texto com a proposta de Sandra Fortuna, que colheu a aprovação unânime do executivo municipal:
«A Câmara Municipal, inaugurou no passado dia 9 de Junho o Centro de Estudos Jesué Pinharanda Gomes, constituído pelos livros e documentos da sua biblioteca pessoal que doou ao Município. As diversas intervenções na cerimónia que antecedeu a inauguração, enalteceram o valor da obra e o mérito de um homem de especial sabedoria que nunca esqueceu as suas origens.
Jesué Pinharanda Gomes nasceu a 16 de Julho de 1939, em Quadrazais, concelho do Sabugal.
Estudou na Guarda, cidade onde iniciou a actividade literária. Em 1959 viajou para Lisboa, onde se fixou. Trabalhou numa empresa do ramo comercial durante 42 anos, ao mesmo tempo que manteve uma intensa actividade enquanto investigador independente e escritor, integrando-se no grupo da chamada Filosofia Portuguesa.
A sua permanente actividade no campo literário levou-o a colaborar assiduamente como inúmeros jornais de referência nacional, assim como em revistas culturais e temáticas, e ainda em publicações de índole regional. Escreveu e editou centenas de livros, sobretudo focados nas áreas da Filosofia e História da Filosofia, Religião e História Eclesial, Política e História Política e Social, Geografia, Etnografia, Linguística, Literatura e Biografia.
Colaborou assiduamente em diversas enciclopédias e dicionários, nomeadamente na Verbo, Logos, Enciclopédia de Fátima e Dicionário de História Religiosa de Portugal.
Notabilizou-se ainda como palestrante, tendo já proferido cerca de 250 intervenções em conferências, colóquios e congressos nacionais e internacionais.
Pinharanda Gomes foi membro do concelho de redacção das revistas Carmelo e Laikos, tendo ainda coordenado edições especiais da revista Democracia e Liberdade.
É sócio fundador do Instituto de Filosofia Luso-Brasileira, da Ordem de Ourique e integrou na Universidade Católica os grupos de trabalho Sena Freitas, Franciscanismo, Catolicismo e Liberalismo no século XIX.
É membro eleito da Academia Internacional da Cultura Portuguesa e da Academia Portuguesa da História, entre outras. Integrou a Comissão Histórica da Canonização de Nuno de Santa Maria.
Estamos pois perante o mais ilustre dos sabugalenses, que nunca esqueceu as suas origens, tendo doado ao seu concelho de nascimento os livros da sua biblioteca pessoal e a documentação de escritor, que ficaram reunidos no Centro de Estudos Pinharanda Gomes, que a Câmara Municipal inaugurou no dia 9 de Junho de 2012, com a presença do escritor.
O seu gesto de dádiva ao concelho, aliado ao prestígio da sua obra, fazem de Pinharanda Gomes um cidadão ilustre do concelho do Sabugal, merecedor da atribuição do mais alto galardão conferido pela Câmara Municipal.
Nestes termos, propomos, com base no Regulamento das Distinções Honoríficas, a atribuição a JESUÉ PINHARANDA GOMES, da Medalha de Ouro do Município, honrando um homem aqui nascido e que se distinguiu por benefícios excepcionais em favor do seu concelho.
Propomos que esta proposta seja desde já votada e aprovada pela Câmara Municipal, de forma a ser levada à próxima sessão da Assembleia Municipal.»
Parabéns à Câmara Municipal, que após o grande sucesso da inauguração do Centro de Estudos Jesué Pinharanda Gomes, não perdeu tempo e, na mesma sequência, decidiu atribuir ao nosso escritor o mais alto galardão municipal, numa decisão que para além de oportuna foi absolutamente justa.
plb
O salão nobre da Câmara Municipal do Sabugal foi pequeno para acolher as centenas de pessoas que assistiram à cerimónia solene de homenagem a Pinharanda Gomes, que se realizou no Sabugal, no dia 9 de Junho, em momento prévio à inauguração do Centro de Documentação com o seu nome.
A mesa da cerimónia foi constituída por António Robalo (presidente da Câmara Municipal), Manuel Felício (bispo da Guarda), Norberto Manso, João Bigotte Chorão, Paulo Leitão Batista, Renato Epifânio, José Eduardo Franco, para além do próprio Pinharanda Gomes. Todos usaram da palavra para enaltecer o homem e a obra, num momento marcante, que juntou inúmeras pessoas, vindas dos mais variados pontos do país.
Ressaltou das intervenções a importância e a imensidão da obra escrita do filósofo quadrazenho, a qual abarca diversas áreas do saber. O bispo da Guarda, D. Manuel Felício fez questão de tomar a palavra para enaltecer a decisão de Pinharanda Gomes de se afirmar como intelectual à margem das universidades, no sentido de que estas estão divorciadas do espírito e do pensamento português. João Bigotte Chorão enalteceu o grande escritor que é Pinharanda Gomes, com uma obra multifacetada, e cuja monumentalidade o coloca no ponto mais alto dos homens de cultura do Portugal contemporâneo.
Destacou-se a presença de muitos quadrazenhos, que assistiram comovidos à cerimónia de homenagem ao ilustre conterrâneo.
Depois a comitiva deslocou-se dos Paços do Concelho para o edifício da Biblioteca Municipal, onde foi oficialmente inaugurado o Centro de Estudos Pinharanda Gomes, que reúne os livros da biblioteca pessoal do autor, que a ofereceu ao seu concelho através da Câmara Municipal. O espaço passa a estar aberto ao público, sujeito a um regulamento próprio, para que os investigadores interessados possam procurar ali matéria para os seus estudos em variadíssimas temáticas.
Um grupo de «Cantadeiras de Quadrazais», capitaneadas pela presidente da Junta de Freguesia, entoou cantigas tradicionais, perante a surpresa do homenageado, que se mostrou particularmente comovido com esta homenagem do povo da sua terra natal.
plb
O ser é insólito; é dentro de si, a ciência de ser é-lhe infusa, mas dela não possui consciência, porque, o que possui cons-ciência, já não é insólito puramente, pois, pela consciência, comunica com o outro que, próximo ou distante, se lhe apõe, expõe ou opõe.
Dessa forma, o ser só devém real pelo pensar e, por isso, o motivo de, na ordem lógica, o ser vir colocado depois do pensar.
A consciência do ser não é a ciência que o ser infusamente em si possui, derramada em ubérrimas nascentes; é a relação do infuso saber do ser com o outro, ser ou coisa, que lhe é exterior, ou extrínseca. O sufixo cons, da palavra consciência, indica o ponto e o instante em que o encontro do ser e do pensar estala, num saber clarividente, ou que vê claro, o saber comungado, comunicado, ou cons-ciente. Não há forma de consciência insólita, só a relação do ser e do pensar, com seus difluentes colaterais (as formas individuadas do pensar) gera e suporta a consciência, que, neste caso, não deve ser tomada como valor da ética, mas como conceito gnoscológico. A consciência é a teoria do conhecimento em discurso. O que gera a consciência é a relação do pensar com o ser e do ser com o pensar, o pensamento que, inscrito no ser, a ele, todavia, se opõe, e, todavia, o garante e justifica. O pensamento de um cientista não garante o ser da ciência, mas, ao opor-se ao fenómeno científico, fundamenta a realidade que só advém real, porque ele, cientista, se lhe opõe, e a pensa como objecto. O objecto tem a validade que o sujeito pensante lhe confere.
Entre uma concepção absoluta do ser como ser insólito – ao modo de Parménides – e uma concepção racionalista do ser como relação do pensamento para o ser – ao modo cartesiano – todas as tesas cabem numa teoria do ser, desde que postulem a primeira condição relacional entre o ser que pensa, o ser pensado, e o ser que pensa no ser, ou principal origem.
Pensante, o homem é sujeito, dispõe de uma realidade específica, própria e autónoma, enquanto enfrenta o ser como objecto de pensamento. O homem é dito animal racional porque, entre os animais (quem poderá garantir a dita irracionalidade destes outros?) parece ser o único que enfrenta o ser, ou o especula de frente (no espelho, que é espéculo, se enfrenta toda a imagem nele contida), dele se distinguindo, dele se autonomizando, garantindo para si, homem, a propriedade de ser racional. Esse que, sendo o próprio, não se confunde com o outro; o que, ao situar-se, na afirmação de propriedade situada, testemunha a autonomia de uma propriedade mental. A forma mais perfeita, e por isso de todo em todo inalienável, de propriedade privada. O fisco dos bens materiais, a solicitação dos bens financeiros e industriais, agrícolas e comerciais, são nada, quando equiparados às tentativas para diminuir a propriedade mental de cada homem.
O que pensa, e é como pensa, distingue entre pensamento e movimento, entre mentalidade e seriedade, entre capital e manual, entre realidade e eventualidade. Este assume a forma universitária de ser, a que não poderá ser, caso lhe faleçam a propriedade pensante e a autonomia movente. A imagem que cada um tiver do mundo será a imagem que o mundo terá dele, porque, imagens delidas e sobrepostas no mesmo espelho, aí, onde o pensamento pensa o ser, o próprio ser ascende no pensamento. Tais imagens hão-de ser as palavras, os lares onde o ser habita, segundo a maravilhosa expressão de Heidegger! Os lares, que testemunham a existência de uma propriedade de ser e uma autonomia de pensar! Quanto mais a minha casa for a minha casa, mais poderei abrir a porta aos vizinhos, ou, só o que sabe e tem garantia do saber, se abre sem temor do saber do outro, porque não corre o risco de sufocar, porque está prevenido contra as hipóteses do pior colonialismo, o colonialismo mental.
O que ambiciona ser ele próprio, e não outro, terá a todo o momento de confluir no impróprio (ou não próprio) e a todo o momento desse impróprio efluir. A total individualidade do ser continuará insularizada, mesmo que participe na mais pura socialidade, enquanto a individualidade pensante for a que a si mesma se pensa, e aos outros em si, jamais renunciando ao princípio de autenticidade: ser existencialmente o retrato de ser mentalmente, na parte de ser que couber a cada um.
Pinharanda Gomes
Este texto do filósofo quadrazenho Pinharanda Gomes foi publicado pela primeira vez em 1971 no jornal A Capital, vindo depois a integrar o volume «Pensamento e Movimento» editado em 1974,o qual reúne um conjunto de reflexões agregadas em cinco temas estruturantes: o Ser, o Estar, o Mover, o Saber e o Unir. Transcrevemos este interessante texto tendo em conta a homenagem que o Sabugal vai prestar ao seu escritor no dia 9 de Junho, por ocasião da inauguração do Centro de Estudos constituído com os livros e documentos que o autor doou ao concelho do Sabugal.
plb
O crítico literário João Bigotte Chorão e o escritor Miguel Real estarão no Sabugal no próximo dia 9 de Junho (sábado), por ocasião da inauguração do Centro de Estudos Pinharanda Gomes.
Às 15 horas terá lugar uma cerimónia solene, a realizar no Salão Nobre da Câmara Municipal do Sabugal, onde intervirão João Bigotte Chorão e Miguel Real, que falarão da obra do escritor e pensador Jesué Pinharanda Gomes.
Seguidamente será inaugurado o Centro de Estudos, sito no edifício da Biblioteca Nacional, na rua Luís de Camões.
Pinharanda Gomes nasceu em Quadrazais em 1939. Estudou na Guarda e fixou-se em Lisboa, onde seguiu a carreira profissional numa empresa comercial, e onde se dedicou a uma intensa actividade de investigador independente e escritor. Como pensador beneficiou do magistério filosófico de Álvaro Ribeiro e José Marinho, inserindo-se no «Movimento da Filosofia Portuguesa», seguidora da herança de Leonardo Coimbra.
Escreveu e editou centenas de títulos, focados em diferentes áreas, como a Filosofia, História, Etnografia, Teologia, Geografia, Linguística e Literatura. Colaborou com mais de uma centena de jornais e revistas e proferiu cerca de 250 conferências.
É membro de diversas academias, entre elas a Academia Internacional da Cultura Portuguesa e a Academia Portuguesa da História.
Para além do manancial de livros que editou colaborou em diversas Enciclopédias, de onde se destacam a Verbo, Logos, Enciclopédia de Fátima e Dicionário da História Religiosa de Portugal.
Miguel Real, no seu extenso volume «O Pensamento Português Contemporâneo 1890-2010» dedica um capítulo ao pensador quadrazenho, que intitula: «Jesué Pinharanda Gomes (1939) – O Peregrino de Deus». Daí colhemos esta citação reveladora do valor da obra monumental de Pinharanda Gomes:
«Pinharanda Gomes estatui o seu pensamento do lado do peregrino que busca uma estalagem para o descanso do pensamento, sabendo que este se constitui como uma longa caminhada tortuosa, uma longa escadaria labiríntica, sem princípio nem fim que não seja o da transcendência da Graça. (…)
Nesta peregrinação labiríntica, o pensamento de Pinharanda Gomes não se perde – uma bússola espiritual orienta o caminho do viandante, indicando o Norte permanente da Filosofia Portuguesa.»
plb
A inauguração de uma exposição bibliográfica sobre Virgílio Afonso na Biblioteca Geral do Instituto Politécnico da Guarda (IPG) foi precedida de uma palestra do filósofo, ensaíasta e investigador quadrazenho Jesué Pinharanda Gomes.

Na Biblioteca Geral do Instituto Politécnico da Guarda está patente, desde 10 de Maio e até 10 de Junho de 2012, uma exposição bibliográfica sobre Virgílio Afonso.
A inauguração desta exposição foi precedida de uma palestra, alusiva, a proferir pelo ensaísta e investigador Pinharanda Gomes.
Virgílio Afonso nasceu em Gonçalbocas, aldeia do concelho da Guarda, no dia 21 de janeiro de 1923 e faleceu nesta cidade no dia 20 de setembro de 1998.
Licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, depois de se ter formado na Escola do Magistério Primário da Guarda, iniciou desde muito jovem a sua colaboração na imprensa regional, concretamente em jornais da cidade da Guarda.
Fez o estágio de jornalista no antigo «Novidades de Lisboa», quando ainda estudante, tendo como mestres os conhecidos jornalistas: Padre Moreira das Neves, Tomás de Gamboa e Padre Miguel de Oliveira, que constituíam o principal elenco da direção e redação daquele diário que suspendeu a publicação após a revolução de 25 de Abril de 1974.
Virgílio Afonso foi delegado da Emissora Nacional da Guarda, chefiou a redação do semanário «Correio da Beira», que por ordem do Movimento das Forças Armadas foi extinto após o «25 de Abril», e foi cronista na revista «Flama», jornais «Diário de Coimbra», «Diário da Manhã», «Acção» e «Diário do Norte», entre outros.
Finalmente radicado na cidade da Guarda, o jornalista e escritor, continuou a sua atividade na Comunicação Social, tendo colaborado no «Jornal do Fundão», «Notícias da Covilhã», «Notícias de Gouveia», «Notícias da Guarda», Rádio Altitude, RDP-Guarda e «Revista Altitude».
Em 1975 fundou e dirigiu o quinzenário «Alta Cidade», que publicou 12 números, continuando colaborador e correspondente de outros órgãos da comunicação social.
jcl (com IPG)
No dia 9 de Junho vai ser inaugurado, no Sabugal, o Centro de Estudos Pinharanda Gomes, local que reunirá o acervo documental particular que o filósofo de Quadrazais doou à Câmara Municipal.
Depois de alguma delonga no avanço do projecto, e atrasos na catalogação dos livros que Pinharanda Gomes cedeu ao Município, o Centro de Estudos com o nome do escritor vai finalmente tornar-se uma realidade.
O Centro de Estudos Pinharanda Gomes funcionará em paralelo à Biblioteca Municipal do Sabugal, tendo contudo uma sala própria e independente, que abergará o documental, tal como é a vontade expressa do escritor.
A catalogação dos livros, embora ainda incompleta, já foi remetida ao doador, que reside em Santo António dos Cavaleiros, concelho de Loures. O presidente da Câmara Municipal, António Robalo, deslocou-se já por duas vezes a casa do escritor, em datas recentes, manifestando-lhe que a Câmara está efectivamente apostada na implementação do projecto. O presidente encarregou ainda o seu assessor Norberto Manso da coordenação da instalação do Centro de Estudos e da sua inauguração através da organização de uma cerimónia pública.
Por vontade expressa de Pinharanda Gomes o acto inaugural será uma cerimónia simples, que contará com a sua presença e a de um ou dois oradores que falarão sobre a obra escrita e o pensamento do filósofo.
Jesué Pinharanda Gomes doou os seus livros e documentos ao Município do Sabugal através de um protocolo assinado em 3 de Outubro de 2008 com o então presidente Manuel Rito Alves.
O documento prevê a doação da biblioteca completa do escritor, constituída por cerca de três mil e quinhentos volumes e opúsculos, das mais várias temáticas, bem como a sua correspondência particular, as insígnias académicas e outros objectos pessoais.
Os livros ficarão à fruição pública logo com a inauguração do Centro de Estudos, porém, nos termos do que foi acordado, a correspondência particular apenas poderá ser consultada após a sua morte.
O Centro de Estudos terá por finalidade servir os estudantes e os estudiosos das matérias de que faz parte o acervo de livros ali contidos, bem como o estudo da obra monumental do escritor Pinharanda Gomes.
plb
Cerca de quarenta personalidades da cultura portuguesa, espanhola e brasileira, subscreveram uma carta dirigida ao reitor da Universidade de Lisboa propondo que seja concedido ao pensador Jesué Pinharanda Gomes, nascido em Quadrazais, o título de Doutor Honoris Causa em Filosofia.
A revelação foi feita no sábado, dia 19 de Novembro, pelo Professor Renato Epifânio, no decurso da cerimónia de atribuição ao filósofo Pinharanda Gomes da Medalha de Mérito Cultural concedida pelo Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias (CLEPUL) da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL).
A proposta dirigida ao Reitor da Universidade de Lisboa é subscrita por professores de diversas universidades portuguesas, espanholas e brasileiras, bem como por outros vultos da cultura e do pensamento, nomeadamente os bispos D. Manuel Clemente e D. Januário Torgal Ferreira.
«Ao longo de meio século Pinharanda Gomes elaborou uma obra ímpar», lê-se na missiva, que se refere ainda ao pensador sabugalense como «uma marca essencial dos estudos contemporâneos da nossa história filosófica». Os subscritores, que já estabeleceram contactos com a reitoria da universidade no sentido de articular os termos do processo, consideram que a homenagem honrará a Universidade, na medida em que é seu dever reconhecer o mérito aos melhores.
Pinharanda Gomes, que acabara de receber a Medalha de Mérito concedida também pela Universidade, local em cujos bancos nunca se sentou enquanto aluno, tomou a palavra para expressar um duplo sentimento: por um lado sentia júbilo pela dádiva recebida, mas por outro sentia-se carregando um peso e uma dor, porque «nunca tive no meu horizonte qualquer distinção ou titularidade», disse.
Perante uma plateia repleta de professores e investigadores – onde destacamos o seu amigo João Bigotte Chorão – o pensador de Quadrazais disse que ao longo da vida enfrentou dificuldades e incompreensões, mas não ficou isolado: «nunca estive só, porque uma alma nunca está só, está sempre perante o Criador».
Pinharanda Gomes revelou que em 1959, após a sua infância em Quadrazais e os estudos de juventude na Guarda, onde ainda trabalhou como marçano numa loja comercial, foi para Lisboa «à procura de vida». Já na Capital, «matava a fome como podia quando descobri a Biblioteca Nacional e comecei a passar ali os dias lendo livros», disse o homenageado, que com a observação, a experiência e a preciosa ajuda de um funcionário, descobriu o «catálogo» da biblioteca e, a partir daí, passou «a mineiro e a contrabandista», embrenhando-se no estudo metódico e na investigação.
«Em 1 de Março de 1961 entrei, sem cunhas, na firma Tractores de Portugal, onde me realizei profissionalmente e de onde apenas saí quando me reformei, em 30 de Setembro de 2004», disse Pinharanda Gomes, que igualmente revelou ter pretendido entrar na Faculdade de Letras, tendo contudo desistido face à descoberta das tertúlias que se realizavam nos cafés, juntando escritores e pensadores. «Frequentei todas as tertúlias de Lisboa daquela época, das mais diferentes sensibilidades», revelou, dizendo que acabou por encontrar a tertúlia de Álvaro Ribeiro e José Marinho, onde descobriu a Filosofia Portuguesa, corrente do pensamento de que viria a tornar-se um dos nomes mais proeminentes.
1 – É com grata satisfação que assistimos ao sucessivo reconhecimento do relevante papel de Pinharanda Gomes na cultura portuguesa. É verdadeiramente emotivo constatar que um homem que nunca frequentou a Universidade, seja agora estudado pela Universidade e homenageado por aqueles que aprendem lendo a sua obra notável.
2 – Estivemos presentes no acto de homenagem acima noticiado e, no final, quando cumprimentávamos Pinharanda Gomes, perguntámos-lhe como estava o processo decorrente da cedência da sua biblioteca pessoal à Câmara Municipal do Sabugal e ouvimos, confrangidos, o seu lamento pela aparentemente pouca importância que estavam a dar ao assunto. Os livros foram para o Sabugal em Novembro de 2010 com a condição de que até ao final do ano lhe fosse enviado um inventário de tudo o que seguiu, para que se assinasse um protocolo. Em Abril de 2011 Pinharanda foi ao Sabugal apresentar um livro sobre as Invasões Francesas (a Câmara omitiu o seu nome no programa) e indagou sobre o assunto, tendo sido informado que a catalogação estava em andamento e quase pronta. Porém passado um ano sobre o transporte dos livros de sua casa para o Sabugal, nada mais lhe disseram e teme que o assunto tenha caído no esquecimento.
plb
O filósofo e pensador, Jesué Pinharanda Gomes, foi homenageado pelo Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias (CLEPUL) da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL) no dia 19 de Novembro na sede da Sociedade de Língua Portuguesa em Lisboa. O ilustre raiano recebeu, com aclamação, a Medalha de Mérito Cultural na Assembleia Geral do Movimento Internacional Lusófono. A Mesa era constituída por Miguel Real, Annabela Rita, José Eduardo Franco e Renato Epifânio.
jcl
«A imagem que cada um tiver do mundo será a imagem que o mundo terá dele, porque imagens delidas e sobrepostas no mesmo espelho, aí, onde o pensamento pensa o ser, o próprio ser ascende no pensamento. Tais imagens hão-de ser as palavras, os lares onde o ser habita.»; Pinharanda Gomes, in Pensamento e Movimento.
O Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias (CLEPUL) da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL) atribuirá, no dia 19 de Novembro, sábado, a «Medalha de Mérito Cultural» a Jesué Pinharanda Gomes, um dos mais importantes nomes vivos da Filosofia Portuguesa. A cerimónia de homenagem realiza-se pelas 19 horas na Sociedade da Língua Portuguesa (SLP), em Lisboa, em acto contínuo à realização da Assembleia Geral do Movimento Internacional Lusófono. O local é Rua Mouzinho da Silveira, nº.23, em Lisboa. A entrada é livre.
O Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias (CLEPUL), que homenageia o filósofo sabugalense, foi fundado em 1975 por Jacinto do Prado Coelho. Agrega as literaturas e as culturas de Língua Portuguesa, está presentemente organizado em vários grupos de investigação.
Jesué Pinharanda Gomes nasceu em Quadrazais sabugal, em 16 de Julho de 1939 e afirmou-se como um dos maiores pensadores da cultura portuguesa.
Há dias, o escritor e advogado José António Barreiros, tomando conhecimento de que Pinharanda Gomes ia ser homenageado, escreveu acerca dele no seu blogue «Geometria do Abismo»:
«Fui há anos à sua casa em Santo António dos Cavaleiros entrevistá-lo. Modesto, discreto, quase hesitava em produzir uma que fosse afirmação definitiva. Tratei-o por “doutor”. Disse-me que o não era. Como nos acompanhava uma estante de livros sobre teologia tentei corrigir, afirmando que seguramente teria estudos no Seminário (como tantos do seu tempo). Disse-me que também não. Era um auto-didacta. As tertúlias de Lisboa tinham sido, nos cafés, a sua sala de aulas. A Filosofia Portuguesa o seu amor.
Trabalhava na Massey Fergunson na venda de tractores. Estudara nas horas livres, pela noite fora. Lera na Biblioteca Nacional no tempo em que ela abria à noite. Tirava à boca para comprar livros. Instruía-se sempre. Escreveu nem sei quantos livros. Tentei encontrá-los todos. Teve a gentileza de me oferecer alguns.
A entrevista era sobre tudo e sobre nada. A minha ignorância impedia-me de formular as perguntas certas, a sua sabedoria vedava-lhe respostas simples.
À saída mostrou-me uma pequena gaiola, extasiado ante uns passarinhos e os ovos que chocavam. A vida cumpria-se. Uma vez cruzei-me com ele na Lapa. Ia consolar o Orlando Vitorino, fazendo-lhe companhia.
Nasceu em Quadrazais, mas renasce como exemplo no coração de cada um. Um dia um jornal, creio que o Diário de Notícias, perguntou-me qual foi a pessoa que mais me impressionou. Disse: Jesué Pinharanda Gomes.»
plb
As cerimónias oficiais da evocação da Batalha do Sabugal no sítio do Gravato tiveram início no dia 2 de Abril de 2011 no Auditório Municipal do Sabugal. O professor Adérito Tavares abriu «as hostilidades» explicando (como só ele é capaz) o «expansionismo napoleónico na Península Ibérica: o princípio e o fim». Já no dia anterior, sexta-feira, no mesmo local, uma plateia repleta de alunos das Escolas do Sabugal tiveram oportunidade de aprender com o ilustre historiador natural de Aldeia do Bispo. Seguiu-se o lançamento dos livros «A Batalha do Gravato – Narrativas do famigerado combate do Sabugal» da autoria de Manuel Morgado e Marcos Osório e de «Sabugal e as Invasões Francesas» de Manuel Francisco Veiga Gouveia Mourão, Joaquim Tenreira Martins e Paulo Leitão Batista. O prefácio e a apresentação do livro escrito a «três mãos» esteve a cargo do filósofo e pensador sabugalense mestre Jesué Pinharanda Gomes.

Na sexta-feira, 1 de Abril, os alunos do Agrupamento de Escolas do Sabugal encheram o Auditório Municipal do Sabugal para escutar e aprender com o historiador Adérito Tavares muitos pormenores pouco falados das chamadas batalhas napoleónicas entre franceses e ingleses (ajudados pelos portugueses).
No sábado, 2 de Abril, o Auditório voltou a encher-se de sabugalenses (e muitos militares fardados) para assistirem ao lançamento dos livros «A Batalha do Gravato – Narrativas do famigerado combate do Sabugal» da autoria de Manuel Morgado e Marcos Osório e de «Sabugal e as Invasões Francesas» de Manuel Francisco Veiga Gouveia Mourão, Joaquim Tenreira Martins e Paulo Leitão Batista.
O Presidente da Câmara Municipal do Sabugal, António Robalo, destacou no seu discurso de abertura: «Celebramos um percurso histórico que nos orgulha!» e quase a finalizar enfatizou que «tendo a História como única juíza das nossas acções, acreditamos profundamente ser este o caminho certo que melhor defende e promove o bem comum da comunidade que pretendemos servir e tendo no sorriso de quem servimos o único medidor de satisfação, acreditamos profundamente na força do nosso concelho e da nossa gente».
A vice-presidente da autarquia, Delfina Leal, ocupou-se da moderação encontro temático «Sabugal e as Invasões Francesas» onde marcaram presença Pinharanda Gomes, Adérito Tavares e os autores dos dois livros.
Mestre Pinharanda Gomes, com aquela humildade que todos lhe conhecemos, começou por dizer que «se sentia duplamente intruso na cerimónia». Em primeiro lugar «é mentira que tenha escrito um prefácio para o livro porque é um pós-fácio escrito depois da obra terminada mas como assim está instituído vamos então chamar-lhe prefácio» e o segundo acto de intrusão está relacionado com «a gentileza do convite dos autores que não necessitavam necessariamente da minha apresentação». «Agradeço a honra e a gentileza que me deram de estar aqui presente e vou dar o meu contributo pessoal apenas como leitor desta obra que foi editada pela livraria portuguesa e galega Orpheu. Sobre a temática do tenente-coronel Gouveia Mourão não me vou pronunciar porque não tenho competência para tanto. Fiquei livre da tropa e penso mesmo que nunca dei um tiro na minha vida». «Sobre o doutor Joaquim Tenreira Martins, natural de Vale de Espinho, o que posso dizer de alguém que é licenciado em Ciências Políticas na Universidade de Lovaine – um exclusivo que só apareceu em Portugal na Universidade Católica – e mestre pela universidade de Lille?». «O meu amigo doutor Paulo Leitão Batista aplica as palavras num modo estilístico. O prosador não tem de saber colocar o sujeito, o predicado, o complemento. A palavra para ser palato tem de sair do palato. A palavra sai do céu da boca para o papel. No caso do Sabugal temos depois de Manuel Leal Freire o Paulo Leitão Batista. Se lerem o livro «Terra Batida» temos as três memórias.»
Após a apresentação dos três autores mestre Pinharanda Gomes «explicou» a obra «dividida em três obras». «No primeiro texto tive que aprender a interpretar o ensaio político, táctico e militar acompanhado das dificuldades do terreno. Quando um autor é capaz de sonhar o sítio e descrevê-lo historicamente é uma arte. O texto beneficia desta virtude. Nas terceiras invasões francesas nem todos morreram no campo de batalha.» «O segundo livro é um estudo entre o sociológico e o militar nos séculos XVII, XVIII e XIX. Algumas passagens fazem lembrar o Hans Christian Andersen. A sua narrativa termina com o desastre de Napoleão.» «Finalmente o terceiro livro obedece ao canône histórico com pesquisa feita em fontes avulsas e chama ao palco as principais personagens da guerra – o Maneta era um general terrível, era um homem de cortar à faca – e termina, também, com a derrota de Napoleão que passou à condição de reformado em Liège com apenas 45 anos.
Para Jesué Pinharanda Gomes o livro «é um resumo das invasões francesas e uma separata do que se passou no Côa mostrando que o Wellington não quis envolver-se muito nas batalhas da fronteira porque talvez pensasse que era mais importante a defesa de Lisboa apesar de Napoleão a partir de certo momento idealizar não uma União Europeia mas uma Europa Imperial». A concluir recordou que «ainda hoje no retábulo da Sé da Guarda estão os sinais dos disparos das tropas francesas» não sabendo contudo se «alguma vez se fez algum inquérito aos males que os franceses fizeram aqui na Raia». «Felicito vivamente os autores, o editor e sugiro que comprem a obra», rematou Pinharanda Gomes.
jcl
As cerimónias oficiais da evocação da Batalha do Sabugal no sítio do Gravato tiveram início no dia 2 de Abril de 2011 no Auditório Municipal do Sabugal. O professor Adérito Tavares abriu «as hostilidades» explicando (como só ele é capaz) o «expansionismo napoleónico na Península Ibérica: o princípio e o fim». Já no dia anterior, sexta-feira, no mesmo local, uma plateia repleta de alunos das Escolas do Sabugal tiveram oportunidade de aprender com o ilustre historiador natural de Aldeia do Bispo. Seguiu-se o lançamento dos livros «A Batalha do Gravato – Narrativas do famigerado combate do Sabugal» da autoria de Manuel Morgado e Marcos Osório e de «Sabugal e as Invasões Francesas» de Manuel Francisco Veiga Gouveia Mourão, Joaquim Tenreira Martins e Paulo Leitão Batista. O prefácio e a apresentação do livro escrito a «três mãos» esteve a cargo do filósofo e pensador sabugalense mestre Jesué Pinharanda Gomes.

O Coronel Manuel Mourão falou em nome dos três escritores: «O meu agradecimento a Jesué Pinharanda Gomes por se ter dignado escrever o prefácio do livro. O livro está incompleto. O tema é muito vasto e estamos muito longe de esgotar o tema. Há muitos pontos obscuros acerca desta batalha. É preciso estudar a batalha tendo em atenção a doutrina e as forças em confronto. É preciso estudar tudo o que anda à volta desta batalha. É preciso contar o que pensavam as pessoas que cá viviam sobre a chegada dos franceses. É importante saber a visão que tinham os militares franceses sobre esta batalha. Em nome dos três autores do trabalho o meu muito obrigado a todos por terem comparecido.»
O editor Pinto da Silva (Editora Orfeu) aproveitou para fazer alguns agradecimentos: «Vou contar uma cena porque sou funcionário de uma instituição comunitária. Um dia um comissário europeu (alemão) foi a uma reunião e começou o discurso desta maneira – É a segunda vez que estou aqui. A primeira vez foi de pára-quedas – E, claro, criou um grande mal-estar. Estou aqui por causa da família Tenreira Martins que me deram a beber chá de poejo e fiquei assim e estou aqui por causa da Casa do Castelo e a família Bispo. Agradeço aos autores. A Orfeu está sedeada em Bruxelas e produz há 25 anos onde passaram por lá muito dos políticos e da cultura portuguesa. A nossa condicionante é a cultura portuguesa e nunca a política. Democraria, cultura, abertura é o que nos interessa na Orfeu.
A intervenção do professor Adérito Tavares teve por tema «O expansionismo napoleónico na Península Ibérica: o princípio do fim». O historiador, natural de Aldeia do Bispo, começou por recordar que «tinha sido um grande privilégio ter falado aqui ontem para cerca de 200 alunos das Escolas do Sabugal que se portaram lindamente. Será um momento marcante destas cerimónias».
O historiador ilustrou a sua apresentação com excelentes cartoons britânicos contemporâneas das batalhas das invasões francesas disponíveis na página web da Universidade de Oxford. E foram muitos os tópicos abordados por Adérito Tavares começando por desmistificar um símbolo da cidade do Porto que muitos confundem e transportam para a clubite desportiva. «A estátua do Porto com o leão e a águia é a luta ibérica. A águia napoleónica recebeu feridas profundas nas batalhas ibéricas. Napoleão Bonaparte foi um plano megalómano que pretendeu unir a Europa mas não contou com o apoio da Inglaterra. A Inglaterra veio à Península Ibérica defender Portugal porque entender ser um excelente campo de batalha para combater os franceses. Na verdade, foi na Península Ibérica que a águia napoleónica começou a ser ferida de morte, como vemos no monumento da Rotunda da Boavista, no Porto. A Guerra Peninsular, como dizia Churcill a propósito de outros combates foi o princípio do fim para Napoleão Bonaparte e para o seu projecto megalómano. E a Batalha do Sabugal contribuiu para apressar o fim desse princípio», esclareceu.
«A ocupação da Península Ibérica fez-se graças a poderosos exércitos mas também à custa de uma bárbara repressão exercida sobre a população portuguesa e espanhola. Junot e as suas tropas rapinaram tudo quanto puderam (incluindo ouro) em Portugal. O povo português sofreu tal como o espanhol que tiveram Goya para retratar os assassínios nas 80 gravuras «Los Desastres de la Guerra».
«Os efeitos da passagem dos exércitos napoleónicos pelas terras do Sabugal foram devastadores. Por todo o lado os invasores aterrorizaram as populações, que preferiram abandonar as aldeias e refugiar-se nos campos. Depois da imensa calamidade que foram as invasões francesas veio a ocupação britânica. Se Portugal não morreu da doença (franceses) podia ter morrido da cura (ingleses)», concluiu Adérito Tavares.
Joaquim Tenreira Martins falou de Massena. «Massena foi nomeado por Napoleão e prometeu-lhe um grandioso exército bem equipado. Massena veio para Portugal acompanhado da sua amante e contam-se sobre o casal várias situações anedóticas. Antes da Batalha do Buçaco o ajudante de campo teve de lhe bater à porta do quarto para lhe lembrar que já estava atrasado cerca de uma hora. Massena esteve perto de ser capturado. Na Ruvina aconteceu um episódio burlesco. Ainda antes da Batalha do Sabugal a tentação da carne fez com que Massena tivesse de saltar para o cavalo sem roupa para fugir. A primeira tentação que Massena teve aconteceu em Celorico. O exercito de Portugal tinha chegado a Celorico sem sapatos nem farda. O moral estava de rastos mas Masssena queria provar que o seu exército ainda tinha capacidades. No dia 22 de Março deu ordem aos três corpos de exército que avançasse contra a Guarda e Sabugal. Michael Ney informou Massena que sem ordens expressas do Imperador não avançaria contra os ingleses e mesmo que fosse destituído ou condenado à morte não tomaria a decisão de avançar sobre Almeida.
Paulo Leitão Batista reescreveu a história recordando que «é comum falarmos de três invasões de Portugal perpretadas pelos exércitos napoleónicos e todos conhecemos, aliás, os comandantes franceses dessas três invasões: Junot, Soult e Massena». Porém «houve uma quarta invasão de Portugal, comandada pelo marechal Marmont, que poucos conhecem e que a história, por regra, omite. É contudo ousadia chamar-lhe invasão, pois tratou-se tão só de uma incursão ou sortida do exército francês em território português, ou ainda, usando a linguagem táctico-militar, de uma manobra de diversão».
Durante a sua intervenção Paulo Leitão falou da substituição de Marmont por Massena, da acção de Wellington em Portugal, do susto de Napoleão Bonaparte com a possível ofensiva sobre Badajoz, a invasão de Portugal pelo marechal Marmont, o malogrado plano de Trant e as atrocidades da quarta invasão.
O encontro finalizou com a intervenção do coronel Sodré de Albuquerque com o tema «a importância da ponte do Côa, no Sabugal, para o êxito do exército aliado na perseguição a Massena».
Para ficar a saber tudo, mas mesmo tudo, sobre as Invasões Francesas recordamos a sugestão de Pinharanda Gomes: «Comprem a obra!»
O Capeia Arraiana felicita os três autores pela qualidade do seu trabalho.
jcl
O grande Mestre da Filosofia Portuguesa, Pinharanda Gomes, natural de Quadrazais, publicou um ensaio notável acerca das linhas mestras do pensamento de Agostinho da Silva, um dos maiores pensadores lusófonos e profeta do mundo a haver.
«Agostinho da Silva – História e Profecia» é o título do ensaio sobre o filósofo nascido no Porto em 1906 e falecido em Lisboa em 1994, que passou parte da infância em Barca d’Alva, no concelho de Figueira de Castelo Rodrigo.
O ensaio fala das ligações de Agostinho da Silva à Escola Portuense, fundada por Leonardo Coimbra. Homem sonante do movimento da «Renascença» em Portugal, Agostinho da Silva levou para o Brasil a «Renascença Portuguesa», cujos valores transmitiu e fixou, especialmente através da chamada Escola de S. Paulo. Foi com o filósofo Agostinho que se renovou a «filosofia luso-brasileira».
Pinharanda Gomes relembra no seu ensaio que o grande legado de Agostinho da Silva foi «uma Filosofia da História, que entrança a finitude humana com a infinitude divina», segundo o mesmo ponto de vista de filósofos da Renascença, como Leonardo Coimbra, Teixeira Rêgo, Álvaro Ribeiro ou José Marinho.
O livro fala-nos também da «projecção do mundo novo, ou mundo a haver, a missão portuguesa», que Agostinho da Silva defendia. Um mundo centrado no Atlântico Sul, a «Lusitânia», onde o filósofo antevia como «o mundo a vir, sem lhe fixar datas aritméticas, pois esse mundo é um clima de vida e não uma época», numa espécie de messianismo português.
George Agostinho Baptista da Silva nasceu no Porto em 1906, tendo-se nesse mesmo ano mudado para Barca d’Alva, onde viveu até aos seus 6 anos, regressando depois ao Porto. Dono de um percurso académico notável, cursou Filologia Clássica, tendo concluído a licenciatura com 20 valores. Com apenas 23 anos, defendeu a sua dissertação de doutoramento a que dá o nome de «O Sentido Histórico das Civilizações Clássicas», doutorando-se «com louvor».
Foi para Paris, onde estudou como bolseiro na Sorbonne e no Collège de France. Regressou a Portugal e passou a leccionar numa escola secundária de Aveiro, até que, em 1935, foi demitido do ensino oficial por se recusar a declarar por escrito que não participava em organizações secretas e subversivas. Foi para Espanha, mas regressou com a eclosão da guerra civil.
Em 1943 foi preso pela polícia política e, no ano seguinte, saiu de Portugal no seguimento da sua oposição a Salazar, passando pelo Brasil, Uruguai e Argentina. Acabou por se instalar no Brasil, onde viveu até 1969. Deu aulas em diversas universidades brasileiras, ajudando à fundação de algumas delas e foi assessor do presidente Jânio Quadros.
Regressou a Portugal após a queda de Salazar e começou a leccionar em diversas universidades portuguesas.
A fase mais popular de Agostinho da Silva foi quando, em 1990, apareceu na televisão, numa série de treze entrevistas, denominadas Conversas Vadias.
Agostinho da Silva é tido como um dos principais intelectuais portugueses do século XX. Da sua ampla bibliografia, destaca-se o livro «Sete cartas a um jovem filósofo», publicado em 1945.
plb
Comemora-se no dia 3 de Abril (domingo) o bicentenário da Batalha do Sabugal, a última das que aconteceram em território português por ocasião das invasões francesas. A Câmara Municipal e a empresa Sabugal+ elaboraram um programa evocativo que acontece no próximo fim-de-semana.
No sábado, dia 2 de Abril, pelas 14 horas, haverá a inauguração de uma exposição, designada «A defesa da Fronteira da Beira», no Museu Municipal do Sabugal.
De seguida, no Auditório Municipal, decorrerá o lançamento de dois livros dedicados às invasões. O primeiro, intitulado «A Batalha do Gravato – Narrativas do Famigerado Combate do Sabugal», é da autoria de Manuel Morgado e Marcos Osório.
O segundo, intitulado «Sabugal e as Invasões Francesas», sendo seus autores Manuel Francisco Veiga Gouveia Mourão, Joaquim Tenreira Martins e Paulo Leitão Batista, será apresentado pelo escritor e pensador J. Pinharanda Gomes, que assina o prefácio da obra.
Seguir-se-á, ainda no auditório, um Encontro Temático dedicado às invasões, estando previstas as comunicações:
Adérito Tavares: «O expansionismo napoleónico na Península Ibérica: o princípio do fim»;
Joaquim Tenreira Martins: «Sabugal e as tentações de Massena na terceira Invasão Francesa»;
José Alexandre Sousa: «Condicionalismos humanos e naturais numa acção militar – o combate do Sabugal a 3 de Abril de 1811»;
Paulo Leitão Batista: «O Sabugal e a quarta Invasão Francesa»;
José Paulo Ribeiro Berger: «A importância da ponte sobre o rio Côa no Sabugal para o êxito do exército aliado na perseguição a Massena».
Pelas 21 horas haverá um concerto pelo Ensemble da Orquestra Sinfónica do Exército.
No domingo, dia 3, haverá repique de sinos pelas 9h30, seguido da inauguração de um memorial no sítio do Gravato, com presença militar.
Pelas 11 horas será inaugurado um monumento evocativo da Batalha na rotunda de entrada no Sabugal, da autoria do escultor Augusto Tomás, seguida de cerimónia de homenagem aos mortos e evocação histórica pelo Tenente-Coronel Urze Pires.
Às 12 horas haverá missa pelos mortos em combate.
À tarde, pelas 15 horas, decorrerá no castelo uma recriação das comemorações da vitória.
plb
Mestre na arte de versejar, senhor de virtualidades técnicas notáveis, Manuel Leal Freire é um dos maiores poetas da nossa terra.

5. Da Natureza à Alma
«O povo Inglês é um povo mudo; podem praticar grandes façanhas, mas não de escrevê-las», disse Carlyle, dos ingleses.
E acrescentava, com vaidade, no seu poema épico, que os feitos dos ingless está descrito na superfície da terra.
Contrapunha, humilde, Unamuno, que mais modestamente, e mais silencioso ainda, o povo Basco escreveu na superfície da terra e nos caminhos do mar seu poema; um poema de trabalho paciente, na América latina, mais que em qualquer outra. Mas durante séculos viveu no silêncio histórico, nas profundidades da vida, falando a sua língua milenária; viveu nas suas montanhas de carvalhos, faias, olmos, freixos e nogueiras, matizadas de ervas, bouças e prados, ouvindo chamar o oceano que contra elas rompe, e vendo sorrir o sol atrás da chuva suave e lenta, entre castelos de nuvens.
E concluía: «As montanhas verdes e o encrespado Cantábrico são o que nos fez.»
De facto, como tão bem observou Unamuno, é a Natureza e o meio que fazem os povos.
O homem encontra-se determinado pela natureza, a qual engloba tanto o seu próprio corpo, como o mundo exterior. E justamente a efectividade do próprio corpo, os poderosos impulsos animais que o governam, a fome, o impulso sexual, a velhice, a morte, determinam o seu sentimento vital e sua relação com o meio.
Esta constituição vital, que Platão já descrevia na vida presenteira dos terratenentes e sua doutrina hedonista, combatida por Heráclito, encontra expressão na filosofia epicurista, que S. Paulo desdenhou, está presente numa grande parte de literatura de todos os povos, e ressuou nas canções provençais, na poesia cortesã alemã, na epopeia francesa e alemã de Tristão, nas éclogas e pastorais do nosso Bernardim, depara-se-nos igualmente, na filosofia do século XVIII.
Nesta concepção do mundo, a vontade subordina-se à vida impulsiva que rege o corpo e às suas relações com o mundo externo: o pensar e a actividade finalista por ele dirigida encontram-se aqui ao serviço desta animalidade, reduzem-se a proporcionar-lhe satisfação.
Quando tal constituição vital se transforma em filosofia, surge o naturalismo, que, de forma uniforme, desde Demócrito, Protágoras, Epicuro e Lucrécio, a Hobbes, afirma ser o processo da natureza a única e integral realidade; fora dela, nada havendo; a vida espiritual distingue-se da natureza física só formalmente como consciência, de acordo com as propriedades nesta contidas, e a determinidade conteudalmente vazia da consciência brota da realidade física, segundo a causalidade natural.
As experiências do impulso vital, independentemente das construções filosóficas, ebabulações poéticas, levavaram sempre, e isso é que nos interessa, ao mesmo: ao sossego de ânimo, à paz de espírito, que surge em quem acolhe em si a conexão permanente e duradoira do universo.
No poema de Leal Freire, encontramos também a expressão desta constituição anímica. Ele vive em si a força libertadora da grande mundividência cósmica, astronómica e geográfica, que a paisagem particular e a Terra de Riba-Côa criaram.
O universo geográfico, as suas leis gerais, o nascimento de um sistema cósmico próprio, a história da Terra que sustenta animais e homens, por último, produz um homem particular, emergente de um universo cósmico:
«vem á ceia as courelas(10)/ cada uma traz seus mimos/ dá o quintal bagatelas
a veiga fartos arrimos// Das bouças vêm canhotos(11)/ Que um bento calor evolam
E até os manigotos/ Mandam cheiros que consolam// Vinhedos, chões e vergéis(12)/ Primasias se disputam/ Nem as rochas são revéis/ Em dura freima labutam.// As do monte mandam coelhos(13)/ As da ribeira bordalos/ Pirilampos são espelhos/ A cegarrega é dos ralos.»
E o homem que resulta, em Leal Freire, desta cosmogonia é piedoso; um bom pai, há semelhança de Lucrécio, que dizia «ser piedoso quem com ânimo sereno contempla o universo»:
«O lavrador, que é bom pai,/ A ver se a ceia é pra todos/ Não manda, que ele proprio vai.»
Um homem livre que, superando o fundamento mecaniscista do naturalismo, reconhece, como o ideal natrualista de Fuerbach, Deus, na imortalidade e na ordem invisível das coisas:
«Na mesa, que é um altarzinho(9)/ Que branca toalha cobre/
[…]
As Almas Santas dos Céus(14)/ Também descem para a mesa/ A noite, negra de breu,/ Resplandesce com a reza.»
Uma natureza provida de alma, impregnada da interioridade, que nela interpolaram a religião e a poesia.
Uma natureza que covida a uma atitude contemplativa, intuitiva, estética ou artística, quando o sujeito repousa, por assim dizer, nela do trabalho do conhecimento científico-natural e da acção que decorre no contexto das nossas necessidades, dos fins assim originados e da sua realização exterior.
Nesta atitude contemplativa alarga-se o seu sentimento vital, em que se experimentam pessoalmente a riqueza da vida, o valor e a felicidade da existência, numa espécie de simpatía universal.
Graças a tal estado anímico que a realidade suscita, voltamos nela a encontrá-los. E na medida em que alargamos o nosso próprio sentimento vital à simpatía com o todo cósmico e experimentamos este parentesco com todos os fenómenos do real, intensifica-se a alegria da vida e cresce a consciência da própria força vital, tal é a complexão anímica em que o indivíduo se sente um só com o nexo divino das coisas e aparentado assim a todos os outros membros deste vínculo.
Ninguém expressou com maior beleza do que Goethe esta constituição anímica:
Celebra a ventura de «sentir e saborear» a natureza». «Não só permites a fria visita de surpresa, mas deixas-me perscrutar o seu seio profundo, como no peito de um amigo». «Fazes passar diante de mim a série do vivente e ensinas-me a conhecer os meus irmãos no silencioso bosque, no ar e na água».
Esta constituição anímica encontra a resolução de todas as dissonâncias da vida numa harmonia universal de todas as coisas, que tão bem, como Goethe, soube resumir Leal Freire:
«A prece que ceia encerra/Manda pra longe a cizânia/A paz reina sobre a Terra.»
6. Alma enérgica e sensível
Conclui Leal Freire o seu poema com aquela magnífica saudação, que resume todo o carácter da minha raça:
«Dia um da criação (16)/A quantos na tasca estão.»
Uma saudação, curta em palavras, rude, como o que vem da força expontânea da natureza envolvente.
Não é por acaso, que o nosso folguêdo mais apreciado seja a capeia; um passatempo, em que se adestram colectivamente as forças dos homens, em confronto com a força bruta de um boi.
Um divertimento rude, para um carácter simples.
Como dizia Unamuno, a respeito povo Basco, a inteligência da minha raça também é activa, prática, enérgica. Sobreviver numa terra inóspita, de fronteira, exige mais um estética de acção, que de contemplação.
«E para quê poetas em tempos de penúria?», preguntava na 248 elegía, Pão e Vinho, o poeta alemão Hölderlin.
Por isso, em séculos, não produziu nenhum poeta, nenhum filósofo, nenhum santo; mas venceu muitos exércitos invasores, munido apenas de chuços e foices.
Não que o meu povo não seja capaz de pensar, sentir.
A aridez dos cabeços, a dureza da rocha granítica, o contínuo rebentar dos bracejos entre os barrocos, a florição das giestas em Maio, o verdejar dos prados, a sombra fresca dos freixos, o murmúrio dos ribeiros a galgar as fragas, a courela, os quintais, os chãos, os vergéis com os seus mimos, um lenhador carregando ao anoitecer o seu feixe de lenha, o carro de bois carregado balançando-se nos sulcos do caminho, a geada branca sobre o campo, tudo isto se apinha, se agrupa e vibra através da nossa existência diária.
Esta fica tão perto do passo no caminho do poeta e do filósofo que se recreia, como do pastôr, que pela orvalhada sai com o seu rebanho.
Um carvalho no caminho, um freixo num lameiro, induzem todos à lembrança dos primeiros jogos e e das primeiras escolhas da infância. Quando às vezes caía as golpes do machado uma árvore no meio de um bosque, o pai de família procurava na floresta, a madeira seleccionada para as tábuas do soalho, para a cumeeira da casa, o jugo das vacas, a rabiça do arado; o homem mais experiente escolhia a galha mais afeiçoada para o forcão, os moços colhem o madeiro do Natal.
A rudez, o perfume da madeira do carvalho, do castanheiro e do freixo, falam sempre da lentidão e da constância com que uma árvore cresce, floresce e frotifica, abrindo a sua copa ao céu, enquanto a sua raíz mergulha na terra sustentadora.
O caminho do campo recolhe tudo o que tem substância em seu redor, o enigma do perene e do grande, do céu e da terra, penetrando o homem e convidando-o a uma longa e serena reflexão sobre a criação.
Mas esse caminho do campo, como diz Heidegger, «fala sómente enquanto haja homens que, nascidos no seu âmbito, possam ouvi-lo.»
Enquanto o ritmo da vida, o trabalho, as pausas do trabalho, se façam ainda ao ritmo do relógio da torre e dos sinos, que, ainda segundo Heidegger, «sustentam a sua própria relação com o tempo e a temporalidade».
Enquanto «Derem os sinos trindades/ Por sobre as casas da aldeia/ Toques de suavidades/ Que prenunciem a ceia», nas palavras de Leal Freire.
Pena é que só agora, quando o sino das trindades já não marca o tempo dos trabalhos do campo, o meu povo tenha aprendido a falar num idioma de cultura, que revela ao mundo o seu ethos de um profundo sentido do transendente, um saber amável, uma serenidade espiritual, generosidade e fraternidade universais, sob uma aparente rusticidade.
Um ethos de boi valente a investir no forcão, dócil a puxar o arado; generoso sempre, ao pico do garrochão ou da aguilhada. Um povo ao mesmo tempo nervo e sentimento.
Leal Freire, Manuel Pina, Pinharanda Gomes, Eduardo Lourenço, interpretes deste ethos, são poetas e pensadores, que ainda ouvem o caminho do campo, numa Riba-Côa onde rareiam cada vez mais os homens que, nascidos no seu âmbito, ainda conseguem ouvi-lo.
A saudação do final do poema, é o murmúrio que Leal Freire escutou, do vento acariciando as copas dos carvalhos, dos castanheiros e freixos, por esses caminhos de Riba-Côa:
«Dia um da criação, para todos os que na tasca estão!»
Para todos os que ainda consigam ouvir os sinos das trindades e o vento, da terra dos nossos pais!
«Arroz com Todos», opinião de João Valente
joaovalenteadvogado@gmail.com
O escritor e filósofo raiano Jesué Pinharanda Gomes acedeu ao pedido dos autores do livro «Sabugal e as Invasões Francesas» para escrever o prefácio da obra, que está em fase de edição, e tem o seu lançamento agendado para o Sabugal, na tarde do dia 2 de Abril. Com a anuência do seu autor, adiantamos um pouco do que será o prefácio.
Que significado tem a gesta ribacudana das Invasões Francesas, tirante o inevitável protagonismo de Almeida? E, todavia, se é verdade que a queda de Napoleão e a derrota da França imperial começaram na Península, de modo muito particular em território português (antes de terminarem nas estepes geladas da Rússia e no cenário tonitroante de Waterloo), é também verdade que o poder napoleónico sofreu a última corrida em pêlo em território português, em Riba Coa, nos espaços dos antigos concelhos de Cima Coa, com realce para o Sabugal, de modo especial.
Napoleão foi «rei de Portugal» de facto, e de Espanha, ainda que delegasse a realeza, ou imperialidade, ou em Junot, aclamado como «El-rei Junot», celebrado na gloriosa pintura da autoria de Domingos Sequeira, ou em José Napoleão, quanto a Espanha, mas Napoleão era de facto El-rei. Viu-se e atrapalhou-se perante o cenário de uma quase primitividade bélica assente, em Portugal, numa tropa que logrou brilhar nas hostes inglesas do Arthur Wellesley, duque de Wellington, e na espontânea militância de camponeses e saloios, nas esperas das guerrilhas pelos bosques da Estremadura e das Beiras. Estas são, de resto, sublinhadas em obras especializadas de, por exemplo, Rosamund Waite (Life of the Duke of Wellington), de J. Chastenet (Wellington, com tradução portuguesa de 1945), ou, com mais pormenor, em The French Campaign in Portugal, 1810-1811, de Donald Horward. Além, claro, dos cronistas franceses que registaram os nefastos dias do Coa e do Sabugal, e dos portugueses, nas crónicas da Guerra Peninsular.
A aventura ou gesta relativa às invasões, focalizando o caso específico do Sabugal, encontra-se reconstruída e descrita neste livro, cujo epílogo põe a nossos olhos o fim, sem remissão, do General Massena, incapaz de satisfazer o projecto do Imperador, e dessa atroz figura do «Maneta», o famigerado Loison. Tudo com o fim na Batalha do Sabugal, junto ao Coa, em 3 de Abril de 1811. Fim militar, ou politico-militar, porque a outra «invasão», a ideológica, a da recepção dos ideários da Revolução Francesa (frutificante entre nós a partir de uns dez anos mais tarde, 1820), achou na presença militar franco-inglesa, oportuna sementeira.
J. Pinharanda Gomes
«Nuno Álvares Pereira o Galaaz de Portugal», é o novíssimo livro de Pinharanda Gomes. D. Nuno Álvares Pereira foi com 13 anos para o Paço de D. Fernando, onde a rainha o armou cavaleiro. Aos 16 anos foi obrigado a casar com uma viúva, Dona Leonor Alvim, de quem teria uma só filha, e de quem enviuvaria doze anos após o matrimónio. Devoto leitor dos antigos romances de cavalaria, Nuno Álvares quis imitar o venturoso Galaaz e ser também ele um corajoso paladino.
Pinharanda Gomes integrou a Comissão Histórica da Causa da Canonização de Nuno de Santa Maria, e dos aprofundados estudos em que se empenhou, resultou um manancial de informação. Desse empenho veio à luz o livro «S. Nuno de Santa Maria», publicado em 2009.
Da análise a Nuno Álvares Pereira enquanto herói nacional, saiu um conjunto de textos, que deram forma a um novo livro, intitulado «Nuno Álvares Pereira o Galaaz de Portugal», recentemente editado. Nele o Condestável é equiparado à figura do cavaleiro-herói da Távola Redonda.
Galaaz era a personagem principal do livro «Romance Histórico dos Cavaleiros da Mesa Redonda e da Demanda do Santo Graal», escrito no século XIII, o qual contém um conjunto de aventuras em que o jovem cavaleiro, virgem e devoto aos juramentos de castidade, se empenha corajosamente.
Pinharanda Gomes defende a tese de que Nuno Álvares foi o Galaaz português, baseando-se sobretudo na obra de Fernão Lopes «Chronica do Condestabre». Gostava de ler os romances de cavalaria e cedo sonhou tornar-se um desses virtuosos aventureiros, que lutavam por causas.
Abraçando a causa do Mestre de Avis, Nuno Álvares defendeu a independência nacional, ocupando o lugar na vanguarda do exército. Foi ele que gizou a estratégia que levou de vencida os castelhanos na batalha de Aljubarrota, garantindo a continuidade de Portugal como reino independente. Nomeado fronteiro do Alentejo e depois Condestável do Reino, continuou a velar pela força militar portuguesa até que o chamamento da santidade o levou ao recolhimento.
plb
Está marcado para esta sexta-feira, 12 de Março, no Palácio da Independência, em Lisboa, o lançamento do 5.º número da revista «Nova Águia» com a presença, entre outros, do filósofo e pensador sabugalense Jesué Pinharanda Gomes.
A apresentação do 5.º número da Revista Nova Águia, dedicado aos «100 Anos d’A Águia e a Situação Cultural de Hoje» está marcada para o Palácio da Independência em Lisboa, com a presença de Pinharanda Gomes, António Braz Teixeira e Manuel Ferreira Patrício.
A revista «Águia» foi uma das mais importantes publicações do início do século XX em Portugal, em que colaboraram algumas das mais relevantes figuras da cultura portuguesa, como Teixeira de Pascoaes, Jaime Cortesão, Raul Proença, Leonardo Coimbra, António Carneiro, António Sérgio, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva.
A «Nova Águia» pretende ser uma homenagem a essa tão importante revista da nossa História, procurando recriar o seu «espírito», adaptado aos nossos tempos, ao século XXI, como se pode ler no seu Manifesto. Inspirando-se na visão de Portugal e do Mundo de Teixeira de Pascoaes, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva, a Nova Águia assume-se como um órgão plural.
jcl (com Poetícia e Zéfiro)
Já está lotada a sala do restaurante Robalo, no Sabugal, onde se irá realizar o VI Almoço do Bucho, no dia 13 de Fevereiro, organizado pela Confraria do Bucho Raiano, no qual participarão os confrades que adquiriram o respectivo traje, confeccionado pela empresa Modache, com sede no Sabugal.
Os comensais juntar-se-ão previamente, a partir das 11 horas, no Salão da Junta de Freguesia do Sabugal, onde será levantado o respectivo traje de confrade e será servido um Porto de Honra.
Pelas 12,30, os confrades, já devidamente trajados, seguirão em cortejo para o restaurante Robalo, onde pelas 13 horas, o escritor e também confrade Pinharanda Gomes, da Academia Luso-Brasileira de Letras e da Academia Internacional da Cultura, fará uma prelecção sob o tema «Os Sabores Antigos da Gastronomia Raiana».
O almoço, que se seguirá, será inevitavelmente composto por bucho, guarnecido com grelos de nabo e batata cozida, como ordena a tradição. De entrada haverá pão, azeitonas, chouriço fatiado, morcela e mioleira assada na brasa. A sopa é a do bucho, com grão, hortaliça e massa. Para beber a casa disponibiliza vinho do Dão (Silgueiros), água, refrigerantes e cerveja. De sobremesa haverá bufete com arroz doce, papas de milho, farófias, tapioca e aletria, para além de queijo e fruta da época. A finalizar será servido café e bagaço da casa.
Após o almoço tomarão posse os elementos dos novos corpos sociais da confraria, recentemente eleitos pelo Capítulo, e, seguidamente, um grupo de confrades animará os espíritos, tocando viola e entoando cantigas tradicionais.
Um grupo de motards virá de Portalegre para degustar o bucho e eles, tal como os os acompanhantes e convidados especiais de alguns confrades aderentes serão os únicos que não envergarão os trajes prescritos nas «usanças».
O VI Almoço do Bucho está integrado nos Roteiros Gastronómicos, iniciativa da Câmara Municipal do Sabugal, à qual aderiram 13 restaurantes do concelho que nestes dias terão o bucho e demais pratos regionais nas suas ementas.
plb
No Café Concerto do Teatro Municipal da Guarda, foi apresentado no dia 22 de Janeiro – «CICATR-IZANDO» – o novo disco de Américo Rodrigues.
Na sessão de apresentação no café-concerto do TMG do disco «Cicatr-izando» de Américo Rodrigues actuou um grupo constituído por Victor Afonso, César Prata, Eduardo Martins, Tiago Rodrigues e o próprio autor.
O disco regista o som de acções poéticas a partir de elementos da tradição oral portuguesa (romance, lengalengas, orações, adivinhas, ditos, alcunhas e vocabulário de uma gíria).
«À cata da gíria» – Viajo até uma localidade da raia onde se recorda uma gíria de contrabandistas. Durante a viagem ouvimos músicas do Mundo. Não respeito as indicações de percurso. Telefono a um filósofo e filólogo para me explicar de onde vem aquele linguajar. Regresso. (acção realizada no dia 11 de Agosto de 2009 entre a Guarda e Quadrazais).
A maior surpresa é a voz de Pinharanda Gomes que aparece nesta acção à cata da Gíria de Quadrazais.
Todos os temas tiveram por base uma intervenção concreta em cujo processo se usaram tecnologias rudimentares de gravação, comunicação e amplificação da fala e da voz. O som obtido nas acções foi depois alvo de montagem com edição de «Bosq-íman:os records».
A obra musical tem o apoio da Luzlinar, e do IELT – FCSH/ Universidade Nova de Lisboa.
O disco encontra-se à venda na Casa do Castelo na cidade do Sabugal.
Natália Bispo
O ano que agora finda foi fértil em acontecimentos dignos de realce no concelho do Sabugal e a que o Capeia Arraiana deu expressão. O facto de ser ano de eleições autárquicas contribuiu muito para isso, mas também se verificaram outros eventos de realce, como as caminhadas, que pegaram moda e aconteceram nas diversas terras. O Capeia Arraiana publicou mais de 1250 artigos, com notícias, entrevistas, colunas de opinião e outros artigos de interesse para o nosso concelho.
Em Janeiro as eleições autárquicas já estavam lançadas com os principais candidatos à Câmara do Sabugal assumidos e a tentarem ganhar expressão perante o eleitorado. De resto 2009 foi o ano de todas as escolhas políticas, com eleições europeias em Junho, legislativas em Setembro e autárquicas em Outubro. E foi logo no início do ano que o Capeia Arraiana acolheu a primeira polémica do ano: a ausência da Câmara do Sabugal na Bolsa de Turismo de Lisboa. Joaquim Ricardo e António Dionísio assinaram artigos muito críticos dessa opção, o que gerou um vivo e interessante debate entre os leitores.
Uma inabitual vaga de frio e de neve afectou o concelho nas primeiras semanas do ano, com os termómetros a registarem temperaturas negativas em dias sucessivos.
Fevereiro foi o mês em que o Capeia Arraiana atingiu o meio milhão de visitantes e em que se realizou, no Sabugal o IV almoço da Confraria do Bucho Raiano, integrado na semana gastronómica concelhia. As comemorações carnavalescas geram controvérsia entre Aldeia do Bispo e o Sabugal devido à ocorrência dos cortejos na mesma data. Esse mês começou porém com a triste notícia da morte de José Diamantino dos Santos, provedor da Santa Casa da Misericórdia do Sabugal e fundador do Externato Secundário. O seu funeral, num dia chuvoso e frio, juntou largas centenas de pessoas, vindas dos quatro cantos do país, para lhe prestarem a última homenagem.
Em Março a notícia de uma possível capeia arraiana na ilha Terceira, nos Açores, inserida nas festas são-joaninas lançaram mais uma longa polémica, que perduraria durante semanas a fio e que motivaria inclusivamente um abaixo-assinado de gente arraiana, que parecia temer perder a sua tradição taurina.
A singela e muito digna homenagem que a Junta de Freguesia do Sabugal fez ao escritor e jornalista sabugalense Manuel António Pina, marcou o mês de Abril, e inspirou outras homenagens ao poeta que depois se sucederam. Descerrou-se uma placa na casa onde o escritor nasceu, falou-se da sua vida e obra e assistiu-se a uma representação teatral da sua autoria. A 26 de Abril o Papa Bento XVI proclamou a canonização do português São Nuno de Santa Maria que o povo conhece como Santo Condestável e o Capeia Arraiana deu a conhecer que o quadrazenho Jesué Pinharanda Gomes foi um dos quatro magníficos peritos da Comissão Histórica que investigou, estudou, decifrou e compilou as centenas de documentos que constituíram o processo.
Em Maio a entrevista do novo provedor da Santa Casa da Misericórdia do Sabugal, Romeu Bispo, afirmando que António Dionísio, candidato do PS, o ajudara a garantir que o Sabugal teria uma Unidade de Cuidados Continuados gerou nova polémica, com resposta pronta do presidente do Município, Manuel Rito, afirmando que se preferiu a «cunha partidária» em vez da via institucional. Dia 30 iniciaram-se as polémicas crónicas do saudosista sabugalense Ventura Reis, cujas criticas geradas o levariam mais tarde a desistir de escrever, remetendo-se ao silêncio.
Em Junho José Saramago recriou a rota do elefante Salomão e passou em Sortelha. Os motards fizeram o percurso «Portugal de lés-a-lés», passando por Alfaiates, cujo castelo ameaça ruína. O presidente da Junta de Freguesia da Bismula, José Vaz, afirma ter sido vítima de uma represália política por parte da Câmara e nasceu uma nova controvérsia, alimentada por artigos e comentários sucessivos.
Julho trouxe outra polémica: a ausência da Câmara da Feira Internacional de Artesanato, onde porém um peça de renda feita por uma artesã do Sabugal foi premiada. Textos de candidatos e comentários dos leitores apimentaram mais um dilema que durou largo tempo num ambiente já muito tocado pelas eleições que eram chegadas. Ainda em Julho o Capeia fez grandes entrevistas aos candidatos à Câmara Municipal.
Agosto foi, como sempre sucede, o mês das capeias arraianas, que se sucederam por toda a raia, desta vez estimuladas pela campanha política que estava ao rubro. No festival do forcão, em Aldeia da Ponte, o repórter tirou a fotografia do ano: António Morgado, ex-presidente do PSP, ao lado de António Dionísio, candidato do PS, dando sinais de um apoio que a campanha oficial confirmaria. Aqui nasceu uma nova polémica (o post com a edição da foto recebeu 53 comentários).
Os primeiros dias de Setembro são de drama, devido à grande calamidade que assolou o lado ocidental do concelho desde os últimos dias de Agosto: um incêndio devastador que arrasou floresta e pastagens, pondo em perigo muitas aldeias. Esta fatalidade abrasou a campanha politica dada a aproximação das eleições. O Presidente da República visitou de surpresa a área ardida, e a polémica ganhou novo fôlego, com criticas à actuações dos bombeiros, da Protecção Civil e do Município. Num momento de maior tensão a Câmara vê-se obrigada a suspender uma inauguração polémica quando caiu a informação de que a Comissão Nacional de Eleições proibira uma acção similar em Braga. No penúltimo fim-de-semana as principais candidaturas autárquicas fizeram as suas apresentações públicas e a partir daí a campanha autárquica ficou decididamente lançada.
Outubro foi o mês eleitoral, com António Robalo a garantir a manutenção da Câmara nas mãos do PSD, perdendo porém a maioria absoluta. Os últimos dias de campanha estiveram ao rubro, especialmente após termos informado que António Morgado mergulhara na campanha socialista. Mas Outubro foi o mês das surpresas e depois de se assistir à vitória social-democrata eis que o candidato socialista Ramiro Matos foi eleito presidente da Assembleia Municipal.
Novembro voltou a ser o mês do bucho e a Confraria garantiu a presença do Procurador Geral da República no almoço de Lisboa, que aconteceu no palácio da antiga Cooperativa Militar. A nova composição do Executivo Municipal, sem a habitual maioria do lado do presidente eleito criou dificuldades que pouco a pouco os membros do executivo aprenderam a ultrapassar.
Em Dezembro a expectativa de dificuldades na aprovação do orçamento camarário ficaram goradas e o mesmo passou com a abstenção da oposição, assim se garantindo a normalidade na gestão da Câmara no próximo ano. António Robalo acaba o ano a queixar-se do traçado da A23, que queria que passasse entre o Sabugal e a Guarda, posição que porém a Câmara do Sabugal nunca defendeu publicamente.
«Contraponto», opinião de Paulo Leitão Batista
leitaobatista@gmail.com
A «Apologia de Sócrates», escrita por Platão, com tradução, prefácio e notas de Pinharanda Gomes, vai da sua sétima edição, acontecida em 2009, o que comprova o valor deste escrito fundamental para o estudo da filosofia clássica.
A primeira edição aconteceu em 1988 e, a partir daí, não mais pararam as reedições deste precioso escrito por parte da Guimarães Editores, inserida na prestigiada colecção Filosofia & Ensaios.
O filósofo ateniense Sócrates, que durante longos anos ensinara nos lugares públicos de Atenas, rompendo com as concepções dominantes, foi levado, aos 71 anos de idade, perante os 501 juízes do Tribunal dos Heliastas. O velho sábio de pé descalço, filósofo do passeio público, dos mercados e das tabernas, era acusado de negar os deuses da cidade e de introduzir novas divindades, para além de corromper a juventude.
A acusação era da autoria de três cidadãos atenienses: Meleto, poeta e porta-voz do triunvirato; Anito, general que lutara pela democracia contra a tirania; e Lícon, orador de ascendência estrangeira. Propuseram à Assembleia o castigo extremo, em razão da gravidade da acusação: a pena de morte.
O texto de Platão, que Pinharanda Gomes traduziu e anotou, reproduz a defesa oral de Sócrates, que abdicou dos préstimos de Lísias, orador de nomeada, que se ofereceu para refutar as acusações de que o velho filósofo era alvo. Pinharanda, no prefácio, explica as razões de Sócrates para essa objecção: «Era possível que Lísias, treinado nas lides forenses, conhecedor das psicologias heliásticas, mais ajustado aos modos de reagir de tais assembleias, detivesse o segredo – não necessariamente a arte de demonstrar a verdade, – do ínfimo pormenor persuasivo, pelo qual fosse possível mover a comiseração dos Quinhentos e Um. No entanto, se Sócrates fosse beneficiado, o benefício iria a crédito, não da sua palavra, não da sua arte, não do seu pensamento, mas da palavra, da arte e do pensamento de um Sofista.»
Sócrates recusou a defesa do experimentado Lísias e defendeu-se a si mesmo. O jovem Platão, que assistiu ao julgamento «e ainda esboçou o início de uma intervenção, sendo interrompido pelos juízes, que o mandaram regressar ao lugar», reduziu a escrito, de memória, o maravilhoso discurso do Mestre perante a Assembleia que o ouviu atenta, mas que no final foi implacável, condenando-o à morte sem apelo. Ainda que tenha persuadido uma boa parte dos 501 juízes, 280 votaram a morte.
Defende-se pois Sócrates, num longo e vivo discurso, das graves acusações que lhe eram dirigidas. O texto é considerado um clássico da arte persuasiva, se bem que o velho pensador de Atenas falasse antes da arte de ser verdadeiro, contrapondo entre o justo e o injusto para assim revelar a real natureza do homem.
Parecendo convencido que os juízes o condenariam, «os parágrafos finais da apologia são um exercício sobre a morte», diz-nos Pinharanda Gomes no prefácio da obra.
Sócrates lança a dúvida sobre se a morte pode ser um castigo e diz mesmo aos juízes de viva voz: «vejo que o melhor para mim é morrer agora, libertando-me de todos os cuidados». Afinal qual é o sentido da vida? Sócrates termina a sua longa defesa deixando a dúvida: «Chegado é o tempo de partirmos. Eu para a morte, vós para a vida. Qual dos destinos é o melhor, a não ser o deus, ninguém o sabe.»
Pinharanda Gomes traduziu o texto de Platão seguindo o texto estabelecido por Harold North Fower para a edição da Loeb Classical Library, mas procurando equivalência com a edição de Henri Estienne (Paris, 1578). Também confrontou a sua tradução com a de anteriores traduções portuguesas, como as de Ângelo Ribeiro, Sant’Anna Dionísio e Manuel Oliveira Pulquério. E aqui se explica, a nosso ver, o sucesso desta edição da Guimarães Editores, da autoria de Pinharanda Gomes, cujo labor confere ao texto o rigor necessário para ser lido e sinalizado pelos estudiosos.
Para além da Apologia de Sócrates Pinharanda Gomes traduziu também outros livros clássicos da Filosofia, sempre para a Guimarães Editores, de onde se destacam: Discurso do Método, de Descartes; Fedro, de Platão; Isagoge, de Porfírio; Carta sobre o Humanismo, de M. Heidegger; Organon, de Aristóteles
plb
É necessário um acto de desagravo à Senhora da Póvoa.
Estão frescas na nossa memória as notícias de dois graves sacrilégios: com uma serra de serrar rocha, alguém cortou e roubou as cruzes manuelinas (do século XVI) que desde há séculos estavam implantadas no adro da Matriz de Loures e nos Quatro Caminhos de Frielas. Inacreditável! Para que irão e para que servirão essas cruzes, emblemas do património nacional, acerca de cujo destino não vemos as autoridades em acção. É pedra… Se fossem notas!
Somos agora feridos com uma punhada no peito, quando soubemos que a veneranda e antiga imagem de Nossa Senhora da Póvoa de Vale de Lobo tinha sido roubada do seu santuário.
Nossa Senhora da Póvoa é, desde dos fins do século XVIII, o santuário mariano da Beira Baixa e de Ribacoa. Os mais novos não sabem, mas os da minha geração, jovens nos meados do século XX, ainda nos lembramos das filas de carros de tracção animal (bois, burros ou cavalos) enfeitados com festões e colchas de seda, transportando famílias inteiras, para a Senhora da Póvoa, logo na segunda-feira de Pentecostes. Romagem para dois dias, levava-se de comer o bastante e, à ida e à volta, era costume parar no sítio do Castanheiro das Merendas, já muito depois do Sabugal, para alimentar os animais e as pessoas.
Romaria de piedade, de promessas e também das folias que vinham de Monsanto e de Penamacor, com os seus estandartes, descantes e bombos; e, algumas vezes, toldados pelo vinho, moços que acabavam em lutas de vida e de morte. Leiam o «Maria Mim» de Nuno de Montemor e a «Celestina» de Joaquim Manuel Correia.
O ladrão deve ter-se arrependido, e abandonou a secular e sagrada imagem, debaixo de uma árvore, onde gente do povo a encontrou. Já devolvida à sua santa casa, falta agora que os povos da Beira-Côa e da Beira da Malcata e do Meimão, procedam a uma cerimónia de desagravo, na presença de todas as autoridades civis, militares e políticas da região. Não é possível que nada se faça como se nada tivesse acontecido:
«Nossa Senhora da Póvoa
Tem um galo no andor,
Cada vez que o galo canta
Acorda Nosso Senhor»
«Carta Dominical», opinião de Pinharanda Gomes
pinharandagomes@gmail.com
Um Bispo do Futuro. Um rosto da Igreja em Portugal. É motivo de júbilo para o autor desta carta, a notícia de que o Prémio Pessoa, fora este ano atribuído pelo júri do semanário «Expresso» ao bom amigo e antigo Bispo titular de Pinhel, D. Manuel José Macário do Nascimento Clemente, que tive a honra de conhecer há bem uns trinta anos, e com quem mantive, por sua abertura de espírito, frequentes contactos.
Ainda não há muito que tivera a gentileza de prefaciar a nossa Antologia Documental sobre a extinta Diocese de Pinhel, a par de outras gentilezas.
Um tanto alheado do mundo dos prémios, dizem-me que este Prémio Pessoa é de alto significado e que se destina a distinguir personalidades / obras de mérito humanístico e universal, sendo esta a primeira vez que cabe a um bispo e notável pensador.
Nascido em Torres Vedras (1948), ordenado prebístero (1979), nomeado bispo titular de Pinhel (1999) e bispo auxiliar de Lisboa (Janeiro 2000), é, desde 25 de Março de 2007, bispo do Porto, sucedendo a D. Armindo Lopes Coelho.
Muitos sentimos vê-lo colocado fora de Lisboa, onde sempre vivera e trabalhara, mas a missão obriga. Doutorado em teologia histórica (1992), tem desempenhado diversas funções no âmbito da Conferência Episcopal Portuguesa, sobretudo como promotor da Comissão de Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais do Episcopado Português.
Foi vice-reitor dos Seminários dos Olivais e professor na Universidade Católica. Para além de tudo – e muito teve de trabalhar como bispo responsável pelo Oeste do Patriarcado, com todas as freguesias, desde Mafra a Alcobaça – ainda dispôs de ânimo para investigar e publicar, quer em publicações científicas (Boletim de Trabalhos Históricos, Laikos e Lusitânia Sacra, etc.) quer em livros.
Desde logo na sua tese intitulada «Nas Origens do Apostulado Contemporâneo em Portugal. A Sociedade Católica» (1843-1853), e, mais recentemente, dois voluminhos de ensaios e reflexões de história sagrada portuguesa (melhor: da religiosidade portuguesa) e do diálogo Igreja / Mundo: «Portugal e os Portugueses» (2008) e «1810-1910-2010» (2009).
Simplicidade peculiar aos sábios, o Prémio Pessoa honra-o e reflecte a luz na Igreja de que é pastor.
Parabéns, e votos de à maior glória de Deus.
«Carta Dominical», opinião de Pinharanda Gomes
pinharandagomes@gmail.com
Na meada do século XX os jovens estudantes que aportavam na cidade da Guarda viviam intensamente os momentos que passavam juntos. O convívio era são e a amizade era profunda. Falava-se de literatura, escreviam-se sonetos, planeavam-se serenatas à janela das moças e ia-se beberricar e petiscar à Cova Funda, a mais emblemática taberna da cidade.
Manuel Poppe, que estudou na Guarda por razões de saúde, pois fora-lhe aconselhado o ar da montanha, descreveu no seu livro «Memórias, José Régio e Outros Escritores» muitas dessas vivências de adolescente.
Aí conviveu com muitos jovens estudantes do distrito, que estudavam na cidade, entre os quais Pinharanda Gomes: «Um dos companheiros de lazer e discussão era o Pinharanda Gomes, lembro-me de planearmos um levantamento contra o regime, que envolveria o quartel da Guarda e duas camionetas de quadrazenhos».
Saindo da cidade, acompanhava por vezes alguns amigos que iam de fim-de-semana às suas terras. Assim conheceu as aldeias e os casais humildes da Beira, os «lares negros do fumo, com os enchidos pendurados e os caldeiros de ferro». Era gente pobre, que recebia com gosto quem lhe passava por casa, ainda que a comida fosse parca: «Uma vez, a mãe do Claudino, parceiro de futebol que morreu em 1962, em Angola, recebeu-me com um almoço especial: doze ovos estrelados. Era o melhor que podia oferecer.»
Por pertencer a família remediada, o pai era juiz, o jovem Manuel Poppe também viajava e experimentava os sabores de cada terra. Isso mesmo aconteceu numa pensão em Vila Nova de Paiva, onde as refeições eram servidas à mesa comum e a conversa entre o pai e um hóspede meio imbecil estava turva e agreste, valendo a comida que veio à mesa:
«A Dona Aurora, a patroa, trouxe a terrina fumegante, a canja de galinha com arroz e ovinhos a boiar, e o ambiente desanuviou-se.
– Ora aqui vem a sopinha!…».
A páginas tantas Manuel Poppe, que já adulto viajou muito e conheceu Mundo, revela-nos que é, afinal, um profundo apreciador da boa gastronomia. Fá-lo reagindo à afirmação de um amigo, com quem almoçava num restaurante, de que gostava que inventassem pílulas alimentícias porque a comida não lhe interessava para nada:
«Ora eu sempre apreciei a boa mesa: a boa comida e os bons vinhos, não entendo que se viva sem eles. É uma falha. Nas terras, nos países em que fui e vivi, apreciei a gastronomia, componente fundamental de culturas. Que disparate desprezar o ensopado de cabrito de Aldeia da Serra, a caminho do Redondo, ou as sopas de sarrabulho de Famalicão (onde me levava o meu querido amigo Rui Polónio Sampaio); o pato assado de Mântua (no Cigno d’Oro); o calulu de S. Tomé; o delicioso “tcholent” oferecido pela Shlomit, às sextas-feiras, no café Dizza, em Telavive!».
«Sabores Literários», crónica de Paulo Leitão Batista
leitaobatista@gmail.com
Nascido em Quadrazais, concelho do Sabugal, Pinharanda Gomes é um dos mais prolixos escritores portugueses, com largas dezenas de livros publicados. Diversa é também a temática abordada, que vai da Filosofia à História, passando pela Religião, a Etnografia e mesmo a Biografia.
Para além da actividade literária propriamente dita Pinharanda Gomes é um homem da vida. Incapaz de recusar um pedido, a vida levou-o a manter colaboração, regular ou pontual, com uma imensidade de jornais e de revistas, a proferir largas dezenas de conferências, e a escrever perto de cem prefácios e posfácios em livros alheios, tendo ainda colaborado em dezenas de dicionários e enciclopédias.
A sua área de excelência é a Filosofia, onde integra o «pensamento português», na esteira de Leonardo Coimbra, Álvaro Ribeiro e José Marinho. Uma boa parte da obra literária está pois dedicada ao pensamento. Outra faceta importante, que talvez secunde o trabalho filosófico, é a dos textos de índole religiosa, alguns apologéticos outros historiográficos, todos realçando a profundeza e o enraizamento da doutrina católica nas convicções do nosso povo.
Dentro desse mesmo espírito se enquadra o volume «A Cidade Nova», que reúne um conjunto de reflexões acerca da religião e da sociedade. Seguiu-se a «Duas Cidades», sendo-lhe uma espécie de segundo volume, por dar continuidade ao tratamento dos mesmos temas. Os ensaios abordam a temática religiosa em diferentes quadrantes: a relação da Igreja Católica com as demais religiões, a renovação do pensamento católico, o papel de Maria no catolicismo e, por fim, o culto do Divino Espírito Santo em Portugal.
Precisamente neste último ponto, Pinharanda aborda a teologia do Divino numa perspectiva popular. Explica como esse culto se tornou tão celebrado entre o povo e como evoluíram as festividades, integradas no «ciclo da alegria», que se segue ao Domingo de Páscoa. Ali nos fala das loas, ou folias, dedicadas ao Espírito Santo, levando-nos até ao vôdo, ou bodo, que era a dádiva destinado inicialmente aos mais pobres e carenciados, e que depois evoluiu para lauto banquete, cuja confecção e composição variam consoante o lugar:
«O vôdo pode constar de caldo de carne, a sopa do Divino, e carne e pão e vinho, como nos Açores; ou leite, o que sucede em Vila Franca do Rosário (Açores) em que o promitente do voto traz as vacas para serem ordenhadas na praça pública e, o leite, distribuído pelos pobres. No Continente, onde o gado bovino de trabalho abundava mais do que o gado leiteiro, raro era o costume de matar a vaca. Preferiam-se os borregos, os cabritos, os coelhos, e outros animais miúdos, e também os comeres com ovos: chouriças embebidas em gema, fritas; enchidos vários; biscoitos de farinha triga e ovos, os coscoréis, espécie de filhó, amassada com ovos, uma base de farinha triga. Por então cantavam os moços:
É a moda dos coscoréis
E também a das rosquinhas
E também a das amêndoas
Que se dão às raparigas.»
«Sabores Literários», crónica de Paulo Leitão Batista
leitaobatista@gmail.com
O Santuário de Fátima retoma, a partir deste mês de Novembro, um ciclo de conferências temáticas de carácter mensal. Cada conferência, é aberta ao público e gratuita, e terá lugar na Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, no Santuário, no segundo domingo de cada mês. A conferência do dia 8 de Novembro tem como orador o ensaista e pensador sabugalense Jesué Pinharanda Gomes.
A primeira conferência marcada para o próximo domingo, 8 de Novembro, será sobre São Nuno de Santa Maria (Nuno Álvares Pereira) e terá como orador Pinharanda Gomes que destacará «Aspectos histórico-biográficos» do novo santo português.
A 13 de Dezembro, o padre Luciano Cristino abordará a «Dimensão mariana e relação com Fátima».
Para o início de 2010, estão agendadas três conferências: a 10 de Janeiro, 14 de Fevereiro e 14 Março, que versarão sobre o Ano Sacerdotal. Com tema e conferentes a anunciar oportunamente, esta série procurará, nas palavras do Reitor do Santuário de Fátima, padre Virgílio Antunes, reflectir sobre o «tema teológico, doutrinal, espiritual e pastoral do sacerdócio».
No âmbito do centenário da Implantação da República em Portugal, está também agendada, para 10 de Outubro de 2010, uma conferência intitulada «100.º aniversário da implantação da República em Portugal» por António Fernandes.
jcl
O Papa Bento XVI proclamou este domingo, 26 de Abril de 2009, em Roma, a canonização do português São Nuno de Santa Maria que o povo conhece e reconhece há mais de 600 anos como Santo Condestável. O Capeia Arraiana esteve à fala com mestre Jesué Pinharanda Gomes, natural de Quadrazais, no concelho do Sabugal, um dos quatro magníficos peritos da Comissão Histórica que, desde 2003, investigou, estudou, decifrou e compilou centenas de documentos relativos à vida de D. Nuno Álvares Pereira.
O Patriarcado e a Ordem do Carmo decidiram iniciar o processo de canonização do Beato Nuno de Santa Maria no Verão de 2003 tendo dado posse às várias instituições canónicas no dia 13 de Julho numa cerimónia pública no Convento do Carmo em Lisboa. Nesse dia os membros do tribunal, o notário, os teólogos e a comissão de historiadores prestaram juramento canónico de sigilo e compromisso de dedicação à causa. Entre eles, na Comissão Histórica, estava o sabugalense Jesué Pinharanda Gomes, um dos maiores filósofos, ensaístas e pensadores portugueses vivos. «A minha vida, desde 2003, foi passada a analisar documentos na Biblioteca Nacional, na Torre do Tombo, em casa e em outros lugares», começou por nos dizer mestre Pinharanda Gomes.
– Especificamente o que lhe pediram a si?
– A mim, em particular, não me pediram nada. Eu fiz parte da Comissão Histórica, constituída por quatro elementos, que trabalhava em obediência ao Postulador-Geral em Roma e ao Vice-postulador em Portugal.
– Qual foi a missão da Comissão História?
– A missão da Comissão Histórica consistiu em descobrir, investigar, copiar e compilar todos os documentos escritos sobre o candidato a santo, sejam do próprio, ou de terceiros. Consultámos centenas de documentos e livros na Biblioteca Nacional, na Academia das Ciências, na Torre do Tombo, no Arquivo do Patriarcado, no Arquivo da Ordem do Carmo e outros locais. Na fase seguinte fizemos uma triagem e colocámos de lado tudo o que fosse escrito de forma simpática, patriótica, apologética ou panegírica. Depois seleccionámos entre os escritos de intérpretes, teólogos e historiadores, os que trataram – sem elogios – as virtudes heróicas, militares e religiosas de D. Nuno Álvares Pereira. Foi necessário escolher, como documentos credíveis, os testemunhos de pessoas que o conheceram de perto e daqueles que não viram nem ouviram mas que lhes disseram que assim era. As pessoas que beneficiaram da sua presença e o conheceram melhor foram os filhos de D. João I, a Ínclita Geração, e que deixaram testemunho escrito. Por um lado D. Duarte, que escreveu, por volta de 1432 ou princípios de 1433, no «Sumário sobre as virtudes heróicas do Santo Condestável» e também as orações que o infante D. Pedro criou para serem incluídas no ofício divino para a sua canonização. Já nesse tempo se pensava que iria ser rápido o processo de canonização e prepararam tudo para as cerimónias religiosas.
– Havia muita documentação no Convento do Carmo?
– Infelizmente no dia 1 de Novembro de 1755 ficou tudo destruído não tanto pelo terramoto que aconteceu em Lisboa mas pelos incêndios que se sucederam após a tragédia. O Convento do Carmo foi pasto das chamas e o que se salvou foi o que estava depositado na Torre do Tombo ou em outros sítios. No convento apenas existem os escritos que Frei Pedro de Santana publicou no livro «A História da Ordem do Carmo» da Ordem dos Carmelitas. No Arquivo Real há uma biografia manuscrita intitulada «Crónica do Condestável», cujo autor se ignora mas que foi escrita por alguém que conheceu bem D. Nuno. Tem data de 1525 a primeira publicação, em livro, do manuscrito. Essa crónica do Condestável é a narrativa mais completa que existe sobre a sua vida militar. Quando a obra foi descoberta os historiadores tentaram atribuí-la a Fernão Lopes mas os especialistas fazendo a crítica interna dos textos verificaram que é muito anterior ao grande cronista. No entanto entendemos que os escritos ajudaram Fernão Lopes a elaborar a Crónica de D. João I. O cronista, apesar de não ter conhecido pessoalmente o Santo Condestável, conviveu muito de perto com os infantes que lhe terão contados pormenores que foram aproveitados para escrever um documento mais completo sobre as aventuras militares e a religiosidade de D. Nuno. Onde esteve, como esteve… Na última parte da crónica, Fernão Lopes, escreve algumas páginas sobre o abandono do Mundo pelo Condestável e a sua entrada no Convento da Ordem do Carmo. Estes documentos testemunhais foram considerados dignos de crédito.
– Do quartel para o convento é um percurso anormal…
– Para além dos testemunhos da época há depois a fama popular de santidade. Há toda uma série de estudos sobre a sua maneira de ser e sobre a sua vida relatados pelo povo. Sucessivos autores, no século XVI, registaram as suas iniciativas de caridade, o andar descalço em Lisboa a pedir esmola para os pobres, o ter tomado a seu cargo dar de comer aos famintos no Convento do Carmo. Depois de ter dado parte da herança à filha e premiado os seus colaboradores militares doou todo o restante à Ordem do Carmo para a qual fez uma igreja e convento, no sítio do Carmo, em Lisboa. No convento está a Guarda Republicana e a igreja está em ruínas. O povo afirmava que aquele frade que vivia no convento do Carmo era santo. Chamavam-lhe o Conde Santo ou Santo Condestável. Ao longo de 600 anos ele beneficiou dessa fama de santidade que nunca lhe foi negada. Se não tivesse havido algumas modificações no código de direito canónico sobre o processo de beatificação e canonização D. Nuno já, há muito, seria considerado oficialmente santo sem necessidade de mais testemunhos do que a antiguidade da sua fama. Bastava essa fama. Em 1931, por exemplo, estando já em vigor as novas exigências canónicas, o Papa Pio XI canonizou com base na antiguidade o grande teólogo dominicano alemão São Alberto Magno sem necessidade de processo especial.
– O processo podia ter sido muito semelhante?
– Podia. O que é certo é que em Janeiro de 1918 o Papa Bento XV com fundamento na antiguidade do culto, reconheceu que em Portugal e na Ordem do Carmo havia uma antiga fama de santo atribuída a Nuno Álvares Pereira. O Papa Bento XV decidiu beatificá-lo como Nuno de Santa Maria, o nome que tinha adoptado quando entrou na Ordem. Mas a designação não entrou no povo que lhe continuou a chamar Santo Condestável. Até mesmo as autoridades da Igreja portuguesa… O Cardeal Cerejeira criou em Lisboa uma paróquia e uma nova igreja com o nome de Santo Condestável, a antiga designação do Beato Nuno de Santa Maria.
– E chegados a 2003 começou a pesquisa histórica. Mas não deve ter sido fácil o acesso e a leitura dos documentos…
– Houve alguma dificuldade na consulta e fotocópia autenticada dos documentos para juntar ao processo mas como todos nós que fazíamos parte do Conselho Histórico eramos pessoas conhecidas… Mas, entretanto, com as novas condições era necessário um milagre. Uma vez satisfeita a parte histórica era necessário um testemunho directo dele, Nuno Álvares, algo que já não dependia de nós homens. Dependia dele dar o testemunho. Enquanto este processo de investigação decorria deu-se o milagre. Tal como publiquei no meu livro, uma senhora, Guilhermina de Jesus, natural de Vila Franca de Xira, tinha ficado cega de uma vista. Um pingo de óleo a ferver destruiu-lhe a retina. Correu médicos, especialistas, hospitais até que lhe deram a sentença final de que «não havia nada a fazer porque a córnea estava desfeita». A verdade é que a senhora apegou-se, com fé, ao beato Nuno, e ao fim de alguns dias estava sozinha em casa, deixou de sentir o corrimento no olho, foi até à sala, olhou para a televisão e notou que via as imagens como já não acontecia há muito tempo. No dia seguinte levantou-se, verificou que não era ilusão e disse ao filho «eu já vejo e tenho a vista curada». O filho aconselhou-a a falar com os carmelitas e a partir daí o vice-postulador procurou obter informações de todos os médicos e hospitais sobre o que tinham feito e a que conclusões tinham chegado. Os médicos atestaram não existirem meios científicos para resolver o problema da doente e que não encontravam uma razão natural e científica para a cura. A conclusão não podia ser mais clara. «A ciência não pode explicar a cura». Toda a documentação médica foi, depois, sujeita a análise por parte de uma junta médica credível solicitada pela diocese de Lisboa. Chamaram a senhora e testemunhas que a conheciam. A junta médica diocesana deu o parecer favorável ao milagre declarando que «de facto não se conseguia explicar a cura da senhora por razões científicas e naturais» deixando implícitas as razões sobrenaturais.
– E qual foi o papel do Vaticano no processo?
– O processo ficou concluído em 2007 e seguiu para Roma onde a documentação do milagre foi sujeita a outra junta médica nomeada pela Sagrada Congregação para a Causa dos Santos que procedeu à análise e votação tendo, de facto, constatado que não havia cura para a senhora. Os teólogos concluíram que «se tratava de um fenómeno admirável» ou seja «um milagre». O Papa só assina e subscreve depois da Sagrada Congregação, actualmente presidida por um cardeal italiano desde que D. José Saraiva Martins atingiu o limite de idade, apresentar os documentos credíveis. No dia 3 de Julho de 2008 a Sagrada Congregação apresentou ao Papa dois decretos para ler e assinar. O primeiro relata as virtudes heróicas e o outro decreto estabelece a existência de um milagre. Esses dois decretos eram depois apoiados na «Posició» do Beato Nuno escrito pelos teólogos a partir dos documentos que nós lhe fornecemos e das certificações médicas. Nesse mesmo dia o Papa assinou os dois decretos significando que a partir desse momento nada impedia a canonização. Agora, ao Papa, apenas faltava ouvir no primeiro consistório agendado os cardeais para saber se algum tinha alguma coisa a opor. No dia 21 de Fevereiro de 2009 o Papa Bento XVI presidiu na Sala Clementina ao Consistório Ordinário Público e, depois de ouvir os cardeais, proclamou a canonização do Beato Nuno Álvares Pereira com o nome de D. Nuno de Santa Maria marcando a data da cerimónia pública para 26 de Abril de 2009 em Roma.
Este domingo, 26 de Abril de 2009, durante a missa pontifical presidida pelo Papa Bento XVI decorreram as cerimónias protocolares que incluíram a leitura do Decreto. O nome São Nuno de Santa Maria foi acrescentado ao catálogo dos santos tendo direito a culto com imagem nas igrejas de todo o Mundo. A festa do Beato Nuno, padroeiro secundário da diocese de Lisboa, tem sido celebrada no dia 6 de Novembro. Isto e muito mais da vida de > Nuno Álvares Pereira > Santo Condestável > Beato Nuno de Santa Maria > São Nuno de Santa Maria – o santo que antes de ser já o era –, pode ser lido e apreciado no livro «Nuno Álvares Pereira – Nuno de Santa Maria», publicado recentemente e da autoria de mestre Jesué Pinharanda Gomes. Aqui.
Ver mais informações sobre São Nuno de Santa Maria Aqui.
jcl
«São Nuno de Santa Maria – Nuno Álvares Pereira» é o título do mais recente livro do filósofo e pensador Jesué Pinharanda Gomes. A obra resume a pesquisa que efectuou entre 2003 e 2009 como membro da Comissão Histórica do Processo da Causa da Canonização do Beato Nuno de Santa Maria que o povo apelidou de Santo Condestável. Esta segunda-feira, 20 de Abril, às 18.30 horas, o programa «Ecclesia» da RTP-2 vai apresentar uma entrevista com mestre Jesué Pinharanda Gomes. A cerimónia da canonização está marcada para o dia 26 de Abril na Praça de São Pedro, em Roma.
Mestre Pinharanda Gomes descreve a sua mais recente obra sobre pesquisa que efectuou, entre 2003 e 2009, como membro da Comissão Histórica do Processo da Causa da Canonização do Beato Nuno de Santa Maria como «uma antologia que contempla Nuno de Santa Maria in specie» porque «não cuidamos de uma escolha de textos relativos à integral personalidade de Nuno – o militar, o patriota, o guerreiro, o monge, o santo – que são facetas inerentes aos nomes em que o identificamos: Conde de Ourém, Nuno Álvares Pereira, Condestável…, cuidamos sobretudo de Frei Nuno de Santa Maria, da sua espiritualidade, dos carismas e das virtudes (cardeais e teologais) segundo os testemunhos, ou de quem o conheceu, ou de quem o estudou». A apresentação é muito breve dando relevo à Cronologia Fundamental evitando, assim, «escrever um esboço biográfico, pois há muitos, e deveras excelentes, e facultamos ao leitor uma visão sequencial e sinóptica das datas mais apelativas – por um lado, as da sua vida, e, por outro lado, as subsequentes e consequentes à morte e projecção na história da Igreja e da Pátria, chamando a conclave as diversas ocasiões em que se pugnou pela beatificação (que muito demorou) e se tem pugnado pela justa canonização» esclarece o filósofo.
O processo de elevação de Nun’Álvares Pereira aos altares encontrou inúmeras dificuldades no tempo. O Santo Condestável nasceu a 24 de Junho de 1360 em Cernache de Bonjardim e faleceu no dia 1 de Novembro de 1431. Foi general e na qualidade de Condestável do Reino defendeu a independência nacional contra Castela e a unidade católica da Igreja.
A antologia, da autoria de Pinharanda Gomes, está organizada em três módulos. Memórias e Estudos é uma compilação de textos que salientam como Nuno Álvares foi visto pelos do seu tempo e como tem sido visto pelos exegetas modernos que ao Beato Nuno dedicaram ascéticas e litúrgicas vigílias que oferecem excelentes entendimentos do espírito condestabriano. O segundo módulo, Hinos e Poemas privilegia as letras das chacóinas medievais e os hinos litúrgicos ou para-litúrgicos, entre eles o que o Padre Moreira das Neves compôs para a Peregrinação Nacional das Relíquias, o de Manuel Nunes Formigão e o ensaio de Fernando Pessoa. O último módulo contém a Documentação Canónica seleccionada pelo autor visto ser impossível incluir todos os documentos publicados durante a complexidade processual da beatificação e canonização.
Mestre Pinharanda Gomes recorda com sapiência que «Nuno Álvares Pereira motivou e motiva poetas (Junqueiro, Corrêa d’Oliveira, Afonso Lopes Vieira, Augusto Casimiro, Fernando Pessoa, Couto Viana, Moreira das Neves…) desde Luís de Camões; e também músicos, que produziram variedade de cânticos e de hinos (Manuel Nunes Formigão, Venceslau Pinto, Inácio Aldossoro, M. Pacheco, Luiz Gonzaga Mariz, José Ferreira…) desde as remotas chacóinas ou músicas com que os habitantes da zona saloia de Lisboa abrilhantavam as suas peregrinações ao túmulo do Conde Santo na Igreja do Convento do Carmo».
O Presidente da República, Cavaco Silva, recebeu, em audiência, no dia 14 de Abril, uma delegação da Comissão S. Nuno de Santa Maria, da Ordem do Carmo em Portugal que o informou da conclusão do processo e da cerimónia da canonização que está marcada para o dia 26 de Abril, na Praça de São Pedro, em Roma.
Esta segunda-feira, dia 20 de Abril, às seis e meia da tarde o programa «Ecclesia», da RTP-2, vai apresentar uma entrevista sobre Nuno de Santa Maria (biografia e canonização de Nuno Álvares Pereira), com dois convidados especiais: Frei Agostinho Castro e Jesué Pinharanda Gomes.
jcl
Fundada no ano de 1118 e abolida em 1312, a ordem religioso-militar dos cavaleiros do Templo, com sede em Jerusalém, desempenhou um papel crucial na expansão e reconquista cristã, o que a levou a estender-se por vários países.
No início do século XIV foi movido contra a Ordem um processo politico e canónico, acusada de práticas secretas, acabando por ser extinta.
Em Portugal a Ordem dos Cavaleiros do Templo teve também especial relevância no apoio prestado aos primeiros reis na conquista e no povoamento do reino. Expressão disso foi a doação de numerosas terras aos Templários, de entre elas as do termo de Touro (actual Vila do Touro, concelho do Sabugal), cujo Mestre, Pedro Alvito, concedeu foral aquela nobre vila medieval.
Pinharanda Gomes, insigne polígrafo quadrazenho, editou em 1999 um livro intitulado «A Regra Primitiva dos Cavaleiros Templários», onde lança luz sobre a forma de vida dos cavaleiros do Templo. Era escrupuloso o cumprimento da Regra (regulamento, forma de vida), que obrigava os freires a viverem de forma ascética em práticas de humildade e fraternidade. Não se conhecendo outras normas que eventualmente tenham sido seguidas pelos Templários, forçoso é admitir que durante os dois séculos da sua existência dessem cumprimento rigoroso aos preceitos consignados na Regra primitiva. Para Pinharanda Gomes serão infundadas algumas acusações imputadas à Ordem do Templo, cujos cavaleiros freires terão vivido sem mácula.
O valioso livro explana a Regra no latim original e em português, e explica os seus mais importantes conceitos. Analisa a origem do nome da Ordem, o papel do Mestre, a recepção aos noviciados, a vida quotidiana imposta aos freires pela Regra. A pobreza, a modéstia, o silêncio, a castidade e a oração foram as traves mestras da forma de vida Templária. A sair disto, apenas o dever de dar combate ao leão (o infiel), em defesa de Cristo e dos lugares santos.
plb
Conheci Jesué Pinharanda Gomes há 12 anos, quando exercia funções de presidente da direcção da Casa do Concelho do Sabugal. Verificando que o nosso grande escritor não estava registado como associado, indaguei pela sua morada, que me foi facultada pelo Adelino Dias, antigo presidente da Casa, e comecei a expedir-lhe o jornal Sabugal, órgão informativo da associação.
Entretanto, encontrara nos escaparates o livro de Carlos Alberto Marques «A Bacia Hidrográfica do Côa», recentemente editado, com prefácio e notas de Pinharanda Gomes. Publiquei no boletim um pequeno texto acerca do livro, onde enalteci o papel do escritor de Quadrazais. Logo que o jornal foi remetido, recebi carta do Pinharanda, agradecendo a referência ao livro e ao seu nome e o envio regular do jornal, vindo em anexo um cheque com uma quantia para ajuda da Casa do Concelho. Sensibilizado, telefonei-lhe, e logo marcámos entrevista.
À hora aprazada, num dos primeiros dias de Janeiro de 1996, Pinharanda Gomes entrou na Casa em absoluta descontracção, de ar sorridente, mão estendida e falar desenvolto:
– Sou o Pinharanda, prazer em conhecê-lo!
Palavras de circunstância e logo, dirigindo-se aos que dobravam e etiquetavam a última edição do jornal:
– E este pessoal? Como se chamam, de onde são?
Depois conversámos longamente. Preocupava-me a falta de iniciativas de carácter cultural, e queria realizar algo por ocasião dos 700 anos do Foral do Sabugal.
– Tenho uma proposta. Ouça…
Puxou de uma caneta, pediu papel, e traçou, rápida e metodicamente, as linhas mestras do projecto de um congresso a realizar no Sabugal em Novembro desse ano. As datas, os nomes, os temas, os meios logísticos, tudo devidamente enquadrado e explicado. Uma capacidade de raciocínio e de exposição marcantes, uma objectividade invulgar.
Proposta elaborada, perguntou-me:
– Quando me contacta?
Estava baralhado. Argumentei que havia agora necessidade de elaborar um projecto, um orçamento, ver da disponibilidade financeira, arregimentar apoios, enviar um ofício à Câmara,…
– Muito bem, mas em 30 de Setembro tudo tem que estar acertado, e é melhor marcar já a próxima reunião.
Dali nasceria o Congresso Comemorativo do VII Centenário do Foral do Sabugal, realizado nos dias 9, 10 e 11 de Novembro de 1996, na sede do concelho.
Marcou-me a postura daquele homem simples, mas grande erudição. As ideias saíam-lhe fluentes, precisas e arrumadas, mostrando um enorme caudal de sabedoria.
Dali resultou uma grande amizade, solidificada com frequentes contactos e encontros. Um dia revelou-me, em confidência, o desejo de deixar os seus livros ao concelho do Sabugal. Depois de muitas conversas acerca do assunto, pediu-me que contactasse a Câmara em seu nome, para uma primeira abordagem.
Em Março de 2007 reuni com o presidente da Câmara do Sabugal, Manuel Rito, expondo-lhe a pretensão de Pinharanda Gomes e dando conta das suas condições, que se resumiam a quase nada: que os seus livros fiquem em sala própria e que estejam abertos à fruição pública.
As coisas andaram devagar, mas finalmente viu-se luz ao fundo do túnel, como de resto o Capeia Arraiana noticiou há alguns dias: o Sabugal vai de facto receber a biblioteca do seu filho ilustre e vai até criar-se o Centro de Estudos Pinharanda Gomes.
Um momento marcante para o concelho do Sabugal, que fica mais rico ao receber o espólio do escritor, que assim se vê reconhecido pela terra onde nasceu e de onde há longos anos partiu.
«Contraponto», opinião de Paulo Leitão Batista
leitaobatista@gmail.com
O grande escritor, filósofo e pensador português Mestre Jesué Pinharanda Gomes chegou a acordo com a Câmara Municipal do Sabugal para a doação do seu património pessoal ao concelho sabugalense. O município compromete-se, por protocolo, a criar e apoiar o Centro de Estudos Pinharanda Gomes, constituído por vários núcleos de investigação cultural.
Após vários contactos pessoais foi estabelecido entre Mestre Pinharanda Gomes e a Câmara Municipal do Sabugal, representada pelo Presidente Manuel Rito Alves, um protocolo com validade legal que define as condições da doação do património cultural do ilustre homem de cultura quadrazenho ao concelho sabugalense.
Jesué Pinharanda Gomes oferece a sua valiosa biblioteca pessoal, pastas com correspondência particular do escritor, recortes e artigos de Imprensa sobre o autor, diplomas de instituições e a numerosa colecção de imagens de santos em que se destacam as valiosíssimas figuras em barro e outros materiais relativos à sua devoção pessoal, Santo António, padroeiro dos alfacinhas.
A Câmara Municipal do Sabugal compromete-se a aceitar o legado e a criar as condições necessárias à instalação e conservação do património doado em instalações situadas no Bairro João Paulo II, no Sabugal, ao qual deverá ser dado o nome de Centro de Estudos Pinharanda Gomes.
O Município do Sabugal vai disponibilizar um funcionário qualificado para inventariar e catalogar os livros de forma a permitir o acondicionamento e transporte de Lisboa até ao Sabugal. Quando as instalações estiverem preparadas e disponíveis a Biblioteca será aberta ao público privilegiando os estudantes e os estudiosos das disciplinas que constem dos livros constantes do legado ou que tenham em vista estudar a obra literária do escritor e a história do concelho.
O Centro de Estudos Pinharanda Gomes será um espaço privilegiado de exposição do riquíssimo património doado e irá integrar vários núcleos de investigação e estudo – unidades descentralizadas – que englobam um conjunto de investigadores interessados em áreas ou temas relacionados entre si.
Os núcleos definidos são: obras do escritor Jesué Pinharanda Gomes, arte, biografias, linguística, histórias de Portugal em diversos volumes, histórias da Igreja em diversos volumes, filosofia antiga e clássica incluindo edições bilingues (gregas e latinas), filosofia e história da filosofia em Portugal, filosofia judaica, filosofia arábica, filosofia política, teologia e mariologia e fatimologia, literatura e poesia (portuguesa e estrangeira), religião, dicionários e enciclopédias, diversas colecções de publicações periódicas e revistas, etnografia local e relações transfronteiriças.
Fomentar a acumulação de conhecimento, combinar o pluralismo analítico e metodológico com a coerência teórica e criar bases de dados que facilitem a investigação e iniciativas conjuntas com instituições públicas nacionais, regionais e locais são alguns dos objectivos do Centro de Estudos.
A actividade científica será desenvolvida por uma equipa de investigadores de qualidade dando atenção particular à cooperação e às relações transfronteiriças com Espanha, à formação de jovens investigadores na área das ciências sociais e humanas, à promoção e difusão da cultura científica e ao apoio a iniciativas de cidadãos em domínios ligados às actividades do «Centro».
O processo que resulta deste protocolo deverá ficar concluído até final do ano de 2010.
O Capeia Arraiana em parceria com a Rádio Caria entrevistou o vereador da Cultura, António Robalo, sobre esta excelente novidade: «A proposta de mestre Pinharanda Gomes, acima de tudo, honra o Município. Congratulamo-nos com a sua decisão de oferecer o seu património para que possa ficar à disposição de todos», começou por dizer o vereador António Robalo acrescentando que «não é fácil encontrar um legado desta qualidade».
«A Câmara vai criar o Centro de Estudos no Sabugal e cumprir todos os pressupostos do protocolo» afirmou ainda António Robalo.
(A entrevista pode ser escutada na íntegra na Rádio Caria, em 102.5 FM.)
Excelente notícia para todos os sabugalenses e para todos quantos consideram que o futuro se constrói respeitando, defendendo e preservando o nosso passado patrimonial e cultural.
jcl
Jesué Pinharanda Gomes nasceu em 1939, no dia 16 de Julho, na freguesia raiana (e contrabandista) de Quadrazais, no concelho do Sabugal. A obra do grande pensador português une as teses do formalismo aristotélico e do idealismo platónico influenciado por José Marinho e Álvaro Ribeiro, dois mestres da filosofia portuguesa.
Ainda na infância teve que decidir entre a vida rural proposto pelo pai e a incerteza de uma árdua via de estudo e reflexão. Optou por escolher o seu próprio percurso quando, aos 11 anos, sentiu a vocação de escritor.
Inicia a sua actividade literária em 1956 no «Correio da Beira», da Guarda. Muda-se para Lisboa onde enfrentou difíceis provações. Sozinho e solitário estreia-se nas páginas do «Diário de Notícias» pela mão de Natércia Freire onde publicará artigos que posteriormente reúne em «Pensamento e Movimento».
Autodidacta, estuda na Biblioteca Nacional, as grandes correntes do pensamento filosófico grego e europeu, perscruta as teses teológicas do catolicismo aberto à redenção de todas as almas e adquire uma sólida preparação em línguas estrangeira.
No Liceu Francês, em Lisboa, frequenta cursos de latim e de grego, e passa a escrever prefácios e posfácios a par de traduções de Aristóteles, Descartes, Heidegger, José de Maistre, Platão, Porfírio e Tomás Morus.
Organiza edições, reedições e antologias de autores votados ao esquecimento, colabora em obras colectivas e tem participado em centenas de congressos e colóquios dedicados a temas religiosos e filosóficos.
É membro da Academia Luso-Brasileira de Filosofia, do Instituto de Filosofia Luso-Brasileira (sócio-fundador) e da Sociedade de Língua Portuguesa.
Faz parte da Comissão de História da Causa da Canonização do Beato Nuno de Santa Maria mais conhecido por Nuno Álvares Pereira, o Santo Condestável. Passa, agora, muito do seu tempo na Biblioteca Nacional, numa incansável leitura de pesquisa de documentos canónicos desde o tempo de D. Duarte. O objectivo é pedir a canonização do Beato através dos documentos por si compilados no livro «A espiritualidade de Nuno de Santa Maria».
Publicou o primeiro livro, «Exercício da Morte», em 1964, porque como ainda hoje diz «A morte? O que é isso? Viver é preparar e esperar a morte!»
E é colaborador (com grande orgulho nosso) do «Capeia Arraiana» com a sua crónica semanal «Carta Dominical».
jcl
A «Nova Águia» fez o seu primeiro voo. A revista pretende recriar um movimento de transformação das mentalidades e das vidas aglutinando algumas das mais notáveis figuras da nossa cultura. O número um inclui o ensaio inédito «Anamnese da ideia de Pátria» de mestre Pinharanda Gomes.
Já está disponível nas livrarias o primeiro número da «Nova Águia», a revista semestral de cultura para o Século XXI. Vinculada a três entidades, Associação Marânus/Teixeira de Pascoaes, Associação Agostinho da Silva e Mil: Movimento Internacional Lusófono inspira-se na visão de Portugal e do Mundo de Teixeira de Pascoaes, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva.
A «Águia» foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal em que colaboraram algumas das mais relevantes figuras da nossa cultura. A «Nova Águia» pretende ser uma homenagem a essa tão importante revista da nossa História, procurando recriar o seu «espírito», adoptando aos nossos tempos, ao século XXI.
Os ensaios, poesia e outros temas subordinados ao título «A Ideia de Pátria, Sua Actualidade» incluem inéditos, entre outros, de Pinharanda Gomes e Agustina Bessa-Luís.
O pensador e filósofo quadrazenho faz parte do Conselho de Direcção da revista e colaborou com o ensaio «Anamnese da ideia de Pátria» do qual transcrevemos uma passagem:
«Raiz da liberdade e da autonomia é o pensamento próprio, o pensamento pensante que aufere do pensamento pensado, renovando a tradição. O pensamento pensante dialoga com o pensamento pensado, do mesmo modo que a Filosofia dialoga com a Cultura. Não há forma de pensamento pensante puro, alheio ao pensado, pois todo o pensamento, ainda o inovador, parte de uma situação, recebida, e não criada, de modo espontâneo. A simples utilização das palavras leva o pensamento pensante a uma cultura situada. A Pátria é livre quando exerce a autonomia, a propriedade de um pensamento projectivo, e deixa de ser livre se não assumir o seu próprio na diferença, pelo que se anula como Pátria, que se revela ou manifesta na singularidade da liberdade de filosofar, sem a qual a Pátria se entrega a mortal cativeiro. Sem a assunção da Pátria, a Nação tende a desagregar-se e a perder a memória de de Justiça e Direito são base do trono pátrio.»
E como escreveu Fernando Pessoa: «O futuro de Portugal… é sermos tudo»
jcl
Comentários recentes