You are currently browsing the daily archive for Quarta-feira, 28 Novembro, 2012.
Antes de se meter a caminho de Portugal Junot instala o seu quartel-general em Bayonne, no sul de França, e aí reúne o Exército de Observação da Gironda, cujo comando o imperador lhe confiou.
A força militar compôs-se à imagem de um corpo de exército, com três divisões de infantaria, uma de cavalaria, outra de artilharia e algumas companhias de engenharia, sapadores e operários, a que se juntavam os carros com bocas de fogo, barris de pólvora e trens de equipagem.
Instalado no comando, Junot aguarda que se lhe reúnam os destacamentos, o imenso material necessário para a campanha e os oficiais superiores que o imperador lhe dispusera.
Não há somente soldados franceses. Há mercenários suíços (dois batalhões), desertores alemães (um batalhão), e também alguns italianos. São porém escassos os soldados experientes na guerra. A maior parte é tropa de linha e há muitos soldados recém-incorporados. Os poucos veteranos estão na 1.ª divisão, comandada por Delaborde, que de resto virá a ser a tropa que resistirá melhor à marcha.
Ainda em Bayonne, todas as noites desertam dezenas de soldados dos vários acampamentos. Nem os aboletamentos compulsivos, que recaem sobre as famílias dos desertores, evitam as sucessivas fugas. Preocupado, Junot implora ao Imperador que mande castigar severamente os trânsfugas: «creio indispensável mandar fuzilar nesta região alguns desertores, a fim de reter os outros».
O exército reúne a custo. Falta fardamento, sobretudo botas e capotes, e o dinheiro não chega para gratificar a tropa antes de sair em campanha, como é uso no exército francês.
Ainda que mal equipadas as colunas colocam-se em movimento sob uma chuva intensa e um frio cortante, que os acompanhará em todo o percurso.
As ordens são claras e o percurso está estabelecido: Junot atravessará Espanha passando por Vitória, Burgos, Valhadolid, Salamanca, Ciudad Rodrigo, de onde avançará para Portugal e marchará sobre Lisboa.
A invasão de Portugal terá o apoio dos espanhóis, tendo em conta o interesse comum. Uma divisão juntar-se-á a Junot junto à fronteira. Outra divisão ocupará o Porto e uma terceira invadirá o Alentejo.
Poucas semanas antes, em 27 de Outubro de 1807, França e Espanha haviam assinado em segredo o Tratado de Fonteinebleau, pelo qual dividiram o reino de Portugal. O acordo estabelecia o direito da tropa francesa transitar em solo espanhol e balizava os termos do envolvimento militar de Espanha na invasão.
Junot, antes de partir de Bayonne, e já com parte do exército a marchar em solo espanhol, escreve ao imperador garantindo-lhe que cumprirá com rigor as determinações. Avançaria a marchas forçadas até à fronteira portuguesa e aí aguardaria a reunião de todo o exército para avançar em força para Lisboa. «Todo o meu exército estará reunido no dia 26 e, supondo que só a 1 de Dezembro ele entrará em Portugal, espero estar em Lisboa a 10».
Já em Vitória, no País Basco espanhol, o general pára por uma noite e reajusta os planos. Como a ordem do Imperador é para atingir Lisboa quanto antes, decide que marchará para Alcântara, local por onde entrará em Portugal, tomando o caminho mais curto e evitando a via da Beira e a praça-forte de Almeida. A linha de orientação é o rio Tejo, cuja margem direita quer seguir até Abrantes, local onde passará para a margem esquerda e seguirá pelas planuras ou usará mesmo o rio para o transporte das tropas. Se o exército português colocar alguma oposição à invasão, os planos estão traçados: «posso mantê-lo em respeito com uma pequena parte das minhas tropas e alguns espanhóis sob o comando de um oficial inteligente enquanto eu marcho com o resto do exército contra o exército português para lhe dar combate e tomar Lisboa, que é o objectivo principal da operação», escreve a Napoleão.
Os franceses sabiam que havia um plano secreto, gizado entre Portugal e Inglaterra, para a fuga da corte portuguesa para o Brasil em caso de invasão, e Junot prefere primeiramente que esse plano se concretize, por ver assim facilitada a sua acção. Seria pouco provável que o exército português se movimentasse e o general livrar-se-ia do embaraço que seria tomar conta do príncipe regente português.
Napoleão, que também estava em campanha, acompanhava as notícias da marcha sobre Lisboa, recebendo vários informes. Junot escrevia-lhe a dar conta de tudo, mas o imperador recebia relatórios paralelos de outros militares, à margem do conhecimento do general em chefe. A certo momento, Napoleão enviou uma missiva a Junot dando-lhe ordens firmes para acelerar a marcha de modo a estar em Alcântara no dia 20 de Novembro e entrar imediatamente em Portugal, sem perdas de tempo, porque a 1 de Dezembro quer Lisboa tomada. Junot assegura-lhe que cumprirá as ordens, mau grado a chuva intensa, a lama e as torrentes que não o deixam por um instante.
«As invasões francesas de Portugal», por Paulo Leitão Batista
leitaobatista@gmail.com
O Capeia Arraiana está a publicar as contratações da Câmara Municipal do Sabugal e de outras entidades que, por ajuste directo, envolvam o concelho sabugalense entre Janeiro e Novembro de 2012. As regras da contratação pública previstas no Código dos Contratos Públicos aplicam-se a todo o sector público administrativo tradicional: o Estado, as Autarquias Locais, as Regiões Autónomas, os Institutos Públicos, as Fundações Públicas, as Associações Públicas e as Associações de que façam parte uma ou várias pessoas colectivas referidas anteriormente.
MARÇO DE 2012 |
:: 01-03-2012 ::
Descrição: Estudo das incidências ambientais da ETAR de Rendo (Sabugal).
Adjudicante: Águas do Zêzere e Côa, S.A.
Adjudicatário: Confeb – Consultores de Engenharia, Lda
Preço Contratual: 24.000,00 €
:: 15-03-2012 ::
Descrição: Drenagem de águas pluviais na Rua do Pinhal – Soito.
Adjudicante: Município do Sabugal
Adjudicatário: CubosBeira, Lda.
Preço Contratual: 7.243,00 €
:: 16-03-2012 ::
Descrição: Aquisição de mobiliário para o Centro de Estudos Jesué Pinharanda Gomes.
Adjudicante: Município do Sabugal
Adjudicatário: Gonçalves & Gonçalves, Lda.
Preço Contratual: 7.986,78 €
:: 30-03-2012 ::
Descrição: Ligação, em Rede, dos estabelecimentos de Ensino/Educação existentes no concelho do Sabugal.
Adjudicante: Município do Sabugal
Adjudicatário: C.B.E., S.A.
Preço Contratual: 44.026,94 €
O Código dos Contratos Públicos criou o Observatório das Obras Públicas e o sistema de informação dos contratos de bens e serviços, incumbindo-os de acompanhar e avaliar a contratação pública. São ferramentas essenciais para o aperfeiçoamento de opções e para a promoção de boas práticas.
jcl
Vivi a minha infância em ambiente bucólico, na ruralidade da minha aldeia, nas Cheiras. Passei a adolescência no colégio do Outeiro de S. Miguel e cheguei, no limiar da juventude, ao Liceu Nacional da Guarda.
A urbanidade soube-me a liberdade. Cedo integrei grupo de amigos. A experimentação de hábitos urbanos foi-se impondo, gradualmente. O prazer da «bica», uma das principais novidades da altura, constituiu um deleite que me sobejou para o resto da vida. Hoje até o cheiro do café me inebria!
Iniciei, nessa época, as saídas à noite. Saía mal acabasse de jantar. Do Largo dos Correios, onde morava, rumava ao Café Mondego. No início da minha vida urbana foi nesse café que me acostumei a cavaquear com amigos perante uma bica quentinha. Nas noites frias da Guarda desse tempo pouco mais poderíamos fazer do que conversar, beber um copo, tomar um café e espreitar algum jornal. Folheávamos mais frequentemente o Diário de Lisboa, jornal de títulos vermelhos, de formato mais pequeno e, por isso, mais portátil.
Certa noite de Inverno deu-se a minha saída, regulamentar, depois do jantar, para o café. O frio era excessivo e quase doía. O vento gélido fez-me levantar a gola do casaco que mantive, erecta, com a ajuda de um cachecol atado em nó cego. Mas nada pôde evitar que, a meio do caminho, caíssem grossas e espaçadas pingas de chuva gelada. Ora, quem por aqui habite ou tenha habitado sabe bem que estas pingas quase sempre precedem copiosas chuvadas. Tive, então, que bater o meu record pessoal dos cem metros e, mesmo assim, cheguei ao destino de costas húmidas e espinha arrepiada.
O café estava repleto. Entrei ofegante e sentei-me, como de costume. A montra embaciada não mostrava o exterior. Apenas se enxergava um ponto de luz amarela. Era a lâmpada de um poste de iluminação pública, em frente. No interior pairava um cinzento espesso, quase opaco, proveniente de mais de uma trintena de cigarros ardentes e fumegantes que, antes de extintos, eram substituídos por outros.
Às mesas conversava-se com inegável concentração. A atenção posta nos diálogos mal permitia perceber que havia quem entrasse e quem saísse. Entrei, portanto, e fiquei com a sensação de que ninguém deu por isso. Consegui uma mesa, bem ao fundo, no vértice de um canto. Era uma mesa que um homem, idoso e corcunda, deixou livre, suando e tossindo, enquanto se ausentava meio intoxicado com a excessividade do fumo tabaqueiro.
Nenhum dos meus amigos tinha vindo e, quiçá, nenhum deles viria, fruto da repressão da chuva, que a essa hora, já era diluviana.
Ao sentar-me desapertei o casaco. Tirei o cachecol. Confortei-me com a temperatura. Ajustei a cadeira à mesa e levantei o braço para o empregado.
Do lado de dentro do balcão um homem baixo e atento tirava cafés que não tinha tempo de contar. Do lado de fora outro homem, alto, equipado de casaca branca, circulava entre as mesas, veloz, redopiando a bandeja e conseguindo, milagrosamente, manter as chávenas sem verter. Colocava as bicas sobre as mesas com a mesma velocidade com que retirava as chávenas vazias. Depois recolhia as moedas que guardava numa carteira de cabedal preto pendurada do cinto. Passou junto de mim, olhou-me de soslaio e gritou sem me auscultar:
– Mais um bica para a mesa do canto.
Saboreei o meu café docemente. Folheei o jornal e assumi uma pose concentrada talvez para não destoar, no ambiente. Tinha perdido a esperança de que algum colega viesse mas continuei esperando sem saber bem por quem.
De repente abriram-se as portas de entrada que eram de «vai e vem». Entrou um homem baixo. Usava um sobretudo sobejamente comprido e cinzento, cor de fumo. O cabelo era comprido, desgrenhado e pouco lavado embora completamente ensopado de chuva. Tinha uma cara redonda, pequena, correada e cercada pela basta cabeleira. Parecia um rosto de cabedal castanho, um cabedal já gasto. Os olhos eram pequenos mas muito brilhantes. Olhando parecia emitir energias que nos perfuravam até ao âmago. Trazia na mão um par de chifres de carneiro, compridos e torneados.
Todos teriam preferido ignorar a sua chegada. Mas o homem vinha ao que vinha e para que todos notassem a sua presença quase berrou:
– Boa noite meus senhores.
Com a mão direita levantou até onde pôde os cornos do caneiro e continuou a vociferar:
– De quem são estes artefactos?
Como todos ficassem embasbacadamente calados rematou:
– Pronto, pronto meus senhores. Desculpem lá incomodar. Vou-me embora… Já vi que estão todos servidos.
«Terras do Jarmelo», crónica de Fernando Capelo
O Doutor Joaquim Mendes Guerra, do casteleiro, homem de grande cultura e qualificado relacionamento, foi um grande lavrador do concelho do Sabugal.
Um notável trabalho publicado pelo Doutor Francisco Manso, sob o título Revolução dos Nabos, ultimamente referenciado na imprensa regional, trouxe-me à memória o que foi a actuação daquele grande terratenente em prol da lavoura do concelho e dos seus agentes, tradicionalmente desprezados, quando não mesmo vilipendiados por todos os poderes centrais, regionais e até locais.
Aquele levantamento popular foi já também objecto de uma outra publicação do grande estudioso Jesué Pinharanda Gomes, que, no entanto, dera outro nome à mesma série de ocorrências, apelidando-a de motim, das aguilhadas ou dos aguilhões…
Se um terceiro estudioso se lembrasse de lhe chamar insurreição contra a pragmática dos luxos poderia justificar o movimento pela irritação provocada nos ganadeiros pela equiparação, para efeitos de aplicação de taxas dos luxos da pomerania aos mastins castelhanos-serras da Estrela ou outros molossos afectados em primeira linha á guarda dos rebanhos, ao tempo ainda fortemente submetidos à dizimização pelas alcateias na região abundantes.
O povo entendia mal as razões de filosofia que, apregoavam os legisladores, estavam na base das novas sanções que iam atingir pequenos proprietários e jornaleiros, eles sim, fortemente carecidos de protecção.
Será curioso anotar que o levantamento apenas teve sucesso em parte do concelho, pode dizer-se que apenas nos que haviam pertencido aos extintos concelhos de Sortelha e Vila do Touro, tendo-lhe ficado totalmente inemnes as aldeias feudatárias dos antigos municípios de Alfaiates e de Vilar Maior e pouco havendo aquecidos os ânimos da restante terra fria sabugalense. Espontâneo, o movimento não teve figuras centrais, pelo que, quando chegou a horas de prestar contas à justiça, a acefalia reinou.
Foi então que o Doutor Mendes Guerra chamou a si a protecção dos que se viram acossados pelas justiças, muitas vezes injustas e normalmente muito poderosas para com os fracos.
Constituídos réus de delito público, foram submetidos a várias medidas de coacção, e, de entre elas, à prestaçao de cauções de montante elevado para o que não dispunham de dinheiro corrente, bens de raiz cabondes e, menos ainda, fidúcia bancária.
E toda essa cara e intrincada trama judicial foi resolvida pela Família Mendes Guerra. Como depois na fase processual subsequente, a do pagamento de preparos, custas de parte e de honorários a advogados.
De frisar é ainda o uso de influências em prol da causa dos ditos amotinados.
Joaquim Mendes Guerra era um homem de grande cultura e qualificado relacionamento. Fora leitor de Português em diversas universidades alemãs. Era um integralista da primeira geração e muito próximo ideologicamente de António Sardinha, Hipólito Raposo, o Conde de Monsaraz e Pedro Teotónio Pereira.
Pertencente a uma elite católica, gozava da amizade do Cardeal Cerejeira e dos vários irmãos e primos Dinis da Fonseca.
Jornalista de mérito, tinha assento permanente na redacção do diário monárquico Voz, nos cadernos do CADC e outros órgãos oficiosos da Igreja.
De resto, ele próprio criou e deteve um jornal posto ao serviço da Lavoura – A Gazeta do Sabugal.
Além disso, prestou à agricultura do concelho, um relevante serviço, criando e provendo de quadros o Grémio da Lavoura.
Ali, foi coadjuvado por um ilustre gerente que ele próprio contratou e preparou para o exercício do cargo – o senhor Pinto Monteiro, pai do Procurador Geral da República do mesmo nome.
«O concelho», história e etnografia das terras sabugalenses, por Manuel Leal Freire
Comentários recentes