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TERRA DO FOGO – O Madeiro de Penamacor, já reconhecido como o maior Madeiro do país, foi votado pelos portugueses como a tradição de Natal mais Criativa no Movimento SIM Natal, patrocinado pela Samsung. A sinopse do filme diz-nos que Miguel faz uma viagem até Penamacor para passar as férias junto do primo João e dos seus tios. O que ele não sabe é que o Natal em Penamacor vai ser muito diferente do que ele conhece. O fogo alimenta histórias de mistério e Penamacor é a Terra do Fogo.
jcl
«Um lugar vazio à mesa», é o título da memória de Natal que o escritor sabugalense Manuel António Pina enviou à Rádio Renascença no âmbito da iniciativa «Era uma vez… no Natal», que aquela emissora de rádio tomou e em que participam outras cinco figuras conhecidas: a fadista Carminho, o poeta Tolentino Mendonça, o ex-presidente Jorge Sampaio, o treinador de futebol Fernando Santos e o padre Hermínio Rico. O texto de Manuel António Pina consta no portal da Rádio Renascença e pode ser lido ouvindo ao mesmo tempo o segundo andamento do concerto nº 2 para piano e orquestra de Brahms.
A memória de Natal que me é pedido que partilhe é, não de um, mas de 11 dolorosos natais, os de 1963 a 1974.
Em 1963, meu irmão mais novo, em desacordo com a Guerra Colonial, recusou-se a comparecer à inspecção militar e fugiu clandestinamente para França. Meus pais e eu pensámos que nunca mais o veríamos. O regime de Salazar parecia eterno e as guerras nas colónias africanas constituíam o centro, praticamente exclusivo, da política do país. Daí que a deserção (a situação de meu irmão não era rigorosamente de deserção, pois não chegara a ser incorporado mas, em termos militares, era afim) fosse o mais grave dos crimes, punível mesmo, se em teatro de operações, com a pena de morte.
Além disso, a deserção lançava uma sombra de permanente suspeita política sobre a própria família do desertor, pelo que meus pais receavam nunca vir a ser autorizados a sair de Portugal para visitar meu irmão. Eu próprio, quando, em 1972 ou 1973, depois de cumpridos quase quatro anos de serviço militar e já jornalista, fui encarregado de um trabalho de reportagem na Alemanha, encontrei dificuldades quase insuperáveis para obter passaporte, o que só acabou por ser possível após responsabilização pessoal do director do “JN”, Pacheco de Miranda, pelo meu regresso.
Esse primeiro Natal sem o meu irmão (de quem não tivemos, durante meses, notícias senão uma vez, através de um emigrante de Braga seu conhecido que, tendo vindo de férias, nos procurara para nos dizer que ele encontrara trabalho como “voyeur de nuit” e pedia que lhe enviássemos comida e algum dinheiro) foi, por isso, triste e sem palavras. Minha mãe levantava-se de vez em quando da mesa e ia chorar longamente para a cozinha; meu pai esperava um pouco e, depois, levantava-se também e ia buscá-la, regressando ambos em silêncio.
Minha mãe pôs o prato e os talheres de meu irmão e, quando trouxe o bacalhau e as batatas, serviu-lhos. Tudo aquilo se me afigurava patético e doentio, mas também eu chorava por dentro. A certa altura, como a cadeira vazia de meu irmão se encontrava um pouco afastada, minha mãe levantou-se para aproximá-la da mesa e, nesse momento, fingi que precisei de ir à casa de banho e deixei correr livremente as lágrimas.
Nos 10 anos seguintes, na nossa ceia de Natal houve sempre um prato e talheres na mesa para uma ausência presente. Até 1974.
«Um lugar vazio à Mesa», de Manuel António Pina
O Natal lembra-nos o especial dever de compreensão e ajuda.
Não é o tempo de egoísmos e vaidades, ditados pelo desprezo das condições de cada um.
Sabemos que os tempos têm de ser de coragem e determinação, para as famílias portuguesas; e de fortalecimento dos laços de Solidariedade entre os grupos de todas as gerações, mas também sabemos que terão de se abandonar egoísmos e orgulhos inúteis, e substitui-los por atitudes de humildade, carinho e compreensão, em nome da paz e do bem comum.
Natal é tempo de alegria, amor e olhos virados para o futuro, com a confiança de que é possível deixarmos aos nossos filhos, tudo aquilo que justamente ambicionamos.
Nesta onda de solidariedade a Junta de Freguesia da Bendada vem desejar a todos os Bendadenses, um Santo e Feliz Natal, e um Ano de 2012 cheio de paz, saúde e recheado de muitos sucessos a nível pessoal e profissional.
Que o espírito natalício esteja presente em todos os lares da freguesia durante todo o próximo ano.
Esta mensagem é extensível a todos os filhos da terra que vivem e trabalham pelos quatro cantos do mundo, mas que nesta época especial recordam com carinho e ternura a terra que os viu nascer.
É Natal! é tempo de alegria!, é tempo de conviver!
Venha participar no concerto de Natal!
Freguesia da Bendada
Jorge Manuel Dias
Os troços com pórticos na auto-estrada da Beira Interior (A23) perderam quase metade do tráfego automóvel nos primeiros 11 dias de portagens, em comparação com o mesmo período de 2010. No Sabugal também é notório o aumento de tráfego, sobretudo de camiões que fogem ao pagamento de portagens.
A informação foi divulgada pela Agência Lusa, que teve acesso a dados estatísticos referentes às passagens, entre 8 e 18 de Dezembro, nos lanços com pórtico entre Abrantes Oeste e o nó de Pinhel (concessão da Scutvias). Os números apontam para uma perda de 46% do tráfego em relação a 2010, enquanto no resto dos troços a queda foi menos acentuada: 34%.
Os números evidenciam uma fuga aos troços com pórticos como forma de evitar o pagamento de portagem, sendo a queda mais acentuada no troço entre Alcaria e Covilhã Sul, com uma diminuição de tráfego de 57%. Seguem-se os troços entre Alcains e Lardosa, com uma queda de 51%, e entre a Guarda e Benespera, com menos 50%.
Mesmo nos troços com pórtico onde as reduções de tráfego foram suaves, os cortes são sempre superiores a um terço do registado nos mesmos dias de 2010.
Nos troços gratuitos, a maior queda aconteceu entre Lardosa e Soalheira, com menos 44% do tráfego.
Os mesmos dados mostram que há menos veículos a circular na auto-estrada independentemente da introdução de portagens, tendo em conta a queda de 27% de tráfego no Túnel da Gardunha – gratuito e praticamente incontornável, dado que a alternativa é uma longa estrada de montanha.
Cerca de 60% dos veículos que circularam na A23 nos primeiros 11 dias de portagens já tinham identificador electrónico para pagamento de portagem, registando-se uma tendência para os carros sem dispositivo diminuírem.
No Sabugal é notório o aumento de tráfego de e para Vilar Formoso, nomeadamente de carros de mercadorias, que fogem ao pagamento de portagens.
plb
Era domingo e a tarde, apressada, esgotava-se deixando-me (curto) tempo para um velho hábito, o de observar.
Ora, é sabido que, para vendavais, não há fins de semana e, apesar do domingo, levantava-se um vento espanhol, forte e tempestuoso fazendo viajar no seu sopro, escassas gotas de chuva que voavam velozes e azuis no ar cinzento magoando os rostos muito mais do que molhavam.
Eu insistia, resistia, no meu posto, no cume da escarpa verificando o Côa bem ao fundo. Virado ao rio vigiava, pelo canto do olho, em ângulo difícil, aferindo distâncias. A pequena aldeia de Mido, de tons amarelados, brancos e vermelhos, trepava a meia encosta denunciando ânsias de subir mais alto. Apesar disso, Mido, não consegue enxergar o rio que, qual cobra cinzenta/brilhante nesta tarde sem sol, furava o frio empurrada por bafos fortes de vento gelado e sob uma ameaça seríssima de chuva.
Se, nesse momento, eu tivesse uma flor, teria descido e, tê-la-ia colocado sobre as águas, para amenizar o ar da tempestade, para criar uma imagem mágica que lhe pudesse resistir. Pedir-lhe-ia, ao rio, que protegesse a flor, que a fizesse sobreviver ao vento, à chuva e à corrente, que a levasse e que a transformasse num símbolo andante posterior ao mau tempo provando que a bonança regressará sempre.
Mas não, não era época de campos com flores e era tarde de vendaval que acabou por envolver os montes, entortando árvores, arrancando folhas, levando-as, varrendo-as.
O som das folhas caídas e arrastadas parecia criar uma canção livre, liberta das grades do tempo e, assim, me lembrei das cantigas de infância que, no Inverno, eram cantadas ao calor da lareira. Eram diferentes dessas outras cantigas de infância, as da Primavera, cantadas no exterior já quente, quando as flores pintavam os prados, sobre ou entre as ervas. Nessa altura estaria o rio tão próximo do meu coração quanto ainda está hoje!
Mas voltaria, agora, a provar o vendaval! Voltei a ver os pastos altos, os cabelos de erva que, diante dos meus olhos, voltaram a provocar-me espanto. Entendi as pancadas fortes do vento como pancadas de Molière.
Estava perante a paisagem austera do Côa, sob temporal, com árvores a vergarem-se e pastos a ondular. Era uma paisagem dinâmica por entre rochas inertes… Senti-me, de novo, espectador de um palco, de um teatro que já vi milhentas vezes. Não vi flores nem ouvi palmas mas revi retalhos da minha vivência, numa paisagem digna de televisão ou de cinema.
Por outro lado, era como entregar ao vento preocupações ou sofrimentos. Era como descarregá-los na visão de um filme, e depois de os largar, voltar a sorrir distraindo-me com tudo o que estava em meu redor. Porque ela, a paisagem austera do Côa, apesar da tempestade tinha essa arte, a de me fazer festas tranquilizadoras.
E o vendaval apenas ensaiava o seu papel, fazendo mergulhar tudo num tremendo temporal animado pelos sons e abanos do vento e pelas ameaças da chuva mas, tudo, resistiria como se resistisse a um cerco.
E a Primavera haverá de chegar como quem põe flores sobre a mesa!
«Terras do Jarmelo», crónica de Fernando Capelo
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