A fogueira (ou madeiro) de Natal é uma tradição muito antiga, que felizmente teima em persistir nas aldeias beiroas, incluindo as da raia sabugalense.

Nos dias que antecedem a noite de Natal, os jovens da freguesia juntam-se e partem em grupo, montados em tractores (antigamente era em carros de vacas) em busca de «tocos» para a fogueira. Toda a madeira serve, seja pinho, carvalho ou castanheiro, assim como se aproveita toda a espécie de mato, sejam giestas, tojos ou piornos. A escolha do local para a recolha da lenha é livre, pois não há quem se oponha à «pilhagem» na sua propriedade, uma vez que é para aquecer o Menino, e será pecado colocar oposição à recolha de lenha para esse efeito. Quem quiser evitar que os bons tocos de carvalho lhe saíam do curral ou de alguma propriedade, arrecada-os de véspera, de portas a dentro.
Aos poucos a carambola de troncos e de mato cresce no centro do adro ou do maior largo da aldeia, atingindo por vezes a altura dos telhados, o que, quando sucede, é motivo de orgulho para a rapaziada e para a população. À meia-noite, hora em que pela tradição nasceu o Menino Jesus, o sino do campanário repica de alegria e os mordomos pegam fogo ao monte de troncos, que rapidamente larga altas labaredas, fazendo arredar o povo que se aproximou.
Todos têm a obrigação de passar pelo madeiro, onde se aquecem por instantes, comentam a dimensão da fogueira e falam de peripécias de outro tempo. Depois rodam para a missa do galo e depois refugiam-se em casa, porque a noite está normalmente gélida. Muitos porém não arredam do braseiro e, ao desafio, batem com mocas nos tocos incandescentes, fazendo largar faúlhas, ou «castelhanas». Ali se medem forças pela noite dentro, até que alguém deita uma chouriça ou um pedaço de carne da matança para o borralho do lume. O convívio ganha novo interesse quando os rapazes comem o petisco, regado com bom vinho, ali de mantendo até ao nascer da manhã, hora em que os mais resistentes abandonam a fogueira e se dirigem a casa.
A boa fogueira tem que durar vários dias e, se tem bons tocos de castanheiro, deve aguentar o braseiro até à noite de Ano Novo, o que, sucedendo, é motivo de grande orgulho para a rapaziada que esse ano se encarregou de garantir a tradição da fogueira de Natal.
O madeiro e um costume antigo que teima em persistir nas aldeias, o que se espera que aconteça por muitos anos.
plb