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A adega particular é um espaço de convivência que se vai mantendo desde épocas remotas na generalidade das aldeias, ainda que os tempos a isso já não sejam propícios. A situação prevalece muito especialmente nos povoados que se inserem em regiões vinícolas, onde a vinha se mantém como cultura de apreciado rendimento.
Ao invés, há terras em que a vinha feneceu, transformando-se em matagal. Isso mesmo aconteceu nas terras raianas do concelho do Sabugal, onde antigamente todo o proprietário zeloso tinha a sua vinha, que tratava com o devido primor. Sem subsídios de ajuda à reconversão, nas zonas quedadas fora da orla de terrenos demarcados para a produção de vinho, deixaram apodrecer os pipos, dornas, prensas e demais instrumentos da feitura da pinga, ficando os lagares ao abandono ou transformados em arrecadações. Mas ainda há quem resista à pressão dos novos tempos.
Na adega, junto aos pipos e cubas pejados de vinho, o anfitrião recebia os convidados de sorriso rasgado, enxaguava numa tina o pichorro de barro ou de latão, volteava a torneira de madeira e enchia o recipiente, que depois cada um bebia de golpe e devolvia ao adegueiro que repetia o ritual até que a pinga chegasse a todos.
Se a carava era para durar, os amigos apenas sairiam após enjorcarem meia dúzia de canecos, arrancando depois dali para as demais adegas, porque todos, sucessivamente, queriam mostrar franqueza. Era ocasião para se contarem proezas e facécias, largar-se veredicto sobre a qualidade dos vinhos ou até para aprazar lautas patuscadas.
Os bebedores deambulavam pela aldeia, às noites ou nas tardes dos dias de guarda, numa roda-viva animada. Maior demora era onde o anfitrião decidia complementar a pinga com a oferta de uma mastiga. Podiam ser nozes e amêndoas que se escarcham a martelo. Outras vezes apresentavam-se azeitonas e tremoços (os chochos). Os mais francos traziam chouriças, que partiam às rodelas, ou um naco de presunto, que uma navalha afiada ia cortando em lascas finas.
Contudo, um dos mais apreciados petiscos das adegas era o pimento curtido. O dono da casa lançava a mão a uma malga e mergulhava uma gadanha na tina ou pote de barro onde os pimentos estavam envolvidos em vinagre. A tigela, encimada de pimentos carnudos, era abrangida aos convivas que, num credo, os rasgavam em pedaços e comiam com gosto. Ao lado estava sempre o corcho do sal, de onde alguns retiravam umas pedrinhas que esborralhavam sobre a tira de pimento, para lhe conferir melhor paladar. E ali se passavam momentos especiais, saboreando o precioso néctar que saía da cuba ou da barrica.
Este tipo de convívio já é raro nas nossas aldeias, que, progressivamente, vão ficando carentes de gente e dos bons produtos da lavoura de outrora.
Sabemos que a iniciativa «Rota das Adegas», realizada no sábado, dia 4 de Dezembro, em Ruivós, foi um sucesso. Isso demonstra bem que há tradições que merece a pena preservar, como a de produzir em cada ano alguns almudes de bom vinho «graminês», nem que seja para beber com os amigos nos dias de festa.
Paulo Leitão Batista
No sábado, 4 de Dezembro de 2010, recordaram-se em Ruivós todos os antigos agricultores da aldeia retomando a Rota das Adegas para provar o vinho novo. Há memórias que nunca devem acabar num concelho conhecido pelo contrabando e pela excelência dos seus produtos agrícolas. A solução para o futuro do concelho do Sabugal pode estar na aposta numa agricultura de qualidade com produtos «de contrabando» directamente do produtor para o consumidor.

Há momentos da nossa vida que ficam registados para sempre. A Rota das Adegas 2010 agendada para sábado, 4 de Dezembro, reuniu em Ruivós cerca de uma centena de amigos que quiseram passar um dia diferente.
Tudo começou no Sabugal no bar do Tó de Ruivós com uma conversa sobre chocalhos que derivou para uma contagem de quantas adegas tinham aberto a porta na última vindima. «Humm! Ora conta-as lá. Foram cerca de 20», afirmou com aquele ar de certeza absoluta. Ideia puxa ideia e tudo fica logo ali decidido. «Vamos fazer a rota das adegas e proporcionar uma alegria aos velhotes que andam sempre a dizer que agora a malta nova já não bebe vinho», acrescentou o Tó.
A ideia foi apresentada ao Manuel Leitão, alcalde de Ruivós, que desde logo a «apadrinhou» e acrescentou mais alguns pormenores para engrandecer o encontro.
O tempo pregou uma partida aos organizadores. O forte nevão da noite de quinta e madrugada de sexta-feira cobriu com um imenso manto branco a freguesia e invalidou a concentração de cavaleiros preocupados com o gelo que apareceu um pouco por todo o lado. Igualmente o desfile do mundo rural foi remarcado para a segunda edição em 2011.
Ao salão de festas e sede da Associação dos Amigos de Ruivós foram chegando, pouco a pouco, os participantes. Por volta do meio-dia, junto aos assadores, foi içado o marrano preso pelo chambaril e logo ali foi desmanchado com mestria pelo Amândio do Talho do Mini Preço.
Após o almoço teve início a primeira edição da Rota das Adegas de Ruivós ao som da concertina e dos bombos de Badamalos. Com as canecas baloiçando penduradas no pescoço os rotistas visitaram as adegas de Manuel Leitão, Mário Martins, José Caramelo, Amadeu Filipe, Joaquim Pires, Manuel Leitão Caramelo, Joaquim Neves, José Carlos Lages, Joaquim (Quim da Zézinha), José Aurélio Caramelo, Francisco da Rapoula, Lourenço Caramelo, Francisco Vasco, Porfírio Leitão e finalmente Maximino Leitão. A meio do percurso um telefonema de Paris de Gabriel Martins convidava todos os participantes a passarem, também, pela sua adega entretanto aberta por um familiar.
Ao longo do percurso muitos foram os momentos de animação e de camaradagem entre todos numa salutar e bem-disposta atitude de desprendimento e união.
«Pertencemos a uma região de contrabandistas, no entanto, não temos nenhuma região demarcada. É chegado o tempo de fazer contrabando com o nosso vinho e promovê-lo directamente no consumidor», defendeu António Robalo, presidente da Câmara Municipal do Sabugal, na adega de Mário Martins, a segunda do mapa da rota.
O anterior presidente do município sabugalense, Manuel Rito, congratulou-se com a iniciativa e defendeu «a realização em 2011 da segunda edição».
António Morgado que foi, igualmente, presidente da autarquia raiana considerou que «há ideias simples que se transformam em momentos bem passados» acrescentando que deu «o tempo passado em Ruivós por bem empregue».
Registe-se ainda a presença de mais de uma dezena de presidentes de junta de freguesia do concelho do Sabugal e a participação especialíssima de Santinho Pacheco, Governador Civil da Guarda, que correspondeu com muita simpatia ao convite que lhe foi feito durante o Encontro de Tractoristas que decorreu em Pinhel.
A Rota das Adegas tinha um grande objectivo que foi alcançado: recordar e homenagear os que já partiram e que tantas vezes passaram as umbreiras das portas das adegas que agora voltaram a abrir para cumprir um ritual tantas vezes repetido na aldeia. A Rota das Adegas servia em tempos que já lá vão como desculpa para tardes (e noites) de boa disposição, amizade e união em Ruivós.
E agora resta esperar pela segunda edição. Com ou sem neve.
1 – Um bem-haja muito grande a todos os produtores de vinho caseiro de Ruivós que «alinharam» na Rota das Adegas recebendo todos os participantes com muita simpatia.
2 – Um bem-haja a todas as senhoras que colaboraram na cozinha na feitura das refeições.
3 – É tempo de apostar neste vinho caseiro e transformá-lo numa oportunidade. Considero até que a melhor forma de inverter esta desgraçada desertificação do nosso concelho é investir numa agricultura de qualidade. O futuro e a saída da crise passam pela aposta honesta e corajosa na produção agrícola adaptada ao século XXI.
jcl
No sábado, 4 de Dezembro de 2010, recordaram-se em Ruivós todos os antigos agricultores da aldeia retomando a Rota das Adegas para provar o vinho novo. Há memórias que nunca devem acabar num concelho conhecido pelo contrabando e pela excelência dos seus produtos agrícolas. A solução para o futuro do concelho do Sabugal pode estar na aposta numa agricultura de qualidade com produtos «de contrabando» directamente do produtor para o consumidor.
GALERIA DE IMAGENS – ROTA DAS ADEGAS – 4-12-2010 |
jcl
No sábado, 4 de Dezembro de 2010, recordaram-se em Ruivós todos os antigos agricultores da aldeia retomando a Rota das Adegas para provar o vinho novo. Há memórias que nunca devem acabar num concelho conhecido pelo contrabando e pela excelência dos seus produtos agrícolas. A solução para o futuro do concelho do Sabugal pode estar na aposta numa agricultura de qualidade com produtos «de contrabando» directamente do produtor para o consumidor.
GALERIA DE IMAGENS – ROTA DAS ADEGAS – 4-12-2010 |
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No sábado, 4 de Dezembro de 2010, recordaram-se em Ruivós todos os antigos agricultores da aldeia retomando a Rota das Adegas para provar o vinho novo. Há memórias que nunca devem acabar num concelho conhecido pelo contrabando e pela excelência dos seus produtos agrícolas. A solução para o futuro do concelho do Sabugal pode estar na aposta numa agricultura de qualidade com produtos «de contrabando» directamente do produtor para o consumidor.
GALERIA DE IMAGENS – ROTA DAS ADEGAS – 4-12-2010 |
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No sábado, 4 de Dezembro de 2010, recordaram-se em Ruivós todos os antigos agricultores da aldeia retomando a Rota das Adegas para provar o vinho novo. Há memórias que nunca devem acabar num concelho conhecido pelo contrabando e pela excelência dos seus produtos agrícolas. A solução para o futuro do concelho do Sabugal pode estar na aposta numa agricultura de qualidade com produtos «de contrabando» directamente do produtor para o consumidor.
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jcl
A fotografia que acompanha esta crónica, embora não muito nítida, refere-se à primeira incorporação de bombeiros do Soito, em 1982. A Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Soito foi fundada em 5 de Junho de 1981. Esta fotografia é, presumivelmente, da Primavera de 1982.

Os bombeiros começaram por ter ao seu serviço apenas uma ambulância, a que se seguiu um carro que servia para o transporte de pessoal e de material como pás e enxadas, para combater os incêndios florestais. Não havia, praticamente, mais nenhum equipamento que os primeiros bombeiros do Soito pudessem utilizar.
Para se organizar o corpo de bombeiros no Soito contou-se com a colaboração voluntária de instrutores que vinham da Guarda e do Sabugal, ajudar na formação.
O primeiro comandante dos Bombeiros Voluntários do Soito foi o sr. José Freire, que foi, mais tarde, Presidente da Câmara Municipal do Sabugal.
Como adjuntos do comandante encontravam-se o senhor Ireneu Coelho (que seria, mais tarde, comandante) e outro senhor que no Soito era conhecido por Quintanilha, que era empregado da Cristalina.
O fardamento dos bombeiros era constituído por fato-macaco de cor azul, no que se refere ao combate a incêndios e calças azuis e umas camisas brancas (oferecidas pelas Confecções Univest), no caso do fardamento para cerimónias (que é o que se encontra na fotografia). Nem sei bem se este fardamento era considerado oficial pelas autoridades que supervisionavam os Bombeiros, na época.
Os Bombeiros do Soito foram instalar-se no Pavilhão Gimnodesportivo, construído pelo Povo do Soito, para sede da Associação Cultural e Desportiva do Soito, fundada em 1977 e, nesta época, desactivada. A ACDS chegou a ter pergaminhos numa modalidade chamada luta greco-romana (treinada pelo Zé Freire). Alguns dos praticantes dessa modalidade, no Soito, chegaram a ser campeões distritais e bateram-se bem em torneios de nível nacional.
Na foto pode ver-se o Pavilhão Gimnodesportivo ainda com as paredes em blocos de cimento e o anexo ainda em construção.
Talvez perto de trinta rapazes formaram a primeira incorporação dos bombeiros do Soito.
Alguns já faleceram e outros foram abandonando, por diversos motivos. Hoje, restam apenas cinco ou seis que ainda continuam bombeiros no Soito, entre os quais o actual comandante, sr. Joaquim Barata.
Na foto, em primeiro plano, vê-se uma criança fardada que me parece ser Filipe Frade, que era conhecido pelo Filipe Bombeirinho e nunca chegou, efectivamente, a ser bombeiro a sério.
O autor desta crónica pertenceria ao corpo de bombeiros do Soito na segunda incorporação, em 1983, e passou ao Quadro de Honra em Dezembro de 2009.
«Memórias, Memórias…», opinião de João Aristides Duarte
(Deputado da Assembleia Municipal do Sabugal)
akapunkrural@gmail.com
O Sporting do Sabugal venceu, em casa, o G.C. Figueirense por 3-1 e beneficiou dos empates do G.D.V.N. Foz Côa e do S.C. Mêda.
Jogou-se no Municipal do Sabugal o desafio que pôs frente a frente o S.C. Sabugal e o G.C. Figueirense, tendo a equipa da casa por três bolas a uma.
Foi um jogo realizado num terreno impróprio para a pratica do futebol devido à neve que se tinha acumulado no dia anterior e somando a chuva intensa que caiu durante o jogo transformou o jogo numa autêntica lotaria. Adiantou-se a equipa visitante fruto de um golo marcado quando iam decorridos os primeiros trinta minutos de jogo tendo o S.C. Sabugal empatado de imediato através de um grande golo de Pedro.
Com o início da segunda parte o S.C. Sabugal tomou as rédeas do jogo tendo num curto espaço de tempo marcado dois golos e a partir daí limitou-se a gerir o tempo. De realçar, que para que o jogo terminasse, foi necessário desde o meio do segundo tempo recorrer à luz artificial. Com este resultado e beneficiando do empate do G.D.V.N. Foz Côa em casa com o U.D. Pinhelenses, e do empate do S.C. Meda em A.D. Vila Cortez, o S.C. Sabugal ficou assim isolado no segundo lugar da tabela classificativa a um ponto do líder Foz Côa.
Devido ao mau tempo não se realizaram três dos cinco jogos das camadas do clube agendados neste fim-de-semana, juniores, iniciados e futebol feminino ficam assim a aguardar nova data para os encontros, os juvenis deslocaram-se a Seia de onde saíram derrotados por 3 bolas a uma.
Na próxima quarta-feira a equipa sénior do S.C. Sabugal desloca-se a Gouveia para defrontar a equipa da casa, a contar para a segunda eliminatória da taça de honra Prof. Dr. Madeira Grilo, este desafio põe frente a frente os dois finalistas da edição anterior 2009-2010.
Cláudia Janela
No dia 12 de Setembro do ano de 1960 a população de Foios, ao acordar, teve conhecimento de uma triste notícia. O João Marques Gomes, natural do Soito, havia sido assassinado, nessa noite, quando regressava a casa, em cima de um cavalo, depois de ter, com muitos outros colegas, transportado os cento e vinte quilos de «minério», como por cá se dizia.
Eu tinha treze anos e recordo-me como se tivesse acontecido há um mês.
Toda a população de Foios, profundamente revoltada, comentava tão triste acontecimento. Nessa altura poucas pessoas havia que não fizessem contrabando. Já que mais não fosse fazia-se o contrabando da subsistência. Os caminhos e as veredas, para Valverde, faziam lembrar os carreiros das formigas.
Umas pessoas faziam o contrabando de dia e outras trabalhavam mais de noite. O malogrado João Marques Gomes, na zona também conhecido pelo João Moquinho, ao ter sido atingido por um tiro, caiu no regato do sítio designado por Estercadinha e ali ficaram dois ou três guardas fiscais a guardar o corpo até que viesse o delegado de saúde.
Passado algum tempo o corpo do João foi transportado para as eiras tendo ficado debaixo de um castanheiro, coberto por um lençol, à espera que chegasse a família que se deslocou, a pé, do Soito até aos Foios.
Eu e mais alguns garotos, cheios de curiosidade e algum medo, subimos para o castanheiro e, como uns gatos, deslocámo-nos por uma forte pernada até ficarmos mesmo por cima do cadáver.
A mãe do falecido João, acompanhada de mais familiares e amigos, ouvia-se a gritar a um ou dois quilómetros de distância.
Quando entrou nas eiras e encarou com as fardas dos guardas fiscais ficou completamente perdida. Numa gritaria infernal tentava alcança-los o que não virai a acontecer porque as pessoas não o permitiram.
Dirigiu-se então para junto do corpo do filho onde muita gente se encontrava. As pessoas abriram alas e eis que a mãe alcança o corpo do filho. Ajoelhou-se e deitou-se, derrepentemente, sobre o corpo numa gritaria e numa dor que contagiou toda a gente. Todas as pessoas choravam e muitas gritavam palavras de profunda revolta.
Dei conta da mãe ter levantado a camisola do filho e quando se apercebeu por onde tinha entrado ou saído a bala – ou as balas – quase o comia com beijos. A dor daquela mãe contagiou todos os presentes. Todos chorámos o João.
Mais tarde, a família mandou colocar, uma pedra, de granito, no local do crime mas, este ano, depois da pedra bem limpa foi colada uma outra com os dados do falecido.
Ontem desloquei-me ao local, fiz um minuto de silêncio e verifiquei os trabalhos levados a efeito pela família. Fiquei feliz. Tirei umas fotos, fiz umas contas e decidi escrever este simples artigo em homenagem a um homem que foi abatido como um coelho quando procurava ganhar o sustento para uma casa de gente pobre como, aliás, éramos todos.
Descansa em Paz, João.
«Nascente do Côa», opinião de José Manuel Campos
(Presidente da Junta de Freguesia de Foios)
jmncampos@gmail.com
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