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«Fui o que fui, sou o que sou e serei o que Deus quiser. Eu não mudo, o que muda são os governos e as modas.»
Tornou-se famosa como símbolo de incoerência política a afirmação em epígrafe, proferida por velho cacique local das Terras de Riba-Coa, que havia saltitado das hostes dos regeneradores para as dos progressistas, e com incursões também pelo Centro Liberal ou inversamente pelos seguidores de João Franco e que ainda no mercado do terceiro sábado de mil novecentos e dez assim justificava a sua adesão ao republicanismo triunfante.
O exemplo frutificou.
Com a mácula de, onde antes só havia um pouco de vaidade e de apego a influências que monetariamente nada rendiam – bem pelo contrário, pois o caciquismo implicava despesas de vulto e sempre proporcionais, no mínimo, ao grau de influência, hoje as deserções costumam ser motivadas por razões menos nobres e, por via de regra, nada altruístas.
Mas que o exemplo frutificou pelo lado negativo, qualquer observador, ainda que pouco ou nada atento, poderá testificar.
Basta atentar nas tergiversações e tenteios, quando não mesmo no cambalhotismo político dos nossos deputados, que, para honra e lustre do partidarismo político que nos rege, deveriam ser um alto exemplo de coerência.
Mas que o não são, tendo alguns deles percorrido, pelo menos, metade do quadrante ideologicamente reconhecido.
Caso tipico é o de Basílio Horta, actualmente quase porta-voz do Partido Socialista, que logo no imediato post-Revolução de Abril foi destacado militante centrista e que, a meio do percurso, foi mesmo o candidato das Direitas à suprema chefia do Estado.
E o que muitos não saberão é que Sua Excelência foi figura de topo no aparelho do Corporativismo Marceliano.
Homem de mão de Silva Pinto foi secretário, exactamente na era Marcelo Caetano, da Corporação da Indústria, autenticamente o baluarte do Regime.
E ali tinha por função essencial representar o lado patronal na negociação das convenções colectivas de trabalho.
Cargo que exereceu despoticamente, desagradando a sindicatos e grémios.
Áqueles pela pobreza das suas propostas.
A estes pela rigidez e acrimonia das imposições de que era corrente de transmissão.
Silva Pinto foi o mais odiado por todo o sistema – associações patronais e sindicais e sobretudo pelos quadros superiores do Ministerio.
Pela sua grosseira sobranceria. Por uma execranda falta de civilidade contrastava com a personalidade dos anteriores titulares da Pasta – a firmeza de Soares da Fonseca, a lhaneza de Veiga de Macedo, a elegância de Gonçalves de Proença, a superior fidalguia de Baltazar de Sousa.
Discípulo de Silva Pinto, Basilio Horta mimetizou-se com ele e de corporativista à outrance, de degrau em degrau chegou a assanhado socialista.
«Caso da Semana», opinião de Manuel Leal Freire
Hoje quero que se lixem – para usar a expressão do nosso primeiro – os arrufos políticos já em veraneio. As tricas da licenciatura do manda-chuva do partido do poder. As mil e umas vindas de jogadores para clubes portugueses. Os incêndios que são sempre de suspeita de fogo posto, nunca a certeza. As promoções dos militares que, segundo eles, há já soldados a comandar soldados (rasos, entenda-se), o que só prova que os oficiais são dispensáveis. E todo o burburinho que se vai levantando com o aproximar das eleições autárquicas.
Não. Hoje quero falar da verdadeira pré época na raia. Por estes dias, decorrem as festas de Albergaria – Espanha. Para aldeias como Aldeia da Ponte era uma verdadeira peregrinação para as festa da Sant’Ana. Consta, pelo menos assim aprendi pela tradição oral, que a imagem desta santa foi levada pelos espanhóis aquando das guerras da Restauração e que, em contrapartida, os portugueses trouxeram (roubaram) a imagem de S. Sebastião. Não me perguntem da veracidade. Mas a história tem o seu sentido, já que os portugueses frequentam verdadeiramente tal festa. Porque será? Mas deixo esse trabalho para os historiadores.
Esta festa é verdadeiramente o arranque das festas. Uma espécie de pré temporada. Com os seus bailes, copas e, claro, encerro e capeia! Aqui se começa a libertar a ansiedade para abertura oficial na Lageosa da Raia. Abrindo-se, depois, um calcorrear de caminhos e tapadas nos encerros, a poeirada levantada pelo galope de cavalos e touros… e gente. O peregrinar devoto a cada capeia. Os abraços sentidos dos amigos. A explosão de toda uma região em cada investida do touro. O entardecer sereno, recortado por varas e cavaleiros, no horizonte do planalto castelhano. É esta a verdadeira época. A época, em que a identidade individual se funde numa identidade colectiva e abrangente. Não se cingindo a uma fronteira territorial.
Esta é a época em que, toda a raia se enche de gente, num cruzamento harmonioso de gerações. Proporcionando a transmissão da cultura e enraizando uma maneira de ser. Esta é a época.
Eu sei que o mundo continua a girar. Mas hoje, importa-me o girar do meu mundo.
P.S. Bom regresso a toda a diáspora!
«A Quinta Quina», crónica de Fernando Lopes
fernandolopus@gmail.com
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