A temática da capeia arraiana tem vindo a ser reflectida em textos belíssimos neste espaço por variadas personalidades. Desde a sua génese até aos nossos dias, temos tentado explicá-lo. Talvez seja este o erro da nossa reflexão. A capeia talvez não se explique e, tão somente, se sinta. Talvez, por isso, seja muito mais fácil entender a capeia arraiana quando se está lá. Pegando, afoliando, assistindo.

Capeia Arraiana no Soito

Não procuro, nem tão pouco esta crónica, explicar – se me permitem – cientificamente, o fenómeno da capeia arraiana. O que motiva esta escrita, para além do interesse próprio e suspeito, foram os vários textos e notícias que tenho lido nos últimos tempos. E não perco de vista essas jornadas touromáquicas que se vão realizar brevemente. Assim, parece-me perfeitamente plausível e natural que a origem da capeia esteja numa manifestação de culto religioso. O touro foi, desde sempre, um animal associado à divindade. Neste sentido (e no sentido da linguagem actual) é uma manifestação pagã. Sabemos que muitas das festas, hoje religiosas, têm na sua origem festas pagãs. A capeia arraiana não foge a esse padrão: elas acontecem associadas à festividade de um santo. Se quisermos efectuar uma analogia com o passado, elas continuam a celebrar-se como um ritual “religioso”. Sendo, ela própria, composta por vários rituais. É por isso que afirmo que a capeia arraiana só acontece quando todos os rituais que a compõem acontecem. Não posso, assim, deixar de manifestar a minha revolta quando, num jornal da raia, se apresenta uma notícia com o título de capeia arraiana em Tábua. Desculpem-me, mas é uma blasfémia. Podemos desconhecer a sua origem ou o quando, mas sabemos o espaço geográfico, o onde acontecem. Desta forma, a capeia arraiana só acontece ali. É a manifestação de um viver, de um sentir, de uma forma de estar, de um povo. A capeia entrelaça-se, como uma hera, por todos os membros da comunidade. Formando como que uma irmandade e estabelecendo uma identidade. Também, por isso, não concordo com a exibição do forcão fora da raia (à excepção da capeia do Concelho do Sabugal em Lisboa). Porque está fora do contexto. E estando fora do seu território natural, a capeia perde o sentido, diria, perde o sentir. Lá fora, vai explicar-se o quê? E como? O cenário de uma capeia arraiana não são os carros de bois, os andaimes, os “salva-vida”. Mais do que tudo isto, o cenário, são as pessoas. São o seu vestir. São o seu falar. São a sua forma de estar num dia de capeia. Sem este cenário, a capeia é fria, de certa forma, racional. Ora a capeia arraiana não é uma peça de museu, que possa andar itinerante por aí. Deve, obviamente, ser estudada, discutida, cuidada, aperfeiçoada, mas, essencialmente, deve ser vivida. E são os testemunhos de quem “lá anda” que melhor a explicam, porque são eles que a sentem. A capeia arraiana é pura emotividade. Por isso, no programa das jornadas que aí se avizinham, sinto a falta desses que “lá andam” e, no bloco dedicado especialmente à capeia arraiana, no final, não há lugar a debate, porquê?

P.S. O governo prepara o maior despedimento da história. Espero é que nesse despedimento de contratados, também estejam os assessores (que são a rodos), incluindo o ministro pardo, António Borges.

P.S. A estratégia do nosso génio iluminado das finanças resume-se ao… aumento de impostos! Afinal, porque foram buscar tal figura ao olimpo, quando, cá pelo burgo, qualquer um saberia fazer isso!
Quanto a fazer contas, talvez um estágio (ou MBA) numa mercearia de bairro ensinasse alguma coisa ao ministro e ao primeiro-ministro! Já que as contas deles saem sempre erradas! Ou será o célebre lapso?!
«A Quinta Quina», crónica de Fernando Lopes

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