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Vai ser recriada uma «Feira Republicana» em Oliveira do Hospital integrada no programa da XIX Feira do Queijo Serra da Estrela e no âmbito das comemorações do Centenário da República promovidas pela Câmara Municipal local. A Feira encerra com XXI Capítulo da Confraria do Queijo Serra da Estrela em Vila Pouca da Beira.
O grupo teatral Vivarte vai recriação de uma feira republicana dos inícios do século XX. A encenação integra o programa da XIX Feira do Queijo Serra da Estrela e Outros Produtos de Qualidade.
Em declarações à agência Lusa, Glória de Jesus, porta-voz do grupo de teatro esclareceu que «o espectáculo inclui jogos populares, duelos de sabre, cantigas ao desafio, partida dos rebanhos para os pastos de transumância, recriação dos desacatos por via do fiscal dos isqueiros de pedreneira e danças tradicionais».
Será feita a leitura do jornal «O Século», com as novidades de Lisboa e a mobilização para a Flandres e a recriação das figuras do fotógrafo da capital e dos vendedores da «banha da cobra».
A XIX Feira do Queijo Serra da Estrela e outros Produtos de Qualidade conta com a visita do secretário de Estado das Florestas e Desenvolvimento Rural, Rui Barreiro, uma mostra da tosquia das ovelhas Serra da Estrela e um desfile da Confraria do Queijo Serra da Estrela e de outras confrarias convidadas onde se inclui a Confraria do Bucho Raiano do Sabugal que marcará presença com alguns confrades trajados a rigor.
A feira encerra com a realização do XXI Capítulo da Confraria do Queijo Serra da Estrela, na Pousada do Desagravo, em Vila Pouca da Beira.
jcl
Votar será um dever? Um Direito? Ou apenas uma dor de cabeça que muitos evitam? Eleições Regionais em França, marcadas por uma abstenção record. Os franceses eram chamados às urnas este domingo, para elegerem os seus representantes regionais. Uma eleição em dois tempos, a primeira volta neste domingo, a segunda volta no próximo domingo.
Desta primeira volta o partido do poder (UMP) esperava a confirmação da sua política, a oposição liderada pelos socialistas, esperava obter resultados que permitissem advinhar ou prever ua mudança das cores políticas actuais.
Os resultados desta primeira volta, surpreenderam pela negativa, a abstenção bateu records, atingindo uma «maioria absoluta», 53.6%. Os poderes políticos, UMP e PS partilham com pouca diferença os resultados finais, o partido de Jean Marie Le Pen, do Front Nationale da extrema direita ganha força e apresenta-se ainda à segunda volta, com resultados também eles surpreendentes. Estes resultados deixam tudo em aberto para a segunda volta do próximo domingo, todos os partidos foram unânimes em reconhecer que com esta abstenção não há nem vencedores nem vencidos desde esta primeira volta.
Escolhi este tema, não para falar das eleições francesas, mas para tentar perceber este desinteresse pela política, tentar perceber o porquê de tanta abstenção.
Nos dias que correm, numa grande parte dos paises europeus, a política tem perdido aquele poder de convencer. Os políticos são regularmente vistos como uns «caçadores de poleiro», que pretendem apenas um bom lugar, recompensas chorudas. As promessas durante as campanhas são enormes, vão à procura dos mais necessitados prometendo e dizendo aquilo que as pessoas querem ouvir. Hoje com o poder da comunicação social, com a facilidade de comunicação existente, as pessoas acabam por perceber rapidamente as verdadeiras intenções políticas de esta ou aquela pessoa, deste ou daquele partido.
Regressando a estas eleições regionais em França, a campanha foi marcada não pelos grandes projetos ou ideias que muitos esperavam, mas pelas acusações entre uns e outros, entre difamações pessoais, entre traições partidárias ao seio da mesma cor política. Ao mesmo tempo, o Conselho Regional sendo responsável entre outros, pelos transportes, pela educação, pela formação continua e profissional, poucos são aqueles que realmente conhecem os poderes e as responsabilidades destes conselheiros. É espantoso, como ao fim de tantos anos de eleições regionais, ouvir dizer que não se sabe a que servem os conselheiros regionais.
Com isto tudo, talvez a abstenção tenha uma explicação, talvez seja compreensível.
Poucos são aqueles que ainda depositam alguma confiança nos actuais políticos. No entanto, não será o voto a melhor maneira de expressão? Em países, onde a democracia não passa de uma miragem, onde a liberdade de expressão não existe, as populações aspiram pelo direito ao voto, pela liberdade de poder votar e escolher os seus representantes. Será que para nós, este direito e este dever já não representa nada na liberdade que outrora foi tão dificil conquistar.
O voto é responsabilidade, significa partilhar ideias ou projectos, significa um compromisso com aqueles que escolhemos.
O voto é liberdade.
«Um lagarteiro em Paris», opinião de Paulo Adão
paulo.adao@free.fr
Esta crónica vai ser breve e entendida apenas por um punhado de leitores. No entanto corro o risco…
Por caprichos de uma remota doação e heranças, veio-me à posse um bem de insignificante valor material (por isso sempre passou desapercebido), mas de valor simbólico incalculável, porque pertenceu a um cidadão que foi um dos anónimos paladinos da liberdade no Portugal de oitocentos.
Curiosamente, e também por capricho do destino, o referido objecto é por mim usado actualmente na mesma função em que o foi pelo seu original proprietário, o que faço com muita emoção e respeito, porque me lembra que a liberdade e a bondade é o único património de que um homem se pode orgulhar e que se hoje vivemos numa sociedade pelo menos livre nalguns aspectos, isso se deve à pertinácia de gerações de homens de bom carácter, que muitas vezes deram a vida pelo bem-estar e progresso dos outros.
O valor da liberdade nunca pode ceder em circunstância alguma, nem sequer a leis ou a disciplinas partidárias, ou interesses económicos, como infelizmente temos visto nestes tempos. É um dever de respeito para os que já não existem e que lutaram por ela; um pormenor que distingue os homens e as sociedades superiores.
Hoje estes valores, como os outros, são relativizados e desprezados. Por isso não vou pronunciar-me sobre a falta de liberdade de muitos dos nossos políticos e cidadãos, que vendem a sua dignidade à dependência económica dos empregos e cargos públicos. Podia muito bem fazê-lo, mas seriam palavras deitadas ao vento, a que já ninguém liga.
Vou antes deixar aqui o nome de doze homens justos, que em 1829, em pleno liberalismo, morreram pela liberdade e que deram nome ao Largo Mártires da Pátria, na cidade do Porto, para que os seus nomes ilustres façam corar de vergonha esta nossa geração relapsa e materialista:
– Manuel da Fonseca Lobo – natural da cidade de Lagos, tenente-coronel.
– Francisco Silvério de Carvalho Magalhães Serrão, natural de Figueiró dos Vinhos, fiscal.
– Francisco Manoel Gravito da Veiga Lima, natural de Lisboa, desembargador.
– Manuel Luís Nogueira, natural de Baltar, advogado.
– José António de Oliveira Silva de Barros, natural do Porto, guarda-livros.
– Clemente da Silva Mello Soares de Freitas, natural de Angeja, juiz.
– Vitorino Telles Menezes e Vasconcelos, natural de Ceira, tenente-coronel.
– José Maria Martiniano da Fonseca, natural do Funchal, advogado.
– António Bernardo de Brito e Cunha, natural de Vila Viçosa, tesoureiro da fazenda.
– Bernardo Francisco Pinheiro, natural de Feira, capitão.
Destes homens é que se pode afirmar com justiça: «Le roi et le berger égaux après la mort!»
Dos outros que por aí andam, que conhecemos muito bem, por trazerem uma corcunda na alma, de tanto dobrarem a espinha, nem isso!
«Arroz com Todos», opinião de João Valente
joaovalenteadvogado@gmail.com
Dentro dos contributos para a história do Hospital do Sabugal, apresenta-se mais uma transcrição do Bloco de Recordações do Sr. Dr. Francisco Maria Manso, onde fala da actividade do Hospital logo após a sua inauguração e descreve a sua acção enquanto médico.
«Hospital – 20-11-1938
Poucos dias depois de inaugurado o Hospital, foi internado o menor Francisco Monteiro Ferreira, com febre tifóide. O doente deu entrada no hospital depois de tratado duas semanas em sua casa. O estado do doente inspirava sérios cuidados e colhi o sangue para confirmação do diagnóstico de Widal. O diagnóstico foi confirmado e principiou-se com abalneoterapia fria. Deram-se dois banhos por dia. As temperaturas ao fim de uma semana fizeram uma descida em lisis e actualmente podemos considerar o doente livre de perigo. A temperatura de manhã está normal e à tarde tem um acréscimo para 37 º. Parece pois que o Hospital se iniciou bem, se atendermos a que o doente foi internado por temor de morte próxima.
Um facto que desejo exarar é o do primeiro doente morto no hospital. Sucedeu ontem, dia 19 de Novembro de 1938. Pelas 7 horas da noite fui procurado em minha casa para ir ao hospital ver um homem que ficou debaixo de uma camioneta e estava em perigo de vida. Fui imediatamente e encontrei sobre a mesa de observações do consultório um homem de 28 anos, robusto, com o fácies cadavérico, as extremidades frias, sem pulso e proferindo com frequência que estava morto. Dei uma injecção de cafeína. Mandei dar outra de óleo canforado, passados instantes e verifiquei a realidade terapêutica. Pela palpação notei a fractura da 4º costela direita, dando crepitação óssea quando o doente mudava de posição. Mandei que se despisse o doente e ao voltá-lo sobre o lado esquerdo notei uma deformidade do osso “sacrum” que estava fracturado com uns oito centímetros de saliência da região direita para a esquerda. A perna direita encontrava-se assim sem movimentos e a fractura da bacia trouxe ao doente um estado de dor muito acentuado. Deviam existir grandes lesões dos órgãos abdominais. O doente sucumbia uns 30 minutos depois da sua entrada no hospital, depois de o ter mandado deitar sobre a primeira cama do lado esquerdo da enfermaria à direita (quando se entra para o corredor). Este pobre homem era do Meimão e deixou três filhitos. Era extremamente pobre. Mandei que fosse levado para a capela do cemitério e ali esperasse pela vinda da família.
Foi este o primeiro óbito havido no Hospital de Sabugal. O pobre homem vinha numa camioneta e pretendeu descer sem avisar o chaufeur, descendo em movimento. Perdeu o equilíbrio e a roda de traz passou resvalando pelo tórax, abdómen, para passar por cima dos ossos da bacia que fracturou internamente».
Romeu Bispo
(Provedor da Santa Casa da Misericórdia do Sabugal)
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