Chamava-se Francisco, toda a gente o conhecia por «Chico». Foi, enquanto teve saúde, sacristão na Igreja de São João, na cidade do Sabugal.
Conheci-te há muitos anos «Chico», entrei para a família dos teus patrões, a partir daí conheci o percurso da tua vida. Foste uma alma sensível, em ti nunca esteve a dureza de coração, a frialdade, o cinismo e a indiferença pela dor alheia, levaste uma vida marginal, quase idêntica à dos primeiros cristãos. Neste Mundo nunca tiveste uma recompensa, somente aquela, e bem valiosa que os teus patrões te deram, aceitaram-te como mais um membro da família, cuidaram de ti até à morte. Foste sacristão, serviste a Igreja, não serviste Deus, Ele serviu-te a ti. Quantas vezes, sem tu veres, Ele se inclinou diante de ti, não «Chico»! Não estou a fazer de ti um Deus superior! Mas só os cristãos como tu, com a vida que levaste, participam interiormente para a dignificação do credo religioso que abraçaram. Não sei onde estás a estas horas, mas sei que a tua alma e o teu espírito vagueiam nesse mar de felicidade que é a vida eterna. Atingiste agora a recompensa máxima.
Termino esta despedida pública que te faço com uma palavras de Monsenhor Óscar Romero, um mártir assassinado com um tiro no coração enquanto celebrava a Eucaristia, no dia 24 de Março de 1980, lembro-me bem da tua indignação perante este crime, as palavras dele foram estas: «Uma religião de missa dominical, mas de semanas injustas, não agrada ao Senhor. Uma religião de muitas rezas, mas com hipocrisias no coração não é cristã. Uma Igreja que se instala só para estar bem, para ter muito dinheiro, muita comodidade, mas que esquece as injustiças, não é a verdadeira Igreja».
Adeus até sempre, «Chico».
António Emídio
4 comentários
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Terça-feira, 10 Janeiro, 2012 às 21:20
leitaobatista
O Chico era um homem bom, que viveu para servir o próximo.
A cidade do Sabugal está de luto por perder esta alma generosa.
Obrigado, António, por este belo e emotivo texto em que rendes preito a um homem pobre e simples que soube ganhar um lugar no coração de todos.
Paulo Leitão Batista
Quarta-feira, 11 Janeiro, 2012 às 7:51
Ramiro Matos
Foi com grande mágoa que soube da notícia da morte do Ti Xico.
Na minha infância muitas tardes passei em casa do sr. Abílio a brincar com o Zé e muitas das brincadeiras acabavam junto ao Ti Xico que sempre nos recebia sem um reparo ou uma má vontade, mesmo quando interferíamos com o seu trabalho.
Adulto, nunca o Ti Xico deixou de me considerar como um amigo.
à sua família de sangue e à família a que sempre disse pertencer, em especial a D. Lurdes, a Lena, a Talinha e ao meu grande amigo Zé Cipriano as minhas sentidas condolências.
Sei que o Ti Xico me perdoaria não estar presente no funeral.
Ramiro
Quarta-feira, 11 Janeiro, 2012 às 14:04
fernando capelo
Amigo Nabais:
Conheci o Ti Chico apenas pela leitura deste teu texto mas julgo que o conheci bem. Associo-me à homenagem que prestas a um homem simples e bom. Mas este teu texto também te define a ti a quem dou os meus parabéns e envio um grande abraço.
Quarta-feira, 11 Janeiro, 2012 às 18:45
António Antão
Faço minhas as palavras do Ramiro porquanto também fui participante nas vivências que recorda a propósito do Chico e também fui objeto de honrosa consideração e estima do Chico.
Foi, por isso, com furtivas lágrimas, que não consegui suster, que recodei o Chico pela fotografia e faço minha também a dor sentida plos seus mais próximos.