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Vivemos em tempos de irresponsabilidade e absoluta falta de orientação, sendo disso claro exemplo a destruição das árvores de fruto que antigamente eram cuidadas com tanto carinho pelo interesse para a sã alimentação do povo e para o desenvolvimento da economia.
Quem, tendo atingindo já a minha provecta idade, ou até sendo um pouco mais novo, não recorda as amoreiras que existiam no principal largo das aldeia do concelho do Sabugal? A amoreira era uma árvore muito protegida. As suas folhas serviam de alimento ao benéfico bicho-da-seda, e o seu fruto era o alimento da canalha que antigamente povoava as aldeias em grande número.
Depois deram em dizer mal das amoreiras. Aventaram que as amoras amadurecidas caíam sobre as roupas de quem procurava a sombra e sobre as pedras da calçada, deixando manchas roxas que dificilmente se conseguiam limpar. Outra crítica era o mosquedo que se juntava ao redor das amoreiras, como se isso não tivesse acontecido a vida inteira… Por razões de higiene lançaram-se no crime do abate massivo de tão importante espécie vegetal, roubando às aldeias da Beira um elemento que manifestamente as caracterizava.
Antigamente a amoreira era uma das árvores classificadas de interesse público, pelas razões que acima aduzi. Nessa conformidade a lei vigente proibia expressamente o corte, arranque, transplantação ou destruição, por qualquer meio, de amoreiras sem autorização prévia da Direcção Geral do Fomento Agrícola. O indivíduo que as cortasse, arrancasse, danificasse ou, por qualquer forma, as fizesse perecer, fosse qual fosse o seu estado de vegetação, ficava sujeito a apanhar multa ou prisão correccional.
O Decreto 18:604, de 12-07-1930, que esteve em vigor durante décadas, fixava a multa em 50 escudos por árvore afectada e a pena de prisão correccional de 5 a 15 dias, sendo esta penalidade imposta em juízo.
Mas não era apenas a amoreira que merecia cuidados. Outras árvores benfazejas eram protegidas pela lei, com especial incidência nas árvores de fruto, essenciais para a alimentação das pessoas e para o desenvolvimento da economia nacional.
As regras iam ao ponto de obrigarem todos os viveiristas a informar anualmente a Divisão de Estatística Agrícola da quantidade de árvores de fruto vendidas, discriminada por espécie e com indicação dos concelhos de destino.
A ideia que presidia era a da defesa das árvores de fruto, embora também houvesse preocupações quanto à floresta, que era sobretudo complementar à actividade agrícola.
Hoje a agricultura foi destruída e os campos abandonados. O desmazelo provocado por essa irresponsabilidade trouxe o matagal, pasto apetecível dos incêndios que, ainda assim, são o que vale para limpar os campos de giestas, silvas, piornos, tojos e toda a demais casta de arbustos inúteis que povoam a paisagem.
Falta-nos quem tenha mão nesta balbúrdia, quem imponha regras equilibradas e as faça cumprir, no interesse do presente e do futuro de Portugal.
«Tornadoiro», crónica de Ventura Reis
Junto à capela de São Paulo o largo com o mesmo nome foi recuperado com supervisão paisagística qualificada. O descampado deu lugar a três «ilhas» ocupadas por barrocos e guardadas por tranquilas oliveiras. A Fonte Romana voltou a ficar à vista e os pilares do «tronco» onde eram ferrados ou curados os animais – à sombra da histórica amoreira – voltaram à sua posição original. O espaço público de Ruivós está a renascer com muito cuidado e bom-gosto.

Em Ruivós a eleição dos membros da Junta é feita em plenário cumprindo a regra das freguesias com menos de 150 eleitores. Em Outubro do ano passado «apareceu a votos» uma única lista encabeçada pelo actual presidente Manuel Leitão que não perdeu tempo e tem vindo a fazer uma notável obra de recuperação e qualificação dos espaços e caminhos públicos.
Em Novembro a Junta apelou à participação de toda a população e durante todo o mês os fins-de-semana foram ocupados com a recuperação e limpeza dos caminhos rurais.
«Tinha como grande objectivo iniciar o meu mandato com a recuperação do espaço histórico do Largo de São Paulo», começou por nos dizer Manuel Leitão, presidente da Junta de Freguesia de Ruivós. «Pedimos a colaboração da Câmara Municipal do Sabugal e os trabalhos de recuperação e arranjos paisagísticos do largo foram acompanhados pela eng.ª Cláudia. Plantámos por toda a freguesia cerca de três dezenas de oliveiras que fomos buscar a Longroivo. As que estão plantadas no Largo de São Paulo foram oferecidas pelo senhor Manuel Joaquim Rito do Soito. Os barrocos estavam em terrenos onde, em criança, guardava as vacas dos meus pais», esclarece-nos o empreendedor autarca.
A cerca de 500 metros da actual povoação de Ruivós no Largo de São Paulo e encostada ao cemitério ergue-se a Capela de São Paulo catalogada com grande antiguidade e que pode ter sido inicialmente uma mesquita. Está situada no vale de Valdeiras também conhecido como vale da ribeira da Nave reconhecido como um dos caminhos de Santiago certificado pela concha decalcada na pedra da janela da igreja matriz.
Na capela de São Paulo uma estela de granito embutida na parede virada a Norte tem uma inscrição romana, em latim, descodificada pelo arqueólogo Marcos Osório da Silva e que diz: «(A ???c) a Alfídia Ama, filhos de Lúcio Ânio Cipiano. Aos seus filhos, o pai mandou fazer esta memória».
Ainda de acordo com o estudo de Marcos Osório «Ruivós – Antiguidade de uma Freguesia» durante o domínio romano toda a região em torno de Ruivós «dada a sua referida riqueza agrícola, voltou a ser densamente povoada e no lugar onde se situa a capela de São Paulo, ter-se-á implantado uma unidade habitacional/agrícola, denominada nos tempos romanos de villae. (…) A sul da capela, existe uma nascente chamada de fonte romana que poderá corresponder a um local de tradição no abastecimento de água ao local».
«A fonte romana há muito que estava escondida pelas silvas e pelas giestas», recorda Manuel Leitão quando chegamos à portaleira de um lameiro onde se notam as paredes em pedra recolocadas, recentemente, no lugar. Ao fundo uma espécie de anta protege uma pequena presa de água arrimada a um cristalino ribeiro de geladas águas que corre com imponência nestes chuvosos tempos de Março. «Aqui está ela! Limpámos o lameiro e a fonte romana e queremos fazer aqui um parque de merendas», diz-nos com orgulho o presidente.
A visita guiada terminou nas traseiras da igreja matriz de Ruivós junto ao antigo «tronco» com seis pedras graníticas verticais onde os animais eram ferrados ou curados quando tinham pernas partidas ou estortegadas. Ao lado do «tronco» mantém-se imponente a velhinha amoreira testemunha silenciosa da brincadeira de gerações de crianças e que em todas deixou a sua marca colorida. Nas mãos, no corpo, na roupa. As amoras são daquelas que crescem até ficar enormes e vermelhas e depois amadurecem para preto. É a amoreira do povo. É a velhinha amoreira que merecia ser podada, tratada, revitalizada e condecorada com a ordem de monumento da freguesia de Ruivós. Aqui fica o desafio ao dinâmico presidente Manuel Leitão.
jcl
O sabugalense Joaquim Esteves Saloio teve engenho e arte para concretizar uma difícil passagem de testemunho enquanto presidente da Mesa da Assembleia Geral dos anteriores órgãos sociais da Casa do Concelho do Sabugal. Vamos conhecer um pouco melhor este carismático bancário-advogado.
Joaquim Esteves Saloio, é natural da Torre, no concelho do Sabugal. Nasceu no seio de uma família de agricultores e foi o quinto de seis filhos de Manuel José Saloio e Maria Domingas Martins Esteves.
Frequentou a Escola Primária na Torre mas nesse tempo o exame da 4.ª classe era feito no Sabugal. A custo lá confessou que sabia muito bem a data, 1956, porque tinha ganho o prémio do melhor exame desse ano no concelho do Sabugal. Insistimos para que nos explicasse como tudo aconteceu apesar de nos ir dizendo que «talvez fosse melhor não pôr isso no artigo»:
– Era um tipo muito envergonhado na terceira classe. Houve uma altura em que a professora da classe feminina adoeceu e levavam as raparigas à tarde para a nossa sala. Invariavelmente tinha dores de barriga para me deixarem ir mais cedo para casa. O exame da quarta classe no Sabugal foi feito pelo director e pela professora Nina, que dava aulas na Colónia Agrícola de Martim-Rei. Trocavam muitos segredinhos e como pensei que eram namorados fui respondendo descontraidamente às perguntas. No final deram os parabéns à minha professora, a D. Isabel Baltasar, mulher de José Maria Baltasar, que foi presidente da Câmara Municipal do Sabugal antes do 25 de Abril.
Nesse ano ingressou no Seminário Menor da Guarda (instalado no Fundão) onde estudou durante cinco anos. Mas logo nas primeiras férias do Natal quando chegou à aldeia o primo, António Esteves Morgado (que veio a ser presidente do município sabugalense), correu a dizer-lhe: «Oh Quim! Tens que ir à escola porque a professora tem uma caixa com 36 livros e um diploma do melhor exame para te dar.» E assim ficou registada a data para sempre.
Joaquim Saloio frequentou o Seminário Maior na cidade da Guarda durante sete anos. Foi jogador-treinador da equipa dos seminaristas entre 1965 e 67 e recorda os renhidos desafios com o Colégio de São José, do Outeiro de São Miguel, do Reformatório do Mondego e com o Liceu da Guarda onde alinhava o célebre Cameira que chegou a ser internacional português.
Concluiu o curso de Teologia com 23 anos e o padre Joaquim Teles Sampaio, da Amoreira, levou-o para Moçambique para a paróquia de Macuti, na Beira, onde foi responsável pelo canto coral, catequese e escutismo acumulando com as aulas de Moral na Escola Industrial e Comercial Freire de Andrade. «Não fui ordenado padre porque ainda não tinha feito 24 anos. Eu teria requerido a dispensa da idade se o bispo me proporcionasse trabalhar em equipa com os padres Pereira de Matos e Bernardo José Guerra Ribeiro», esclareceu-nos a propósito.
Passado um ano foi incorporado na tropa em Lourenço Marques, primeiro com a especialidade de secretariado e depois em Nampula, como alferes na chefia dos Serviços de Contabilidade e Administração. Aproveitou para dar aulas e ganhar algum dinheiro extra na Escola Industrial e Comercial Neutel de Abreu.
– Um dia entra pela repartição dentro um tipo a dizer que era da Guarda. «E eu também», respondi-lhe. «Sou do Sabugal», acrescentou então. «E eu também», repeti. Olhámos um para outro incrédulos. E foi lá longe em Moçambique que conheci o Morgado Carvalho do Soito. Foi uma festa.
Em 1974, a seguir ao 25 de Abril, regressou ao continente e ao Sabugal.
– Concorri e entrei no BES (antigo Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa) tendo ficado colocado nos serviços centrais na sede. Passei pela secção de letras, pelo departamento Internacional e finalmente fui secretário do Conselho de Administração do BES durante cerca de 13 anos. Pertenci durante muitos anos à direcção do Grupo Desportivo do banco onde em colaboração com Nuno Espinal fundámos o BESCLORE (Grupo de Danças e Cantares do BES).
Decidiu matricular-se na Universidade de Direito tendo-se licenciado em Direito em 1982.
Em Outubro de 2000 ingressou nos corpos sociais do Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos Bancários (SNQTB) como presidente do Conselho Geral e desde 2003 é presidente da Mesa Unificada da Assembleia e Conselho Geral.
– Uma dia, José Cunha, director do banco combinou comigo ir comer lebre com feijão branco a um restaurante na Baixa. Fiquei sentado ao lado do dono dos armazéns Capelo. E a propósito do Sabugal, o senhor Manuel Capelo diz-me que ainda era primo de uma tal Ti Domingas. Na Torre apenas duas mulheres tiveram esse nome e uma já tinha morrido – Só pode ser a minha mãe – disse-lhe concluindo que acabava de conhecer mais um primo.
As estórias das férias de Verão de Joaquim Saloio enquanto andou no Seminário foram mais que muitas. Entre as publicáveis aqui ficam duas:
– Com os nossos 18 ou 19 anos eu e o meu primo, António Morgado, iamos até ao Ozendo e costumavamos visitar a Ti Isabel, mãe da Alexandrina Pereira. Nesse tempo as mulheres sentavam-se nas escaleiras das casas à fresca da tarde. Comentando o pagamento das patentas* uma das senhoras presentes virou-se para nós e disse – Vocês os dois! Se algum vier casar ao Ozendo não paga de patenta menos de cinco contos de réis! – ficámos, estupefactos, a olhar um para o outro mas rematámos «Não importa! Arranjamos melhor sem ter que pagar a patenta!» e fomos embora. Aqui fica outra… Uma vez na Capeia de Quadrazais, como andava no seminário, tive um lugar reservado só para mim na janela da casa da Olinda, filha da Ti Maria do Balhezinho. A meio da capeia apareceram duas raparigas na janela do lado. A dona da casa apresentou-nos e diz-me – Éh Quim! Atira-te a elas! São universitárias!
E terminou com música: «Na altura o Rádio Altitude era conhecido como o Rádio Moca. No top das músicas pedidas esteve durante muito tempo a Baby Baby Camback. Outras modas!»
Fez-se sócio da Casa do Concelho do Sabugal por influência da então estudante Amélia Martins, de Rendo. «Colaborei com a Casa no Conselho Fiscal e ultimamente como presidente da Mesa da Assembleia Geral onde passei uma das mais atribuladas fases da instituição. Felizmente que tudo está no bom caminho. Agora é preciso olhar para a frente.»
Joaquim Esteves Saloio na primeira pessoa.
* A «Patenta» ou «Pagar o vinho» era uma moda que caiu em desuso nas terras raianas em que os forasteiros que quisessem namorar raparigas da aldeia eram obrigados a pagar uma borga para todos os solteiros. Só depois lhe era permitido circular e permanecer junto da casa da sua amada.
jcl
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