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A foto que apresento nesta crónica refere-se à Fábrica de Refrigerantes Cristalina, em 1971, no dia em que se festejavam os 25 anos da sua fundação. Esta fotografia foi-me cedida pelo sr. Carlos Alberto da Conceição, do Soito.

A fábrica foi fundada em 1946 por Manuel de Oliveira, conhecido no Soito pelo Manuel Gaguelho. No início funcionava no Bairro do Forte. O transporte dos sumos era feito com uma carroça, puxada por burros (ando a ver se descubro essa fotografia que sei existir num livro editado na data da festa dos 25 anos, mas que nunca mais vi). Passados uns anos a fábrica foi transferida para o seu local definitivo (onde hoje é o Centro de Negócios Transfronteiriço), começando por ser um pequeno barracão onde estava escrito «Manuel de Oliveira- Soito», até se transformar na fábrica que encerrou em 1993.
Em 1971 a Cristalina organizou uma festa para a comemoração dos 25 anos da fundação.
Foram convidados alguns clientes e algumas altas individualidades da época, como o Presidente da Câmara, o Governador Civil, o Bispo da Guarda, o médico, o pároco, o professor, etc, etc.
O meu professor (o professor Abadesso, natural de Castanheira-Guarda) trabalhava no escritório da Cristalina. Era um sportinguista ferrenho e sempre ouvi dizer que o facto de as camionetas que transportavam os sumos serem verdes, tinha sido ideia dele.
Estranhamente (ou talvez não, se atendermos à época e ao regime vigente quando se realizou a festa de aniversário) houve muitas pessoas que não foram convidadas, inclusive vizinhos e amigos e até familiares. Interessava era ter o maior número possível dos tais convidados «importantes», mesmo que esses nada tivessem a ver com a Cristalina.
Lá dentro, onde foi servido um almoço, estavam as tais «altas individualidades», todas engravatadas, e houve discursos, entrega de presentes e um «corta-fita» realizado pelo Bispo da Guarda.
O Clero (alto e baixo), constituído por, pelo menos nove dos seus representantes, comeu à parte, numa sala da fábrica, não se misturando com os restantes convidados.
Na frontaria da fábrica foi colocada uma garrafa de sumos Cristalina gigante.
«Memória, Memórias…», opinião de João Aristides Duarte
(Deputado da Assembleia Municipal do Sabugal)
akapunkrural@gmail.com
A fábrica de refrigerantes Cristalina foi fundada por Manuel de Oliveira, em 1946.
A fábrica começou por ser no Forte, um bairro do Soito onde consta que esteve instalado um contingente de tropas gaulesas, aquando das Invasões Francesas. Foi, por isso, que o bairro começou a ser conhecido pelo Forte, o que se mantém até hoje.
Só mais tarde a fábrica se instalaria na actual Avenida São Cristóvão (numa zona conhecida na época por Caminho Largo).
Os filhos de Manuel de Oliveira tornaram-se, pouco tempo depois, sócios da fábrica, juntamente com o pai, pelo que se podem incluir entre os fundadores. Esses filhos eram o João dos Santos Oliveira, Domingos Fernandes de Oliveira, António Fernandes de Oliveira (Toninho Oliveira) e José Fernandes de Oliveira. Mais tarde, o Toninho Oliveira abandonou a sociedade e fundou a fábrica de confecções Ranking.
A fotografia apresentada nesta crónica é dos avós dos sócios e, portanto, sogros do sr. Manuel de Oliveira, já que a esposa deste era filha do casal representado na imagem.
O meu bisavô, Manuel José dos Santos, era filho de um senhor conhecido no Soito pelo Ti Coxo, que era natural de Alcácer do Sal e exercia a profissão de alfaiate.
Para além do meu bisavô, o Ti Coxo teve mais quatro filhos. Uma das suas filhas era a senhora que está na fotografia e se chamava Mariana dos Santos. Ela casou com um grande artista serralheiro, natural da Cerdeira do Côa que se chamava António Paulo Fernandes. Foi este serralheiro que fez os portões da igreja do Soito , que ainda hoje existem.
Este casal teve vários filhos, para além da mãe dos sócios fundadores da Cristalina, entre os quais alguns que seguiram, também, a profissão de serralheiro.
A família Fernandes (que herdou o apelido do serralheiro da Cerdeira do Côa) deixou pergaminhos na arte da serralharia. Um dos seus bisnetos é o conhecido Fernando Monteiro Fernandes, artista que trabalha com ferro forjado.
«Memória, Memórias…», opinião de João Aristides Duarte
akapunkrural@gmail.com
O originalíssimo livro-concertina «escrevo risco» da autoria de Américo Rodrigues, Jorge dos Reis e Zigud foi apresentado em Lisboa nas antigas instalações da Fábrica de Braço de Prata. Os riscos da memória de José Neto, pastor da Quinta da Taberna (Videmonte), foram desnudados, de forma surpreendente, no palco de um espaço onde antigamente se fabricava material de guerra. Só visto e… ouvisto.
O robusto edifício da fábrica de material de guerra de Braço de Prata está protegido por grossa parede amuralhada que esconde um amplo pátio onde as árvores são sentinelas silenciosas da mutação de um espaço onde antes se fabricava material bélico e agora se respira cultura e se bebem ideias. O New York Times considerou, um dia, que a Fábrica de Braço de Prata «é um projecto aberto a todas as formas de arte, sem dogmas ou preconceitos, que se transformou no espaço cultural mais ambicioso de Lisboa».
À nossa chegada, já muito perto das 11 horas da noite, um rancho folclórico terminava a sua actuação, nos jardins exteriores. Uma ampla escadaria enquadrada numa fachada a lembrar um palacete (ou um seminário) dá acesso à porta de entrada que põe a descoberto um amplo corredor repleto de tranquilos visitantes que, em pequenos grupos, conversam e passeiam ao longo das paredes observando uma exposição de pintura.
A Fábrica de Braço de Prata é um espaço decorado de forma minimalista onde as portas, os azulejos, os mosaicos, as janelas, as salas se mantém como antes da revolução do 25 de Abril mas… transformados, agora, em espaços culturais multidisciplinares com destaque para os livros e para a sétima arte.
Os sons de uma banda de jazz ficaram mais nítidos depois de empurrar a porta que escondia a sala Nietzsche para onde estava marcada a apresentação do livro de Américo Rodrigues e companhia. Os ensaios de som, no palco, aconteceram imediatamente após as últimas notas de jazz e já com mais de uma centena de pessoas apinhadas na sala.
Américo Rodrigues, em palco, começou por referir que o pastor Zé Neto era um ser anti-social. «Tentei durante um ano falar com ele mas não consegui», foi a inédita confissão do autor dando o mote para uma invulgar apresentação que aí vinha.
«escrevo risco» é um livro-objecto inspirado na arte de um pastor da Quinta da Taberna (Videmonte), escrevinhador compulsivo que registava nas paredes de xisto da sua aldeia tudo o que ele considerava constituir memória.
O livro já se transformou em filme e está «digitalizado» com o título «Um bando de passarinhos». Uma realidade mais visual do realizador Carlos que descodificou a linguagem poética de Américo Rodrigues.
O gráfico-designer de serviço, Jorge dos Reis, chamou-lhe «estranho objecto livresco de frases do seu quotidiano autobiográfico». «É um objecto que se transformou em livro. Em livro de artistas. É um objecto colectivo a seis mãos. É um objecto dúbio em ruptura com o livro tradicional. Optámos por um objecto para dois planos 50×70 das máquinas tipográficas em offset em consequência dos limites orçamentais», explicou Jorge dos Reis desvendando de seguida que o grafismo inclui três conceitos: arado e relha, a superfície riscada da pedra e a translineação sem hifenização em ruptura com a leitura tradicional através do formato em concertina.
Deu-se início, de seguida, a uma desconcertante improvisação poético-musical para apresentação do «escrevo risco» com a presença em palco de Rodrigo Pinheiro (pianista), Rogério Neves e José Tavares (guitarras) e as superiores representações de Américo Rodrigues, José Neves e Dora Bernardo.
Só visto e… ouvisto.
«O homem que escreve nas pedras. Que olha para o céu, conta as nuvens e escreve… Risca, torna a riscar, emenda a mão. Uma mão atrapalha a outra mão…»
jcl
A Câmara Municipal de Manteigas candidatou ao QREN um projecto de instalação de uma área de produção de energias limpas na antiga Fábrica do Rio.
Em declarações à agência Lusa o presidente da autarquia, José Manuel Biscaia, afirmou «trata-se de um projecto inovador e ambientalista, que envolve custos de 750 mil euros e será único em Portugal, porque combina várias energias renováveis».
Na antiga Fábrica do Rio, junto ao Zêzere, está prevista a construção de uma mini-hídrica com capacidade para produzir e vender à EDP 100 Kwa de energia, a transformação de biomassa florestal para fabrico de briquetes e outros materiais de combustão, a produção de energia eólica e solar e a transformação de óleos domésticos em biodiesel.
«Só falta a energia das ondas», observou o autarca que se mostrou «entusiasmado com o projecto» e admitiu que «a EDP já se mostrou interessada no processo ao qual se irão associar a Associação de Municípios da Cova da Beira e a Agência Regional de Energia e Ambiente do Interior, entre outras entidades».
Assumiu que o projecto «vale pela imaginação acreditando que o QREN possa ser, ainda este ano, uma realidade e para o ano, se tudo correr bem, o projecto estará pronto para entrar em funções».
São, ainda, objectivos do projecto a museologia interactiva no espaço através da criação de um museu da floresta e dando possibilidade aos visitantes de poderem ver os equipamentos industriais existentes.O autarca reconhece «tratar-se de um projecto auto-sustentável do ponto de vista energético, que também permitirá que o município obtenha receitas, com a venda da energia eléctrica à rede energética nacional».
jcl
António Fernandes («Tó Chuco» para os amigos) é natural da freguesia da Nave, concelho do Sabugal. Reside na Aldeia de Santo António num chalet decorado com um relvado banhado pelo Rio Côa e onde se nota já a futura pista para o giroscópio que deverá chegar em Setembro. Mas quem é António Fernandes? Se dissermos que foi o inventor da Discoteca Teclado fica mais do que apresentado. Mas há novos investimentos no horizonte solar do perturbante visionário «engenheiro-pássaro» que tem o dom de antecipar o futuro…
«Gosto de desafios, sou e sempre fui um homem de arriscar. Desde sempre sonhei que poderia voar. Fechava os olhos e imaginava-me a voar. É um sonho.» Assim o apresentava recentemente o nosso ilustre opinador José Robalo na sua excelente crónica sobre António Fernandes.
Fomos visitar o investimento de António Fernandes no projectado parque industrial do Sabugal junto à estreita e curvolenta estrada que liga o Sabugal à Guarda. O edifício com traço arquitectónico vanguardista faz lembrar quando o avistamos ao longe uma nave espacial preparada para levantar voo.
O empresário chegou ao volante de uma máquina cor de prata, último modelo, da marca da estrela de Estugarda.
«Tenho 57 anos já com IVA incluído e sou curioso como os gatos», diz-nos naquele seu jeito brincalhão enquanto nos cumprimenta e acende uma cigarrilha «para fazer ver porque já deixei de fumar e para dar um ar mais sério à reportagem».
«Vivi cerca de 40 anos em França para onde emigrei em 1968 com apenas 17 anos. Durante muito tempo vendi material para hotelaria e actualmente sou proprietário de uma empresa francesa de fabrico de inox», acrescenta à sua apresentação.
Pelo meio era inevitável a referência à sua discoteca. «Inaugurei o Teclado em 28 de Agosto de 1977. Houve noites nos meses de Agosto que no final da sessão vinha pela estrada abaixo com um brouette (carrinho de mão das obras) carregadinho de dinheiro tapado por cima com um plástico», recorda-nos com um brilhozinho nos olhos.
É (foi) uma discoteca emblemática. Se não tivesse existido o «Teclado» a juventude de muitos de nós (a minha incluída) não teria sido nem melhor nem pior… Apenas diferente.
A conversa decorria agora dentro do edifício num enorme e amplo hangar. Na área virada ao Sol do final da tarde estão em fase de acabamento os escritórios e as salas de reuniões e de formação profissional servidos por uma escadaria com início no hall da entrada principal.
– Como surgiu a ideia de investir numa fábrica de painéis solares?
– Somos dois sócios: eu e o engenheiro José Luís Manso, meu vizinho e dono da ENAT, uma empresa que se dedica à venda e instalação de energias alternativas. Falamos vezes sem conta sobre projectos num grupo que se reúne para almoçar às sextas-feiras. A tecnologia avança a passo de cavalo e quando o petróleo começou a subir surgiu a ideia de apostar na construção de painéis solares. Esta fábrica é um investimento de cerca de meio milhão de euros sem recurso a créditos porque não gosto de estar dependente dos bancos. No arranque contamos criar 12 postos de trabalho com a possibilidade de chegar até 40 colaboradores. Tivemos o apoio da Câmara Municipal do Sabugal e em especial da doutora Glória a quem aproveito para agradecer toda a colaboração. Esperamos iniciar a produção depois do Verão, talvez em Outubro próximo.
António Fernandes foi desde sempre um inventor autodidacta. «Ainda tenho na recordação a carrinha da biblioteca itinerante da Gulbenkian guiada pelo senhor Silva. Devorava todos os livros de engenharia que ele trazia. Se tivesse estudado tinha sido piloto da Força Aérea. Há uns tempos tive que arrumar uma casa que tenho na Nave e fui lá encontrar livros de aeronáutica e de construção de painéis solares com mais de 20 anos. Nesse tempo ainda pouca gente sabia o que isso significava.»
Colocámos de seguida, em jeito de brincadeira, uma questão que provocou largos sorrisos em António Fernandes.
– Sabemos que adquiriu uma espécie de helicóptero para uso pessoal. É para fugir ao trânsito do Sabugal?
– Em muitos momentos da minha vida acho que voo em lugar de andar. Sempre desejei e sonhei voar. Quando era miúdo roubei o motor de rega lá de casa para tentar inventar um aparelho que voasse. Não o consegui concretizar… mas concretizou-se uma valente malha que a minha mãe me deu. (mais alguns sorrisos.) Mais tarde construi um helicóptero com o motor de um Renault Alpine. Ainda está na Nave mas nunca chegou a levantar. O projecto do parque industrial prevê a possibilidade de construir aqui perto um aeródromo com 120 metros. Na minha propriedade já estou a preparar uma pista relvada. Curta, porque o aparelho que comprei, um girocóptero, necessita de apenas 30 metros para levantar e de 10 para aterrar. Estamos a equacionar a oportunidade de construir hangares para arrendar a privados que queiram estacionar ou mesmo construir o seu próprio aparelho com recurso a um kit de montagem.
O autogiro ou girocóptero é uma aeronave sustentada em voo por asas rotativas. Mas, ao contrário dos helicópteros a propulsão é fornecida por um motopropulsor convencional. O primeiro autogiro foi desenvolvido e construído pelo engenheiro espanhol Juan de La Cierva em 1923 mas o projecto parou com a Guerra Civil no país vizinho.
Mas Portugal é para o empresário um país de dificuldades desmotivadoras por comparação com outros estados europeus. «Em Portugal, para dirigir um girocóptero é preciso uma licença de piloto. Na Europa apenas é necessário um brevet com 15 horas de instrução. Eu tirei o VFL (voo à vista) em França», diz-nos contrariado com as dificuldades legais portuguesas.
António Fernandes, o «engenheiro-pássaro», é um empresário visionário que está a investir e a criar postos de trabalho no concelho do Sabugal. Merece ser escutado com atenção mesmo quando as suas ideias e projectos parecem chegar com alguns anos de antecipação.
jcl
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