Cumprem-se três anos sobre o anúncio do empreendimento Ofélia Club, que prevê a construção em Malcata de um complexo de «Residências Turísticas Assistidas» e uma unidade hospitalar, através da empresa Existence SGPS SA, detida pelo tunisino Hamdi Benchaabane e o português António Reis. Sigamos este estupendo negócio que envolve dinheiros públicos.
Para cativar um alegado investimento de 45 milhões de euros o Município sabugalense protocolou ceder 40 hectares, correspondentes ao espaço de recreio e lazer e a parte do espaço de protecção complementar, previstos no Plano de Ordenamento da Albufeira do Sabugal (POAS). Acordou-se ainda isentar a Existance de taxas e licenças de construção, bem como de alvará de loteamento.
A Câmara tratou de adquirir os terrenos necessários, após negociação com os proprietários, e solicitou uma alteração ao POAS para que o projecto tenha espaço de implantação.
Chegados aqui, seguir-se-á a venda dos terrenos à Existance, a preço simbólico. Depois a empresa dividirá o espaço em lotes, onde instalará casas de madeira, prefabricadas, que venderá à sociedade financeira FUNDBOX SGFII SA, detentora e gestora de fundos de investimento imobiliário, prevendo-se também a venda a particulares. Para a exploração do empreendimento, a mesma Existance alugará os espaços aos ditos fundos imobiliários e aos particulares, passando a pagar-lhes uma renda. A Existance ficará a gerir o «aldeamento» instalando aí os clientes, mediante cobrança.
Escalpelizemos os termos do negócio, colocando valores supostos e exemplificativos: a Câmara compra os terrenos a 100 e vende-os por 1 à Existance, que por sua vez vende por 200 à sociedade financeira.
Estamos, é bom de ver, perante um negócio fantástico, que significa para Hamdi Benchaabane e António Reis o encaixe de uma choruda mais-valia imobiliária. O trato também é bom para o fundo imobiliário, que assim soma património que potenciará a venda de subscrições.
Dir-se-á que, mau grado o negócio particular subjacente, o concelho ganha um empreendimento turístico que criará emprego. Mas a questão é que não existe qualquer garantia de que o investimento venha ser realidade. A cláusula protocolada para o caso de incumprimento, da reversão dos imóveis e o recebimento de indemnização em dobro do preço de aquisição dos terrenos por parte do Município, de nada valerá, uma vez que os terrenos serão vendidos ao fundo imobiliário, deixando, portanto, de ser propriedade de quem se comprometeu com a edilidade.
A Existance lançou projectos similares por todo o território nacional, tentando cativar várias câmaras municipais: Portimão (585 camas), Lagos (800), Albufeira (620), Vila Franca de Xira (360), Palmela (3.468), Vila Real (240), Arganil (140), Figueira da Foz (110), Abrantes (1.045), Castelo Branco (2.040), Belmonte (720), Guarda (130), Sabugal (1.088). Sucessivamente, os municípios envolvidos vão dando conta dos reais termos do negócio, e não o aceitam. No Sabugal, porém, o projecto vai de vento em poupa e anuncia-se a sua concretização para breve
Se a construção do empreendimento e a sua exploração comercial interessam de facto à Existance, e se isso é bom para o concelho do Sabugal, então seja outro o compromisso da Câmara Municipal: conceda-se o usufruto dos terrenos por longo tempo, de graça ou por um aluguer simbólico, mas não se caia na «esparrela» de transferir a propriedade dos mesmos para a dita empresa, proporcionando o tal fabuloso negócio imobiliário à conta da ingenuidade (ou não) de quem gere os dinheiros públicos.
«Contraponto», opinião de Paulo Leitão Batista
leitaobatista@gmail.com
10 comentários
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Segunda-feira, 10 Outubro, 2011 às 13:13
kim tomé
Eu sou INDIGNADO!
Quem são os INDIGNOS?
É assim que se gere o nosso melhor património?
Quem vai ganhar com este negócio?
Apenas os tais “fundos” ou o promotor?
Os Sabugalenses continuam a ter que sair das suas terras para poder viver.
Mas não todos!
Há alguns que se vão enchendo com a desgraça dos outros.
É tempo de acabar com este estado de coisas.
QUE HAJA MAIS GENTE A MOSTRAR A SUA INDIGNAÇÃO!
Terça-feira, 11 Outubro, 2011 às 10:42
Marco Santos
Eu conheci (infelizmente) e bem o António Reis, muita parra e pouca uva! Promessas promessas e mais promessas, vai-se a ver e ele vive á custa dos otários que acreditam, e investem o seu tempo e dinheiro.
Segunda-feira, 10 Outubro, 2011 às 16:34
JOSE LOUSA
Aprecei o seu artigo. Na fase apresetação deste projecto chamou-me à atenção um quadro de pessoal de saúde que achei utópico. Nem o hospital da GUARDA o superaria.Não votei a ouvir qualquer referência ao referido quadro de pessoal.A componente tecnico-económica ultrapassa-me.Será que existe estudo técnico para um quadro de pessoal de saúde ou
foi para atirar o barro à parede?
Segunda-feira, 10 Outubro, 2011 às 17:47
joao valente
Depois de o “pássaro” fugir, que o apanha?
Segunda-feira, 10 Outubro, 2011 às 18:25
António Emidio
As arcas públicas amigo Leitão são presentemente a cobiça de toda a espécie de parasitas que enxameiam a nossa sociedade, uns querem deitar-lhes as mãos através de negócios « pardos », outros através de votos, quanto mais esta crise se acentuar, maior será a corrida a essa arcas tão cobiçadas. E a sociedade está de tal maneira céptica e corrompida que os valores éticos de alguns homens e mulheres são considerados uma aberração.
Segunda-feira, 10 Outubro, 2011 às 20:42
josnumar
Finalmente alguém que esclarece aquilo que deve ser esclarecido.
Segunda-feira, 10 Outubro, 2011 às 23:22
josé dos santos malcata
E o hospital?
E o hospital que foi anunciado com pompa e circunstância com não sei quantas camas e mais de 300 postos de trabalho?
E o hospital?
Mas ninguém fala do hospital?
Os lameiros no limite urbano da Malcata já estão demarcados há muito tempo.
Alguém me pode dizer porque não está ainda construído?
Esses terrenos não precisam de qualquer licença do ministério do ambiente. Porque esperam então?
A construção do hospital não tem nada a ver com estes terrenos na barragem.
E o hospital? Aquele que ia criar postos de trabalho.
Ninguém fala do hospital porquê?
Terça-feira, 11 Outubro, 2011 às 0:05
Mono
Há aqui uma falha de raciocínio: que fundo imobiliario no seu perfeito juízo iria investir tanta massa em malcata. Para mim a falcatrua tem outros contornos, que os fundos não gostam de deitar massa fora por da ca aquela palha.
Terça-feira, 11 Outubro, 2011 às 15:54
Luís
Ainda há quem viva num Portugal inexistente onde os empresários apostam em negócios que não permitem encaixe de capital e os investimentos resultam obrigatoriamente em prejuízo. Um país onde os processos se resolvem com um estalar de dedos e os tempos de espera e a burocracia não existem. É claro que é um país imaginário onde habitam mentes iluminadas como o sr. bloguista. Contudo, porque os há sempre, a realidade é outra e o país onde vivemos, este país real, não se compadece dos que vivem à margem da realidade. Por isso torna-se normal encontrar quem ache mal que um empresário ou grupo de empresários possa pensar num negócio rentável. Para gáudio da sociedade e da economia nacional há depois os pragmáticos que percebem o funcionamento da economia real no seu todo e as mais-valias criadas de forma directa e indirecta. Ou será que o pagamento do IMI e do IMT não revertem para a autarquia?! E os postos de trabalho criados não são um impulso ao consumo interno local? E a dotação de infraestruturas de qualidade, tão importantes no combate à desertificação são coisas de somenos importância para o concelho?! Felizmente para a população do concelho a opinião não passa de mera opinião e as decisões são tomadas por quem por legitimidade democrática foi eleito para decidir. E assim vai o progresso de candeias às avessas com os profetas da desgraça…
Terça-feira, 27 Dezembro, 2011 às 12:09
kim tomé
Sinceramente, o senhor Luís deve ser dos que anda a roubar o meu povo!
Fala, fala mas só diz baboseiras que tem como objectivo enganar os que dispõem de pouca informação.
A mim não me ilude, ou você é dos que vão receber os terrenos ou está a falar a mando deles…
Essa gente que se apoia em traidores do meu povo, que para encher os próprios bolsos se alia a vigaristas e mafiosos que se aproveitam da ingenuidade de quem sempre lutou por esta terra.
Infelizmente somos governados por traidores e basbaques que são capazes de cometer estas atrocidades e se aliam a mafiosos que os apoiam e lhes enchem os bolsos.