A introdução de portagens na A23, que está aqui ao nosso lado e que foi feita com dinheiros da então CEE para nos servir, está para breve. Faltam pouco mais de dois meses. Mas pouco ou nada se diz sobre esta violência descarada, sobre este escândalo, e muito menos se vê fazer qualquer coisa para contrariar este estado surreal.

Portagens nas ScutsUma ou outra autarquia vai aprovando esta ou aquela moção, mas tomadas de posição públicas conjuntas, a merecerem honras de telejornais, que pudessem esclarecer os senhores que nos governam, isso ainda não aconteceu com a veemência e a frontalidade que o caso, pela sua gravidade, merece.
Somos assim. Nada feito. Nem de pancada, nem de assaltos, estamos fartos.
Mas lá para Abril, ou Maio, quando o trânsito normal da A23, que era IP6, entrar dentro de Torres Novas, do Entroncamento, de Tancos, de Constância, de Abrantes e por aí a fora, é que vai ser o bom e o bonito. Nessa altura, os senhores que agora deveriam estar a esclarecer os seus companheiros, ou adversários de viagem, que tomaram esta vergonhosa decisão, certamente vão então fazer o papel de infelizes porque lhes estão a estragar as rotundas, as avenidas, as ruas, os passeios e até talvez, se venham a lembrar, que este bonito serviço estará a pôr em causa a segurança dos habitantes das suas terras de quem são os seus legítimos representantes.
Mas nessa altura já será tarde. Nessa altura, quando começarem os protestos a sério, quando os engarrafamentos entupirem a vida normal destas santas terrinhas, aqui d’el-rei, gritarão e ninguém os ouvirá. A não ser que um senhor, salvo erro Paulo Campos, os venha convencer que esta medida aberrante, até é boa e «que a introdução de portagens nas SCUTS obrigou a uma melhoria em termos ambientais e de segurança nas vias consideradas alternativas», como esse senhor disse, com a lata toda, e o JN publicou em 15.12.10. Ele é bem capaz de voltar a fazer esse papel, se continuar no posto onde tem estado.
Mas se o senhor cá vier e repetir este filme, há vários pormenores a considerar que merecem ser esclarecidos para o senhor perceba e aprenda alguma coisa:
– A A23, entre o nó da A1 até Abrantes, não é SCUT, e o senhor precisa de ser informado. Precisa de aprender com quem sabe.
– Neste espaço alargado de mais de 40 Kms, não há alternativas, e o senhor precisa de ser informado. Precisa de aprender com quem sabe.
– E essa coisa dessa grandessíssima confusão vir a melhorar em termos ambientais e de segurança as consideradas «alternativas», por amor de Deus, vou ali, já venho. Informem e esclareçam o senhor para ver se ele não diz mais disparates. Ele precisa mesmo de aprender com quem sabe, para poder botar alguma figura.
Para terminar só mais um desabafo: – Qualquer pessoa, com a cabeça ainda em cima dos ombros, esperaria que os senhores, e as senhoras, autarcas dos concelhos de Alcanena, Torres Novas, Entroncamento, Vila Nova da Barquinha, Constância e Abrantes, concelhos mais prejudicados com esta medida surrealista, se soubessem unir e falar a uma só voz, para defenderem uma causa que é comum, que prejudica todos os munícipes e toda a economia desta região chamada Médio Tejo.
Mas perdoar-me-ão. Se estão a fazer alguma coisa em conjunto, isso estará ainda no segredo dos Deuses. E, convenhamos, casos destes que vão muito para além das fronteiras e interesses mesquinhos e bairrismos doentios, mereciam mesmo que a tomada de posição fosse forte, coesa e comum. A não ser que, por serem de partidos diferentes, PS, PSD e CDU, depois de 25 anos de democracia, ainda não se saibam entender e falar normalmente, sem atropelos, como pessoas crescidas. Mas entendam-se.
Os senhores para se encontrarem até nem precisam de ir a casa de uns ou de outros. Podem jogar no campo neutro que é de todos. A Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo, em Tomar. É um edifício tão bonito, onde foi gasto tanto dinheiro, e é de todos. Utilizem-no sempre que necessário, como é o caso, para fazerem coisas úteis às vossas populações. Mas terão que utilizar uma maior veemência do que a utilizada em 30 de Junho quando aprovaram uma moção de repúdio pela instalação das portagens, moção essa que deu em nada e que deve estar no fundo de qualquer gaveta.
E se desta vez evitarem este disparate, com a tal veemência e com a força da razão que a todos assiste, antes da instalação dos pórticos, que custarão para cima de uma pipa de massa, ainda podem vir fazer uma festa, porque pouparam muito dinheiro ao erário público.
Vá mexam-se, enquanto é tempo. Até porque ninguém já se lembra da tal moção aprovada em 30 de Junho.
A não ser que tenhamos que concluir mais uma vez, que cada povo só tem o que merece. E se calhar nós não merecemos mais.
Cá estaremos para ver o desenrolar dos próximos capítulos de mais esta trapalhada.
Carlos Pinheiro