Hoje vou abrir uma excepção nos meus artigos, vou falar de algo que me pertence, os meus livros, livros que foram escritos por mim. Também vou ser presunçoso! Para escrever é preciso ter valor, para ter valor é necessário ter valores. Quero com isto dizer querido leitor(a) que quem escreve um livro, um artigo, um poema, ou algo relacionado com literatura, tem de ter valor e valores. Excepto, claro! As canetas mercenárias, as que escrevem para quem mais lhes der, as que estão à disposição de quem mais pagar.

António EmidioVoltemos aos meus livros. Tenho a avisá-lo querido leitor (a), que não são recomendados, nem muito menos apoiados pelos consórcios da indústria da cultura. Compreende-se, são actos vandálicos literários, escritos por um agitador social, sem contar com um fraco estilo literário, inúmeras gralhas e pontuação duvidosa. Mas têm uma coisa, são mais éticos que estéticos, quis construir imagens concretas da vida e contar boas histórias, não escrevi para mercados, nem sei.
Vejamos um pouco do que escrevi num deles já em 2008:
«(…)
– O que é a modernidade?
– É a revolução tecnológica, a revolução informática, a revolução da informação, dos transportes, das mentalidades. Neste mundo moderno já não há mais espaço para o paternalismo do Estado, o Estado social como o vimos nas últimas décadas, tem que desaparecer, esse espaço tem que ser ocupado pelas empresas privadas, mas atenção! – exclamou – empresas essas viradas para a concorrência! Porque se não tiverem capacidade de competirem com as estrangeiras, perdem-se mercados para os nossos produtos e a partir daí vem o desemprego. É preciso que os trabalhadores tenham isso em mente, só os baixos salários podem fazer com que uma empresa seja competitiva, os salários altos aumentam os custos laborais e de produção. Isso reflecte-se nas exportações.
– Mas isso não é socialismo é capitalismo. Todas essas revoluções de que tu falas são dirigidas pelo poder financeiro.
– Chama-lhes o que quiseres, mas cada vez mais os políticos têm que obedecer ás ordens do mercado, e cada vez menos aos anseios dos seus povos, melhor dizendo, cidadãos, estes têm que compreender que vão passar a depender cada vez mais do sector privado, tanto nos salários, na doença, na segurança social e nas poupanças.
– Se bem compreendo, tudo se resume a isto. Baixos salários, desaparecimento do Estado social, privatização de todas as fatias que possam dar lucro, como a segurança social, por exemplo.
(…)»
Este pequeno extracto de um dos meus livros mostra que eles também são uma defesa de um ideal próprio e da sociedade que eu desejo para o meu País, embora este ideal e este desejo colidam com os interesses dos senhores do poder. Não lhes estou sujeito, fiz-me «escritor» não para os bajular, mas sim para enviar mensagens de alerta, dizendo que se não acordarmos como povo, só nos resta o abismo.
Dizia Arthur Rimbaud, poeta francês, que a mão que maneja a caneta tem tanto valor como a que maneja o arado, é uma realidade que não consegue ser vista por aqueles e, também aquelas que vivem cegos pela arrogância, pela vaidade e pela ambição.
Quase todos os homens de letras portugueses, poetas, filósofos, ensaístas, escritores, se preocuparam com Portugal, Portugal para eles foi o tema principal do seu pensamento e dos seus argumentos, Camões, Pessoa, Quental, Oliveira Martins, Raul Proença, António Sérgio, entre outros. António Sérgio também dizia: «a minha arma de combate é só a pena.» Por isso, a palavra dita e a palavra escrita ombreiam lado a lado na nossa História com as grandes obras valorosas que nos distinguiram dos outros povos.
Sou um utópico? Sem dúvida, mas com o passar do tempo, uma vida sem utopia torna-se irrespirável. E a sociedade que não concebe uma utopia e não se agarra a ela, está ameaçada de ruína.
Sou um radical? Sem dúvida, mas se não gritarmos bem alto e bem forte, adormeceremos embalados pelos lindos cânticos, como os da corrupção, do autoritarismo, da ignorância, do consumismo, do lucro, dos lacaios mediáticos do mundo das finanças, dos políticos que se vendem aos mercados, e de todos aqueles que nos vão destruindo.
Os livros são bens da alma, e como as pessoas, também os há bons, maus e péssimos. Os meus livros dei-os quase todos, não me preocupou o lucro, mas sim a mensagem que eles transmitem.
Dizem que a revolução Francesa foi uma revolução de leitores. É uma realidade. Foi impressionante o número de publicações, folhetos e jornais que se publicaram por essa altura, vivia-se uma avidez de leitura. Havia muitas sociedades de leitura e anúncios como este de um sapateiro que colocou à porta da sua pequena oficina um cartaz que dizia: «Aqui lêem-se os jornais em voz alta todas as tardes das sete ás oito.»
Um verdadeiro revolucionário.

Para terminar um pequeno esclarecimento: se por acaso não faço comentários a artigos de outros colaboradores, que gostaria de fazer, e não respondo a pessoas que os fazem aos meus, é porque depois de escritos, e ao tentar enviá-los, não saem dos computadores onde os escrevo, digo computadores porque já tentei em vários e o resultado foi sempre igual. A minha péssima relação com a informática traz-me alguns problemas.
«Passeio pelo Côa», opinião de António Emídio

ant.emidio@gmail.com