A «abalada» persegue os jovens que restam no concelho do Sabugal tal qual afrontou as gerações anteriores, com a diferença de que afecta cada vez menos pessoas, em razão da população não parar de diminuir.
A infância é feliz no concelho do Sabugal. Não abundam crianças (há aldeias em que não há uma única), mas as que aqui nascem e crescem, sabem o que é viver em espaço aberto, em contacto com a Natureza, no seio duma comunidade solidária. Têm ao dispor alguns espaços de lazer (jardins, parques, sala de cinema) e há a possibilidade da prática de alguns desportos (futebol, natação, judo). E quem quer ir mais além em favor dos filhos, desloca-se à Guarda ou à Covilhã, onde encontra outras oportunidades para o salutar desenvolvimento infantil e juvenil.
As escolas locais fecham sucessivamente, mas restam as do Sabugal, do Soito e de algumas outras terras, garantindo-se o transporte escolar, alimentação, bem como o recurso ao necessário material pedagógico. O ensino é ministrado por pedagogos de qualidade, seguindo à risca os programas nacionais de educação.
O verdadeiro problema surge quando os jovens chegam ao fim da linha. E este condiz com o termo dos estudos no Sabugal. Aí sobrevém o grande drama que as famílias enfrentam. Ir para a Universidade significa rumar para longe, via de regra para as cidades do Litoral. Os pais sabem que os filhos encetam aí uma viagem que não terá retorno. Claro que voltarão nas férias e até num ou outro fim-de-semana desafogado, mas não há qualquer possibilidade de um regresso prolongado ou definitivo, porque quando terminarem a formação académica os jovens não encontrarão aqui emprego.
Há pais que têm de ir às cidades distantes visitar os filhos e os netos, dado que estes pouco se deslocam ao Sabugal. Outros, na velhice, seguem por longos períodos para a casa dos filhos procurando o seu apoio. Dali são, em muitos casos, remetidos para lares de terceira idade que lhes estejam perto. Alguns nem regressarão à sua terra na hora da morte, porque os filhos optam por os enterrar num cemitério próximo, onde lhes renovem amiudadamente as flores.
Muitos dos que clamam «nós os que cá estamos é que sabemos» terão porventura este destino cruel, porque o grande problema é que o Sabugal há muito deixou de ser terra para novos, e, assim, também não será terra para velhos.
A inércia da administração autárquica, o manifesto medo de dar a cara em defesa do concelho, a incompetência que grassa, são também razões para este drama atroz. Sim, esta fatalidade não advém apenas dos que tomam as decisões em Lisboa. O Sabugal também tem os seus coveiros.
«Contraponto», opinião de Paulo Leitão Batista
leitaobatista@gmail.com
5 comentários
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Segunda-feira, 20 Agosto, 2012 às 21:48
Transcudanio
Leitão, concordo em pleno com o seu comentário, gostava que as coisas fossem diferentes mas a tendência será ainda para piorar. É gritante a forma como estes senhores e a senhora tentam encontrar alguma areia para atirar aos olhos das pessoas, e é por isso que os erros se sucedem, “é da pressa”. que para o ano há votos…
Segunda-feira, 20 Agosto, 2012 às 22:43
Transcudano
De acordo, mas o problema é velho. Ao longo do tempo não conheço outra realidade, independentemente de quem exerce o poder (manda) no Concelho. Se estão à altura esperam?
Terça-feira, 21 Agosto, 2012 às 12:12
João Valente
O problema é de todo o interior, e não só do Sabugal; infelizmente! Há políticas que podem ser um paliativo, é certo… mas uma câmara tem um órgão executivo colectivo, em que o presidente da câmara é apenas o primeiro da lista mais votada, e um órgão deliberativo, também colectivo, que é a Assembleia Municipal. Todos são responsáveis, eleitos e cidadãos eleitores. Se alguma coisa está mal, todos somos responsáveis… uns por acção, outros por omissão cúmplice.
Terça-feira, 21 Agosto, 2012 às 13:11
carlos
foi por essa razao que os nossos pais, avós e agora filhos abandonam o sabugal.nunca tivemos ninguem a altura.ate agora tem sido o caos , as trevas.alguem tera que prometer um mundo novo. cuidado com os que prometem um mundo novo, porque pode o povo querer um mundo novo a serio…
Terça-feira, 21 Agosto, 2012 às 23:34
Alberto Martins Luís
O sinal dos tempos está aí para quem o quiser ou souber ler.A raia necessita de alguém que esteja à altura dos acontecimentos,o que nem sempre é fácil,convenhamos.